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MICRO-RELATOS POLICIAIS

A AUDIÊNCIAESCREVEUUM CRIME

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© Direitos de edição reservados.

Edição: Editorial Círculo Rojo.VV.AA.

Design da capa: © 2016 by Sony Pictures Television Networks Iberia S.L.U. Copyright © 2016 Sony Pictures Television Networks Iberia S.L.U.

ISBN: 978-84-9140-365-4

Proibída a reprodução total ou parcial sem o expresso consentimento destes

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Este livro não teria sido possível sem o apoio e colaboração entusiasta dos fãs da sériedo AXN “Castle”.

Obrigado a todos os nossos espetadores que ano após ano nos acompanharam nestaincrível aventura pelo mundo da ação e do crime.

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1. ABÍLIO BERNARDO - MORTE ACIDENTALO inspetor Saavedra chegou ao local cenário do crime pouco passava das

22 horas. Atrasara-se na expetativa de que, sedento de notoriedade, algumcolega seu tivesse chegado antes e tomado conta da ocorrência, dando-lhefolga para regressar mais cedo a casa, da qual se ausentara há mais de 24horas. Aparentava estar preso por arames. O cabelo espetado, o fatodesalinhado e os olhos esbugalhados com as pupilas dilatadas como sequisesse ver para lá do que se lhe apresentava pela frente: um extenso camporelvado que podia ser de um campo de futebol às escuras, de que somente sevia rente ao chão até onde alcançavam os faróis médios do seu Clio de 2lugares com uma bagageira onde mal caberia dobrado o corpo volumoso dohomem que jazia estendido, com marca na cabeça de um tiro de caçadeira decanos serrados que visava dificultar a identificação do cadáver.

2. ADELE CASARES - SEM TÍTULOOuvi outrora uma história que me intrigou e cativou através do seu

mórbido relato. Numa casa vitoriana vivia um casal apaixonado. Se não estouem erro, foram passados 5 anos de casamento que tal tragédia sucedeu. Numanoite fria de inverno ligou Fernando para a esquadra apavorado, a sua esposaencontrava-se desaparecida há dias. Não tardou para a polícia corresponderao seu terror… Casas revistadas, pessoas questionadas... Vitória foraencontrada morta numa arca frigorífica, na sua casa. Causa da morte:hipotermia. Fernando acusado pelo crime, e derrotado pelo desgosto, acaboupor admiti-lo e viver o resto dos seus dias encarcerado. Nada… Nem álibi,nem o depoimento do seu vizinho, estranho indivíduo consumido pelainsanidade, o puderam salvar. A verdade? Quem sabe? Uma coisa é certa: nãohouve funeral, o corpo evaporou-se e o alegado vizinho desapareceu levandoapenas a foto de uma jovem que contemplava à noite.

3. ADRIANA MONTEIRO - O LOUCO NOÉNuma noite fria de dezembro, deambulava pelas ruas da cidade de Braga

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um que era pouco comum, com aspeto mundano e irrisório. Calçava umaspantufas, com um tigre em cada uma, vestia um fato de galinha na cabeça e decanguru nas pernas. Quase parecia uma comédia, não fosse este ser cair nochão, morto, como que uma porta que cai dura, ereta e com aquele som oco.A senhora Dry, juntamente com o seu parceiro Andy fazem uma descobertacrucial para desvendar o mistério deste ser. Este era um homem de família,que teve a infelicidade de se cruzar com um lunático doente mental, que achavaser o grande Noé. Assim, colecionava metades de fatos de animais, para queno seu próximo crime pudesse vestir as suas vítimas com esses mesmos fatos.O objetivo seria arrecadar o maior número de vítimas, com o menor númerode animais para a arca.

4. ALBERTO HERNÁNDEZ - A ÚLTIMA JOGADA!Noite de American Football, as equipas se alinham frente a frente, todos

querem ver a atuação do famoso quaterback John Clifford. Mas, ao apito,John é atirado subitamente ao relvado quando recebe a bola, é esmagado poruma pirãmide de atacantes abaixo da qual desaparece. Os defesas correm emajuda tarde demais... Grande confusão! Os árbitros apitam vezes sem parar epanos amarelos de infrações voam pelo ar. Ao retirar um a um os jogadoresda montanha de homens, um silêncio esmagador se instala no estádio... DoJohn Clifford só ficou o capacete: John desapareceu! Os detetives Niko eClara que assistiam ao jogo agora tem nas suas mãos o caso duma vítima quedesapareceu em vivo e direto, perante milhões de pessoas. Trás semanas deinvestigação, aperceberam-se que havia mais um jogador da equipa contraria asair do campo naquela noite: John Clifford! E um seguro multimilionáriofora cobrado...

5. ALEXANDRA ALMEIDA - SEQUESTRO FALHADOEste foi o relato que dei ao detetive Hugo Jonas no dia 21 de setembro

de 2001 em que fui vitima de sequestro. A seguir de um acidente de carro,sem conseguir perceber o que me tinha acontecido, acordei num quarto quetinha apenas um colchão e um pequeno candeeiro. Ouvi o barulho de passos,abriram a porta, ainda um pouco atroada não consegui ver bem a cara dosujeito, mas lembro perfeitamente de ser um homem bem vestido e superarrumado, agarrou-me pela camisola rasgando-a, tinha um cheiro forte aágua de colónia que me incomodava bastante, foi nesse momento, já maisconsciente, peguei no candeeiro e bati-lhe com ele, fugi sem olhar para trás.Aqui me encontro na esquadra da polícia com a camisola rasgada, assustada afalar com o detetive a fazer o relato da tentativa falhada de sequestro, não sei

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quais eram as intenções, provavelmente seria vendida ou os meus órgãostraficados. Vou voltar para casa, tomar banho e tentar ultrapassar tudo istocom a leitura de um bom livro.

6. ALEXANDRA FERNANDES - CHUVA DO ORGULHODomingo. A forte tempestade abate-se sobre a cidade. Segunda os raios

de sol entram pela janela. Na chegada a esquadra Teresa é chamada a baixa,um corpo a boiar no rio. Quem é, de onde veio? A autopsia revela marcas nopescoço, as impressões digitais levam a Miguel condenado por violênciadomestica. Interrogam ex-mulher pois é a principal suspeita; ela nega, não ovê a muito tempo. Revisto o apartamento de Miguel e lá descobrem um examemedico queimado. Procuram o local, do exame na clínica descobrem queMiguel só tinha 2 meses de vida, mas não aceitava. A medica de Miguel tinhaum hematoma na face, levaram no como suspeita, ma esquadra ela contou queMiguel a obrigou a fazer outro exame, que não acreditava nela. Tentouagredi-la, mas ela é cinturão negro e professora de karaté e deu-lhe uma lição,ele saiu de lá humilhado. E ai descobriram que por não aceitar a doença e ahumilhação atirou-se da ponte abaixo debaixo da forte tempestade.

7. ALEXANDRA FERREIRA - O SILÊNCIO DA NOITEEra uma noite comum escura, mas fria. Apenas se ouve as ondas leves do

Tejo e o vento a dançar com os papéis pelas ruas serenas e lúgubres. AníbalMortágua é um homem charmoso que vagueia pelas ruas de Lisboa sob a luzda Lua e das estrelas, que só estas o entendem. É um homem solitário masnunca está sozinho. As pessoas são tão barulhentas, que não conseguem ouviras histórias que a noite carrega no seu silêncio. Uma mulher eleganteatravessa o Terreiro do Paço a tagarelar ao telemóvel, onde Aníbal gosta deconversar com a Lua e as estrelas, o mar e o vento dão música ambiente emsinfonia. Ricardo, raivoso, dirigiu-se à mulher e aperta-lhe o pescoço,sufocando-a. Não pode mais barulho, limitando-se a penas a ser outroinstrumento da orquestra que compõe o silêncio da noite, que é música paraos ouvidos de Aníbal.

8. ALEXANDRA LARANJEIRA - O CASACO AMARELOSexta-feira, 12 de dezembro. O casaco amarelo estava pendurado no

cabide do escritório há uma semana. Nele, uma mancha seca de sanguemesmo ao pé da gola. Ana, no final de dia, enganou-se e levou-o vestido paracasa. Quando chegou, colocou a mão ao bolso para tirar a chave, mas só saiu

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uma faca de lãmina afiada. A faca tinha sangue seco. Um arrepio percorreu-lhe o corpo; teria de voltar ao escritório para ir buscar as suas chaves.Quando chegou, não estava ninguém. Precisava entrar. Estava escuro. Elasentia que não estava sozinha…. Entrou no escritório e levou o seu casaco namão. Continuava com a sensação que estava a ser seguida… Sexta-feira, dia19 de dezembro. Vitória entrou no escritório e colocou o seu casaco amarelono bengaleiro ao lado de dois casacos amarelos com uma mancha de sanguena gola. Arrepiou-se!

9. ALEXANDRA QUELHAS - SEM TÍTULORefugiado no “seu” esconderijo procurando inspiração, Estevão, jovem

dramaturgo, sentiu a porta trancar-se devagarinho atrás de si. Penduradabalançava a mensagem: “Somente as letras te ajudarão a sair daqui ileso”. Asestantes da biblioteca daquele casarão abandonado emolduravam uma janelade sacada por onde, logicamente, sairia. Contudo, o seu olhar dirigiu-se paraa inscrição no vidro: “12 AF C C I O B N R S C D”. Uma armadilha...Definharia naquele lugar esquecido, que elegera como seu, onde ninguém selembraria de o procurar. Tão perto e tão longe, sem telemóvel. Subitamente,ao lusco-fusco, aproximou-se da janela e retirou-lhe, por cima, uma facaescondida que certamente o atingiria caso tentasse sair. Como terádescoberto? Solução: A A A A A A A A A A A A F C C I O B N R S C D.AFACACAIAOABANARASACADA. A FACA CAI AO ABANAR ASACADA.

10. ALEXANDRA SILVA PINTO - O ROSTO DA VINGANÇASebastião era um génio. Matara aquelas nove pessoas ao longo de três

anos, saindo sempre impune. Elena, investigadora criminal, fora sempre a suaobsessão... Oito anos antes ela havia morto seu meio irmão mais velho, quemcuidava dele. Com a mãe alcoólica e o pai morto com overdose, Sebastiãocresceu em instituições quando perdeu o irmão Lucas mas era, aparentemente,um jovem normal. Elena era o seu alvo, sem ter noção disso, até que este tentasubir a parada e comete o erro de raptar o seu parceiro de profissão e de vida,Artur. Elena transforma os seus dias numa caça ao homem, quando percebe aligação entre os homicídios em série e Sebastião. Esta caçada torna-se no maisinteressante jogo de adrenalina para Sebastião! Mas irá ela salvar Artur de sermorto e desmembrado como os anteriores? Ou Sebastião conseguirá vingar-se?

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11. ALICE VILELA - ANITA VOLTA A CASAA paisagem tinha mudado. Os montes deram lugar a casas, jardins e

estradas. Anita voltava para casa. Mas a casa estava diferente, velha, os caleirosa cair… destoava das restantes. Meteu a chave na fechadura e rodou-a. O arera bafiento. Pequenos raios de luz entravam pelos vidros das janelas e faziamdesenhos no ar. Subiu as escadas até ao segundo andar e entrou no quarto daavó. Estranho, na cama estava estendido um vestido de renda. Ao lado, umramo de rosas secas. Era o vestido de casamento da avó, lembra-se dele dasfotografias! Entrou no seu antigo quarto e deu um grito, que tentou abafarcom as mãos. Deitado na cama estava o corpo de uma jovem mulher, muitoparecida com ela. Nua, a mão direita, onde se via um anel de noivado, sobre opeito... Sentiu uma forte dor de cabeça e caiu, mergulhando numa abençoadainconsciência.

12. ALINE COSTA - A CÓLERAEra mais uma noite de trabalho no restaurante local, na cidade de Lira,

onde trabalha André. André, apesar de ser um excelente funcionário, já nãoaguentava mais a perseguição diária que sofria por parte da sua gerenteCláudia. Era sexta-feira e o trabalho era a dobrar. Após ouvir Cláudia a noiteinteira, a única coisa que André queria era ir jantar, para depois terminar assuas tarefas laborais. Já passava das duas da manhã quando o trabalho estavafinalizado e o restaurante vazio, com exceção de Cláudia. André, após insistir,convenceu Cláudia a acompanhá-lo até a cozinha, onde iria vingar-se. Semmuito esforço conseguiu agarrá-la e colocou-lhe a cabeça dentro de umafritadeira com óleo ainda muito quente. Apesar dos esforços, Cláudia nãoconseguiu soltar-se, acabando por se afogar e ficar com a cara desfigurada.Com o cadáver inerte em mãos, a única coisa que André podia fazer eraescondê-lo na Cãmara Negativa, onde já tinha preparado um lugar atrás dascaixas de batatas pré-fritas.

13. AMANDA ZAMORA GOUVEIA - O ARTISTAReservado e melancólico, era o artista que conheci em tempos. Nunca me

esquecerei daquele rapaz. Tinha uma cara suave, inocente, um ar antagónicoao que ele era no seu interior. Sempre me questionei da causa, da vida que elelevou que o deixara assim, ferido na alma. Conversei com ele, sobre o seupassado, a sua vida, considerava-o um amigo. E descobri a causa, coisas quenão consigo explicar de forma racional. Numa tarde de outono, após terminaro meu trabalho no escritório, recebi uma chamada que mudou tudo. Aquelejovem artista, aflito no desespero, afirmou que tinha pintado a sua própria

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morte. Tentei persuadi-lo de que se tratava apenas de uma pintura.Desloquei-me até ao apartamento dele. Bati, mas ninguém abriu. Decidi entãoarrombar a porta e aí estava ele, estendido no chão. Aproximei-merapidamente, mas vi que era tarde demais. O pincel do jovem artista, estavaperfurado no seu coração. E foi quando vi, com grande choque, a tela. E nela,o jovem, o pincel no peito, e eu.

14. AMÉLIA CASTRO E MAIA - NUM DOMINGO DE MANHÃMargarida atravessa o parque que àquela hora de domingo se encontra

cheio de famílias e cães, o cabelo preso por um elástico de cor berrante, opara-vento e as sapatilhas de cores eléctricas, as calças justas pretas acontrastar. Corre até um local de vegetação mais densa. Despe o para-ventodupla face, vira-o do avesso e amarra-o à cintura. Retira as fitas coloridas defelcro das sapatilhas todas pretas. Cobre a cabeça com um carapuço. Colocaóculos escuros, e luvas de desporto. Dirige-se à rua em frente. Para no 33 etoca à campainha do 9.º. João abre a porta e abraça Margarida que, numgesto rápido e preciso, lhe crava uma lima de unhas metálica na carótida.Margarida afasta-se silenciosamente, volta ao local resguardado, veste o para-vento com a cor berrante à vista, coloca as fitas de felcro nas sapatilhas, retirao carapuço do cabelo e retoma a corrida.

15. AMY HANNAH KAY GOIS - AJUSTE DE CONTASGémeos. Dois homens iguais, vestidos da mesma forma, com a mesma

história: -Saí do bar com meu irmão. Ele sacou uma pistola e matou umhomem. Atirei-me ao meu irmão e caímos ao chão. Quem contava a verdade?Na cena do crime não havia cãmaras de segurança. A arma não tinhaimpressões digitais. Nenhuma das testemunhas conseguia distinguir umirmão do outro. Tinham entrado no bar, bebido uma cerveja e saído juntos.Depois do tiro, deram tantas voltas no chão que, no fim, ninguém sabia quemtinha cometido o crime. Cada um insistia que o outro era culpado. Frustrado,o inspetor Vicente voltou a analisar a arma. A única pista era um pedaço depapel rasgado que se tinha colado ao cano, onde estava impresso: 98€. Fez-seluz! O inspetor voltou-se para os gémeos e perguntou: -Quem pagou aconta?

16. ANA ALMEIDA - QUANDO O AMOR VIRA PECADOAmelia Wrigth é membro de uma comunidade Amish e fã de Agatha

Christie, foge várias vezes em busca de aventura, numa das fugas foi ama de

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Rick (durante seis meses). Envolveu-se com o Padre Milton e teve um filho,Christian, que cresceu nos lares da Igreja. Christian (com inclinação genéticapara a investigação) tentou ingressar na polícia, sem sucesso, acabando comoguarda noturno do cemitério da igreja. Christian encontra Miltonassassinado e pendurado no jazigo da família Walton. Amelia foge dacomunidade para investigar a morte de Milton. Vai interrogar Christian,quando Rick já está a interrogá-lo, a pedido de Camilla Walton. Os trêsredescobrem-se e resolvem o crime. Foi passional, cometido pela tiasolteirona de Camilla, Josephine, apaixonada por Milton, e nãocorrespondida (julgava dever-se ao celibato sacerdotal), que encontrou noconfessionário um diário de Milton, soube da existência de Amelia, foiconfrontá-lo, e exaltada empurrou-o, e este ficou espetado num crucifixo dojazigo.

17. ANA ALMEIDA - MEDO DO ESCURO4 da manhã. Acordo sobressaltada com um barulho. Desço as escadas,

vejo que a janela da sala está partida. O meu corpo congela, os meusmúsculos paralisam. O medo invade a minha mente. Ouço um grito, mascontinuo completamente absorvida pelo medo que me impede qualquermovimento. Ouço os passos a aproximarem-se de mim. As lágrimascarregadas de pãnico apoderam-se. Sustenho a respiração. Alcanço a porta,rodo a maçaneta e corro o mais rápido que consigo. Não olho para trás massei que me perseguem. A rua está deserta e não circulam carros. O medotorna-se cada vez mais veemente. Eles são mais fortes, sei que me vão apanhar.Tento correr ainda mais rápido. Grito, peço ajuda, não há ninguém para meajudar. Tropeço, caio no chão frio. Ganharam, alcançaram-me. Um silênciovazio invade-me. Sinto o premir do gatilho. É o meu último suspiro.

18. ANA ALMEIDA - A ÚLTIMA BADALADADong, dong, dong! O relógio do museu anunciava as doze badaladas. A

inauguração estava animada, num rodopio de perfumes e tilintar de copos.Dong, dong, dong! Ronald Crump tinha-se refugiado da confusão no seuescritório sem disposição para comemorar. Sabia o que aquilo lhe haviacustado e que, mais cedo ou mais tarde, teria de pagar por isso. Recostado napoltrona, servido de um uísque e de um charuto, ouvia os risos no piso debaixo, distraído do súbito ondular das cortinas atrás de si. Dong, dong,dong! Maria, a secretária, andava à procura dele há já algum tempo, efinalmente tinha ficado livre para procurar o patrão no piso de cima. Dong,dong! -Mr. Crump? -Chamou, enquanto empurrava a porta entreaberta.

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Dong! A última badalada foi abafada pelo grito de Maria, que acabara deencontrar o diretor sem vida no seu escritório, com a camisa tingida desangue e o charuto ainda aceso no chão.

19. ANA ALMEIDA - O ASSASSINATO DA SRA. A.X.N.Um veio vermelho percorria a clavícula, descia pelo braço e terminava no

dedo indicador direito formando no chão uma mancha vermelha. A televisãoestava ligada e não havia sinais de arrombamento. A vítima vestia um negligépreto extremamente sexy, a arma ideal para quem quer seduzir alguém. Doisflutes repousavam na mesinha junto ao sofá e já não restava nada na garrafa deMoët & Chandon. O corte de garganta foi feito por um profissional, semhesitações. A criada que encontrou o corpo está evidentemente em choque,não pára de dizer a palavra “el diablo”; falarei com ela mais tarde. Sinto-meenjoado, talvez seja do cheiro a enxofre que empesta o ar. Tiro um Camel esaio para a rua preciso arejar a cabeça, quando voltar analisarei tudo compormenor. Para já só tenho uma pergunta na mente: quem quereria matar aSra. Alexis Xavier Neckett?

20. ANA BARBOSA - UMA CORRIDA ARREPIANTENaquela manhã, a corrida matinal de Rita foi no parque perto de sua

casa. Era um local pouco cuidado e obscuro, mas nunca lá tinha ido. Sentiuum calafrio ao ver que pouca luz entrava naquele bosque simulado, masganhou coragem e começou. Deviam ter passado apenas três minutos quandosentiu que as suas sapatilhas se tinham sujado com uma substãncia vermelha.Sentou-se para tentar ver o que era e quase gritou ao aperceber-se que setratava de sangue, mas não só sangue, algo com uma textura estranha. Recuouum pouco, a tentar manter a calma, e viu alguém caído uns metros trás.Quando lá chegou, os seus olhos fecharam-se com força para não ver ocenário macabro que ali estava. Uma jovem muito pálida encontrava-sealgemada e de olhos bem abertos, vestida com uma túnica de dormir erodeada por penas que se assemelhavam ao interior de uma almofada.

21. ANA CARVALHO RIBEIRO - O JARDIMCada vez que se dirigia para o cenário de um crime, Carolina tinha a

impressão que entrava numa peça teatral. Aqui tudo era importante, desde apersonagem principal ao mais ínfimo adereço. De uma certa maneira, sentia-se na pele de um espectador atento e curioso. Cumpria o seu trabalho aoincorporar a mente por detrás do crime, ao colocar-se na pele da vítima e do

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criminoso. Era essa a sua forma de trabalhar e era esse o segredo do seusucesso. Desta vez, porém o cenário era desconfortante, já não parecia estarnum teatro. “Numa tela de cinema, talvez”, pensou. A vítima, uma idosa, deconstituição frágil, encontrava-se no centro dos mais belos jardins da cidade,deitada num dos bancos de ferro, entre as rosas e os amores perfeitos. A suaexpressão era serena, mas a mancha de sangue que evidenciava no tórax nãodeixava dúvida, tinha sido cometido um crime.

22. ANA COSTA - UMA GOTA DE SANGUEEra sempre assim que começava. Tiago fixava aquela gota de sangue que

escorria pelo queixo e pescoço da sua namorada. Teresa olhava-o e esperavaagarrada ao lavatório. Aquela espera deixava-a apavorada. Ela sentia as pernasa perderem a força e toda ela tremia, não sabia se com medo se com raiva, semcoragem para o confrontar. Duas gotas de sangue. Teresa encontrava-se,agora, ajoelhada no chão. As lágrimas começaram a querer sairconvulsivamente. Apoiava-se na banheira para se conseguir levantar mas todaela tremia e o corpo parecia começar a desfalecer. Já estava magoado demais e,a sua mente, parecia já a ter abandonado havia muito tempo. Três gotas desangue. Tiago mirava-a como se de uma obra de arte, produzida por ele, setratasse. Pontapeou-a para ver reação. Não havia. Teresa jazia ali, deitava eimóvel até, ele vê-la suspirar. Quatro gotas de sangue. Morreu.

23. ANA GOMES LARA - SEM TÍTULOO sangue escorria-lhe pelas mãos, quando a adrenalina a ordenou a

fugir. Não é como se fosse a primeira vez. Excepto que desta vez não sabia oque fazer. Ao tentar marcar o número no telemóvel, Lara sentia os passos aaproximarem-se. A sua cabeça latejava e as pernas estavam prestes a falhar-lhe,mas continuou a correr o mais rápido que conseguiu. -Onde estás? -Noparque Northlake. Parece que os teus planos não correram como o previsto. -O que vais fazer? -Diz-me tu. Enquanto aguardava instruções, parou junto aolago. Ouviu um grito excruciante e virou-se para descobrir a origem. Namanhã seguinte, os detetives Hunter e Parker encontraram um corpo noparque envolto em folhas secas. - Quem é a vítima? -Lara Huntington. Mas háum problema... de acordo com o sistema, já está morta há um ano. -Que raiode psicopata mata alguém duas vezes?

24. ANA GUERRA - O INOCENTE JUDASJullie é chamada a um local com um possível homicídio. Uma mulher na

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casa dos 50 anos, enforcada num poste, sobre uma ponte antiga. Sebastianisolara o local e feito o croqui do mesmo. Terão sido identificadas pegadasjunto ao poste, bem como sangue no mesmo. Sem testemunhas. Levado ocorpo para autopsiar, confirma-se o homicídio. Morte por hemorragia,causada por um corte na virilha, sobre a artéria aorta. Havia ainda marcas deuma seringa no pescoço. Na roupa da vítima encontrava-se uma fotografiaantiga do seu casamento, onde sobre o seu rosto aparecia o nome “Judas”.Identificada a vítima, tratava-se de uma senhora viúva, com uma filha, que terárefeito a sua vida com um outro homem. Analisadas as provas, o sangueencontrado no poste ainda que não sendo da vítima, apresentava uma fortecompatibilidade, mostrando que existiria um laço familiar entre a mesma e ohomicida.

25. ANA MARIA - SEM TÍTULOSeria óbvio demais se aquele homem fosse o assassino. Em um vilarejo

onde todos se conhecem, o mais velho habitante morreu misteriosamente. Foiencontrado caido ao lado do sofá da sala, com tudo revirado, com uma facadano abdomen. A vizinha que o encontrou e avisou a polícia. Era umcolecionador de moedas reconhecido pela sua bela coleção. Policiaisrevistaram a casa e chamaram os familiares, descobriram que uma das moedasmais famosas do século XI, que perteneceu ao antigo Egito haviadesaparecido. As investigações dirigidas a moeda e o motivo do assassinato.Todos suspeitos. No decorrer das investigações surge um homem quealegava que o colecionar assassinado lhe havia vendido a moeda. Asinvestigações concluiram que o colecionar nunca havia sido dono da moeda,um dos familiares o havia assassinado para o roubar, a pessoa que comprou amoeda foi enganada pelo colecionador ao qual se desvendou ser o maiorladrão de moedas do século XXI.

26. ANA MENDES - SEM TÍTULO“Mas onde me vim eu meter?”. Era o seu único pensamento à medida

que ia avançando no corredor sombrio. Tudo estava em silêncio, oscorredores vazios lembravam-lhe que não devia estar ali, sentia o coração asaltar do peito, e a respiração estava tão acelerada que parecia que ia ficar semoxigénio a qualquer momento. Chegou ao final do corredor vazio e esticou amão. “É agora”, pensou, enquanto entrava para o quarto. Ao entrar deparou-se com a cena mais estranha que já tinha presenciado; as paredes estavamsalpicadas de uma substãncia pegajosa e vermelha que se assemelhava asangue, no chão viam-se partes de corpos espalhados, braços e pernas em

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posições estranhas, e no centro da sala, ajoelhado, um vulto parecia querezava, não fosse o facto de não ter cabeça. Um grito saiu-lhe da garganta eficou pregada ao chão enquanto observava a sala. “Tenho de sair daqui!”, masnesse momento uma sombra apareceu à sua frente. “Acabou“ foi o seu únicopensamento enquanto sentia o mundo a desaparecer.

27. ANA NETO - SEM TÍTULOChovia imensamente naquela noite. Não era agradável passar por cima da

ponte visto que o rio fluía violentamente. Um empurrão, o assombro de cair,o sufoco de afogar. Dois dias depois, o corpo foi encontrado. Foi identificadacomo sendo uma mulher casada de classe média-baixa, dona de casa; pelasmarcas negras nas costas, ante mortem, veio-se a descobrir que forahomicídio, visto que inicialmente se desconfiara de suicídio. O principalsuspeito: o marido. O marido declarava-se inocente, tal como era esperado,no entanto havia uma nova pista: as marcas tinham sido provocadas por umabengala, após mais uns dias de investigação, veio-se a descobrir que tinhamsido um sem abrigo para quem a mulher tinha sido antipática, veio-se adescobrir também que ela se encontrava ali, pois tinha “escapado“ de casaapós uma discussão violenta com o marido, da qual o mesmo não quis falarnos interrogatórios com medo das suspeitas. O sem abrigo foi condenadoclaro, ao menos agora tem cama e comida.

28. ANA OLIVEIRA - VÓRTICEA estação de comboios parecia estranhamente inóspita no sufoco estival.

Na plataforma, a figura grave esperava, a calma demonstrada era a coberturasuperficial adotada há anos. –É o Dr. Abel Dutra? –A pregunta derivava deum oficial jovem, a postura tinha o tipo de insegurança inerente a alguémnovo no posto. Como sempre, a carapaça ajustou-se na sua mente, a vozprofunda que acompanhou a resposta deu-lhe a satisfação de saber que apersonagem profissional de consultor forense assumia o controlo. –Leve-meao local do crime onde está o Comandante! –Como sabe que o Comandantese encontra na casa! –O olhar jovem toldava-se numa mistura de precauçãosupersticiosa. –Num crime desta natureza, com Luciana envolvida… –Delgado sabia que o requinte carniceiro de alguns crimes atrai espectadorescomo carne podre atrai moscas. Cada passo o encaminhava para esta sordidezque se une à alma como a humidade adere aos ossos…

29. ANA PINTO - PRATO QUE SE SERVE FRIO

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Pedro recostou-se na cadeira, olhou pela janela e disse: “Tenho deagradecer à Sara. Com esta chuva o trãnsito está caótico”. “Deixei o Tomásem casa, ficou a lanchar”. Pedro sorri ao ler a mensagem e pensa convidar aeducadora para jantar, afinal tem levado sempre o seu filho para casa. Depoisda tragédia de ter perdido a mãe, Tomás ficou mais feliz ao conhecer Sara, asua nova educadora que, por acaso, também era nova na vizinhança. Duashoras depois… –Tomás, Tomás… Onde estás?– grita o pai desesperado.Mas não há sinal dele nem no jardim, nem de alguma vez ter sequer entradoem casa. Em cima da mesa está um bilhete misterioso: “Conquistei a tuaconfiança e roubei-te o que de mais importante tens, a vida do teu filho.Pergunta ao teu pai o que ele me fez, estás a pagar a fatura dele. Ass: S.”.Apesar de Pedro não se lembrar, durante muitos anos Sara tinha sido suavizinha. O passar dos anos não apagou as violações que sofreu do pai dePedro. Então Sara prometeu vingança.

30. ANA RITA - ALGUÉM A ESTARIA A INCRIMINARSim, só podia ser isso. Todos sabiam que a detetive Kelly era a mais

respeitada em LA. Mas, quem terá sido? Ninguém sabe, pelo menos porainda. A detetive encontrava-se detida, os ajudantes a tentar desvendar quempoderá ter sido, quando chega aquilo que toda a gente esperava; os resultadosdo laboratório. Foi lido e, finalmente, coseguiram limpar o nome da detetiveKelly... Mas, sendo assim, quem terá cometido o crime? Ficará este crime semse resolver? A detetive tem outros planos. Com a sua licenciatura embioquimica, conseguiu fazer um teste especifico ao sangue encontrado nasroupas da vitima que pertenciam ao assassino. Esse ADN continha umadoença grave e rara, foi assim que conseguiram encontrar o assassino.Infelismente, durante a rusga, o mesmo assassino atirou-se de uma ponte, eaté hoje ainda não foi encontrado o seu corpo...

31. ANA ROCHA - SEM TÍTULOOuço passos, olho para trás e sem hesitar disparo. –Oh, não, Rook! –

Corro para ele com a intenção de o socorrer. Quando levanto a sua camisolareparo que é a sua “camisola da sorte”, quão irónicas as coisas podem ser.Tento parar a hemorragia mas parece que atingi uma artéria importante, tantosangue, não consigo fazer com que isto pare! -Só te queria dar o documentopara a tua investigação... -Rook! Rook! –Oh, não... –1, 2, 3, 4… 1, 2, 3, 4...Rook livra-te de morreres, ainda quero acabar a minha investigação e ouvir-tedizer que tinhas razão! Rook!

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32. ANA SORAIA - ARREPIOS NOTURNOSNuma noite escura, sombria e fria, o medo pairava sob as ruas desertas.

Ouvia-se o vento a acariciar as árvores e sentia-se os arrepios da maldade queespreitava a cada esquina. Ellym caminhava sozinha, com medo do que a noitepoderia trazer, algo não estava bem, pressentia isso em cada fibra do seucorpo. Numa esquina, quase na casa de Ellym, o pior aconteceu. A raparigaouviu um grito e escondeu-se, ali assistiu a tudo, um homem, Florindo,agarrou uma rapariga por trás, e violou-a, ali mesmo, e degolou a pobrecriatura. Quando o homem se levantou, Ellym viu bem a cara daqueladesconhecida e não pôde acreditar no que viu, era ela! Começou a correr parafugir dali o mais depressa possível, o homem ouviu os seus passos e foi atrásdela, quase sem força nas pernas a rapariga caiu e quando o homem ia paraagarrá-la Ellym acordou…

33. ANA CLARA CARVALHO - SOMBRAS DO PASSADOO telemóvel tocou pela manhã, acordando o detetive John. “Consultório

da cardiologista Laurel. Vem imediatamente!”, comunicou o agente Mark.Fervilhando de curiosidade, John saiu de casa, não imaginando o macabrocenário que o esperava: o cadáver da conhecida doutora jazia na cadeira do seuconsultório, resultado de um certeiro tiro no peito. À porta, a secretária AnnaHyde chorava num misto de adrenalina e tristeza. “Foi o filho, ainda no outrodia a veio cá ameaçar!”, acusava esta. Depois de recolhidas as provas, John foipara a esquadra refletir, até que Mark lhe comunicou que o filho era inocentepois estava no emprego àquela hora. Intrigado, John investigou a fundo adoutora, até que se deparou com uma notícia antiga, cujo título era “DoutoraLaurel acusada de negligência, após morte de Peter Hyde“. Na notícia podialer-se o testemunho da sua irmã, Anna Hyde. Teria esta vingado o irmão?

34. ANA CRISTINA COSTA - SARAA polícia é chamada para resolver mais um homicídio e depara-se com o

cenário de um crime a sangue frio: uma jovem, Sara, encostada à paredepintada de vermelho a acariciar o cadáver de Duarte Silva. E aí Sara confessaque tudo começou com um simples bilhete no seu cacifo. Era segunda-feira,Sara abriu o cacifo e um bilhete cor-de-rosa captou a sua atenção. Podia ler-se: “Nos teus olhos eu me perco e os teus lábios eu quero”. Este foi oprimeiro de muitos bilhetes. A indignação de Sara crescia com o número debilhetes, assim como a sua obsessão pelo seu próprio admirador secreto. Saraesperou pelo dia em que viu Duarte colocar um bilhete no seu cacifo, atraiu-opara sua casa onde o torturou durante horas numa tentativa de travar a paixão

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por ele. Sara foi presa, o admirador morreu, no entanto os bilhetes nãopararam de chegar.

35. ANA CRISTINA GOMES - SEM TÍTULODois polícias. Assassinos à solta nas ruas de Lisboa. O quebrar o

sossego da noite. Uma perseguição silenciosa. Todas as pistas destehomicídio conduziram Pedro e Ana a um antigo bairro lisboeta. O medo noar. A coragem disfarçada. Um corpo de um hacker com uma seringa nobraço. Um bilhete suspeito no bolso da vítima. Um caso intrigante. Váriasvítimas com o mesmo padrão. Todos informáticos e com ligações amultinacionais. O receio por um ataque informático aumenta. As informaçõesde milhões de pessoas em perigo nas mãos erradas. Só estes polícias podemimpedir a catástrofe iminente. Chegam ao destino. Uma luz ténue numa casaabandonada. Pouco barulho. Os reforços atrasados. Um grito abafado. Umapróxima vítima ainda a tempo de ser salva. Pedro e Ana não podem esperarmais um segundo. De arma em punho, um pontapé surpresa na porta. Osassassinos desprevenidos. O dedo a carregar no gatilho na cabeça da vítima.Pedro atira na direção do coração do agressor. A arma cai no chão.

36. ANA FILIPA RAMALHO - ESCRITÓRIOJennifer Madeira chega ao seu escritório numa manhã de domingo e

apenas encontra uma empregada de limpeza, cumprimenta-a e dirige-se à salade reuniões buscar os documentos que deixou no dia anterior depois de umareunião com o CEO da empresa Júlio de Andrade. Ao entrar verifica que asala está completamente virada do avesso e vê um corpo ensanguentado juntoà janela. Entra em pãnico e sai para fora do escritório procurando aempregada que à instantes tinha visto, mas não vê ninguém. Sem saber o quefazer liga para as autoridades a pedir auxilio e de seguida aproxima-se docorpo. Minutos depois os peritos chegam e investigam o local do crime e oóbito é dado no local. Jennifer é interrogada por um inspetor da PJ e com asavaliações recolhidas pelos peritos, Júlio de Andrade não foi morto naquelesitio.

37. ANA FILIPA RAMOS - SEM TÍTULOAcordo no meio da rua. A face toca o asfalto. Choveu há cerca de 10

minutos atrás. Tento perceber onde estou, o que aconteceu, até que vejo umcadavér ao meu lado. Levanto-me, vou cambaleando pelas ruas frias de NY.Oiço as sirenes da polícia, entro em pãnico. Tento relembrar-me do que

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aconteceu, mas nada. Apago por horas. Quando dou por mim estou numacama de hospital, mexo-me, mas as algemas impedem-me. Ao meu lado vejouma figura conhecida: Kathy. Ela insiste para que eu diga o que aconteceu,eu... não consigo lembrar-me de absolutamente nada, senão de uma únicacoisa, desvanecida na minha mente: meu irmão, morto. A memória vem emum flash. Lembro de receber uma mensagem dele. Ao chegar vejo-o deitadono asfalto daquela rua. Subitamente, uma pancada atinge a minha cabeça. Fimda memória. Apago pela segunda vez. Desta vez, com esta tristeza profunda demorte.

38. ANA LUÍSA RAMOS - UM ESTRANHOAlgo se passa, pensou, aproximando-se da janela do quarto e

procurando o som inconfundível que a tinha acordado; apesar de nãoconseguir ver o seu cão, ainda o conseguia ouvir. Toda a vila parecia dormir,emanando uma estranha calma. Porém, sentia-se observada e rapidamenteencontrou esse olhar que a inquietava. Um homem fitava-a do outro lado darua, esboçando um sorriso aterrador. Assustada, afastou-se da janela eperguntou-se se devia ceder à própria curiosidade; queria saber se aqueleestranho tinha por fim ido embora. O medo que sentia aumentou subitamenteao deixar de ouvir os latidos que a tinham acordado e que, até então, nãotinham parado. Por fim, esse súbito silêncio levou-a a espreitar e o que viu –ou não – deixou-a ainda mais apavorada. O estranho, tal como o seu cão,tinham desaparecido, e nunca esperou ouvir o familiar ranger da portaprincipal, que se abria no andar inferior.

39. ANA PAULA DUARTE - A RAPARIGA AO FUNDO DA RUAMorta. A rapariga que eu conheci quase a minha vida inteira, a que

sempre viveu ao fundo da rua, assassinada. Ainda me recordo dos tempos emque corríamos as duas pelo parque, sem qualquer preocupação no mundo.Deixo as lágrimas escorrer-me pela face enquanto vejo o seu corpo, imóvel efrio, a ser levado para investigação. Não tarda muito, estou numa sala deinterrogatório a explicar como não tinha inimigos aparentes. Afinal era sóuma adolescente de 17 anos, qué mais se pode dizer? Não tenho vontade defazer nada, as paredes do meu quarto parecem mais deprimentes e até o ladrardos cães parece vazio e sem alegria. Sem dar por isso, passo os dedos pelaferida que tenho no antebraço desde ontem. Um arranhão, feito por umasunhas perfeitamente arranjadas. Não tenho culpa de ela ter ido para a festavestida daquela maneira. Eu bem a avisei...

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40. ANA RITA MELO - UM CRIME NO MUSEUManhã de janeiro. Local, museu de Arqueologia. O alerta foi dado por

Maria Mendes, funcionária do museu. A vítima, do sexo feminino, 40 anos,encontrava-se deitada dentro de uma urna funerária megalítica ali exposta. Foiidentificada como sendo Joana Guedes, diretora do museu. O edifício nãoapresentava sinais de abertura forçada. As cãmaras de vigilãncia estavamdesligadas. Perto do corpo foi encontrado um cartão magnético com onúmero 24 inscrito. No escritório da vítima foi encontrada uma agenda, comas palavras “R. F. 22h” no dia do crime. Após investigação nos hotéis dacidade, descobriu-se um suspeito com o nome Renard Fauvre instalado noquarto n. 24 em um dos hotéis. Importante arqueólogo francês, tinhaconsigo dezenas de peças arqueológicas que mais tarde se descobriu seremfalsas. Confessou o homicídio após 6 horas de interrogatório. Motivo: avítima descobriu a sua profissão paralela de falsificador de peçasarqueológicas e ameaçou entregá-lo à polícia. Caso encerrado.

41. ANABELA ALVES - TODO O TEMPO DO MUNDO“Porque tinha tempo”. As palavras estavam coladas a ele como aquele

nevoeiro cerrado, húmido, quase excessivamente íntimo. Tempo. O tempo iapermitir que esquecesse os detalhes. A cara do assassino. O corpo. Asurpresa. Mas duvidava que o fizesse esquecer aquelas palavras. A frieza e odistanciamento com que foram ditas. “Porque tinha tempo”. Para aprender amumificar um corpo. Juntar o que precisava sem levantar suspeitas. Criar oambiente necessário. Tempo para escolher a vítima. Executar. Tempo para selivrar do corpo. E depois, tempo para observar. Participar. Vê-lo a ele, Lira,às voltas com o caso da múmia. Afinal, porque não haveria de fazê-lo? Se eratão fácil? Porque tudo se aprende, diz ele. E, afinal de contas, tinha tempo.Lira para. O peso de todo aquele caso paralisa-o. Aquelas palavras. Olha paratrás, para as janelas do hospital. Sem saber, naquele último momento, noúltimo olhar, encontra os olhos frios do assassino.

42. ANABELA GOMES PIRES - FLOWERS FOR YOUR GRAVESaio do meu SUV envergando uma gabardine preta à FBI. Sofia Pires,

discreta e profissional. O detetive Silva está à minha espera, admirando acolossal Torre dos Clérigos. Caminhamos sincronizadamente, seguindo acrescente multidão de técnicos forenses pelo interior da torre. -Pensava que asigrejas eram locais de culto!, refere Silva. -Para rezares por um morto,precisas de um. Aqui o tens! O corpo encontra-se deitado, em decúbitodorsal, no interior de uma vala profunda. -Sou só eu ou o ambiente parece...

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-menciona Silva. -Fúnebre?-, completa Jaime, o médico-legista -Homemcaucasiano, 30 anos, sem identificação. Morto por um tiro nas costas-. Issosignifica que viraram o corpo... -concluo-. Exato, mas não há vestígios deimpressões digitais -esclarece Jaime. Então, reparo numa assimetria nasbochechas do cadáver. Com uma luva, afasto os lábios. Deparo-me comimensas flores brancas e um cartão escrito: -”Flowers for your grave”- leio. -Podia ser mais irónico?

43. ANABELA GUEDES MARTINS - HOMICÍDIO NO DOURONa margem do rio Douro, um pescador preparava-se para mais um dia

de trabalho, mas quando olhou para a pomte D. Luís viu um cadáverpendurado. Minutos depois, três detetives chegaram ao local e foraminvestigar. Após falarem com algumas testemunhas, a detetive Teresadescobriu que uma senhora vira dois homens na ponte, naquela noite. Odetetive Miguel, quando olhou para a ponte, viu um cabo de eletricidadecortado e dirigiu-se à central mais próxima com a colega Helena. Là, oresponsável fugiu quando os viu, contudo, Helena prendeu-o. Este chamadoAndré, denunciou quem o subornara para fazer tal. Vários políciasperseguiram o suspeito e após um tiroteio, apanharam-no. Tudo pareciaresolvido, mas, quando Miguel o obrigou a “falar”, este confessou algodiferente: o suspeito e a vítima eram cúmplices, pois encontraram bocados deouro na ponte e tentaram recolhê-los com cordas. Com inveja, o assassínio“livrou-se” do colega.

44. ANABELA SOBRINHO - ASSASSINO DA ENCRUZILHADAA chuva começara a cair forte quando os detetives Saraiva e Costa

chegaram ao local do crime. Os técnicos forenses apressavam-se a recolherindícios antes que a chuva apagasse todos os vestígios. A vítima continuava nolocal onde havia sido encontrada: no meio de uma encruzilhada. Esta era já asétima vítima encontrada nestas condições. Nua, com o cabelo rapado comuma navalha, com óbvios sinais de tortura. -Vera, o que tens para mim? Amédica legista ergueu-se de junto do cadáver: -Até agora, nada de diferenteem relação às vítimas anteriores: cabelo rapado à navalha, sinais dequeimaduras de ferro em brasa por todo o corpo, evidências de torturasexual… -E quanto à mensagem do assassino? Encontrámos uma, sim. “Irásarder no inferno”, tal como as outras. Parece que este assassino continua a suadoentia cruzada de matar mulheres que acredita estarem possuídas pelodemónio.

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45. ANDRÉ ALMEIDA - O CONTRATOEsperava pacientemente há horas, quando finalmente o seu alvo aparecia.

O contrato fora encomendado por um rival político que queria aquele homemfora do seu caminho. Não era nada pessoal, era apenas mais um trabalho.Não havia espaço para moralidades naquele ramo de negócio. Alinhou a mirae premiu o gatilho. Um tiro perfeito! Nunca havia falhado. Enquanto opãnico explodia na praça cem metros adiante da janela de onde se encontrava,o atirador levantou-se calmamente e começava a desmontar a sua arma e aarrumá-la cuidadosamente numa mala que, à primeira vista, parecia umasimples mala de viagem. Tirou o barrete que lhe conciliava a identidade, edeixou os seus belos e longos cabelos ruivos fluir. Era a melhor parte, acelebração de um trabalho bem feito. A mulher desceu e saiu do edifício,misturando-se com a multidão em pãnico na rua para se escapulir mais umavez, incógnita.

46. ANDRÉ CARVALHO - SEM TÍTULORick estava descansado em sua casa, com a família reunida incluindo a

adorável filha e a sempre preocupada mãe, nisto toca o seu telefone pessoal,do outro lado telefonavam-lhe do local de trabalho dizendo que um homemcom voz de vingança e de louco ao mesmo tempo ameaçava matar Kathy equeimar o seu próximo livro. Rick desligou o telefone sem dizer uma únicapalavra e rapidamente saiu de casa. chegou ao escritório e ouviu a gravação dachamada 7 vezes, chegando a conclusão que do outro lado falava o ex-namorado de Kathy. Começando aos gritos que nem um louco Rick reuniutoda a equipa e procurou o sitio onde Kathy possivelmente estaria demorou10 dias e revirou tudo, acabando por encontrar Kathy num antigo matadourode animais, amarrada a uma cadeira vestida de noiva e bastante debilitada como livro ao colo, Rick retirou tudo abraçou Kathy, que na mão tinha umbilhete que dizia na próxima será pior, o ex nunca mais apareceu, Rick eKathy vivem felizes até hoje.

47. ANDRÉ MATEUS - PEQUENAS GRANDES COISAS“Quer mais alguma coisa, senhor?”. O médico-legista pronunciou-a

morta no local. Com onze facadas na zona abdominal, ninguém se deu aotrabalho de contestar a decisão. Ninguém a não ser eu. O seu nome é Ofélia-disseram-me no hospital, –e não deve passar desta noite. “Quão apropriado“,pensei. Sentei-me ao lado dela, ignorando os sucessivos apelos do meuparceiro, incitando-me a resolver o caso com brevidade. Lutadora, abriu osolhos no dia seguinte e segredou-me um nome ao ouvido. Foi o marido. É

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sempre o marido. Um caso simples que, tal como a imagem da pobre Ofélia,com os longos cabelos loiros manchados de vermelho, nunca me saiu dacabeça. Quer mais alguma coisa, senhor?- volta Ofélia a perguntar, sem mereconhecer. Talvez se tenha esquecido ou talvez não se queira lembrar.Sorrio.Não, obrigado –respondo. -Já tenho tudo o que preciso.

48. ANDRÉ PINTO - ESTAÇÃO TERMINALDistante, mas em crescente alvoroço, aproxima-se o comboio da

plataforma. Indiferente ao comboio que se agiganta a escassos metros, chega àplataforma uma jovem mulher de passo vagaroso e pernas esguias. Por entreos seus dedos delgados, baloiça uma mala da Parda. Após um breve anúncionos altifalantes, abrem-se as portas automatizadas do comboio. Dezenas depessoas saem em catadupa. Sem pressa em entrar, a mulher tira da mala umagarrafa de água e bebe-a até metade. Os altifalantes relembram ruidosamenteque o comboio está presto a partir. A mulher aproxima-se finalmente dacarruagem. Quando tudo dava a entender que entraria no comboio, eis que,com um grito sufocado, o seu corpo tomba sobre a plataforma. O mundotinge-se de escarlate. À volta da mulher, forma-se um rebanho de passageirosincrédulos que gritam impropérios e rezas improvisadas. Em poucosminutos chegam ao local a polícia e os paramédicos. 10:47 h.: óbitoconfirmado.

49. ANDREIA LIMA - CRIME NO HYDE PARKLondres, 2014, finais de janeiro. Emma, jovem londrina, adorava passear

pelos jardins da cidade, admirar a flora e a fauna. Tinha um enorme carinhopelos animais e conhecia como poucos estes seres, os seus olhares e posturas.Não tardou a reparar que andavam estranhos, agitados, num pãnico latente.Numa manhã, enquanto caminhava pelo Hyde Park, pareceu-lhe ver um vultosuspeito ao longe, com o coração acelerado, decidiu esconder-se no meio doarvoredo, foi então que observou um homem encapuzado a tentar diluir umasubstãncia líquida pelo sistema de rega. De repente, não consegue controlarum espirro, o suspeito vira-se e saca de uma arma em direcção a si. Emmafica sem qualquer reacção, totalmente petrificada pelo medo. Vindo do nada,um esquilo cai sobre o homem, perturbando-lhe a visão momentaneamente.Um tiro é dado para o ar que alerta dois polícias que o conseguemimobilizar. As forças da natureza haviam-na mais uma vez protegido.

50. ANDREIA MORAIS - VINGANÇA MISTERIOSA

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Um grito. Um disparo. Depois disso não tenho qualquer memória.Nem uma explicação plausível para ter acordado no quarto 17, quando o meué no fundo do corredor. Teria abandonado imediatamente aquele espaçosenão reparasse num amor-perfeito em cima da mesa. Aproximei-me eencontrei um bilhete com uma frase que me gelou: «vou destruir-te!». Recuei,pálida de medo, e corri dali. A porta do meu quarto estava encostada.Empurrei-a e deparei-me com um cenário horrível. -Lembra-se de maisalgum pormenor? - Não... -Inspetor, o outro quarto estava vazio. -Comoassim? Eu sei o que vi! -Terá que nos acompanhar. -Mas não fui eu! Seriapossível ter cometido tamanha atrocidade? Aqueles olhos mortos culpavam-me. Porque é que não me lembro? Antes de sair, ouvi o inspetor falar-me aoouvido: -Eu sei que não foi você. E do seu bolso saiu um bilhete e um amor-perfeito.

51. ANDREIA PEDROSO - O MISTERIOSO ASSASSÍNIO DE JONESJones, uma simpática senhora fora vista pela última vez há dois meses. O

mistério adensava-se até que um cheiro horrível fez com que a polícia lhearrombasse a porta num dia quente. Através da fita que bloqueava a porta umjovem curioso espreitava tentando perceber o que se passava, o mesmo jovemque ficara famoso por assustar Jones e tentar entrar-lhe em casa quando elanão estava para roubar o dinheiro que ela guardava. Com medo dos boatos, ojovem contou à polícia que o abusivo ex-marido frequentemente tentava obtero dinheiro da ex-mulher ameaçando-a e que a vizinha do piso inferior a Jonesa odiava pois deixava as necessidades do cão escorrerem para a sua varanda.De repente um burburinho vindo de dentro da casa. Uma unha postiça tinhasido encontrada. Não pertencia à vizinha de baixo, muito menos ao ex-maridoou ao jovem curioso. Quem terá assassinado Jones?

52. ANDREIA PISCO - O COMBOIO NA NEBLINAA aurora rompia, despertando a metrópole, e a neblina cerrada dava à

cidade contornos fantasmagóricos. O homem da gabardina via nisso oprenúncio ideal. Enquanto entrava no comboio, mal continha a excitação desaber que um dos que entrava não voltaria a sair…A neblina, que parecia nãolevantar, apenas piorava o seu temperamento. A inspetora Helena Nevesentrou na carruagem de rompante. Passou pelo lofoscopista e dirigiu-se àmédica legista: -O que tens para mim? -Hióide e traqueia esmagados, paranão fazer um som; e duas facadas, fígado e baço, para se esvair rapidamente.Quem fez isto percebia do assunto. O banco, absorveu o sangue e o casacopreto disfarçou-o. A esta hora acharam que estava apenas a dormir. -Pelo

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menos já o identificámos... Um homem de negócios vindo da capital,assassinado num comboio por um profissional misterioso que ninguémviu… Este deve ser interessante!

53. ANGÉLICA OLIVEIRA - AMOR CRIMINOSOA historia baseia-se em um funeral. Kathy e Rick vao ter de desvendar a

morte de uma jovem que morre misteriosamente sem pistas ou provas parachegar ao culpado. Estamos no funeral da mãe de uma famosa advogadachamada Jéssica, ela e a irmã estão inconsoláveis pela sua perda e amigos efamiliares dão seu apoio e as condolências quando chega Rick que por sua vezjá foi namorado de Jéssica. Quando o funeral esta prestes a acabar chega umhomem no qual nem Jéssica ou tao pouco a irmã Lisa conhecem, estecumprimenta as mesmas e fica sempre ao lado de ambas. Passado alguns diasele volta a aparecer e convida Jéssica a sair os dois se envolvemromanticamente e Jéssica supera toda a dor vivendo esse romance tórrido,sem nunca se questionar de onde ele viria. Ao fim de dois meses eledesaparece e ela desesperada cometo um ato de loucura para voltar a vê-loassassinando assim a irmã relacionando que o seu amor voltaria a aparecernovamente no funeral.

54. ÂNGELO TEODORO - OS OBITUÁRIOS SERIAM MAISINTERESSANTES SE CONTASSEM COMO AS PESSOAS MORRERAM

Quatro da manhã. Chega uma mensagem e um som irritante insiste emacordarme. Enterro a cabeça na almofada até sentir a fronha tapar-me asorelhas. Catarina rebola na cama, por cima de mim, e estica o braço até aomeu telemóvel. Lê com voz rouca: -Estou à tua espera na marina. AgenteEsteves. Levanto-me num único salto e visto a roupa do dia anterior. - Que sepassa? –Catarina esforça os olhos semiabertos. -Vais sair? Esse tal Estevesnão pode esperar por amanhã, ou apanhar um táxi para ir para casa? Pouso apistola no coldre e guardo o distintivo. Tiro do bolso um recorte de jornalque desdobro em cima da mesa-de-cabeceira: uma fotografia debaixo de umacruz negra e duas datas. -O Esteves foi assassinado há seis meses.

55. ANNA FERNANDES - BANCO DE MEMÓRIASDemorou anos a aperfeiçoar e a pôr em prática a experiência. Após vários

relatórios e decisões, um grupo de jovens cientistas conseguiram finalmenteuma forma de “eliminar os maus momentos”, o chamado Banco de

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memórias. Chegará o dia, e tudo estava perfeito para realizar a experiêncianum humilde homem que se tinham voluntariado com fim de esquecer ospiores momentos de sua vida. O homem estava sentado numa cadeira ligado auma imensidão de fios e parecia estar tudo na perfeição. Quando de repentesurgiu um erro técnico, apagando toda a sua memória. Um dos jovensligaram à sua mulher e está veio furiosamente buscar o seu “perdido“ marido.Alguns anos depois, aqueles mesmos jovens apareceram perturbados eperdidos, dando motivo para iniciar uma investigação. Mas não levou muitotempo a desvendar o mistério. Afinal era uma mulher revoltada a vingar-se...

56. ANNY DA JUBA - UMA ÚLTIMA PALAVRARick convida Kathy para um passeio junto do rio, acabam por decidir

jantar no local, no decorrer do jantar, observam um casal muito apaixonado ajantar. De um momento para o outro ouve-se um tiro que acerta em cheio nasenhora. Rick aproveita e esconde-se de baixo da mesa, Kathy entra em acção,saca de imediato a sua arma, no qual Rick balbucia: “até num jantar andasarmada”. Kathy manda todos que estavam no local ficarem deitados e logo vêo sujeito com uma arma a fugir de mota; logo de seguida vai para junto damulher que levou o tiro no qual balbucia: “Red Red John”.

57. ANTÓNIO ALMEIDA - O CASO ENTERRADONuma fatídica terça-feira o corpo de Elizabete foi descoberto na

biblioteca da casa. Foi uma das empregadas primeiro deu de caras com ocorpo ensanguentado da mulher. Os detetives chegaram e verificaram algumasmarcas estranhas como arranhões e cortes profundos no corpo. Apósalgumas investigação à propriedade foi descoberto uma camisa de mulhercoberta de sangue enterrada no jardim. Os agentes interrogaram os presentese foi aqui que surgiram os principais suspeitos. O jardineiro, pelo achado nojardim. O mordomo, que disse que teria ido buscar uma encomenda (masnão parecia ter nenhum objecto na sua posse) e o sobrinho da senhora, poistodo o dinheiro desta seria herdado por ele. As investigações continuaram eapós algumas análises ao corpo e à camisa, os detetives chegaram à conclusãode que o culpado teria sido o cão de Elizabete. Este teria sido treinadosecretamente às escondidas pelo jardineiro, para matar a senhora e conseguirvingança pelo despedimento do seu pai.

58. ANTÓNIO BARBOSA - UMA PENA NÃO PRIVATIVA DE

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LIBERDADEA madrugada serena, escura e fria era acompanhada pela chuva miudinha

que já havido sido muita e grossa. À entrada do Beco Quatro do Bairro Alto,um mar de folhas rasgadas encontrava no aparato policial um invulgarsilêncio constrangedor, de como quando há um corpo conhecido: a chefe dapolícia do bairro. Nua, sentada encostada à parede: os pés esticados eram oprolongamento das pernas. A cabeça encontrava-se alinhada com o corpodebruçado para a frente, e simulava entrar entre as pernas (se a flexibilidadelombar permitisse). Os cabelos escorregadios e ensopados (outroravolumosos e encaracolados) tapavam o que trazia na boca: um pedaço depapel, cuidadosamente recortado e dobrado com a impressão “Artigo 43.ºSubstituição da pena de prisão”. Os braços equidistantes aos membrosinferiores terminam nas mãos sujas, de palmas voltadas para céu, com aesquerda a agarrar um livro mal tratado e a direita um bastão.

59. ANTÓNIO CARLOTO - OS ATIVISTASCheguei ao Castelo vindo da Praça do Lidador quando os sinos

assinalavam a meia-noite. Não havia vivalma. Ainda estava em choque com aconfissão da Lídia. O portão da praça de armas estava apenas encostado, talcomo ele tinha dito. Um vulto roçou-me pela cara, piando -raio da coruja!Enfiei pela torre de menagem e comecei a subir, ofegante. Ele estava à esperano varandim do segundo piso. Já tinha atado a faixa a duas ameias. “Estava aver que não vinhas! Apaga a lanterna e ajuda-me a desenrolar a lona!”. A faixacaiu com um flap que cortou o silêncio da noite. “Assoma-te aqui que parece-me que não ficou bem” -disse-lhe eu. Quando se inclinou sobre as ameias,abaixei-me por detrás dele e fi-lo voar. Ficou estendido abaixo dos dizeres:“morte aos traidores”.

60. ANTÓNIO NOVAIS - TRÍADESão sete horas da manhã! Existe um enorme alarido em volta de um

aberrante cenário. Um homem encontra-se içado de cabeça para baixo,pendente a um metro de altura; o corpo apresenta estar totalmente imaculado,vestido como um executivo que termina um compensador dia de trabalho. -Causa da morte! Mas o que raio é a causa da morte? – interroga-se o médicoforense. –Algum palpite? -Nem por sombras! –responde o detetive chamadoao local. –Mas os mortos não se içam sozinhos! Três horas antes: -Cala-te efacilita-me o trabalho! Sabes como é que a Tríade opera se o trabalho nãoficar bem feito: posso ser o próximo! –diz o homem num sussurro ao ouvidoda vítima! Afasta-lhe o colarinho da camisa para lhe expor a cervical. -Agora

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aclama-te! –diz-lhe enquanto retira do bolso uma finíssima e comprida agulhae a espeta lentamente entre as vértebras da vítima.

61. ANTÓNIO QUELHO CARVALHO - DESAPARECIMENTOSMISTERIOSOS

No dia de Halloween, Rick e Kathy deparavam-se com um estranho caso:várias pessoas tinham desaparecido em Nova Iorque, sem explicação aparente.-Ao todo, foram duas mulheres e três homens que sumiram misteriosamente-informou Kathy. Passado um pouco, Rick exclamou: -Acho que já sei o queaconteceu! É Halloween, logo foram raptados por bruxas! -Tu e as tuasteorias mirabolantes... Subitamente, foram interrompidos por um agente quetrazia consigo uma senhora. -Miss Claire deseja falar convosco -anunciou.Kathy olhou inquisitivamente para a recém-chegada, que se apressou aexplicar: - Vim até aqui pois tenho algo a comunicar, não sei se é relevante,mas lá que é estranho é! - Miss Claire fez uma pausa. -Pouco depois do meumarido desaparecer, reparei que a nossa vassoura também tinha desaparecido,estando um chapéu escuro e pontiagudo no seu lugar. Kathy olhou paraRick, começando a acreditar que este tinha descoberto o mistério.

62. ANTÓNIO SEQUEIRA - SUPER ESPIÕESSurge no ar um paraquedista que choca contra uma vedação eléctrica.

Rick e Kathy em direção ao local do crime são abordados por uma carrinhaque os faz sair da estrada. Sequestrados encontram-se num armazémabandonado onde surge uma voz familiar a Rick seu pai aparece informandode que o paraquedista era um velho conhecido dele e estaria desaparecidonuma missão ao qual estava destacado de executar. Rick e Kathy vêem-seenvolvidos num a teia de conspirações estre espiões onde pelo meio ficam asaber que alguém quer subir na hierarquia da CIA a todo o custo sem olhar ameios. Com a ajuda do seu pai Rick tentam infiltrar-se dentro da CIA paradescobrir o impostor mas pelo meio Kathy continua a sua investigação e coma ajuda de Espósito e descobrem que o pai de Rick tem a cabeça a prémio.Rick e o pai e Kathy descobrem que era uma velha conhecida deles que tinhadado a ordem e que tinha posto a cabeça do seu pai a prémio. Por fim jantamtodos em casa de Rick.

63. ANTÓNIO SOUSA - O ATAQUECarlos rastejou para detrás de um grande arbusto que o cobria por

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completo. Ele estava perto, não o conseguia ver mas podia senti-lo, apertoucom força a faca que segurava na mão direita. Quando se avistaram aatmosfera tornou-se pesada, havia tensão no ar, nenhum deles podia descuraros movimentos do outro por uma fração de segundo que fosse, issosignificava viver ou morrer. Estendeu o braço direito para se posicionarmelhor, quando se preparava para desferir um golpe ouviu um som que lhepareceu longínquo, não ligou, não podia perder a concentração. De repenteuma cabeça assomou á porta da sala, era a mãe, parou de imediato o jogo. –Carlitos, estás surdo? Não me ouves chamar, desliga lá essa coisa e vaidespejar o lixo como te mandei. Nada feito –pensei resignado enquantodesligava a playstation. -Ainda não foi desta que passei o nível.

64. ARMINDA SANTOS - A CULPA É DO RICK?A culpa é do Rick? Joana vive com o filho e a filha, ainda adolescentes.

São grandes fãs do Rick. Diariamente, frente à TV, discutem possíveisdesenlaces para os crimes de cada episódio. São disputas acesas, animadas. Éo momento mais familiar e animado do dia. Porém, longe das suas mentes,estava a hipótese de vivenciarem eles próprios um misterioso homicídio…Certa noite, Amélia, vizinha de Joana, habituada ao som elevado dasacaloradas disputas, ouviu um barulho diferente do usual, estranho, como secoisas pesadas caíssem ao chão… No dia seguinte não viu nenhum dos seusvizinhos. No seguinte, também não… Intrigada, chamou a polícia.Homícidio confirmado: dois corpos caídos sobre o sofá da sala e um nochão. Foi feita a perícia, mas os resultados foram inconclusivos… E,infelizmente, não sobrou testemunha alguma para ajudar a desvendar o caso!Mas… Eu sei….

65. ARNALDO DE BRITO - VENDETA FÚTILUm olhar instigador, fixo, chegas a sentir que te está a ler os

pensamentos, 120kg, 1,89mts num corpo herdado de longos anos a jogarrãguebi antes de se dedicar à PJ. O cheiro por ele emanado é uma mistura desabão, prostíbulos, crime e intrigas. Tem a maior taxa de crimes resolvidos dacidade, e quando apanha um malfeitor, existe sempre a dúvida do mesmo serenviado primeiro para um centro de reabilitação. O pessoal lhe chama “opatusco”, mas nunca na sua cara. Após o barulho do arrombamento da porta,os agentes da PSP conseguiram ver o corpo do advogado sequestrado queestavam à procura, pendurado pelo pescoço e com claros sinais de tortura. Ocomissário testemunhou aquele cenário e recordou os velhos tempos com oseu amigo agora pendurado. Com os dentes bem cerrados e sem sequer virar

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a cabeça ordenou ao agente: “chama ao patusco”.

66. BÁRBARA ALEMÃO - EM BUSCA DE JANEJohn entrou no bar onde todos os dias se sentava. Tal como nos outros

dias avistou Jane, a mulher misteriosa que se sentava na ponta do balcão aescrever com a sua caneta verde esmeralda, a cor dos seus olhos. Houve algosobre ela que o colocou em alerta. Em vez do olhar seguro parecia nervosa erabiscava furiosamente várias frases no seu caderno. Passado alguns minutosJane levantou-se do seu banco e correu desesperadamente para a porta dastraseiras. John não conseguiu evitar e correu na sua direccão. Nas traseirasencontrou um homem inconsciente no chão e a caneta de Jane manchada comsangue juntamente com um pedaço de papel rasgado onde se podia ler“Viktor Valkov” e uma morada. Jane desapareça e certamente o sanguederramado na caneta era seu. Onde estaria Jane e o que significava aquelepapel? Decidiu então partir em sua busca.

67. BEATRIZ MONTEIRO - DIAGNÓSTICO: DEMÊNCIA31 de outubro, Salem Hospital. O inspetor Ash Hall e a professora

Rachel Cruesses são chamados ao Hospital de Salem para investigar umhomicídio de 4 recém-nascidos. Para o inspetor isto não passa de um actobárbaro realizado por alguém que terá sido maltratado. No entanto, paraRachel o modo com os bebés foram mortos revela muito mais do que umsimples ataque de um psicopata. A maneira como os corpos dos bebés foramdeitados no berço indica que o assassino era pai. Ash revela que seja quem fortem conhecimento interno sobre o hospital, uma vez que, não existe nada queo posso identificar. O MO do crime é o mesmo de uma série de homicídiosocorridos há 10 anos no Oregon State Hospital. Ash e Rachel descobrem queo assassino é um médico que testemunhou o homicídio da mulher às mãosdo filho demente de 26 anos. Frank jurou que enquanto fosse vivo nenhumamulher iria morrer às mãos de um filho, que ele as pouparia dessesofrimento, nem que para isso tivesse que os matar primeiro.

68. BEATRIZ NUNES - LÁBIOS VERMELHOSO sol ofuscou-o logo assim que abandonou o seu Ford abatido. Cintra

coçou o nariz torto enquanto os seus olhos, cinzento-baço, passavamrapidamente pelo que se desdobrava à sua frente. Quem o visse, de ombrosdescaídos e gravata torta, não o imaginaria inspetor. O reboliço de pessoasera-lhe familiar. Atraídas como traça à chama, aqueles que passavam

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deixavam-se ficar, transbordando para além da fita amarela.Cumprimenta ojovem polícia, a inexperiência escorrendo-lhe pela testa. Estava calor, mas nãoassim tanto… Foi o primeiro indício de que algo sombrio se havia passado.O segundo foi o sobrolho carregado de Almeida, o médico-legista. Sem nadadizer pintou-lhe uma descrição do sucedido. Uma nova vítima estendida aocomprido no pavimento sobre uma poça espessa de vermelho-escuro. Natesta, lábios sensuais de mulher estavam pintados em tom rougeesborratado… A caçadora estava de volta. Os olhos de Cintra ganham umbrilho. O jogo retomava…

69. BERNARDO ROCHA - ALVO FÁCILNão vou dizer que estava escuro, isso é pouco... E ele andava louco,

tonto... que tontura. Perdido num sufoco, bolsos sem troco serviam depontes para aventuras. Pelas ruas, beijava montras com os olhos, poucobrilhantes, mortos, olhos de quem sofre na pista do silencio. Pelas ruas,pensava em tudo, no absurdo, um excesso de conteúdo num plano imenso.Avista o banco... Parece-me o contexto certo para dizer que ele estava armado.Um revólver e um passa-montanhas no interior do casaco. O telefone toca,era o César, o mais fiel parceiro desde o liceu, disse ele que é impossívelassaltar um banco à noite. Mas ele desliga a chamada, coloca o tal gorro nacara quando surge um socorro que para todo o nervo. A voz vinha de perto,dum beco, se tinha ou não saída ele não sabia ainda. Decide ver, rápido,fazendo uso das suas pernas tonificadas... É incrível como um beco pareciauma estrada, dois corpos no chão e outro na raiva... Ele pensa em arrancarmas alguém o trava... Alvo fácil.

70. BRANCA CAROLINA - AS PALAVRAS DE CAIXÃO À COVAEra jovem e escrevia versos (maus, tão maus...) no bus 711. Lía-mos

quando se sentava ao meu lado a caminho do emprego. E dizia sempre: “osmeus poemas...” Um dia confidenciou-me que uma editora ia publicar-lhos.Senti falta de ar, uma pontada nas costas (depois dos 60 anos é assim...).Aquele amontoado de palavras de caixão à cova, mau português, rimasforçadas, ia ficar impresso, ia ser um livro? “Escrevo só aqui no bus, inspira-me, nunca passo ao computador. Esta pasta tem o único manuscrito”.

Um dia, cúmplice, o motor do bus 711 tossiu, engasgou-se, morreu demorte macaca na avenida. Toda a gente saiu. Ela apressou-se também. E osversos ficaram esquecidos no banco. Pus a écharpe em cima da pasta, metitudo dentro da mala... e só respirei fundo já no passeio. (Que adrenalina,Castle, o meu primeiro crime! E sem sangue!)

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Andei até ao rio, sentei-me, rasguei as folhas todas para dentro dumsaco. Nunca a maresia me cheirou assim tão bem! (primeira edição adiada?)Só no terceiro caixote do lixo coube tudo. (Mas não há crime sem castigo,Castle: eu, sexagenária fã de Camões, agora só ando a pé. E Lisboa tem 7colinas!)

71. BRUNA NEVES - CARA A CARA COM O MEDOO momento inesperado, apareceu frente a frente com o assassino! Vendo

o medo nos olhos dela, não podia deixar isso acontecer, nos contos de fadasaparece um milagre infelizmente isso não e bem assim na realidade, frentecom o maior medo, com uma arma na minha mao, o que iria fazer, mata-lo?Não seria possivel, não com a pessoa que amas desaparecida assim, umaangustia, uma dor tao grande que vem do meu corpo. Matei-o! Vejo o sangueno chao, morro de desespero. O que iria fazer? Ela ainda esta desaparecida,um milagre não vai acontecer tao cedo... Entram os meus companheiros,gritando! Agarram em mim, tentando me afastar do corpo. Não consigorespirar, lagrimas escorrem pela minha cara pois perdi a chance de saber seestava viva, morta ou magoada. A minha esperanca estava abaixo de zero.Comecei a andar, as ruas pareciam inacabaveis. E derepente oiço um tiro...Entro numa casa antiga e vejo um corpo, sangue mas a pessoa viva, lagrimasaparecem, uma esperanca aparece, era...

72. BRUNA PIAS - TRINTA E TRÊSSento-me no meu escritório a pensar. Olho pela janela, para os carros e a

cidade. Lembro-me do momento em que bateu à porta. Lembro-me de pensarque era a Maria, vinda do almoço... Quando pedi que entrasse, apercebi-mede que se tratava de outra pessoa. Olivia Pendergast, uma emigrante inglesaque reclamava os direitos de trinta e três assassínios. Inicialmente, lembro-meda gargalhada que dei. E depois, lembro-me da mão dela, retirou da carteirauma bolsinha azul. Continha trinta e três dentes, um por cada vítima.Perguntei-lhe porque estava ali, no escritório de um detetive. Foi então quecomeçou a chorar e apercebi-me de que Olivia Pendergast nunca havia matadoninguém. Disse que a ajudaria, mas ela apenas se desculpou e de uma picadaforte no pescoço, perdi a consciência. Do olhar turvo só a vi a ela e uma luzforte. O último pensamento que tive foi o da impossibilidade. Agora aquiestou eu, sentado no meu escritório a pensar, enquanto massajo o dente emfalta.

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73. BRUNO PIORRO - CASO OCULTORafael foi encontrado morto em sua casa, após ter caído fazendo um

traumatismo craniano. O inspetor Machado acha estranho ter caído de costas,toma conta do caso e dá início ao inquérito. Sara, namorada de Rafael, umpouco nervosa, confessa que tinham discutido e saído de casa. Tomás tinhaencontrado o seu irmão morto e estava sujo com sangue, a camisa tinha de seranalisada. O inspetor achou estranho o comportamento do Tomás e de Sara.Analisando os resultados forenses, Rafael tinha marcas de luta, a camisa deTomás tinha cabelos e batom de Sara e descobre que os dois tinham um caso.Após alguns interrogatórios sabe que Sara tinha ido ter com Tomás eexplicara que Rafael sabia do caso deles. Tomás foi ter com o irmão paraesclarecer o caso, na discussão ele empurra Rafael, matando-o e ocultando osucedido.

74. BRUNO ALEXANDRE - BALEIZÂOEla baixou a arma mas a sua cara trancada não vendia ilusões. Ele ficou

aliviado, pelo menos até à chegada de Daniela. “Quando pensas em devolver ocomando das operações? Sabes que não podes vencer!”. Num ultimo ímpeto,tentou alcançar a porta mas esta foi barrada por Ferrel. “Estás a pedi-las, nãoestás?”. Steven cedeu um olhar de conformação a Daniel e seguiu até ao seucomputador. Naquela noite, a Sra. Roberts não conseguiu dormirpreocupada com o seu filho. Steven não estava mais preocupado, o seu corpodescia até ao fundo do Hudson largado do cargueiro da SAMCOP.

75. BUMSHACAVACO! - CAVACO - APERTA-ME O SAPATOO nosso mistério começa no século XIX, em Londres. Lizzie era a

primeira mulher polícia da Scotland Yard. Foi ela, com as suas próprias mãosque fez justiça, mesmo consciente das suas consequências conseguiu capturaro famoso Jack the Reaper. Depois deste capítulo, conseguiu fazer umacarreira distinta e o seu nome era uma lenda no mundo dos homens, isto é daScotland Yard. Houve um verão onde Lizzie foi aproximada pelo chefe decomissão da Yard em que obrigou-a a ter um parceiro. Lizzie, indignada coma ordem, recusou. No dia seguinte Lizzie ainda chateada, ao chegar ao localdo crime reparou uma cara estranha. Seria esse o novo parceiro dela? Quandoviu não podia acreditar era James o rei da parvolandia, pelo mesmos era onome que lhe davam porque escrevia muito. Mas tirando todos as inflicidadesdesse dia, reparou que a vítima era o secretário do primeiro ministro. Osecretário mostrava sinais de um tiro na cabeça. Suicídio ou homicídio? Eporque que faltava-lhe um sapato?

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76. CAIO RABBI - UM ARMAZÉM NO CENTROCarlos acorda num lugar frio, escuro e malcheiroso. Sua cabeça dói

como nunca. Mal recupera-se e alguém pede-lhe água. Assustado, Carlosaproxima-se e entrega o copo que tinha ao seu lado. A mulher, aterrorizada,ergueu sua mão para apanha-lo. No braço direito uma faixa ensanguentadacobria seu cotovelo, onde o membro acabava. Com poucas palavras elacontou como estava ali há semanas e que tinham-lhe mutilado, além de lhetorturarem por dias. Carlos conforta-a, diz saber quem eles são e o quequerem. Cartel Fernandez. Ele conta que seu irmão possui uma tonelada decocaína roubada desse mesmo cartel num armazém no centro. Era tudo queeles queriam. Seria uma ótima barganha. Ela sorri, levanta-se e tira a faixa.Seu braço fora amputado anos atrás. “Um armazém no centro…”, murmurafriamente enquanto sai da sala. Carlos ouve um clique metálico na escuridão.Ele percebe o que vem a seguir.

77. CAMILA LOBO - QUIMERAO caso era óbvio, hoje vejo-o. Ella mantivera um caso com Jones havia

anos. O seu marido, um psicopata, assassinara o amante num acesso de raiva.Confessara o crime com tal prazer sádico no sorriso que ainda hoje me assolaos sonhos. Mas a falta de um corpo na morgue, aliada a uma intuição quenunca consegui explicar, consumiram-me levando-me a especulaçõesinfundadas que me mantiveram num impasse durante demasiado tempo.Outros teriam imediatamente mandado o louco para a prisão e fechado ocaso. Eventualmente assim o fizeram. Recomendaram-me apoio psicológico esuspenderam-me. Nunca mais voltei. Tomei-me como louca e nunca maisconfiei em mim própria. Até que... Era madrugada e recebi uma chamada.Ouvia-se um riso feminino quando um homem murmurou “obrigado,detetive”, e desligou. Confirmei: perdera-se o rasto a ella, assim que o seumarido fora preso. Mas eu já não acreditava em mim. Com certeza alucinara.

78. CAMILA MAYORGA - CENTRAL PARK EM FOGOEste caso era muito esquisito, encontrar uma mulher entre os 75-80

anos sem roupa, sentada num baloiço, no Central Park, completamentequeimada não era muito comum. Ou era vingança ou ela encontrava-se nolugar errado à hora errada, o certo era que este assassino tinha planeadomuito bem este homicídio, pois era bastante obvio que ela não tinha sidoqueimada no parque e queimar uma pessoa não era nenhum acidente. Entreos suspeitos pela morte de Lucy encontravam-se: o seu filho, querecentemente tinha descoberto que era adotado; o sua maior “inimiga” (a sua

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irmã), que estava loucamente apaixonada pelo seu marido e acreditava queLucy lho tinha roubado; ou o seu marido, que se tinha casado com ela pelodinheiro e descobriu que Lucy recentemente tinha doado todo o seu dinheiroa uma instituição. O que não se imaginavam era que os tres juntaram-se paramatar esta humilde mulher.

79. CARINA SILVA - ECO DO SILÊNCIOExiste uma melodia que apenas eu compreendo. Os gritos. Harmoniosos

sons estridentes que ecoam por cada parte do ouvido, num circuito contínuoe irregular. É o delicioso som quem em homogeneidade com a música mecausa o grande prazer e uma melodia única é criada. Com dois singulareselementos diversas sinfonias magníficas são reproduzidas. É só uma pequenahistória, na verdade, entre outras coisas: sou três vítimas, sou três agressores,sou três vidas arruinadas, marcadas para a vida. Eu poderia apresentar-meapropriadamente, mas, na verdade, isso não é necessário. Muito em brevevocês iram conhecer-me o suficiente. Basta dizer que, em algum ponto dotempo, eu poderei deitar-me sobre vocês, com toda a intensidade possível. Eassim como rapidamente me conheceram, rapidamente roubarei a vossa alma.Vocês devem sentir-se privilegiados. Eu não ataco todos! Por favor, podemconfiar em mim. Agora, fiquem quietos, deixem-me saciar a cede que tenhodo vosso corpo, e uma explosão sucederá.

80. CARLA ARAÚJO - FORTUNA LETALNaomi sempre possuíra um poder peculiar, despertar emoções

avassaladoras com duas palavras; por fim à angústia ou reavivá-la das cinzascom uma simples expressão... Poucos foram assim os genuinamentesurpreendidos quando o corpo da médium foi encontrado no seu escritórioem Lisboa. Na garganta da vítima, um pequeno papel em branco dobrado emquatro, um símbolo do futuro inexistente de Naomi. As cartas da últimaleitura efetuada pela vítima encontravam-se ainda no topo da mesa, uma leiturapouco favorável: problemas financeiros, azar ao amor... o suficiente talvez paralevar um cliente furioso a atacar a Taróloga. Obrigando a métodos menosortodoxos, a ausência de um registo de consultas ou de vestígios estranhos nocadáver guiaria a investigação a espaços circundantes, de onde se destacou umrestaurante chinês, um local onde sinas descartáveis são não só uma docetradição culinária como também impressas em papel estranhamente familiar...

81. CARLA LOPES - RICK EM “PORTUS CALE“

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Porto, 1 de janeiro de 2016, 5 horas e 5 minutos. O sol nasce receosoem “Portus Cale“, despedindo-se da lua cansada de tudo o que presenciara naúltima noite do ano. Da varanda do “Porto Lounge Hostel & Guesthouse“,Rick é subitamente afastado do entorpecimento natural de quemrepetidamente gritara “Happy New Year” por uma sirene. Transeuntes paramem plena Rua do Almada, rostos marcados pelos festejos e algum sonocontorcem-se horrorizados, perante o olhar perscrutador do escritor depolícias que se apressa a dirigir para a calçada. Na cama, deixara Kathy, aindaadormecida num dos onze quartos do hotel. Já na rua, uma agente a quemchamam “Morgado” comanda as operações. “Todos os frequentadores destehotel são suspeitos, ninguém é inocente!”. Descobre-se um um corpo mortoonde brilha uma faca com as iniciais do hotel que recebera Rick. Morgadoobserva os presentes, mas o seu olhar fixa-se demoradamente em Rick queparece um menino que nunca viu chocolate.

82. CARLA MIRANDA - SONHO OU REALIDADE?Peter Cole acorda a meio da noite em pãnico, tivera um sonho que lhe

parecera muito real. Peter estava em Times Square a celebrar a chegada donovo ano juntamente com milhares de pessoas, quando depara-se com umvelho a olhar fixamente para ele. O velho avança em direção a ele, e muitocalmamente avisa-o que tem de sair dali imediatamente pois algo terrível vaiacontecer quando chegar o novo ano. Peter ignora-o virando-lhe costas a rir ea pensar que este é doido. A contagem decrescente começa e a bola vaidescendo lentamente, quando chega ao fim, em vez do típico fogo de artifícioocorre uma enorme explosão. Peter é derrubado pela onda de choque edesmaia. É nessa altura que acorda e vê o mesmo velho ao seu lado e pensacomo é que o velho poderia saber de tudo aquilo. Acidente ou crime?

83. CARLA MORAIS - CRIMEEstava Vera no seu acolhedor apartamento no 10º andar, depois de um

dia intenso no trabalho, a contemplar a paisagem e a preparar-se para escreverno seu diário, que usava como uma espécie de terapia para o seu dia-a-diaagitado. Quando subitamente ouve um pequeno barulho, vindo da cozinha,não deu muita importância, sorriu e pensou que devia ser o Zeca, o seu gatoPersa, a fazer das suas, como é habitual. Enquanto estava envolta nos seuspensamentos, sentiu de repente uma presença atrás de si, mas já não foi atempo para se virar e perceber o que se passava. Apenas sentiu umas mãosenormes e fortes em volta do seu frágil pescoço, tentou agarrar-lhe as mãoscom toda a sua força, tentou gritar, tentou espernear. Mas quanto mais

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resistia mais sentia os seus ossos e traqueia a quebrar-se sob aquelas mãosmonstruosas. Impossível, pensava, não posso morrer assim…

84. CARLA SOARES - O REFUGIADO DA NOITEEra uma noite misteriosa, quase enigmática diria, uma noite assustadora.

Nada via mas tudo temia, aquele pobre homem, ao andar pelas ruas da aldeia,sem esperar o que o destino lhe reservava. O que vem a ser isto? Via que tudoestava deserto. Teria sido decretado um recolher obrigatório e ninguém lhetinha dito? Refutando-se na sua mente para tentar perceber o porquê. Talveztodos tivessem desaparecido por causa do assassinato de que toda a populaçãofalava, e que assolava a aldeia há meses. Subitamente, mal aquela reflexãochegou ao fim, avistou no escuro da noite um homem de cabelo ruivo e queenvergava uma camisa azul e calças pretas. Entre o sono e o sonho abriram-seas portas de um horror que pensava ser impossível; a morte vinha ao meuencontro e eu nada poderia fazer, aqui estava eu deitado no chão à espera queela me viesse buscar. Nem tudo foi em vão a minha partida ajudou a descobriraquele que se refugiava na noite para tirar vidas inocentes.

85. CARLA VEIGA - O EMBRULHO ESCARLATERick e Kathy recebem em casa um embrulho. Dentro deste está um dedo

ensanguentado com um anel igual ao de Alexia, filha de Rick, que tinhacomemorado o aniversário na noite anterior e tinha sido a avó que lhooferecerera.Rick, Kathy e os demais da esquadra iniciam uma busca. Semresultados, o assassino, continua a enviar “recordações“, cabelo, roupa,sangue... Kathy assiste ao sofrimento, ao desespero do amado. Richard sente-se culpado, devido à sua fama e ao seu envolvimento no mundo do crime.Alguém quererá vingar-se? Não há pedido de resgate. Não se sabe se Alexiaestá viva ou morta! Se o dedo pertence a ela! É certo que está desaparecida.Kathy tenta provar o seu amor e reúne esforços para encontrar a menina antesque seja tarde demais, mas as provas são inúteis. Trim, trim - O telefonetoca...

86. CARLA XAVIER - VERMELHOVermelho. Outrora a sua cor preferida, agora era sinónimo de pesadelo.

O seu sangue salpicava o plástico colocado sobre o chão, uma tela para a obrade um assassino. Caíra numa armadilha. A sua mente ainda tentava processarcomo foi possível ter sido tão ingénuo. Mas fora. Tinha as mãos e as pernasatadas e o seu corpo estava entorpecido. A sua última memória resumia-se a

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um vislumbre de uma sombra e uma picada no pescoço. Depois disso apenasescuridão. Agora ali estava, sem noção do tempo e espaço, em posição fetal,tal como viera ao mundo. Mas não estava sozinho. Conseguia ouvir arespiração atrás de si, imaginando um predador aguardando pela sua presa,paciente. Estremeceu involutariamente. De imediato uma voz perguntou setinha algo para dizer. As últimas palavras? Nunca pensou ouvir isso. Sentiu ocano frio da pistola na sua nuca. O que dizer perante a morte?

87. CARLOS ALMEIDA - CERTIFICADOS DE AFORRO? BALELAS...Certificados de aforro? Balelas… O corpo jazia no chão duma cozinha

velha e desarrumada. O neto, imobilizado pelos polícias, fixava nele uns olhosvermelhos de raiva e ódio… Sobre a porta desconjuntada, o quadro “domenino da lágrima”, preso por um cordel, em volta de um prego ferrugento,ainda parecia mais deprimente… - Por que mataste o teu avô? -Não queriamatá-lo, já disse –repetiu, fixando-se nos dois agentes. - Então… -Só queriaque ele me desse os certificados de aforro. O velho falava muito neles e euprecisava de dinheiro. Negou-mos… -E os certificados? -Pois… nada.Revirei tudo. Acho que nunca os teve. Certificados? Balelas!... Afinal, matei-opara nada… Abriu-se a porta da rua e com a corrente de ar a porta da cozinhafechou-se com estrondo. O quadro caiu aos pés dos três. Partiu-se… eapareceram três cédulas de certificados...

88. CARLOS BICHO - UMA TARDE NO SANTUÁRIOTarde de outono, folhas no chão um vento sopra como veludo. António,

homem devoto, chega à ermida; depara-se com as portas arrombadas, velasacesas, no altar jazem dois corpos jovens. As paredes estão sujas com grafitesfeitos com sangue: “não á amor maior que morte”. Quem são? Dois irmãos,de países diferentes cujo o destino os uniu, pois são adoptados semconhecerem os seus progenitores. Mas eles se amavam. Como foram aliparar? Estavam acampar nas imediações. Que interpretação têm os grafites? Opai descobriu que o futuro lhe tinha posto em casa o filho que rejeitara, numaaventura de rebeldia ainda quando era novo. Com raiva de ver os filho felizcom a sua irmão, matou ambos, para magoar a mãe do seu filho. Vingança!Porque num santuário numa ermida? Pois foi ali que foi concebido, num actode violação da sua mãe, a qual se tornou freira, depois de ter entregue o filhopara adopção.

89. CARLOS FERREIRA - UM ACASO

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Naquela gélida noite de inverno, eu detetive Dudu Ferreira quando meencontrava de folga e passeava pacatamente a minha cadela santa à beira mar,ouvi algo, como que um miar fraco. Aquele som atraíu-nos e seguimo-lo atéperto das rochas, qual não foi o meu espanto quando me deparei com umrecém nascido, roxo de frio e rouco de tanto chorar naquele imenso areal.Tirei o meu kispo de penas onde o aconcheguei, calou-se logo ao sentir ocalor. Segui com os bombeiros para o hospital onde acabei por saber que avida daquele pequeno ser dependeu de mim, apenas mais cinco minutos eteria morrido de hipotermia. Desde esse dia que eu e a minha santapartilhamos a vida com aquele pequeno ser, visto que até hoje continuamossem saber quem foi o animal dito racional que deixou uma pequena vida napraia para morrer.

90. CARLOS NOGUEIRA - A COMBINAÇÃOMadalena não gostava de Rodolfo. Casara pela sua riqueza. O seu grande

amor era Júlio, um rapaz garboso, também casado, com quem mantinhaencontros tórridos no apartamento onde foi encontrada morta. Estrangulada.A cobrir a nudez tinha uma combinação vestida ao contrário. No pescoço,marcados a roxo, os dedos do assassino. Os agentes Lucas e Paula interrogamo marido, que confessa saber da relação extraconjugal e que tinha pensado emmatar a mulher. Mas que desistiu. O amante também nega ser assassino.Apesar da escassez de dados, a agente Paula resolve o mistério: alguém vestiraa combinação ao contrário a Madalena. Ela jamais se enganaria. O quesignifica que confiava no atacante e que estava nua antes de morrer. Apenasteria confiado e só se teria despido para uma pessoa: Júlio! O exame científicoao pescoço da vítima veio dar-lhe razão: as marcas de dedos eram do amante.

91. CARLOS OLIVEIRA - MISTÉRIO POR RESOLVEREstava uma noite fria devido à chuva que tinha caído durante todo o dia e

somente parado após as onze da noite. Ana, uma mulher que nos padrões dasociedade se destacava como uma pessoa muito atrativa, caminhava em passoapressado pelas ruas de Braga. Ela tinha medo, sabia que hoje, terça-feira,vinte de novembro, o homem que a tinha atacado há seis anos tinha sidolibertado e nada a deixava mais aterrada do que a ideia de que ele pudesse estarao virar da esquina. Amaldiçoava o facto de viver sozinha num apartamentoonde mal conhecia a vizinhança, muito devido ao seu emprego comoconsultora de uma empresa, o que lhe retirava a maior parte do tempo quepodia passar em casa. Mas isso tinha sido há duas horas atrás e esse receiotinha-se agora desvanecido pois esse homem jazia morto no chão do seu

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escuro apartamento.

92. CARLOS PIRES - A CURVA INDESEJADAAquela senhora morreu num acidente. Só que não foi um acidente. As

minhas suspeitas levantaram-se quando o filho, com problemas financeiros, eque ainda vivia com a mãe, recebeu cinquenta mil do seguro de vida. Estudavaengenharia eletrotécnica, sabia como alterar a centralina do veículo. A períciaconfirmou o meu palpite, o carro fora modificado, de modo a que a direção eos travões falhassem em curvas apertadas. Em especial naquela, onde elapassava sempre que regressava a casa. Talvez tivesse estudado teatro, não cediano interrogatório, ou talvez não tivesse sido o filho a matar a própria mãe.Mas quem? A pergunta não era “quem” mas sim “a quem”. A quem queriamfazer mal? O meu suspeito era afinal a vítima. Partilhavam o carro, fora umengano. A rapariga que ele traíra recentemente, do mesmo curso, comconhecimentos técnicos e motivo, era a culpada. A ex-namorada acabou porconfessar.

93. CARLOS RODRIGUES - O ADVOGADOQuando algures na cidade os sinos assinalavam as doze badaladas para a

passagem de dia, John encontrava-se na sua cela, curvado sobre aquela que foia sua cama nos últimos dez anos.Durante aquele pequeno período de tempoque durou o compasso sonoro dos sinos, John manteve-se imóvel epensativo. Acredito que os pensamentos passassem pelo dia seguinte, quandoaquela mesma hora marcar o fim dos seus dias.Desde aquela tarde desetembro em que foi preso por estar perto do corpo de uma jovem queacabara de ser assassinada que os seus pensamentos são consumidos.Lembra-se que chovia copiosamente e do riso sarcástico do policial quando osoube estrangeiro. Não era nada apologista de teorias da conspiração, masnunca deixou de manifestar o seu descontentamento pela forma como o seuprocesso foi tratado.Isso mesmo costumava falar com os seus amigos do“Green mille“.Agora que tinha perdido a esperança em que se fizesse justiça,comunicaram-lhe naquele dia que iria ter um advogado novo..

94. CARLOS TORRES - REFÚGIODas mãos pingava-se-me a vida. O choque impedia-me o raciocínio e

punha em causa o meu “eu”. A confusão instalou-se no pensamento e opânico também, as palavras balbuciadas ecoavam no abandono das almas aocrepúsculo. Fujo instintivamente, corro pelas vielas adjacentes em busca de

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refúgio, há sempre refúgio para uma vida que foge do mundo. O mundo étão mais bonito encharcado. As poças, os rios, a roupa ensopada da vida quenão nos pertence. As sirenes ao longe, o coração a sair pelo peito e o mundoa cair debaixo dos pés. A cobardia, na medida certa, mata como balas, uma auma trespassando o peito e cravando-se no asfalto. Mais tarde o temor para:sou eu de novo, sorriso quente, leve, mãos secas. Sigo pela rua principal eentro no café de sempre. Um galão, uma tosta de fiambre, um jornalqualquer. Que vida pingará a seguir?

95. CARLOS JESUS GIL - SONS DE MISERICÓRDIAManuel encontra-se à porta da penthouse do destino. Manuel, quarenta

anos, é um homem com formação superior, cultura acima da média, e até sefaz acompanhar, não raro, por um belo estojo de clarinete, esmerado e acondizer com elegantíssimos fatos e sapatos de marca. Trinta segundos, e aporta do apartamento escancara-se franqueando-lhe a entrada. Da casa debanho, o som de uma cascata; numa envolvência maior, a Primavera deVivaldi. Enquanto abre o estojo do… instrumento bélico, Manuel imergenum dilema jamais experimentado. A porta da casa de banho é aberta. Dedentro sai, desnudado, toalha ao ombro, Fulano Tal. Já de dúvidas desfeitas,instrumento montado e afinado, e sempre sem olhar para o recetor, que lheroga, um tanto ridiculamente, “senhor, faça-me tudo, tudo, mas não memate!”. Manuel desfaz o feito, e diz: “agradeça ao seu bom gosto e ao géniodo mestre!”.

96. CARLOS JOSÉ LANÇA FIGUEIRA - CAIXA DE CIGARROSRick acordou sobressaltado com o olhar de Albert, que gritava inocência.

Não havia dúvidas ser Albert, funcionário preterido na promoção, o autor damorte de Mr. Harvard, diretor executivo da Harvard Investments. Havia omotivo, tinha sido visto nas instalações e, por último, as imagens das câmarasde vigilância, onde não se via o rosto, mas a estatura e o andar coincidiam efinalmente, aquele som metálico da prótese. Vestiu o fato de treino e saiu parao “jogging” matinal. Vagueou pela cidade, perseguido por aquele olhar e foirevendo a investigação que conduziu à detenção de Albert. Inexplicavelmente,estava junto às instalações da Harvard. De repente, aquele som metálico.Olhou, a mesma estatura e andar. -Mr. Been? Adjunto de direção daHarvard? -Sim! -Reparei no som que faz quando se desloca. –Ah, sim, é deuma pequena caixa metálica onde guardo os cigarros e o isqueiro.

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97. CARMINE ANDRE MARRONE - A CARTA ASSASSINACarlos estava no jardim a ler as cartas e pouco tempo depois de le-las,

sente-se paralisado e cai morto. Leu primeiro a carta da ex-mulher, depois ado melhor amigo e por último da sogra. Todas o ameaçavam de morte. Umnúmero anónimo ligou ao 112. Luísa, a detetive do caso, falou com omédico-legista e ele disse que Carlos morreu por absorção de cianeto pelasmãos. Logo, Luísa percebeu que foi uma das cartas, mas qual: a da sogra, adizer o quanto o odeia pelo sofrimento causado na filha ou a da ex-mulher,Marisa, que mencionava o quanto mal pai e marido ele foi ou a do melhoramigo, Enrique, que lhe pedia o dinheiro de há 4 anos? A detetive revistarama casa dos suspeitos, descobrindo que Enrique é amante de Marisa e tambémque ele tem o cianeto que matou Carlos.

98. CAROLINA FERREIRA - THE LATIN CRIMEJane pensou que após dois anos de ser detetive de homicídios, o choque

de um crime sangrento iria a desgastar. Normalmente, esses crimes oscadáveres apareciam intactos. Porém, este não era o caso. Inicialmente Janenão teria sido chamada, com o pensamento de que era apenas mais umassassinato (eles eram tão comuns nesta área, que era até considerado umdesperdício de chamar um detetive já com um caso), mas, em seguida, osprimeiros detetives que chegaram à cena do crime tinham encontrando algo…perturbante. O corpo (o que restava dele) estava semi-enterrado sob osescombros, apenas o torso estava exposto. A vítima era do sexo masculino, oque não era exactamente incomum. Provavelmente um traficante de drogas.Mas este, era diferente. De braços abertos o que se destacava no cadáver,escrito em sangue ao longo do torso, era a palavra “iustitia”. Era óbvio queJane iria gostar deste caso.

99. CAROLINA GUIMARÃES - AS TEIAS DO MUNDO VIRTUALUma agência de segurança privada sofre um ataque silencioso aos seus

servidores, que põe em risco a segurança de milhares de famílias sem queninguém se aperceba. Dezenas de lares são assaltados e os ladrões parecemconhecer as casas melhor do que os próprios donos. A brigada nº 16 deBoston, especializada em grupos organizados, entra em ação para descobrir odenominador comum por detrás dos roubos. Será que Elsa e James,principais detetives da brigada, vão conseguir pôr os seus arrufos de ladopara tentar travar a linha de assaltos e mortes sem fim? Ou os hackersdesvendaram a receita para o crime perfeito? O sentimento de descrença napolícia aumenta a cada segundo e só os dois detetives e sua equipa o poderão

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mudar, mas para isso terão de enveredar no mundo negro e desconhecido dainternet, que os vai levar por caminhos sinuosos que até aí desconheciam.

100. CAROLINA LIMA - COLISÃOCassandra falava consigo própria enquanto preparava a Ricardo um café

forte. -Eu preciso de falar com ele. Ricardo sempre esteve do meu lado, tenhoque o apoiar também, mas... Mas não sei o que dizer. O que digo a umapessoa que acabou de encontrar o corpo do melhor amigo? E como explico ofato de eu estar lá? -Ricardo lhe olhou nos olhos e agradeceu pelo café. -Sentes-te melhor? -Sim. Não. Não sei, talvez. -Ricardo parece confuso. -Eusei o que se passou com ele. -Sabes? Como? Ele era o meu melhor amigo enão fazia a mínima. Vocês odiavam-se! -Ele me ligou dizendo que estava emapuros e para não te contar. -Apuros? Como assim? -Bruno estava a morrer,tinha levado um tiro. -Um tiro?! Impossível! Quem? –Calma, Ric! Foi oirmão, infelizmente as apostas tiveram um final triste. -Nem acredito que eleestá morto.

101. CAROLINA NOGUEIRA - SEM TÍTULOA noite estava fria e escura, sem qualquer luz excepto a do luar, Jane ia

passando por uma ruela, quando de repente reparou em duas pessoas asdiscutir até que uma delas pega numa arma e mata a outra. Jane estava prestesa gritar, mas as palavras não lhe saiam da boca, só conseguiu fugir eesconder-se atrás de um contentor. Uns tempos depois a costa estava livre ecorreu para casa. Depois de não ter pregado o olho a noite toda, cheia demedo e pesadelos, conformou-se que era um novo dia e que ninguém a viu eque se não tinha coragem de ir à polícia teria de seguir com a sua vida.Levantou-se, fez as suas coisas e saiu de casa. No exacto momento em queestava a fechar a porta do seu apartamento, dois polícias estavam a entrar noprédio para falar com ela.

102. CAROLINA SARAGOÇA - O REI DE OUROSUma equipa da polícia da cidade de Chicago liderada por Taylor

Jackson começa a investigar um crime cometido às 02:30 h no Hyde Park.Um homem tinha sido estrangulado até a morte, mas que antes tinha lutadocom a pessoa que o matou. Em primeiro lugar o assassino tinha feito umexcelente trabalho ao eliminar qualquer prova que existe contra ele. Depoiscomeçaram a aparecer pormenores peculiares: a vítima tinha cravado nascostas o número 1 e dentro do bolso do casaco tinha uma carta de jogar: um

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rei de ouros, para não falar da pequena coroa que tinha na cabeça. Será queeste crime terá sido apenas um acidente isolado? Ou a cidade de Chicagoestará perante um vaga de assassinatos em serie e este terá sido apenas oprimeiro? A polícia não sabia por onde começar mas tinha de agir antes deser tarde de mais.

103. CATARINA CHAINHO - ENCRUZILHADA FATALDizem que as coincidências existem. Eu não acredito. O guarda-chuva

caído na rua comprova isso. A mancha escarlate que este ostenta comprovaisso. O que aconteceu à pessoa a quem o guarda-chuva pertence? Estarámorta? Desaparecida? Ter-se à ferido e deixou-o cair? Ninguém sabe.Ninguém viu. Mesmo que existissem testemunhas, nenhuma delas contaria oque viu. “Cada um sabe de si e Deus sabe de todos”: é a mentalidade actual.Cada pessoa está demasiado ocupada na encruzilhada que é a sua vida parapoder prestar atenção ao que se passa na outra ponta da estrada. Longe davista, longe do coração. Somos apenas galhos numa grande árvore, e arealidade é a rajada de vento que a desfolha. O guarda-chuva caído na ruanunca passará disso. A vida continua, os dias passam. Tudo o que começatem um fim. Venha ele quando vier. E ele vem.

104. CATARINA HILÁRIO - SEM TÍTULOA noite estava escura, mas ele não se importou. Nada importava naquele

momento a não ser a necessidade primitiva de fugir. A adrenalina corria-lhenas veias e os seus passos ecoavam fortes pelo caminho deserto. Ele ofegavajá, e cada inspiração era fogo abrasador que lhe enchia os pulmões, mas eletinha que continuar. Não podia parar agora depois de tudo o que tinhaacontecido. Ao longe, algures, o ladrar de um qualquer cão solitário cortou osilêncio que o envolvia, e o pânico foi instantaneamente substituído por alívio.Uma luz lá bem ao fundo, uma sombra de uma casa. Estava salvo! Numúltimo esforço, percorreu os metros que o separavam daquela réstia deesperança. Mas não passou disso... Esperança. Esperança da liberdade quenão voltaria a encontrar. Esperança do dia que não voltaria a ver nascer. Umafigura à sua frente, o terror do reconhecimento, e nada… Um som secoecoou pela noite. O cão calou-se e o silêncio voltou a envolve-lo, para nãomais voltar a ser quebrado.

105. CATARINA PAIVA - RICK IS DEAD?Estava escuro, muito escuro. Não sabia onde estava, não sabia o que

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tinha acontecido. Tudo o que me lembro, é de estar sentada numa sala, hojede manhã, a entrevistar Rick. Ah, estava a ser tão perfeito. Ele estava a ser tãosimpático, estava a responder-me à última pergunta e de repente tudo ficouescuro na minha mente, acabando por acordar numa cave fria, onde a portaestava simplesmente aberta, sem ninguém por perto. Continuava a andar, semsaber muito bem para onde ir. Sentia que estava a ser seguida e por issoolhava insistentemente para trás, mas caramba, estava escuro e eu nãoconseguia ver nada! Pensei em gritar, claro, mas do que adiantava? Ouvi umbarulho e comecei a correr. Corri como nunca. Eu tinha a certeza que estavaali alguém. Tropecei em alguma coisa. Bolas! Olhei para trás para ver no quetinha tropeçado. Não podia acreditar naquilo que via. Era Rick, morto, nomeio das ervas. Nesse momento arranjei forças para gritar.

106. CATARINA RODRIGUES - MORTE (NÃO) ACIDENTALEra um dia frio de inverno e a chuva lavava o sangue daquele corpo sem

vida. No peito jazia uma flecha -Parece que a causa da morte é óbvia –falou opolícia. -Trespassada por uma flecha… ao que isto chegou -completou. Umabesta estava ali caída ao lado. “Bem detetive -o polícia continuou-, têm aquium caso de homicídio bizarro”. Ela ignorou o comentário e apenas observoua cena do crime. “O meu trabalho aqui está feito”. O polícia ficou confuso.Revirando os olhos falou: “Está a ver a roupa da vítima? Ela estava a caçar.Pela posição da flecha e da besta é possível concluir que ela disparou contra siprópria acidentalmente”. O polícia concordou, afinal ela era a especialista. Láno fundo escondido pelas árvores e pelo nevoeiro um vulto sorria. “Estámorta por culpa própria…; afinal quem a mandou falar mal de Rick?”.

107. CATARINA RODRIGUES - SEM TÍTULOTatiana procurava a morada do jantar para o qual fora convidada pelo

colega que ainda pouco conhecia, quando reparou que se encontrava próximada casa de férias que os seus falecidos avós venderam havia 20 anos.Encontrou o portão verde que trepava na companhia das irmãs e quis entrar,mas ouviu passos demasiado apressados para serem inocentes e escondeu-se.Uma trintona com a roupa recentemente rasgada e ensanguentada passou acorrer, em gritos de pavor. Abandonou a curiosidade de rever a casa que aacolheu nos anos 80 e voltou a concentrar-se no jantar. Regressou ao volantee só parou na rua escura do restaurante escolhido. Retocou o baton epreparou-se para o jantar com o Fernando, que acabava de chegar.Cumprimentou-o e, antes de reparar no arranhão fresco que trazia nopescoço, viu-se amarrada na carrinha do recente colega, que a levava de

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regresso à casa de infância.

108. CATARINA SILVA - OBSESSÃO DOENTIAUma chamada anónima para a esquadra local. Comunica o entrecorrido.

A par da brigada de investigação criminal, está Christopher Burns, a quem ocaso foi incumbido. Nas escadas de uma abadia jaz, ajoelhada frente ao templocristão, Rebeca Martin, célebre veterinária. E mártir de brutal agressão. DavidAllen, o namorado, é notificado. Na mansão de Susan Parker, sua mãe, queconsola o filho inconformado, impedindo-o de falar com alguém.Testemunhas confirmam discussão do casal na véspera da fatalidade. Allendesvaloriza: “foi um desacato banal, eu estava fora da cidade”. De suspeito ainocente, Burns atesta: “O namorado não é o culpado. O responsável terá queser crente, para além de encorpado”. “A alma ordenou, eu obedeci. Ofereci-lhe a morte que eternamente rejeitou. Pedi perdão e renasci”. Obcecada pelofilho e enferma. Com a ajuda do empregado, Parker matou a que diz“palerma”, deixando Allen amargurado.

109. CATARINA TÁTÁ - DESAPARECIDAAcordou. Preto. Tudo preto. Tentou mover-se, os braços e as pernas

lutando contra algo. Corda. -Eu não estou contigo de momento -ouviu umavoz feminina, distante, dizer: -estou fora, caso não tenhas reparado. Era sópara te avisar que não, não te consegues libertar e não, não vais conseguirescapar. -Um risada. -Eu devia. A voz parou, abruptamente. -Estásdesaparecida há semanas -disse a mesma voz. Liberta-me, tentou dizer. Mas asua língua... não se mexia. Para dizer a verdade nem a sentia sequer. -Gritavasdemasiado. Cortei-ta com isto -a voz disse, como se lhe tivesse lido ospensamentos, seguida de um snip snip. Desmaiou de choque. Acordou. Deuum gemido. -Estás perdida há um mês, minha linda. Ela começou a chorar,um som horrível e miserável. -A polícia parou de te procurar. Surpresa.Horror. Um choque eléctrico. Nada.

110. CÁTIA ANTUNES - SEM TÍTULOO nevoeiro cobria toda a cidade, tornando quase impossível a sua

missão. Estava quase a chegar, sabia-o. Só mais um virar de rua. Subiulentamente as escadas que davam ao miradouro. Respirou fundo e pisou oúltimo degrau, confiante na ansiedade que sentia. Viu-o ali parado, a tentarencontrar alguma nitidez naquele lençol opaco. Agarrou a arma presa ao cintodas calças e apontou. Respirou fundo. Uma única lágrima escorreu-lhe da

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face. Ele virou-se para ela, cauteloso, e o ar de medo superou o de surpresa.“Sarah”. Ela ignorou o suspiro e a súplica nele implícito. Amava-o. E eleestava a deixá-la por aquela… Galdéria! Deixara tudo por ele. Mudara deemprego, residência... Pensara que era desta. Até que ele chegou a casa com operfume de outra mulher no casaco. “Não é o que tu pensas!”, gritou-lhe ele.E realmente não era o que pensava. Ignorou. Disparou.

111. CÁTIA CERQUEIRA - SEM TÍTULOTony Flinn era um jovem rapaz, aparentemente, normal. Fazia amigos

com facilidade, encantava quem o conhecia e nunca escondia o sorriso.Todavia, escondia dentro de si terríveis sonhos que o assombravam. Ao iníciotentara ignorar os pesadelos, mas estes eram demasiado insistentes. Aprendeuque só havia uma maneira de os fazer parar. Realizando-os. No seu sonhomais recente vira um dos seus amigos morrer, perfurado por um ramo deuma árvore. O fim de tarde marcava o momento certo, no parque junto àescola. Chegaria o momento, sentia-se na obrigação de o fazer, de outraforma seria uma tortura sem parar. Sempre na esperança de que aquela vezseria a última. Um empurrão foi o suficiente para ver o corpo do outro rapazperder o equilibro e cair no preciso local onde o ramo, posto por Tony, lherasgaria o tronco. Matara mais um. Sentia-se aliviado, por mais um tempo.

112. CÁTIA COELHO - A CONFISSÃO“Não tive culpa”, surpreende-o Mena. Para não a intimidar, Elias

mantém-se em silêncio, atento e paciente; o melhor convite para a confissão.“Não tive culpa”, repete, “Eu não queria…”, continua ela, baixa os braços,leva as mãos à cara e soluça. Elias observa-a: mãos grandes e robustas,nitidamente fortes para um momento tão vulnerável, possivelmente culpadasde um acto tão profundo como aquele. Mas era isso que ele estava à espera desaber... Porque qualquer julgamento antecipado de um polícia é o seu piorcrime. “Posso fazer-lhe uma pergunta?” arrisca-se. Mena acena, sem exibir oseu rosto, a possível vergonha. “Porquê, mulher?.. Porquê?”. Mena aumentao soluçar, descontrola-se, ao mesmo tempo que, num só suspiro, grita porentre dentes: “Porque ele também me matou, senhor, porque ele me matava,pouco a pouco, todos os dias!.. Sabe o que isso é, senhor? Sabe? Sabe o queisso é?”

113. CÁTIA GRANADEIRO - BLUFFO ambiente era pesado, o suspeito tinha as mãos algemadas, o detetive

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olhava para as fotos dos locais do crime, por vezes olhava Knoxville nosolhos. O olhar daquele homem era frio, mas Frank sabia que Knoxville eraobsessivo compulsivo, gabava-se através das vítimas no local do crime comuma assinatura. -Estavas difícil de apanhar, não deixavas nenhum rasto, mas,descuidaste-te e deixas-te o teu ADN para trás, na última vítima. Encontrámosa tua colecção de membros, a última vítima resistiu não foi? Tirámos peledebaixo das unhas, temos o teu ADN. Afinal não és assim tão perfeito, edaqui a 1 mês toda a gente se vai esquecer disto. Knoxville levanta-se dacadeira, furioso, pontapeia a mesa. - Eu fui perfeito! Isso é mentira! Américanão se vai esquecer destes 8 homicídios em 2 semanas! O prazer foi todomeu. Não havia ADN, mas havia agora uma confissão.

114. CÁTIA MARTINS - MONEY LAUNDRYUma arma, dois corpos, champanhe e sangue. Este é o local do crime.

Alex e Lucas tentam no seu pequeno escritório desvendar o mistério pordetrás deste caso. Tudo remete para homicídio seguido de suicídio. Apósfalarem com vários suspeitos os dois encontram-se num beco sem saída. Nãofaz sentido a maneira como aconteceu. Mas Lucas reparou, numa foto recente,um porta-chaves em forma de mocho nas mãos da vitima. Ao verificar ospertences das vitimas o mocho não estava lá, no entanto Lucas lembrou-se queum dos suspeitos estava com ele. Megan, a assassina. Ao que parece as vitimasestavam envolvidas num esquema de lavagem de dinheiro. O mocho que afinalera uma pen continha números de contas bancarias. Megan queria o dinheirosó para ela e qual a melhor forma de ficar com o dinheiro e livrar-se dadupla? Bom parece que descobrimos.

115. CÁTIA NOGUEIRA - O ASSASSINO DO MEDOAo abrir a porta, Ricardo percebeu que esta estava aberta. Sabia que a

tinha trancado quando saiu de casa nessa manhã. Com mais uma morte do“Assassino do Medo” todo o cuidado era pouco. Entro e, sem fazer barulho,atravessou o corredor em direção ao telefone. Ricardo não tinha telemóvel,não gostava de modernices. Ao pegar no telefone, Ricardo sentiu um frio apercorrer-lhe as mãos, que gelaram em segundos. Horrorizado, observava,impotente, os seus braços brancos, em pedra, como se fossem icebergues.Sem tempo para perceber o que estava a acontecer, Ricardo sentiu um arrepiono pescoço, como se todo o frio do mundo estivesse à sua volta. Alguémestava ali, ou algo, nisto um silvo agudo faz-se ouvir, parece estar atrás dele.Ricardo virou-se e viu-o, não há palavras para descrever o que via. Talvez sóuma: medo. Medo puro.

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116. CÁTIA PEDROSO GOMES - SEM TÍTULOA porta abriu e Ana estremeceu. A arma que empunha na sua mão treme

e consegue ouvir o riso dele a ecoar pela casa. “Tenho que tirar a miúda daquiem segurança!”. -Apenas este pensamento corria na sua mente. Empurrou aporta suavemente e entrou. A casa estava mergulhada numa escuridão. Anaconseguia senti-lo. À sua frente tinha uma imensa sala, com os moveiscobertos pelos panos. “Que cenário!”. -O medo que sentia estava no seu auge.-“Estou aqui!”. -Tentou o seu melhor para não tremer a voz. “Por momentospensei que não tivesse coragem! Espero que tenha vindo com tempo... Vamosnos divertir um pouco.” -A voz dele era firme, segura. “Onde está a miúda?” -gritou Ana. -“Deixa-a ir! Isto fica apenas entre nós!”. Detetive, creio que lheenviaram uma sms”. -Podia sentir-se o riso na sua voz maldosa. Ana tirou otelemóvel do bolso a medo e leu: “A miúda apareceu! Está tudo bem!Conseguimos Ana!”. A porta da casa fechou por detrás de Ana com força.“Vamos começar, detetive?”.

117. CECÍLIA GREGÓRIO - S . VALENTIMUm homem de grande estatura e figura bizarra sai do armazém dos

carroceis, prontos para o desfile de S . Valentim, com uma facaensanguentada. Um olhar rápido e preciso do exterior, corre sem demorapara o ferro velho ali próximo e desaparece. Ao longe ouve se um gritoangustiante! A design do evento cai inanimada no chão perante o cenário. Umcorno de unicórnio atravessava o crânio de um corpo sem vida, deixandoirreconhecível a sua cara. Com o externo dissecado, deslumbravava se oespaço perfeito de um coração, que ali existia até então ...

118. CÉLIA AMADOR - ERA UM ATALHO, MAS EM VEZ DOCAMINHO ENCURTOU-LHE A VIDA

Era um atalho, mas em vez do caminho encurtou lhe a vida… Laura nãoviu a faca, nem o rosto do seu assassino. Apenas sentiu o objecto friopenetrar-lhe o pescoço, várias vezes. Tentou debater-se, em vão. Tombou,inerte, os seus olhos fitando o vazio. O assassino endireitou-lhe as roupas,colocou-lhe uns brincos de rubi e contemplou a sua obra. Fotografou oquadro sereno, inebriado de prazer. Retirou-lhe os brincos e fugiu. Nocaminho, contactou o 122 dando as coordenadas do cadáver. Identificou-seapenas como Mestre Rubi. Não era a sua primeira vítima. O assassinovagueava pelas ruas, na calada da noite, em busca de mulheres desprevenidas.No seu álbum fotográfico possuía centenas de fotos macabras de mulheresassassinadas, com os brincos de rubi da sua falecida mulher. Renata morrera

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mas o seu cadáver permanecia no cadeirão. Ele ouvia-a incitá-lo a matar.Empolgado, saiu em busca de uma nova vítima!

119. CÉLIA MADEIRA - A SOMBRA DA MORTEEstava tudo escuro. Não conseguia ver absolutamente nada. Porém, no

mais ínfimo canto da sala, pude presenciar uma sombra. As curvas, a formacomo andava, não eram normais. O medo, a sensação de estar a serobservada, o silêncio, o escuro, tudo isto paralisou-me. Quando as luzes seacenderam vi Josh a olhar-me, a ansiar por vida, ar, oxigénio. Estavaencharcado por um escuro e flácido líquido. Sangue. E nesse instante,recordo-me de desmaiar ficando apenas com a imagem da morte de Josh. Atéhoje, o pressentimento daquela noite percorre-me todas as noites. Mas hoje,hoje é diferente, esta emoção que me persegue parece real, quase que lhepodia tocar. Alguém bate à porta e interrompe os meus pensamentos. Meia-noite. Tudo escuro. Tal e qual aquela noite. E novamente, no canto maisvisível da sala, lá estava a disforme sombra. Era ela. A minha pura e derradeiramorte.

120. CÉSAR MOREIRA - BASTA UM CLIQUE!“Tóino”, como lhe chamavam as gentes da sua terra, era um pescador

indomável, um lobo-do-mar solitário, quarentão, com um passado poucoesclarecido. Na verdade, os tempos que tinha passado na tropa, lá para Trás-os-Montes, como ele explicava aos jagozes (gentes da Ericeira), forampassados sobretudo no estrangeiro ao serviço do SEF, após uma brilhanteformação nos fuzileiros, recrutado por Fernando Dias, um superespiãoportuguês. Os tempos de solidão nos prados de Neptuno que tanto prezavaterminaram quando, ao largo das Berlengas, apanha nas suas redes um corpojá desfigurado e decomposto. Agarrado à sua mão por algemas estava umamala metálica à prova de água. Ao abri-la, repara no símbolo da presidênciaamericana. Um ecrã LED acende-se, e uma contagem decrescente inicia-se:36h para detonação. Tinha nas suas mãos a “bola de futebol” e os códigospara um lançamento nuclear tinham sido inseridos e agora ativados…

121. CÉSAR NEVES - @DEEP_WEB“23:50”, pronuncia o médico-legista. O corpo de Jonas estava ainda

sentado na cadeira e de olhos abertos. Tivera uma morte lenta e dolorosa.Isso o detetive Santos conseguira determinar num primeiro olhar. Cortespequenos mas profundos na face. Os dedos da mão direita tinham sido

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removidos com precisão cirúrgica. O sangue ainda jorrava pelo golpedesferido na garganta, descendo pelo corpo e lentamente rumando em direçãoà porta. Fôra esse o sinal de alerta, a sua vizinha que vira sangue a escorrer nocorredor do prédio. Os detetives estavam confusos. Um jovem semantecedentes, sem inimigos conhecidos. Um aluno exemplar e um filhodedicado. O que teria originado uma morte tão macabra. Não havia sinais deassalto, muito menos de luta. A primeira pista estava mesmo em frente aocorpo, o computador de Jonas, ligado, mostrava apenas um video paradocom a mensagem: “Esta noite tu morres - #w84us!”.

122. CÉSAR ALEXANDRE SANTOS ALVE - VENEZA PORTUGUESAEstava uma manhã de neblina, Aveiro é assim, linda e imponente... Junto

á ria, foi dado o alerta, tinha desaparecido um dos barcos “moliceiros”, omais antigo e tradicional, de nome “Aveirense”. Na zona baixa, em todas aspraças, cafés, tascas, o assunto correu, mais rápido que a brisa do mar, eraalgo grave, tocava no orgulho dos cagaréus... Como podia ter desaparecido,do cais, em pleno centro de Aveiro... Afinal, a zona tem actividade noturna, éiluminada. O dono, Sr. Serafim, já com 79 anos, estava desolado, usava o“Aveirense”, para passeios turísticos, complementava a sua parca reforma, desalineiro. Rapidamente, a polícia, bloqueou estradas, afinal um moliceiro, nãopassa despercebido, mas as horas avançavam e nada. O Sr. Serafim tristeconspirava teorias, mas os factos estavam claros; era impossível o “Aveirense”,ter sido retirado da ria... Organizou-se buscas na ria... Um casal namoradosdormitava no “Aveirense”, tinham desprendido sem querer...

123. CÉU HENRIQUES - BRINCAR DE SER DEUSJúlio entra no consultório de uma psicóloga e diz-lhe ser Deus.

Automaticamente a psicóloga supõe a existência de uma patologiaesquizoparanoide com deliro de grandeza. De modo a fazer com que apsicóloga acreditasse, Júlio contou-lhe uma série de crimes (relacionadoscom os 7 pecados mortais) que iriam acontecer, um em cada uma das sessões.Caso esta contasse a alguém, as vítimas seriam os seus familiares maispróximos, como o marido, dois filhos e os seus irmãos. Após a primeiraconsulta, a psicóloga vê nas notícias que o primeiro crime descrito, haviaacontecido, enquanto Júlio lá estava. A psicóloga, ex-namorada de Kevin,pede-lhe ajuda para evitar estes crimes e descobrir o criminoso que teria deser cúmplice do seu paciente uma vez que este estava em consulta.Posteriormente descobre-se que Júlio é mesmo o assassino mas queprograma de forma engenhosa para que as mortes ocorram enquanto está em

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consulta.

124. CLARA CALEIRO - CORRER OU MORRER?Corro desenfreadamente. O suor escorre-me pela cara, consigo senti-lo,

gélido como o resto do meu corpo. Oiço cada vez mais nitidamente os passosque correm atrás de mim, enquanto me esforço para conseguir vantagemnesta luta pela vida. Não tenho resistência física, mas agora sinto uma força,um ímpeto tal, que nunca pensei ser parte de mim. Correr é o único caminhopossível e a culpa é toda minha. Porque me fui envolver naquele negócioobscuro, com promessas de chorudas quantias ao meu dispor? Quando quisdesistir, era demasiado tarde. Estes pensamentos são interrompidos por umtiro que me passa rente à cabeça e a seguir vem outro, felizmente com piorpontaria. Só pode ser Carlos quem me persegue, o líder do gangue.Imagino-o a pressionar o gatilho, uma e outra vez, na esperança de me ceifara vida, mas o amor que tenho ao mundo força-me a continuar. Até quandoaguento?

125. CLÁUDIA FUNDO - O MEU GRANDE AMORRecebi um telefonema da Nina. O Noah tinha morrido. Não consegui

conter as minhas lágrimas. A verdade é que já não falávamos há dez anos masele nunca deixou de ser o meu grande amor. Liguei ao Henrique, o meuparceiro da polícia, para me ajudar na investigação. Família, amigos, colegasde trabalho, ninguém parecia ter motivos e nenhum ADN correspondia ao dolocal do crime. Mas a Luísa, uma ex-colega nossa de turma e namorada deliceu do Noah, parecia saber algo. Afirmou ter visto o assassino e possuirprovas. “Foste tu Júlia!” Como é que isso era possível? Eu nunca mataria omeu amor. Mas o meu ADN estava na casa dele, por todo o seu corpo. “Júlia,acompanha-nos.” E eu fui. Sabia como a lei agia. Hoje estou a cumprir o meuúltimo de prisão, e reunindo provas suficientes sei quem foi o assassino. Eu.

126. CLÁUDIA OLIVEIRA - O PASSADO VOLTA SEMPREJá passava muito das 2 da manhã quando Sebastian ouviu um bater na

porta. Ao abrir, não viu ninguém, mas afixado na porta estava um bilheteescrito à mão, onde dizia: “Devias ter acabado o trabalho que começas-te hádois anos atrás. Agora é a minha vez de jogar”. Sebastian conhecia aquelaletra, Jonas estava de volta. Jonas tinha sido um grande amigo de Sebastianquando estes andaram na Universidade, mas no último ano Jonas foraresponsável por a morte de várias alunas. Durante o seu julgamento Jonas

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conseguiu fugir, contudo Sebastian tinha-o o seguido até ao cais ondelutaram e Sebastian acabou por dar uma pancada em Jonas. Sebastianencontrava-se agora a olhar par o corpo de Jonas. Sem saber o que fazerSebastian abandonou o barco e essa fora a última vez que vira Jonas. Com osnovos acontecimentos Sebastian sabia que Jonas vinha para se vingar, uma vezque tinha sido ele a denuncia-lo. Faltava agora saber como e quando é queJonas ia aparecer.

127. CLÁUDIA MARIA BARCHI - SEM TÍTULOO detetive Martim estava na cena do crime, quando reparou que a vítima

era o Rogério Pereira um milionário do ramo imobiliário. A médica-legistadisse-lhe que Rogério morreu devido a ferimentos na nuca com um martelo,que continha ADN dum homem. Martim passou horas a investigardescobrindo que a mulher dele tinha um caso com o advogado do seuinimigo e que havia três pessoas que o odiavam: o seu inimigo, o seuadvogado e o antigo chefe. Analisou os ADNs de todos, nenhumcorrespondia ao do martelo, mas o do chefe era parentesco com o ADNencontrado na arma. O detetive foi interrogar o irmão do ex-chefe da vítima,quando repara que ele é o advogado do inimigo de Rogério e também amanteda sua mulher. Depois do interrogatório, Martim analisou o ADN domesmo para comparar com o do martelo e os ADNs eram iguais.

128. CLÁUDIO CARDOSO - ACOMPANHANTES DE LUXODECAPITADAS

Duarte, detetive de esquadra de bairro de classe alta, normalmente seguroe pacato, tem em mãos um caso de acompanhantes de luxo decapitadas. Noespaço de 3 meses, foram 7 mulheres. Quem eram as 7 jovens? Idades?Loiras, morenas? Altas, baixas? Confrontadas estas questões não é encontradoqualquer denominador comum. Mas, algo chamava à atenção… Nas agendasas mulheres tinham como último encontro um Sr. X, sempre às 22h. Todosos outros clientes estavam identificados com nomes como António, José ouVasco, entre outros perfeitamente usuais. Quem era então o Sr. X? A soluçãopassa pelos vídeos das câmeras multibanco presentes junto às residências dasvítimas. Em todas elas, minutos antes das mortes, surge o carro do presidenteda Câmara local. Após interrogatórios difíceis e exaustivos, pela figura emquestão, o homem cede. Analisado o perfil do agora homicida confesso, tudoteve origem na infância e na sua mãe…

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129. CRISTIANA DIAS - SEM TÍTULOEu tinha que fugir. Não me importava que as minhas pernas quisessem

desistir ou que os meus pulmões quisessem dar de si. No entanto, não estavaa conseguir, pois comecei a ouvir a voz da pessoa que mais me assustava atrásde mim. Há cinco anos, o meu pai voltou a casar e há três, essa mesmamulher raptou-me. Realizou comigo as suas fantasias e desejos maisfrustrados, mas disseme que estava na minha hora e, por isso, fugi. Mas denada servira. Senti uma dor aguda no meu corpo, os meus pulmões a ficarsem ar e a minha cabeça contra o chão. Ela afastava-se com um sorrisopresunçoso nos lábios enquanto eu perdia os sentidos. Foi então que eupercebi que não se tratara da primeira vez e, que agora, ela iria procurar outrafamília para atormentar e eu não poderia fazer nada quanto a isso.

130. CRISTIANA RIBEIRO SAVATE - UMA BALA PERDIDAO telemóvel da detetive Di Zio começou a tocar a meio da noite e ela saiu

numa correria. Quando chegou ao local do crime ficou chocada com o queviu, uma menina morta a tiro, não devia ter mais de 5 anos. O detetive Lanedisse que a menina tinha levado 1 tiro no peito, a Kelly uma testemunha tinhavisto um carro a sair daquele beco poucos segundos depois de ouvir o tiro.Chris e Bella sabiam que o carro era um Porche, tinham metade da matrículae que o suspeito era um homem. Na morgue o médico legista disse queencontrou vestígios de cocaína na ferida. Ding tinham encontrado o porche eo suspeito! Bella liderou o interrogatório, Mike o suspeito negou até aoponto que o Chris disse-lhe que aquela menina podia ser a filha dele! Foi aíque Mike disse que tinha sido ele a matar a menina sem querer, ele queriaatirar no dealer dele por o ter enganado. No fim do dia a Bella e o Chrisforam para o bar beber uns copos, comer qualquer coisa e lamentar a morteda menina que devia estar entre nós.

131. CRISTINA DOMINGOS - SEM TÍTULOO som estridente de três tiros espalhou-se repentinamente por toda a

fábrica. A rapariga que tentava fugir à pouco menos de dois minutosencontrava-se agora deitada no chão, imóvel, esvaindo-se em sangue enquantoa respiração outrora ofegante se acalmava. O atirador aproximou-se ainda dearma em punho, agachando-se junto ao corpo quase morto. -Walter VanMorgan... -antes que a jovem pode-se fazer mais alguma coisa o quarto tirosoou. Fora do edifício começavam a chegar carros de polícia e ambulâncias.Ele levantou-se deixando para trás o cadáver feminino com uma bala atrespassar-lhe o crânio. Ao chegar ao exterior do complexo foi abordado por

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alguns policias armados com quem não trocou uma palavra dirigindo-se até àmulher loira ao pé da ambulância. -Alice liga ás unidades especiais! Acho quesei quem é o nosso homem.

132. CRISTINA MILHO - SEM TÍTULODe todos os casos que investigou, este ficaria marcado na cicatriz que

ainda ardia no tronco. Encostou-se lentamente na cadeira para evitar aguinada de dor e acendeu um cigarro. Isabel era uma irrealidade. A brancuraimaculada da sua pele, a ausência de rugas ou de humidade de um ruborsuado, o andar certo e ritmado e a voz num fio sem inflexões; glacial ehipnótica. O movimento firme, calculado e limpo com que se abre umagarganta, foi ela que inventou. Cada cabeça que deixou exangue era umaserenidade, com os olhos abertos, a suplicar por mais. Cada uma, dizia-lheela, foi uma inevitabilidade. Tinha saído a tempo da esquadra onde ainterrogou pela derradeira vez; perto do fim sentiu um anzol a puxá-lo paraperto das mãos dela –quietas, brancas, suspensas– e, em pouco tempo, teriapedido que lhe cortasse a garganta a ele também. Seria, finalmente, sereno.

133. CRISTINA OLIVEIRA - SEM TÍTULORita costumava ter problemas com os seus amigos. As suas amizades não

costumavam durar muito tempo. Até ter encontrado duas raparigas da suaturma na universidade, e terem resolvido viver juntas. Tudo correu bem noinício, até começar a haver conflitos, nem toda a gente aguentava o seu feitio.Tudo piorou quando Ana descobriu que ela fora para a cama com umprofessor para melhorar a nota. Pior que isso! Ela havia ameaçado de que senão contasse ao Conselho Directivo, ela própria o faria. Se isso acontecesseperderia a bolsa, o estatuto, toda a gente saberia o que ela tinha feito. Um diafizeram uma jantarada em casa, com muita gente, muito álcool à mistura, noqual tratou de servir vários copos de vinho a Ana. Quando ela foi apanhar ar àvaranda, sem ninguém ver empurrou-a. Com a quantidade de álcool nosangue, ninguém pensaria em homicídio.

134. DANIEL ALVES - “O FUNDO DA GARRAFA”O whisky cai para dentro do copo, esvaziando a garrafa. “Chegou ao

fim”, pensou o detetive James Marlow, olhando para a mesa. Encima estavamdezenas de papéis, e um relatório. Era já tarde a noite, mas faltava apenas pormais um documento. “Só mais um, e acabou”. Era esse o pensamento nacabeça dele. “James, já é tarde, vai para casa -disse Jessica; -é uma ordem.

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“Estou quase -disse Marlow-é só acabar o relatório”. “Podes acabá-loamanhã, sabes que...”. –“Não. Agora”. Jessica sai da esquadra. Marlow dá umgolo na bebida, e olha para o relatório. O Assassino da Estrela. Durantequase 2 semanas andou atrás dele, 2 semanas desde que encontrou o corpodaquela jovem, morta, com apenas uma estrela marcada a ferros no peito. 2semanas de perseguição, e mais 4 corpos. “Semanas, que acabaram com 4balas no peito. Marlow olha para o documento que falta. Uma nota doAssassino. “Acaba o que eu comecei”. Para quem, ele não sabia. “Chegou aofim -pensou Marlow, esvaziando o copo-por agora...

135. DANIEL CARVALHO - SEM TÍTULONesta fria noite de inverno, abençoada por uma ténue chuva, uma festa

decorre. É o 23º aniversário do Royal Hotel, um negócio que consegue ser adescrição de um grande sucesso, passando de um modesto hotel para um dosmelhores no top mundial. Como mais anos prósperos parecem estar numsorridente horizonte, não há nenhuma razão para não festejar. Todo o tipo demagnatas e demais celebridades desfilam e pavoneiam até à entrada. Emanamluxo e boa disposição. A música alegre de uma banda de jazz recebe-os,juntamente com empregados empunhando bandejas com champanhe.Contudo, há um homem importante nesta festa. O seu nome é Henry Storm.Político e homem de negócios. Inteligente e carismático. Poucos são capazesde lhe apontar defeitos, e esses poucos não querem correr riscos em revelá-los. Mas nem todos são assim. Infelizmente, ele cruzou-se com as pessoaserradas, e tem agora a cabeça a prémio.

136. DANIEL FERREIRA ROSS E COURTNEY - SEM TÍTULOFaltava pouco para o final das aulas quando Ross reparou que tinha uma

mensagem de Courtney, a sua namorada, que dizia estar a ser perseguida porum homem. Ross saiu a correr e foi até sua casa.Quando chegou já era tarde.Courtney desaparecera e Ross decidiu por os seus conhecimentos em prática.Após observar o local descobriu cabelo no chão. Era óbvio que Courtneytinha resistido.Ross continuava num beco sem saída quando se lembrou quepodia examinar o ADN do cabelo que tinha achado. Quando chegou aolaboratório da escola deparou-se com o pior cenário que podia encontrar.Courtney estava inconsciente atada a uma cadeira. Ross tenta salvar a suanamorada, mas é surpreendido pelo professor Mac, o raptor de Courtney.Após uma violenta luta e Ross quase ser morto conseguem fugir. Mac é presopor polícias que estavam na escola e se apercebem do que se passou.

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137. DANIEL LOBO CASTRO - ADÁGIOInglaterra: John está no encalço de um assassino e caçador de tesouros e

sabe que uma partitura com pistas será tocada esta noite. Entrou pelo salãonobre até à sala musical, onde Rick tocaria, apertou por acaso a mão aopresidente Stanley e ao capitão Huges. «O músico estava atrasado, a multidãochamava em vão». Pressentiu algo. «Para investigar, esgueire-me até aocamarim e passei por Huges. Vazio. Só uma inscrição no espelho: Dó=A.»«Quando voltei já o músico se preparava para tocar». Na última parte Rick cai,John tenta reanimá-lo. Nada. «Foi então que recordei de tudo e rapidamentedecifrei: HMS VICTORY». «Corri para o navio e lembrei-me que maisalguém poderá ter visto o código». «HUGES». Ele veio. «Consegui agarrá-lo, senti algo a quebrar-se». O mesmo cheiro venenoso que se sentia em Rickespalhou-se pelo ar. Não respiraram. Lutaram. Espernearam. Esmurraram.Huges sucumbiu. Confessou. «Eu algemei-o».

138. DANIELA CECÍLIO - O ÚNICO ERROÉ curioso como os criminosos são sempre apanhados e mesmo quando

escapam, não duram mais do que alguns meses até um simples erro osdenunciar. Eu queria provar que um assassino podia escapar e nunca mais serdescoberto e o meu plano para o «crime perfeito» começou desde muito cedo.Até agora consegui assumir duas identidades falsas alterando os registos,inscrições em escolas, arranjado testemunhas… tudo perfeito ! O momentochegou enquanto estagiava com a polícia. Estava quase a partir pelo que aaltura ideal para cometer crime estava a chegar. E a hora chegou. Foiengraçado ver como aqueles investigadores andaram de um lado para o outroa seguirem pistas falsas. E estava prestes a fugir quando cometi um erro e fuiapanhado. Apaixonei-me pela investigadora do meu caso e confessei tudo. Fuipreso, mas eles agora tremem que haja outra pessoa como eu no meio deles.

139. DANIELA FANGUEIRO - SEM TÍTULOGabriel tirou a fotografia por impulso e distraído. O flash que

acompanhou o disparo do obturador transportou-o para outro lugar, outromomento. Uma farta cabeleira encarnada ocupava uma parte considerável doseu campo de visão. Gabriel estava prestes a apanhá-la. Mesmo tendo pernasmais curtas, a menina era muito ágil e era fácil fingir não conseguir alcançá-la.Submeter-se à farsa em prol de ouvir o riso dela de pura felicidade valia apena. As vozes de dois detetives a trocarem ideias fizeram-no voltar aopresente. Ponderavam se o caso do corpo ensanguentado à frente delespoderia estar relacionado com outros similares, em que as vítimas eram todas

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jovens de cabelo ruivo com vinte anos de idade. Um assassino em série,diziam. Palavras não lhe surgiam e Gabriel, fotógrafo forense, não conseguiadizer-lhes que os casos não podiam estar relacionados. A sua irmã tinhaapenas dezassete anos.

140. DANIELA OCHOA CORDEIRO - SEM TÍTULOAs ruas de SoHo estavam desertas. Nila percorria desesperada a Rua

Houston contornando de seguida para a Rua Lafayette. Estava exausta e já nãoconseguia correr mais. Tentava abstrair-se das dores e do cansaço enquantoolhava à sua volta para ver se descobria um sítio onde se esconder. O Caveiracorria determinado a apanhá-la. Carregava na mão um punhal, estandodecidido a usá-lo em Nila. Se a conseguisse apanhar, esta seria a sua décimavítima. Finalmente Nila conseguiu encontrar um beco escuro para seesconder. Este procurou-a por entre os contentores situados no beco,encontrando-a atrás de um monte de sacos do lixo. Nila, assustada, olhou-onos olhos enquanto este segurava o punhal com determinação. A seguir veio aescuridão. No dia seguinte, o corpo do Caveira foi encontrado por um sem-abrigo num dos contentores de um beco situado na Rua Lafayette. Tinha umpunhal cravado no peito. De Nila nunca mais ninguém ouviu falar.

141. DANIELA PEREIRA - O PIOR PESADELOAdoro a dor. A destruição. O desespero das vítimas. Os gritos e as

lágrimas. As suas vozes quase inaudíveis a suplicar pelas vidas. Eu torturo!Faço com que elas desejem nunca terem nascido. Trato-as mal. Estou semprecontra elas. Desvalorizo tudo o que elas fazem. Sou má. Faço jogopsicológico para que se sintam mal. Manipulo as pessoas para que elas façamtudo o que quero. Trato todos como se fossem inúteis. Levo as pessoas àloucura. Estou cá fora porque as pessoas se matam por minha causa. Nãoaguentam a pressão que lhes coloco em cima. Fui feita para matar mas não fuifeita para estar presa. Sou o pior pesadelo de qualquer pessoa e esse pesadelochegou a cidade.

142. DANIELA PINTO - THE WRITER911 Call: -Ajudem-me... Alguém está a perseguir-me... (respiraçâo

acelerada). Ele está armado (som de um tiro). Chegaram ao local do crime,estam a olhar para o morto: -Eu reconheço este homem, é o namorado daminha irmã... (põem a mão na cara e respira fundo). Podes escrever ai onome dele é Will Grayson, tem 65 anos. No laboratório a analisar o corpo, a

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médica legista após três meses do crime identifica a bala e consequentemente aarma e descobre duas impressões digitais na bala: -Esta bala é uma 22 e umaarma que foi fabricada por portugueses no seculo XVII. E também encontreiuma impressão digital na bala que já estou a tentar encontar umacorrespondência da nossa base de dados (aparece uma correspondência). Adetetive olha e reconhece a pessoa indicada e sai a correr; o detetive segue-a.Eles saem da esquadra policial e dirigem-se para um bairro, a detetive prendeo individuo e obriga-o a confessar, ele tenta desmentir mas a detetive já tinhademasiadas provas contra ele.

143. DAVID GONÇALVES - A PENA DE GANSOPLAG... As quatro letras estão escritas no soalho ao lado do corpo

jazente. O detetive Andrew supõe que tenha sido a vítima a escrevê-las,utilizando o próprio sangue que lhe saía da ferida. Na sua mão esquerda,ensanguentada, uma pena de ganso afiada recentemente. -Não foi ele que asescreveu! -exclama Daniel, que se encontrava à porta. Andrew está perplexo. -Conhece-lo? -Virgílio Goncourt, autor do famoso romance Saudades. -Ecomo é que sabes que não foi ele que escreveu as letras? -Repara -Danielbaixa-se -a pena não tem vestígios de sangue e as letras estão escritas com umtraço firme.- E as letras? -pregunta Andrew.- PLAGIADOR! -grita Daniel -O assassino deixou-nos pistas! A mão esquerda ensanguentada, a pena... Aobaixar-se, Andrew repara num exemplar de Saudades manchado de sangue aolado do corpo. -Eis o plágio...

144. DÉBORA TORRES - SEM TÍTULOO cadáver. A arma. Os papéis espalhados pelo pavimento. O sangue que,

salpicado por todo o lado, dava um ar medonho ao beco. Aquela cena a queClaire já estava habituada, com os polícias, o médico legista e detetives, comoela. Analisou o cadáver que tinha um buraco no meio dos olhos e olhou derelance para a pistola que tinha um ar frio e lúgubre à sua volta. Depois dedias infindáveis de procura, Claire estava exausta quando encontrou umapista. Esta levava a um armazém misterioso na ponta da cidade. Quandochegou, tinha a arma em riste e pronta a disparar. Assim que entrou sentiu ocano gélido de uma arma no pescoço. Ela virou-se, tal como o atacante lheordenou, e reconheceu as suas feições. Eram as aterrorizadoras feições doassassino do homem no beco. Ela deixara de ver. Agora só conseguia pensarem todas as pessoas que amava. Em toda a sua vida, a passar diante de sicomo um filme. Abriu os olhos e a última coisa que viu foi o cano da arma, edepois um vazio total.

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145. DIANA FELIZARDO - SEM TÍTULOSandra reparou nos seus olhos, quando ele virou a cara e a luz do

candeeiro lhe iluminou o rosto. Neles, não havia amor. Apenas raiva. Asmãos contorcendo-se de ódio.- Nunca mais! –gritou ela, como uma chicotadana noite. Tinha traçado um caminho que, deliberadamente, estava a percorrer.Já não tinha medo. Pressentiu algo de maléfico, mas não tinha medo. Eleestava a perder o comando. - Nunca mais! -repetiu ela, como num canto delibertação. Ele aproximou-se, com os olhos em fogo. As suas mãosagarraram-lhe o pescoço. Os olhos deles encontraram-se. Ele começou aapertar, num ato tresloucado. Ela fechou os olhos. De repente, ele parou,horrorizado. Não se reconhecia naquele ato de ódio. Amava-a. Sandra olhou-o e afastou-se. Ele sentiu-se perdido e seguiu-a. Não podia ser o fim. Nãoaceitava um adeus. Ela pertencia-lhe. As mãos crispadas, o olhar de desesperoanteviam o desfecho final.

146. DIANA FIGUEIREDO - VISITA AO MUSEUEste último caso foi perturbante… como pode uma caça ao tesouro

terminar com uma jovem envenenada? Tudo começa com um passeio pelomuseu a fazer geocaching, com a promessa de algo impossível de encontrarmas, caso descobrisse, o seu valor seria inestimável. Após analisar a cena docrime conseguimos encontrar o indetectável, a cache era mais que motivo paraassassinar alguém. No seu interior continha um artefacto egípcio,desaparecido há anos durante uma tempestade de areia. Encontrava-se juntode uma maquete de uma pirâmide, e estava ligada a uma armadilha, quedisparou assim que a jovem a abriu. Depois de várias investigaçõesencontrámos o dono da cache, um colecionador de artefactos que alegou quea sua intenção era montar uma cache impossível e aliciante, mas a ganâncianão permitiria que ficasse sem algo tão precioso, por isso esta dispararia umgás venenoso caso alguém a abrisse… Intrigante não?!

147. DIANA PINTO - A FUGAOs pulmões queimam a cada inspiração acelerada. Nas têmporas, o

latejar incomoda-o e o suor que lhe percorre o corpo deixa uma sensação deprurido. Felizmente a corrida não vai demorar muito mais tempo, pensa. Amultidão, indiferente à sua fuga, dispersa perante o seu ziguezaguearapressado na avenida. - Para! – gritam em uníssono dois homens robustosque seguem no seu encalço. Ignorando o que se passa em redor, desce aescadaria do metro de forma atabalhoada e estanca subitamente na primeiraplataforma. -Mãos no ar! –ordena um dos perseguidores com a arma

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apontada ao seu peito. -Nem penses em atirar-te. Com um sorriso subtil,passa a mão esquerda pela boca, engole a custo e tosse. Caindorepentinamente, contorce-se no chão enquanto cospe uma espuma amarelada.Um dos homens armados debruça-se sobre o corpo imóvel. - ¡Porra! -Eagora, inspetor? Como descobrimos a localização da bomba?

148. DIANA SAMPAIO - SEM TÍTULOEmma Connell era polícia há dez anos, tinha visto vítimas de assassinato,

violação e posto criminosos atrás das grades. Estava habituada a ter o sonointerrompido pelo toque de telemóvel a anunciar um novo caso, tal comonessa manhã. Saiu de casa rapidamente, sabendo aonde tinha de dirigir-se.No local do crime, encontrou o parceiro, no meio da confusão de polícias eequipa médica, a conversar com outro agente, junto ao corpo da vítima.Aproximou-se para ele lhe dar os pormenores do caso.- Foi espancada até àmorte. Um rapaz encontrou-a de madrugada ao passear o cão. Temos aidentificação. John estendeu-lhe a carteira da vítima e Emma reconheceu onome no cartão de identificação. Era Juliette, a mulher do pai. A última vezque a vira, também estava no chão, agredida brutalmente pelo marido. Tinhasido há vinte anos, mas Emma não acreditava que o pai tivesse mudado.

149. DINORA VASCONCELOS - SEM TÍTULOOs detetives Peter e Gilbert relembravam por momentos os detalhes do

caso que tinham resolvido. Onze mulheres estranguladas e colocadas nascamas como se dormissem. Nos locais do crime eram sempre encontradosuma garrafa de vinho, cabelos castanhos e impressões digitais de um homem,constatava Peter. -Em comum tinham um encontro com o Dr. Martik epertenciam ao seu grupo de auto-ajuda -continuou Gilbert. –As impressõeseram dele e fora a ultima pessoa a vê-las com vida. -Só faltava o motivo ecomo as tinha subjugado até as matar -disse Gilbert -O administrador dogrupo, Vatich Jameson, aproveitou-se da paixão por aranhas que o Dr. tinhae colocou veneno de aranha no vinho, fazendo-as desmaiar o tempo suficientepara entrar nos quartos e matá-las… -E tudo porque amava a mulher do Dr.e queria afasta-lo do caminho dela -concluiu Peter. Os dois detetiveslevantaram-se das secretárias e saíram.

150. DIOGO DUARTE - SEM TÍTULODiogo chegou ao local do crime e Pedro que tinha chegado antes

explicou o que tinha acontecido, naquela manhã foi encontrado um cadáver,

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que parecia ter levado uma valente sova e estava vestido com a roupa da equiparival perto do estádio adversário no dia do maior derby de futebol da cidade,no chão perto do cadáver estavam vários grafites do clube rival então Diogo ePedro decidiram ir até a sede da claque rival. A sede ficava na porta sete doestádio, a porta estava aberta eles entraram e identificaram-se. E não foipreciso dizer muito, dois elementos fugiram logo por uma porta lateral.Diogo e Pedro correram atrás deles e conseguiram apanha-los antes deentrarem no carro. Os dois criminosos acabaram por admitir o homicídio eforam presos.

151. DIOGO MARTINS - QUEM NÃO DEVE, NÃO TEMENina Apolinário percorrera um longo caminho até à cobiçada chefia de

uma publicação internacional de renome. Uma história de esforço e sucessoperturbada pela fatídica tarde de agosto trazendo consigo a descoberta docadáver de Alexandre Strauss, antigo rival de Nina, cujo desaparecimento em2009 dissolveu consigo a última barreira à promoção de Nina. Burburinhosecoavam pelo escritório e Nina contava os dias até o inevitável bater à porta doseu gabinete... as inevitáveis perguntas... uma quantidade de assustadorescenários corriam pelo seu pensamento. Contudo, o que se seguiu foi umcordial questionário, simples “rotina”, segundo o inspetor. Finalmente livrede um temor que viajara aos seus ombros durante anos, Nina regressou acasa com um sorriso no rosto e um alívio imenso. Quando não encontrouqualquer centelha da mesma felicidade nos olhos do marido, Nina percebeuque talvez a sua jornada até ao sucesso não tenha dependido só dela...

152. DIOGO FILIPE CARDOSO - SEM TÍTULOEra um sábado de novembro, o tempo em Nova Iorque nunca fora o

melhor, mas hoje a noite as coisas ainda não tinham arrefecido o suficiente.Sempre fui meticuloso com o caminho que seguia, mas naquela noite decidi-me aventurar, e passei por o velho cinema antes de ir para casa, bem precisavade desanuviar depois de um dia de escritório. Pensei eu que ia ter uma noitenormal, ate que ao virar a esquina para o cinema, notei, imediatamente, naestranha figura pendurada em cima do cinema, sem roupa e com marcasestranhas em torno do seu corpo, e nem pensei duas vezes em chamar apolícia! A noite ainda tinha algumas surpresas, pois no instante em que estavaa dar o meu depoimento aos inspetores sou abordado por um escritor! Quealegou de repente que a vitima foi vitima de um grupo satânico, bem eu semsaber o que lhe responder apenas disse para encontrarem os culpados porencerarem o cinema esta semana!

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153. DUARTE NÓBREGA - BOMBA FBICerto dia, houve uma horrível explosão no centro de Nova Iorque, e a

polícia encontrou pedaços de uma bomba. Os pedaços de bomba foramanalisados e mostraram que era de uma bomba nuclear e tambémencontraram o ADN de um agente do FBI. O ADN pertencia ao agente TonyMarcony. Foram buscar o agente quando descobriram que ele estava morto.Encontraram uma carta no corpo que dizia: “eu dissete que se tentasses falarcom a polícia morreria”. Encontraram um pedaço de pele nas unhas dele.Analisaram os pedaço de pele e deu o agente William do FBI; entãodescobriram que se suicidou com uma carta a dizer que ele e o seu parceirocolocaram lá a bomba para se vingar. Ninguém sabe de quem se queriamvingar.

154. DULCE ARSÉNIO LUVA - SEM TÍTULOEndireitou-se, ainda a respirar pesadamente, e deixou que a escuridão

habitual o envolvesse, tentando fazer com que as imagens gravadas na suaretina desaparecessem. Mesmo após todos aqueles anos –cinquenta e três,para ser exacto– não conseguia esquecer. Naquele dia esperara-o o cadáverensanguentado de uma jovem, encontrado numa praia perto. Irreconhecível,não tinha documentos e os seus dedos estavam bastante danificados para serpossível uma identificação pelas impressões digitais. Inconformados com adificuldade em descobrir a sua identidade, decidiram apostar em algo nuncafeito até à altura: recolher as camadas interiores da epiderme, que continhamas impressões digitais ainda intactas. Quando ele colocou a “luva” feita de pelesentiu-se, pela primeira vez, completo. Era como se os dedos dela tivessemsido criados para a sua mão. A mesma mão manchada daquele sangue, a mãoque levou o antigo investigador para a prisão durante os últimos cinquenta etrês anos.

155. EDGAR CARNEIRO - A DESPEDIDADepois de descoberto o corpo de Fernando, certamente não demorariam

a chegar a eles. Restava uma solução. Na praia de sempre, Leonor encontrou-se com Eduardo. Onde antes selaram o pacto mortal e agora se veriam pelaúltima vez. As férias dela estavam para breve. Leonor não voltaria. Eduardoficaria pois nada o incriminava. Beijaram-se uma última vez, ela tocou-lhe oslábios com o indicador direito, um gesto de afeto conhecido de ambos,abraçaram-se e seguiram caminhos opostos. O corpo de Eduardo foiencontrado horas depois, caído sobre o volante. O laboratório confirmou apresença de veneno nos lábios. No bolso do casaco, um bilhete, confessando

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o homicídio de Fernando. Leonor pareceu surpresa quando foi presa noaeroporto. O perfume persistente no casaco de Eduardo denunciou-a. Umafragrância única no mundo, encomendada por Fernando nos 25 anos decasados. O perfume que tanto a envaidecia foi no final a sua desgraça.

156. EDGAR RODRIGUES - A NOITE FRIAA noite fria gelava-lhe os ossos, entranhando-se diretamente na pele em

direção ao seu coração. Eduardo, português de gema, nascido em Lisboahavia quase 38 anos, enfrentava possivelmente o maior nevão de que tinhamemória. A luz que mantinha o brilho baço nas janelas era cada vez maisténue, ou assim lhe parecia à medida que o tempo avançava. Num movimentorápido Eduardo puxou da sua inseparável Welrod Mk II e preparou-se paraagir. Os acontecimentos precipitaram-se rapidamente em catadupa, a portaabriu-se, 2 homens corpulentos ladeavam um terceiro mais franzino cobertode um espesso casaco e um gorro que lhe deixa entrever apenas os olhosbrilhantes Em poucas horas aquele papel iria estar em mãos seguras e umanova missão ainda mais exigente aguardava Eduardo no centro de controlodas Secretas Europeias.

157. EDUARDO AUGUSTO FREIRE DE ANDRADE - O RETORNODennis chegou à morada indicada no papel. Transpôs a fita da polícia

que delimitava a zona do crime. Cumprimentou um ou outro detetive forenseque lhe puseram a par das circunstâncias: Senhora; 35 anos; caucasiana;solteira; sem descendentes; aparentemente com dinheiro mas nada foraroubado; morte por asfixia resultante de estrangulamento; sem testemunhas.Não havia impressões digitais o que presumia o uso de luva, também nãohavia cabelos nem pegadas; nada que pudesse indiciar alguém. Era possívelque o criminoso não tivesse cometido nenhum erro? “Vejamos”, pensouDennis ao analisar o local minuciosamente. “A vítima está vestida com umrobe de cetim, tem umas cuecas fio-dental azuis e os seios a descoberto. Nãohá na casa qualquer vestígio de luta. Pensa Dennis pensa”. Um lenço de sedavermelho!”, constatou ele segurando-o com uma pinça. “Há 10 anos… aquelecaso arquivado… Don Juan do lenço… ele está de volta!”.

158. ELÁDIO RODRIGUES - ANTES DE TE MATARDesesperado um polícia armado sequestra todos os elementos, excepto

Rick, mantendo-os reféns na esquadra. Kathy por sms alerta Rick. Outrospolícias cercam as imediações. Rick começa a investigar as razões do

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sequestro, com a ajuda das informações que Kathy lhe vai transmitindo porsms. Rick depara-se com um cenário inimaginavel. O polícia antes dosequestro deixara a sua mulher amarrada num armazém abandonado comexplosivos pois considera que a única solução de escapar aos mafiosos queentretanto descobriram que este era infiltrado no grupo organizado levando áprisão do chefe, é terminando com a vida desta, poupando-lhe as torturas ehorrores que os mafiosos a poderiam submeter. O polícia desequilibradoconsidera a polícia os responsáveis pela perseguição da máfia a si e à suamulher planeando matar todos na esquadra. Rick consegue descobrir onde amulher do polícia se encontra, antes no entanto cruza-se com os mafiosos. Opolícia acaba depois dominado por uma Kathy.

159. ELDA FERREIRA - APELOS D’ALMAEscurecera. Os dias já se sentiam mais pequenos. A noite silenciosa dava

lugar a ruídos estridentes que para quem costumava ter uma noite descansada,essa paz tinha chegado ao fim. Eva Fontes teimava em não mudar de casa.Sentia-se a enlouquecer. Não conseguia discernir quando estava acordada. Asua lucidez estava a ser posta à prova. Era uma alma atormentada… Ospesadelos eram constantes nos últimos dois anos. Chegava a temeradormecer. Recolhia imagens vagas de um corpo feminino enterrado numsolo aquoso. As portas do guarda-fatos abriam-se sozinhas. As roupasapareciam reviradas nas gavetas da cómoda… Ouvia as rodas de bicicleta apercorrerem as paredes. Via sombras. Escutava os travões em travagensbruscas. A buzina soava aflitivamente. De manhã. Tudo voltava ao normal.Aquela não foi uma manhã qualquer. O telefone tocou. A sua irmã gémeaMiranda Fontes havia sido encontrada enterrada num parque onde costumavapassear de bicicleta... Eva desconhecia a existência da irmã.

160. ÉLIO DIAS - SEM TÍTULOHá muito tempo que Alice tinha um caso com o seu vizinho do lado. E

após todos estes anos nunca tinha tido problemas em escondê-lo do marido.Até aparecerem os vizinhos de baixo. Eles e o seu cão que ladra sempre quealguém entra ou sei de casa. Cedo perceberam o que se passava e sabia quemais cedo ou mais tarde, devido à amizade que nutriam para com o seumarido, iriam acabar por lhe contar. Não podia deixar isso acontecer.Quando foi passar um fim de semana fora com o marido e filho, pediu ajudaao seu amante para acabar com eles. Ele conseguiu matar o cão, e entrar emcasa deles durante a noite, deixar um bico do fogão ligado, e esperar que sefizesse o fogo de artificio de manhã quando acendessem a luz.

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161. ELISABETE PINHO - SEM TÍTULOO dia estava cinzento, chuvoso e deprimente. O chefe tinha reservado

mais um dia para a humilhar frente aos restantes colegas de trabalho.Enquanto estava na fotocopiadora, a Maria foi questionada sobre a tarefapedida apenas na véspera por e-mail. Eram ainda nove e meia, mal consultaratodos os e-mails. O acumular de episódios do género, berros, humilhaçõespor escrito e verbais, ao longo de meses, a depressão em que tinha entradosem dar conta, fizeram-na reunir inconscientemente a coragem necessária paraacabar com aquilo de vez. Não foi premeditado, mas no momento qualquerobjecto serviria para o fazer desaparecer. Ele não merecia outra coisa. Faziamal a toda as pessoas que a rodeavam e principalmente a ela. Não suportavamais ver a cara dele, ouvir a sua voz e a sua tosse irritante. Entrou nogabinete, fechou a porta calmamente para que ninguém desconfiasse eespetou-lhe uma caneta na jugular. Ficou a observar enquanto se esvaía emsangue com uma sensação de alívio indescritível.

162. ELISABETE SERRANO - O COMPUTADOR ASSASSINODa relação entre pai e filho, o pai pretende deserdar o filho. Sabendo

disso o filho mata o pai. A arma do crime foi o computador. O filho que era“expert” em computadores, foi a um “Cyber Café” e enviou um vírus aocomputador do pai. Este ao utilizá-lo, o computador fez curto-circuito e o paiacaba por morrer com o choque que provocou um ataque cardíaco. Assimpareceu ser morto naturalmente e não assassinado. Mesmo que a políciadescobrisse que era homicídio pelo computador, o filho arranjou maneira dealterar o rosto para não ser identificado nas câmaras do “Cyber Café”. Paraalterar o rosto, o filho pesquisou na internet artistas que fazem esse trabalho.Aprendeu a fazer sozinho para que esse artista não o identificasse. Comoálibi, o filho entrou no sistema informático de um hotel e colocou imagensdele na hora do crime como estando nesse hotel.

163. ELSA ALMEIDA - MORRES, SÓ PORQUE ESTÁS VIVAMel tira o termo cheio de café quente da mochila. Quando saiu de casa

sabia que ia passar ali muitas horas e foi preparada. Enquanto aquece as mãosno copo acabado de encher, contempla o reflexo do parque nas águas paradasmas límpidas do lago Dezz. Os verdes da vegetação e os amarelos e castanhosdas árvores ganham tons ainda mais intensos quando vistos no reflexodaquele espelho gigante. Encostada a uma árvore, ajeita a manta por cima dosjoelhos, volta a pôr play em muse e aumenta o som para decibéis bastanteacima do recomendável. Tem de entregar o artigo sobre a nova geração de

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Street Art e não está satisfeita com o que escreveu. Ia rever tudo e, olhandotoda aquela envolvência, enche-se de firmeza. Pousa o copo no chão eprepara-se para puxar o tablet quando sente um puxão que a faz baterviolentamente contra a árvore.

164. EMANUEL LÁZARO - TERRENO DE SANGUEUma rapariga é descoberta no terreno abandonado com sinais de

estrangulamento. Logo o detetive Macguire é chamado ao local para investigaro crime. Após observar tudo, o corpo é levado para ser examinado.Entretanto o detetive vai a procura do namorado da vítima, pois há relatos dediscussões violentas entre os dois. Quando chega ao apartamento donamorado, bate a porta e nada. Enquanto volta à esquadra o seu telefone toca.A equipa forense descobre que a vítima foi estrangulada com uma cordacomum, mas há uma marca que corresponde a uma bracelete de relógio. Elevai então falar com a mãe. Enquanto conversa com a mãe, ele apercebe-se quea mãe tem um relógio cujo a bracelete tem um padrão correspondente ásmarcas da vítima, e ao fazer mais e mais perguntas descobre que a mãe tinhaum caso extraconjugal com o namorado da filha e que cheia de ciúmes,estrangulou-a.

165. ERNESTO MARQUES - O PREÇO DE UMA VIDACom passos apressados, Distefano afastou-se daquele local. Procurou

atabalhoadamente nos bolsos algo com que entreter as suas mãos trémulas.Encontrou um pequeno pedaço de papel. Amarrotou-o violentamente e deuma forma nervosa. Apesar do frio da noite que lhe percorria todo o corpo,tinha a testa coberta de suor. Aquilo que tinha acabado de acontecer era paraser esquecido. Não poderia ser uma coisa para o resto da vida. Um fortearrepio percorreu-lhe toda a espinha e fê-lo estremecer. O papel quemantinha amarrado na sua mão foi mais uma vez apertado com violência. Asmãos que apertavam aquele papel estavam geladas. Geladas de morte.Inconfundível. Apertou-o uma vez mais, e outra, por entre os seus dedos;amarrotou-o com bastante força, com toda a sua força, com todos os seusmúsculos, tal como acabara de fazer com o pescoço do homem que jazia nochão uns metros atrás.

166. ESTEFANO GOMES - SEM TÍTULOO silencio que se fazia sentir dentro do hospital era inacreditável. Só a

minha respiração se fazia ouvir de tão forte, tão pesada. O saco dos diamantes

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estava encostado no fundo do quarto e eu estava de lado da porta, preparado.Ouvi passos. Conseguia ouvi-los tão pesarosamente que cada passo era umabatida a menos no meu peito. “Tens algo que é meu, Pedro. Devolve!”. Salteicom o susto da voz dele. Cerrei os olhos e saí do quarto de arma em punho,firme. “Não é teu Paulo, sabes bem disso! Quando te tornas-te numcriminoso? Admirei-te a vida toda. Foi por ti que me tornei polícia”. Ele fixouo olhar no meu e riu. “Não sejas tão ingénuo, rapaz. Fica-te mal! Passame osdiamantes!”. -Cerrei os dentes. “Eu não te quero magoar Paulo, por favor!”.Conseguia sentir a raiva dele a transbordar pelo olhar. Olhei de relance parao quarto e ele correu para mim. Num segundo oiço um tiro e ficamos os doisa olhar fixamente. “Afinal, não és assim tão ingénuo”. Paulo caiu no chão deolhos abertos.

167. EUGÉNIO VICENTE - PONTO FINALSei que este texto vai ser o meu último, mas nada mais importa, tudo o

que fiz, tudo o que escrevi trouxe-me até este momento e a ela, bem… trouxe-a até aqui à minha casa, à minha fortaleza da solidão onde me concentro paraescrever os meus livros. Tudo o que escrevo ela segue, letra a letra, palavra apalavra, a minha musa, a minha némesis, meu anjo da morte. As teclas batemno papel e a história prossegue. Ela curva-se por detrás de mim e sinto o friodo aço a cortar-me o calor do corpo, lentamente penetrando-me nas costas.Os meus dedos prosseguem automaticamente treinados ao longo de anos deescrita para uma última linha. Já não sinto mais nada a não ser a sua presençaao meu lado e sussurra-me ao ouvido, daqueles sussurros gélidos que nosfazem sentir um arrepio pela espinha abaixo: “Fim”.

168. EVA MAIA - ROSA SANGRENTA“Era uma cidade demasiado pacata”, era o que pensavam todos os

habitantes daquela zona, até que numa manhã tudo mudou. Haviamassassinado uma família inteira. Foi o carteiro que os encontrou, quandotentava entregar uma encomenda. O cenário era macabro. Susana estava caídano chão, perto da porta de entrada, esfaqueada pelas costas. O seu marido,João, foi degolado e atirado para a banheira e os dois meninos ainda estavamdeitados na cama, cobertos pelo seu próprio sangue. Por toda a casa haviampétalas de rosa. Os investigadores, Matias e Luís, abriram o pacote entreguepelo carteiro e ficaram petrificados. No seu interior haviam pétalas de rosa eum bilhete: “Vocês podem parar-me...”, estava escrito, seguido de uma listade 10 números, onde constava aquela morada no primeiro numero. Todas asoutras alíneas estavam escritas numa espécie de código. No final dizia: “...ou

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só irei parar no 10!”.

169. FÁBIO REIS - HUNTEDPodia ser apenas mais uma típica manhã para o detetive James. A sua

longa e notável carreira na polícia de Nova Iorque tinha-o tornado umdetetive exímio, capaz de deslindar os casos mais insólitos daquela cidade,pelo que fazia questão de começar os seus dias da forma mais serena possível.No entanto, desta vez a situação não dava caso a qualquer serenidade. As suasimpressões digitais haviam sido encontradas na arma que disparou, na noiteanterior, contra um Senador dos Estados Unidos e a caça ao homem tinhaacabado de começar. James via-se confrontado com o que só podia ser umaconspiração para o incriminar. Afinal, ninguém ascende tanto na carreira semfazer inimigos poderosos pelo caminho. O nervosismo e a ansiedadedominavam-no por completo, mas era tempo de agir. Não tinha outra opçãosem ser tornar-se incógnito e tentar desvendar a tremenda conspiração de queestava a ser alvo.

170. FÁBIO SILVA - SEM TÍTULOApós o jantar o Gabriel sai do restaurante e acende o cigarro ainda

extasiado pela companhia que tinha tido, a Laila a mulher por qual ele se tinhaapaixonado na preparatória e que desde daí fazia de tudo para a conquistar,mas tais pensamentos fizeram com que Gabriel não se percebesse que eraseguido desde que saiu pelo ex-marido de Laila, companheiro de Gabriel naescola e colega de equipa, assim que Gabriel entrou no beco para atalharcaminho para chegar ao carro ou indicado pelo destino talvez levou um tironuma perna que o fez cair e sem sequer se aperceber o porquê, Jorge o ex-marido chega-se a ele e diz: -Se não é minha não é de mais ninguém! -com avoz rouca de raiva e dispara um tiro fatal no peito deixando Gabriel esvair-seem sangue.

171. FÁBIO SILVA - PROMESSA NUMA NOITE FRIA“Não te confessas há muito tempo filha?”, pergunta o velho padre. “Sim.

Há anos”, responde a jovem mulher, com pouco pesar. “Então, que te trouxecá hoje?”. “Pequei, padre. Deixei-me dominar pelo ódio”. Esfrega as mãos.Brancas. Geladas. Treme, mas não de frio. “Como foi que pecaste, filha?”.“Eu desejei o mal a outros, e desejei-o mais do que desejo manter a minhavida. Desejei vingança porque me fizeram sofrer. Desejei-o durante anos”. Osseus olhos espelham a insanidade que o corpo tenta esconder. A mente revive

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um momento passado, sempre presente. “E actuaste sobre esse desejo, minhafilha?”. “Ainda não, padre”. “Vieste aqui em busca de conselho, então?”.“Não, padre. Vim aqui cumprir”. Noite fria. Céu claro da lua. Uma mulheroutrora criança. Respira agora pela primeira vez, tão jovem, agora tão velha.As suas mãos pesadas com sangue da promessa cumprida. A sua alma agoratão leve.

172. FÁTIMA D’OLIVEIRA - O AMIGO E A NAMORADAAo tomar conhecimento da morte de Dinis, o seu melhor amigo, Lázaro

ficou primeiro surpreso, depois atónito. Ainda estupefacto com o súbitodesaparecimento do amigo e ainda antes de ter tempo de chorar e ficar triste,o choque de Lázaro redobrou quando soube do motivo da morte.Assassinato. Dinis tinha sido assassinado –alguém o tinha morto, mas oassassino já tinha sido preso. Mas quando soube a identidade do culpado,Lázaro sentiu-se assoberbado por mais um sentimento: culpa. Lázaro sentiu-se invadir por vagas fortes e gigantescas de culpa, pois tinha sido Cassandra aculpada. Cassandra, a namorada de Dinis. Na véspera, Cassandra tinha-lheperguntado por Dinis, pois precisava de falar com ele. E Lázaro, sem pensarmais no assunto, disse-lhe. Mas agora pensava “E se não lhe tivesse dito?...”.

173. FÁTIMA SANTOS - MORTE OBSCURANuma tarde cinzenta de outubro fui até Braga ao funeral do meu pai. Há

anos que não falava com ele, e não via a família nem amigos. Foi uma recepçãopouco calorosa mas sem novidade nenhuma. Pelas 14:30 h. juntaram-sefamiliares, amigos e conhecidos e eis que a minha tia ao chegar e aocumprimentar-me me diz: -Porque choras!? As lágrimas não o trazem devolta. Foste tu que o mataste! -palavras duras que magoaram imenso eressoaram pela sala onde todos escutaram. Podem imaginar... Não! Nãopodem! Foi uma seta direta ao coração! Tiveram a sua vingança pessoal, aminha mãe e irmã! Não me avisaram que estava doente e internado nohospital! Fui avisada da sua morte por uma desconhecida. A inveja que tinhamda nossa relação pai e filha! Ao receber os pêsames ver que as pessoasdesconheciam que havia uma filha mais velha!

174. FERNANDA COSTA - EM QUE POSSO AJUDAR?O barulho era ensurdecedor. Olhou em volta. Conversas cruzadas,

dedos no ar a pedir ajuda... Olhou para o monitor em frente. Era invisível. Otelefone tocou. Os olhos brilharam e sorriu. -Boa noite. Fala o Marco, em

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que posso ser útil?. A mulher falava alto e reclamava qualquer coisa sobre afactura. Não tinha dinheiro e a culpa era dele?! -A senhora tem que pagar até adata indicada... Não o deixava falar e não se calava um bocadinho. Rua dasAmêndoas número 5050, em Lisboa, lia-se no ecrã. A faca cravava-se na pelesem resistência e ia sentir aquela sensação... -Repare, é um consumo normalpara uma família.... - a frase não terminou, ouvindo se logo. -Eu morosozinha, e sei bem o que tento poupar! A campainha tocou e: “Boa tarde.Venho verificar o equipamento”. -Posso ajudar em mais alguma coisa? -Deveestar a brincar! -A chamada terminou abruptamente. Marco sorriu... Rua dasAmêndoas. Mal podia esperar.

175. FERNANDA QUEIROZ - O HÓSPEDE OCULTOCheguei ao hotel onde tinha alugado um quarto e o edifício estava

tomado por polícias e vizinhos curiosos. Ao passar pelos corredores, ouvirumores de que um hóspede acabado de chegar teria falecido emcircunstâncias pouco claras. Quando finalmente consegui alcançar o meuquarto, deparei-me com um detetive que imediatamente me mandou recuar,não me deixando assim atingir o meu aposento. Aproximei-me do mesmo equestionei o porquê de dizerem que o hóspede daquele quarto tinha falecido,se eu estava mesmo ali, à sua frente e este respondeu-me que não fazia sentido,visto que a rececionista dissera que o hóspede do quarto era o mesmo queestava ali estendido sem vida. A polícia permanecia no meu dormitório,tomando conta do caso, enquanto o detetive me interrogava. Estava umambiente estranho, muito confuso e bastante abafado perto daquele corredorde curiosos. Sentia uma certa pressão em mim, algum nervosismo até.

176. FERNANDA RAMOS - A DÚVIDAElliot, o recém-chegado detetive à equipa de homicídios, olhava

desconfiado para Rick. Charles Ivon, escritor policial, amigo de Rick tinhasido encontrado morto em circunstâncias suspeitas. Uma semana depois oresultado da investigação, liderada por Kathy, tinha provado o suicídio. MasElliot não estava certo da isenção da equipa, afinal eram todos amigos deRick, para ele Rick era um provável suspeito de homicídio. Como é queninguém via a ligação? Ambos escritores de literatura policial e a trabalharempara a mesma editora. Um concorrente à fama a ser eliminado. Rick tinhaestado nessa noite em casa de Ivon, a jantar, as impressões digitaisencontradas na cena do crime estavam fácilmente explicadas. Depois de jantartinha ido para casa dormir, sozinho, Kathy estava na esquadra e a mãe e a filhaencontravam-se de férias nos Hamptons. Não! Para ele este caso ainda não

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estava definitivamente arquivado.

177. FERNANDO FERNANDES - ASSASSINO DAS HORASCom o polegar direito, Steve desligou a luz negra. Levantou-se e olhou

para o seu parceiro, nitidamente nervoso com o seu primeiro caso. -O queconsegues dizer-me? -perguntou fazendo Peter olhar para si. -É, sem dúvida,ele. A disposição do corpo, pulsos partidos, a carta manuscrita... é o nossoserial killer. -replicou sem pestanejar. Steve sorriu. -No meu primeiro caso,cometi três erros que permitiram a fuga do assassino. Capturámo-lo maistarde –completou, desculpando-se. -Os pulsos estão partidos mas... nosentido contrário aos ponteiros do relógio. A carta; a letra A não está doavesso. -Peter engoliu em seco. - Acertaste na disposição do corpo. Está nas 4horas, ou seja, a quarta vítima. -virou costas e deu alguns passos. -Sabes oque isto significa, não sabes? -Além do serial killer, temos de encontrar umimitador rasca -respondeu prontamente.

178. FILIPA BENTO - REFÉMAA água queima-me os pulmões. Gelada, tem um poder desconcertante de

me imobilizar. Só a necessidade humana de respirar me impele para asuperfície. A minha perna esquerda tem um buraco de uma Glock de 9milímetros. É arma policial. A chuva de tiros que aconteceu enquanto euestava na carrinha foi entre quem quer que seja que me tem prisioneiro e apolícia. E tendo em conta que não estou numa esquadra a prestar declarações,o resultado está: Maus da fita, um; Polícia, zero. Enquanto estive inconscientefizeram um torniquete no ferimento, o que me leva a crer que, para já, não mequerem matar. E visto que estou a ser torturado, devem querer informações.Sobre o quê? É uma boa questão. Com um belo punhado de cabelos na mão,erguem-me a cabeça. A água escorre-me pela cara. Enquanto arfoviolentamente, enfrento o que o destino me reserva...

179. FILIPA CARVALHO - ESTRANHA MARÉFui chamada às 06:30 da manhã para me dirigir urgentemente à Long

Beach, New York. O corpo de uma jovem apareceu sem vida no areal junto àágua, polícias, populares e muitos seus amigos frequentadores dumadiscoteca próxima, rodeavam o corpo. O corpo não tinha marcas de violência,até parecia morte natural. Depois de algumas perguntas, fiquei a saber que foio namorado quem deu o alarme a meio da noite: ela tinha saído sozinha.Alguns casais que estavam na praia, disseram tê-la visto a vaguear sozinha ao

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longo do areal, devagar e com ar triste. Ao virar o corpo estava a aparenteexplicação no bilhete escrito com a sua letra: desgosto de amor. Confesso quefiquei triste com este caso. Como são estranhos os seres humanos. E naqueledia a maré não subiu, as ondas envergonharam-se de lhe molhar os pés.

180. FILIPA CONSTANTINO - AS APARÊNCIAS ILUDEMSofia, uma ambiciosa e perfeccionista atriz, faz o seu ensaio da peça que

vai estrear daqui a dias. Personagem esta, dos loucos anos 20 de seu nome,Letícia. Acabado o ensaio, Sofia e André, coator principal, abandonam oteatro e vão para suas casas. Na manhã seguinte, o encenador da peça, dirige-se ao palco para acertar umas ideias que teve na noite passada. Ao acender aluz, encontra Sofia deitada na cama do cenário, aproxima-se da atriz para aacordar, encontra-a envolta numa mancha de sangue, este corre a chamar apolícia. A atriz principal da sua peça está morta! O médico legista investiga, acausa da morte: múltiplas facadas no peito, hora da morte entre as 00h e as02h da madrugada. As investigações levaram à mulher do coator, que foi aoteatro na altura do ensaio e pensou que ambos eram amantes. Sofia tinha sidoassassinada por ciúmes.

181. FILOMENA MARTINS - SUICÍDIO ONLINE600 mil visitantes em menos de 6 horas e uma onda de fascínio e pânico

varria o mundo. Recentemente colocado no ar, um canal anónimo de streamdigital em tempo real apresenta, em fraca resolução, um homem sentadodiante da câmera com uma arma de fogo na sua mão esquerda e nada senãoparedes vazias em seu redor. O indivíduo ameaça cometer suicídio chegadasas zero horas do presente dia. Incógnita, a transmissão vídeo revela-se dedifícil localização no tempo disponível, levando as autoridades a tentar obloqueio do acesso do público ao canal, o que tragicamente não impediu que,à fatídica meia-noite, milhares de curiosos tenham assistido ao chocanteevento. Meras horas mais tarde, Mark Lucas, um solitário programador, vema público vangloriar-se pela criação de um modelo humano virtual tãorealista, capaz de enganar o público de todo o mundo. Mark permanece presoaté ao dia de hoje.

182. FILOMENA MOURINHO - ABISMOSÀ beira do abismo, Cassandra suspirava, o sangue latejando nas

têmporas, gotas de suor salpicando o rosto em pânico e a mão dele a segurá-la pelo pescoço. Olhou para baixo, viu os grãos de areia que resvalavam pela

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rocha nua, e rezou. O cheiro acre do suor dele dava-lhe ânsias de vómitos. Asecura dos seus dedos causava-lhe irritação na pele. Sentiu que estavaeminente o final de tudo. No chão, ao seu lado, a sua mala aberta deixavaantever a agenda de pele e o telemóvel de gama alta que insistia em exibir nogrupo de amigas fúteis que faziam parte do seu círculo. Para quê? Agora nadafazia sentido: as compras exóticas, as noites na farra até de manhã, as aventurascom estranhos que nunca mais voltava a ver. Tentou virar o rosto para oencarar, mas ele não o permitiu. Finalmente, uma lágrima caiu sobre a terraseca do chão que pisavam e ela desistiu. Deixou de tentar soltar-se e aceitou oseu destino. Ele abraçou-a, olhou o céu e agradeceu a Deus não ter permitidoque ela se atirasse.

183. FILOMENA VIANA - CRISTOFORORodrigo da Cunha, arqueologista, antropologista, historiador dedicado

à criptanalise, cursado em Braga, a viver há 15 anos em Nova York, leccionana Universidade de Nova York como especialista. Morre estranhamente emEllis Island com marcas de um anel casamata com veneno de cicuta. Tinharegressado de Villanueva de los Infantes (Espanha) há 3 dias, depois dereceber uma carta anónima em Yonkers no Centro Comunitário Américo-português onde presta voluntariado a jovens. Em Espanha encontrou-se comum ex-colega que lhe daria provas concretas de que Cristovão Colombo eraportuguês e não genovês nem espanhol bem como a sua origem judaica, queestavam escondidas na Biblioteca General Histórica de Salamanca. No versodesses documentos estava também a prova do engodo português ao reinoespanhol nos Descobrimentos. Foi enviado um especialista da SociedadeCristã da Coroa Espanhola, para reaver os documentos e não deixar vir apúblico a informação, que pede o encontro na Ilha.

184. FRANCISCO BRÁS - O VENDEDOR DE ALMAS FLORIDASNa cidade pacata de Santidade, aconteceu algo perturbador no seio da

comunidade cigana: um triplo homicídio, cuidadosamente planificado eexecutado, tendo sido eliminado qualquer vestígio forense. As vítimas eramtrês mulheres ciganas. Um detetive das redondezas, Patrício Castelo, foirequisitado. Este experiente agente da lei era conhecido por ser meticuloso. Omodus operandi do homicida era simples. Um tiro na cabeça com uma pistolade calibre 9mm e um “presente de despedida”: uma rosa cuidadosamentecolhida. O detetive avistou algo assinalado com um “X”. Ao aproximar-se,uma rapariga travou-o. Alegou que estalava ali plantada uma mina. Era a filhado florista local. Tinha uma gravação consigo. O florista vingara-se de três

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ciganos que tinham morto a sua mulher, aquando de uma tentativa de assaltoà loja de flores do homicida. Os culpados tinham escapado em liberdade, masa dor do florista nem com a vingança se escapuliu do coração destroçado.

185. FRANCISCO MALHÃO - SEM TÍTULORick e Kathy foram chamados a uma cena de crime. Uma mulher tinha

sido asfixiada. Lanie disse que alguns órgãos, com o coração e o fígado,tinham sido removidos. Nunca tinham visto um crime assim. Começaram ainvestigar a vida da vitima. No dia seguinte, houve outro crime, uma mulherfoi asfixiada com alguns órgãos retirados. Kathy disse que era um assassinoem serie. Começaram a investigar a vida da segunda vitima para tentarencontrar alguma ligação mas não encontraram nada. No dia seguinte,apareceu outra vitima. Mulher asfixiada com órgãos removidos. Mas desta vezo assassino tinha sido apanhado por uma câmara de um restaurante. Fizeramo reconhecimento facial e foram a casa dele. Apanharam-no. Kathyinterrogou-o e perguntou porque é que ele retirava os órgãos, ele respondeuque gostava do sabor de órgãos humanos. Rick quase que vomitou ao ouviristo. Ryan e Javi levaram o assassino para a esquadra. Rick e Kathy apósresolverem este crime foram para casa.

186. FRANCISCO SILVA - CULPADO EU?Acordei estremunhado com um certeiro pontapé na minha jóia de

família, que me fez arfar de dor. Fiquei indefeso, esmagado pelo peso daquelabota que me rasgava as costelas, enquanto aquelas hercúleas mãos que meobrigavam a dobrar sobre mim mesmo e me puxavam com violência os jádoridos braços para trás. Sem uma palavra, fui erguido enquanto me cegavamcom uma potente luz e alguém dizia : Foi ele! Agora que uma saltitante nesgade sol entra pela janela, a memoria confusa persiste em lembrar o luar. Estoudorido no meu catre, ostentando umas violáceas marcas nos pulsos e arasgada camisa tingida pelo sangue. Fecho os olhos e oiço o som dasviolentas biqueiradas nos cartões que me protegiam daquele frio gélido nasoleira daquela porta. Também recordo de instintivamente a mão direita teragarrado naquela barra de ferro que jazia a meu lado e batido contra algo.

187. FRANCISCO VARA LUIZ - LIGAÇÃO PERIGOSALorde Ackroyd estava a abrir o portão quando, à sua frente, surge um

indivíduo encapuçado, com um ar determinado -“Tenho informaçõespertinentes… sobre o seu assistente.” “Não estou a trabalhar”. “Acredite, vai

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querer ouvir isto. Estão vidas em jogo”. E assim se dirigiu para um beco semsaída, onde o estranho homem o levou. “Este assunto é confidencial”–afirmou. Quando finalmente ia desvendar o enigma, subitamente o indivíduoé baleado. Já nada podia ser feito. Uma hora depois, Inspetor Hunt avalia olocal do crime. “Descuidado, definitivamente um amador”, avança. “Está aesconder algo”. Sem razão plausível, o assistente desapareceu…; e torna-se oprincipal suspeito deste assassinato. No dia seguinte, foi encontrado a tentartransferir 500.000 € para uma conta associada a um grupo radicalista, queesperava esse montante para levar a cabo um atentado contra o Secretário daDefesa Nacional. Nunca Lorde Ackroyd imaginou ser o foco desta tentativade homicídio…

188. GABRIELA GONÇALVES - O FANTASMA DO 7Quando Jennifer Sloan e a sua equipa derrubaram o portão do contentor

777, o último do cais, um cheiro nauseabundo atordoou-lhes os sentidos. Achamada anónima recebida naquela manhã, dera-lhe uma pista sobre o“fantasma do 7”. Desconhecido até ao momento, matava aos dias 7 de cadamês, precisamente às 7 da manhã. Seis vítimas preenchiam o seu currículo atéao momento. De armas em punho e coletes vestidos, embrenharam-se naescuridão apenas contrariada pelos pequenos rasgos de luz que penetravamnas brechas do tecto velho. Um som baixo mas ensurdecedor enchia ocontentor. Movidos por reflexos lentos, os detetives apontaram as lanternastentando minimizar o ambiente sinistro. À sua frente, 7 corpos nus,trucidados, dispostos em círculo e presos com correntes a postes de ferro,serviam de banquete a dezenas de ratazanas. Numa das paredes, a mensagem:“Ferozes, predadoras, famintas. Quem será a próxima vitima”. 7/7/1977 Felizaniversário!”.

189. GLÓRIA PEIXOTO - NOITE INÓSPITANaquela noite inóspita a Tenente Peixoto acordou coberta de suores

frios. Reviveu mais uma vez a morte cruel da irmã. Era uma noite como esta,chovia torrencialmente. Acordou ao som abafado de uns gemidos, olhou parao lado, não viu o marido. Levantou-se, pegou na arma e seguiu oschoramingos constantes que a levaram ao fundo do corredor; petrificada viu oquarto da irmã. Lentamente abriu a porta, estava a irmã amarrada à cama comuma peça de roupa metida na boca soluçando. Os olhos esbugalhadostentavam dizer-lhe algo, agitava a cabeça descontroladamente na direcçãooposta à entrada da Tenente. Mal entrou no quarto sentiu uma forte pancadana cabeça que a fez desmaiar. Quando acordou, toda a sua equipa estava lá.

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Olhou na direcção da cama, viu a irmã esventrada, esvaída em sangue. Quemos tinha chamado? Onde estava o marido? Cabia-lhe agora a missão deencontrar o assassino...

190. GONÇALO GONÇALVES - O CRIME (QUASE) PERFEITOTudo começa num bairro de Paris, onde dois amigos, Toby e Patrick

entram num bar de jogo. Patrick decide sentar-se a jogar, começando aganhar todas as apostas. Entretanto, aparece um homem suspeito, militar, queconvida Patrick a beber uns copos, embebedando-o e convencendo-o adormir no próprio local. Durante a noite Patrick, procurava sem sucessoadormecer, até que acontece algo inédito. O teto da cama começa a descersubitamente sobre ele. Patrick conseguiu escapar pela janela, dirigindo-se acorrer à polícia para que os agentes o acompanhem à casa de jogo acomprovar que o que dizia era verdadeiro. Quando lá chegam encontramToby, morto, completamente esmagado pelo teto, deitado na cama. Osagentes inspecionaram o local e comprovou-se que existia um mecanismo nahabitação de cima que fazia com que o teto descesse, onde se conseguiuencontrar impressões digitais do militar e, descobrindo o culpado denumerosos assassinatos, sendo as mortes causadas devido ás apostas ganhas.

191. GONÇALO GRAÇAS - SEM TÍTULOÉ agora de conhecimento público que os últimos crimes resolvidos pela

esquadra de Manhattan foram manipulados, subtilmente, resultando em falsasacusações. John e Sarah, ambos detetives na polémica esquadra e após mesesde investigação, descobrem um endereço de IP, comum a todos os casos, quedepressa os levaria ao criminoso. Ao chegarem encontram um antigo detetive,Thomas, amordaçado e com uma nota em binário. O decifrar do código dáum novo rumo à investigação. Desta vez, considerado culpado, Jake (jápunido por crimes cibernéticos), é detido na esquadra para interrogatóriomas rápido se apercebem que algo não faz sentido. Thomas, encontrado nolocal do crime numa tentativa desesperada de fuga, é o verdadeiro culpado.Julgando fazer justiça ia incriminando todos o que o “prejudicaram” na vidamantendo, ao mesmo tempo, o controle dentro da esquadra.

192. GUIDA MARIA ALMEIDA - CRIME SANGRENTOÉ sexta-feira, aparentemente, tal como outra qualquer… Helena e Lea,

mãe e filha, percorrem 10 km até Morangis, no Norte da França, pararemodelarem um antigo edifício. Lea, de 9 anos, encontrava-se numa das salas

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quando, uma sensação de desfoco visual, um nevoeiro ligeiro, se apoderou doseu campo ótico. Apavorada, fica imóvel; o coração dispara. Sozinha naquelabatalha, grita por auxílio. Seria tarde demais! Nada haveria a fazer. Alguém jáestaria morto. Um homem de cabelos longos, empunhando uma facaensanguentada surge daquela névoa. Olharam-se e desapareceu. Helena fazuma ronda pelo edifício; não encontra vestígios de crime. Semanas depois, nocentro comercial, Lea confronta-se com o indivíduo…o tal. -Um olho azul,outro verde! É ele! –sussurrou angustiada. A mãe interrompe-a; Lea perde-lhe o rasto. Num expositor da caixa, um jornal exibe a notícia “Mulheresquartejada”. “Não foi só uma visão, houve mesmo um crime, pensou”.

193. GUILHERME COSTA - UM ENCONTRO COM UM URSOUm shot de vodka. Nazdarovya. Bateu com o copo virado para baixo no

balcão. A sua mão tatuada não largou o copo e quase o partiu com a tensão.Uma faca estava coberta de sangue, atravessando-lhe a barriga. Anton abriu aboca, não para gritar de dor mas de surpresa. Os seus dentes de ourobrilharam com o reflexo das luzes daquele bar cavernoso. Agarrou a lâminacom as duas mãos e virou-se para enfrentar o seu atacante. Era um rapaz,magro e fraco. Tinham mandado um rapaz para um serviço de um homem!Os dentes cerraram-se, com a fúria. Agarrou o rapaz pelo pescoço, que aindatermia, segurando o cabo na mão. Perguntou-lhe o nome, num rosnido. Orapaz fechou os olhos, como se assim escapasse daquele lugar. A voz fugiu-lhe num gemido: -Yuri. -Yuri tinha um pescoço demasiado fraco. O velhodeixou cair o rapaz como se nada fosse. Sentiu pena pelo rapaz enquantoguiava, quase a perder os sentidos. Sentiu pena também dos estofos decabedal, a mulher iria chateá-lo por isso, de certeza.

194. GUILHERME GALVÃO - AMOR DOENTIOApós alguns roubos e assassinatos, Bobby foi condenado a anos de

prisão. Enquanto esteve preso, o recluso começou a nutrir um amor doentioe não correspondido pelo jovem polícia Adam. Durante a sua transferênciapara outra cadeia, Bobby, em pânico por não poder estar com o seu amado,colocou um brilhante plano de fuga em ação. Porém o fugitivo sabia que,mesmo estando liberto, Adam nunca iria corresponder o seu amor. Assim,no decorrer dos anos, após diversas intervenções cirúrgicas com o intuito detransformar-se numa mulher que Adam namoraria, Bobby, agora comoMelissa, voltou à antiga cidade, onde o polícia já estava casado. Friamente,Melissa matou a esposa e durante o funeral, apresentou-se ao viúvo e aos seusfilhos como uma velha amiga da falecida, para que aos poucos pudesse ganhar

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a confiança e amizade da família. Com o tempo, sem desconfiar de nada,Adam pediu Melissa em casamento.

195. GUILHERME PINHEIRO - SEM TÍTULOConheceram-se e em pouco tempo pareciam já grandes amigos.

Alexandre era sem dúvida carismático. E não precisou de esperar muitotempo pela oportunidade ideal. Esta surgiu quando Jaime o convidou parajantar. Um jantar com muitas emoções. E uma distracção do anfitrião que serevelaria fatal! No fim da refeição Jaime sentiu um peso no corpo. Nãoconseguia mexer-se! O veneno começava a actuar. Apercebendo-se dissoAlexandre levantou-se da mesa. Da parte de trás das suas calças tirou umafaca. Dirigiu-se a Jaime. No olhar deste: pânico! O ignóbil nem se lembravadele. Mas iria lembrar-se e pagar por todas as humilhações! Cada corte foicirurgicamente infligido. Cada minuto de sofrimento, deliciado. Até a mortelevar aquele germe. Alexandre abandonou o local. O corpo foi encontradopor uma amiga de Jaime no dia seguinte. As pistas seguidas pela políciaindicavam como suspeito -Pedro. Curiosamente dado como morto há cincoanos!

196. GUILHERME SOARES - IUS POSTULANDIDepois de uma noite de trabalho, eis que chega a casa. Um apartamento

antigo, alugado no tempo em que era estudante. Pequeno, simples, mas comos pormenores que tanto a caracterizavam. Algumas das notícias que mais amarcaram eram parte da decoração. Sara gostava de trabalhar à noite poissentia-se protegida pela imensidão da escuridão. Sara era jornalista e escreviaartigos sobre os crimes mais mediáticos e acompanhava sempre de perto asinvestigações policiais. Tinha ajudado a desvendar alguns crimes, poisconseguia sempre encontrar uma falha onde mais ninguém conseguia. Pareciaque tinha um dom ou que simplesmente estava destinada a capturarcriminosos. Desde o início da sua carreira que investigava um homicídiosobre uma mulher que tinha morto os três filhos. Era um caso que nuncaconseguiu resolver. Mas naquela noite tudo mudou. Um pequeno papelbranco estava na entrada. Com uma mensagem: Três é a conta que ele fez.Advogado .

197. GUSTAVO GALVÃO - NA PELE DO CORDEIROO casamento entre Selene e Jack sempre pareceu ser a união perfeita, pois

com sólidas carreiras na política, a influência do casal era conhecida por

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todos. Porém, uma mudança no comportamento de Jack levou Selene acontratar um detetive particular para comprovar uma possível traiçãoconjugal. Após semanas de investigação, a descoberta do detetive mostrou queo marido não possuía uma amante, mas planeava fazer algo muito pior:assassinar a esposa, por motivos políticos. Surpresa e possuída pelo ódio,Selene optou por fazer o marido provar do próprio veneno. E na véspera dodia de sua morte, Selene, apropriando-se dos meios utilizados por Jack,executou exatamente o mesmo plano, no qual uma premeditada falha mecânicano carro causaria um acidente fatal que não deixaria culpados. Contudo, destavez, o alvo era Jack, que morreu comprovando a eficácia do seu “planoperfeito”, fazendo com que Selene passasse de vítima à assassina.

198. GUSTAVO WEIGERT BEHR - O SENHOR OLAVOAs pessoas desaparecidas tinham um conhecido comum: o senhor Olavo.

Assim, a polícia desencadeou uma busca pormenorizada em sua casa decampo. O senhor Olavo, que estava ausente, era reformado. Na sua quintaproduzia, artesanalmente, leite, queijos, chouriços e vinho de excelentequalidade. Os procedimentos desenrolaram-se durante toda a tarde. Orelatório efetuado foi escrito em poucas linhas: o senhor Olavo podiaconhecer as vítimas, mas nada o ligava aos desaparecimentos. Jack, oinvestigador estagiário, ao chegar à esquadra, levou uma grande reprimenda.Havia usurpado queijo, chouriço e uma garrafa de vinho. Não havia resistidoàs iguarias da quinta. Uma conduta altamente irregular, que punha em risco acontinuidade do seu estágio. Quando Jack experimentou o vinho, soube-lhehorrivelmente. Não era vinho, era sangue. Horas mais tarde, o senhor Olavoera interrogado sobre a origem do sangue humano de suas garrafas de vinho.E fez uma pergunta: experimentaram o chouriço?

199. HELDER GUERRA - MENSAGEM CIFRADARick caminhava apressadamente pela Lexington Avenue. Chovia.

Aconchegou a gola da gabardina ao pescoço, protegendo-se do frio intenso.Kathy pedira-lhe ajuda. Estavam envolvidos numa investigação sobre droga eela já tinha seguido para a Esquadra 41ST Precint, no Bronx. Era um dossítios mais perigosos da cidade. Não sendo prudente ir de carro, resolveu irde Metropolitano. Na carruagem vazia, um vulto de elevada estatura, usandouma camisola azul com capuz, não tirava os olhos dele. Pressentiu que umassalto estaria eminente. Rick avaliou rapidamente a situação. Estavam achegar à próxima estação. Logo que as portas se abriram, saltou para a gare.Depois, foi correr desalmadamente para a rua. Caminhando pela Southern

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Blvd, leu novamente a mensagem que Kathy lhe tinha enviado;:DRAHCIRSEORDAL SO MOC ODADIUC. Sorriu. A mensagem pareciacifrada. Alguma brincadeira…Um pouco atrás, no mesmo passeio, seguia umvulto de elevada estatura, usando uma camisola azul com capuz…

200. HELENA MAGALHÃES - PESADELO DE CRISTINACristina era uma jovem desempregada tinha uma entrevista de emprego

marcada e foi selecionada entre muitas outras a fazer formação numa novaempresa, ao qual aceitou pois sua estava a mudar, para seu encanto formaçãoessa fora de seu país, ela sentiu pois tamanha alegria que aceitou na hora,ansiosa esperou o dia com grande encanto. A grande viagem chegou poisfinalmente Cristina mudaria sua vida, nessa formação Cristina se divertiatambém a noite depois de um longo jantar no hotel ao qual estava hospedadapela empresa, Cristina resolveu conhecer a cidade, após uma paragem numbar local Cristina pediu um drink ao seu lado um lindo jovem, bomconversador depresa Cristina se encantou pois não sabia que seria o principiode seu pesadelo, a conversa se alongou noite dentro, depressa, o jovem decidefazer uma breve visita guiada a Cristina, ao qual ficou radiante com a atitudedo jovem Artur. Depressa Cristina se sentiu atraida por Artur, deixando-o aacompanhar ao hotel ao qual estava.

201. HELENA MOTA - A ESPERATodos os dias ela sentia frio. Não o frio que se sente quando a

tempestade impera lá fora. Não o frio que se sente depois de se molhar os pésna água gelada do mar. Era antes um frio no espírito, no olhar, no desesperodas noites. Queria dormir. Só uma noite. Mas os pesadelos eram constantes ea linha ténue entre a realidade e o sonho começavam-se a perder. Todas asnoites mal adormecia a luz surgia do outro lado do quarto, e todas as noitessentia uma presença no escuro da casa, que a observava, como que esperando.As constantes interrupções do sono eram tantas que sentia-se exausta assimque acordava. Abriu a janela do quarto e respirou fundo. Precisava de sentir ovento para confirmar que ainda estava viva. Um som fez-la desviar a atençãopara a porta do quarto. Estaria já a dormir e não sabia?

202. HELENA PIRES - A CHAMADAFrancisco, homem de 41 anos foi encontrado morto em Roma 2 horas

depois de ter recebido uma chamada de Susana, a sua filha de 15 anos. Apesarde a chamada ser sido efectuada do telemóvel da sua filha, quem falou foi

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Matthew que tinha sequestrado e violado Susana e ameaçado Francisco.Depois de os médicos legais e a polícia terem investigado o caso, encontrou-se no local do crime impressões digitais de Matthew no corpo de Francisco.A 1km do local do crime encontra-se o Matthew ferido com Susanaaterrorizada ao lado dele. Susana afirma que Matthew a levou a assistir amorte dolorosa do seu pai onde Matthew o torturou ate Francisco morrer.Felizmente quando o assassino se preparava para fugir, Susana conseguiudisparar e atingi-lo. Matthew foi condenado a prisão perpétua porassassinato, sequestro e violação.

203. HELENA RODRIGUES - OS AMANTES-A Rita ia deixá-lo. –afirmou Daniel. Você nunca aceitaria. Agrediu-a

com o taco de golfe e para confundir as autoridades encheu a banheira comágua do riacho que corre nas traseiras da mansão e manteve-a debaixo dessaágua durante meia hora antes de colocá-la no banco da frente do carro esimular um despiste. O problema, Estevão, é que você lê demasiadospoliciais, mas não aprende nada com eles. Rita não tinha água nos pulmõesporque já não respirava após a agressão com o taco e os vestígios de sanguena arma do crime não desaparecem apenas com água. -Essa cabra andava atrair-me! –gritou Estevão. –Foi o amante dela que a matou! Daniel levou umcigarro à boca, fez sinal para algemarem Estevão e murmurou-lhe ao ouvido:-Posso garantir que não fui eu... Estevão Soares, tem o direito de permanecerem silêncio…

204. HELENA SILVA - O RELÓGIOPerdido no nevoeiro denso e sufocante, Custódio estava prestes a desistir

de encontrar o relógio que tinha perdido há cerca de duas horas, na suacorrida matinal. Do nada, no topo do trilho, uma luz e o som abafado de umamotorizada dirigem-se-lhe em segundos, quase o atropelando. Metros abaixoembate ruidosamente no muro, ficando apenas a luz a apontar para o vazio e osom do motor a trabalhar em falso. Custódio corre até ao local e vê-a caída,prostra-se de joelhos a seu lado e repara, abismado, na enorme mancha desangue no seu peito que ainda respirava a custo. Era a jovem que tinhatropeçado de manhã, também ela correndo e a quem ele tinha dado a mãopara a ajudar a levantar. Nunca a tinha visto antes. Em segundos, ela dá umsuspiro final e abre a mão de onde escorrega o relógio do Custódio.

205. HELENA SILVA - TODA A GENTE ESCONDE ALGO: TODA

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Miss Rose chega a casa depois da sua noite de folga. Ao entrar na sala dacasa onde trabalha como empregada doméstica, depara-se com um jovemmorto no chão, deitado sobre uma grande poça de sangue e com algunscolares e brincos da sua patroa nas mãos, estando o cofre aberto. Ela sabiaque ambos os patrões tinham estado fora nessa noite. O patrão, Adam,médico, estivera de urgência, e a patroa, Maddison, tinha ficado retida no seuescritório de advocacia a ultimar um caso. Spencer, o motorista, tinha ficadosozinho nessa noite. Lembrando-se disto, dirigiu-se ao quarto de hóspedes,onde ele dormia, sempre que ficava sozinho. Este estava sufocado naalmofada. Ao ligar ao patrão, este comunica-lhe que apanhou um voo paraLondres nessa mesma noite, sem mais explicações. Ao ligar à patroa, descobreesta já em casa, no seu quarto, a acordar, dizendo que chegou tarde e nãoouviu ou reparou em nada. O que se passou então naquela fatídica noite?

206. HENRIQUE ARMEZ - SEM TÍTULONa madrugada de 1 de setembro de 2014, James Rowley, proprietário

de um pequeno café em Nova Iorque foi encontrado morto, espetado numaparede a dois metros de altura, com uma flecha, no olho, mas não uma flechacomum, uma réplica de uma flecha utilizada por algumas tribos africanas paramatar elefantes há muitos anos atrás. O investigador foi o segundo agente achegar ao local, onde já se encontrava uma carrinha de transporte decadáveres, ao examinar o cadáver com mais atenção, o médico legista concluiuque a causa da morte não tinha sido o trespassamento da flecha mas simenvenenamento por mercúrio, o investigador falou com o irmão da vítima,que mencionou que o melhor amigo da vítima trabalhava numa fábrica dequímicos, que utilizava mercúrio nos termômetros não digitais. Depois derecolher algumas impressões digitais, confirmou-se que o assassino era omelhor amigo da vítima, que depois de interrogado confessou uma disputapor um item de valor, uma presa de elefante africano.

207. HENRIQUE MATOS - O ÚLTIMO DETETIVEReclinado na poltrona, o ex-detetive Cosworth acendeu o cigarro,

embora com algum peso na consciência. Sabia que o tabaco era proibido eque ser apanhado com um maço resultaria em uma coima alta, mas ele nãoseria incomodado. Estava sozinho no apartamento, tão pouco os seusvizinhos se lembrariam do cheiro. Sentindo-se com coragem, experimentoufazer algo que não fazia em décadas, ler um livro. Apenas técnicos ehistoriadores aprendiam algo tão trivial quanto texto, o resto do mundocingia-se à combinação digital de imagens e números. Não funcionou. O

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movimento de passar as páginas era intuitivo, mas só conseguia ver símbolosindecifráveis. Desapontando, pousou o Schopenhauer na cabeceira e retirou-se para a sua cama: mais um dia na mediocridade da reforma.Deitado, reviaem mente um passado distante, onde o seu trabalho intelectual e o seuconhecimento resolviam crimes, não os cálculos das máquinas. Pela última vezsonhou com os seus dias de glória e cerrou os olhos.

208. HERMINIA CORREIA - A DECISÃOA casa estava em silêncio, nem um som, abriu os olhos e pensou na noite

anterior, a respiração pesada indicava-lhe que ele ainda dormia, o peso do braço dele começava a incomodá-la, teria que o retirar sem o acordar. Quando lhe pegou, ele mexeu-se puxando-a para junto de si, mais uma vez, lhe vieram à memória, as imagens, todo aquele sangue, o cutelo cortando a carne, o cheiro, tinha pouco tempo, respirou fundo e libertou-se daquele abraço que lhe era tão precioso, tinha que agir. Vestiu o roupão, odiava andar nua pela casa, mesmo sabendo que estavam sozinhos, lavou a cara, precisava de acordar, sentia uma amontado de ideias e tinha de conseguir ordená-las enquanto era tempo. Ao entrar na cozinha viu o cutelo, ainda machado de sangue pousado onde o deixara, tinha que apagar todos os vestígios, respirou fundo e decidiu. Nunca mais faria bife na pedra.

209. HUGO OLIVEIRA - MEMÓRIA APAGADAComo podia ele ser assim, frio, cruel? Pensava vezes e vezes sem fim, sem

saber, ao certo, o que tinha acontecido, pois o sangue, a faca... e... o corpo,aquele corpo ensanguentado a seu lado... Eram tudo o que lhe enchia asideias, onde se misturavam imagens turvas da noite passada... quando aconhecera num bar... e, a partir daí era um vazio, nada, flashes fugazes desombras... E de repente acorda assim, neste cenário. Nem tinha como searrepender do que teria acontecido, pois não só não se lembrava, como,principalmente, não sabia, que ao beber a segunda água tônica na discoteca,trazida por uma empregada, estava também a ingerir algo que o adormecesse,e permitisse alguém assassinar, a seu lado, a mulher. Nada disso ele sabia,mas algo teria de saber explicar, aos polícias que se dirigiam ao quarto,alertados por uma chamada anónima. Que iria ele dizer?

210. ÍNDIRA SANT’ANNA - IRONIA DA FIDELIDADEDean foi acusado de matar sua esposa porém Rick não acredita que tenha

sido o marido, pois ele acredita que no verdadeiro assassino e o vizinho

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invejoso que matou a vítima após a mesma ter lhe dado um fora, por ser fiel eamar seu marido. A detetive Kathy não concorda, pois á fortes evidênciascontra o marido Dean como a mancha de sangue no sapato e de seu albi nãoser concreto. Mas Rick sabia que o marido escondia algum, porém não tinhanada relacionado a morte da esposa Cara. -Então nos diga o grande sábioRick o que provavelmente aconteceu com a vítima. “Ironiza Kathy-Doog apósser tantas vezes dispensado por Cara espera pela mesma no estacionamentodo prédio e a mata com uma facada no peito e ao sair do elevado já no seuandar ele esbarra no marido e deixa cair a cota de sangue no sapato. E antesque perguntem o marido tem um caso com o chefe sim ele e gay. Entreinvestigações e testemunhos e novas evidências fica provado que Rick tinharazão.

211. INÊS COELHO - À LUZ DA LUAEra a primeira vez que a observava em ação e não conseguia deixar de

admirar os seus movimentos, graciosos e precisos, que evidenciavam anos detreino e disciplina. Camuflada entre as sombras, ela movia-se como umfelino, silencioso e discreto, alheia ao facto de, esta noite, ser a presa. A infameladra tinha caído na sua armadilha. Pacientemente, o detetive esperou até elaestar suficientemente confiante para baixar a guarda. Cercou-a, procurandosubjugá-la com a sua força. Mas, graças à sua destreza, ela conseguiu libertar-se e correu para a janela. No último momento, ele agarrou-a. E à luz da luareconheceu o par de olhos azuis que tanto amava... Surpreendido, deixou-aescapar dos seus braços. Incrédulo, viu-a a atirar-se pela janela. Ferido,testemunhou a sua fuga. Traído, apontou a arma. E, despedaçado, disparousobre a figura que desaparecia na noite, igualmente destroçada, com lágrimasnos olhos e o nome dele nos lábios...

212. INÊS ALVES - VIOLAÇÃOA história que vou contar foi um sonho que tive. Eu imaginei uma

universidade junto à minha casa. Quando vou para a universidade, vejosempre um grupo, alguns membros andam comigo na turma. Salvador,Carol e Daniel são alunos de mérito, mas metem-se em grandes sarilhos.Não têm cadastro, dá que pensar! Fala-se em casos de violação e até dehomicídios. No meu sonho presenciei uma violação. Dirigia-me para as aulasda manhã, quando ouvi uns ruídos numa área florestal. Gritos. Fiqueihorrorizada. Violavam uma colega. Fui defende-la, queria salvá-la. Agarronum pau e dou uma paulada num dos marginais, assustando-os econseguindo, assim tirá-la de lá. Escorregámos por uma rampa, mas ela

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como estava fraca desequilibrou-se, acabando por cair mal e morrer. Tive pormomentos uma sensação agradável, mas acabou por se tornar um terrívelpesadelo. Chamava-se Mia, era da minha turma. Isto aconteceu devido a unsassuntos que não foram bem resolvidos entre Salvador e o irmão de Mia.

213. INÊS ANDRADE - O SONHO VOLTARichard Harrison sempre sonhou em ser polícia, mas quando não

passou os exames decidiu tornar-se advogado. Agora tem uma bela casa efamília, e não podia estar mais contente…Até que um dia recebeu umachamada perturbante, referindo que a sua família tinha sido raptada e quetinha 72 horas para desistir do caso relacionado com o quartel chamado:“Blue Vipers”, ou eles pagariam o preço. Imediatamente após esta chamadaligou para o seu amigo Kevin, um polícia, que o poderia ajudar. Depois dediversos telefonemas e varias negociações a polícia conseguiu localizá-los,com apenas 22 horas restantes. Os raptores foram capturados, e um delesacabou por expor quem era o seu líder, que foi condenado a ficar na prisãoaté há morte. E assim, após reencontrar a família, Harrison relembrou-seporque queria ser polícia e desistiu da sua profissão e do seu grande estilo devida para voltar aos treinos.

214. INÊS CAIRES - DETETIVE OCASIONALUm hostel numa aldeia do Sudoeste Asiático. Um morto no quarto 7. A

polícia ainda demorará a chegar. Os hóspedes foram reunidos na sala deconvívio, ninguém pode sair. Alice observa. Os suspeitos do costume,conhece-os a todos... o intelectual que leu todos os guias, o casal denamorados mais interessado em conhecer-se um ao outro do que aquilo queos rodeia, a empregada atrevida, o menino do papá que não tem de olhar agastos, o cromo que continua a dizer piadas! Pergunta aqui, pergunta ali...descobre que James saiu na noite anterior para uma aventura nocturna naselva. Quando chegou, sentia-se indisposto e foi-se deitar. Numa observaçãomais cuidada do corpo, Alice descobre uma mordidela na perna... estavaencontrado o culpado! Estava orgulhosa... sabia que todos os livros de crimee mistério que leu e todas aquelas maratonas de Castle serviriam para algumacoisa!

215. INÊS CORREIA - WILLIAM WHITE AXX:T.JNum dia frio de Inverno, um homem chamado William White foi

assassinado.O seu corpo foi encontrado num quarto de hotel de 5 estrelas em

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New York. A autópsia mostrou que William foi envenenado. Eu e o meuparceiro fomos à casa do senhor William e encontramos cartas de ameaçasassinadas como T.J. Eu e o meu parceiro falamos com a mulher, a empregadae ninguém sabia quem poderia ser T.J. Quando fomos à sua empresa,empresa de modelos, falamos com a sua secretária, ela disse que havia umamodelo chamada Tiana Jones, nós fomos falar com essa modelo e o álibi eraseguro, ela tinha estado num desfile. No final a secretária escreveu as cartasassinando T.J para incriminar a Tiana mas tudo a mando da mulher, a mesmairia herdar uma fortuna de 10 biliões de euros.

216. INÊS COSTA - O CÓDIGOBernardo já estava acordado quando o seu telemóvel tocou. Uma mulher

foi encontrada morta na Serra de Sintra. Apressou-se para o local do crime,onde se encontrou com Clarissa, a sua parceira. Descobriu-se que a mulhertinha sido esquartejada e pregada a uma árvore. -Morte violenta… -comentouClarissa ao observar o corpo com olhar atento. –O nome dela era RubyTalbot, 35 anos e é de Dublin, na Irlanda. Já na morgue, o doutor Torresconfirmou aos agentes que a causa da morte tinha sido de perda de sanguedevido aos múltiplos ferimentos infligidos na vítima. Ao analisarem ospertences de vítima, os agentes depararam-se com um colar bastante peculiar.Tratava-se de uma mini-matrioska. O que levantou suspeitas a Clarissa sobrea verdadeira identidade de Ruby. Desconfiada, pegou no objecto e reparouque a pequena boneca se encontrava desalinhada. Decidiu abri-la e no seuinterior encontrou um código...

217. INÊS CORADINHO - O LAGO DO MOTEL“Vou morrer”, foi o último pensamento de Anna. Matilde e Anna são as

atuais proprietárias do Motel Lucky. Enquanto caminhava pelos corredoresvazios, húmidos e ligeiramente assombrados, Matilde pensava para consigoque de “Lucky” este lugar não tinha nada, mas estava na família há décadas, epor qualquer razão ainda tinha hóspedes para se manter em funcionamento. -Anna! –grita Matilde. Há três dias que a procurava, mas a errática irmã maisnova devia de estar outra vez com o imbecil do namorado. Decide então voltarpara o balcão da entrada. Temos novo hóspede. É um homem novo, cerca de30 anos, bem vestido e extremamente bonito. Está encharcado devido à chuvatorrencial que se deixa ouvir pelas velhas paredes. Trás consigo apenas umapequena mala e, de sorriso nos lábios que não lhe chegam aos olhos, apenaspergunta: -Acha que o lago vai encher esta noite?

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218. INÊS COSTA MAIA - NA PENUMBRA DA NOITEUma figura imóvel e solitária era visível na doca. O ar frio da noite

transformava-se à volta dela, tornando-se denso com o fumo do cigarro. Acidade observava os seus movimentos, silenciosa e alheia à crueldade queempestava as ruas. A detetive conhecia a realidade melhor do que ninguém edepois de muitos anos a investigar o submundo urbano pensava já estarimune a tudo. Estava enganada. E o corpo na bagageira do seu carro provava-o. A maresia tornava os seus pensamentos mais claros e desprovidos detemor; cada minuto trazia consigo um novo plano e, acima de tudo,determinação feroz. Ela ia descobrir quem a tramara e essa pessoa teria à suaespera a implacável força letal do revólver que segurava na mão direita.Sentou-se ao volante e com essa resolução em mente arrancou com alarido,desaparecendo na noite tão misteriosamente como uma raposa numa florestasombria.

219. INÊS DIAS - ISABELLA CARTERHomicídio no Central Park. Isabella Carter, uma advogada de sucesso

foi morta com um tiro à queima-roupa. Depois de muita investigação e dealgumas teorias descabidas de Rick, descobrem que a assassina é a filha davítima, Penny. Quando Kathy lhe pergunta o motivo, Penny diz-lhe que amaverdadeiramente o seu pai e que assassinar a mãe era a única maneira de elespoderem ficar juntos. Mais tarde, depois do jantar, Rick confessa a Kathy queconhecia Isabella, de uma convenção a que esta foi para obter o seu autógrafoe que depois ficaram amigos, embora já não se falassem há muito. Kathyconfessa que apenas a conhecia pela reputação de “justiceira” que a precediaem todos os tribunais por onde passada e pela fama que tinha do trabalho probono que Isabella fazia, ajudando os desfavorecidos e trazendo justiça às suasvidas.

220. INÊS MARTINS - DESAPARECIDOTrilililili, trililili, trilililili.. O som do telefone acorda Joana. -Sim. -Bom

dia, fala da Polícia Judiciária, gostaríamos que comparecesse na esquadra omais rápido possível, é sobre o seu amigo João Henriques que desapareceu amadrugada passada. -Já sabem alguma coisa? -Preferíamos falar consigopessoalmente. -Vou já para aí! Joana desliga o telefone e salta da cama, veste-se em 5 minutos, pega no casaco, agarra na sua mala e porta fora. Apanha oautocarro logo à porta de sua casa, todo o caminho até à esquadra nãoconsegue sossegar, tem um mau pressentimento. Chegada à esquadraprocura logo a inspectora que está a trabalhar no caso. -Bom dia! -Bom dia,

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Joana, não tenho boas notícias para si. Encontramos o corpo do seu amigona beira da estrada, ao pé da estação de serviço de Santarém, acreditamos quese trate de um assassino em série que temos andado a investigar, tinha asmesmas marcas, uma cruz na testa. Sei que é difícil para si, mas precisávamosque o identificasse.

221. INÊS NUNES - SEM TÍTULOAcordei com um grito horrendo. Olhei para o lado e vi que o meu

marido não estava lá. Levantei-me rapidamente mas congelei ao ouvir umnovo grito. Era uma voz feminina. Um pedido de socorro. Instintivamente,avancei para a porta. A luz do escritório estava acesa. Aproximei-me da porta eempurrei-a. Estava a dar um filme de terror. Suspirei aliviada. A origem dosgritos estava explicada. Apaguei a televisão e regressei ao quarto. O Tomestava na cama. Sempre admirei a sua capacidade de adormecer quaseinstantaneamente. Puxei os cobertores para o aconchegar e foi aí que reparei.Tinha os braços totalmente arranhados. Os gritos vieram-me à memória.Eram femininos mas a vítima do filme era um homem. Algo de muito gravetinha acontecido. Peguei no telefone para ligar à polícia mas senti o braço delea agarrar o meu violentamente. As suas palavras gelaram-me o sangue:“Ninguém pode saber”.

222. INÊS PAULINO - QUEM MUITO QUER, MUITO PERDEO sol estava quase a atingir o seu clímax quando o corpo cadavérico deu

à costa. Levaram-na para a morgue. Chamava-se Carolina e estava grávida deseis semanas. Entrevistou-se a melhor amiga, Emília. Esta impossibilitou ofacto da amiga estar grávida pois afirmava que esta nunca tinha tido relaçõessexuais. Após alguma investigação descobriu-se que Carolina estava anamorar secretamente com um miúdo problemático que conhecera no verão.Fora ele que a engravidara. Estavam apaixonados, dizia ele, iriam criar acriança juntos. No final descobriu-se que quem a matou foi a própria mãe,uma mulher amarga e falida financeiramente. Achava que a filha seria a suasalvação, mas quando esta lhe contou que iria desistir da escola para criar obebé a mãe não aguentou. Drogou-a de modo a ela ter um abortoespontâneo, no entanto, a concentração de droga foi tão elevada que Carolinaacabou por falecer de hemorragias.

223. INÊS POLÓNIO - SEM TÍTULO“Sim, estou ansiosa por te conhecer”, foi a resposta que ela me enviou

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por mensagem privada. Olhei para a foto dela no computador e senti umfrenesim de excitação. Tão linda, tão pura nos seus 15 anos, talvez um poucomais velha do que estava habituado, mas aqueles olhos atraiam-me comonenhuma outra alguma vez tinha feito. Comecei a preparar tudo, levei todosos meus instrumentos para a cave e coloquei os plásticos no chão e na mesa.Estava a acabar quando a campainha tocou. Subi as escadas, abri a porta e derepente tudo escureceu. Quando acordei não me conseguia mexer. Tinha ospulsos e os tornozelos amarrados à mesa que tinha preparado para ela. E elaolhava-me, com aqueles grandes olhos azuis e um sorriso que crescia amedida que via o pânico na minha cara. Levantou o bisturi e disseme, comoum convite –“Vamos começar?”...

224. INÊS TOMÁS - SANGUE E VENTONuma noite sombria, ouviam-se mil e um barulhos, sabia-se que não

eram do vento, mas eram como um gemido de socorro; um jarro caiu,ouviram-se tiros; depois um silêncio total. Alguém naquela casa tinha sidomorto, não se sabe quem vivia ali, apenas passava ali durante a minha corridanocturna e decidi entrar, confesso que morria de medo. Rastos de sanguepelo chão fora, uma mão manchada na parede, uma nota de resgate que dizia“Não ligues à polícia, senão mais um jarro partido e mais um gemido queacabará no silêncio”; seguia os rastos de sangue, encontrei a cena do crime,um corpo desfeito em sangue, uma arma ao seu lado. O homicídio foi feitopara ser descoberto ou apenas por vingança, investiguei por mim. Umapresença estava naquele lugar, sentia-a. Olhei para trás e fugiu, corri para aencontrar, mas ela sumiu como o vento. Falhei a missão.

225. IRIS OLIVEIRA - O DRENAR DA INOCÊNCIAA casa enchia-se de gritos, vidros estilhaçavam-se no andar de baixo, era

o meu pai a bater na minha mãe. Desci na tentativa de fugir a tudo isto, saipelas traseiras, na casa em frente à nossa, uma mulher olhava para mim comum olhar intenso. Nunca tinha falado com ela, mas ao voltar ao fim do dia, elaestava na sua varanda, e, ao olhar para mim, falou-me pela primeira vez. -Ascoisas vão melhorar. Levei as suas palavras como um simples gesto deconsolo para um rapaz cuja vida não era normal, mas, a minha inocência nãome deixou ver para além das verdadeiras razões. Vivendo mais um dia do meuinferno pessoal, voltei para casa na esperança que tudo tivesse mudado, eacertei. Ao entrar em casa deparei-me com o corpo dos meus pais paismortos no chão, as suas bocas abertas num grito silencioso de socorro.Virei-me para fugir, mas ela estava aqui, a minha vizinha. -As coisas vão

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melhorar, mas tu estás sozinho. Esfaqueou-me, acabando com a minhasolidão, livrando-me do inferno.

226. ISA AFONSO - ATRAVÉS DAS PERSIANASVia-se através das persianas abertas a escuridão da noite, mas naquela

cozinha, ninguém olhava pela janela. Marco, o que dava as ordens por ali,acendeu um cigarro, e num silêncio calculado, olhava o homemensanguentado sentado à sua frente. Toda a cena é obscura: o plástico queprotege o chão, as ferramentas acabadas de usar que sujam a banca, oshomens que assistem quase com sorrisos nos rostos, e por fim, o homempreso e amordaçado que já percebeu que o seu destino foi traçado e que jádesistiu de lutar. Marco exala o fumo do cigarro terminado e pega na armafatal. Leva o seu tempo a saborear aquele momento, a sentir a vingança, ajustiça que está a ser feita naquele instante. Coloca-se atrás da cadeira dohomem que tanto o fez sofrer, respira fundo enquanto levanta os braços e nãohesita nem por um segundo. Já está.

227. ISA FERNANDES - O ROSTO DA INSANIDADEA Rainha de Espadas caminhava na floresta, carregando uma longa

espada, cortando tudo no seu caminho, perseguida por um trilho sangrento.Apanhada na profundeza dos bosques, não fosse pelo encarnado rasto,ninguém pensaria que ela alguma vez existiu. A Rainha de Ouros era adoradae amada por todos. O seu reino coroou-a como a mais bela jovem. Parasempre queria governar, atormentada por um sonho demente, a jovem, umavez linda, era apenas um cadáver hediondo. A Rainha de Paus era uma criançafrágil. A sua mão artística criava mundos de loucura, juntando dezenas à suavolta, envoltos nas suas falsas fantasias. A loucura tomou posse dela enquantoo sangue pintava o novo quadro. Uma vez apreciada por todos, esta Rainhafoi esquecida... A Rainha de Copas será levada pela curiosidade, explorandodemasiadas portas. A dupla de detetives, envolta na paixão disfarçada, nuncairá encontrar o verdadeiro Rosto da Insanidade.

228. ISABEL CARVALHO - VIDAS DESFEITASPedro, um trabalhador modesto, apaixonou-se pela bela Maria, mesmo

contra a vontade da cigana. Presságio do amigo José e tia, decidiram casar-seum dia, e com o auxílio da família reconstruir uma assombrada moradia.Bilhetes de ameaças chegavam: “Está na hora da facada, abandonem aregião…”. Apareceu Madalena do nada, investigadora de profissão.

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Entretanto, a valiosa jóia foi roubada por entre a escuridão, só as paredespresenciavam o terror naquela mansão. Maria, com a felicidade adiada,enquanto a inspectora lhe consola a emoção. A cigana foi assassinada quandodescobriu a verdadeira razão. Mesmo perante a história o casal não esconde afelicidade. Decidiram apagar da memória toda esta adversidade. União peloamor numa eterna amizade. Maria aparece envenenada. Pedro fica semcoração, mas rapidamente foi trocada pela família de eleição: Madalena, onobre filho e o viúvo estão ricos desde então, mas no final desta cilada não éque é mesmo ele o ladrão?...

229. ISABEL PIMENTA - A BIFANA DA MORTECarla contemplava o seu marido enquanto este se deliciava com a sua

famosa bifana, acompanhada de uma bela cerveja fresca. Mal ele sabia que oveneno dos ratos se entranhava vagarosamente no seu organismo… Primeiroseria uma acutilante dor de estômago, uma penetrante dor de cabeça, um baterforte do coração, dificuldade em respirar e, finalmente, a morte! A libertaçãotão desejada para Carla. O vestido preto já estava lavado e engomado, e otelefone do armador ali mesmo à mão de semear. Provavelmente seria presa,inevitavelmente. Mas os seus dias de sofrimento às mãos daquele miserávelestavam prestes a terminar: acabariam as palavras, os gestos e os pensamentosque a haviam torturado ao longo deste inferno a que chamavam casamento eno qual havia prometido ser fiel até que a morte os separasse – e eis que essemomento havia chegado! Só mais uma dentada… e o suspiro final!

230. ISABEL RICA DE FARIA - JOÃO E MARIACansada de ser assediada, a Joana vestia-se de homem, inventava um

timbre de voz, e passava horas no bar. Ali, era o João. Bebia e conversava como barman, liberta da prisão feminina. Naquela noite, a Maria veio sentar-se aseu lado. Curiosa, Joana deixou. Afinal, faria parte da experiência.Conversaram inebriadamente e saíram. No bar, a música de fundo deixououvir os gritos que vinham da rua. Quando a polícia chegou, a Maria estavaferida no rosto pelo canivete caído. No seu papel, Joana mantinha-se inerte.Antes de sentir as algema, ouviu a Maria dizer ao agente que ela própria setinha ferido, numa tentativa de chamar a atenção do João, que a desprezava.Assim que se viu no seu quarto, Joana despiu-se, vestiu a camisa de noite edeitou-se a chorar. Em casa, Maria tratava a ferida, enquanto recordava a rir,o momento em que tentara violentar o rapazinho inexperiente. Tirou a perucae a roupa, e escolheu o pijama que tinha o seu nome gravado: “Mário”.

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231. ISABEL VERISSIMO - AMOR DE FILHA“Será que poderia ter sido de outra forma?” questionava-se. Barrou

manteiga numa segunda torrada, ao mesmo tempo que deitou um olhar aocorpo inerte no chão da cozinha. Bebeu mais um gole do leite com café elimpou a gota de sangue que notou na blusa. “Olha, sujei quando medebrucei para ver se ainda respirava!”, justificou-se. Tinha pena, muita penamesmo, “as coisas não deviam acabar assim, as mães fazem sempre muitafalta”. Ouviu uma sirene, o que a deixou desconfortável. “Não eles não têmcomo saber!”, ouviu-se a dizer, “eu não fiz barulho algum!”. Mas, logo o somestridente da campainha se repetia e a figura de um agente era visível atravésdo vidro da porta da rua. Sentiu o característico odor do seu suor. O lábioinferior tremeu. Já não dominava a situação. “Vai-me custar tanto acabar comele”.

232. IVA FARDILHA - UM DIA EM PERASNuma manhã ao sair de casa para ir para escola, reparei numa carrinha,

que estava junto á minha casa com mau aspecto. Reparei que estava vazia, fuipara as aulas como um dia normal. Quando cheguei a casa ainda lá estava.Entrei em casa, fechei as portas, claro fiquei com medo. Entretanto vi umhomem com mau aspecto a entrar no carro, comecei a tirar fotos e segui-o atéa uma fábrica velha, informei um amigo que ia segui-lo, disse-lhe o local paraque se acontece-se alguma coisa em meia hora informava a polícia. Haviacinco homens que eram traficantes droga. Escondi-me e fui deixando pistas,caso acontece-se o pior. Avisei o meu amigo que logo contactou a polícia.Consegui transmitir a minha localização através do meu telemóvel para que omeu amigo, informa-se a polícia de tudo que acontecer. Estavam prontos parafugir veio a polícia e ficou tudo bem fiquei mais tranquila.

233. IVANILDO TAVARES - VIVER PARA MORRERUm dia nasci um dia ei de morrer. O meu maior medo é de descobrir o

segredo da vida, vivo um dia de cada vez sem pensar no dia seguinte, porquenão sei se ela existe. A minha vida pode parar no mesmo dia em que eu nasci,posso acordar para vida mas não sei se a vida vai acordar para mim. O melhorda vida é de graça. Será que para além da vida existe uma nova vida? Possomorrer hoje e fico sem saber se valeu a pena viver esta vida. Nesta vida aindanão sei se devo ou não revelar o meu maior segredo! O segredo da vida?Vida? E para além da vida?

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234. IVO SIMÕES - UMA RECEITA AFIADAUm chefe de cozinha foi encontrado morto no parque por duas

estudantes. Não havia qualquer sinal de luta, para além da faca de cozinha, quetinha espetada na barriga. Kathy e Rick chegaram e este identificou-o comosendo Robert Hall, um chefe famoso. Após a análise, constataram que a armado crime tinha as impressões digitais de Daniel Thompson, um chefeadversário. Após ser interrogado este apresentou um álibi e foi libertado.Falaram com a equipa do restaurante, descobriram que o sub-chefe planeavaacabar com a carreira de Robert, drogando-o com anti-depressivos, e que foiameaçado por um blogger que alegou que Robert roubou as receitas deCarol, esposa do mesmo. Ambos tinham álibi e foram liberados. Foram atécasa de Carol, para a confrontar, e apanharam-na de saída, carregada commalas, dinheiro e um bilhete de avião. Prenderam-na e esta confessou quesentindo-se usada e enganada matou o marido.

235. IVONE BARBOSA - PENDURADA PELA CRUZDo meu quarto vejo que é noite de lua cheia, ouço o vento a bater nas

folhas e após um minuto, silêncio. Sempre gostei do silêncio, a forma comotorna o mundo tranquilo. Tranquilo, penso eu. Ou talvez não. Um barulhomonstruoso, um grito estrangulado surge logo a seguir. Vejo um corpo serarrastado e eu rapidamente a tentar alcançá-lo. Nada, o vento que regressoulevou-o. Sento-me no passeio e tento perceber o que vi. Um corpo, um gritode morte ou apenas o vazio. O sol finalmente nasceu e eu continuo no mesmolugar, desamparado. Fecho os olhos e vejo o corpo, a forma como foiarrastado e a marca que deixou para trás, a forma do seu corpo manchadocom sangue. Olho para o céu e por fim vejo o corpo, por cima de mim, umapobre mulher enforcada, com as mãos unidas e a segurar um crucifixo.

236. JAIME SOARES - MELODIASO grito naquele entardecer outonal surpreendeu John Smith. John,

transtornado, apagava “sms” da sua namorada, agente da relação disfuncional.John, envergando “jeans” deveras “cool”, ainda repetia para si próprio, a doismetros do “Majestic”, “outro emprego incerto…”. Um grito de mulher,parecendo um copo a raspar em superfície com “feldspato”, fazia sobressairnotas duma música de piano, em culminância. A porta abrira-se sob lânguidogesto. Uma mulher de vestido azul, acessórios brancos, cambaleava para fora,mão esquerda no peito, vómito ensanguentado. Súbito, cai no chão. O meiocigarro, formas singulares, cai das mãos brancas, juntando-se à pequena poçade sujidade e chuviscos. O olhar fixo da mulher parecia ferir, qual tesoura

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têxtil, a razão de John. Acotovelando-se, pessoas assediavam aquela cena demorte. John, perto de Anton Hill, gerente, e do pianista André Júnior, emvirtude do que tomava para si, via uma mulher morta: desconhecida, musa emsangue, desconhecida.

237. JANICE JÁCOME - A JÓIA DESEJADALeonardo trabalhava arduamente a criar uma jóia única, mas não

imaginava que estava prestes a encontrar uma ainda mais formosa, Camila; elaaceitou ser a modelo da peça. O dia da exibição os assistentes depararam-secom uma cena tão macabra quanto a vida daquele homem. Na vitrine a jovem,apenas a usar o colar; mas havia um detalhe, as duas esmeraldas que faltavam àjóia substituíam os seus olhos. Ao pé do corpo Leonardo, ensanguentado edesorientado. Há vinte anos a sua mãe o trocou por um colar que ele nuncaesqueceria; desde então o seu objetivo foi fabricar aquela peça. A sua menteretorcida idealizou à Camila como a mulher que tanto dano lhe fez, mastambém como aquilo que sempre desejou, a própria jóia. Leonardo a feriu atéa morte, usando as ferramentas com que fabricou a peça; ao fim, era um dianormal de trabalho no atelier.

238. JÉSSICA INÁCIO - INCONSCIENTE(MENTE)Afonso não resistiu à cirurgia a que acabara de ser sujeito. Mais um dos

19 casos já detectados no Hospital Centro: pacientes estáveis, mortescirúrgicas repentinas, autópsias inconclusivas. O inexplicável começava agoraa ganhar destaque nas conversas dos corredores: uns lançavam para o ar apossibilidade de alguém andar a matar os pacientes, outros desvalorizavam. Adúvida e desconfiança permaneciam. As únicas certezas? Alguém começava aficar seriamente incomodado e a segurança daquele mundo hospitalar estavaameaçada. O Dr. Couceiro, neurocirurgião, não parava as suas investigações,desde há 7 anos, em vão até à data, tentando encontrar explicações para taismortes misteriosas. Interromperam-no esta noite, quando também ele foiinternado naquele hospital, tendo sido encontrado morto no quarto. Nosseus pertences descobrira-se um apontamento com aquilo que se veio adesvendar ser a ligação entre todas as vítimas. Terá ele assinado a sua sentençade morte ao querer apurar a verdade?

239. JÉSSICA SILVA - PERIGO OCULTONathan de 37 anos, dono de uma empresa de produtos químicos,

disfarça-se de técnico de eletrodomésticos e dirige-se a casa de uma senhora.

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Amy era loira, esbelta e mãe de dois filhos. Estava sozinha em casa, num diachuvoso até que ouve a campainha. Era um homem simpático, alto e comuniforme de uma empresa de eletrodomésticos. Após ver o uniforme,convida-o a entrar. Adam finge conferir os eletrodomésticos e pede parautilizar a casa de banho. Amy encaminha-o e aguarda na cozinha, até que ouveNathan a chamar, pois a casa de banho está cheia de espuma. Ela ficadesconfiada pois aquilo não acontecera à 10 minutos atrás. É então queNathan a puxa violentamente para dentro da casa de banho, viola-a e acaba pora matar. Duas horas depois, despeja o corpo no mar, para que todas asimpressões digitais sejam irreconhecíveis.

240. JÉSSICA SOFIA GASPAR RODRIGUES - A MORTE DO MEU PAIPassado uma semana depois de o meu pai ter sido encontrado morto

naquele penhasco, Sally, a minha mãe, ainda se fecha no quarto a chorarquando o inspetor Dickson lhe pergunta se houve alguma discussão quetivesse feito o meu pai saltar do penhasco. Mas a minha mãe não acredita nosuicídio do meu pai, ela sabe que alguém o empurrou, o matou, e eu tambémpenso assim. Na noite em que o meu pai morreu eles discutiram e ele saiu,mas Sally ficou trancada no quarto a noite toda e eu sou testemunha, eu cuideida minha mãe depois da discussão. Decidi investigar o penhasco sozinho e,nessa noite, fui até ao penhasco. Foi difícil pois nunca tinha lá estado depoisda morte do meu pai mas tive forças e comecei a olhar em meu redor.Quando pensei que não ia encontrar nada vi um pedaço de bombazine eguardei a prova comigo. Sabia exactamente a quem pertencia, ao inspetorDickson, no dia seguinte confrontei-o e ele confessou tudo. Tinha-o feitopara poder ficar com Sally. Ele matou o meu pai.

241. JOANA ABREU - DENOMINADOR COMUMO amanhecer foi sereno. A tempestade da noite anterior não antevia um

novo dia tão azul. Os raios de sol atravessavam as cortinas mal fechadas. Aclaridade fez com que despertasse mais cedo. Apesar do corpo pedir maisdescanso, levantou-se e caminhou para a janela. O nevoeiro cerrado e achegada atribulada de ontem não permitiram contemplações do espaçoenvolvente. Abriu as portadas, deu alguns passos em frente e debruçou-sesobre o parapeito da varanda. Finalmente, conseguia respirar. Contemplou avista panorâmica, onde o verde da vegetação pintava também o rio que estava apoucos metros. Por momentos conseguiu esquecer o Mundo. Atranquilidade do momento foi quebrada com um só tiro. Certeira. Não estavasegura como Afonso pensou. As pernas perderam o equilíbrio e o corpo caiu

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morto no chão. Horas depois, Ele chegou. A ausência de luz confirmou opior. Duas mortes em menos de 48 horas e um único denominador comum:política.

242. JOANA ALVES - A OBSESSÃO DE NINGUÉMQuando a viu, estendida no chão, tez pálida e olhar vazio, recordou a sua

frieza e desinteresse perante a banalidade da vida. Poderia ter sido a sua filhaadolescente a apunhalá-la por nunca lhe ter dirigido um olhar em que nãomostrasse desdém ou indiferença, mas tinha um álibi sólido. Ou um qualquercolega seu de trabalho devido às inúmeras vezes que fora espezinhado. Ou oex-marido, com o qual atravessara um divórcio tumultuoso e a quem agorainfernizava a vida, tendo chegado a ir buscar o filho de três anos fruto donovo casamento à escola apenas para testar os seus limites. Sim, iriam culpá-lo a ele, tinha motivo e oportunidade. Nunca se lembrariam de si, o invisívelpequeno homem que a seguia para todo o lado, farejando a sua malvadez eindiferença, obcecado pelo seu cheiro mas sem qualquer ligação, semnenhuma história que os unisse. Sorriu, penteou-lhe o cabelo pela primeira eúltima vez e deixou os seus olhos abertos, vazios como sempre haviam sido.

243. JOANA ANTUNES - SEM TÍTULOO assassino tinha a certeza que se tinha safado. Tinha feito de tudo para

não ser apanhado; até se tinha livrado da roupa daquele dia. No entanto, issonão explicava a arma que tinha apontada ao seu rosto e a forma como a políciagritava consigo e lhe perguntava se entendia os seus direitos. Não entendia.Tinha sido tão cuidadoso. Doze horas atrás. Podia ser um jantar como tantosoutros mas este era diferente. Era especial porque a rapariga era diferente eespecial. Era tudo o que ele queria e tão depressa se transformou em tudoaquilo que ele desprezava. Bastaram alguns minutos para se ausentar da mesae ouvir a sua conversa com uma amiga. Era um jantar de pena. Vingou-se.Em apenas alguns segundos tudo tinha terminado. Já não era um jovemanónimo entre outros. Era um assassino e tinha cometido o pior erro detodos: ser apanhado.

244. JOANA DA SILVA - UM TIRO NO ESCUROFinalmente estava ao encalço do famoso serial-killer mais procurado na

Europa. Tal era o entusiasmo que decidiu não esperar pelos reforços e seguiunuma perseguição por conta própria. Chegado ao parque de estacionamentodo luxuoso edifício de apartamentos, subiu o elevador e tocou à campainha.

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Quando abre os olhos não consegue perceber onde se encontrava nem selembra de como fora lá parar. Foi então que começou a reparar nasarrepiantes “obras de arte” expostas pelo gigantesco armazém e percebeu quefalhara na sua missão. Frente a frente com aquele ser abominável, não pensavanoutra coisa a não ser conseguir solta-se e neutralizá-lo de alguma forma.Após muita luta conseguira soltar-se partindo em direção ao seu inimigo.Bang! Silencio… Apenas se ouvem as sirenes ao longe e o som dos trovõesda tempestade que se começa a formar, tudo fica negro, tudo acabou.

245. JOANA FERREIRA - A ESFERAUma manhã em Nova Iorque, o Edson estava a correr e de repente ouve

gritos e para, ele espreitou por detrás de um carro ele viu um homem comuma arma e a espancar um homem com uma mala o assasino espancou nabarriga e na cabeça até ele morrer e depois ele cortou-lhe a mão paraconseguir tirar-lhe a mala. Quando o assassino desaparece ele chama apolícia, o Jackson e a Emilly chegam ao local do crime, a vítima chamava-sePatrick, trabalhava numa empresa de segurança, ele estava aguardar umartefacto antigo mas no corpo da vitima tinha um vestígio de carvão dosantigos comboios, no cual levou Jackson a ir ao sítio onde se guardava osantigos comboios. O Jackson tinha razão estava lá a mala com uma esfera comuma inscrição antiga, no momento que Jackson pega na esfera e aparece umhomem com uma arma e aponta para Jackson. De repente ouve-se um tiro foia Emilly que disparou contra o homem que tinha assassinado Patrick. E aEmilly ve que ele esta vivo e foi preso.

246. JOANA FIGUEIREDO - CHUVA ASSASSINAChuva, para muitos um drama, não para mim, simplesmente adoro uma

boa chuvada... - Mas porquê agora? Agora que está na hora de sair, odeiochuva. -Não tem mal nenhum.... - A não ser ficar encharcada até aos ossos,diz-me que vieste de carro. -Sim, toma amor do meu coração podes leva-lo-.-És um amor. -Sim, mulher minha também te amo, quem chegar primeirovai aquecendo... -Até já. Filipa espera. -Sim, diz lá. -Foste emprestar-lhe ocarro, podes vir comigo-oferece a voz. -Se quisesse ir de carro não o tinhaemprestado. -Qual é tu sabes que queres, vá eu levo-te -insiste o colegaagarrando-a. -Larga-me, já te disse que não, nem pintado de ouro te quero -empurra-o. –Filipa, tu vais ser minha. -João Lopes? Polícia: esta preso pelohomicídio de Filipa Martins, vamos, mãos atrás das costas. -Ela teve o quemerecia, ela nunca quis saber de mim, mas foi tão fácil fazer com queescorrega-se e bateu com a cabeça. -Anda que agora vais ter muito amor lá

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dentro e vais ver chuva.

247. JOANA GERALDES - O DIÁRIOEncontramos um diário na cave do homicídio. A vítima, Saraiva, relatou

a sua vida nesse diário. sofria de violência por parte do marido. Tudo indicavapara suicídio: arma na mão, bilhete de despedida. Não admiraria, dada a vidaque ela tinha; mas havia algo que que não batia certo. “Vivo com medo domeu amor”. Parecia suicídio mas eu continuava intrigada. Mandei analisar aarma, procurando impressões digitais ou algo que me ajudasse a perceber oque teria acontecido realmente. Apenas se encontrou um tecido, talvezpertença ao assassino que procuro. O marido viajava com o filho durante estamorte. Falamos com o jardineiro; parecia nervoso com a morte e afirmouodiar o marido e gostar da mulher! Mandei analisar o bilhete mas e a letranão correspondia ao diário. Suspeitei do jardineiro, tinha motivo: amor nãocorrespondido; e o tecido encontrado. Confrontei-o e admitiu, chorando,que a tinha protegido.

248. JOANA GOMES - DARK NIGHTO sino da igreja dava as doze badaladas, uma brisa corria, um gato preto

passava. Junto a mim caminhava Sky, o meu cão. Sente-se uma brisa maisforte, Sky delira, ladra afincadamente a algo que, para ele, estava ali mas paramim não! Continuava eufórico e com medo ao mesmo tempo, e eu empânico! O que estava ali a perturbá-lo e eu não via? Estava longe de casa, a trêsquarteirões... Um vulto passa por mim! Desato a correr, oiço passos atrás denós! Sky, para, como se tivesse sido interceptado! Paro com ele, com aspernas a tremer. Oiço uma badalada ao longe, passos de algo que seaproxima... Uma capa preta, olhos escondidos, uma voz suave ao ouvido asussurrar-me: “És tão único mistério, sê o meu crime esta noite!”. Numsegundo, debaixo daquela capa, num único voo, todo o medo e desesperodesapareceram para sempre!

249. JOANA LOURENÇO CARMO - COMO SERIA...Eras perfeita. Os teus cabelos doirados que batiam no ombro, os teus

lábios macios, lisos, puros, do mais puro que alguma vez teria sentido. Umolhar profundo, cheio de vida e de força, com um traço preto que embelezavaessa tua pele pálida e firme. Vestida como uma rapariga que saíra dos anosoitenta e caíra aqui, neste mundo sem sentido. Cheia de vida, de alegria e deuma paixão imensa pelo mundo, mas... Com um simples golpe fatal, tudo

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isso eu vi sair de ti, tão devagar como a lágrima que percorreu o teu rostoarrefecido, enquanto deslizavas pelos meus braços. Nesse momento, tempoera tudo o que eu queria e pedia. E de repente, caíste no chão e percebi. Eranaquele beco escuro e frio, que te devia deixar e fugir. Fugir sem olhar paratrás, sem pensar como seria se me tivesses amado.

250. JOANA MAGALHÃES - SEM TÍTULOQuando finalmente relaxou os músculos das suas mãos, ela apercebeu-se

que quase não as sentia. Inspirou fundo enquanto experienciava a tão esperadaonda de adrenalina e abriu os olhos em contemplação. Por baixo dos seusdedos, viam-se manchas vermelhas num pescoço pálido e delgado querapidamente mudariam de cor com o eventual assentar do pallor mortis. Elasabia. Acontecia sempre da mesma forma. Horas depois, ela voltou ao parque.O sol brilhava, radiante, e pássaros cantavam como se algo terrível não setivesse passado naquele lugar. Várias pessoas tentavam aproximar-se docadáver para verem melhor. A morte, perversa na sua essência, apelava àcuriosidade humana. Ela sabia disso melhor do que ninguém. Mordeu olábio para evitar um sorriso e, de queixo erguido, aproximou-se do primeiroagente que viu, que elevou a fita amarela que envolvia a cena do crime paradeixá-la passar. -Bom dia, inspetora.

251. JOANA MARTINS - NAQUELE BECONaquele beco, lá estavam elas, duas raparigas com os seus minivestidos e

muito bem aperaltadas para a vida noturna. Tinham acabado de chegar à portado bar, onde iriam beber algumas bebidas exóticas. Entraram pelas traseiras,quando algo se mexeu no meio dos caixotes do lixo! Contudo, apenas se virauma sombra, uma sombra assustadora que as fez recuar três passos e ficaremimobilizadas. Pensaram que era apenas um animal com fome, e foi quando eleapareceu, o Homem da meia-noite! Vinha com uma roupa escura e uma capaa condizer, na cara uma máscara que mostravam os olhos, na sua mão direitasegurava uma espada brilhante que reluzia à luz da lua. Eles olhou-asfixamente e de uma vez só abriu-lhe as gargantas e rasgando a carótida.Esvaíram-se em sangue logo naquele instante, já não havia nada a fazer! Doisdefuntos ficaram perdidos naquela viela sem explicação aparente.

252. JOANA MENESES - SEM TÍTULOAbriu a porta bruscamente e encontrou o suspeito morto sob a mesa de

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interrogatório. Nolan estacou, atónito, e remexeu atabalhoadamente nas suasmemórias. Estava convicto de que era aquele o culpado: estava na posse daarma do crime, não tinha álibi e o móbil era mais do que evidente. Junto àombreira da porta, Nolan estava envolto numa nuvem de incertezas. Afinal,nada era evidente. O discurso implacável que preparara resumira-se a umbreve silêncio desnorteado e as perguntas fê-las a si próprio: Ter-se-iasuicidado? Será mais uma vítima? Aproximou-se do cadáver ainda algemado eretirou-lhe das mãos um pequeno pedaço de papel velho. Desdobrou osvincos cuidadosamente, acertou os óculos na cana do nariz, e leu asminúsculas letras: Farás dos teus suspeitos as minhas vítimas, parceiro.

253. JOANA PINHEIRO - ROYALTY“Tudo o que preciso de saber é se estás dentro ou fora”. Tudo começou

com uma pergunta. Demasiado complexa para que a resposta fosse dadaverbalmente mas, ambos receberam a sua resposta pelo aceno de cabeça deValerie minutos antes da sua performance. As raparigas deambulavam porentre as mesas, seduzindo homens com tatuagens idênticas e distraindo-osenquanto a banda tocava uma música lenta, cuja letra, juntamente com o fumono ar, suavizava-o tornando-o sereno e relaxado. Entre movimentos de ancas,danças lentas e provocadoras, as raparigas roubavam tudo o que podiam. Oshomens, vidrados e distraídos continuavam a acompanhar os seusmovimentos. Foi nesse período de tempo, em que todos os olhos se viravampara o palco que corpos começaram a tombar. No final, quando a músicacessou e o silêncio pairava no ar, uma das raparigas deu um passo em frente,acenando uma pulseira de ouro. “Problema resolvido”.

254. JOANA SALGUEIRO - QUANDO EMILY APARECEUEra meia-noite quando ela aparecia. A sua figura delicada e frágil

destacava-se naquela noite... Lá estava ela. Dava à costa. Abandonada. Fria.Apressada ao local, a detetive Monroe, pousava o seu chá, alcançava o seucasaco e saía. A sua sexta-feira à noite fora interrompida por uma EmilyRose... Doce figura na berma do rio. -Parece envenenada... - interrogava-se,ao vislumbrar um corpo tão delicado, tratado com tamanha frieza. Por maiscircunstâncias que projectasse, questionava. -O que fizeram contigo…? -o seurosto pálido e roubado de expressão, emocionava-a… Emily recordava-a dealguém... Notando a sua clara emoção, Black, seu parceiro, procuravaconfortá-la. Colocando a sua mão sobre a de Monroe, falou delicadamente: -Vamos encontrar quem lhe fez isto, reafirmando a confiança na competência enos instintos da sua parceira. Monroe fora sempre tão segura mas algo neste

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caso deixava-a inquieta... O que seria? Era meia-noite, quando ela apareceu.

255. JOANA TEIXEIRA - SEM TÍTULOMónica acordou a gritar como se sufocasse no seu último suspiro. A sua

cabeça latejava como se se encontrasse debaixo de água. Ao seu redorencontrou um quarto completamente destruído. Ela não reconhecia o lugaronde estava nem sabia como aqui tinha vindo parar. Com sangue a escorrer-lhe pelos braços, Mónica tentou proteger os seus olhos da luz que passavapor entre os vidros partidos da janela. Sem saber o que fazer, nem como aquitinha chegado, acabou por cair para o chão, sem forças para se aguentar empé. Tentou forçar a sua mente a lembrar-se do que tinha acontecido, mas emvão. Do outo lado da porta um grande estrondo fez abanar todo o edifícioonde se encontrava, deixando-a petrificada. De repente sentiu como que umestimulo elétrico lhe atravessasse o corpo e levantou-se, correndo para umamala largada no chão. Ao abri-la encontrou uma arma e um telemóvel.Tentou ligar o telemóvel, mas apenas apareceu uma mensagem no ecrã:“Corre!”.

256. JOANA VALE - BALA DE CRISTALO sol deitava-se, enquanto Brian, um conceituado juiz, voltava a casa para

festejar as suas Bodas de Cristal com Joan, sua esposa. Porém, a noite que seavistava ser de alegria, preencheu-se de solidão e tristeza, quando Brian viu ocorpo inanimado de Joan caído na sala de estar. O ferimento temporal de umprojétil de arma de fogo pincelou os cabelos loiros que ensanguentadospareciam fundir-se com o tapete vermelho e cobriam parcialmente o olharembaciado, já sem vida. A arma junto da mão direita de Joan apontou paraum presumível, ainda que inesperado, suicídio. Semanas depois, Brianencontrou no telemóvel de Joan um autorretrato relativo ao dia do incidenteque captou um vulto humano por detrás da janela. A fotografia sustentou apossibilidade de nova investigação e autópsia que revelou múltiplas equimosesno antebraço esquerdo causadas por beliscões autoinfligidos e que no seuconjunto desenhavam a palavra: carteiro.

257. JOANA VARELA - SEM TÍTULOCorrer... correr... correr... Era a única coisa que lhe passava pela cabeça

naquele momento. Não sabia o que a perseguia, nem tão pouco porquecomeçara a correr. Mas, a partir do momento em que acordara naquela escurae húmida divisão, fugir fora o seu único pensamento. Pouco se recordava dos

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acontecimentos que antecederam o momento em que abrira os olhos e sedeparara com um cenário idêntico àquele que lhe surgia em sonhos sempreque tocava com a cabeça na almofada. Premonição ou não, aquilo que aperseguia parecia bastante real. De repente, o eco de passos e vozesmasculinas soou no longo corredor que percorria, fazendo-a parar. Nãoconseguia perceber as palavras, mas não lhe pareceu que os homens falassema sua língua. Tão pouco lhe pareceu que se tratassem de vozes amigáveis.Achando mais sensato procurar um esconderijo do que continuar a correr,entrou pela primeira porta que conseguiu abrir, fechando-a atrás de si. Estavalonge de imaginar que esse seria o seu pior erro...

258. JOANINHA PINHEIRO - MORTE MISTERIOSAEra uma vez, uma noite fria e chuvosa. Peter estava em casa sozinho,

deprimido e na solidão da escuridão. Passado momentos, levantou-se do seusofá de couro castanho e frio, encheu a banheira com agua bem quente e saiscom cheiro suave e fresco. Ligou o seu aparelho do quarto para colocarmúsica e tornar o ambiente mais aconchegado.... Antes do seu banho, peganum copo de champanhe e então chega ao seu desejado banho.... Deita-se,tapa-se com a espuma, mergulha e volta acima.... De repente ouve unsbarulhos vindos do seu quarto. O que será? Quem seria? Pensava ele.Levanta-se então, sai do seu banho e seca-se com a toalha enquanto vai ate aoquarto ver o que se passava. Olha sem querer para a janela e vê que deixou ovidro aberto. Entretanto vai lá fecha-lo e por trás, aparece um vulto alto enegro com um bastão na mão, que o espanca enquanto ele grita por socorro ecom dores. Tenta fugir, mas sem resultado, pois então nesse precisomomento, sente uma facada no pescoço que o mata.

259. JOÃO ABRANTES - MORRER A RIRAcordei, ainda bêbado da noite passada… são 3 da tarde e tenho de

voltar aquele antro de luxúria. As prostitutas continuam a aparecer mortaspoucas horas depois de serem avistadas num estado de euforia tremendo.Uma nova droga na cidade dizem eles… faz soltar gargalhadas até o própriocoração não aguentar mais, e parar, com tamanho esforço. Estou convencidoque vai acontecer novamente, mas hoje vou preparado. Comigo vou levar oJoaquim, aquele sacana tem um faro melhor que alguns cães, no que a drogasdiz respeito. As prostitutas que caem no engodo, não sobrevivem para contar,as restantes dizem não ver nada de anormal durante a noite. O meu trabalhofica mais difícil, e os whiskeys acabam por atrapalhar o raciocínio. Agora voulevantar-me, telefonar ao Joaquim, e preparar-me para uma longa noite de

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vigília… as vezes desejava que a cidade tivesse um vigilante, daqueles comonos filmes…

260. JOÃO COSTA FERREIRA - VINGANÇA OU JUSTIÇATinha 12 anos quando aconteceu... Tanto sofrimento... Tanta morte...

Nem hoje sei como sobrevivi, mas que consegui; consegui! Hoje tenho 25anos e continuo atrás daqueles bastardos que mataram a minha família.Trabalho na Segurança Nacional e já apanhei muitos psicopatas, mas nenhumdeles chegava sequer aos calcanhares dos dos meus pesadelos. Contudo, umdia, algo aconteceu... Eles cometeram um erro e eu vou aproveitar-me disso.Vou infiltrar-me no clubezinho deles e acabar com eles pela raiz, mas paraisso tenho de fazer algo antes... Algo que vai contra todos os meusprincípios... Eu tenho de matar uma pessoa que amo... A única pessoa queamo... A única pessoa que realmente fui capaz de salvar... A minha irmã...

261. JOÃO FERNANDES - O OLHO DA MORTEUm tiro e tudo acaba. Assim foi naquela tarde meio nublada. A equipa

chega ao local e depara-se com uma cena pitoresca, um misto de sangue ecerveja, beatas de cigarro ainda fumegantes... O desespero de quem assistiu atamanho horror. Mas onde está o invólucro? Rapidamente a equipa apercebe-se que este crime está ligado a dois outros ocorridos dias antes. Há um serialkiller a monte, ele mata ao longe, um sniper! Escolhe as vítimas ao acaso, semqualquer padrão. Apenas um descuido seria necessário para o apanhar mas édifícil prever onde e quando vai atacar de novo, nem sequer se sabe de ondedispara. É como um fantasma... Dias depois, outra vítima. Agora um idoso,doente terminal... Porquê ceifar uma vida que já pouco tem para contar? Algoescapa à equipa. A sua ligação... Se ao menos a equipa se apercebesse daligação criminosa das vítimas...

262. JOÃO GASPAR - MORTE NO BANCOJack era um banqueiro civilizado que apareceu morto dentro de um cofre

do banco, encontrado pela polícia. Jack também pertencia à máfia russacomandada por Thor, um milionário russo que gostava muito de festas.Depois de muita investigação por parte da equipa de Rick, eles, ao interrogaralguns suspeitos, e irem a algumas festas dadas em casa de Thor, descobriramque quem matou Jack foi Sam filho do milionário Thor. E assim foi maisuma vez resolvido um caso pela grande equipa de Rick.

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263. JOÃO LOUREIRO - ABRIGO DE SANGUESou eu um sem abrigo forçado pela família. A noite era tórrida de

escuridão e como se não basta-se era veemente prolongada pelo sangue que seemancipou do corpo da vítima num prédio semi abandonado. Neste edifíciohavia a degradação que o tempo impôs e os mais variados objectosabandonados, sendo um destes um colchão de água ainda intacto. A vítima foimorta pela vingança familiar e o desejo de honra. O assassino extorquiu todoo sangue da vítima adicionando ao colchão com um ódio visceral, mais cegodo que quando não existem olhos na face humana, juntamente como osmembros corporais cortados pelo vidro das janelas que ainda olham ohorizonte. Um edifício, um ser humano, um quotidiano moribundo semidentidade, sem procura de respostas, fora de qualquer suspeita. “Passarás aviver com o peso da minha existência todas as noite que eu for dormir commeu irmão”.

264. JOÃO LUÍS - CASEIRO RODRIGUESO maior crime na cidade do Crime tinha acontecido. Ninguém queria

acreditar. O impossível, o que cidadãos de Crime mais temiam, tinharealmente acontecido. Muito pior que uma catástrofe natural, ou qualqueroutra situação dantesca, mesmo não natural, tinha-se abatido sobre a cidadedo Crime. Na televisão, na rádio, os comunicados sucediam-se procurandoexplicar o inexplicável. Como tal teria sido possível? Logo na cidade doCrime. Às chefias da cidade, foram chamados os mais proeminentescientistas, sábios, e autoridades, mas ninguém queria arriscar uma hipótese,por remota que fosse. Para que? Para que explicações agora! O desastreaconteceu. Não há reparação possível. Não voltariam a ser os mesmos, teriamque viver com esta maldição para o resto dos seus dias. Ninguém na longahistória da cidade do Crime, alguma vez imaginaria uma situação daquelas,dura, maldosa, insidiosa, destrutiva da sua reputação. Aquele dia tinhanascido solarengo, calmo e sem crimes.

265. JOÃO MANUEL - O MISTÉRIO DA FRIA ERAJunho de 1995, a era dos espiões está no seu auge. A capital de Portugal

é o ponto de encontro de todos os espiões de qualquer país, num hotelabandonado nos arredores da capital um crime fora cometido por um agenteda PIDE. O presidente português, Abel Salazar, não sabe como reagir face aeste problema. Foi então que vindo do seu alto comando veio a ideia de abafaro homicídio cometido, Salazar mandou que a limpeza fosse efetuada e ocadáver escondido. Os anos foram passados e homicídio ficou escondido até

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que um jornalista, filho do homem que fora morto, decidiu fazer umainvestigação por sua conta. Quando começa a fazer as suas investigações, nãosabe por onde começar. O edifício do hotel abandonado sofreu um incêndiomisterioso, matando um sem-abrigo que abrigava do tempo frio e gélido dosanos 90. Yoseph, o jornalista do jornal Crymes, vai aos arquivos da cidadepara ver o edifício e eis que descobre que as plantas desapareceram semninguém dar conta.

266. JOÃO MASSA - CRIME QUASE PERFEITOÁlvaro, barão dos Diamantes, termina o seu dia de forma trágica, ao

encontrar a amante degolada no seu apartamento. Após o choque, este vai atéRick, para solucionar este mistério, heis que aí se dá o reverso da moeda eÁlvaro é constituído arguido. Após ser interrogado, Álvaro sai em liberdade,pois tinha um forte álibi. Partindo em busca de respostas junto da suamulher, uma vez que estes se encontravam em processo de divórcio. Mas pormera coincidência, a filha havia participado o desaparecimento da mãe e de umdiamante que seria a arma do crime. Rick ficou intrigado com o excesso deconfiança da denúncia, consulta Álvaro, para obter uma peculiaridade sobre odiamante, ao qual Cláudia não deveria ter conhecimento, apenas sua mãe.Dado isto Cláudia foi constituída arguida, não suportando a pressão, acabapor confessar o crime e também o sequestro da mãe.

267. JOÃO MATIAS - SEM TÍTULOMais uma noite sombria na cidade, tal como qualquer outra noite. Não

fosse o cano fumegante de um revólver acabado de disparar. Os olhos deMark esbugalhavam enquanto tentava perceber o que se estava a passar, aomesmo tempo que a sua camisa se afogava em sangue, a bala que lhe perfurouo pulmão proferiu-lhe a sentença. Sarah encostada a um canto, semi-nua, todaespancada. Quem diria que quem arranja um namorado violento está sujeita amaus tratos? O braço de Ryan doía-lhe, nunca antes aquele rapaz de 13 anostinha disparado arma que fosse. Mas não foi a pobre criança que premiu ogatilho, foram os gemidos da mãe, as negras no seu corpo, as noites acordadaa chorar, os dias que pesavam. Não foi uma criança a erguer-se contra aviolência, foi um ideal. Não foi um filho a salvar a mãe, foi a humanidade.

268. JOÃO MIRA - SEM TÍTULOO detetive entrou no restaurante e olhou em volta, na sala havia confusão

e desordem, pessoas em pé, olhos esbugalhados pelo medo, rostos

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contraídos e um menino chorava, perto da mãe. O patrão, agitado e suado, foiao encontro dele e mostrou-lhe o ponto onde jazia o cadáver. O detetiveaproximou-se e viu o corpo de um homem grande e forte deitado no chão,com o guardanapo ainda apertado na mão. Talvez uma faca fincada nas costas,supôs o detetive. Na mesa sobre a toalha suja pelo vinho derramado de umcopo agora vazio, viu só pratos sujos, garfos e facas de peixe; impossívelmatar um homem com aquelas facas! Talvez uma espinha de peixe nagarganta, pensou então o detetive. Mas viu o prato de sobremesa com osrestos de um pastel, sinal de que na altura do doce o homem estava ainda vivo!Então, o que matou este pobre desgraçado?, perguntou-se desconsolado.Nesse momento, os seus olhos caíram sobre um pequeno papel esquecidoentre a garrafa e o galheteiro e imediatamente compreendeu: A conta!

269. JOÃO PEDRO - SEM TÍTULOO ruído intenso do pisar da madeira decomposta e húmida do armazém,

comprometia o disfarce de Michael que tentava seguir o rasto de sangue secodo chão. O seu olhar não traduzia o barulho que havia na sua cabeça até sentiro cano frio e inflexível de uma arma no seu pescoço, consecutivo do som docão a ser puxado. Quase que por impulso, Michael começa a levantar os seusbraços morosamente acompanhando a voz varonil e assente do seu pai. -Obrigas te me a isto! Michael estava incrédulo com o que ouvira, nuncaimaginara que o seu próprio pai fosse o assassino em série que todo um paísprocurava à já tanto tempo. A confusão que outrora sentia, tornava-se agoralabiríntica. Questionava-se a si mesmo qual poderia ser o motivo quedesencadeara o eclodir de tal raiva ao ponto de matar 7 homens a sangue frio.O medo de embravecer o lado psicopata do pai era sobejo, mas a necessidadede esclarecimento era maior. -Porque estás a fazer isto? Desde que melembro, sempre foste bom homem.

270. JOÃO RAMOS - SEM TÍTULOEram 10 da manhã quando o detetive Russel chegou à cena do crime e

pela primeira vez em meses sentia-se renovado, como se aquilo fizesse partede uma vida nova que lhe tivesse sido oferecida numa segunda oportunidade.Após a morte da irmã -vítima de uma assassinato brutal-Russel desenvolverainsónia e passava as noites arrependendo-se de não ter morto o assassino quelhe tirara a vida antes de a polícia o apanhar. E esta noite finalmente tinhadormido. Russel era o melhor detetive do departamento e à medida que fazia areconstrução do crime uma grande inquietude caiu sobre si. A falta de provasera evidente, trabalho de um verdadeiro profissional e quando viu a prova que

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iria denunciar aquele crime sentiu pele de galinha, agachou-se e guardou oanel da sua irmã no bolso. Não tinha dormido a noite passada não, tinhamorto um excondenado brutalmente.

271. JOÃO ROCHA - JANELAS DE MANHATTANNuma noite fria de inverno, uma ambulância de paramédicos é chamada

para uma queda de um individuo de um prédio de 10 andares na baixa deManhattan. À chegada ao local, as autoridades inicial uma investigação dosfactos no local do crime. Rick verifica que o individuo apresenta quebra dosmembros inferiores, indício de uma provável queda acidental. Caso se tratassede um suicídio, não teria certamente tentado amparar a queda com osmembros inferiores. As autoridades policiais tentam identificar o individuojuntos dos moradores do prédio, mas também nas redondezas. Sem sucesso,já que não é reconhecido por nenhum habitante. À hora que se regista o caso,aparentemente poderia tratar-se de um de dois cenários: ou um amanteapanhado em flagrante ou um possível assaltante que não conseguiu trepar oedifício. Cabe a Rick interrogar as testemunhas no local e desvendar omistério. Alguém viu ou conhece o individuo.

272. JOÃO RODRIGUES - SEM TÍTULOJosh vive com a sua mãe, Lauren, na mansão deixada pelo pai, um antigo

empresário. Josh é um investigador na área da ciência que recebeu umaproposta para ir trabalhar para a Europa. Certo dia, Josh e a sua namoradaEmma anunciam que vão casar e que Josh recusou a proposta de trabalho.Não sabendo muito sobre Emma e como mãe preocupada que é, Laurendecide investigar um pouco o passado de Emma e descobre que a namoradado filho trafica substâncias ilegais juntamente com outro homem procuradopela polícia de Nova Iorque há dois anos. Após a sua descoberta, Laurenconfronta Emma com as provas que encontrou. Esta sente-se exposta eameaça Lauren dizendo que se contar toda a verdade a Josh ela convence-o a irpara o outro lado do mundo com toda a herança deixada pelo pai. Depoisdisto, Lauren dá-lhe um tiro, deixando-a em coma.

273. JOÃO SANTOS - A ÚLTIMA BATIDAOs gritos fulgurante dos fãs. Os rugidos incessantes dos colegas. O

clima de estranheza geral, do absurdo e do bastante improvável… Quando láchegámos, não resisti a lançar as minhas suspeitas iniciais sobre o maisserenamente dissimulado segurança da arena. Eu nunca me havia antes

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deparado com um destes cenários, tal como a minha parceira. O organizadordo concerto veio até nós: -Caiu em pleno momento de crescendo…Prosseguiu desmesuradamente com queixas relativas ao nosso aparato, quefora o mais comedido possível; quando vê a sua reputação em jogo, este tipode homens dá por si a enlouquecer instantaneamente. Ele podia dizer o quequisesse, a verdade é que cometeram um crime na nossa jurisdição, e issosignificava que íamos solucionar este caso macabro. Aproximei-me de umjornalista que escrevinhava num pequeno bloco de notas: “Bateristaenvenenado falha a última batida”. Afinal… quantos morrem subitamentesobre uma bateria?

274. JOÃO SOUSA - UM RUBY DE MORRERCom o corpo de Ruby a descer para o seu último local de descanso,

Rick olhou em pensamento. A jovem de 24 anos acabou morta pelas mãos doseu próprio empregador, tudo por causa de uma jóia rara, de origemportuguesa, pertencente a um membro da última família real que governou nopaís. A peça estava na família há várias gerações até ter sido doada para aexposição na qual a vítima era a curadora principal. Observando os pais davítima neste último momento com a sua filha, Rick aproximou-se de Kathy esegurou-lhe a mão gentilmente, agradecendo o facto de ela estar ali com ele,em segurança. Após falarem com os pais de Ruby uma última vez e de Kathyter entregue o seu cartão, garantindo aos dois que podiam falar com elaquando quisessem, o par virou-se com a mente no descanso que ambosmereceram.

275. JOAQUIM ANDRADE - UMA ROTINA FATAL...Todos os dias eu passava pela mesma casa, pela mesma rua e via sempre à

mesma hora um homem altos sinistro a sair de um supermercado ali perto,apenas e só com uma saca. Um dia de já tão cansada de o ver, decidi segui-lo.Dei comigo num beco escuro e vejo-o a ele ao fundo e mais outro homem.Pouco tempo depois, eles começaram a ter uma grande discussão. No meioda disputa o temível homem retira do saco uma faca e mata o outro suspeito.Eu fugi e quando pude liguei à polícia. Nunca chegaram a prender osuspeito, pois ele suicidou-se da mesma maneira que cometeu o assassinato,com um esfaqueamento na zona dos intestinos, deve ter sido dos remorsos. Ese tal foi, a única coisa de que eu me pergunto é se ele fazia aquilo todos osdias e a única coisa de que eu me arrependo é de não o ter seguido maiscedo...

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276. JORDANA GÓIS - AS PAREDES TÊM SEMPRE OUVIDOSO cão não parava de ladrar. Abriu a porta de casa e dirigiu-se ao

apartamento da vizinha. Bateu à porta, chamou, ouviu o cão ganir e depoisum baque. Voltou a para casa e telefonou à polícia. Pegou no telefone, foi àjanela e apercebeu-se de um vulto escuro a correr pela lateral do prédio emdirecção às traseiras. Do outro lado atendeu uma agente, deu todos ospormenores. e aguardou a polícia no hall que separava a sua porta de casa e aporta de Lucy. Minutos depois, chegou a patrulha. Tiveram de arrombar aporta pois ninguém respondia. Estava deitada no chão, morta. Tinha sidoasfixiada. O cão ainda estava vivo e gania na sua direcção. Prestou declaraçõese disseram-lhe que não seria mais necessária. Podia recolher-se. Ainda atremer, esfregou a cara com ambas as mãos. Tirou a chave de casa de Lucy dobolso e abriu uma caixa, juntou a chave às outras vinte e sete que coleccionoutodos estes anos. Pensou: “Se ao menos se a idiota tivesse baixado a músicacomo lhe pedi...”.

277. JORGE ALMEIDA - SURPRESAAcordou tarde. Que noitada! O sócio não dissera quem era o Cliente.

“Surpresa. Vais adorar”. Saiu estremunhado. O elevador encravou. Logohoje. Casa de ferreiro... Ligou ao capataz. Já estavam a substituir um aparelhopor um mais sofisticado que a sua empresa vendia. -Primeiro desmontar oantigo. -Colocaram sinais? -Claro. -Façam-no cair. É mais fácil removerdestroços que retirá-lo. Tempo é dinheiro. -E... se estiverem pessoas dentro?- Disparate. Com sinais tão claros. Já estamos atrasados. Vá. O chão fugiu-lhe, projectando-o violentamente contra o tecto. Não chegou a perceber asurpresa.

278. JOSÉ ARAÚJO - E O VENTO LEVOUO corpo jazia no chão da casa de banho, frio e molhado. Causa? Morte

por asfixia. Suspeitos? Todos. Motivo? Ninguém aparentemente tinhamotivos para promover tal vil morte. Na sala todos se acusavam mutuamente ese interrogavam: excesso de atenção? Ou falta dela? Quem ganharia com a suamorte? Quem foi o último a vê-lo com vida? -Eu! Respondeu o mais sentidopela perda. Estiveram estranhos em casa? Sim. Foram vistos na ou perto dacasa de banho? Não. De repente, um estrondo enorme, vindo da casa debanho, chamou a atenção. Acorreram e foi em choque que descobriram, aproveniência do barulho e ao mesmo tempo, a causa da morte daquelepequeno corpo. Uma rajada de vento abriu a janela e terá derrubado oaquário, levando o peixinho vermelho, tão querido por todos, a uma morte

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tão horrenda.

279. JOSÉ CASTILHO - IDENTIDADE TROCADAFoi hoje descoberto o cadáver da Gerente da loja assaltada o mês

passado, no seu interior. Fátima Borges, desaparecida no dia seguinte aoassalto, terá confirmado à polícia o roubo de 2 milhões de euros. No referidoassalto a polícia abateu dois dos assaltantes, nunca se tendo encontrado oterceiro. Suspeita-se agora que o terceiro assaltante será Sílvia Borges, irmãgémea de Fátima. As duas irmãs teriam engendrado o crime, após ter sidodiagnosticada a Fátima, doença incurável. A gerente terá entrado na loja demodo a ultrapassar o controlo biométrico e no decorrer do crime ter-se-hásuicidado. A sua irmã Sílvia tendo entrado encapuçada com os outros doisassaltantes, escondeu o cadáver e iludiu o controle policial à saída da loja nodia do assalto, fazendo-se passar por Fátima, agora encontrada. A políciainiciou buscas para capturar Sílvia Borges.

280. JOSÉ CUNHA - SEM TÍTULO50 deputados mortos, 30 feridos. Tudo apontava para um atentado

terroristas mas após longas investigações de Rick e Kathy chegou-se áconclusão que foi apenas o contador de votos que explodi-o com tantos dadoscontraditórios da oposição!

281. JOSÉ GASPAR - HISTÓRIA PACATASalvaterra de Magos, um caso dramático abate-se sobre esta terra pacata,

desapareceu um jovem de 16 anos, na noite passada. Este jovem, AntónioCarvalho, é conhecido por ser uma pessoa pacata. Uns dias mais tarde éencontrado dentro de uma arrecadação com a zona pélvica completamentedestruída e rodeado numa poça de sangue. Os policiais, Cátia Gomes e JoãoFonseca, investigaram durante dias o homicídio até que chegaram à conclusãoque o crime tinha uma simples razão, dívida a um gangue local.Posteriormente, os policiais descobriram que o homicida tinha sido umamigo da vítima, Joaquim Pina. Aparentemente, Joaquim era quem deviadinheiro mas como António o tinha, o amigo pediu-lhe, mas não obtendo aresposta que pretendia, matou-o. Mais tarde, a vítima estava a ser enterrada nocemitério local e o homicida estava a ser julgado no tribunal de Santarém,sendo condenado a pena de prisão.

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282. JOSÉ LIMA - UM PASSEIO PELA CIDADE...Certo noite, um pequeno grupo de pessoas decidiram andar pela cidade

de bicicleta por diversão, como qualquer um de nós o faria. Mas algoinesperado aconteceu, todos ouviram um grande barulho, uma coisa tãoestridente e fora do comum que seria completamente fora do norma nãoreparar. Com a pressa de fugir, todos começaram a pedalar o seu máximopara fugir e se sentirem seguros, até que param porque faltava alguém, mascomo o medo era superior, decidiram não voltar atrás. No dia seguintedecidiram todos voltar ao local e encontram o desaparecido ao fundo de umpequeno beco deitado, com um buraco no peito, tão grande que seriaimpossível não ver assim como a sua bicicleta completamente colada a parede.Uma coisa completamente fora do normal, mesmo a polícia que foi chamadaao local, disse que nunca tinha visto algo assim. Como devem pensar foi umgrande susto para toda a vizinhança, verem um crime tão horrendo... E assimtemos mais um assassino a solta, pois nunca foi encontrado até hoje.

283. JOSÉ MENDES - CYBER CRIMESDecorria o ano de 2091 da era Cyberdigital, estávamos a 25 de outubro

e, após uma aturada investigação criminal que absorveu a grande maioria dosrecursos humanos, finalmente fazia-se luz, o cidadão AKT 494indubitavelmente passava de principal suspeito a responsável pelo duplohomicídio consumado meio ano antes. As vítimas KXS 1116 e KXS 1117irmãs, tinham sido barbaramente degoladas após violação, pelo que da filialinterestelar de Saturno o meu imediato informou que AKT 494 se encontravana Lua. Nesse mesmo dia, já ao fim da tarde foi-me comunicado que, pordificuldades de comunicação AKT 494 se encontrava em lua de mel, estandoem Alguidares de Baixo na Terra. De imediato regressei à Terra e, devido aoacumular de stress bati com a nave de serviço numa nave particular, prejuízoscoisa de pouca monta, parti apenas algumas 140 a 150 lâmpadas. Assim, pelamanhã de 26/10/2091 o caso estava definitivamente encerrado, o Proc. Crimen.º 6706/2091 estava arquivado.

284. JOSÉ SAMPAIO - O ARTEFACTO DA MORTEEra noite cerrada quando um cargueiro, comandado pelo corrupto

comandante Hasselbaink, atracou no porto de Miami. No interior, uma caixade madeira era desviada do controlo alfandegário até uma lancha rápida.Horas depois, a lancha chegava à marina privada que servia a luxuosa mansãodo mexicano Cabano Trejo. O dia nascera húmido e escorria suor pelo fatode linho branco de Trejo, que contrastava com o cabelo comprido e feições

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rudes. Aguardava a chegada da caixa, de charuto na mão. Atrás dele, umhomem de confiança empunhava uma arma, atento a qualquer movimentação.Ao ver os homens chegarem, Trejo fez sinal para abrirem a caixa e confirmouo seu conteúdo, sorrindo. –Paguem-lhes! – rosnou ao afastar-se com amisteriosa caixa, acreditando ser o único conhecedor do valor do artefactoegípcio. À tarde, Trejo preparava-se para sair quando ouviu um barulho.Antes de cair morto, teve tempo de ver o assassino.

285. JOSÉ CARLOS SEBASTIÃO - O DESAPARECIMENTO DE MARIAQuando a polícia arrombou a porta do silo, deparou-se com uma

imagem dantesca... As paredes tinham sangue ainda fresco... Mariaencontrava-se amarrada numa cadeira... morta... com marcas de tortura... foradegolada, esvaíra-se em sangue... por fim um tiro “misericordioso” na nucadeveria ter terminado a tortura! Uma lágrima escorreu pela face de James, odetetive encarregue da investigação, enquanto recordava que prometera noleito de morte de seu irmão, proteger a família... tinha falhado! A vidaacrescentara de forma cruel mais uma responsabilidade a James MacArthur...para além de prosseguir com a investigação sobre o misteriosodesaparecimento de Maria, dera-lhe agora a responsabilidade de criar Raquelque num ápice temporal ficara órfã e sozinha no mundo. O sensual einteligente detetive cujo cartão de visita era uma reconhecida alergia a relaçõesduradouras era forçado a ter uma... mas James adorava sua sobrinha, era afilha que nunca tivera...

286. JULIA RIBEIRO - O ASSISTENTE DA MORTEA arrogância não lhe seria pecado atribuído, no entanto muito menos a

humildade o salvaria. Era uma mistura de certeza e dúvida, uma força que lheenfraquecia as pernas. Só sabia que a missão que lhe haviam entregue noberço não o deixaria descansar, nem quando os seus olhos se fechassem nosono profundo. Eram elas que lhe pediam. Sim, as almas suplicavam porliberdade. E ele erguia o punhal, livrava-as do peso que arrastavam. VictorWatkins autodenominava-se como o Assistente da Morte. Um olhar erasuficiente para que soubesse que a sua ajuda era necessária. Matava porquetinha de o fazer, era o seu dever. As vítimas desconheciam-se entre si, nãohavia nada que as ligasse e, como bom assistente que era, Watkins nuncadeixara rasto. Contudo, uma das almas que pensara libertar voltou à vida.Cometera um erro e era necessário retificá-lo.

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287. JÚLIA PINHEIRO - PARABÉNSUm pai levanta-se cedo no aniversário da única filha. Tudo tem de estar

perfeito: a casa começa a cheirar a panquecas e canela; a mesa é posta comesmero e todos os mimos possíveis. Estão sozinhos há exactamente dois anos,dos recém-quatro da pequena, sem saberem porquê. O desaparecimentobrusco da figura feminina adulta mudou tudo: desapareceu uma companheirae uma mãe duma pequena franzina de apenas dois anos. O terceiro ano nãofoi celebrado, a dor era demasiada e demasiado lembrada naquele dia. Oquarto não podia ser igual. Uma criança merece mais, merece ter um dia emque é rainha do mundo, se assim quiser. Por isso há prendas, por isso hápanquecas e chocolate. E uma pequena rosa branca na mesa do pequenoalmoço. Vai ao quarto chamar a aniversariante e não a encontra. Na cama porfazer há apenas uma pequena rosa vermelha. Como há dois anos atrás.

288. JÚLIA ROCHA - SEM TÍTULOSe a curiosidade matou o gato, como dizem, de certeza que tinha tido

mão nos acontecimentos daquela manhã. O quarto das paredes azuis estavatodo revirado: gavetas abertas, as portas do armário completamenteescancaradas, a janela aberta e as cortinas a voar com a ventania daquele dia dedezembro. Todas as roupas no chão, os chapéus espreitavam fora das caixasde debaixo da cama, e as pérolas do que tinha sido um colar estavam por todoo lado. Ela estava na cama, ainda com os olhos abertos. Ela queria ter ido empaz, mas não foi.

289. KARINA MENDES - CONSCIÊNCIA MUTILADAJohn é um simples professor de direito, mas é filho fora do casamento,

sua mãe era uma empregada e o seu pai um grande político. John para sevingar por não ser reconhecido, começa a mutilar todas as empregadas dauniversidade aonde trabalhava. Todos os dias ao fecho das portas, ele atacavaas mulheres, violava e mutilava o seu órgão genital. Ao seu ver, ele estava aevitar males futuros. Não era apanhado pois cegava as vitimas antes do ataquecom ácido sulfúrico. A polícia começa a ver ataques da mesma origem edecide apanhar John. Infiltram uma agente disfarçada de empregada e vigiam-na de perto. Com movimentos seguidos, John é apanhado antes que pudesseatacar. John, vangloriado dos seus atos, admite ter destruído as vidas daquelasmulheres dizendo que elas eram a causa do fim de amores eternos. Maistarde, John suicida-se, com medo da sua própria consciência.

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290. KATHY TAVARES - JOGO DE SOMBRASNem sempre sabemos o nosso propósito na vida. Eu….Bem, eu sempre

soube o que estava destinada a fazer. Quando era pequena pode-se dizer quetive uma infância normal, cheia de inocência e felicidade, mal sabendo osegredo que albergava a minha família. Quando cresci, por força de eventostraumáticos, como a morte dos meus pais quando estavam de férias naTailândia, juntei-me à polícia de Nova Iorque, sendo, pouco depois,recrutada pela CIA. Nunca conheci os meus avós, morreram quando eu eramuito jovem. O resto da minha família …tanto quanto sei, não existem. Todaa minha vida procurei por respostas sobre eles, sem nunca chegar a ladoalgum. Hoje, isso termina. Hoje, saberei a verdade. Toda a informação quesempre procurei está à minha frente. Acabaram-se os segredos… Mas...como é possí..?! Nunca pensei, nunca. Eles não estavam de férias...

291. KIKINHAS GUERREIRO - SANGUE, A CÔR DO AMOR6:45 h. O telemóvel de Camila toca. Um homicídio, levanta-se a correr,

veste-se em segundos, agarra uma maçã e sai a correr. Pára a meio docaminho compra dois cafés , para ela e para Pedro. Um homicídio, sai docarro, olha ao longe, reconhece a roupa e o carro do seu parceiro deesquadra. Corre, e larga os cafés, manchando todo o chão à sua volta,misturando-se com o sangue de Pedro já sem vida. Fora atropeladoviolentamente. Chora e grita compulsivamente, tentando levantá-lo, em vão.Valdemar, outro colega de esquadra, com lágrimas nos olhos, aproxima-se deCamila, puxa-a para ele com toda a força, dá-lhe um beijo na testa. E segreda-lhe ao ouvido. Prometi a mim mesmo que serias minha, a todo o custo. Atémesmo manchar as minhas mãos. E não procures o assassino, porque é nastuas mãos que está o sangue de Pedro.

292. LA SALETE SÁ - YUNO beco tresandava. Entre o cheiro de restos de comida e óleo queimado

que escorria das vasilhas, jazia o seu belo corpo nu, esquartejado e encaixadoà toa, na caixa de cartão. Eram cinco horas. Fui buscar a minha parceira.Quando chegámos a confusão era grande. James e Neil já se encontravam nolocal. Brown aproximou-se. Analisámos o local. Procurámos indícios até àchegada dos forenses. Os primeiros mirones saíam do escuro. A autópsia deYun mostrou-se insuficiente e inconclusiva. Surgiam pressões exteriores emrelação a respostas e soluções para o caso. Era necessário encontrar oassassino! Pelas dezanove horas, um indivíduo entrou na esquadra. Tinhampassado seis meses. Coube-me a mim o interrogatório. Friamente contou

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tudo, floreando os mais sórdidos pormenores. Sorria enquanto falava. -Porque? -Porque quando lhe perguntei se me amava, ela respondeu… -Ésnojento! Sai de cima de mim! És um monstro!

293. LEONOR CARMONA - ABDUCTEDO meu corpo acordou. Estava escuro. Não conseguia ver nem falar.

Tinha frio, muito frio. O ar fedia. A minha cabeça doía e zumbia. A cerca dedez metros de mim conseguia ouvir alguém. Alguém em euforia. Os seuspassos ritmados e pesados. A sua respiração ofegante, como se o coração lhefosse saltar pela boca. A repetição da frase ‘’o que é que eu fui fazer?’’. Ondeestou? Alguém me tira a venda e o pano da boca. Estava sentada numa cadeiravelha e enferrujada. Por cima da minha cabeça, tinha um candeeiro com umaluz forte. E, em diante dos meus olhos, uma câmara. Estava a filmar. Os meuspés estavam assentes numa poça de sangue. O meu próprio sangue. Nadafazia sentido, até que, se fez luz. Fui raptada. Raptada? Mas como? Porque?Porque eu? Claro, o resgate. Quanto valerá a única filha do presidente?Vamos descobrir.

294. LEONOR MACEDO - SEM TÍTULOEmma pousou o pé no segundo degrau da 12.ª Esquadra, e um tiro

soou. No momento seguinte o corpo do advogado de defesa do caso maisemblemático da cidade derrubava-a ao chão. “O primeiro dia de serviçocomeça bem”, pensou, enquanto os seus futuros colegas a ajudavam alevantar. Emma ignorou a confusão de perguntas e movimentação à sua volta.Agachou-se e verificou a ferida da vítima. -O tiro foi certeiro, à base dopescoço. -Anunciou, criando silêncio à sua volta. -Ele estava no topo daescadas, o atirador deve estar naquele prédio. -Acrescentou, apontando. -Como se chama cadete? -Perguntou um detetive, enquanto o parceiro deleorganizava os agentes. -Emma Chase, detetive. - Bom trabalho Cadete Chase.Eu tomo conta disto a partir de agora. Vá reportar à Capitã. Ela vai querersaber que tem à porta um advogado morto pelo exato método do homem queestava a defender em tribunal.

295. LÍDIA SEIXAS - A MORTE QUE CHEGOU TÃO CEDO....Estava um dia chuvoso e frio desse mês de fevereiro e o tempo convidava

a ficar em casa. Mas tinha de me levantar para ir trabalhar, onde, por norma,era a primeira a chegar. Nesse dia, como sempre, depois de comprar o jornale tomar um café, dirigi-me ao edifício, onde, no meu gabinete, uma pilha de

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trabalho me aguardava. Chegada à entrada, estava um grande aparato policiale uma ambulância, e os habituais mirones. No passeio, jazia um corpo deuma jovem. Indaguei um detetive sobre o acontecido, ao que respondeu comum silencioso encolher de ombros. Como não podia entrar no prédio,aguardei , agoniada, pelo que tinha acabado de presenciar. Vendo, com maisatenção, o rosto do cadáver que jazia inerte no passeio, vi, aflita, que se tratavada minha secretária pessoal! Relembrei a sua ansiedade durante aquelasemana! Porque é que não perguntei o que se passava! Sentia um aperto nocoração. O rosto, então bonito, estava agora ensanguentado. Suicídio ouassassínio? Faltava apurar....

296. LÍGIA MONTERROSO - PASSEIO DE PRIMAVERANuma linda tarde de primavera, Maria decidiu dar um passeio pelo

campo. Tudo parecia estar sereno, a brisa entrelaçava com o chilrear dospássaros. Nisto, Maria caiu, tropeçou… Pensava ela que se tratava de umapedra. Mas o que a fez cair foi uma perna desmembrada presa numa ratoeirapara ursos… Como é que em pleno Algarve, numa região quente, com climatemperado alguém tenta caçar ursos… Mais estranho ainda é como apareceuma perna e nas mediações não há vestígios de um corpo…. Maria, contacta apolícia… Kathy e Rick, chegam sem demora… Observam mas aquela nãoparece ser uma perna humana, pela penugem, diria que é de um primata…Mas um primata, numa ratoeira de ursos… em pleno Algarve? Pouco tempodepois, recebem um telefonema para irem ter à costa, apareceu um supostofardo, com vários membros… Mas do que se trata… Membros estranhosderam à costa…

297. LILIANA LEITE - MISTÉRIO EM YBOR CITYMr. Albertine caíra do sexto andar do seu apartamento na 7.ª avenida de

Ybor City, Florida. A autópsia determinou que a queda fora provocada.Assim, os inspetores Veloso e DeSalvo, ficaram encarregados da investigação.Não havendo sinais de arrombamento e roubo, percebera-se que o Viúvo,sem filhos, tinha um gato que estava desaparecido desde que caiu. No chão davaranda de onde caíra, um pó metálico, com dois tipos de pegadas diferentesprovava a presença de um agressor. Debaixo de uma tábua do soalho,descobriu-se um retrato da vítima, em jovem, com uma mulher e uma criança.Dois dias depois da morte da vítima, o gato foi encontrado por uma vizinhado 2º andar, na sua varanda. Ele caíra e miraculosamente, sobrevivera. Numapata, descobriram vestígios de sangue humano, ADN correspondente à jovemcriança do retrato, que se veio a descobrir ser filho de Mr. Albertine, fruto de

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uma relação extraconjugal.

298. LILIANA M. SILVA - O FRASCO MISTÉRIOO detetive Porto, acompanhado por 3 agentes, arrombava a porta do

apartamento 169 da Rua dos Combatentes, seria tarde demais? O corpo doDr. Ernesto Proença jazia no chão da sala, segurando um pequeno frasco nanão esquerda. No fundo do corredor ouviu-se o barulho de uma janela abater. Um dos agentes correu para lá mas apenas foi a tempo de ver um vultoa correr… -Lamento, detetive, não cheguei a tempo. -Conseguiu ver algumacoisa que nos ajude a identificar o suspeito? -Apenas que era alto, cerca de1,75 cm, magro, usava um gorro às riscas e uma camisola larga, azul. –Bem,vamos ver melhor o corpo, o Dr. Reis deve estar a chegar e vai nos ajudar adeterminar a causa da morte –disse o detetive Porto dirigindo-se ao corpo. –Não vejo nada que possa ter causado a morte, apenas as unhas estriadas.

299. LISA FERRO - CAFÉ, CIGARROS E DUAS MORTESUm pequeno teatro nova-iorquino tem em cena uma adaptação do filme

“Coffee and Cigarettes”. Em noite de estreia, os actores que interpretam ospapéis de Iggy Pop e Tom Waits caem mortos antes de “Somewhere inCalifornia” terminar. Rick e Kathy são chamados ao local. As autópsiascomprovam envenenamento. Fã incondicional do filme, Rick percebe que amarca do maço de tabaco em cima da mesa difere daquela que é,originalmente, utilizada no filme. As suspeitas recaem, naturalmente, sobre oassistente de cena, participante no casting original mas excluído porinstabilidade emocional e fraco desempenho. Descartado o seu envolvimento eo do restante elenco, Rick e Kathy parecem não conseguir avançar nainvestigação. Quando a notícia é transmitida com uma reportagem em directona televisão, Rick apercebe-se de um cartaz que alerta para os risco dotabagismo. O velho director do teatro, moribundo, é por fim acusado dehomicídio. “O problema sempre foi o café e os cigarros!”.

300. LÚCIA SOUSA - SEM TÍTULOJá passava da meia-noite, quando Linda saiu do escritório. Um relatório

importante obrigou-a a fazer horas. A noite estava fria, com um densonevoeiro a envolver a cidade. Não se via “viva alma”, o silêncio era assustador.Ao sair Linda sentiu um arrepio, um mau pressentimento a assombrar-lhe oespírito. Até ao carro eram dois quarteirões. Encheu-se de coragem ecomeçou a caminhada. Ao virar da esquina ficou com a sensação que estava a

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ser observada, mas não conseguiu perceber a proveniência. Mais uns passos,e a suspeita era cada vez mais uma certeza. A sombra projectada no chão,mesmo atrás dela, confirmava os seus piores receios: estava a ser seguida.Apesar do pânico, Linda começou a correr, sem olhar para trás, sem pensar,sentindo apenas o frio a gelar-lhe o rosto. Até hoje não sabe quem a seguiu, eas intenções. Não sabia sequer se era alguém deste mundo.

301. LUCIANO FIDALGO - PALAVRAS INSOLETRÁVEISÉ mais do que evidente que se trata de um assassino que justifica cada

morte com a brutalidade que só um desgosto amoroso consegue criar.Começa tudo sempre bem. Um novo amor cheio de certezas, com a esperançade que desta vez tudo vai ser diferente. Mas depois surge a desconfiança,pequenos gestos, as palavras que não são ditas ou que são mal interpretadas.Surge aquela vontade vil de ajustar as contas e deixar tudo equilibrado,obrigar a vítima a saldar a sua divida pelas falhas que entende seremcometidas. Nunca há um fio condutor. As vítimas são de ambos os sexos e deextremos etários que vão dos 16 aos 56 anos. Nada faz sentido. E tudo ficaainda mais confuso quando se descobre que a principal suspeita é umarapariga franzina de 14 anos…

302. LUCIANO MENCHERO - ENFORCADAMulher enforcada, não existia carta de despedida, apenas uma mensagem

“Iremos ser felizes”, escrita no espelho com batom vermelho. Apósanalisarmos o quarto concluí que não foi suicídio, mas homicídio, apesar domarido não ter confessado, as impressões digitais da corda, batom eram dele.O marido preso a aguardar julgamento, recebeu visita de uma mulher,percebi que eram amantes, fiquei surpreso pois podia ter se divorciado.Intrigado voltei ao local do crime. No quarto onde foi encontrado o corpoobservei tudo detalhadamente, no roupeiro reparei que toda a sua roupa erajusta, mas a camisola que tinha vestida era grande ao ponto das mangas lhecobrirem as mãos. Percebi que tinha errado, foi suicídio, por ter descoberto ainfidelidade do companheiro, mas como não o queria deixar “livre” para aamante, decidiu incrimina-lo usando as impressões digitais do mesmo,conseguindo cobrir as dela com as mangas da camisola.

303. LUCÍLIA ALVES - O ASSASSINO DA BOLEIAComo imaginar que um amanhecer luminoso e morno pudesse trazer à

luz tão horrenda visão? O corpo ensanguentado da jovem vítima, parecia ter

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sido jogado ao turbilhão de um tufão, de tão estilhaçado e golpeado! Naquelebeco deserto e pestilento, por entre lixo e despojos, ali se fazia a desova doque se adivinhava um crime sádico e perverso. No entanto, sinais inequívocosmostravam que aquele não era um crime qualquer... a falta do dedo polegarem todas as suas vítimas, já lhe tinham merecido o apelido de “assassino daboleia”. E esta era apenas mais uma das suas obras de arte maligna... Diziamos detetives, que para apanhar este, teriam de estar um passo à sua frente; mascomo fazê-lo se nem a sua vitimologia era coerente: homens e mulheres,jovens e idosos, o “assassino da boleia” matava indiscriminadamente, tal comoquem dá boleia a um estranho na estrada!

304. LUCINDA CUNHA - O PINGENTEQuando Sara entrou em casa, já era muito tarde. Fizera o turno da noite

no hospital e estava ansiosa por poder descansar, finalmente. O dia fora umcaos de ambulâncias e emergências, de gente anónima aos gritos eenfermeiros atarefados com transfusões de sangue. Fizera a autópsia a doisdesconhecidos encontrados mortos na mala de um carro desportivo vermelhosem quaisquer marcas de violência física. Algo invulgar chamara a suaatenção: a mulher usava ao pescoço um estranho pingente verde-esmeraldacom a forma de uma maçã que soltava um aroma quente e que a fizeraestremecer, pois cheirava a pântanos e sepulturas. Como não sabia quequímico envolveria aquele estranho amuleto, mandou-o analisar. Quando abanheira já estava cheia, começou a sentir-se tonta. Tentou sentar-se, mas nãoconseguiu e caiu à água. Seus últimos momentos foram uma epifania: a maçãcontinha veneno e ela era a terceira vítima!

305. LUÍS ANTUNES - O CRIME NÃO COMPENSA. QUEM MATOU ODENTISTA?

No dia 5 em Lisboa, ao 12:00, alguém matou o Sr. Broca, o dentista. Odetetive Rick procura o assassino. Há 3 suspeitos. Estão a ser interrogados.Primeiro suspeito: Arlete. Sr. Broca morreu, minha senhora, sabia ?O Sr.Broca? Que catástrofe; era o meu melhor amigo e um excelente dentista.Lamento muito… Onde estava a Sra. ao 12:00? Eu estava no cabeleireiro. Oh,o Sr. Broca! Segundo suspeito: Sr. Calado. Bom dia, Sr. Calado, querofalar-lhe do Sr. Broca. Do Sr. Broca? Não o conhecia, quem era? Umdentista. Onde estava o Sr. ao 12:00? Estava no restaurante a almoçar com aminha mulher…. Comi muito bem. Mas de qualquer maneira não tenhonenhum dentista em Lisboa! Terceiro suspeito: Sr. Mauzão. Sr. Mauzão,alguém matou o Sr. Broca... Não fui eu! Não o conhecia; estou inocente, não

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sou nenhum assassino... eu. Está bem, acalme-se, mas conde estava ao 12:00?Estava em casa a ver o AXN. Rick: quem será? Será o Mauzão? Hum... Aha!Já sei…foi o Calado. Como ele sabia que ele era de Lisboa?

306. LUÍS BARBOSA - CENÁRIOS DE UMA MEMÓRIAEra uma noite chuvosa. Megan lembra-se de pensar que devia ter trazido

guarda-chuva, mas sabia que agora era tarde de mais, sentia a água a escorrerpelo seu cabelo vermelho como sangue. Sentia-se estranha, uma americana acaminhar pelas ruas de Londres à noite fazia-a sentir-se com medo e receosa.Ouviu um barulho, como vidro esmagado contra a calçada da rua. Após issosentiu um puxão de alguém que a arrastou para um beco. Tentou gritar mas omedo do que aconteceria a seguir impediu o som. Sabia que morreria, sabiaque o conhecimento que possuía tinha levado aquele momento. Sentiu sanguea verter do local da perfuração. A dor era excruciante, aumentada pelosrasgões que sentia serem feitos na sua pele pelo homem que lhe deu o seudestino final… Megan não sentiu mais nada, fechou os olhos e ouviu apenas agargalhada sinistra de alguém que se afastava.

307. LUÍS COSTA - “COINCIDÊNCIAS”Bella suspirou. “Não precisava disto hoje, Hugh.”A chamada do

parceiro havia-lhe interrompido a noite intensa de amor com um jovem queconhecera num bar após um longo dia a preencher relatórios. Com 33 anos,Bella sabe que não pode desperdiçar estas oportunidades. “Hugh, quem é avítima?”. Hum... Não tem identificação, nada no local do crime indica quempossa ser... Só sabemos que é mulher e que aparenta ter 30-35 anos. Mandeio ADN para identificação”, respondeu o parceiro, fechando o seu bloco. Bellaolhou em volta. O estado de degradação do quarto era notório, e o cheiro...“Que faria uma mulher num lugar destes? Prostituta talvez?”, questionouBella, inclinando-se sobre o corpo. Ouviu o seu telemóvel tocar: Dan, o seutécnico de laboratório. “Diz, Dan, estás em altifalante”. O ADN correspondeao teu, Bella”, disparou Dan. O olhar incrédulo de Hugh cruzou-se com o deBella. Impossível.

308. LUÍS CUNHA - INSTINTO PERDIDOQuando ela lhe entrou no escritório, pareceu-lhe, de repente, que estava a

viver um romance de Raymond Chandler. Alta, esbelta, misteriosa, sedutora;a clássica mulher fatal. De imediato esqueceu os documentos sensíveis que

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tinha acabado de obter e devia entregar urgentemente ao cliente. Quando ela oolhou directamente nos olhos, levantou-se precipitada e atabalhoadamente dacadeira, concentrado apenas nos profundos olhos azuis e no sorrisoligeiramente sedutor. Talvez fosse por isso que o instinto não actuou,quando, pelo canto do olho, a viu introduzir a mão na mala e de lá tirar umapistola. Quando viu o clarão do disparo já era tarde. Caído no chão, antes deos olhos se lhe fecharam em definitivo, viu-a dirigir-se ao cofre e nãoconsegui evitar um sorriso. Quando os detetives da 12ª chegaram à cena docrime, o que mais os surpreendeu foi o sorriso feliz na cara do detetiveprivado morto.

309. LUÍS MAMOUROS - MULHER FATALEle já não via. O sangue escorria farto e Maló teria serviço, se ele

sobrevivesse. Tinha caído na armadilha. Mas não podia fugir ao destino. Elatinha aparecido um dia. Parou ao seu lado num semáforo de Lisboa.Deslumbrante. Descapotável a gasolina (sem as malditas partículas) foi tiro equeda. Quem seria? Mulher fatal! Que importa. Acenou-lhe. Ela viu, sorriu eseguiu. Mas hoje, não há desconhecidos(as) no mundo, basta googlar e voilá.Cortejou-a no virtual. Fácil! Hoje era real. Difícil? Logo veria. Excitado,apaixonado, caiu na armadilha. Um ciumento louco, serial killer, quem sabe,ia eliminá-lo. Ela surgiu do nada e exclamou: -Mata-o, é outro metendo-se nanossa história... de amor!”, pensou. Crédulo, recuperado, atacou. O outrotombou. Lutavam até à morte. Ela sorria maliciosamente enquanto seguravana GoPro. O mundo via online. Ele e o outro caíram na armadilha. Paixãovirtual. Morte real. Prisão real. Mulher “virtufatal”.

310. LUÍS MARQUES - VLAD, “O DRAKULA”Ao sentir-se confuso e estressado com a falta de sorte na universidade,

Vlad deparou-se com um livro estranho e sem dono no seu local favorito dauniversidade, na capa constava a inscrição “Drácula” , o restante das paginasestavam vazias. Ao contar ao seu amigo Luis (“bioquímico reconhecido”) aserie de estranhos acontecimentos que se seguiram após tomar posse do livro,apercebeu-se que Luis tinha exactamente as discrições feitas pelas pessoas queafirmaram ter visto um vampiro ando pelas ruas, surpreendendo-se ao ver osdentes de vampiro que o mesmo possuia e que segundos depois cravaram oseu pescoço. Quando a polícia averiguou a situação descobriu-se que Luishavia roubado a formula de modificação de DNA da Universidade deCoimbra. Mas Vlad já não era uma pessoa normal, pois havia tornado-se nomais recente Drácula! espalhando o terror pelas ruas de Lisboa, até ser preso

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pela polícia na casa de sua amada.

311. LUÍS MIGUEL MARQUES - UM DIA DIFERENTE MAS IGUALEu sei que pode parecer estranho e até banal, ele matou-a, a sangue frio e

depois agiu como se nada houvesse acontecido, eu sei, porque eu vi.Ninguém ainda sabe o que sei, se soubessem acreditavam em alguém comoeu? Alguém cujo a alcunha é drogado? Posso ter problemas mas eu sei o quevi! Estava escuro e pode dizer-se que não estava sóbrio nem sozinho, poisouvi um grito que me penetrou a alma e se apoderou de mim, comecei acorrer mas não para fugir eu fui ver o que havia acontecido, aproximei-me deuma respiração profunda, aproximei-me demais. Ela estava a chorar, se bemme lembro ouvi a voz de um homem, estava cada vez mais perto... de mim é aúltima coisa de que me lembro. Mas isso mudou a minha vida para sempre,visto que me mudei e sou oficialmente detetive, mas não irei esquecer.

312. LUÍS ROSA - SEM TÍTULOEncontramos uma carta numa vitima morta por estrangulamento que nos

ajudou encontrar o seu assassino, na carta estava o seguinte: “Por favor, salva-nos não sei ao certo o porque de estar aqui, estou fechado num quartoescuro, mas consegui testemunhar o que parece ser um ritual estranho, eletem uma sala com uma cadeira no meio e uma corda pendurada, e leva asmulheres todos os dias e diz que o seu dia vai chegar e estaria na hora dedemonstrar o que elas realmente são”. Na carta também descrevia o assassinoe o local, com estes detalhes conseguimos descobrir o culpado, e quatrovitimas, uma delas já falecida. Ao que aparenta a mãe do assassino mostrava-seindiferente com ele, e antes de suicidar por enforcamento tratou-o combastante carinho, com isso ele acreditava que receber carinho de pessoas sóseria possível quando estas se encontram a beira da morte. Curiosamentenenhuma das vitimas escreveu a carta, e no local não encontramos maisninguém, escritor continua um mistério.

313. LUÍS SILVA - MARY (JEN) DIXON (COOPER)Um amor não correspondido, um olhar não retribuído, uma faca, uma

apaixonada, um mulherengo... Ela chamava-se Mary, tinha 22 anos, um ar demodelo australiana e um coração palpitante por John, um jovem galante, comum sorriso simpático e uma personalidade polarizadora, daquelas que todosquerem conhecer. Ambos se relacionaram na faculdade, ele estudava paraeconomista, ela para só para o diploma. Cruzou com ela no corredor, mesmo

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ao lado da fotocopiadora do primeiro piso, e o mundo de Mary nunca foi omesmo. Podemos até dizer que foi como se já não houvesse mais Mary, agorahavia uma sombra de John. Mas a 24 de março, John Manson Lime foiencontrado morto, assassinado com uma faca no peito à entrada de sua casa.Quem o matou foi Mary Dixon, agora Jen Cooper, silenciosa e arrependidabibliotecária, sem amigos conhecidos e vida social inexistente. Para quemacabou mesmo a vida?

314. LUÍS SOARES - SEM TÍTULOLady Bonham jazia mutilada no cemitério. Aproximando-se do local o

detetive Colt sentiu o cheiro da putrefação que lhe pareceu estranhamentefamiliar. Analisadas as pistas, Colt convenceu-se que o coveiro Damon, umvelho cadastrado conhecido de outros casos, agira de forma suspeita nosinterrogatórios. Colt resolveu nessa noite investigar por sua conta. Ao voltarao cemitério sentia-se muito nervoso e, vendo ao longe Damon, escondeu-seatras de uma árvore quando sentiu um forte pulsar na nuca e os seus olhosfecharam-se. Acordou de madrugada em casa com o telefone a tocar – era ocapitão, que o chamou ao cemitério. É o segundo em dois dias –ouviu.Olhando para a árvore onde Damon estava empalado, ficou em pânico. Levouas mãos aos bolsos para tirar um cigarro mas, a única coisa que lhe saiu foium lembrete: -“Urgente comprar anti-psicóticos recitados pelo Dr. Blake.Última caixa acabou há 4 dias”.

315. LUÍSA CARINHAS - SEM TÍTULORick e Kathy têm um caso insólito entre mãos uma mulher morta em

casa igual a Kathy e vestida como uma das personagens da personagem doslivros do Rick. Fisicamente é igual a Kathy mas na vida real pertencia a umgrupo de fãs dos livros do Rick onde recriavam as histórias dos livros deleem teatro e até gravavam em vídeo essas representações. A falsa Kathy denome Catherine não tinha nada na sua vida para que fosse encontrada mortano seu quarto na sua cama ou será que teria? Ela era secretária que trabalhavapara um detetive privado que lhe pagava mal e ela gostaria de um dia ser umaescritora famosa tal como Rick, como víamos pelos relatos do diário dela,mas não tinha namorado, e amigos poucos ou nenhuns. Cada dia estava maisdifícil de encontrar o culpado ou culpada até ele reparar no detalhe...

316. LUÍSA SOLINHO - UMA MARGARIDAVelho nojento! Esventrei-o! Como o porco que era! Ver o terror

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naqueles olhos baços que sempre me desdenharam... Agora percebo porquê!Indesejada! Até pela minha mãe! Minha fraca e ridícula mãe! A implorar até aofinal! Serei sádica por ter adorado vê-lo a balançar, como um espantalho,daquele candeeiro sem luz? Não, depois de dezoito anos a viver naqueleinferno! Morrerem pelas minhas mãos! Pelas mãos da sua doce filha! A minhamãe e o meu querido avô! Era o mínimo. Arrogante e matreiro, o detetiveSimões! “Como morreu o seu pai?”. Belo interrogatório! E o gancho decabelo? Onde andará a maldita margarida? Margarida... Única herança domeu pai. Morto por me tentar contar a verdade. Quem estará a tocar àcampainha? -Margarida Dias, encontramos a sua flor. Nas entranhas do seuavô. Está presa pelo homicídio do seu avô e da sua mãe. O gancho de cabelo!

317. LURDES ALVES - O DESAPARECIMENTO DAS 16:30Batia as 16:00 no stand DANCK, enquanto Max, o homem mais rico, de

Nova York conferia papelada, 6 encapuçados roubam 3 carros de altacategoria que seguiam para o Japão para uma convenção dos melhores carrosdo mundo. Já na esquadra da polícia receberam uma chamada de emergênciade Max. Herry, ,Ruth, ,Ros e Caspian foram para o local com os seusreforços , depois de analisarem através das câmaras de vigilância , viram queera a equipa de Millan, o maior traficador de carros, que já estavam a tentarapanhar há muito tempo. Ruth e Ros encontraram impressões digitais,levaram para análise e concluíram que eram de Millan. Henry e Caspianseguiram os carros através do sistema gps que tinham para o caso de tentativade assalto até ao Japão. Batiam 16:30 quando os carros desapareceram dosistema, pois os gps tinham sidos retirados. No final da estrada havia umaentrada secreta que iria dar a uma gruta. A equipa chegou e viram Millanprenderam-no e levaram os carros de volta.

318. M. BEATRIZ COSTA - SEM TÍTULOSusan acordou com um barulho abafado no andar de baixo. O ecrã do

telemóvel marcava 17 horas e 43 minutos. Com grande esforço e um esgar dedor ergueu desajeitadamente o tronco, inclinando-se para a frente. O acidentetransformara cada movimento num exercício tortuoso. Sentar-se era difícil eandar um desafio. Felizmente o Paul tinha estado sempre lá, na saúde e nadoença, como os votos prometiam. Em baixo, o ruído continuava, passosentrecortados com um remexer de objectos. “O que é que ele andará a fazer?”.Nem sequer o tinha ouvido a entrar em casa. -Paul? Paul, podias chegar aqui?O barulho cessou de imediato. Os seus olhos descaíram novamente para otelemóvel. Só então reparou no canto esquerdo, onde um ícone em forma de

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envelope piscava freneticamente. A mensagem dizia: “A reunião foi adiada paraas 18 horas. O jantar vai ter de esperar. Desculpa. Beijos”.

319. MADALENA CONDADO - SPRINT PARA A MORTEAtravessava o parque como se fosse perseguido pelo próprio Diabo, a

camisa colada ao corpo, as mãos sujas de sangue a prova de um crime quenão cometera, voltar para trás não era opção era assumir uma culpa que nãoera sua. Ouvia as sirenes da polícia, aproximavam-se, os gritos aqueciam a frianoite mas gelavam-no por dentro. Aproveitava a escuridão para se afastardaquele nefasto local, não sabia para onde ia, só não podia parar. Já virademasiadas séries policiais para saber que não devia tocar num corpo caído,mas quando percebera que ainda respirava não hesitara. Segurara-a nos seusbraços. Agora enquanto fugia através do parque sentia a mente dormente, ocorpo ameaçava ceder não podia voltar para trás ninguém acreditaria na suapalavra. Chegara ao portão. Foi quando a viu do outro lado da estrada. Amesma mulher que tivera nos seus braços. Afinal não morrera. Então dequem era aquele sangue que lhe escorri das mãos? Sentia a camisa colada aocorpo, era o seu sangue que a prendia.

320. MADALENA SILVA - A HERANÇATomás foi encontrado morto na cadeira do seu escritório. Não fora o

resultado da autópsia a indicar que tinha sido envenenado e todos diriam quefora vítima da idade. Cabia-me a mim, inspetor da PJ, descobrir o assassino.Sem família conhecida, as pessoas mais próximas da vítima eram a empregadadoméstica e a filha desta, recentemente chegada da Roménia. Reparei numacarta que estava na secretária. Era, na verdade, um testamento. Tomás deixavauma fortuna à empregada. Mas Alice confessou que amava o patrão. Jamais omataria. O mesmo disse a filha, Eliana, que encontrei a borrifar um arbustoque trouxera da terra natal. Mas há dias de sorte e um caso incipienteresolveu-se quase por si só, graças a uma informação forense crucial: Tomásfora assassinado com escopolamina, uma droga letal existente nas sementes doarbusto Datura, muito comum na… Roménia. Lembram-se do arbusto queEliana borrifava?

321. MADALENA TEIXEIRA DE FIGUEIREDO - SEM TÍTULOTinha conseguido reuni-los a todos. Nem um em falta, na tão familiar

sala estagnada na terrível década dos anos trinta. Um deles é o meu assassino.Será ela, a minha querida irmã, tão compenetrada naquele nojento tique

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nervoso de roer as unhas quase até ao tutano? Ou talvez ele, o meu lealmelhor amigo, que à primeira oportunidade nem um segundo hesitou empassar-me a perna. Oh... mas então e o meu pai? O seu filho primogénitoainda nem tinha arrefecido no caixão e estava já a esfregar as mãos de alívio.Ah, todos eles, suspeitos e suspiciosos uns dos outros, incapazes de amaralguém a não ser eles mesmos, alminhas que não olham a meios para alcançaros seus egoístas fins. Bem, e quem sou eu para desdenhar. Afinal, suicidei-me. Mas ninguém tem de o saber... e pelo menos um irá pagar.

322. MAFALDA NETO - CASA DE SANGUEOs Santos tinham-se mudado há dez anos e desde logo começara o ritual

da pintura nocturna bianual. Duas vezes por ano o Sr. Santos pintava a casa,lá para as três, quatro da manhã. Mas em Junho não houve pintura e foi aíque começaram a desaparecer pessoas dos bairros limítrofes. Primeiro o Sr.Aníbal (um alívio para a muita gente), depois o Sr. Marcelo (mais do génerocanalha disfarçado), mas foi quando desapareceu a Dona Eunice que as coisasficaram sérias. Nessa altura a casa dos Santos voltou a mudar, para umvermelho vivo. Ricardo só via uma explicação, aquilo não era tinta, era sangue!Inspirado pelas séries policiais, comprou uma lata de luminol e foi aí que umbrilho intenso o encadeou. Era mesmo sangue, mas foi tarde demais que seapercebeu que não estava sozinho. Seis meses depois, houve nova pinturavermelha na casa dos Santos.

323. MAFALDA PEIXOTO - QUARTO SANGRENTOUm quarto ensanguentado, com um corpo destruído por uma força

incrível; foi com o que a detetive Daniela Teixeira se deparou neste dia escurode Inverno. Apesar de ser uma cena macabra, era algo que a detetive se tinhaacostumado; no entanto ver entranhas espalhadas pelo chão era revoltante.Após investigar o corpo e falar com colegas, descobriu que a vítima eraManuel Rodrigues; nesse instante o seu sangue gelou e a sua cara tornou-serígida. Ao reparar numa foto na mesinha de cabeceira a bílis subiu à sua bocaquase forçando-a a vomitar, mas por força de vontade ela impediu que issoacontecesse. Apesar de amar o seu trabalho, Daniela perdeu o desejo deresolver este crime. Sempre acreditara que tinha de proteger as pessoas ecapturar criminosos…mas ela sabia quem este homem era, do que era capaz.Afinal, também ela tinha sofrido às suas mãos…

324. MAFALDA SOUTO - TUDO COMEÇOU ASSIM

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Restelo, Lisboa. A noite está fria, chove. As ruas estão silenciosas. Asúnicas lojas abertas são as estações de serviço. O parque infantil, para onde ajanela do meu quarto dá, está escuro. Todo o Restelo dorme. Acordo comum “bum” seguido do chiar de um carro que arranca velozmente. Levanto-me. Fico estático. São duas da manhã. Decido voltar para a cama. Deve tersido apenas um sonho… De manhã, vejo uma multidão no parque –o queserá que aconteceu? Arranjo-me e vou até lá. No centro do círculo formadopela multidão, está um homem deitado, morto. Tem um buraco na testa.Conhece-o. Olho em redor. Vejo outro homem, está a observar tudo daesquina. Cruzamos os olhares. Tenho um pressentimento de que está ligadoàquela morte. A polícia chega e manda-nos para casa. Quando volto a olhar, ohomem já não está lá. Procuro-o mas não o vejo. Desapareceu.

325. MANOELA FERNANDES - PLANO PANTERAA perseguição, por este ladrão de jóias conhecido por “Pantera”,

começou há poucas horas quando o detetive Lima, chefe do departamento deroubos, apercebeu-se que este agia de acordo com as transmissões de rádioque eram feitas pela polícia. O detetive questionou-se, como é que era possíveleste ter conseguido escapar das joalharias assaltadas tão rapidamente, vistoque esta era cercada de carros de polícia após terem sido accionados osrespetivos alarmes? Uma vez que as transmissões eram sempre feitas nomesmo canal, Lima decidiu engendrar um plano. Este consistia em divulgarfalsas informações via rádio para a Pantera mas, entre os polícias eramfacultadas as indicações para o encurralar. Deste modo, foi necessário agendara colocação de determinados agentes da polícia, com o intuito de cercar oladrão e outros para a perseguição em si. Esta estratégia foi posta emandamento e, por simular uma situação normal, a famosa Pantera foicapturada com sucesso e sem baixas policiais.

326. MANUEL CARDOSO - IN THE SHADOWSEla olhou para trás de soslaio. Viu a silhueta dele, ou dela, escondida na

penumbra. Emma aumentou o passo. Queria chegar a casa o mais depressapossível. Olhou para a frente, de queixo erguido e tomou uma postura maisconfiante. A sua mão foi instantaneamente para o bolso dentro do casaco ondeguardava o gás-pimenta. Por mais que tivesse medo a rapariga de 25 anostentou não o demonstrar para a sombra que a seguia. Mais uns passos e elaestaria numa zona mais movimentada. A noite fazia-se fria e ela aconchegou-semais no casaco. Talvez por isso ou pelo arrepio que a percorreu ao perceberque o desconhecido estava cada vez mais próximo. Táxi!. Emma gritou.

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Porém o táxi não parou. “Olá, Emma!”. Algo afiado trespassou-lhe as costas ea sua esperança de salvação. Ela caiu de costas e só viu os olhos azuis asorrirem para ela.

327. MANUEL CARVALHO ARÃO - ROUBO E PAIXÕESDurante uma época James um ladrão atraente que procurava se destacar

fazendo coisas erradas roubando para poder mostrar aos amigos quedinheiro não era problema para ele queria impressionar os amigos e asgarotas era um apaixonado incorrigível que quando se apaixona-se por umagarota ia logo de cara sem medir as consequências sem medo de ser rejeitadoquanto mas rejeitado fosse mas ele roubava para presentear as raparigasmostrando que ele pode dar tudo para elas quando numa bela tarde de por dosol olhando para o horizonte avista uma bela mulher chamada Esmeralda deolhos azuis marinho. James estava ciente de que para ter o amor de Esmeraldanão bastava o seu charme tinha que ter mas alguma coisa que ele não sabiaque algo se passava na casa de James os seus pais estavam a desconfiar do seuenvolvimento com os roubos que estava a acontecer dentro de casa e o seu paiGregory estava super furioso porque já desconfiava das acções do seu filhoresolveu puni-lo.

328. MANUELA LIMA - ROSAS PRETASAbre a porta que da para o jardim. Brisa suave entra envergonhada como

se tivesse medo de incomodar. Joana sorri, o gato roça-se; pede autorizaçãopara uma escapadela e corre para a folhagem de outono. Joana olha para acasa vizinha. É de noite e com ela vem o jantar especial. Pedro vai revelar algosobre si e sobre Rui. Ambos excitados dizem que seguem o caso doestrangulador. Suspeitam de um amigo mas ainda é cedo. Certezastelefonemas anónimos e corpos. Jovens estranguladas e enterradas no jardimda casa onde moram. Ricas, solteiras... ricas no sentido bancário da palavra.Pedro e Rui revelam a última pista. O suspeito é vizinho de uma tal Marta.Joana não dorme porque é Marta... com uma herança milionária. Pensa nosamigos, no estrangulador, vê-se enterrada no jardim rodeada de rosaspretas... “Raios”, mergulha a cabeça na almofada. Foi a última coisa que fez.

329. MANUELA NOGUEIRA ROSALINO - SEM TÍTULOEstava no meu terraço a ouvir musica e apanhar sol quando uma sombra

se projetou no meu corpo. Pensando ser um dos meus sobrinhos, abri umolho já preparada para reclamar mas vi um vulto que não conhecia a olhar-me

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fixamente. Levantei-me de um salto assustada e ele caiu mesmo onde eu estava.A tremer peguei-lhe no pulso mas nada senti, estaria morto? Chameiambulância, bombeiros, Inem, polícia...; e 2 deles apareceram e tomaramconta do morto e do meu relato que não era grande, pois só o vira quandome fizera perder o bronzeado. E quem iria pagar a cadeira partida? Nãoobtive resposta nem para essa nem para nenhuma questão e decidi investigarpor conta própria. O morto não fora esfaqueado nem baleado, portantodroga. Perguntei a vizinhos e soube que houvera uma festa na vizinhança. Fuibater à porta em questão e abriu-me um rapaz a cheirar a álcool. Mostrei afoto que tirara do morto e ele reconheceu-o de imediato. Contei à polícia queficou satisfeita mas a minha cadeira ninguém pagou.

330. MANUELA SOUTINHO - SEM TÍTULOBrandon e Eleanor Cooper mudaram-se para a antiga casa do primeiro,

por vontade do mesmo. A mulher percorria os corredores da casa até queouviu o ranger de uma porta. Ainda que em pânico por não saber o quepoderia encontrar do outro lado, decidiu desvendar o mistério. Empurrou aporta e viu dois cadáveres na cama. Completamente alterada correu, gritandopor Brandon que lhe perguntou o que tinha acontecido. Eleanor contou-te aomesmo tempo que ligava para a polícia. Quando esta chegou, Eleanor, ainda atremer, encaminhou-os para o local. Mas, para o espanto de todos, os corpostinham desaparecido e Eleanor não arranjava explicação para o sucedido. Derepente, Brandon apareceu e afirmou que a mulher estava louca e que esteepisódio já se havia repetido antes e, as autoridades levaram-na. Brandonpensava que não iriam descobrir que ele havia matado o casal mas, talveztenham descoberto...

331. MARA JESUS - DEATH PARADENova Iorque, cidade onde os sonhos são feitos, inclusive os sonhos de

muitos criminosos. Estávamos numa das épocas mais movimentadas do ano,a acção de graças, e a tradicional Macy’s Parade preparava-se para sair à rua.Entre a 77th e a 33rd street, as ruas ficavam repletas de pessoas ansiosas paraassistirem ao famoso desfile, longe de poderem imaginar o que iriamtestemunhar. Íamos a meio do desfile quando um figurante caiu inanimado,bastaram apenas segundos para os restantes se aperceberem da gravidade dasituação. Uma pessoa atingida a tiro, no meio da confusão, quando todos osolhos estavam fixos em balões gigantes e desfiles alegóricos. Seria este o crimeperfeito? O figurante era Francesco, um italiano pacato, proprietário de umrestaurante familiar em Little Italy, e que se mudara para os estados unidos

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em busca do sonho americano. Então o que levaria alguém a assassiná-lo? Sehavia uma razão, Steve & James da NYPD eram a dupla indicada para odescobrir.

332. MÁRCIA GONÇALVES - SEM TÍTULOEra uma típica manhã de outono até ouvir o som seco de alguém a bater

à porta. Estranhei por um momento. Levei a mão à anca antes de rodar amaçaneta. Rick. Era suposto só começar daqui a dois dias. “O crime nãodescansa Lya”. O quarto onde se repousavam os corpos de um casal nos seusoitentas fez-me perguntar de imediato “quem o herdeiro?”, mas Rick já tinhadepositado a sua aposta no mordomo, uma acusação sem qualquer tipo defundamento. Um caso sem testemunhas, onde apenas os corpos podiam falarmas nem esses o conseguiam fazer, nenhuma causa para aquelas mortes. Foientão que entendi porque é que ele estava tão interessado, não podia serconsiderado um assassinato mas Rick estava decidido a encontrar umaexplicação para aquelas mortes súbitas. Passamos o quarto a pente fino; nada.Se tivesse sido um crime, aquele era o crime perfeito.

333. MÁRCIA MARQUES - SOLDADOChegou há dois dias. Ele já não me conhecia. A sombra escurecia-lhe os

olhos. Violência, mal-estar. Um produto seco preso num corpo que expiravaagonia. A noite passada teve um pesadelo. Estava de volta às trincheiras e uminimigo atacou-o pelas costas. Perdi os sentidos. Não sei quanto tempo estevea amassar-me o corpo. Como é que posso sair à rua? Por mais que me tape,vêem-me sempre nua, negra, pálida. Quando acordei, ele não estava lá. Porum segundo, sentime aliviada. Ele não estava lá. Para onde é que foi? Com ocorpo ainda dormente, desci as escadas. Procurei-o por toda a parte e vi a suasombra no jardim. Corri para ele como se soubesse. Com os pulsos emsangue, com os olhos em paz. Sentei-me sem qualquer lágrima. Ali jaz ocorpo do homem que esperei durante tantos anos. Esperei e ele não voltou. Aguerra levou-o com ela. Ela foi a sua esposa, sobrevivência e morte. Ali jaz ocorpo do homem que esperei durante tantos anos e eu já não conhecia.

334. MARGARIDA CASTILHO - A MENSAGEMNum dia chuvoso de dezembro, um homem é encontrado morto num

beco da cidade de Nova Iorque, com uma pistola na mão. A polícia determinaque foi um suicídio. A chuva lavou todas as pistas excepto a cassete que seencontra no leitor de cassetes encontrado ao lado do cadáver. O detetive

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encarregue do caso carrega no botão de play e ouve uma mensagem desuicídio seguida de um som de tiro. Intrigado, o detetive rebobina a cassete eouve novamente a mensagem. Um jovem polícia presente no local do crime,apressa-se a correr para o detetive e diz: “Isto foi um homicídio!”. O detetivedecide investigar o caso. Porquê? Um homem morto não conseguiriarebobinar a cassete e a primeira vez que o detetive ouviu a mensagem, ouviu-ado inicio...

335. MARGARIDA GONÇALVES - UM TIRO DE KARMAAgora aqui, sozinha, percebo a facilidade com que a vida nos estende o

pé em jeito de rasteira (graças a Deus, a corrida com obstáculos é a minhaespecialidade). Já há meses que te observo. Vi quando és um tipo fácil de ler.Adoras alvos fáceis, frágeis... O típico cobarde. Subestimaste-me! Foi tão fácil“oferecer-me” para tua próxima vítima! Uma rapariga indefesa deixar a portaaberta... tão conveniente, mas tão infalível. Mal sabias que a presa eras tu. Eagora pergunto-te: como te sentes? Como é levar um tiro de Karma em cheiono peito? Não podes responder, nem é necessário que o faças. O calor dosilêncio que te abandona o corpo diz tudo. Mas, não era suposto sentir-mealiviada? Caramba, ele estava a pedi-las... Porquê? Oh, não me façamperguntas difíceis. Ele nasceu para morrer. Ou pelo menos é disso que Alicese convence enquanto a polícia lhe arromba a porta.

336. MARGARIDA TRINDADE - TRAIÇÃO E MORTENuma escura e fria noite do mês de Dezembro, uma família reunia-se

para a ceia de Natal. Anna, a filha mais nova do casal a quem pertencia a casada reunião, sofria de autismo. Calhou em conversa, durante o decorrer deuma série criminal, a pequena Anna olhar de relance para um dos membrosda sua família. Ninguém percebeu para quem ela olhou. Horas depois,encontraram Anna estendida no chão, fria e sem vida. Quando o detetiveMarquez chegou ao local do crime, reparou que em cima da mesa ao lado docorpo estava a boneca de Anna, juntamente com um copo de vinho. O corpotinha marcas de unhas grandes pintadas de vermelho, embora nenhumamulher tivesse as unhas pintadas. Ao verificar os quartos, o detetive encontrouo quarto da tia Berta duas alianças, um teste de gravidez escondido e umacamisa rasgada. Verificou também que eram as próprias unhas da falecida queestavam pintadas. Então, virou-se para a tia Berta e disse: -Para além de trair oseu marido ainda mata a sua sobrinha.

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337. MARIA LUZ - UMA SITUAÇÃO GELADA“Encontrado um corpo de uma mulher no meio de uma avenida dentro

de uma banheira cheia de gelo”, diz o reporter. Gil contacta logo Helena parase dirigirem ao local do crime. Acabados de chegar começam a observar e acolecionar provas, Helena fala com o médico legista e ele informa-a que estamulher foi assassinada por uma faca mas que não consegue dizer ao certo omodelo da mesma. Gil começa a especular: “Será que o assassino quererá ocorpo preservado? Ou será a sua assinatura?”. Passaram-se dias deinvestigação quando Gil estava sentado na esquadra a ver televisão e assistiu auma televenda. Foi logo a correr ter com Helena e contou-lhe que havia nomercado um molde de gelo em formato de faca. Interrogaram o dono dapatente e chegaram à conclusão que foi a culpada foi a mulher dele devido àoutra mulher ser a amante.

338. MARIA PEDROSA - MUNDUS INFERUSPartira contrariada para aquela viagem. A insistência e os argumentos da

família e dos amigos de que uma pausa no trabalho e nos afetos lhe fariambem, haviam-na convencido. Reservara tudo numa agência de viagensconceituada para se permitir não ter de tomar decisões nem assumirimprevistos, apenas usufruir. Cumprindo o 3.º dia do programa, o grupovisitava naquela manhã o valoroso património de um Palácio oitocentista,famoso pelo dantesco mundo subterrâneo dos seus jardins. Ao desafio doguia para percorrer os trilhos iniciáticos, Ann vacilou, mas acabou por entrarna Gruta do Labirinto. Como que levada por uma hipnose extra-sensorial,perdeu-se dos outros acompanhantes e deambulou na escuridão. Quando,assustada, procurou a lanterna do telemóvel para encontrar a saída, sufocouum grito perante a presença de milhares de morcegos esvoaçantes, grito quenão conseguiu calar diante do corpo putrefacto que jazia a seus pés...

339. MARIA PINTO - SEM TÍTULOConhecem a rivalidade entre irmãos em casa? Imaginem agora terem que

trabalhar juntos todos os dias! Miriam e Miguel são irmãos e trabalhamjuntos à 5 anos. Miriam trabalhava no Instituto de Medicina Legal enquantoMiguel trabalhava para a Polícia. Num dia normal eram três: Miriam, Miguele a parceira de laboratório de Miriam, Inês. Parecia ser um dia normal até queMiriam destapou o corpo que chegara e que Miguel reconheceu como sendoo do seu chefe, Nuno. Era uma pessoa com demasiado poder e um egodemasiado grande. Após investigação deduziu-se que a sua morte terá sidocausada por se ter metido com as pessoas erradas. A arma utilizada foi a

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toxina de peixe-balão, da qual bastam 25mg para causar a morte. Da lista depessoas que tinham acesso à toxina só uma teria motivo: Inês. Porquê?Porque Nuno estava prestes a descobrir que andava a roubar o laboratório háanos.

340. MARIA SEQUEIRA - DEPOIS DA MORTEO assassino estava quase a chegar a Baker Street. Conseguia vê-lo da

janela. A chuva caia miudinha como sempre e não se ouvia entre o pulsar dosseres vivos. Estava frio porque os humanos repuxavam a roupa para a regiãodo estômago como se fosse elástica naquela zona e quase corriam sobre umchão cinza que refletia um céu da mesma cor. Enquanto esvoaçava, continuavaa bailar na minha mente o meu assassínio. Ha! Como me fazia falta agora umaboa baforada de cachimbo… A porta abriu-se e ele trespassou por mim. Fizcair mentalmente o candeeiro de petróleo para a fogueira. Labaredas amarelascomeram os montes de papéis, envolveram o homem, lamberam a sala e oprecioso violino. Podia descer a rua sem pisar em direção ao chamamento daluz. As elementares estratégias escritas em momento brilhantes para descobrircriminosos nunca iriam pertencer a M.

341. MARIA SILVA - AS 6 DA MANHÃSão 6 da manhã de quinta-feira, a estas horas costumo ver as coisas mais

macabras, odeio as 6 da manhã. Foram encontrados membros de um corpoespalhados pela rua, um braço na berma da estrada, uma perna numcontentor do lixo, e continua a busca...Com o corpo já “montado”, vi um serque costumava ser uma rapariga bem bonita: olhos cor de avelã, carinha deboneca e um corpo outrora bonito, não muito exagerado ou falso como os dealgumas raparigas. Ao olhar para ela na morgue não pude deixar de pensar naminha irmã, tinha a mesma idade quando morreu, 23 anos. Morreu no seudia de anos, assassinada pela colega de quarto. Sufocou-a com a gravata donamorado. Foram encontradas impressões digitais no corpo, e bingo! Temoscorrespondência! Mas... não pode ser possível, os meus olhos não podemestar a ver bem... são da minha irmã...

342. MARIA ALEXANDRE VASCONCELOS - UMA NOITENuma taberna como outra qualquer, três mulheres sentam-se ao pesado

balcão de madeira e pedem uma bebida enquanto aguardam pelo seuencontro. Nunca se conheceram, partilham apenas aquela reminiscência desensações oscilantes entre o nervosismo de um primeiro encontro e o

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desconforto dos olhares furtivos dos homens que as rodeiam. Vão nasegunda bebida, os seus olhos flutuam entre a porta da taberna e o telemóvelque teima em continuar sem novas mensagens. «E agora?» -pensam. Obarman pergunta: «Vais querer mais alguma coisa, boneca?». O corpoestremece com um arrepio, como um presságio de algo de mau que está paravir. Respondem: «A conta, por favor. E um táxi...». As três mulheressentaram-se no mesmo banco da mesma taberna, poderiam ter-se conhecidoora não fossem noites distintas. Chegaram e saíram sozinhas mas nenhumaregressou a casa. Desapareceram nessa noite. As suas histórias em nadaconfluem, à exceção daquela noite: um encontro perdido, uma taberna, umtáxi e a solidão.

343. MARIA ANGELINA ANTUNES - NEBLINA JUNTO AO TEJOUm mistério por resolver... Estela estava farta da vida que levava. Sentia-

se só! O trabalho ocupava-lhe a mente e o tempo livre. A família havia-aabandonado cedo e os amigos perdeu-os sem se aperceber como. Naquelanoite, saiu mais cedo do escritório onde trabalhava como advogada,inventando uma desculpa. Era uma sexta-feira e, por isso, decidiu ir até àsdocas tomar um copo. Procurava algo de novo, uma aventura, talvez umamor... A neblina tinha-se instalado e Estela teve dificuldade em estacionar.Quando saiu do automóvel sentiu-se desconfortável. A medida que caminhavaapressava o passo. Aquele ruído... Aquele arrastar atrás de si produzia umsom quase metálico que a perturbava. Sem esperar, uma dor agudatrespassou-a e o sangue começou a jorrar. Agarrou a garganta e tentou gritar.Inutilmente. Estela morreu só como viveu, junto ao Tejo.

344. MARIA BÁRBARA GRANJA - BLACK ROSESJoanne, uma jovem de 20 anos, mudou-se recentemente para uma vila no

Arizona. Vivia sozinha na casa que lhe foi deixada pelos seus pais. Todosgostavam dela, ela era simpática, muito bonita e reservada. Não tinhainimigos. Foi encontrada esta madrugada no bosque, à volta do corpoestavam pequenas pedras brancas, rosas negras a cobrir o seu peito e velasbrancas derretidas. Tinha-lhe sido arrancado o coração. Estava maquilhada ecom o cabelo penteado. Junto ao corpo estava um papel em tons de douradoque dizia: “o mal encarregou-se de ti, agora foste purificada”. Ninguém sabeo porquê de a terem assassinado, contudo existem 3 suspeitos, David, umrapaz da vila que alegadamente perseguia Joanne e lhe enviava mensagensobscenas, Chris, um antigo namorado que não aceitou a separaçao e Dora,uma mulher que praticava rituais satânicos e que andava a observar Joanne.

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Quem a matou? Porquê? Haverá mais suspeitos?

345. MARIA IDALINA SILVA - MAIS FORTE QUE O SANGUE...O detetive recostou-se na cadeira cruzando os braços de mangas

arregaçadas, revirou os olhos para o tecto e estalou a língua. Estávamos nistohá horas! Eu dizia que não tinha feito nada e ele desconfiava ainda mais demim. Não ajudava ter o sangue dela na minha camisa, alguns arranhões nacara e o testemunho de alguns curiosos de rua a afirmarem que eu gritara aovento que gostaria de a ver morta. Pois.... -Vocês discutiram… -começou odetetive espetando o indicador no tampo da mesa a cada enumeração; -envolveram-se numa luta, da qual a vitima saiu ferida com alguma gravidade,você proferiu uma ameaça… e horas depois ela aparece morta… Admita quematou a sua irmã! Fui preso, inocentemente! Meses depois recebi uma cartasem remetente. Abri, tinha uma fotografia da minha irmã sorridente e umbilhete. “Estou morta e tu estás preso… no final, eu venci-te na mesma”.

346. MARIA IRENE FERREIRA - A JUSTIÇA NEM SEMPRE É JUSTAMariana viu os pais e a irmã serem mortos quando tinha apenas 8 anos.

Ela nunca se esqueceu, mas o caso não levava a lado nenhum; não haviampistas... Por isso, foi arquivado. Mariana cresceu e, hoje, tem 23 anos e é umapolícia experiente com uma boa parceira e um ótimo namorado. Tudo estavabem com a exceção de que nunca tinha conseguido encontrar justiça para asua família... Até que um dia, o sol simplesmente brilhou... Uma nova pistasurgiu e o seu capitão ia informá-la de tudo: -Vais ter de te infiltrar, mas tensde comprovar a tua lealdade. -Como? -Matando... -Quem? -perguntou elaansiosa, mas com algum receio. -A mim! -Ele não era somente o seu capitão,mas também o seu companheiro; a sua alma gémea... Mas agora tinha deescolher: justiça para a família ou vida para o amor...

347. MARIA J. CANHA - AUGE DA MORTEO corpo de Arabelle Finnigan-Carlyle, recente presidente da Fundação

depois da trágica e inexplicável morte de Dickinson Carlyle seu marido, caiucom grande estrondo em cima do palanque enquanto era anunciado o seunome, formando-se uma poça de sangue à sua volta e ensopando o bilheteque lhe caíra da mão. Minutos antes tinha atravessado a Galeria Nacionalonde decorria a Gala da Fundação. Exuberante no auge dos seus 30 anos,resplendorosos e ondulados cabelos castanhos, olhos cor-de-avelã, longaspernas cobertas pelo vestido vermelho que lhe deixava os ombros de fora e lhe

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proporcionava um belo decote, era a mulher mais desejável da sala, assimcomo a mais odiada. Enquanto se dirigia para o varandim do 1.º andar, tinhasentido os olhares mordazes dos 3 enteados e da ex-mulher de Dickinson,apesar de Scott, o mais novo, a desejar mais do que odiar. Mas o passadosurgiu-lhe de repente…

348. MARIA JOÃO FARIA - BENFICA E SPORTINGO Joaquim já tem alguma idade… e é do Benfica. Os seus companheiros

são o velho gato Tobias, e três peixinhos. Por baixo vive o Matias, corpulentorapaz, ferranho pelo Sporting. O seu convívio não é propriamente amigável.Frequentemente, no café da vila, o Matias deixa sair por entre dentes que umdia dá cabo “do velho”. Desabafos… Ninguém liga. Certo dia, o Joaquimchega ao café vermelho como um tomate, exaltadíssimo. Os peixes e o gatoestão mortos. Assassinados! E a tv onde via o seu Benfica desaparecera.Todos pensaram no Matias. Joaquim foi à polícia, queria este crimeresolvido, exigia justiça. A polícia depressa resolveu o caso: o Matias nãoestava na vila na data do ocorrido. Se calhar fora o gato que matara os peixes,e eles não fazem autópsias a gatos… A tv também já era muito velha…Desumanamente, o caso foi arquivado.

349. MARIA JOÃO GONÇALVES - ASSASSINATO NO ARCO DOTRIUNFO DA RUA AUGUSTA

Alexandra Carmo, Prof. de História, apareceu morta na sala do relógiono Arco do Triunfo em Lisboa. A vítima caiu através da cobertura de vidroque projecta luz do terraço do miradouro para a sala do relógio, teve morteimediata. Procedeu-se ao interrogatório com as pessoas presentes no local efoi pedido colaboração à polícia brasileira. O crime está relacionado com atentativa de roubo da coroa do Rei D. João VI do museu da Escola de BelasArtes no Rio de Janeiro, a 4 de janeiro de 2012 por parte de AlexandraCarmo. A professora deslocou-se ao Brasil com o intuito de participar numapalestra nesse Museu, mas que acabaria por não acontecer. Lucas Morais, sobpressão, acabou por confessar o assassinato, por motivo de vingança pelamorte da sua namorada, Cláudia Soares, morta acidentalmente durante otiroteio policial dentro do museu.

350. MARIA JOSÉ CARVALHO - OUT!Na passada noite, foi encontrado um corpo no maior “court” de ténis de

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Nova Iorque. A vítima foi imediatamente reconhecida por um dosresponsáveis pela manutenção do local como sendo o tenista número ummundial e as autoridades crêem que se trata de homicídio. A vítima mortalapresentava múltiplos ferimentos, efectuados com uma arma branca, nosmembros inferiores, incapacitando os seus movimentos, de forma a poder serneutralizada com o recurso a uma rede de ténis, na qual se encontravaenrolada. A palavra “OUT” estava escrita no chão, de modo a que a vítima apudesse visualizar, enquanto estava em sofrimento. A veracidade deste factopode ser atestada pela comparação entre o grau de secagem da tinta e a horaefectiva do óbito, que se consumou com a dilaceração da aorta da vítima. Estafoi provocada por trespasse, recorrendo a uma raquete de ténis afiadamanualmente, provavelmente pelo homicida.

351. MARIA JOSÉ L. M. FILIPE - PLANOS QUASE PERFEITOSTudo tinha sido perfeitamente planeado, desde o toque à campainha, no

momento em que todos os vizinhos estavam já confortavelmente em casa, àingenuidade de Ana. “Ana, peço desculpa por te incomodar tão tarde.”.“Sofia? O que foi? O que se passa?”. Posso subir?”. Ana tinha-lhe aberto aporta. O ato tinha sido mais difícil do que alguma vez imaginara. O sorrisoalegre de Ana a mutar-se num esgar de dor enquanto o veneno, colocado noseu chá, fazia o devido efeito. Limpou cuidadosamente tudo em que tinhatocado. Não conseguia compreender porque estava agora sentada numa salade interrogatório em frente a um agente. “A Senhora mentiu-nos”, foramdispondo na sua frente imagens de uma câmara de vigilância. Sofia a entrar e asair do prédio de Ana, data e hora claras no canto inferior direito. A CaixaMultibanco, tinha esquecido a câmara do Multibanco.

352. MARIA TERESA FERNANDES - A BANDEJA HUMANAOs pés dos detetives afundaram-se nos pêlos do tapete branco.

Percorreram com os olhos o luxuoso apartamento em que se encontravam:móveis negros, decorações prateadas, obras de arte que apenas competiam emtamanho com a TV. “Quanto maior a carteira, mais perversa a mente”,observou Ted. Em cima da mesa de vidro, a razão pela qual se encontravamnaquele local: o corpo nu de uma jovem jazia contra o tampo frio. Em cimadele, estavam colocados pedaços de sushi. Os rolos coloridos de arroz e peixetinham sido estrategicamente postos, dos joelhos até ao pescoço da jovem.Nos seus lábios, a peça que deixava adivinhar a causa da morte: um perigosopedaço de Fugu, o venenoso peixe balão. Os olhos raiados da vítimareflectiam uma expressão de terror. Lanie levantou um pedaço de sushi e

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depois outro. Cada pedaço ocultava cortes profundos. “Pobre rapariga”.Adivinhou o sofrimento da vítima: teria estado paralisada com a tetrodoxinacontida no Fugu, sentindo todos os golpes infligidos.

353. MARIANA APARÍCIO - SEM TÍTULONessa manhã, ela não sabia que tudo se desmoronava. Aquele homem

que um dia tinha amado não iria desistir de a encontrar. Era essa a certeza doinspetor Oliveira ao sair daquele cenário sangrento que o envolvia neste jogocontra o tempo. Sílvio não sabia que ela não estaria em casa naquelamadrugada, mas saberia que já estariam atrás de si. O telefonema foi imediato,mas ainda assim tarde demais. Ele sabia onde encontra-la e levou-a consigo.A morte violenta de três jovens inocentes naquele apartamento deixava anteverum final trágico, mas o inspetor sabia para onde eles se dirigiam, aquele localque Sara tanto dizia temer. Ao longe distinguem-se os vultos junto ao rioenquanto Sara se contorce nas mãos que a sufocam. Um tiro. Uma bala quetrespassa e, de repente, o silêncio que enaltece o som da água que embate nosdois corpos imóveis. Era demasiado tarde.

354. MARIANA BARBOSA - BETRAYALEra a noite mais escura e Laura, uma mulher de 27 anos, fora encontrada

cortada aos bocados e posta em caixas e enviada para o marido; dentro de umacaixa tinha uma mensagem: a tua mulher era uma traidora. A polícia começoua trabalhar nesse caso. Passado duas noites, Paige, de 24 anos, foi enviada aomarido, cortada aos bocados, a polícia viu que tanto a Paige e Laura tinhamum homem em comum, um ex-namorado. A polícia interrogou-o, mas PeterHale tinha um álibi, por isso a polícia libertou-o. No dia seguinte outramulher, chamada Caitlin, de 28 anos, foi cortada em pedaços e enviada para omarido e continha o mesmo papel da primeira e da segunda, e esta tambémera conhecida do Peter, só de desta vez Peter deixou um impressão digital, naroupa da vítima. Peter foi preso e ele matou-as, pois elas o traíram.

355. MARIANA FERNANDES - SEM TÍTULOElaine chega ao escritório e encontra, como sempre, Robson. -Ainda não

temos nada, diz ele. Vão até à cafetaria mais próxima. Sentam-sesilenciosamente. Porém, o silêncio é rapidamente interrompido por um tiro.Com uma rápida troca de olhares, Robson e Elaine levantam-se e dirigem-separa o local de onde veio o som. Ao chegar, deparam-se com uma cena poucopreocupante. As pessoas olham umas para as outras, em busca do atirador.

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Pelo aspecto do lugar, tinha havido uma festa. Elaine apresenta-se comoagente policial, escolhendo algumas pessoas para irem com ela. Robson fica,em busca de alguma pista. Elaine interroga várias testemunhas. Eles acabampor descobrir que Jennifer, uma convidada, havia sido raptada por Wendel, eque este, apenas para que as pessoas se distraíssem, disparou. Jennifer foiencontrada 3 dias depois. Denunciou Wendel, que imediatamente foilocalizado e preso, e mudou-se para Florida, para nunca mais ser vista.

356. MARIANA LUZ - SEM TÍTULO- Já posso abrir os olhos, ‘mor?. A mão do Daniel agarrava o braço da

Alice. Tinha servido para a guiar, pelos corredores sinuosos, enquanto elamantinha os olhos fechados. Essa mesma mão apertava agora com mais força,quase o suficiente para a aleijar. - Sim. Uma pequena gargalhada escapou oslábios do Daniel e a sua mão largou-lhe o braço. - Sim, já podes. - O que étão engraçado? As suas sobrancelhas quase que se juntaram, criando umaruga na sua testa. - Chamares-me de amor, quando estou prestes a matar-te.Um pequeno sorriso iluminava o seu rosto. A ruga na testa da Alice ficoumaior. - Isso não é engraçado! - Ainda bem. Não é suposto ser engraçado. Oseu sorriso ficou maior. E, no momento seguinte, as mãos dele estavam àvolta do pescoço dela, a pressionar. Em apenas um minuto, a ruga da Alicetinha completamente desaparecido, tal como a sua vida.

357. MARIANA MENDES - PARABÉNS PARA TINY, 6 da manhã. Tudo está cinzento e um cheiro a comida asiática que

vem de um restaurante chinês invade a rua. A detetive Nicole Leone chega paraoutro dia de trabalho. Está nos Homicídios há 5 anos, nos quais criou aimagem de detetive lógica e intuitiva que complementava com um ar rígido.Havia sangue por todo o lado pintando de vermelho escuro o contentor noqual a vítima estava encostada. - Deduzo que o assassino seja um fã dePollock? - Bom dia, detetive. Parece que sim, foi um ataque violento.Contamos pelo menos 31 facadas. Sem identificação ainda, mas encontrámosuma bracelete com a palavra “Coco” e um cartão de aniversário. Bela prenda,não? –o técnico ironizou voltando para o seu trabalho. A detetive riu porsimpatia e afastou-se a hiperventilar. Era o seu 31.º aniversário e Coco era aalcunha que o seu marido desaparecido lhe chamava.

358. MARIANA NEVES - ADEUSAbri os olhos de repente. Inspirei o ar pútrido e tentei regularizar a

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minha respiração e o bater do meu coração. Só via breu, um breu sem igual.Total e esmagador. Tinha que agir, tentar fugir, pensar racionalmente! Qualera a minha última memória? Ah! Sim! Um restaurante, um homem loiro aservir-me vinho cor de sangue, conversas e risos. Como é que fui daquelerestaurante para aquele escuro infinito? Estendi as mãos para o vazio. Apalpeias tábuas de madeira do chão até encontrar uma parede. Com esforço,levantei-me e tentei manter-me em pé. “inspirar, expirar” relembrei-me uma eoutra vez. Procurei algo pela parede, dando pequenos passos de cada vez.Pontapeei algo e continuei. Madeira, pregos, farpas... Um interruptor!Pressionei-o ansiosa! Uma luz branca e intermitente encheu a divisão e o meucoração parou. Mais de vinte corpos de mulheres enchiam o chão. Tinham aminha estatura, idade, cabelo. Sentei-me no chão. Nunca sairia dali com vida.Era o meu fim. Tal como fora o delas.

359. MARIANA PINHO - TOQUE MORTÍFERONa manhã seguinte a um jantar de dois casais amigos, um dos homens

aparece morto. Enquanto a polícia chega, um clima pesado cresce entre afamília da casa e a viúva convidada. A vítima tinha sido assassinada com umafaca espetada no lado esquerdo do seu peito, mesmo em cheio no coração. Omotivo do crime era traição. O suspeito podia ser o homem da casa, tentandosalvar o seu casamento. Ou a mulher traída, que dormira em casa da amante.Ou a amante, farta de ser a segunda opção. Seria um caso quase impossível deresolver, havendo três suspeitos. Até que um telemóvel toca. O da amante.Não o tendo consigo, a amante entra em pânico, pois todas as mensagens vãoconfirmar a sua traição. Todos seguem com os ouvidos o som do telemóvel eficam incrédulos por verem que quem o tem e o atende é a filha.

360. MARIANA REIS - FOI O ÚLTIMO DIA QUE COLOQUEI BATOMAs sirenes da ambulância enterdoavam-me. O café onde todos os dias

passava pela manhã, estava agora destruído, em cinzas e cacos de vidro. Numamesa, uma caneca de café invulgarmente posicionada ao Sol, continha oscabelos do cadáver mergulhados. Deveras deprimente! A vítima? Carlos Silva,celebridade rica em part-time, idiota a tempo inteiro. Não passaram apenasdoze dias desde o seu julgamento por pedófilia? Um homem de 62 anos quegostava de violar adolescentes devia ter os seus inimigos. Rafael, o meuparceiro, olhava-me com um sorriso de satisfação. Este, com cabelosdourados e o mistério da alma revelado no andar, levou-me até a supostaacompanhante do homem. Catarina, uma menina de 15 anos. —Porqueestavas com ele?, -pergunto. —É errado matar quem nos nega a inocência?

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Um sorriso, um disparo, um corpo embatido no chão. —Marisa! Mantém osolhos abertos! Marisa! Porque está tudo embaciado?

361. MÁRIO TEIXEIRA - O VÍCIO DO JOGOMax, pai solteiro viciado em álcool e jogos clandestinos, perde todo o

seu dinheiro na altura de Natal. Como tal vende alguns bens que temnomeadamente electrodomésticos da sua habitação realizando novamentedinheiro para jogar de novo clandestinamente. Como o azar era um grandealiado do seu vicio volta a perder todo o dinheiro. Desesperado e frustradoporque era dia 23 de dezembro, véspera de Natal, e queria dar uma prenda aoseu filho Oliver, de 6 anos, decide ir a casa da sua mãe, Maria, com o objetivode furtar algumas peças em ouro, local do qual tinha uma chave para entrar nahabitação. Qual o espanto quando é surpreendido com o aparecimento da suaavó materna de seu nome Diana que não sendo do conhecimento de Maxestava em casa da sua mãe, e o surpreende, acabando Max por entrar empânico e a assassinar com um candelabro.

362. MARISA CARDOSO - NEM O INFERNO É CERTOAcendeu o cigarro. Nada mudou. Mais uma teoria que cai por terra.

Olha para ambos os lados da estrada. Ela sempre lhe tida dito que ia acabarsozinho. Na verdade ele tinha-se voluntariado para ficar, alguém tinha queajudar com as mudanças. À sua volta montanhas de desperdício, comida,roupas, móveis, livros. Partiram na ânsia de começar tudo num outro sítiolevando o que consideravam mais importante, telemóveis, tablets, selfie sticks.Agora só, conseguiria finalmente ouvir mas nada restava, apenas os seuspensamentos gastos. Acende outro cigarro. O autocarro aparece e pára nalinha. O último homem entra.

363. MARISA PEDROSA - VARAJack acordou às 8 da manhã, ou melhor levantou-se a essa hora, os

malditos gatos da vizinha não o deixaram dormir, passaram toda a noite alamuriarem-se. Sai para o jardim, para tomar o seu pequeno-almoço, quandose depara com a cena mais bizarra que alguma vez vira, três dezenas de gatos,formando uma roda à volta de algo, não tinha qualquer noção do que era.Bem devagar foi chegando mais perto do local de tamanha gataria, parecia quetudo corria em câmara lenta, como nos filmes. Deu dois passos para trás, nãoqueria acreditar no que via, os gatos pareciam que estavam a rezar, a vizinha

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estendida no chão, morta. A vizinha não tinha nem 2 nem 3 gatos, mas sim30, acabaram por matá-la, por todos quererem brincar com uma maldita vara,ela é que ficou com ela, espetada no pescoço, mesmo na veia jugular.

364. MARLENE PEREIRA - SEM TÍTULO“Ninguém me compreende. A minha mãe é uma assassina em série, o

meu pai é um pedófilo, o meu irmão é traficante de órgãos e a minha irmã éuma ladra internacional”. Ao ler a composição do João a professora ficapreocupada e decide mandar um recado ao seu encarregado de educação: “Porfavor, leia a composição do seu filho e tenha uma conversa com ele”. Nos diasseguintes o João não aparece na escola. A professora decide investigar edescobre que eles já não se encontram na cidade, então começa a recear de quea composição talvez fosse verdadeira. Fala com os seus colegas e no diaseguinte desaparece. Os seus colegas falam com a polícia e esta vai a casa doJoão, onde encontra toda a sua família morta. Após várias investigaçõesencontram o João a torturar a professora, ele vira-se e diz: “Esqueci-me dedizer: Sou um psicopata”.

365. MARTA COELHO - HALLOWEENRicardo decide organizar um baile de mascaras, já que a mãe não se

encontra. A música ambiente deixa espaço para conversas que se criam atéque, como um sussurro longínquo, mas que se consegue ouvir bem, umpequeno grito ecoa na sala, fazendo com que os convidados parem e com arconfuso tentem perceber o que será. Ricardo avança para o andar superior,mas não encontra ninguém, as luzes da casa começam a piscardescontroladamente e ele diz: -Fantasma. Rita, sua irmã, responde: -Tãoparvo. Os cortinados esvoaçam, mas as janelas estão fechadas, ouve-se oranger de unhas na parede, mas não se vê ninguém, quando o pânico seinstala, quando se começa a acreditar que um ser sobrenatural está aassombrar a casa, Cláudia, a mãe, aparece com sangue falso na cara e roupa: -Happy halloween, não causei nenhum ataque cardíaco aos mais sensíveis, poisnão? -Mãe. -Ri-se Rita um pouco desiludida por não ter sido ideia dela. Umanoite perfeita para os irmãos que adoram um pouco de mistério.

366. MARTA COSTA - A NOITE HORRENDAEra uma noite chuvosa, Rita encontrava-se no seu quarto lendo o seu

livro favorito, quando ouve barulhos vindo da cozinha. -Pai? Rita chama.Ninguém responde, uns segundos depois ouve passos a se dirigirem ao seu

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quarto e a luz do corredor a acender-se. Os passos e as sombras aproximam-se do seu quarto, a porta do mesmo abre-se devagarinho, Rita apercebe-seque não era o seu pai, quando ela tinha uma visão perfeita para odesconhecido, ela apercebe se que ele tem uma máscara de esqui e roupascompletamente pretas. Ele aproxima-se de Rita com uma faca. Quando seencontra perto de Rita, o assassino esfaqueia-a 15 vezes, para ter certeza queela está morta. Quando ele acaba o serviço com Rita, dirige-se ao quarto doseu pai, Filipe que se encontrava a dormir. O assassino faz o mesmo processocom a mesma faca sem a limpar. Quando acaba com o Filipe, volta para acozinha e limpa todos os vestígios e todas as suas impressões digitais e ambosos quartos.

367. MARTA DAMÁSIO - A SUSPEITA DE HUGOAviso: vacinação contra a gripe, dia 15, utentes com mais de 65 anos e

adolescentes asmáticos. Hugo entrou no Centro de Saúde pelas dez einscreveu-se. Sentado na sala de espera, era o único adolescente. Rodeado develhotes, reparou numa mulher elegante, com uns 40 anos, de gabardina egalochas Hunter. Destacava-se pela idade, indumentária e porque escreviasempre que alguém era chamado. Meia hora depois, ouviu-se: −Senhoresutentes, as vacinas esgotaram, deverão regressar amanhã. Ouviram-seresmungos, mas todos, Hugo incluído, saíram ordeiramente. Passadosalguns minutos, no autocarro, ouviram-se tosses e algumas pessoas caíraminanimadas. Hugo reparou que eram os utentes vacinados. Alarmado, omotorista parou o autocarro e, mantendo as portas fechadas, chamou apolícia. Os polícias chegaram, com equipamento protetor, e Hugo, que virapelo canto do olho a mulher da gabardina ainda a tomar notas com umaexpressão estranha, disse: −Senhor agente, quero relatar algo suspeito...

368. MARTA LIBER - TERROR PERFEITOSete cabeças foram encontradas hoje de manhã. As mães das vítimas

receberam embrulhos onde vinha a cabeça dos seus filhos desaparecidos. Omestre desse terror era colega da faculdade das vítimas, que perdeu umaaposta com eles. Todos esqueceram o assunto, mas não ele. Para vingar a suamemória, este ao longo de sete anos ia ter com os seus velhos amigos,convidava-os para o seu carro com intuito de os por inconscientes. Levava-ospara um armazém subterrâneo onde, em primeiro lugar, cortava as suascordas vocais e arrancava a língua. Cortava as vítimas em pedaços enquantovivos. Atirava os restos mortais, feitos em picadinhos, aos cães de rua, mas acabeça era posta numa caixa e armazenada até a altura certa. Até que um dia,

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estas apareceram nas mãos das mães das vítimas. E tudo descoberto graças àscrianças, que foram pagas por um estranho homem, que lhes deu a missão dechamar as vitimas para o local, e à outras para entregar os embrulhos,deixando claro que a mente não tem limites.

369. MARTA ROMÃO - AFINAL, A MORTE NÃO CABE NUM POEMA!Como um escultor que examina a sua obra e se contorce enquanto se

critica a si mesmo, sentou-se de pernas cruzadas e o seu olhar acompanhava osangue que coloria aquele chão em melancolias tétricas. Acendeu um cigarro.Era mais frio que o chão! O fumo do cigarro pairava na entreluz queespreitava dos entretantos de um estore de uma janela fechada e ele continuavaali, isento de qualquer moral cheio de apatia, a observar quem já foi gente aapagar-se no chão. Com as forças a rebentarem enquanto o suor falava,transportou o corpo para a mesa do canto da sala. Arregaçou as mangas eagarra num serrote. E, entre espirros de sangue da carne que se desmonta,nos entretantos dos ossos que rangem em angustia, vê a desilusão!... Afinal,matar, aquele fruto proibido pela lei e a religião, ainda que apetecido, não oinspira a escrever poesia!

370. MARY VIEIRA - SEM TÍTULODuas sombras ganharam volume ao virar da esquina. A lua brilhava

intensamente e ela voltava do trabalho, sozinha. Abrandou o passo e olhou emredor. Não havia ninguém na rua e temeu pela sua segurança. Voltou paratrás à medida que as sombras recortadas nos edifícios cresciam. O medo e opânico apoderaram-se dela. Trémula, tirou o telemóvel da bolsa. E estacou aoperceber que estava sem bateria. As lágrimas começaram a toldar-lhe a visão.Tentou acalmar-se, lembrando-se de como respirar. Olhou uma vez mais emvolta, mas não via ninguém. Apenas as sombras. Apertou o casaco e correu omais rápido possível, tentando escapar da sua presença ameaçadora. Dobrouuma esquina e parou, quase sem fôlego. Mas elas continuavam lá e estavammais perto. Sobressaltou-se quando dois gatos passaram na sua frente. Massuspirou de alívio, descansada por serem apenas gatos. Contudo, não seapercebeu de uma terceira sombra...

371. MAURO COMPLETO - SEM TÍTULOEram uma e trinta da manhã e um casal atravessava a Ponte do

Coronado, confortavelmente assentados no interior do seu SUV, enquantoconversavam sobre a excelente noite que tinham passado num “Bar & Grill” à

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quinze minutos atrás. A noite de lua nova estava ligeiramente nublada e aponte tinha pouco tráfico sobre ela, o que parecia estranho para o casal queestava em San Diego fazia 3 dias e só naquele dia estava a fazer a travessiadaquela ponte, durante a noite. Calaram-se e dois segundos depois, umveículo no sentido contrário, acionou as luzes de estrada que encadearamtotalmente o casal que se viu completamente desprovido do sentido da visão.O condutor do veículo desligou as luzes de estrada e o casal viu-se com umamulher completamente amarrada a vinte e cinco metros de distância do carro eo desfecho, para além de lamentável foi obviamente trágico...

372. MICAELA SORAIA - SEM TÍTULONão era a primeira vez que Íris ouvia a sua mãe e o padrasto a

discutirem, mas neste momento os gritos eram mais altos que a música, e elateve que ir ver o que se passava. Foi tudo tão rápido. Quando entrou só viuAntónio em cima da sua mãe, a apertar-lhe o pescoço e ela a ficar sem ar.Marisa subiu para as costas dele e aplicou o estrangulamento aprendido nojiu-jitsu. Fez o máximo de força que conseguiu fazer, e resistindo às investidasdele para se libertar. Ela viu-o a cair no chão sem reacção, pensou que tivesseapenas desmaiado mas não. Ele não voltou a acordar. Ela não podia ver a suavida estragada por homem como aquele. Embrulhou-o num saco do lixo,dirigiu-se a uma ponte e largou-o. As pessoas pensariam no suicídio devidoàs inúmeras dívidas, e nunca descobririam que tinha sido ela.

373. MICHAEL DOMINGUES - UM SACRIFÍCIO A FIM DE JUSTIÇAJake Sully, cirurgião, foi encontrado morto num bloco operatório

esvaziado em sangue, torturado e queimado. Os golpes e o ácido injetadoindicavam um suicídio mas o que não batia certo era as cápsulas das balas, amensagem descontextualizada escrita em sangue e o motivo de tanto cenário.Nos últimos tempos perdera imensos pacientes e a esposa num atentado nometro. Parecia suicídio mas as investigações revelaram a existência de umasegunda pessoa, um assassino pois só ele podia ter inferido alguns dosgolpes e com o conhecimento químico-orgânico -o seu irmão. Os irmãosacreditavam que só assim e com todas as provas deixadas em casa e nolaboratório, era possível fazer justiça e colocar na prisão, as pessoas quecometeram todos aqueles crimes brutescos mas cuja falta de provas na polícia,os afastava da prisão. Estava tudo relacionado, as mortes e os criminosos.Quem era Jake afinal?

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374. MICHELLE SILVA - SERÁ TRAIÇÃO?Num dia que tudo parecia tranquilo o escritor Rick, começa a perceber

que algo estranho passa-se com Kathy, ela tem andado muito preocupada etensa. Rick começa a ficar preocupado com o que Kathy estaria a esconder,começa a interrogar os colegas de trabalho, mas não sabiam nada, Rick cadavez mais preocupado decide interrogar Kathy, mas quando a vê com outrohomem sorrindo e abraçando, deduz que Kathy está a trai-lo, triste com oque acaba de ver vai para casa desolado, onde encontra sua filha e conta-lhetudo, incrédula a filha diz que o pai deveria falar com Kathy antes de tomarqualquer decisão.Rick vai confrontar Kathy, mas quando a vê ela é raptadapor um antigo namorado louco, Rick desesperado vai a procura dela portodos os lados com os colegas de trabalho dela, ate que encontra-a e o ex-namorado, que diz ser o pai do bebe que Kathy espera, foi quando descobriuque Rick que iria ser pai e afinal tudo passou de uma confusão e que ohomem que Kathy tinha visto era o médico.

375. MIGUEL CORREIA - CRIME ESCALDANTEDurante o voo, o piloto do Boeing 777 entornou uma chávena de café

por cima do equipamento de comunicações do avião. Devido ao facto de umlíquido nunca combinar muito bem com circuitos eléctricos, o sistema doavião começou a emitir códigos de emergência, um dos quais significavapirataria e o avião foi obrigado a aterrar de emergência em Nova Iorque eficou retido na pista. Após investigações de Kathy e Rick, a referia chávena foilevada para interrogatório após resgate e intervenção policial. O pirata do ar,uma porcelana de Bangladesh, apresentava elevados níveis de cafeína, umelevado teor de açúcar no sangue e tinha em sua posse uma arma branca depequeno porte, uma poderosa colher em inox. O terrorista não estava sozinhopois estava acompanhado por um pires também de porcelana do Bangladesh,apresentando no entanto pequenas falhas no rebordo. Neste último caso, opirata já tinha cadastro tendo sido várias vezes condenado por assédio achávenas escaldadas.

376. MIGUEL CORREIA - SEM REPARAÇÃOA loja de reparações virada do avesso. Tudo destruído e vandalizado. No

chão, numa poça de sangue, Mário Farfalhas. Indivíduo pacato e sem registode violência entre vizinhos. O carteiro encontrou o corpo e, em choque,alertou as autoridades. Os investigadores começaram a procurar pistas, nomeio dos equipamentos amontoados, pelo chão, destruídos a pontapé. Aautópsia iria revelar a causa de morte. No balcão analisaram o livro de

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serviços, escrito à mão. Vários nomes, um repetido: José Valadas. Na últimasemana, visitou a loja por cinco vezes e com a mesma reclamação. As coresestavam trocadas. Foi chamado a depor. Durante o interrogatório, quando viuas imagens de segurança, disse que os monitores tinham o mesmo problemaque o seu televisor! Os testes psicológicos revelaram daltonismo. Depoisdisto, confessou ter perdido a cabeça, e na discussão, agrediu com um tablete, ao ver o sangue, desatou a correr.

377. MIGUEL MARTINS - A FACAO som que a despertou a meio da noite não deixava margem para dúvidas

e, por isso, cautelosamente, em silêncio, levantou-se. Mal entrou na sala,Kathy sentiu que algo estava errado. Depois olhou para o chão e viu,aterrorizada, aquela mancha que alastrava no tapete bege que a sogra tantogostava. Levantou os olhos e ali estava ele. Impávido. A faca que empunhavaainda pingava. Aí Kathy percebeu como devia agir. Avançou decidida eagarrou numa t-shirt que ficara esquecida em cima de uma cadeira. Deu maisum passo e atirou-lha à cara. Antes que o seu gesto tivesse resposta gritou: –Limpa isso rapidamente e vê lá se da próxima vez que abrires um pacote deleite usas uma tesoura em vez de uma faca de trinchar carne, Rick!

378. MIGUEL OLIVEIRA - UMA QUESTÃO DE PERÍCIAAos poucos recobro os sentidos mas dores agonizantes no meu ombro

esquerdo deixa-me nauseado em ver esse buraco no meu corpo e a escorrersangue. Estou atado a uma cadeira ainda vestido com o meu fato para osnegócios e está um calor infernal. Adiante vejo a minha mala ainda intacta,tenho de lá chegar o quanto antes senão é o meu fim. Para estragar as coisas,ouço passos, talvez o meu futuro carrasco. Ainda tinha tempo, vi aquilo umachave de fenda pequena, a custo consegui apanhar. Esperei por ele e quandovirei para trás, levantei-me e dei com as pernas da cadeira, que o fez cair. Coma chave apontada para ele, caio em cima, espetando no pescoço. O mais difícilestava feito, agora era sair da cadeira. Várias vezes fui contra a parede atédestruir. Saí daquela cave com a mala como nada tivesse acontecido.

379. MIGUEL ÁNGELO PAIVA FONSECA - OS 5 ANOS!Todos se queixavam dos barulhos noturnos numa casa não longe do

centro da vila. Alguns populares disseram que os barulhos não se pareciamcom nada que já tivessem ouvido, na verdade parecia que a casa eraassombrada. Eu e a minha parceira fomos chamados a investigar depois de

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um corpo ter aparecido no centro da vila. Tudo apontava para que a jovemtivesse sido morta na tal casa. Decidimos investigar. Os donos daquela casatinham morrido à 5 anos mas não foram encontrados os seus corpos, desdeentão a casa estava abandonada. Ao investigarmos a fundo apercebemo-nosque aquela jovem era só a ponta do icebergue. Os donos tinham fingido a suamorte e nestes 5 anos tinham vindo a matar e torturar jovens entre os 18 e 25anos num total de 50. Ao perguntar o porque de o terem feito a resposta foi:“Era divertido brincar com elas!”.

380. MIKA MARISA - SEM TÍTULONas Royal Docks, em Londres, estava uma rapariga morena, olhos

claros, esbelta e sensual, encostada a um candeeiro. Parecia estar à espera dealguém. Passados 10 minutos, eis que uma SUV aparece, em alta velocidade.Abranda, e... 3 tiros saem de dentro da mesma. A rapariga cai, esvaindo-seem sangue. Quem seria esta rapariga mistério? Uma personagem tão adorávele que alguém não queria que contasse algo, ou teria sido ameaçada?Testemunhei este assassinato, e não me sai da cabeça. E se descobrem? Eu,uma simples secretária, que ao acaso, naquela fatídica noite, estava a fazerhoras a mais, e por coincidência olhava a lua. Que linda estava a lua! Não seique fazer. Procurei um detetive dos homicídios. Disse para ficar quieta, agirnormalmente.

381. MIKE SOUSA - NOITE DE LUA CHEIA!Algo estava errado… Ao meu lado, um corpo inanimado estava coberto

de sangue. Na minha mão uma faca pingava sangue numa poça com a formade um sol vermelho mas sem calor. O corpo parecia-me familiar mas amemória não me deixava perceber quem era… Nada fazia sentido! “Como fuieu ali parar? E que fazia aquela faca na minha mão?”. Virei o corpo e sentimegelar... como se todo o meu sangue se tivesse juntado ao sol vermelho… “Elaé o amor da minha vida”: como poderia eu ter cometido um ato tão cruel?Senti o peito apertado. Sem conseguir respirar, sentime asfixiar; como porinstinto e num ato involuntário, levantei-me e senti a escuridão envolver-me!A respiração intensa era agora acompanhada de um ritmo frenético do baterdo meu coração… Tudo não tinha passado de um sonho... apenas um maupesadelo! Ao meu lado, estava o amor da minha vida num sono de paz. Láfora o luar emitia uma luz que acariciava a sua face e parecia sussurrar…“Dorme bem, meu amor!”

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382. MILTON ANASTÁCIO - FAZENDA CORÚMBIARAAno 2000, norte do Brasil. Fazenda corúmbiara, a través do seu gerente

comercial, Fernando Ferrer. Recruta trabalhadores para extração de madeirase criação de gado de corte. E começaram a chegar homens do nordeste dopais para o trabalho. Com proposta de acerto e pagamento em moedacorrente, a cada seis meses. E no final do contrato quem quissese ficarcontinuava a trabalhar e, quem não queria continuar, fazia o acerto, recebiatodo o montante acrescido de juros e supostamente voltaria a casa, só quequem levava os antigos funcionários de um por um a casa éra o própioFernando Ferrer. E no caminho desviava para um retiro numa regiãomontanhosa onde a empresa rural mantinha uma criação de porcos paraconsumo propio. E em uma gruta ele mantinha em cativeiro numa jaulagigante uma (anaconda) sucuri fâminta. E com a ajuda de dois comparsasamarravam a pessoa, pegava de volta o dinheiro, e o jogava para alimento doréptil, que logo engolia sua presa e assim não deixava nem uma pista docrime...

383. MÓNICA CRUZ - A PACATA ASSASSINA EM SÉRIEChegando ao local vimos novamente um corpo decapitado e mutilado na

zona genital, era o sexto no espaço de um mês. Ao ver os resultados daautopsia, acusou um sedativo no sangue que não o deixara retaliar. Nessanoite ao ver com atenção os casos, notei que todos eles tinham conta num sitede encontros online e tinham conversas com a mesma utilizadora. Converseicom ela através de uma conta que criamos e consegui após alguns dias marcarum encontro. Já no bar, com os meus colegas a paisana por perto, umarapariga aproximou-se, conversamos durante alguns minutos, fingi distrair-me por momentos e após trocar o copo com o meu colega sentado ao meulado, saímos do bar, acompanhei-a ao carro onde tentou me atacar nummomento de fúria. Os meus colegas agarraram-na e chegando aodepartamento, acabou por confessar, verifica-mos a morada dela, ondeencontramos as cabeças de todos os homens, achamos também um registo deum encontro feito através do mesmo site que acabou em violação, levando-a acrer vingança.

384. MÓNICA CRUZ - O DUPLO LADO. O MISTÉRIO PORRESOLVER…

Eduard Catcher encontrava-se numa rua escura na qual só tinha umcandeeiro com uma luz intermitente. Ele sabia que era um erro ir à aqueleencontro, mas não existia outra maneira de descobrir a verdade. Eduard tinha

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ascendências inglesas e asiáticas, mas as suas feições eram ocidentais àexcepção dos olhos verdes e ligeiramente amendoados. Ele sabia que ocriminoso estaria a observá-lo, pois este revelava ter rituais de extremoperfeccionismo e era muito meticuloso em todos os detalhes. Toca o telefone.–Catcher, estás aí? -Nas redondezas. Novidades? -Segundo as análises eimpressões digitais não é um, são dois! -Explica-te, melhor como é possível?-O DNA que recolheste tem quase 90% de elos semelhantes e é diferente daoutra amostra. –Obrigada, Cecília. Desligou a chamada e viu dois homens, oseu coração disparou com a adrenalina. Só podem ser eles! Mas será? Noentanto o sentimento era óbvio, sorriu, e pensou, finalmente vos apanhei!

385. MÓNICA DIAS - SEM TÍTULOJá não consigo correr mais, tenho de parar, as minhas pernas já não as

sinto, apenas o sabor metálico que perdura na minha boca me faz reconhecerque ainda existo . Há minha volta só vejo árvores e escuridão, um labirinto detroncos, apenas o brilho ténue da lua ilumina o trilho acidentado. Não o vejomas sei que ele está aqui, sinto o à minha volta, sinto a sua presença constante,como que à espera do momento ideal para atacar, um predador à espera dasua presa, à espera de um erro. O bater do meu coração ressoa na minhacabeça como se nela existisse. O meu corpo está a desistir. Tenho de parar.Não vou adiar mais o inevitável. Uma última chamada. Uma última despedida.“Olá... sou eu. Só te queria dizer que...”. Chamada terminada.

386. MÓNICA GALAMBA - AROMA LETALO banco estava cheio de clientes naquele dia. O segurança observava à sua

volta: o homem que falava alto ao telemóvel, a mulher que se maquilhava eborrifava com perfume, as duas amigas que conversavam animadamente. Dototal de clientes e funcionários, apenas um saiu do banco. Minutos depois,todos os outros estavam mortos. Álvaro Barradas, responsável pelainvestigação, estava intrigado: não havia sangue nem marcas de luta. Ostécnicos forenses e o médico legista apontaram na mesma direção: estavamperante um ataque biológico. As imagens da câmera de vigilância mostraramque apenas a mulher que se maquilhava saiu do edifício. A borrifadela deperfume tinha sido o propagar de um vírus letal. Mas como é que ela estavaimune? A agente novata Sofia Belas entrou na sala, bela e cheirosa. -Perfumenovo? –perguntou Barradas. -Encontrámo-lo na cena do crime, cheirava beme experimentei. Foi só uma borrifadela.

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387. MÓNICA JIN - INGÉNUODe repente entrei numa livraria para me abrigar da chuva, cumprimentei

o dono e perguntei-lhe o que estava a escrever. -São só memórias antigas.Interessada em ouvi-las? - deixou de escrever e continuou: -Certo dia, umdemónio e uma rapariga apaixonaram-se e começaram o seu romance. Masesta queria construir uma família e o demónio não lhe podia dar. Assim,sentindo-a afastar-se, arrancou-lhe o coração. Ele acreditava que ao ter o seucoração, ela não iria amar ou ir atrás de mais ninguém, exceto aquele quetinha o seu coração. Porém ele não se apercebeu que com isto também lhetinha arrancado a vida e o corpo caído no chão nunca mais poderia amá-lo denovo. -Ao terminar a história ele olhou melancolicamente para a moldura queestava em cima da mesa, era uma foto do senhor em jovem com uma rapariga.-Arrepende-se do que fez? -perguntei. -Talvez…

388. MÓNICA JOSÉ - UM PESADELO DE PEQUENO ALMOÇOKathy acordou com os raios de sol a entrarem no quarto. Olhou para

Rick e viu que ainda dormia. Sorriu para ele, levantou-se, vestiu-se foi à ruacomprar scones frescos para preparar um pequeno almoço surpresa. Aochegar a casa, preparou um tabuleiro, ajeitou o cabelo, abriu os botões dacamisa e lá foi devagarinho até ao quarto. A porta estava encostada,empurrou-a com a ajuda das costas e ao se virar na direção de Rick, soltouum grito deixando cair o tabuleiro. Rick acordou sobressaltado eacompanhando com os olhos na direção em que Kathy apontava, gritoutambém, agarrando-se às suas almofadas. Estava uma mulher caída sob otapete e rodeada de uma poça de sangue”. O que é que aquele corpo estava alia fazer?”. Era a pergunta que ambos faziam. Decidiram chamar a equipa da12.ª Esquadra e a investigação começou.

389. NADIR HACAMO - UMA NOVA VIDANão faças isso, por favor. Tem de ser, Laura. Ele tem de pagar pelos

crimes. Queres passar o resto da vida a fugir? Não temos escolha… Podesentregar-te. Laura, temos o maior traficante de mulheres amarrado à nossafrente. Vou acabar com isto. Se o fizeres não temos futuro. Que queres dizer?Estou grávida, Michael. Não vou deixar o nosso filho visitar-te na prisão.Amor, isso é maravilhoso. Mas não muda nada. Tenho de o matar. Se ofizeres nunca te perdoarei. É um criminoso mas é o meu pai. Tentava ganhartempo. A polícia estava perto. A porta cedeu e dez agentes desarmaramMichael. Traidora. Sabes o que ele fez à Mariana! Desculpa-me mas é o meupai. Nunca te vou perdoar. Nunca me irás encontrar. O quê? Outra cidade,

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novo nome, nova vida. Vou sair da prisão e vou apanhar-te. Então até daqui a25 anos. Levem-o daqui.

390. NATACHA GUEDELHA - QUEM?Ela não sabia de nada, ela só sabia que era o escape das frustrações dos

seus pais. Ela era Rita, a rapariga que tinha sido levada para um lar devido amaus tratos, cuja história ia agora, que desapareceu do lar sem deixar rasto,ser desvendada pela polícia local. Ela era a rapariga que sempre questionoutudo. Felizmente, a detetive Sofia soube ajuda-la. Esta descobriu que duranteos últimos anos Rita andara a receber mensagens de alguém que a seguiaconstantemente. Que em todos os seus aniversários alguém lhe mandavabonecas com a boca cozida parecida a ela. Sofia descobriu, que já no lar, Ritacontinuava a receber mensagens que lhe diziam que o fim estava perto. Pertodemais. E quem sempre o esteve fora a amante do pai, que devido acomplicações no parto, não podia ter filhos e que, por isso, agora queria terRita para si.

391. NATACHA SILVEIRA - A VALSA DE INTRIGASA melodia “Lua d’Inverno”, dos Moonspell, afundava os meus sentidos.

Um relâmpago iluminou a noite, iniciando uma intensa valsa de chuva. Ogato siamês fitava curioso, o espectáculo proporcionado pela mãe natureza,espreguiçando-se, de quando em vez, na minha direção. O meu dedo brincavacom a borda do cálice cristalino, que refletia o brilho da lua. Desviei o olharpara a estante central, preenchida por todo o tipo de colorido em formatolivro, destacando-se a etiqueta bronze o nome “Rick”. Tudo o que meinspirou, para ser quem sou neste momento. Alguém que partilha algo maisdo que a mesma forma de pensar... A imaginação... o mesmo sangue! Obrilho fugaz no meu olhar fez com que o felino miasse. Rick estava a poucashoras de saber quem eu era... E do que era capaz. A verdade seria revelada,através de um enigma, como oferta, um livro da minha autoria para o autorpredileto. -Um brinde!, exclamei, elevando o cálice. Um trovão percorreu océu, espelhando o meu sorriso travesso.

392. NATÁLIA AUGUSTO - INOCÊNCIA MAQUIAVÉLICAÀs vinte em ponto, Emilie despediu-se do grupo de amigos, que parecia

estar na esplanada para ficar. Tinha pressa de chegar a casa e de ir ao ginásio.as aulas de yoga faziam-na sentir outra; parecia que o seu corpo adquiria umaelasticidade e leveza que lhe eram desconhecidas; mas o que a fazia ir para uma

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outra dimensão era o final da aula: o momento de relaxamento. Conseguiarelaxar e visualizar tudo o que o mestre dizia. Vezes havia que parecia flutuarnuma imensa bolha branca, azul, laranja, amarela. O espreguiçar final eradivino. Era ali que se recompunha do stress do dia-a-dia. foi a casa num ápicee trocou de roupa; ao sair do quarto ouviu água a correr; dirigiu-se à casa debanho e deu com um cenário macabro: o corpo do seu mestre de reikiesquartejado e espalhado pela divisão maquiavélica, Emilie riu à gargalhada esaiu.

393. NATÁLIA FERNANDES - CRIME NO ELEVADOR-112, qual a sua emergência? -Ela não respira! Está Morta! Ajudem!

Polícia chega ao local, mulher de 45 anos jaz no elevador, estrangulada, tendosido furtado um fio de ouro. Martins confirma que encontrou o corpo, acaminho do emprego, e ligou para o 112. Manicure do prédio ao ladoinforma a polícia: -A Eva tinha uma marcação para as 10h, como tinha tempoaproveitou para ir visitar uma amiga nesse prédio, vi dois rapazes a correr ruaabaixo. Os suspeitos foram localizados num café, na esquadra nointerrogatório afirmam: -Não temos nada a ver com isso, nem no prédioentramos. Polícia analisa o local do crime para os incriminar. Nenhumvestígio dos suspeitos, não se prova que tenham estado no elevador ecometido o crime. O mistério continua, sem qualquer pista. Uma semanadepois o fio de ouro aparece na loja Comprouro, Polícia chega ao local:Mostre-nos os vídeos de vigilância. Polícia dirige-se ao prédio, local docrime, detém o Martins por homicídio e roubo. Um crime de oportunidade.

394. NATÉRCIA MARQUES - O DILÚVIONaquela noite pardacenta, apenas o silêncio incomodava Irina. Deitada

no sofá, eis que olha para a porta de entrada e visualiza um manto de águairromper-lhe casa adentro. Depressa levanta-se, calça os chinelos e dirige-seaté à inundação. Irina abre a porta e repara que a mesma emana da casa deBalzac, seu vizinho da frente. Bate. Bate. Balzac não responde. Irina apressa-se a ligar para a esquadra. Claire e John chegam ao local. Após insistência,decidem arrombar a porta. Triste cenário. Aparentemente Balzac suicidara-se,enforcando-se na cozinha. Por baixo dele, o dilúvio: –Algo não bate certo.Como conseguiu este homem pendurar-se na trave? Não encontro nada queo tenha ajudado a subir. –Questiona Claire, procurando algum bancotombado ou algum escadote. –O que vês?, pergunta John. –Água, muitaágua, responde Claire. –Aí tens a tua resposta. Este homem utilizou umbloco de gelo para se pendurar na trave.

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395. NÉLIA MATOS - AMANTES E CÚMPLICESO inspetor Luis releu os últimos sms do telemóvel de João. -Tenho

medo. E se falharmos? – Calma, Rita. Só tens de fazer o que combinamos. Jáchegaste? -Sim. Ela ainda está em casa. -Avisa-me quando a Ana sair. –Lígame! Ela sabe tudo! -Estás doida? Não te posso ligar! –Ela tem uma arma!– Sai daí. –Joãozinho, querido, que ideia parva usares a amante comocúmplice. Uma morte desnecessária e por culpa da tua cobardia. Agora,traste, Foge! Porque quando eu te apanhar vai ser épico. Ah! E não olhesagora pelo vidro do pendura. Bu! Tudo batia certo com a cena do crime: Joãomorto no carro, o sangue de Rita na casa, Ana como suspeita. Mas ondeestava o corpo de Rita? O corpo bronzeado de Rita voltou-se ao sol. Anaregressava no seu bikini dourado com duas marguerittas. Partilharam umlongo beijo. Enfim sós, enfim juntas. A vida sorria.

396. NELSON NASCIMENTO - AS CINZAS DO TRIUNVIRATOUm sem-abrigo e um importante advogado são encontrados mortos em

diferentes locais de New York, mas os dois foram assassinados por balasgravadas com o número XIX. Rick ao reconhecer os cadáveres e ver as balasempalidece, voltando ao passado: na secundária tinha dois inseparáveisamigos, Samuel Green e Osvaldo Spinosa, que para eternizarem a amizadeconcordaram em tatuar nos braços os números III, VI e o XIX este para oRichard, que à última e pelo medo que tinha e tem de agulhas não fez atatuagem. Rick não queria reavivar o fim desta amizade. Mas o pesadelo nãoterminava, uma elegante e sexy ruiva fez com que Michael e Javi ficassem comum torcicolo, Rick engasgou-se, entornou o café, as faces ruboresceram,saltou da cadeira, agarrou Sarah pelo braço e sem demoras levou-a para umasala vazia. Há muitos anos Sarah Fox tinha desmoronado o triunvirato.

397. NELSON SILVA - SEM TÍTULOUma mulher entra no escritório de Rick e pede-lhe que faça uma

investigação. Há meses que se sente perseguida, o que talvez se deva ao factode investigar pistas de um mapa do tesouro. Dias depois, Kathy, na Esquadrainvestiga o desaparecimento duma jovem. Javi e Ryan interrogam o namoradoda rapariga. Rick encontra-se com um famoso historiador para o questionarsobre a veracidade do mapa e este fica bastante preocupado, o que deixa Rickdesconfiado... Seguindo pistas Rick entra num armazém e ouve uma conversaentre dois homens. Silencioso, decide avisar Kathy. Os dois vão até aoarmazém. No interior ouvem a discussão entre os dois, estes falam no mapa edecidem que vão matar a rapariga! Esta era a cliente de Rick e um dos

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raptores era o famoso historiador! Kathy intervém e consegue capturar osraptores, enquanto Rick salva a cliente. Afinal o mapa era verdadeiro!

398. NINA FERNANDES - EFEMERIDADEPálida, fria, petulante... Assim está a lua esta noite. Mas eu não... Vi-a a

correr no parque, atlética, quase despida, tentadora. Não resisti e acedi ao seuevidente convite de a acompanhar. Quando me viu aproximar, o seu rostocontorceu-se de horror e pânico. Senti um arrepio de prazer, eis que surge ocaçador em mim. Na minha face, surgiu um rasgado e distorcido sorriso. Aresposta dela foi imediata, as pupilas dilataram e ela acelerou, penetrando noprofundo do parque. O arrepio inicial é agora um intenso calor que mequeima e me faz sentir vivo. O meu riso ouve-se pela noite escura. A minhapresa tenta fugir, mas nada escapa a um experiente caçador furtivo. Nada...Olho agora para as minhas mãos. O líquido carmesim escorre-me entre osdedos. Olho para a minha presa, imóvel, e dou uma gargalhada para a lua.Pálida, fria, petulante...

399. NUNO MONTEIRO - AGENTE NUNOVSKY, MISSÃO CUMPRIDA!Definitivamente não era a noite ideal! O forte luar que se abatia sobre o

descampado junto ás vedações da Base das Lages na ilha Terceira tornava amissão de entrar nas instalações militares norte-americanas quase impossível!Mas era demasiado tarde! A vida de Isabel estava em jogo e Nunovsky tinhaque entrar no gabinete do Coronel Mathew Simmons para encontrar osdocumentos que os seus raptores exigiam como resgate! O que Nunovsky, exagente duplo das secretas da Rússia e de Portugal não contava era com oconteúdo desses documentos! As provas dos subornos a altas patentes norte-americanas por parte dos Ingleses para o desmantelamento completo dasBases das Lages! Nunovsky tinha perfeita consciência do que implicavaentregar estes documentos aos raptores de Isabel, dos efeitos nefastos para oequilíbrio militar entre o ocidente e o oriente! Tinha que arranjar um novoplano, e teria que ser rápido, faltavam menos de 24 horas para terminar oprazo dado pelos raptores! Mas teria que ser...

400. NUNO REDONDO - A MORTE VESTE DE NEGROO comissário entrou na sala. Olhou à sua roda, confusão. A dona da casa

estava em lágrimas. A meio do jantar o marido começou a esbracejar,levantou-se e depois fincou as mãos no próprio pescoço. Agora jazia cadáver.O comissário aproximou-se e viu o corpo de um homem que estava deitado

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no chão. As veias dos olhos rebentadas. Tinha sido asfixiado. “Foi horrível,de repente parecia que estava a ser atacado por um ser invisível”, disse aesposa. O comissário olhou para a mesa: sobre a toalha vinho derramado,pratos, garfos e facas, e uma travessa com um bacalhau com natas, pintalgadode azeitonas pretas. “O que o terá matado?”, pensou o comissário. Ao virar acara do falecido, para procurar pistas, eis que saía da boca um caroço preto deazeitona. “Aqui está o nosso criminoso”, disse o comissário, agarrando ocaroço.

401. NUNO RELVÃO - O CURIOSO CASO DO COFRE COLORIDOJoana corria tão veloz quanto se lembrava alguma vez ter corrido. O seu

cabelo de chama rubra esvoaçando solto enquanto ziguezagueia pelas vielas dacidade mergulhada na noite. Horas antes, o caso que começara a investigar àmeses sem nada ter descoberto encontrava-se fundo na gaveta da suasecretária. Ao debruçar-se sobre este novo cadáver só pensava na garrafa delicor, tão utilizada ultimamente, em cima desse mesmo processo esquecido.Tendo conseguido recuperar do ladrão que perseguia o pequeno rolo depapel encontrado no cadáver, Joana ajoelha-se junto ao cofre nelemencionado. Semicerrando os olhos azul gelo cheios de perspicácia relê-onovamente. “Na intersecção do agora com o infinito”. O que aprendeu nocurso de Arte sobre Teoria da Côr relembra-a que, tal como o verde daesperança produz-se de amarelo e azul como luz no horizonte, o presente nohorizonte gera violeta. Digitando “violeta” o cofre abre-se perante ela.

402. NUNO SILVA - LAGO DE ENXOFREAinda mal o dia tinha clareado e já o telemóvel do agente Silva estava a

vibrar. O seu superior precisava dele com urgência para avaliar a cena de maisum crime. No local, o cenário era igual ao dos mais recentes casos dehomicídio da zona. Após a análise laboratorial certamente encontrariam acausa da morte, inalação intensa de dióxido de enxofre. No peito da vítimaestava ainda a inscrição “VI” com sangue da própria vítima. Nos outros casos,parecia que a inscrição se resumia apenas à letra “V”, mas agora fazia maissentido que correspondesse ao uso da numeração romana. Para o agenteSilva, estavam perante a realização do um juízo final individual de um defensorda moral. A inscrição era o número do mandamento bíblico que cada vítimaquebrava na sua vida pessoal. O uso de enxofre era o método de realizar umApocalipse para cada transgressor.

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403. NUNO SILVA - ÀS MÃOS DO ASSASSINOEscuro, muito escuro, silêncio ensurdecedor, corpo ensopado e dor de

cabeça. O cheiro é familiar, mofo, ferrugem ou corpos em decomposição. -Como vim aqui parar? Imagino as capas de jornais, “Às mãos do assasino?Detetive Silva desaparecido.” -Porra, controla-te! Penso positivamente, afinalestava um pouco mais perto do meu objetivo. Acredito estar no local onde oscorpos são triturados. Ouço o eco de portas a bater. Pelo ranger das portas,um local velho talvez. -Eco! Boa. Através do eco consigo determinar a quedistância me encontro da fonte sonora. O cansaço apodera-se de mim. Tentosoltar-me e num movimento de sorte consigo partir um pé da cadeira. Lascoo pau e consigo rasgar as cordas. -Estou livre. Seguido de um profundosuspiro. Abro a porta, identifico o assassino. -Finalmente! Está na hora. Ocoração palpita, sinto o pingar de cada gota de suor. Concentro-me. Asalvação está à minha frente.

404. OCTÁVIO CARVALHO - MENTES BIZARRASO corpo estava estendido numa mesa metálica e fria. A expressão nos

olhos era de vida extinguida e saqueada, o rosto assemelhava-se a uma pinturade um artista macabro que esboça personagens mortas. O rapaz olhava delonge e quase sussurrava: “Tu obrigaste-me a fazê-lo!”. Os atos seguintes sãoresolutos e o corpo, coberto de manchas de lábios rosados, é enterrado. Nãoexiste remorso suficiente para assombrá-lo e fazê-lo arrepender-se. Só umasatisfação mórbida, um sorriso subtil numa boca negra. A mãe amava o pai.Amava-o muito. Quando ele desapareceu, os pés falharam-lhe. O rapaz:“Talvez o pai não fosse quem nos pensávamos ser, talvez vivesse uma vidadupla!”. O corpo foi encontrado uma semana depois no jardim da casa onde afamília vivia. O enigma resolvido. John, o rapaz, assassinou impiedosamenteo pai, consumido por ciúmes maníacos. A psicóloga forense asseverou:complexo de Édipo mal resolvido. “Sentirás a minha raiva”, afirma John antesde a mãe o apunhalar.

405. OLGA RESI - SEM TÍTULORicardo Castelo é um detetive muito inteligente, que, contudo, se

atrapalha na presença da bela médica legista, Catarina Bessa, por nãoconseguir lidar com a atração que sente por ela. Catarina revela-se umaexcelente parceira na resolução dos crimes, devido à sua perspicácia e amploconhecimento científico. Descobrem o corpo de um jovem caucasiano, na casados 20 anos, que se encontra nu e com umas asas incrustadas nas costas. Aspistas conduzem a uma clínica de implantes dos mais bizarros que há e a um

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dos seus clientes, e principal suspeito, que se auto-intitula “Anjo negro”.Afirma que não houve crime, mas sim suicídio: matou a sua parte alva paraassumir a negra. Surge, ainda, um monge, revelando uma visão apocalítica dequedas de anjos. Tudo se torna ainda mais misterioso quando o cadáverdesaparece da morgue sem deixar rasto.

406. OLGA RODRIGUES - CRIME ANÓNIMODentro da sala, uma reunião enfadonha para Mark, que sempre pensou

não necessitar fazer parte dela. Olha para os seus colegas com ar desuperioridade, evitando sempre o olhar do psicológo, Alex. Finalmente ao fimde 1h, levantam-se para sair. Ao despedir-se de Alex cai no chão. O corpoinerte, os olhos esbranquiçados e a espuma a sair-lhe dos lábios deram acerteza da sua morte. Incrédulos, todos ficaram boquiabertos com a situação.Angela, que estava no carro à sua espera, cambaleou até chegar à sala ondejazia o corpo de Mark. Rick e Kathy percebem que terem mais um casocomplicado. Quem é o assassino? Depois de interrogado e investigado,ninguém parece suspeito, todos com álibi perfeito. Lanie concluiu que Marktinha sido envenenado. Faltava uma pessoa. Angela! Porquê? A paixão porAlex já tinha 7 anos. A dose no banho de imersão foi fatal!

407. OTÍLIA PEDROSA - HALLOWEEN NIGHTMARENum final de tarde chuvoso Julia está num café comum, escreve

apressadamente no seu portátil com um ar preocupado e ansioso, olha ao seuredor em cada frase que escreve, como se essas fossem as últimas palavras queiria proferir. Do outro lado da cidade, Rick finaliza os seus preparativos paraa melhor época do ano para ele, o Halloween, Kathy entra no apartamento“espero que este ano passe sem grandes sustos, Rick, acho que já tivemosdesses suficientes este ano!”. Rick ri-se e mostra a sua dentadura vampírica erouba um beijo sangrento ao seu pescoço e diz: “nada te assusta mais, estásmeu lado, lembras-te?”. Kathy recebe um telefonema, uma mulher foiencontrada morta num cinema local, bem no centro do palco e com a cabeçarepleta de pregos. Rick olha para Kathy com os seus dentes aguçados, asangrar geleia de amora e com um ar perplexo, terrifico mas tambémentusiasmado e diz: “Pinhead is back!?”.

408. PATRÍCIA COELHO - DIAGNÓSTICO FATALApós a morte do seu marido, Benjamin, Kara entrou numa fase

complicada e começou a rejeitar a filha, Ambar, que começou a ter um

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comportamento agressivo. Kara recebeu uma chamada da escola de Ambar.Uma criança que fora deixada sozinha com ela numa das salas enquanto aeducadora fora auxiliar uma outra criança tinha ido parar ao hospital. Acriança apresentava diversos cortes e arranhões por todo o corpo. Quando aeducadora voltou à sala, as mãos de Ambar estavam cobertas de sangue eAmbar sorriu para ela. A criança acabou por morrer nessa noite. Dia 25 dejulho de 1983, o resultado dos exames feitos na semana anterior chegaram aohospital. Chamaram Kara para lhe poderem dar a notícia pessoalmente.Ambar Mclaren, uma menina de apenas seis anos que tinha perdido o pai noserviço militar, sofria de um transtorno raro que curiosamente transformaraAmbar numa assassina em série.

409. PATRÍCIA JUNQUEIRO - O SALTOJá não havia tempo, era impossível escapar ao que o destino havia

reservado a Rick naquela viagem a Itália. Se ao menos tivesse antecipado que oinusitado toque da campainha a tão despropositada hora estava relacionadocom o estranho pergaminho que um homem moribundo lhe entregou nessatarde… Mas como podia imaginar que a angelical figura feminina, vestida debranco, cabeleira loira, olhar assustado, frágil, que lhe tocava à portaimplorando proteção, era apenas o engodo que os dois homens, escondidosna escuridão, usaram para que Rick abrisse a porta do magnífico edifícioerguido numa perigosa mas lindíssima falésia, em cima do mar. Um forteempurrão atirou-o para dentro de casa, a porta fechou-se atrás dos homens,Rick conseguiu pôr-se de pé e correu com todas as suas forças, lembrava-seque tinha deixado a porta da varanda aberta, em baixo o oceano, um salto eestava salvo.

410. PATRÍCIA OLIVEIRA - SEM TÍTULOUm dia uma rapariga chamada Patrícia apaixonou-se profundamente por

um rapaz. Ele era moreno, alto, olhos verdes. O nome dele era Rui. Entãoeles começaram a conversar e conhecerem-se melhor que até acabaram porcomeçar a namorar. Rui era fazia tudo por ela. Entretanto de um dia paraoutro ele deixou-lhe de responder as mensagens, de lhe ligar, até mesmoevitava ir ter com ela. Algo se passava. Os próprios amigos da Patrícia já nãoestavam a gostar de a ver a sofrer e diziam várias vezes que ele não era homempara ela. Então Patrícia tomou a decisão de acabar com ele. Andava de rastos.Entretanto durante um festival de música ela para esquecer o seu grande amorcomeçou a curtir com um rapaz. Passado pouco tempo Rui voltou entrar emcontacto com ela. Ela voltou para os braços dele, mas ainda continua a sofrer

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ele não sai com ela, poucas vezes estão juntas, ele não lhe diz as coisas fofasque os casais normalmente dizem. Que decisão será que Patrícia vai tomar?

411. PATRÍCIA PEREIRA - UMA NOITE DE TEMPESTADEKyle ao chegar a casa estranha Melissa não estar. Tocam à porta, Kyle

abre e depara-se com o detetive Ethan a informa-lo que encontraram o corpode Melissa num beco. Ethan seguiu até ao trabalho de Melissa e interrogouos colegas. Sarah disse-lhe que Melissa andava estranha. O agente intrigado,interrogou Kyle, onde lhe perguntara se o casamento deles estava comproblemas, este diz-lhe que tinham discutido por causa das mensagens queSarah lhe enviara. Ethan faz uma busca a casa de Sarah onde encontra umaarma do mesmo calibre da que matou Melissa mas sem provas de ADN. Odetetive fica a pensar e vai falar com a empregada do casal, já que esta era apessoa mais próxima, e diz-lhe que ela está presa pela morte da patroa, já quefizeram uma busca e encontraram provas em como foi Charlotte queperseguiu e matou a patroa naquela noite de tempestade.

412. PATRÍCIA RAMALHETE - SEM TÍTULOTodos os inspetores tem um crime não resolvido que os atormenta. O de

Afonso, tinha acontecido há quinze anos: Maria, amiga da sua filha, foiencontrada morta, numa ribanceira junto à escola secundária, com múltiplosgolpes no peito e com um carimbo em lacre de cera vermelho no seu pulso,com as iniciais “AA”. Afonso foi nomeado responsável pela investigação, mastodas as investigações se revelaram caminhos perdidos. Não existiamvestígios, nem suspeitos, a única coisa que tinha era o carimbo. “Faz hojeexatamente quinze anos”, pensou Afonso. Os seus pensamentos foraminterrompidos pelo toque do seu telemóvel. –Estou? -Está de volta. Ocarimbo está de volta. Afonso seguiu imediatamente para o local do crime equando lá chegou viu o mesmo cenário de há quinze anos, com duasdiferenças: a rapariga não era Maria e por baixo de “AA” conseguia ler-se:“Afonso Almeida”, o seu nome.

413. PATRÍCIA SANTOS - AVISO FINALNaquela manhã Rebeca tinha recebido uma mensagem da Vitória que

dizia “Ao pôr-do-sol vem ter comigo às docas, precisamos de falar”. Aoentardecer, quando lá chegou ouviu Vitória a gritar e correu para ver o que sepassava. Rebeca ficou paralisada, em pânico, ao ver que um homemencapuzado, vestido de preto, tinha acabado de trespassar a sua melhor amiga

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com uma faca, deixando-a cair na água em agonia. Ao ver Rebeca o assassinocorreu atrás dela mas apesar das ameaças gritadas e da correria desenfreada elaacabou por conseguir chegar à esquadra mais próxima para pedir ajuda. Semsinais da presença de qualquer outra pessoa no local, a polícia declarou que setinha tratado de um suicídio. Duas noites mais tarde desacreditada e desoladaRebeca foi encontrada morta no seu apartamento com facadas nas costas e naparede, com o sangue, alguém escrevera : “Eu avisei-te”.

414. PATRÍCIA VAZ - ELA É CRIME?Ela percorria a rua escura, cada passo, cada batida do meu coração, só

esperava pelo momento de a ter. A mulher dos meus sonhos. Tão bela efascinante. Não sei onde ia com aquele ar pacifico e misterioso, mascontinuava a caminhar devagar atrás dela. Desta forma parecia que éramos umsó... Conseguia sentir o seu perfume pelo ar e o calor do seu corpo. Vi umhomem a aproximar-se dela, questionando-me quem seria. Ele sorriu-lhe ebeijaram-se. Senti a raiva a circular pelo meu corpo. Retirou um objecto doseu casaco. Uma arma? Apontou a arma em direcção ao homem e atirou. Osangue dele a escorrer pelo chão e ela a fugir. E eu? Sou a única testemunhado crime. Isto é um crime? É crime amar alguém que matou e esconder o quepresenciei?

415. PAULA BRITO - COLEGA AMIGAAna estava muito nervosa com a reunião, era uma grande oportunidade

para fazer um bom negocio e ser reconhecida pela administração. Olhava parao relógio a cada cinco minutos, Isabel ria-se e dizia: Vai correr tudo bem, ésboa no que fazes, vai ser o negocio do ano, relaxa. Ana sentia-se mal, pareciaque a qualquer momento ia passar mal com as dores de cabeça. Isabel trás-lheum copo de água e um comprimido para as dores. Chega a hora da reunião eAna apresenta-se aos representantes da outra empresa. Começa a reunião,Ana começa a ter calafrios e a vista turva, dá-lhe um ataque de pânico e pedepara sair da sala por um momento. Vai ter com Isabel e diz-lhe que não sesente bem e acaba por desfalecer. Quando acorda vê-se no hospital confusa.Procura por um rosto conhecido e viu a Mariana dos recursos humanos.Pergunta o que se passou. Mariana conta então que desmaiou e Isabel tinhatomado conta da reunião e fechado negocio. E que Ana não devia ter tomadoum calmante tão forte!

416. PAULA COSTA - ROUBO NO MUSEU

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Uma queixa de roubo no Museu levou-me ao local e fui recebido pelacuradora do Museu. Uma ânfora pequena da colecção grega tinhadesaparecido. As peças tinham sido entregues na noite anterior, pelo queforam contabilizadas e arrumadas por dois colaboradores, curadora e osegurança. As câmaras de segurança não cobrem a área da arrecadação mascaptaram os dois operadores a sair com mochilas. Conduzi osinterrogatórios aos presentes (curadora, segurança, dois colaboradores eempregada de limpeza) enquanto as propriedades dos colaboradores foramrevistadas mas nada foi encontrado. Assumi que a peça ainda se encontrava nomuseu pelo que foi examinado, enquanto os trabalhadores esperavam noátrio. Um leve cheiro a amoníaco fez-me perceber que estava errado: a peçatinha sido roubada nessa manhã. Corri para a entrada e apanhei a empregadaque estava a fugir com a ânfora, para a vender a um coleccionador privado quea teria contratado.

417. PAULA COSTA - SUSPEITA DE UM SEGREDOEmma e John eram companheiros de faculdade. John nunca suspeitou

que Emma o amava, apesar de achar que ela se dedicava demasiado a ele.Emma partilhava quarto com Renata, uma estudante espanhola que tinha idopara os EU. Ambas tinham pouco em comum mas apoiavam-se e Renatasabia da paixão de Emma por John, embora esta nunca lha tenha revelado.Um dia de inverno Emma sai para as aulas e nunca mais regressa, Johnaparece morto à porta de um bar fora da faculdade e Renata aparece no quartode John. Começa o mistério e a descoberta dos segredos destes 3personagens que afinal não são tão inocentes quanto parecem. Afinal Renatafugiu de Espanha porque matou a irmã acidentalmente, John foi envenenadopor Emma e esta foi raptada por traficantes de raparigas.

418. PAULA MOTA - SEM TÍTULOEra já a segunda vítima. Não haviam pistas, todos os corpos era do sexo

feminino e três símbolos cravados nos mesmos… um na zona do coração,um no pescoço e outro no abdome. A causa da morte era sempre a mesma,enfarte do miocárdio causado por injeção letal de potássio. Os símbolos eramfamiliares da detetive Joan Miller, eram símbolos astrológicos… o primeirode Leão, o segundo de Touro e o terceiro de Virgem. Fora descoberta umaterceira vítima, havia um suspeito detido! Na sala de interrogatórios não foidifícil para Joan tornar o suspeito em culpado! Era estudante de astrologiamédica, todas as suas vítimas eram do signo Leão, o mesmo da mulher quelhe tinha partido o coração há poucos meses… Todos os símbolos estavam

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nos locais anatómicos que regem … Leão-coração, Touro-garganta eVirgem-abdome. Porquê estes três? Porque a mulher amada era Leão comascendente Touro e a lua em Virgem…

419. PAULA RIBEIRO - MORGUEEra o meu primeiro dia no departamento e, ainda antes de suportar as

praxes da equipa residente, o telefone tocou. O nosso destino: a morgue. Nãotinha sido necessário transferir o corpo do local do crime, uma vez que esselocal era a própria morgue. O falecido era um conhecido traficante de drogada região, e tinha sofrido vários tiros. Ao lado dele, jazia um cadáver numaautópsia interrompida, sacos de heroína recheando a cavidade abdominal.“Deve ser assim que fazem a droga entrar no país”, disse, apontando para ospapéis de transferência de restos mortais que repousavam numa mesa,provenientes do México. “Falaram com o médico legista”, disse a minhacolega. “Ele confessou o esquema mas não o homicídio”. A droga não tinhasido roubada, pelo que assumimos tratar-se de um crime passional. Ainvestigação rapidamente nos levou a um pai que havia perdido a única filhapor overdose.

420. PAULA SANTOS - ÁS VEZES TEMOS DE SER CORAJOSOS!O uivo do vento por entre as frinchas das portas e janelas não está a

ajudar. Engulo em seco e saio para a rua. Que ser poderia ter emitido talgrito de desespero? O frio entranha-se nos ossos e cada vez é mais difícilseguir em frente, mas tenho de o fazer! Ao dobrar a esquina sombras gigantesavolumam-se na fachada do prédio! Vêm na minha direção... Suspendo arespiração para não chamar a atenção. As sombras vão diminuindo. Assombras aproximam-se! O pavor torna-se insustentável e, num ato decompleta loucura, dou um passo em frente e enfrento os meus medos. O gatosegue, de forma rancorosa, o miúdo que leva o boneco na mão, esfregando apata para aliviar a dor. Os três seguem o seu caminho sem sequer medirigirem um olhar.

421. PAULA CRISTINA BABAU FERNANDES - SOFÁO sol já despertou, mas o dia continua sombrio como a noite. Parece que

nem os astros querem ajudar a polícia a capturar o mal que corre as entranhasda cidade. Estando o perímetro selado, todos estavam preparados para oassalto final ao esconderijo… mesmo com receio do que iam encontrar, oudas dificuldades que podiam surgir a equipa aguarda ansiosamente pelo sinal:

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-Siga! Siga! De armas em riste e em formação de ataque entram no armazémarrombando portas, entrando pelas janelas. Batem o espaço todo a procurado suspeito… e depois um silêncio. - Mas o… O cenário era tudo menosprevisível, não havia horror, não havia sangue, não havia armas, simplesmenteum sofá. Neste uma figura, parecia uma criança. Está sentada, de cabeça baixa,mas não aparenta qualquer receio. E de repente ouve-se: - Estava à vossaespera, gostam de surpresa?. Sorriu e... boom!

422. PAULO COELHO - MÃO DE FORAMal abri olhos senti, um desconforto premente. Olhei em redor e vi,

vulto escuro à minha frente. Deitado no chão eu jazia, corpo inerteinanimado. Em superfície tão fria, meu rosto de choro molhado. Este vultomeio à toa, até mim se dirigiu. Estranha reza ele então, que me gela emcalafrio. Sinto que não tenho vida, sinto que o sentir se esvai, sinto aescuridão sentida, de quem no abismo cai. E o vulto em escárnio vi,pousando a faca que tinha, manchada do sangue que vi, e da carne que eraminha. Pega em mim, um peso morto, coloca-me num caixão, fecha tampa eabsorto, deixa-me de fora a mão. Tento mexê-la em vão, sentindo-a serarrastada, com caixa que junta ao chão, junto à mão foi enterrada. Grito dofundo da alma, mas com pesar percebi. Já só resta paz e calma, fico emsilêncio, morri.

423. PAULO CORCEIRO - CHARLIEHá vinte e dois anos, estávamos apaixonados e casados de fresco, com

vontade para regressar para este pequeno apartamento e com vontade parasessões de sexo diárias a seguir a um dia de trabalho. Nessa altura, os aspetosmisteriosos de Charlie encantavam-me. Os passeios solitários de duas horaspara fumar um cigarro às duas da manhã de um sábado, tornavam-no umpersonagem com personalidade, que dava vontade de abraçar quandoregressava. Há dois anos segui-o numa dessas noites. Percorremos ambos,dez quarteirões até que o vi tirar uma chave do bolso, com o à-vontade dequem o faz há vinte anos. Abriu uma porta e entrou. Esperei, disfarçada pelaescuridão. Pela mesma porta saiu uma mulher com um lenço que lhe ocultavaa face. Segui-a, entrei no metro sem a fitar, saímos do metro e caminhámosmais vinte minutos. A mulher entrou num escritório iluminado. Ouviu-se umtiro, ela saiu calmamente. Era Charlie disfarçado. Há vinte anos que o fazia,descobri no fim do julgamento.

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424. PAULO GAMEIRO - NEWCASTLE BLOODAs noites em NewCastle eram calmas até o dia em que algo abalou aquela

cidade, algo fez estremecer a paz que tanto perdurava. Um grito provocadopelo medo de ver um corpo ensanguentado, deitado no chão sem vida, ecooupela noite dentro alertando todos que por ali passavam. Ao local apareceSpooky, um detetive bem vestido, bem vestido, frio sobre os casos queresolve mas naquele momento, desabou tudo pois não contava que a vítimaseria o seu filho, sangue do seu sangue. Começa uma demandada pela justiçaonde procura pelo assassino e jura vingança a todos os custos e não olha ameios. Todas as pesquisas que fez, remetem-no para um caso antigo, casoonde este nunca conseguiu resolver um caso de um assassinato 20 anos atrásem que uma mulher tinha sido assaltada em casa quando esta se encontravasozinha e acabou por ser morta com varias facadas. O assassino acaba por serapanhado em flagrante delito mas nunca chega a ir a interrogatório poisSpooky faz justiça pelas próprias mãos.

425. PAULO GOMES - SEM TÍTULOAo relembrar a estrela cadente desta noite escura passada em branco, que

furou o céu como uma bala, questiono-me se o infinito é eterno, se o bater deasas de uma libélula, cuja vida é efémera, é comparável com a teoria do caos deum elefante numa loja de porcelana. As ondas de choque provocam-me areencarnação do espírito de Lee Harvey Oswald, que por sua vez foireencarnado por John Wilkes Booth, perante a iminência do futuro que odestino irei traçar. Há segundos que são eternos na memória, há memóriasque se apagam num ápice. Não oiço vozes, apenas uma brisa húmida me toldaa visão da multidão caótica que me diz que tudo é passado, pois algo vem naminha direção e pressinto que o mundo irá girar ao contrário. Nesta fraçãode segundo de limiar, nasce a certeza existencial da dúvida, se a eternidade seráinfinita?!

426. PAULO MARQUES - O ESTRANHO CASO DO MORTODESCALÇO

O dia nublado e morrinhento prenunciava factos inusuais para aquelapacata povoação. De quando em vez, o vento agreste provocava uma estranhadança das árvores que ali habitavam. E as folhas, de cor amarelo-acastanhadolibertadas, pareciam sugerir um dado sentido. Terá sido essa ligação ànatureza, a levar o velho Manel das feiras a optar por um caminho diferente.Mas a decisão de pegar naqueles sapatos revelou-se problemática. E a suadificuldade nas relações sociais deixou a polícia desconfiada. Descoberto o

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corpo, rapidamente se chegou ao homem. Na assembleia, o fala-barato doChico touças dava asas à sua imaginação e ‘ajudava à festa’: -a mim nunca meenganou, com aquela gaguez! Eu sempre disse que ele não era boa rés. –Masque motivos teria para tal, interrogavam-se os restantes parlamentares, que emdia de novidades se acotovelavam na pedreira para opinarem e atribuírem umveredicto ao caso.

427. PAULO RAMOS - UM DIA A MORTE NÃO NOS DEIXAACORDAR

Afonso, levantou-se com uma terrível sensação de mal dormir, coisa quehá décadas o acompanhava. Mal, pôs os pés no chão gelado, apeteceu-lhevoltar atrás mas a cama já não oferecia melhor alternativa. Ouviu o barulho degente agitada no corredor do Lar. Quando saiu do quarto deu-se conta domotivo, a sua querida amiga tinha acordado morta. Correu até ao quartoonde ainda jazia fria e branca a sua Maria. A lividez já se instalara havia horas.Mas, alguma coisa lhe chamou a atenção. Uma picada subtil no braçodenunciava uma anormal tonalidade. Insulina, foi o primeiro reflexo.Sobredose até à hipoglicemia. Daí ao coma e à morte em silêncio e semdemasiado estertor era uma questão de pouco tempo. Todos sabiam da suacondição de diabética. Mas a insulina salvadora era agora o veneno silenciosoque a levara. Suicídio, era a primeira das óbvias suposições. Mas, a injeção erano braço esquerdo e Maria era canhota! Como era possível? Não era. Alguémtratara disso. A Irmã Soror! Tremeu!!

428. PAULO RIBEIRO - PSICOPATALelliot começa o seu dia cedo, logo com um telefonema misterioso “S.

Lelliot tenho uma coisa para si, que de certeza que lhe interessa bastante.Encontre-se comigo hoje pelas 10h da manhã na Várzea”. Lelliot decide entãover o que o tal telefonema lhe tem para entregar e vai ao encontro do homemmisterioso. Pelas 10h da manhã lá estava Lelliot á espera, e para sua surpresaquando chega e se depara com um homicídio mesmo à sua frente, umamulher foi degolado á plena luz do dia. O homicida estava ao lado do corpo àespera de Lelliot “S. Lelliot estava à sua espera, finalmente nos encontramos,mas só porque eu finalmente quis, você nunca me apanharia”. Aquele homemera afinal o assassino que já tinha degolado 13 mulheres e que tanto Lelliotprocurava. Lelliot prendeu o assassino e acabou por descobrir que era umpsicopata completamente louco.

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429. PEDRO BARROSO DE AZEVEDO - JÁ O VENTO QUE ME LEVE!Perfeito!, pensou. Pelo menos assim parecia! Desde o pormenor de

imaginar assaltar o museu em dia de eleições, até à parte de eliminar osegurança com uma lança moldada em gelo, que evitava a descoberta de armado crime, até à fuga num balão de ar quente, que o tornaria irrastreável, tudoparecia ter corrido na perfeição. Mas então algo o apoquentou: ia faltar aojantar que tinha marcado para essa noite com a recepcionista do hotel. Seriasó mais um encontro falhado, não fosse o bilhete com as coordenadas doesconderijo guardado no casaco que deixara no quarto dela na noite anterior,e que seria certamente encontrado quando ela percebesse que não iriaaparecer. “Bolas!”, proferiu; “se não fosse, pelo menos, tão ventaneiro commulheres, e poderia agora deixar que o vento me levasse...”

430. PEDRO CARDOSO - ESCOLHABilly vivia o momento. A libertação de adrenalina provocada pelo perigo

eminente era a droga eleita. Atrair outros para a batalha impelia-o a continuar.No bar, procurava e analisava potenciais adversários. Um estava junto àparede na extremidade direita do balcão. Outro falava alegremente com doisamigos à esquerda do pequeno bar. Ambos dominavam o ambiente. Gostavade desafios. Escolheu a esquerda.Inesperadamente desferiu o punho contra azona abdominal do adversário. Aproveitando a surpresa, socou-orepetidamente até ele já nada conseguir fazer. Afastou-se, saindo do bar.Quando sentiu a presença deles, ainda rodou o tronco preparando-seinstintivamente, mas não foi suficientemente rápido e foi manietado pelosamigos do jovem. Forçaram-no a ajoelhar-se enquanto o rapaz, bastantecombalido, puxou da pistola e encostou-a à testa de Billy. Quando o som dodisparo chegou ao cérebro, a cabeça aproximava-se perigosamente do solo.Só teve tempo de pensar que devia ter escolhido a direita.

431. PEDRO CARLOS - POR TI, SEMPRE...Dia nublado, trovoada estridente e uma chávena de chá, cenário perfeito

para o começo de mais um dia na vida do astuto escritor Rick. Num ápice,um clarão de luz encadeia a sua visão, e na fração seguinte, uma parte dapaisagem tinha desaparecido no nevoeiro, um prédio que é agora um montede escombros. Kathy estava dentro do prédio quando se deu a explosão. Rickcorre avenida abaixo em direção ao aparatoso acidente, com mil questões semresposta... Houve então dizer que a explosão tinha sido desencadeada por umativista . Sem pensar, Rick pergunta a Ryan onde Kathy estava, e esteresponde que ela estava no piso do estacionamento quando o incidente se deu.

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A sua reação, ao ouvir a notícia foi correr pelos escombros e meter-se numburaco que se tinha aberto com a explosão, gritando intensamente, até que nomeio de tanto sofrimento e inquietação, a voz de Kathy ecoou pela poeira doar!

432. PEDRO ERVILHA PEREIRA - A CRUZ ESCARLATE11:43 PM, Mellow Creek, Residência da família Barker. Jovem

caucasiana, de feições atraentes, cabelo preto até à cintura. O seu corpo, deestatura pequena, crucificado agora sobre uma antena de receção de sinal e deolhos vítreos postos no céu cinzento, espanta quem aviste o telhado dapequena residência antiga. Sangue escorre ainda pelas telhas, agora maisescarlates. As mãos trespassadas pelas pontiagudas terminações da estrutura,os pulsos escoriados e a cintura firmemente amarrados com um fino fio denylon ao metal frio. A estrutura metálica é sustentada pelo tubo enferrujadode pontas serrilhadas preso ao telhado e agora igualmente enterrado nascostas desnudas da vítima, gravemente laceradas e ensanguentadas deixandoadivinhar um fim lento, acelerado apenas pela fraca resistência oferecida. Asprovas recolhidas resumem-se essencialmente a impressões digitais e materialgenético da vítima. Causa da morte: choque hemorrágico devido a perdasacentuadas de sangue.

433. PEDRO FERREIRA - PUZZLE HUMANOAmy, tinha uma divinal aparência de cabelos louros e olhos azuis. É

dona da empresa “Click”, site de encontros. Usa a base de dados paraidentificar os seus alvos, começou a matar por ter sido violada recentementenum beco, tudo isto despertou o trauma de adolescência onde foi violada pelopadrasto que a criou depois do falecimento da mãe. Perita em disfarça-se atraia sua presa para um T0, registado no nome de uma colega de quarto falecida,que possuía perto do bar. Numa divisão escondida por detrás de um armáriotinha uma passagem para uma sala de torturas, onde mutilava e esquartejava-os. Juntava os membros que não correspondiam ao mesmo corpo por achar-los imperfeitos. Ficou conhecida pela Puzzles. Ryan inscrevera há uns temposJavi, este é alvo a abater e cria-se uma corrida para a sua salvação. É finalmenteapanhada depois de assassinar PI, ex-namorado de Alexis.

434. PEDRO FERREIRA - A QUEDAAli estava ele, debaixo de uma ponte. Era ele. O tão famoso Josh Colt.

Muitos afirmam que ele está morto. Mas os meus olhos dizem o contrário.

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Liguei a lanterna para ter mesmo a certeza que era ele. Estava de cabeça baixa,cabelo comprido, barba por fazer, calças rasgadas, botas velhas e com umcasaco de gabardina velho, bastante gasto. No seu braço esquerdo dava paraver as iniciais: LB. Ele levantou-se. Tinha as mãos cheias de sangue, ao pontode pingar. Olhou para o corpo que tinha ao seu lado. Estava morto. Ele veiona minha direção. Eu estava com medo, não sabia o que fazer. Ele parou àminha frente, encarou-me com aquele olhar… vazio, mas ao mesmo tempocheio de ódio. -Diz-lhe que eu estou a chegar… Brian –disse Josh cheio derancor. Retirou-se. Foi naquele exato momento que vi a queda de um grandehomem.

435. PEDRO GABRIEL - NEVER TOUCH ME AGAINA manhã não surgiu mais fria do que o corpo que jazia no cais. Os

detetives Mike Delgado e John Felix depararam-se com um cenário macabromas familiar. Em duas semanas, era o quarto homem encontrado com asmãos arrancadas dos pulsos e os olhos manchados de uma púrpura escura.Pelo modus operandi, John e Mike não tinham dúvidas que um serial-killerandava à solta pela cidade de NY. Mas Mike, com as suas entradas brancasnum cabelo já de si pouco cuidado, suspeitava estar na presença não só de umpsicopata como de um justiceiro. A sua teoria baseava-se no facto de todas asvítimas terem um ponto em comum: estarem referenciadas como agressorasem casos de violência doméstica. John era mais novo, tinha chegado à 14.ª háum ano, e não escondia o nervosismo desconcertante. Ingenuidade própria daidade? Mike não acreditava em fumo sem fogo…

436. PEDRO GUERREIRO - O INSPETOR JEREMIASO inspetor Jeremias orgulhava-se das suas estórias de crime e mistério.

Uma das que, normalmente, contava entre amigos era a “queda do Verde”. Ecomeçou: “Uma noite fui chamado a um beco onde jazia um corpo verde,com uma mancha vermelha no peito –um homem, mascarado de Hulk, tinhasido assassinado. Depois das primeiras investigações, encontrei o clube ondetinha decorrido a festa em que esteve a vítima. Consegui juntar todos ospresentes nessa festa e, depois de um sem-número de entrevistas, cruzadascom as provas recolhidas no local em que o corpo foi encontrado, cheguei àconclusão de que tinha sido um crime passional, cometido pelo ex-namoradoda vítima, que tinha usado a máscara do Leão de Oz, depois de ter percebidoque a vítima tinha desenvolvido uma atracção pela menina que estavamascarada de Sininho. E assim ficámos a saber que, afinal, o Hulk é mortal”,gracejou.

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437. PEDRO GUIA - O SEGREDO DA FLORESTANuma noite de inverno em 2007, junto ao Parque Nacional da Peneda-

Gerês um condutor reparou num veículo imobilizado que tinha saído daestrada. Tinha os faróis ligados e a porta do condutor aberta. Mas não haviacondutor no interior, apenas sangue… O homem começou a procurar, semsaber que este local se situava numa área onde haviam sido reportadosrecentemente vários avistamentos de uma enorme criatura peluda. Ele estavaprestes a observar mais um desses momentos. Atrás de uma velho Carvalho,vislumbrou algo que não conseguiu identificar. Parecia medir mais de trêsmetros. Fitou o homem com assustadores olhos vermelhos, que atravessavamo nevoeiro. O homem fugiu aterrorizado. Conduziu velozmente até à Vilamais próxima. Até este dia, o condutor desaparecido nunca foi encontrado.

438. PEDRO OLIVEIRA - UM NOVO DIAQue barulho é este? Outra vez! Porque será que ele não o desliga? Porra!

Eles não o ouvem! Desliga isso! Irrra!! Desta vez ela ouve com certeza. Seráque ninguém se apercebe do barulho. Ei! Ele pôs um som novo nodespertador. Tenho de me levantar, fiquei demasiado tempo na cama, já nãoestá ninguém em casa, vou chegar atrasado ao trabalho, bem... Banhotomado, barba feita, roupa vestida, será que deixaram-me algo pronto para opequeno-almoço ou vou ter de o fazer? Vou ter de o fazer. Um sumo delaranja, umas torradas, um café e, estou pronto para um novo dia. -Olá. Bomdia. -Espera! Pará! -O que se passa! -Porquê a pistola? -Não... Não...

439. PEDRO RAMOS - O COLETORQuinze anos volvidos e centenas de casos investigados continuam a não

ser suficientes para me habituar ao clima putrefacto que encontro nestesepisódios de pura carnificina humana. Mas hoje é diferente, hoje o sentimentode repulsa e impotência é amplificado. Amplificado talvez por ser o quintocaso que apresenta o mesmo modus operandi de uma série de homicídios semprecedentes ou então pelo facto da vítima desta vez ser uma criança com cercade 3 anos. Embora não tenha ainda chegado o resto da equipa resolvoobservar a cena do crime e uma coisa é certa, o culpado é sem dúvida oassassino apelidado pelos media de “O Coletor”. “Coletor” porque depois deraptar as suas vítimas, com o auxílio de vários objetos cortantes, tortura-as,desmembrando e esventrando, até estas sucumbirem. No final e depois dosseus desejos sádicos estarem satisfeitos, leva consigo um membro ou órgãocomo troféu.

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440. PEDRO SANTOS - SEM TÍTULONoite das bruxas em Trás-os-Montes deve ser melhor do que saber que

o Marco beijou a Jessica, ou talvez não. Eram 23:00 horas quando o meutelemóvel tocou, e era o Marco… A dizer que me tinha traído, os homens sãotodos iguais mas pedi-lhe para ele se encontrar comigo no sítio do costume,eram as velhas linhas de comboio. Resolvemos as coisas de imediato e cadaum seguiu o seu caminho, eu de carro e ele de mota. As 02:00 horas damanhã ligaram-me os pais dele a chorarem a dizer que ele morreu cortado aomeio com um cabo de aço no meio da rua como em “13 desafios”. Eu pediaos pais dele para virem comigo ao local do acidente, o chão da estrada estavajá limpo e de repente ouço dois tiros e vi os pais dele a caírem no chão, virei-me e era o Marco.

441. PEDRO SANTOS - O ENGENHEIRODomingo, 20 de dezembro, um final de tarde em que o frio se faz sentir

naquele sitio, isolado na Serra. Espreitando pela janela, James observa a nevecaindo lá fora, cobrindo de branco as superfícies que consegue atingir. Umverdadeiro engenhocas. Engenheiro de formação e professor numa escolalocal, James habitualmente passa os domingos na sua garagem a arranjar einventar coisas, com utilidade ou por puro divertimento. Aborrecido...Sentindo-se capaz de suportar o frio lá fora, veste o seu blusão velho edesgastado, com um forro capaz de aquecer o corpo mais gélido, pega naschaves e de casa, em direcção à garagem. Aproximando-se, surpreende-o oportão ligeiramente aberto. Uma coisa pouco habitual, pois hoje em dia todoo cuidado é pouco. Mas, como está frio, poderá ter-se esquecido de o fecharontem quando fugia do frio para entrar em casa! Está escuro, James entrapara chegar ao interruptor... É surpreendido!

442. PEDRO SILVA - ESTRANHA TESTEMUNHAOs dois detetives são chamados ao local do “crime”, chegando ao local,

deparam-se com um brutal embate de um automóvel contra um muro depedra. Não se consegue vislumbrar fácilmente a marca do automóvel... Aindacom o pensamento porque razão estariam ali, num acidente automóvel, osnossos detetives são abordados por um mirante que relata ser testemunhadeste crime, crime? A testemunha relatou, que o carro fora perseguidodurante várias milhas, e após vários tiros, acertaram no condutor, o que olevou a este terrível embate. A surpresa dos dois detetives era grande, tantoque os dois perguntaram à testemunha se vira tudo, ao que esta respondeuafirmativamente. Os detetives continuam o interrogatório, pretendem saber se

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a testemunha seguia os automóveis, este abana a cabeça num sim, e nesseinstante, são interrompidos por um polícia, que os chama para verem o carro,o corpo e o tiro visível. Deslocam-se ao veículo e arrepiam-se quandoverificam que o cadáver é o da testemunha!

443. PEDRO VITOR - EVERYTHING UNDER CONTROL...Quando o detetive Pedro Castelo chegou à cena do crime, já a multidão

de curiosos tinha dispersado. Tal como os restantes agentes, os bombeiros e,claro, a comunicação social. Mas Pedro não precisava de investigar mais ocaso. Além disso, analisar uma cena de crime às 7:25h de um domingo demanhã não se adaptava ao seu horário. Depois da abertura de uma novadiscoteca, na noite anteiror, com convidadas internacionais que mereciam umacompanhamento personalizado? Era esta a resposta que Pedro dava a sipróprio para tentar enganar a ressaca que já o estava a atingir, apesar de ir noseu terceiro café da manhã. Assim, Pedro foi calmamente buscar o seuprisioneiro à garagem da discoteca da noite anterior, após o capturar 15minutos depois do crime cometido... e tomava o quarto café da manhã,descansado, a apreciar embaraço do seu diretor nas notícias online...

444. PEDRO FILIPE - SOARES DE SOUSANaquela noite chuvosa, Kathy recebe uma chamada: foi encontrado um

morto ao fundo de umas escadas de incêndio. Estava mal tratado, como setivesse caído de grande altura. Agarrava um cachecol. Chamados ao local,Kathy, Kevin, Jon e o incontornável Rick notam que a vítima aparenta serlatina. Javi estremece… não só era o prédio onde seu avô, José Javi, morava,como aquele cachecol lhe parecia um que ele lhe tinha oferecido. Os quatrovão até ao apartamento de José, onde o encontram a chorar. Ao que parece, avítima era Alejandro “La Culebra” Hernández, antigo perseguidor dedissidentes do regime castrista cubano. José tinha fugido da ditadura ereconheceu, ao fim de tantos anos, o “A Cobra”. Hernández foi entregar umaencomenda. Ao ser confrontado, tentou matar José, que, defendendo-se,acabou por empurrá-lo pela janela. “Legítima defesa” é o que constará noficheiro deste caso. José foi um herói!

445. PIEDADE GOMES - ALGEMADO A UM SONHODavid é um pacato portageiro a trabalhar no turno da noite. Dois

homens surgem do nada e batem no vidro da cabine, assustando David.Ambos se prestam a tranquilizar o portageiro de que não se trata de um

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assalto, apenas querem assustar um amigo que se aproxima da portagem.Pedem para que este “empate” o próximo condutor, sem levantar a cancela. Ocarro aproxima-se, o condutor parece tenso, apressado... e subitamente éalvejado a tiro pelo dois homens, que retiram ainda uma mala da bagageira doautomóvel, antes de arrancarem a alta velocidade num carro sem matrícula.David ouvira um deles combinando um encontro na próxima estação deserviço e decide segui-los. Chamara a polícia e é com alívio que vê um carrode patrulha a chegar ao local. O agente revelou-se corrupto e golpeia oportageiro na cabeça. David acorda algemado à sua própria cama... terá sidoum sonho?

446. RAFAEL BORGES - BELEZA MORTAA escuridão envolve as ruas, não há nenhum sinal de vida presente, só

uma carcaça do que antes era um poço de vida e memórias. O que leva alguéma tirar uma vida tão bela quanto aquela? Encostada a parede encontrava-seuma linda rapariga, os seus cabelos loiros ainda reluziam devido à chuvapassageira. No seu pescoço não se encontrava um fio, mas sim um corte feitopor uma lâmina afiada. O seu vestido branco, tinha agora manchas de umvermelho escuro. Este anjo caído foi descoberto por um sem-abrigo quetinha por costume abrigar-se naquele local, longe estaria este de saber que oseu maior bem lhe seria roubado. Por entre as sombras sai um individuo comum olhar de desespero, um olhar sem vida, caminhando em direção ao pobrehomem. Foi então que com um sorriso maléfico, capaz de gelar a espinha aopróprio diabo que este o apunhalou. Limpando a faca, o assassino abandonao local, deixando o pobre homem a esvair-se em sangue, tendo como ultimaimagem aquela de uma beleza morta.

447. RAFAEL DE SOUSA - SEM TÍTULOÉ dito que uma obra de arte nunca está completa, e também se diz que o

crime perfeito não existe. Cá eu suspeito que as duas se anulam. Não é raro ohomicídio por estrangulamento. Mas também não é assim tão comum.Porque, aliás, se o assassino não for cuidadoso, é fácil deixar marcas nopescoço da vítima ou na face, como quando acontece quando o ataque éespontâneo, de um acesso de raiva. Este estrangulamento fora perfeito, nestepescoço haviam apenas resteas de um cabo de aço e sangue por limpar.Simples e eficaz. Quem é que anda por aí com cabos de aço no bolso? Eporquê acabar com a vida de um trompetista que a ganhava tocando na rua?Certamente alguém não gostava dele. Talvez alguém na vizinhança. Mas a ruaestava cheia de músicos, porquê o trompetista? Bom... Porque o trompetista

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fazia mais dinheiro do que eu. E porque eu gosto das cordas da minhaguitarra bem oleadas. De vez em quando.

448. RAFAEL GONÇALVES - SEM TÍTULOO cadáver estava deitado, com as mãos sobre a barriga, como se tivesse

sido preparado para um funeral. A grande diferença é que nos funerais ofalecido não está ensopado nos litros de sangue que jorrou antes de morrer.O médico legista já estava debruçado sobre a pobre criatura quando o detetivechegou. “Bom dia, doutor”. Só se for para si, detetive. Já viu este pobrecoitado? O detetive viu-se forçado a acenar. “Os sinais estão todos cá. É omodus operandi de pelo menos três outros homicídios nos últimos doisanos”. Explicou o médico. “Os cortes são sempre feitos ao longo da artériafemoral, e há sempre resíduos de um pó de talco que só é usado numa marcade luvas de látex”. O detetive puxou o seu bloco de notas do bolso do peitopara apontar os detalhes. Urgente: “deixar de comprar as luvas do costume”.

449. RAFAELA GREGÓRIO - SEM TÍTULOO fumo do tabaco e o vapor de água dissipam-se, enquanto a ponta

incandescente do cigarro é apagada pelo seu sapato. Eram 5h da manhã e odetetive Clark encontra-se à porta do matadouro. Um corpo havia sidoencontrado. O inspetor da casa. O cheiro é repugnante e os guinchos dosporcos preenchem-lhe os ouvidos. Clark não sabe o que é pior, o frio queameaça gangrenar-lhe os dedos, ou o ar quente, pesado, fedendo a morte,dentro do edifício. Estão penduradas duas partes simétricas da vítima, juntoda serra usada para cortar as carcaças. Pelo sangue espalhado, estava vivoquando foi cortado. Estando de cabeça para baixo, aguentou bastante tempotal tortura sem conseguir perder a consciência. Clark não tinha dúvida. Foipremeditado. Entre todos os ex-presidiários que ali trabalham, é fácilencontrar um bode expiatório. Mas é aos altos empresários que perdemmilhões que não lhes falta motivo.

450. RAFAELA RODRIGUES - O CASO DA MULHER SEM VOZJonh, patrão de Stéphanie, acabava de ligar, havia um caso...Depois de se

vestir e beber um café, já se encontrava no local do crime, um beco. Umamulher havia sido morta, degolada. Tinha um vestido meio rasgado, comvárias marcas de sangue mas notou em algo. O local onde o corpo seencontrava não tinha sangue, estava “limpo”, ou seja, ela tinha sido morta

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noutro sítio e deixada ali. Segundo o médico legista, a mulher estava morta àpelo menos 8 horas e não tinha identificação, apenas tinha uma foto com duasraparigas num bar, uma era a vítima. A rapariga devia ter uns 20 anos...Morreu nova... Robin, o parceiro de Stéph, falou com algumas pessoas, masnenhuma notou nada a meio da noite, nem o sem abrigo que a encontrou...Teriam de investigar a rapariga da foto e o símbolo do bar, onde ambasestavam na foto...

451. RAFAELA SOUSA - ENCRIPTARAguiar chegou à esquadra da Polícia de Nova Iorque às 20h, hora local.

Caleb, detetive da NYPD, encontrava-se em frente ao quadro branco aexaminar o que tinham descoberto. A vítima tinha sido encontrada emRockefeller Plaza sentada, encostada à pista de gelo, com a cabeça tombadasobre o tronco. Tinha sido morta com um tiro no peito à queima roupa deuma 9mm entre a 1h e as 3h. A Polícia Judiciária tinha sido contactadaporque o modus operandi era igual ao de três homicídios sob investigação dainspetora Aguiar: a vítima era morta à mesma hora e segurava na mão direitaum papel com uma imagem encriptada, indicando a próxima vítima.Enquanto os técnicos analisavam a imagem, Aguiar e Caleb procuravam umaligação entre as vítimas. Era 1h30 da manhã quando um homem entrou naesquadra e, dirigindo-se a Aguiar, disparou-lhe um tiro contra o peito. Aomesmo tempo, na sala dos técnicos a imagem desencriptada de uma cidadeportuguesa aparecia no ecrã: a cidade natal da inspetora Aguiar.

452. RAKEL MONTEIRO - SEM PALAVRASAli estava ele, em frente àquela máquina de escrever obsoleta, onde quase

sempre encravam os “r”. Ferviam-lhe os dedos, que pela décima quinta vezescreviam: “Murder, she said”, mais nada... A mesa que barrica a portaestremece. Do outro lado as pancadas aflitas do chefe de segurança: “Señor!Señor!”. Sem resposta. Há mais de quatro horas que tentava escrever-lhe oque considerava ser um relato imparcial dos acontecimentos, mas nãoconseguiu mais do que um “Murder, she said” tirado a ferros daquelamáquina velha. Um calor imponente entrava pela janela escancarada e ohorror da multidão que se ia aglomerado nas traseiras do hotel era cada vezmais audível. Invadia-o aquele cheiro a tequila rasca manchada de sangue.Não conseguia pensar. Agarrou o telefone, indicou número do quarto eimplorou por uma “camarera”. A recepcionista olha o aparato policial esussurra um estupefacto “Si... Señor...”. Rick agarra, desesperado, o envelopevazio e da-lhe um destino: “Kathy” .

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453. RAQUEL CHAVES - SEM TÍTULOLillian e Max, dois polícias investigam um duplo homicídio. Os corpos

estão extremamente mutilados e sem impressões digitais. Falam comtestemunhas que viam um carro preto com riscos amarelos e usando ascâmaras de vigilância conseguem obter a chapa da matricula. Através damatricula descobrem que o carro pertence a uma mulher de 30 anos,professora primaria. Esta mulher que se chama Annie começa a resistir maspercebe-se que foi ela pois encontram vestigios de sangue no carro. A razãodestas mortes foi, Annie tinha inveja do irmão Jonh que era gay e quenamorava com o homem de sonho da mesma, Steve, num momento degrande desespero mata os dois e para não serem identificados mutila oscorpos e queima os dedos.

454. RAQUEL CURVACHEIRO - O CRIME PERFEITOFora o crime perfeito. Jane estremeceu ao recordar a notícia da morte de

Kathleen. Tanto sangue… Tanta violência… Amigas desde a infância, nadafaria adivinhar um desfecho tão brutal à vida da jovem. A investigação foralonga, penosa. Segredos partilhados em sensacionalistas meios decomunicação. Jane, a pacata professora primária, vira o caso amoroso deKathleen e Robert, seu marido, espalhado nas primeiras páginas dos jornaislocais. Estoicamente permanecera ao lado do marido enquanto chorava amorte da amiga. Professara a sua crença na inocência do marido, quando estese tornou o suspeito principal da investigação. Apelara a um novo julgamentoquando este fora condenado. Viviam num Estado com pena de morte… Nodia em que a sentença foi levada a cabo encontrou-se com ele, disse que operdoava, que sempre o amara e beijou-o. Tudo acabara. Sim, foi o crimeperfeito. Nem Kathleen nem Robert se ririam mais dela!

455. RAQUEL DE AZEVEDO FERNANDES - SEM TÍTULONoite adentro, Phoebe dorme profundamente, quando desperta em

sobressalto com o toque do seu telemóvel. Do outro lado da linha, uma vozrobótica, dá-lhe uma misteriosa pista para a ajudar a solucionar o caso, emque está em risco a sua própria vida... Do outro lado da cidade, James, seuparceiro, não consegue dormir a pensar numa solução, para salvar a suaparceira das mãos de mafiosos, quando recebe uma chamada dela a dizer quevai ter de desparecer por uns tempos. Preocupado, James sai e vai direto aoseu apartamento, mas já encontra tudo escuro e sem movimentações. Liga-lhe,

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mas a chamada vai direta para o voice mail. No entanto, algo desperta a suaatenção, um papel caído à porta, com um código, que à primeira vista ele nãoconsegue decifrar, como perito em criptanálise e depois de analisar bem,consegue perceber que se trata de uma pista para encontrar Phoebe….

456. RAQUEL LEAL - GOTA A GOTAAo telefone com o pai, Matilde recorria à mesma conversa que já tinha

desde há treze anos: -Pai, já te disse tantas vezes que estou cansada! Já nãotenho 10 anos, vou sozinha para casa. -Matilde, estas ruas são perigosas,espera por mim na estação, estou a 3 minutos, não me… Estou? Estou!?Matilde! Era tarde demais, Ricardo só ouvia gritos. Imediatamente desligou achamada e ligou para a polícia, na esperança que a lei não falhasse mais umavez. Passaram-se dois dias e a esperança desvanece-se do rosto de Ricardo,não dorme há horas, o corpo sente-se cansado, mas eis que: -Sr. Melo,encontrámos a sua filha! Sirenes policiais preenchem as ruas de Lisboa.Chegam a um dos armazéns abandonados de Alcântara. Ali estava ela,pendurada na horizontal, fria. Gota a gota, do umbigo, o seu primeiro canalalimentador, caía o fluido que lhe dá vida.

457. RAQUEL SOFIA VITORINO - NÃO TE PODES ESCONDER DEMIM, EMILY

Do nada ela se virou e viu uma poça vermelha de sangue. Um arrepiosubiu-lhe pela espinha acima mas avançou, passo a passo, para desvendar omistério. Emily inclinou-se no corredor e ficou branca como a cal. Era umamão, ainda quente, cortada recentemente e tinha uma aliança. Foi tal asurpresa dela quando deduziu que aquela aliança era-lhe familiar, era a mãodo seu marido John. O coração começou a acelerar, os suores cada vez maisfrios e o corpo cedia aos poucos. Ouviu-se um som ao fundo do corredor devidros a partirem-se, Emily vira-se num milésimo de segundo e sente umbafo quente a passar-lhe a garganta. E numa voz rouca ouve-se: -Emily,Emily, Emily, round two!

458. RAUL PARADEDA - SEM TÍTULOA equipa da detetive Kathy vai a uma cena de crime onde aparentemente a

vítima morreu de forma acidental, porém, um detalhe intriga a equipa, umpedaço de quebra-cabeça encontrado próximo ao corpo. Ao fazer umapesquisa no banco de dados de mortes acidentais, descobriram que noutras

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três mortes também foram encontradas pistas semelhantes. Ao colocar aspistas encontradas em cima de uma mesa, descobriram que são cantos de umaimagem que ainda está por ser revelada. Após mais algumas vítimas as peçascomeçam a ser encaixadas e uma imagem reveladora aparece, é a capa de umdos livros do Rick, porém, com uma modificação, há uma chave. Aoreproduzir essa chave descobrem que a mesma abre um armazém, que no seuinterior há várias fotos da equipa da detetive e casos solucionados. Oassassino quer testar a eficácia da equipa, será que a mesma conseguiráencontra-lo?

459. RAÚL VIEIRA DA SILVA - UM JOGO MORTALA experiência da detetive Ana, da Brigada de Homicídios, dizia-lhe que

ter o telemóvel a tocar insistentemente às cinco da manhã não seria,certamente, para combinar um jantar de amigos. Procurou o telemóvel naescuridão do quarto e atendeu.Era Laura, a médica-legista do departamentoforense. Anotou a morada, e pôs-se a caminho do local do crime. Já no carro,telefonou a Rui, jornalista que a acompanhava nas investigações. Ana nãogostava das suas teorias, mas ele era amigo do inspetor-chefe. No local docrime, Laura informou-a de que a vítima era uma advogada de renome.- Elatinha algum caso em mãos? Tinha inimigos?Embora a pergunta não lhe fossedirigida, Rui respondeu com várias teorias. Os agentes da PSP que estavamno local riram-se e informaram que ela se tinha divorciado, fazendo o ex-marido perder dinheiro. Interrogado, este negou o crime, salientando que setinha separado porque ela tinha dívidas de jogo. Ana foi ao casino e deteve oparceiro de jogo.

460. REGINA FERREIRA - SEM TÍTULOEra um dia quente de verão, e eu Mariana, corria pela praia. Decidi

então, ir respirar o ar puro bem perto da falésia. Cheguei ao local e deparei-me com algo que não estava bem, o ambiente estava pesado e sinistro. Haviasangue pelo chão, roupas rasgadas, comecei a seguir as pistas, até que meconfronto com um corpo pálido, sangrento e nu, deitado no chão mesmoperto da falésia. Atenta tentei perceber, a quem pertencera aquele corpo, erapraticamente irreconhecível, até que olhei para o seu pulso e vi uma pulseiraque me era familiar... Era a minha melhor amiga, Vanessa. Fiquei sem reação,estava de rastos. Mas afinal quem é que queria fazer coisa tão sinistra a umamulher que tão amável, inteligente e maravilhosa?

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461. REINALDO FERREIRA - JANTAROuço o sangue a correr-me nas veias. A névoa gelada tolda-me a visão e

o pensamento. Revejo os passos seguintes e dezenas de alternativas possíveis.Todas terminam da mesma forma, pouco agradável. Tal como o cheiro dacarne que se entranha em mim. Toco na porta levemente para lhe sentir opeso e sustenho a respiração. Espero pelo segundo seguinte. Enquanto abroa porta e arqueio o braço num movimento que lembra um lançador de disco,olho para o chão e dou um passo em frente, ruidoso, que abafa a pancada secano pescoço. Imobilizo-me novamente. A névoa gelada que escapa do armazémfrigorífico atrás de mim combina-se com o calor do sangue que me escorrepela mão. O corpo rendido começa a pesar-me nos braços mas a bancadaparece estar estrategicamente colocada na cozinha. Encontro o telefone, mas éuma mesa livre às 21 horas que me faz sorrir.

462. RENATA MALTA - 77O gélido nevoeiro que se apoderou inesperadamente da Vila Baixa,

naquela noite, foi também um prenúncio de que algo estava para acontecer.Quando o telefone tocou na esquadra policial, a equipa chefiada por Ângelonão estava preparada para o que iria encontrar na casa número 77. À primeiravista nada de estranho se passava... Apenas tinham sido chamados pelo factode uma vizinha ter estranhado ver a porta traseira da casa aberta. No entanto,quando tentaram encontrar o dono da casa verificaram que este estavaincontactável e ninguém sabia dele. Após uma análise do perímetro fizeram-sedescobertas inquietantes: três pequenas manchas de sangue que pareciam tersido colocadas propositadamente ao lado da fechadura, cinco dedos da mãodeixados na caixa de correio e o coração enterrado no jardim. Até hoje oculpado ainda não foi apanhado, mais seis crimes iguais foram cometidospelo país, e nenhum corpo encontrado. Além do modus operandi, todas ascasas tinham em comum o número 77!

463. RENATA SURRÉCIO - O BECOEntro no beco, o médico legista já retirou o cadáver, deixando uma

silhueta a branco e uma imensa quantidade de sangue carmesim no chão.Tanta fúria naquele local recôndito, que até agora ainda se sentem as paredes aecoar com o tumulto que testemunharam naquela noite. Segundo osinquilinos do prédio, houve discussões acesas durante cinco minutos até derepente haver nada mais que silêncio. Os únicos vestígios da ocorrência sãoum corpo do sexo masculino espancado, ensanguentado, cuja face mal sereconhece… Nunca antes eu vira algo assim, pergunto-me sobre quanta

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tortura e dor aquele ser teria sofrido antes do seu último suspiro, mas denada vale ponderar muito sobre isso, agora o meu papel é descobrir a pessoa,ou pessoas, responsáveis e depois deixar a justiça fazer a sua parte.

464. RENATO FIALHO - SEM TÍTULOÀs 6:23 da manhã, num beco perto do cais, a equipa da Polícia Judiciária

já se encontrava no local do crime. A vítima, um homem perto da casa dos 20anos estava completamente desprovido de bens. Um braço partido e múltiploshematomas espalhados pelo corpo. Também apresentava várias perfuraçõesnos braços. O médico legista descartou logo a hipótese de toxicodependenteassaltado, as perfurações eram postmortem. Perto das 10 horas da manhã, avítima já tinha sido identificada e as primeiras análises já mostravamresultados. Filho de um arquiteto de sucesso, saudável e sem substânciasilícitas na corrente sanguínea. Um homicídio motivado pelo ódio! Após osinterrogatórios havia 2 suspeitos. A madrasta, 15 anos mais nova que omarido e com historial de toxicodependente e o irmão, 4 anos mais velho,socialmente problemático, que demonstrou demasiada frieza. Sem álibiscoerentes, ambos foram detidos. Mantinham um relacionamento que foidescoberto pela vítima.

465. RICARDO APOLINÁRIO - UM PASSEIO ATRIBULADOFora uma tarde chuvosa de outono e agora apenas uma noite fria. Rafael e

Patrícia um casal de apaixonados passeava juntos ao rio e foi quando sedirigiam para o carro que Patrícia gritou ao ver o corpo de um homemenvolto em sangue naquela rua apertada entre os armazéns do porto marítimode mercadorias. Rafael contactou de forma apressada as autoridades. Àchegada ao local o inspetor Xavier e a inspectora estagiária Miranda foraminformados pelo médico legista, o Dr. Gonçalves da previsão da hora damorte. Os inspetores depararam-se com facto de existirem múltiplos sinais defacadas no corpo da vitima, porém não existia sangue suficiente, o que fez osinspetores acreditarem que o crime teria ocorrido noutro local diferentedaquele onde se encontravam. O corpo foi encontrado sem qualquer tipo deidentificação e apenas uma prova foi encontrada, um amuleto da sorte. Quemterá assassinado este pobre homem e colocado ali o seu corpo?

466. RICARDO FERREIRA VICIANTE - SEM TÍTULONum parque de diversões de Portugal, o “Brincalândia”, um corpo é

encontrado pelo dono do restaurante mais procurado do parque, numa zona

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baldia do mesmo. Quando a polícia chega ao local, as dúvidas começam asurgir: o facto do corpo não apresentar qualquer sinal de trauma e tratando-se de um homem na casa dos trinta anos que aparentava ser saudável nãoajuda a clarificar a causa da morte. Mais tarde, após a autópsia sãoencontrados, no organismo da vítima, altos níveis de uma substância natural,mas que ingerida em excesso poderá ser fatal. Na conclusão da investigação, apolícia foca a sua atenção no restaurante. É assim desvendado que osprodutos do mesmo contêm uma variante de dopamina, uma substânciaaltamente viciante. O homicida? O dono do restaurante. Motivo? A vítimadesconfiava dos motivos do sucesso do estabelecimento. Como? Injecção deum concentrado da substância natural.

467. RICARDO GROOVE VIBEZ - A LOTARIA DA SORTEEra uma noite muito nublada, mas o ambiente era quente pois Joseph

estava muito perto do centro de Dubai. Nesse dia tinha-se lembrado de jogarna lotaria. Tudo parecia simples mas na verdade não era assim tão fácil paraele. Tinha um sonho: poder conhecer todos os continentes do mundo.Combinou encontrar-se no café do costume com Sophie e tomaram umacerveja juntos. Quando pensava que ainda tinha o bilhete nos jeans esqueceu-se de remendar o bolso direito da frente. Foram a uma festa de máscaras numcastelo e tudo parecia correr bem. Foi quando Joseph queria contar a Sophieo seu sonho. Então o ‘crime perfeito’ foi quando Sophie lhe mostrou obilhete da lotaria que Joseph tinha ganho a viagem à volta do mundo. Ele nemquis acreditar e pediu a Sophie que a acompanhasse naquela grande aventura!

468. RICARDO PEREIRA - O PRIMEIRO DIAAo acordar mal podia eu imaginar que o meu primeiro caso poderia ter

sido o mais difícil de sempre. A caminho da esquadra sou chamado para umhomicídio na mata em redor da cidade. Ao chegar ao local deparei-me comuma cena macabra, a vítima, com os seus 20 anos, estava de joelhos com asmãos atadas atrás das costas, uma venda nos olhos e a garganta cortada. Aoredor, nem uma prova ou arma do crime. Tudo indicava para uma violação.Perto do local um jovem despistou-se no carro e embateu contra uma árvore,no banco do passageiro estavam os pertences da vítima, o telemóvel do sujeitocom mensagens entre ambos e fotos de cariz sexual da vítima com outroshomens. O rapaz era namorado da vítima, que após ter descoberto a traição,castigou-a ao tirar lhe a vida. No fim fez-se justiça. Se ao menos fosse sempreassim.

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469. RICARDO ROSÁRIO - O QUE ÉS CAPAZ DE FAZER POR AMOR?A claridade do dia entra pelas frestas dos estores e fere-me os olhos,

enquanto os abro lentamente, cansado sem me lembrar bem porquê. Sinto-me húmido, pegajoso e quando me volto, ali ao meu lado jazia um corpoensanguentado, de uma mulher loura na casa dos trinta... Levanto-me ecomeço a percorrer o quarto, assustado e sem saber o que fazer e lentamenterecomeço a pintar mentalmente o quadro da noite anterior... Era ela queencontrei na entrada da Casa do Terror na feira popular e que meacompanhou nessa que parece ter sido a sua ultima visita... Era uma fanáticapor tudo o que foste místico ou que envolvesse mortes e crimes por resolver.Ah... Lembro-me agora, que saí a semana passada em condicional e que ela, jáem minha casa, na minha cama, me perguntou tal como em tempos, a minhafalecida: “O que és capaz de fazer por amor?”.

470. RICARDO TARRÉ GOMES - O DIABO VEIO JOGARJaime Santana é um homem obcecado pelo seu par de dados e pelo

número 66, ligado a tudo de bom que lhe aconteceu na vida. Nascido em 66do século passado, Jaime foi uma vedeta do desporto com o dorsal 66 e, apósa retirada, tornou-se detetive privado, atingindo notoriedade internacionalcom o desvendar de um caso de corrupção, que envolveu celebridades, a 6 dejunho. 66 novamente. Hoje, Jaime lançou os dados no seu escritório. Par de6. Nessa noite, uma misteriosa mulher requisitou os seus serviços paradesvendar o assassínio do seu marido. No meio da conversa, esta lança paracima da mesa um outro dado e abandona o gabinete sem mais dizer. Jaime saino seu encalce mas é brutalmente atropelado, cambaleando de volta para oescritório, apenas para desfalecer junto à mesa, tendo como última visão o triode dados. 666. O Diabo acabara de jogar.

471. RICARDO VILEDA - A REVIRAVOLTAO inspetor chefe José Hierro da cidade de Juarez assiste ao

interrogatório do presumível serial killer Johny Nash, pelo agente do FBISteven McDonald. Nash era acusado de vários crimes nos EUA, sendoperseguido por McDonald desde o primeiro assassinato, sendo capturado noMéxico nessa noite. Hierro conhecia bem o caso e ao rever mentalmente todosos detalhes, esboça um sorriso e entra na sala de interrogatórios. -Sr. agente,sabemos que a sua esposa morreu numa tentativa de assalto à sua residência.Nash foi visto a deambular na zona e em tribunal não houve acusação por faltade provas -continua-; está aqui detido há mais de 7 horas e o crime da noitepassada foi apenas há 5 horas, logo... Modus operandi o mesmo:

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estrangulamento, cabeça rapada e uma peruca ruiva, cor do cabelo da suamulher. Abre a mala do seu carro ou abrimos nós? McDonald com um arderrotado e perante a estupefação de Nash, murmura. -Abram vocês.

472. RITA CASTRO - SIMBIOSEA correr. Impossível parar, abrandar ou mesmo reflectir. As lágrimas

escorrem pelo rosto e revolvem-se no ar à medida que a inércia domovimento as arranca amargamente à sua face. No ar gélido as lágrimastransformam-se em chuva e a chuva em lágrimas, numa fusão tão inesperadaque ambas se misturam num beijo amoroso que lhe envolve a cara, numdesespero banhado pela água e pela parca luz do luar. Estacando em frente aomar a serenidade começa a acompanhá-la, embora momentaneamente. Crescee cresce cada vez mais um espaço para sentimentos estritamente proibidos masque não consegue evitar. Traição. Mudança. Raiva. Tudo isto revolve no seuinterior sem que se aperceba. Tudo isto espicaça a sua vontade de semergulhar nas águas eternas perto das quais se encontra.Ânimo frescopotencia a reflecção dessa mudança e traição, que no fundo apenas é observaro leitor a virar a página.

473. RITA PARDAL CAROLO - O ÚLTIMO CONFLITOA noite estava sombria e silenciosa. Aqui e ali irradiavam pequenos focos

fantasmagóricos de cores ténues e misteriosas. O beco estava escuro quandodele saí, atravessando a nuvem de vapor que emanava suavemente das sarjetas.Na minha mão, a adaga antiga ainda escorria o sangue, ainda quente, que àbreves momentos te dava vida. Tu jazias inerte no chão gelado, onde te deixeia arrefecer, debruçado sobre uma tela vermelha escorregadia e viscosa, tingidapela tua garganta palpitante, agora degolada. O teu coração já não bate. O teucérebro já não é consciente... meramente por teimosia tua! Para quê a tuasôfrega vontade de marcar a tua posição? Negares-te fervorosamente a tomarem conta a minha opinião? Se ao menos me tivesses escutado quando te pedique me ouvisses. A história poderia ter tido um final diferente...

474. RITA PINTO - UM ÚNICO ERROLuís queria o crime perfeito. Mas seria capaz de enganar os especialistas?

Precisava testar. Esperou que alguém morresse num local público. Correu atélá, juntou-se aos mirones. De forma discreta, introduziu no bolso da vítima amensagem: “Consegues descobrir quem sou? Como matei?” O inspetor daPJ chegou, leu a mensagem, aceitou o desafio. Nessa noite, Luís ouviu a

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sirene da polícia, escutou os passos nas escadas, as pancadas na porta. Malabriu, foi algemado e levado para interrogatório. Foi o inspetor que lheexplicou, numa voz pausada que não revelava a sua rapidez de raciocínio: -Descobrir quem és? Fotos no facebook mostram-te com a mensagem na mão.Descobrir como? O sangue acusou o veneno. Não preciso de descobrir maisnada! E, assim, um homem que não era criminoso, mas queria ser, foi parar àprisão por um único erro: julgar que poderia provocar impunemente aqueleinspetor.

475. RITA RODRIGUES - SEM TÍTULOEram 21h quando a polícia da (pacífica) Vila Santa recebeu uma

denúncia, de um corpo abandonado à beira da estrada. Foram a correr paralá, e apenas se via terror nos olhos deles. O corpo, de uma mulher negra, nosseus 20 e poucos anos de idade, tinha uma mancha branca, feita a pincel, nacara. Todo o seu sangue tinha sido drenado, e, vinham eles depois a supor,com ela viva para poder bombear o sangue! Seguiu-se a (longa) investigação,e com isto, mais 4 corpos com o mesmo modus operandi. Ao fim de veremvariadas hipóteses, chegaram a uma conclusão: suspeito branco, com 20 a 30anos, obcecado com arte. A localização das vitimas nos diz muito sobre quemele é; foram todos encontrados junto a estatuas ou graffitis. Por todos os seustrabalhos serem negligenciados, e eles acreditam, por artistas negros, ele faz oque faz. E o sangue é utilizado para pintar, sim, é como um alivio sexual.Devido a sua carencia por atenção ele deveria estar a tentar vender os quadros,nunca foi encontrado.

476. RITA TERROSO - O DESAPARECIMENTOReparei que toda a gente me olhava enquanto me encaminhava para o

gabinete do meu chefe. Quando entrei, dei por mim a olhar para a minhairmã e o seu marido. O meu coração parou. A minha sobrinha tinhadesaparecido. Ia fazer de tudo para a encontrar. Pedi todos os detalhespossíveis sobre o ocorrido e fiz-me à estrada. As pistas levaram-me à casa doantigo namorado da minha irmã. Estudei o cenário: janelas fechadas, luzesdesligadas. Dirigi-me à porta principal e bati. Nada. Forcei a porta e fui diretaà cave. Deparei-me com a minha sobrinha a dormir amarrada. Fui acordá-la equando os seus olhos se abriram enceram-se de lágrimas. Abandonei a casacom ela. Devolvi-a à sua família mas fiquei a pensar no porquê do que setinha passado. Semanas depois chegou o resultado: ela tinha sido raptada peloseu verdadeiro pai. Mantive o segredo para sempre.

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477. RITA VILELA - TESTEMUNHO DECISIVO!Nada no sangue, nada no estômago, nenhuma marca, nenhuma ferida…

nenhuma arma. Negativo para ADN que não fosse o da vítima. Nada! Nemuma pistazinha! -Grande merda! –desabafou o inspetor Simão. Ele não tinhadúvidas que se tratava de um crime: um homem saudável morrera na vésperada assinatura de um contrato que acabaria com o conforto de gente muito má?Era claro quem tinha motivo e meios para acabar com aquela vida. Só faltavasaber o como… e prová-lo. A investigação arrastava-se sem chegar maislonge do que o ponto de onde tinham partido. O testemunho de um familiarda vítima fez a diferença. Mas o inspetor Simão reparou em algo que maisninguém notara: aquele testemunho falhava num pequeno detalhe que odeitava por terra. E agora? Revelar o perjúrio, ou aproveitar para tirar dasruas um criminoso? Hesitou e depois tomou uma decisão: a decisão certa!

478. ROBERTO GAMBOA - O SEGREDO DE BELÉMEstava no autocarro a ler contos policiais. Parei para um cafezinho e um

pastel de nata. Para minha decepção a Soraia não estava. Voltei a apanhar oautocarro. Antes de mergulhar na leitura vi numa janela uma mulher aesbracejar. Parecia a Soraia. Cheguei a casa, vesti o fato do avô, peguei nabengala artilhada com tranquilizantes, tratei da maquilhagem e fui investigar.Cheguei ao andar suspeito, encostei o microfone amplificado à porta ecomecei a gravar. “Não me contas o segredo, vou passar à tortura”. Algoestava errado. Mandei mensagem à polícia, mas não esperei. Entrei demansinho, mas fui logo agarrado. A Soraia estava amarrada a uma cadeira eeu já tinha uma faca a arranhar-me o pescoço. Apontei o cabo da bengala edisparei dois tranquilizantes ao torturador. Desatei a Soraia e recebi umabraço. “Queriam o segredo dos pastéis de Belém”, disseme ela a chorar.

479. RODOLFO MIGUEZ GARCIA - ONDE MORRE O QUARTOMARIDO?

Ficou viúvo ainda novo, mas não por muito tempo. Tempo não lhefaltava para procurar novo compromisso, já que outros não tinha. Tinhadebaixo de olho a antiga namorada que ficara viúva. Viúva já por três vezes,murmurava-se em segredo. Em segredo o namoro foi rápido, que a paixãofora forte. Forte suspeita pairava quanto ao destino do quarto marido. Maridoe mulher oficializam o acto e juntam os pertences. Pertences de três maridosque fazem pequena fortuna. Fortuna maior é a do quarto que a agora nãoviúva, agora ambiciona. Ambiciona ser de novo viúva, rica, poderosa e disporde tudo. Tudo por amor diz ela, tudo por dinheiro diz a vizinhança.

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Vizinhança que faz apostas sobre a duração do dito. Dito isto vão de viagem,longa viagem que acaba sem regresso para ele. Ele, o quarto marido acabapor morrer, e sem explicação, no quarto de núpcias.

480. RODRIGO MARÉ - SEM TÍTULO22 horas do dia 31 de outubro de 2015. No meio do Central Park,

estava a equipa forense a analisar o corpo de um jovem que esta vestido deabóbora e estava desmembrado. Nesse entretanto, chegou Jane e perguntouaos colegas: -Quem é a nossa vítima Charles? -A vítima chama-se John e tem25 anos. Foi encontrado por aquela vidente. Jane tem cuidado com aquelamulher porque ela diz que isto é o fim do mundo, chegou a hora doapocalipse... –Oh, Charles, pensava que fosses mais homem... Nessemomento, Jane dirige-se à vidente e esta começa a retorquir-lhe: -Tu vaisdesaparecer! Tu vais ser levada pelo diabo! Já chegou a hora! Tirem-medaqui, levem-me daqui, já! Jane fez o que ela pediu-lhe. Quando Jane estava air para o carro, parou uma carrinha com homens mascarados de diabo elevaram-na. Deixaram um recado no carro de Jane, que dizia: “Chegou o fimdo mundo”.

481. ROSA MONTEIRO - SEGREDOS DO PASSADOEra uma noite muito fria. Os cães uivavam à luz da lua quando um carro

desgovernado invadiu a avenida da cidade. Estava de folga, mas o impulso depolícia fizera-me saltar para dentro do carro, ligar a sirene e segui-lo. Ligueio rádio e chamei:- Central, Central. Daqui fala a detetive Costa. Estou aperseguição a um Opel Corsa azul-escuro, matrícula 2-5-6-7-Xavier-Barros.Peço reforços. Disseram que iam mandar reforços. Disseram que o carrotinha sido roubado há uma semana. Disseram que o meu instinto não falharade novo. Desejaram-me sorte. Acelerei o mais que pude para travar o Opel.Numa curva, o carro perdeu o controlo e capotou três vezes. Saí a correr emsua direcção e o que vi fez-me gelar: não havia ninguém dentro do carro,apenas uma boneca de porcelana que o meu pai me dera em criança antes dedesaparecer. Num bilhete estava escrito: “Salva-me”.

482. RUBEN PINTO - A REVELAÇÃOFoi á exactamente trinta anos. Na altura eu era apenas mais um detetive

recém-formado, mas na minha cabeça eu tinha conquistado o mundo. Hámuito tempo que tinha escolhido a divisão de homicídios, algo sobre a morteme fascinava, desde sempre. Quando o telefone tocou, fui a correr para o

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carro o meu primeiro homicídio tinha acontecido. Quando cheguei deparei-me com um cenário dantesco, duas pessoas afogadas na banheira, era óbvioque tinham lutado mas algo não batia certo no cenário. E eu não estava asentir nada pelas pessoas ali mortas. E essa falta sentimento só piorou quandodescobri o bilhete suicida dizia assim: “Ela não casou comigo mas tambémnão casa contigo. Agora temos a eternidade juntos”. E ao ler aquilo só meconsegui rir. Passado algumas semanas passou a fazer sentido, umaressonância magnética funcional revelou o cúmulo das ironias eu era umpolícia psicopata.

483. RÚBEN BYDA - MCWOLF DE CALIFÓRNIAFoi literalmente o caso que o construiu. Sem nenhum motivo. Sem

nenhum suspeito. A vítima publicamente adorada. Detetive McWolf, o novoSherlock. Quando detetive McWolf ligou a marca do relógio, o botãodourado desaparecido do fato do secretário de Estado, iguais ao do ministroOsvald, e a criada do ministro que mandou os dois ser feitos, tudo fezsentido. Ele foi considerado como a personificação viva do Sherlock Holmes.Na seguinte década, McWolf era quem estava no comando do departamentopolicial da Califórnia. Ministro Osvald recebeu uma sentença de prisãoperpétua. Foi então que a viúva recebeu uma carta, sem nome. Explicava comoo seu marido contratou um ex-militar para o matar, antes que o cancro ofizesse. Por alguma razão, esta estava atrasada 24 anos.

484. RUI FERNANDES - OS LOBOSNuma densa floresta discute-se um crime: -Já viu algo assim na sua

carreira? -pergunta o agente da polícia ao guarda-florestal. -Duas vezes aotodo -responde. -Registam-se três pessoas desaparecidas nesta floresta eagora encontrou-se um esqueleto. O que acha que pode ter acontecido, Sr.Guarda? -São os lobos, Furriel. -Lobos? Nesta zona? -Afirmativo. -Conhecia as vítimas? -Presumíveis vítimas. Dois desaparecidos: um caçador eum fotógrafo. Há cinco e seis anos atrás, respetivamente. Idiotas! Nuncadeviam vaguear sozinhos na floresta. -Como sabe isso? -Participei nas buscas.-Notou em alguma coisa? - Uivos. -Impossível! As análises antropológicasnão registaram marcas de dentes! -Podem ter atacado no abdómen. -Querfazer-me acreditar que uma matilha de lobos matou um indivíduo furando-lheúnicamente a barriga? O guarda-florestal puxa da sua faca de mato. -Convença-se, Furriel. Foram os lobos!

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485. RUI MELO - DESPERTAR (?)A luz amarela dos candeeiros da rua entrava ainda pelas ranhuras dos

estores entreabertos. Chovera durante a noite; uma noite ainda quente de uminício de outono já visitado pelas primeiras águas da estação. Conseguia ouvirpingar nas grades da varanda e o inconfundível cheiro da terra molhadapreenchia os recantos do quarto. Os sentidos da Sra. J regressavam do limbolentamente, empurrando o peso do sono para o abismo de mais um dia. Masnão era um dia qualquer… algo estava diferente. Ainda de olhos serradospodia sentir a aceleração provocada pela adrenalina; pelo medo puro e negro.Algo estava profundamente errado. Levantou-se em sobressalto para umquarto vazio. Na casa reinava um silêncio sepulcral. Voltando-se para a camaencontrou o lugar a seu lado inesperadamente vazio. O grito crescia-lhe nopeito e era quase insuportável contê-lo. Um odor acre trouxe a sombradeformada que se projetou da janela.

486. RUI MIGUEL - HOMICÍDIO EM ARMAZÉM ABANDONADODuas vítimas mortais foram encontradas num armazém abandonado nas

docas na passada sexta-feira. Diego Lopez, vítima masculina baleada no peitotrês vezes e Ana Petrovic esfaqueada mais de 10 vezes em todo o corponomeadamente no dorso. Polícia ainda procura respostas ao “como” e“porque” e também uma ligação entre as duas vítimas de nacionalidadesdiferentes. No entanto ainda só têm o depoimento de uns residentes a afirmarque foi vista uma carrinha branca a entrar nas docas mas que nunca saiu emuito menos ouviram tiros disparados. Já foi confirmado que as vítimas seencontravam vivas na carrinha e mortas no armazém e que o cais 35 deixamarcas de que um navio estivesse ancorado muito recentemente.

487. RUI MIRANDA - O MISTÉRIOO local do crime era muito confuso, havia pouco sangue mas o médico

legista disse no seu relatório que a vítima se tinha esvaziando-se em sangue.Existiam contusões nos pulsos que indicavam uma luta. A vítima era umamulher jovem, branca 30 e poucos anos, tinha um corte no pescoço queindicava que foi por ai que se esvaziou em sangue, mas não foi morta ali.Testemunhas viram um homem de preto a fugir mas nenhuma dastestemunhas consegui identificar o homem. O corpo já foi levado para amorgue. A minha teoria é que mataram a vitima num lugar do outro lado dacidade e transportaram-na para ali e deixaram-na.

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488. RUI PÉCURTO - PRESAS DO PASSADOMary Perkins é encontrada no seu apartamento com a garganta rasgada.

No local do crime, o detetive Sam Wolf, encontra marcas de garras na paredee pelos de animal no cadáver. Análises revelam pertencer a um puma. Opolícia segue o rasto até ao Museu de História Natural onde Mary trabalhava.Interrogando o director do museu, fica a saber que a rapariga estava atraduzir um livro encontrado numa escavação no Canadá. Nas anotações dacientista, Sam lê uma passagem que permitiria evocar o espírito de um puma,mas quem o fizesse pagaria o preço mais alto. A investigação revela que Marydescobriu que director estava a enriquecer vendendo peças do museu,substituindo-as por réplicas. Como não existem provas que o liguem aoassassinato da rapariga, é apenas acusado de roubo. Semanas mais tarde, éencontrado na sua cela com a garganta rasgada e marcas de garras nasparedes.

489. RUI PINTO - O CARRASCONunca a cidade de Lisboa conhecera um assassino tão implacável como

“O Carrasco”. Escondendo-se nos becos sombrios da capital e movendo-sepelo negrume, o homicida procurava por jovens solitárias que seaventurassem pela vida noturna da metrópole. Quando chegava o momentoapropriado, degolava as vítimas com um simples golpe da sua navalha,deixando-as a sangrar pela calçada portuguesa até que o derradeiro suspirochegasse. Santiago Monteiro, o homem responsável pelo caso mediático,tentava apanhar “O Carrasco” há anos, desde que se tornara Inspetor naPolícia Judiciária. Ao seguir uma pista que o levara até às ruelas do BairroAlto, conseguiu deter um criminoso que se afastava da escuridão para cortar agarganta de uma adolescente. -Finalmente, passados todos estes anos,apanhei-te –pronunciou o polícia, colocando-lhe as algemas com brutidão. -Sou apenas um fiel seguidor -revelou o detento, desenhando um sorriso noslábios. - Jamais apanharão o meu mestre!

490. RUTE BERQUÓ - PLENTY OF BODIESLanie surge com ar grave e ordena ‘morgue, now!’Abre uma das gavetas,

puxando para fora a prateleira vazia. Ryan, Javi, Rick e Kathy olham-se semsaber o que se passa. Lanei informa que se estava a preparar para fazer umaautópsia quando: -Eu só virei costas por um um minuto; não entendo paraonde foi o corpo, quem o queria levar e porquê? -para encobrir o assassino,claro! (Rick) - Primeiro temos que saber com o que estamos a lidar – o que éque sabemos sobre a vítima? Só assim chegaremos a quem teria interesse em

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fazer o corpo desaparecer –diz Kathy, motivando todo o grupo. -PlentyO’Toole -(Ryan) - Claramente, um nome falso! –diz Rick ainda maisentusiasmado; Kathy olha-o céptica - Plenty O’Toole era uma bond girl emDiamonds are forever . Quem sabe, o assassino não é o Stavro Blofeld, opérfido vilão... caso resolvido! -Oh, Rick, detesto rebentar a tua bolha, masisto não é um argumento de um filme –diz Kathy -...or is it? –provoca Rick

491. SALOMÉ MARIANO - O SAPATO VERMELHOO sapato no centro daquele corredor deserto era o único indício de que

um crime tinha sido lá cometido. Três horas antes, uma rapariga de dozeanos, Rafaela Branco, tinha perguntado ao seu professor de História se podiafalar com ele depois da aula. O homem, de quarenta e cinco anos chamadoGustavo Capelo, aceitou e pediu-lhe que esperasse à porta da sala. Capelochamou a polícia após ouvir o grito de Rafaela e de, ao sair da sala, apenasencontrar uma sabrina vermelha. Após questionarem os colegas e professoresda rapariga, os investigadores descobriram que a aluna de excelência tinhaplaneado faltar às aulas, que parecia estar com medo de alguma coisa. Ou dealguém. Depois de investigarem a escola a pente fino, o par de detetives partiupara a sua própria investigação. Apesar de serem os melhores, sóconseguiram resolver o mistério seis meses depois com um novo rapto.

492. SAMUEL CASTRO - A TEIA DE FERROMaio de 1856. Dia 13. Inglaterra. O arvoredo rugia em volta da mansão.

Uma mulher lindíssima deixou-me entrar. -Inspetor Carnot! –SaudouBarnes. O seu bigode vibrou. -Uma palavrinha em privado? - Sugeri. Anuiu.-Encontrou o assassino do meu antecessor? -o sorriso era amigável mas haviagelo no seu olhar. Passos apressados cresciam nas minhas costas e saquei orevólver. Nesse instante, um homem irrompe pela entrada. A bala inutilizou amão direita que me apontava uma Winchester. -Desista! Teremos a nossavingança -disse Barnes, atirando-se pela janela. Com a cabeça a mil, refleti.Dois milionários mortos, um homem ferido e outro com um revólver recém-utilizado. Tramaram-me. Quando nada podia piorar, ela entrou sorrindo. Oseu olhar venenoso vencia mil escorpiões. -Tentaram roubar o Banco deInglaterra há dois meses. -Carnot, cordial como sempre -segredou ao meuouvido. -Hoje pela última vez. Polícias emergiram das sombras. -Caiu nanossa teia.

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493. SANDRA ALVES - CALEIDOSCÓPIO AZULO espaço fora recentemente usado. Vestígios de cigarro, o cheiro da

fumaça ainda se sentia. Apenas as luzes da noite incidiam na carpeteensanguentada. Fazia querer que o assassino estivera a contemplar o corpodepois de morto, como um ímpeto pelo êxtase da obra feita. O corpo frio,pálido esfaqueado no peito, os golpes profundos deferiam uma marca decrime passional. Ou vingança talvez. Ouvi passos, saltos. Uma sombra azul,brilhante. Esgueirei-me na varanda e encontrei uma mulher. O vestidobranco, lustrado pela luz da lua e da cidade, mesclado pelas manchasvermelhas, sangue. Lágrimas, olhos esborratados. Ela disse: “O meu silêncioé a minha morte, porém dos outros também. Desculpe”. Vi-a cair no vazio deum caleidoscópio azul. A morte.

494. SANDRA AZEVEDO - A CASA AZUL DO BOSQUEA noite estava fria, no ar sentia-se o cheiro gélido do desconhecido. Este

encontrava-se envolto num manto de obscuridade, mas Felicia continuavacorajosamente a seguir a estrada de terra batida, em direção à casa a qual lhehaviam dado a morada. Felicia não sabia bem, porque razão lhe tinhamindicado aquela casa para pernoitar, mas como se sentia exausta da viagemdecidiu arriscar, tendo que deixar o seu carro vários metros atrás, pois estenão conseguiria passar naquela estrada tão estreita. Com a sua pequenalanterna ia delineando o escuro caminho, e após alguns minutos vislumbrou,bem no fundo da estrada a casa pintada de azul que já estava esbatido, de sertão fustigado pelo tempo agreste que se fazia sentir naquela região. Comalguma desconfiança e receio Felicia bateu à porta com estocadas firmes, masninguém respondeu, então esta decide rodar a maçaneta da porta com algumaprecaução, mas ao entrar em casa sente uma pancada forte na sua nuca edesmaia...

495. SANDRA PEREIRA - A NOITE INESPERADAEra uma noite de nevoeiro e foi encontrado um corpo masculino junto a

uma rua. O detetive George estava muito pensativo com o caso, lembrava-lheoutro caso que investigou há 2 anos. O corpo estava de barriga para cima edesfigurada, sem olhos! Começando a investigar o caso, foram surgindopormenores macabros. Tudo apontava para a sua esposa, Amanda! Quandochegou o momento de interrogar Amanda, George apenas se interrogava:Porquê? Descobriu que Amanda era filha de um assassino, “El Matador”, quematava as suas vitimas de forma barbara mas antes de as matar, tirava-lhes osolhos e retirava os órgãos para se vingar. De quê? De ter um cancro nos

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intestinos e de ser cego! Sempre se soube que existia um cúmplice, anosdepois descobre que é a sua mulher e que apenas casou com ele para seguiros passos que a polícia ia dando. A vida de George nunca mais foi a mesma!

496. SANDRA RAPOSO - KARMARyan cai morto à porta do bar, segundos depois de estar com a sua noiva

Sarah a tomar uma bebida. Ela sai e vê Ryan deitado no chão e começa agritar. Chega a equipa de investigação e Rick repara que Sarah tenta esconderum frasco pequeno no bolso do casaco. Levam o cadáver de Ryan para amorgue para começar a autópsia e Sarah começa a ser interrogada. Nervosa ecom um ar desesperado Sarah diz que enquanto pagava a conta, Ryan saiuapressado para a rua. Kathy olha para Rick e este pergunta a Sarah se ela tomaalgum tipo de medicamento, ao que ela respondeu que não, com um arsurpreso. Rick não convencido com a resposta pergunta-lhe pelo frasco queela tem no bolso. Sarah começa a chorar e diz que a intenção dela era colocarcianeto na bebida de Ryan pois ele andava a trai-la com a irmã dela mas quenão teve coragem de o fazer. Entretanto batem à porta da sala deinterrogatório. O agente traz o resultado da autópsia. Ryan morreu asfixiadocom a azeitona da bebida.

497. SARA AGOSTINHO - O REFLEXO«Procura o cristal da verdade. Quando quebrado, uma aberração assoma-

se. Completo, o reflexo genuíno manifesta-se.» As palavras ressoavam. Lera-as na mensagem posicionada ao pé dos quatro corpos nus, disformes, de pelelívida e flácida, ainda com as amarras em volta dos pequenos pés e mãosenrugados. Haviam interrogado os suspeitos múltiplas vezes, analisado todasas provas e ainda não estavam perto de saber a identidade do homicida, olouco que deixara para trás aquelas palavras como se cumprisse algumpropósito divino e, inesperadamente, ele fora afastado do caso. Ouviu a suamulher a arrumar a loiça tentando olvidar a amargura da perda que ambosreconheciam, mas nem isso amorteceu os jovens gritos dos inocentes. Aindasentia o suor a escorrer vagarosamente na testa, humedecendo-lhe assobrancelhas. As mãos ressentiam-se da rudeza das cordas e da força quehaviam exercido. Olhou-se ao espelho e apontou o indicador à nuca.

498. SARA BAPTISTA - QUASE UM BOM PAIOs risos das crianças da Disneylândia eram tantos que era impossível

ouvir o que a mulher lhe dissera. Talvez um: porque olhas tanto para o meu

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filho? Ora essa. Por que também queria ser pequeno. Pequeno para poder irali e recuperar a sua infância. Caminhou para o palácio principal atulhado decrianças e pais. Espreitou o relógio e bateu com o pé no chão. Estava quasena hora. Uma mão pousou no seu ombro. Levezinha, pesada, mais pesada,apertada, muito apertada. -Não te disse para saíres do banco, papá. Marcelosorriu e libertou o comando no seu bolso. E o palácio tremeu, as pessoasgritaram, os telhados partiram, as janelas estilhaçaram. E a mão cravou-lheunhas. -Não era esse palácio, papá! Eu gosto desse! -Desculpa-me, filha. Ó,como era possível estar de novo a acontecer aquilo? Os empurrões, a mão dafilha a sair do ombro. Silêncio. Marcelo estava numa sala de interrogatório. -Onde está a sua filha? Marcelo riu-se, as lágrimas caíram na mesa. -NaDisneylândia.

499. SARA BERNARDO - SEM TÍTULOPen… imagens: um homem nu numa mesa, no peito as letras: CIV, 83-

93, um cronómetro que começa nos 30 minutos em contagem decrescente. Oquarto caso em 2 semanas: perdeu 3, não quer perder outra. A pen chega àpolícia e à televisão e as imagens são passadas para aterrorizar a população.Rui conhece o fim: Venci! Para sempre serei lembrado! -Que código é este?Digita-o no computador. Nada! Começa a tamborilar com os dedos nasteclas e … carrega no space: C IV 83-93. -Lusíadas? Belém? Partida das nausde Vasco da Gama? Praia do Restelo? Não conhece. 15 minutos!Computador outra vez. Praia do Restelo? Nesse local foi construído o Jardimda Praça do Império. Jardim? Tinha de ser lá.10 minutos.-Descobri. Rápido!– grita. Olha para a televisão. O homem continua à espera dele. Pode não oapanhar, mas desta vez o vencedor é ele.

500. SARA COELHO - O INÍCIOOs passos ecoam pelo corredor, o assassino afasta-se de Penny

deixando-a ensanguentada no chão da sala. Deixada em posição fetal com umdos ombros deslocados e a boca rasgada parecendo-se com o Joker. Nichosdos cabelos loiros arruivados eram visíveis em vários locais da sala. Os olhosarrancados das orbitas descansam junto ao corpo. Era um crime hediondo edemonstrava a raiva sentida pelo assassino. Os gritos de horror anda ressoamnos ouvidos de John o irmão mais novo de Penny que está escondido noarmário. Não era suposto John estar na casa da sua irmã esta noite. Elesempre soube que a sua irmã um dia partiria assim. Penny sempre adoroutrazer homens desconhecidos para casa e agora morreu. A brutalidade queocorrera naquelas quatro paredes marcaria o mundo e a história. Este foi o

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primeiro dos crimes de Damon, mas não seria o último.

501. SARA DÂMASO - O SUICÍDIO DE JENNA SIMONSChicago, 17 de novembro de 1967. Jenna Simons, atriz reformada dos

grandes palcos e recentemente viúva, passava os seus dias da mesma formamonótona. Até hoje. Três dias antes, Jenna recebera no correio um envelopesem remetente, encerrando apenas um panfleto: “Cara Jenna, aceite por favoro convite para a antestreia da minha última peça, «O Suicídio de JennaSimons». 17 de novembro pelas 17h, no Goodman Theater, sem atrasos”.Estremeceu. Contudo, apesar da inquietação, decidiu esquecer o assunto,certamente era uma brincadeira de mau gosto como tantas outras que lhepassaram pelas mãos.Só agora, ao assistir ao noticiário da noite, percebiaquão errada estava. Um corpo carbonizado, ainda por identificar, foraencontrado esta tarde nesse preciso teatro. Tocaram à campainha.Aterrorizada, a mulher entreabriu a porta. No tapete da entrada, encontrouapenas um pequeno recado: “Não me vais escapar na estreia”. O corredorestava vazio.

502. SARA DIAS - AJUSTE DE CONTAS(Damion) -Olá, Rick. Lembras-te de mim? Espero que sim. É uma pena

não atenderes o telefone, tenho aqui alguém que gostava de falar contigo...(Kathy, a chorar): -Rick! Ajuda-me, ele raptou-me quando eu... (Damion) -Chega. Se a quiseres voltar a ouvir, é melhor que não te armes em esperto.Essa faceta sempre me irritou, desde o secundário... Seria uma pena ter queacabar com esta beldade... A decisão é tua. Voltarei a entrar em contactocontigo, é bom que atendas. Ah, e nem sonhes em falar com os teusamiguinhos polícias. A vida da Kathy depende de ti. Bye bye, Richard (risomaléfico).

503. SARA GOMES CASTRO - CARTA DE ESPADASLetícia foi a pé para casa, ia a passar pelo terreno abandonado há beira da

escola e encontrou no chão uma carta com o ás de espadas. Não ligou eseguiu caminho. No dia seguinte repetiu-se, uma carta do mesmo naipe como número 2, e no terceiro dia, deparou-se com o número três.Repentinamente uma seta de vento perfurou o seu chapéu e fê-lo parar noassombroso inferno... o terreno. O seu sangue gelou, mas o chapéu pareciagritar por socorro. Então saltou a vedação que os separava, mas este estava emcima de três pessoas sem vida e condenadas a serem encontradas por alguém.

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Nelas estava gravado no peito o símbolo de espadas. Chamou a detetive Olíviaque nada fez, pensou Letícia ficando desiludida, pois Olívia era a sua heroína.De manhã no jornal encontrou paz ao ler a noticia dos três cadáveresencontrados por uma rapariga anónima e o assassino encontrado pela polícia.

504. SARA JESUS - A ÚLTIMA BRUXA DE SALEMEra uma noite fria de Novembro. Amanda caminhava com o seu filho

Henry. Aparentava ser uma noite calma em Salem, nenhum dos dois esperavaque acontecesse o que veio a acontecer. Henry era um menino adorável, mastambém era muito teimoso. Caminhou em direcção a uma enorme poça desangue, e não se afastou quando Amanda ordenou que fizesse. É então quesurge uma misteriosa figura... Parecia uma sombra trazida das profundezasdo inferno. Toda ela era escura e aterrorizadora. A sua face estava escondida.Mas sua voz ecoaria para sempre na memória de Amanda...” Vem... Entregatua alma, Henry! Apenas em mim serás livre”. Henry entrava numa espécie detranse. Não havia nada que sua mãe pudesse fazer, a bruxa controlava-a.Sugou seu espírito e deixou apenas um corpo estrangulado. No dia seguinte,aparece misteriosamente uma jovem mulher. Possuía uns olhos negrossemelhante a mulher que tinha assassinado o filho de Amanda.

505. SARA LOPES - VINGANÇA SORRIDENTEEram duas da manhã. Kathy estava a chegar a casa quando o viu. Não

sabia quem era aquele homem, mas sabia que algo terrível tinha acontecido. Avítima estava abandonada à porta de sua casa, com um corte profundo de cadalado da boca, imitando o sorriso da personagem Jóquer. Ela sabia que aquiloera uma mensagem! Aterrorizada, lembrando-se do passado, Kathy contou aRick o que aconteceu. No primeiro ano em que se juntou à polícia, ela deixouescapar um dos mais terríveis bandidos de sempre. Mentalmentedesequilibrado, ele matava pessoas só para lhes cravar aquele sorriso maléficocom um punhal maçónico, com lâmina de aço e cabo em Zamak. Agora,Kathy e Rick têm de fazer de tudo para seguir as pistas do crime, começandopela mensagem que ele deixou: “Que comece o jogo!”. Mal eles sabem que ocriminoso é alguém muito próximo deles…

506. SARA MACHADO - À NOITE NO CAFÉO relógio da máquina registadora marcava 2:35 quando os últimos

clientes saíram. Sérgio, um rapaz alto, moreno e de olhos castanhos, pegounum pano e começou a limpar o balcão. A televisão desligou-se e o café ficou

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em silêncio. Lá fora um carro afastou-se e ficou tudo mais escuro. Ele foi até àporta e preparou-se para fechar as cortinas mas um movimento no exteriorchamou-lhe a atenção. Pareceu-lhe ver alguém do outro lado da rua,escondido atrás de um carro. Trancou a porta e fechou a cortina. Um toquena porta assustou-o e ele espreitou. Ninguém. Ele afastou-se e o som repetiu-se. Ele resistiu a abrir a porta e ver lá fora e prosseguiu com o seu trabalho,reajustando as mesas. Quando se virou para o balcão lá estava ela, sorrindo.Ele sentiu o sangue escoar-lhe da face ao vê-la. -Por fim sós, amor. Estavacom saudades.

507. SARA PAULOS - SEM TÍTULOMeia noite. Tinha acabado de sair do trabalho, acabei por fazer turnos

extra hoje. Os candeeiros já estavam apagados, a lua cheia iluminava sozinha oresto da noite fazendo todos os outros objecto parecerem insignificantescomparados à luz gélida e branca. Eu caminhava, o único barulho existentenas redondezas eram os meus pensamentos e o som dos meus passos. Algunsminutos depois ouvi outros passos (o que era relativamente estranho pois arua estava vazia), decidi virar um pouco a cabeça e para meu espanto vi umasombra de uma silhueta masculina, e decidi fazer o que veio na minha cabeça,andar um pouco mais depressa. Conforme acelerei também o homem nasminhas costas acompanhou e num movimento brusco decidi correr, o quetornou a situação numa perseguição. O homem murmurou qualquer coisamas com o pensamento de chegar rapidamente a casa e chamar a polícia não oconsegui ouvir. Pareciam ter sido horas a correr até eu sentir os joelhos a caire ter sentido algo a bater na minha cabeça.

508. SARA PIMENTEL - SIMILAR HOUSEChegaram ao local e nem queriam acreditar... O local do crime era uma

cópia exata da casa de Rick! Como poderia o assassino ter informações tãoespecíficas como a jarra do séc. XIX suportada por uma simples vidraça ouaté mesmo do tapete que foi tão gentilmente oferecido a Marta numa das suasaventuras teatrais. Seria alguém conhecido? Ou pior, alguém em quem o clãRick confiasse? -Tens que começar a escolher melhor os teus amigos -disseRavi em tom de brincadeira. -Se calhar deveria começar por ti... Agora quetinha dois bilhetes para os Lakers não sei o que vou fazer com eles -disse Rickironizando. - Bem meninas depois de acabarem a conversa, Rick, seriainteressante se nos desses uma lista de quem possa ter visitado a tua casarecentemente -frisou Ryan. Com a sucessão destes acontecimentos Rickcontinua interrogando-se: -Mas afinal onde estará Kathy?

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509. SARA SOARES - “BLACK AND WHITE”1981. Estava uma noite fria. Recordo-me que saia do trabalho atrasada

para o jantar, como já era habitual desde que fui seleccionada para o caso“Black and White”. Esta é a minha história. Chamo-me Selena, soucriminóloga, tenho 32 anos e ainda vivo com o meu pai. Estava atrasada, echeia de frio, quem diria que o inverno se tinha instalado apenas há um dia. -Selena!? Foi nesse momento que olhei para trás e lá estava ele. Tudo à minhavolta desmoronou, o meu mundo acabou ali naquele preciso momento. Tinhadescoberto as últimas peças do puzzle. O caso “Black and White”. Eu! Eu eraa última peça. Era a rainha de um jogo de tabuleiros que o meu pai costumavajogar. Como não percebi que a vítima era eu? Estava tudo nas minhas mãos,já não era a criminóloga era a vítima. Cheque-mate.

510. SARA TIMÓTEO - ESTRELATO1. A luz. Miríades de partículas de pó abrem caminho para o pavimento

do quarto dela. Tudo se resume à arte de iluminar o perfil mais favorável. Ahistória dela em nada se distingue da de outras raparigas da indústria –e,contudo, existe uma aura indescritível em redor dela. 2. Sombras. Algumasmemórias não lhe trazem felicidade. Então, ela demonstra uma súbita tristezana curva do ombro. Esses são os dias em que os fotógrafos a idolatram.Aprendeu depressa a evidenciar a beleza por contraste com os locais sombriosdo seu ser. 3. Estrelato. Quando desfila, ela é o momento, o que deveriaexigir algo de si; porém, fá-lo sem qualquer esforço. O estrelato é umamiragem. Milhões de pessoas tentam capturar a radiância dela através daimagem. Cometeu o crime perfeito. O pai dela permanece sob o solo natal,inofensivo de uma vez por todas.

511. SARA TRIGO - AMARGO DE BOCAAlfredo abriu os olhos de repente, separado do sono por uma razão

qualquer. Olhou para o relógio: ainda tinha quinze minutos para dar à cama,mas escolheu levantar-se, preparar uma caneca de café e bebê-la enquanto liaas notícias da véspera. O telefone tocou antes que pudesse provar sequer oamargo da bebida, chamando-o para um local de crime na outra ponta dacidade. Apressando-se a sair de casa, deixou o café ainda a fumegar em cimado balcão da cozinha. -Parece-me um suicídio, pá –declarou Ana, estudandoatentamente a cena do crime. –Repara na posição da arma. Acocorado emfrente à cama, onde jazia o cadáver de um rapaz talvez ainda menor baleado nacabeça, contrapôs: -Podia ser… Mas não me convence. Deu uma volta peloquarto. Numa das prateleiras, entre camisolas mal dobradas, descobriu um

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saco de cocaína ainda por abrir, como se tivesse acabado de ser adquirido.Caída no chão, junto à cama, uma única beata apagada, mas não esmagada, fê-lo puxar para trás os lençóis que cobria.

512. SARA ANDREIA - DA ROCHA SEVEROA minha irmã mais velha deambulava pela sala, falando consigo mesma, o

seu olhar abrangia toda a divisão com concentração absoluta. Já eu, estoudeitada de barriga no chão, com os tornozelos e pulsos amarrados. -Não tepreocupes, a tua irmã mais velha não vai deixar que mais ninguém te magoe.Eu prometo. Mas agora diz-me onde é que ele está? Parecia não se aperceberque a fita cola sobre a minha boca não me permitia responder-lhe. Contorço-me. Ela irrita-se e arranca-me a fita-cola sem hesitação. Repete a pergunta. -Não sei. -Pois bem, quando ele chegar eu vou dar-lhe um tiro. Vou fazer comque ele pague por toda a dor que causou à minha pequenina. -Afaga-me ocabelo e eu estremeço. O tempo passou. Ele não chegou, mas sim a polícia.Ela sentiu-se traída e aí percebi, que dali eu não iria sair.

513. SARA MANUEL FERREIRA - CRIME MISTERIOSONaquele chuvoso fim de tarde, eu detetive Neu Ferreira assisti ao cenário

mais macabro em 7 anos de serviço. No 2.º esquerdo do numero 69 daavenida Jálávou, o corpo de uma mulher com cerca de 35 anos estavaprostrado no chão da sala coberto de sangue com múltiplas facadas. Noquarto ao lado a cama ainda quente mas vazia mostrava o desaparecimento deseu filho de 7 anos. O marido que nos havia chamado estava em choque como cenário que encontrou ao regressar do trabalho. Todas as provas foramminuciosamente recolhidas, mas não obtivemos resultados senão passadostrês longos anos. Quando passado esse tempo lá voltei e disse àquele pobrehomem que havíamos prendido o assassino de sua esposa, olhou para mimcom a alma despedaçada e apenas me perguntou: - Então estou mais perto devoltar a ver o meu filho? Limitei-me a olhar sem resposta para dar.

514. SÉRGIO COSTA - A SALVADORAA dor no braço era ainda intensa. A visão turvava e o raciocínio estava

enevoado com o sofrimento. O peito também doía. Talvez tanto ou mais doque o braço. “Ainda bem que estava um médico presente”, ouvi dizer. “Sim,que sorte”, retorquiam. Por cima de mim alguém estava tarefado, a analisar osmeus sinais vitais. “Já chamaram o INEM?”, perguntavam. O reboliço emmeu redor continuava. Mais e mais pessoas se chegavam para assistir ao que

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acontecia. A dor continuava. Não. Piorava. A cada inspiração os pulmõesqueimavam. Arfava com ruído. “Chiu”, ouvi-a dizer –afinal era uma médica,tal como a minha mulher. “Mantém-te calmo e tudo acabará num instante”. Omeu coração disparou. A mente clareou durante uns segundos. Era a minhamulher! Lembro-me que tinha uma seringa na mão e depois... “Descontrai. Edepois vai para o inferno por me teres traído”.

515. SÉRGIO MARTINS - CYBER TRAMADOOs primeiros raios de sol em Central Park, cedo batem no meu rosto!

Sei que estou deitado no chão, mas não me consigo mexer, consigo ouvir ospassos de corrida de quem passa relativamente perto de mim, mas nãoconsigo gritar, para que me possam ajudar! Que me terá acontecido ontem?Lembro-me de estar no bar à procura de pistas sobre o caso da CyberMáfia,fiz perguntas, pelo que vejo talvez tenha feito perguntas a mais. Não devia terbebido aquele whisky marado, envenenado, erro de principiante! Queriamtirar-me do caminho e conseguiram. E agora? Estou nesta espécie de coma,angustiante, tenho de tentar manter a calma e esperar que alguém meencontre! Tenho de arranjar forma de comunicar e dizer o que descobri.Preciso de avisar a Sarah, antes que seja demasiado tarde… Para toda a gente!

516. SÉRGIO PATRÍCIO - AS AULAS ASSASSINASNuma universidade existia uma rivalidade entre o professor e o seu

melhor aluno, porque este sabendo mais que o seu professor o humilhavaperante seus alunos o que o levou a matar o aluno. Para isso chamou-o a umdos laboratórios de química onde lhe deu com um tijolo na cabeça. Paraesconder o seu crime, derramou um produto tóxico, fazendo assim parecerque ele tinha desmaiado por causa do produto químico e bateu com a cabeça.Havia um prédio abandonado ao lado da universidade onde o professorescondeu o tijolo, e era também onde se encontrava com a mulher do Reitorsendo ela sua amante, ajudando-o a construir um álibi dizendo que passou anoite com ela quando isso se sucedeu. Ela ajudou-o porque o aluno era filhodo Reitor com outra mulher e ela não tinha conseguido ter nenhum filho comele. Ela foi cúmplice do professor no crime.

517. SÍLVIA CUNHA - BEATING HEARTS & BLOODY KNIVESO som de um coração a bater ecoa pelas ruas de Brooklyn. A luz da lua

banha a calçada enquanto passos pesados acompanham o som que estáecoando. Passo a passo, a vitima apercebe-se que não adianta correr pois não

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tem hipóteses e com este final pensamento uma faca perfura e rasga-lhe oestômago. Enquanto o sangue jorra das suas entranhas, Natasha Bartonencosta a faca no coração da vítima e golpeia três vezes. Esta não é a primeiravez que Natasha mata alguém mas será a ultima pois enquanto o corpo semvida está a cair ao chão, ouve-se “pouse a faca devagar” e sem maneira de fugirela obedece. A detetive Kathy e o Rick já lhe andam a seguir o rasto há umano e quando ela deixou cair uma faca, eles sabiam que a iam apanhar e após 7mortes finalmente podem dizer caso encerrado.

518. SÍLVIA AZEVEDO - QUADRO DE SANGUEDo quarto emanava o cheiro metálico do sangue que enchia a carpete sob

os seus pés. A poça vermelha tinha uma origem visível; o corpo que pendiado tecto seguro por uma corda. John Parker chegou perto do cadáverdesfigurado que havia sido outrora um homem, Mike Evans, prestigiadoadvogado dos criminosos da região. Os dedos haviam desaparecido e o seurosto de maxilar cinzelado era agora um saco roxo de ossos partidos. Parkertirou um lenço do bolso e rodou o corpo. Tanto o estômago como as costastinham sofrido repetidos golpes de navalha e, acima, no pescoço, Johnvislumbrou a lesão que tinha posto fim à vida de podridão daqueleprofissional do crime, escondido pelas vestes da justiça. Ele teria de escavaraté ao fundo dos jogos viciados de Mike para chegar à razão por trás de talcenário, pintado a metal e em tons de vermelho.

519. SÍLVIA PEREIRA-LIMA - MATAR OU MORRERAcordo, onde estou? Não faço a menor ideia. Tento levantar-me mas as

minhas pernas estão dormentes. Olho à minha volta e uma mancha vermelhano chão capta a minha atenção. Olho para o lado e o meu maior pesadelotorna-se real. Sim, a mancha é aquilo em que estão a pensar, sangue, e o seudono encontra-se deitado de olhos abertos com uma faca cravada no peito.Arrasto-me até ele e as minhas memórias começam a voltar. Já me lembroquem ele é, Jace Morgan, o rapaz estrangeiro da minha turma. Imagensdistorcidas passam-me pela cabeça. Eu a discutir com ele, ele a puxar de umafaca, eu a gritar de desespero, eu a arrancar-lhe a faca da mão e, num sógolpe, eu a espetá-la mesmo no peito. Matei-o e desmaiei com toda aquelaconfusão. O som das sirenes travaram o meu pensamento, vou para casafinalmente.

520. SOFIA ALVES - BLOODY HELL

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Dower fitou o nome da discoteca com ceticismo. Bloody Hell era umnome bastante incomum. Sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo quandoreviveu o incêndio que lhe tinha causado queimaduras graves no ladoesquerdo do corpo numa discoteca há 17 anos. Voltou à realidade quandoKostner, o pastor alemão, se recostou nele. A porta abriu-se e um cheiro aputrefação atingiu as narinas de todos os agentes. Dower avançou, receoso,não contendo a revolta no seu estômago. Não havia uma única alma viva ali.Em torno dele pairava a podridão e a morte. Apontou a lanterna e examinoualguns corpos. Vários golpes, membros espalhados e sangue. Dirigiu a luzpara o fundo da sala e viu alguém a mover-se. Encaminhou-se para o local e,de facto, estava lá alguém. Galgando membros embateu numa porta. Desobrolho franzido apontou a lanterna na sua direção e pôde ler: “Uma vezaqui, sempre aqui”. A porta da entrada trancou-se.

521. SOFIA CARVALHO - ADEUSSarah caminhava, irrequieta pois investigavam o assassinato da sua

melhor amiga. Sentia-se triste, sozinha e pronta a desabar, como o seumundo fizera de manhã, mas ouviu alguém a perguntar-lhe:-Estás bem? Nãote preocupes, nós vamos apanha-lo. Sarah assentiu enquanto se dirigia para oseu carro o mais rapidamente que podia. Chegada à esquadra sentou-se nasua secretária enquanto lia o relato da médica-legista. Já sabia quem era oassassino. -Vamos embora! -gritou ela para o seu parceiro, o inspetor CarlosNox. -Já? - perguntou-lhe, incrédulo. -Sim, eu explico quando tivermos oapanhado. Entraram no carro e detiveram um sujeito.-Já me podes explicar,Sarah? -pediu-lhe Nox. -Bem simples, o Artur foi tão inteligente que deixouimpressões digitais sobre toda a arma do crime, uma glock. Só queria que aEmma tivesse mais tempo de vida. -Explicou, tristemente, Sarah -Deixa, elaestá melhor, aonde quer que ela esteja.

522. SOFIA FIALHO - SEM TÍTULOMaria estava sentada no canto da sala de estar da habitação. Algumas das

suas colegas estavam já a dormir.Um estranho ruído começa a tornar-seaudível e ela pousa o livro sobre a mesa. Parecia-se com um murmúrio, ummurmúrio de quem não tem voz. Uma espécie de som que a intrigou.Reticente, levantou-se. Dirigiu-se calmamente para os balneários no andar debaixo. A sua mente estava focada e o coração batia como nunca antes. O somestava cada vez mais perceptível. Semelhava-se a um suplicar. Apressou o paçoaté estar à frente da porta do balneário feminino, porta esta que estavacompletamente aberta, mostrando o horror que se passava no interior. O

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cenário fez com que ela congelasse. À sua frente, bem no centro do balneárioestava Carolina, a sua amiga. Sem braços, sem uma perna, e, sem pálpebras, oque restava dela estava esfolado. Ela ainda murmurava, agora cada vez maisbaixo: “Ajuda, socorro!”. Perto dela estava um bilhete que dizia: “Quem será apróxima?”.

523. SOFIA GUALDINO - O SAMURAI DO MUSEU NOGUCHIMichelle estava recostada no cadeirão do seu gabinete, refletindo sobre a

estranha visita dessa tarde de um grupo japonês, sem nunca se aperceber quese encontrava acompanhada. Por de trás das cortinas opacas do gabinete,encontra-se um estranho, trajando um tradicional hakamá e na mão umaespada samurai. Michelle abana a cabeça para afastar os pensamentos, arrumaa sua mala de executivo… Prepara-se para sair, quando é surpreendida… Oestranho retira um pequeno pacote da mala e sai…Tom bate á porta dogabinete de Michelle, aguarda que o mandem entrar, mas não ouve qualquersom do outro lado, volta a bater, e nada… Decide então entrar, roda amaçaneta com cuidado, espreita, e fica paralisado por breves instantes, a olharpara o corpo de inerte de Michelle... Quando o detetive Brad Blues chega aolocal do crime, depara-se com um cenário arrepiante, uma mulher de 39 anosdegolada, sem qualquer mancha de sangue visível no local –Estranho… Ondeterá ido parar o sangue!

524. SOFIA RIBEIRO MALTA - SOMBRA NO FAROLEra entardecer nos Hamptons. Do alpendre da casa, Rick e Kathyt

observavam os vizinhos: Diego passeava o seu rafeiro Rex; Ferdinandoabsorto na leitura do jornal e Claudina caminhava em direcção ao farol. Entrebeijos e cúmplices confidências, só um grito os estremeceu! Uma sombra caiado farol e Rex ladrava. Claudina jazia morta no chão. Kathy chamou a equipa,examinando o farol encontrou um biscoito em forma de estrela. Diego levadoà esquadra negava o crime. Rick informou Ferdinando que detiveram Diego.O seu velho amigo alimentava o coelho Nick, e como devorava as estrelinhas!Atendendo uma chamada de Kathy, soube que o biscoito pertencia a umlogomorfo, “enganou-se no número” -disse. Ferdinando percebeu a mudançano comportamento, empunhou uma arma, gritando! Amava Claudina masnão era correspondido! Seguiu-a ao farol, onde tudo se descontrolou! Embreve, Kathy, Ryan e Javi arrombavam a porta! Tinham ouvido a confissão!

525. SOFIA SARAIVA - MARIE JONES, A RAPARIGA SOLITÁRIA

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Marie Jones, era uma rapariga misteriosa e solitária. Vivia numa casaantiga e distante de toda a gente, seus pais morreram a muitos anos numacidente de carro, desde aí que Marie não fala com ninguém e está sempresozinha. Certo dia enquanto passeava na rua um homem alto, com barba ecom um ar sério, dirigiu-se a Marie e pediu ajuda. Marie tentou ignorar maso homem agarrou-a com força e meteu-a num carro que passou, Mariegritava mas era sem efeito, pois ninguém a ia ouvir dentro do carro. Ohomem estava a falar com uma mulher, seriam casados? O que lhe iam fazer?Tráfico de crianças? Tudo isso passou naquele momento na cabeça de Marie,mas não sabia o que havia de fazer para sair dalí. Não sabia onde estava nemonde ia, só queria que os seus pais ali estivessem para a ajudar, mas sabia queisso não ia acontecer. Certo ponto que Marie ate pensou que aquilo era bom,pois se a fossem matar podia ir ter com seus pais e ficar com eles parasempre. O que será que vai acontecer?

526. SOFIA DE AZEVEDO TEIXEIRA - BALA PERDIDAChovia torrencialmente. Alice e Ana corriam por entre as poças do

caminho. A rodeá-las o denso pinheiral. Já passava da hora do recolher. E ocolégio tinha regras rígidas. Enquanto Alice correu, não disfarçou o nervosomiudinho. Do cabelo negro, escorriam gotas de chuva e suor. Ana seguia umpouco mais atrás. Tinha a roupa ensopada e os cabelos vermelhos colavam-seao casaco preto. Estava mais lenta e cansada. Na clareira... um estrondoabafado, frio e cru rasgou o céu. Por entre o casaco de Ana, apenas overmelho vivo que se confundia com os seus cabelos. O corpo, jazia agora,deixando ver o seu rosto mármore, os olhos azuis vidrados e os lábios roxos.Era noite.

527. SOFIA VENÂNCIO - UM CRIME CIBERNÉTICOMaria não queria acreditar no que via. A casa que outrora tinha sido o lar

da sua família tinha se tornado o cenário de um crime macabro que ninguémconseguia explicar. A sua sala de estar parecia um cenário tirado de um filmede terror. A jovem mulher a quem tinha alugado a sua casa pela internetencontrava-se enforcada por cima da sua mesa de pé de galo, uma herançafamiliar. Já o seu marido, um homem jovem, de cabelo loiro, encontrava-seamarrado à cama do seu quarto, com os pulsos cortados. A polícia falava emassalto violento. Mas, para Maria, veio-lhe à lembrança a história do serialkiller que tinha assombrado a sua pequena aldeia quando ainda era criança eque lhe tinha roubado toda a sua família. Será que este fantasma do passadoteria voltado para assombra-la e trazer o medo e a descrença à pequena Vila

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do Norte?

528. SÓNIA COELHO - HOMICÍDIO EM PARK AVENUE(A marcar 112)... Tou? Sim, ajudem, por favor, estou em casa e do

outro lado da rua está uma mulher em apuros. Entrou um homem pela casaadentro, é preciso que venham cá, ele vai mata-la, ele tem uma faca grande namão e esta a ameaça-la... 112: Minha senhora, tenha calma, vamos mandar jáum carro patrulha para aí. Façam isso, sim, e rápido, senão vai acontecer umatragédia. Minutos depois (a marcar o 112)... Tou? Sim, liguei para vocês hápouco e pelos vistos nada fizeram, a mulher acabou de morrer; o que vãofazer agora? Já vão acreditar que não é um história de faz de conta mas umfacto real? Tenho provas das coisas como aconteceram. A minha morada é12Th street Park Avenue 5666, cá vos aguardo para vos mostrar tudo o queaconteceu. 112: Con certeza vou ver o que se passa com os meus colegas etocamos a sua porta para nos explicar tudo. Obrigada.

529. SÓNIA DE BRITO - ORGÃO ÚNICOAlexia é transparente como a água pura e cristalina e o seu sorriso não

passou despercebido por Rick que desconfiou logo do nascer de um amor.Por confiar na filha e por passar muito tempo fora devido a uma investigaçãoem torno de uma onda de desaparecimentos misteriosos, Rick aceita queAlexia leve o seu novo namorado para casa, dado que Martha estaria fora.Depois de diversas teorias trocadas, Kathy e Rick chegam a uma conclusão.Os desaparecimentos deviam-se a Philippe, chefe de uma rede de tráficohumano e namorado de Alexia. Preocupado, Rick desloca-se a casa e ao abrira porta vê Alexia inconsciente e Philippe preparado para fazer a extração de umórgão. Rick apavorado, fala com Philippe que diz que só o pulmão de Alexiasalvará um cliente. Já sem esperanças, faz-se ouvir um tiro. Era Kathysalvando o que seria o fim de Rick e Alexia.

530. SÓNIA GONÇALVES - LÁGRIMAS DE SANGUENaquela manhã, fomos chamados ao local do crime onde se encontrava

sentada uma rapariga no banco do jardim com lágrimas de sangue no rosto.A médica legista observou-a, confirmou várias facadas profundas no corpo eque o local do crime não era ali. Descobre-se que a rapariga chamava-seMadeleine. Fizemos alguns interrogatórios, descobrimos que era umaestudante que andava a frequentar a igreja perto onde tinha sido encontradamorta. Dirigimo-nos ao local, deparamo-nos com outro homicídio, um

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padre assassinado, também ele esfaqueado. Com mais investigações,descobrimos que Madeleine tinha um namorado controlador, segundo astestemunhas. Interrogámo-lo e com persistência, acabou por confessar que atinha esfaqueado por ter acabado com ele. Confessou que esfaqueou o padrequando este ouviu os gritos de Madeleine e veio em seu socorro. -Ninguémacaba comigo! Ela tinha de morrer! –gritou de raiva. Uma estória com muitopara contar de um crime de paixão.

531. SÓNIA LEITÃO - MORTE POR DINHEIROUm detetive chamado Daniel tenta resolver um caso antigo, o que se sabe

é que existe um tesouro escondido e uma mulher morta (Anna) que,aparentemente era casada com o homem assustador do café do lado,interrogado sobre o que poderia ter acontecido à mulher ele disse que nadasabia, passado uns dias após o decorrer da investigação foram encontradasmais provas, o marido de Anna na noite em que a mulher morreu ele estavacom ela, interrogado sobre ter ocultado isso da polícia ele confessou quetinha medo do que lhe poderia acontecer, mas contanto o que se passou nanoite do homicídio o senhor conta que um homem (Orlando) uns mesesantes foi ao encontro do casal e que lhes prometeu muito dinheiro em trocade ajuda a encontra-lo, Anna ao descobrir a localização do dinheiro nãopartilhou com Orlando, o mesmo já tinha feito varias ameaças e que naquelanoite apareceu no café e deu um tiro na mulher, sem saber de Orlando,Daniel ainda nos dias de hoje tenta encontra-lo.

532. SÓNIA MST - CATA-VENTORua de terra batida, estreita, de visibilidade reduzida. Casebre de 2

andares, abandonado e decadente. Outrora um jardim, agora uma amálgamade folhagem seca, um baloiço de cor vermelha a baloiçar ao vento e um velhocata-vento, alto, de ferro ferrugento caído por terra. A porta completamenteaberta transpirava o odor a decomposição. Após verificar todo o piso inferior,foi num quarto, sem uma parede lateral, que se encontrou a vitima.Caucasiana, aproximadamente 25 anos, 1,70m, vestida, deitada na cama, emposição fetal. Sem amarras, sem equimoses visíveis, aparentemente tranquilanão fosse o facto de o corpo se encontrar decapitado. Toda a mobília e chãocobertos de pó, não apresentavam indícios de luta ou pegadas múltiplas,apenas da vítima. Cabeça encontrada no jardim, de boca e olhos abertos.Cenário possível: ventos fortes sentidos fizeram derrubar cata-vento de ferroque bateu na parede, derrubando-a e as suas pás decapitaram vitima.

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533. SÓNIA NUNES - SEM TÍTULOMariana estava a divorciar-se pois já não aguentava mais as traições de

Tomás. As ameaças começaram a surgir, semanalmente, através de e-mailsanónimos: “os teus dias tenho-os eu”, “só eu sei quando será o último” bemcomo “quando o teu sangue derramar, a minha alma saciará”. Mariana tinhaacabado de chegar a casa e o céu escurecia. Já na cozinha, um vulto surgiu.Gritou mas a sua voz foi abafada por uma mão forte enquanto as suas roupaseram rasgadas e se consumava a violação. Seguiram-se os estalos e ospontapés. E por fim, as treze facadas mortais. Tomás foi acusado mas ilibado.A verdade surgiu e soube-se então que, Ricardo, o ex-namorado de Mariana,psicopata, tendo sabido do seu divórcio, aproveitou a oportunidade para sevingar do término passado da relação deles. Ricardo, sem arrependimento,satisfez-se pensando que ela jamais brincaria de novo com os sentimentos deum homem.

534. SÓNIA ZEFERINO - NOITE A SANGUE FRIO EM BRONX00:45, Bronx, Nova Iorque Estava frio na assustadora localidade. Desde

pequena ouço histórias assustadoras sobre esta localidade, desde pequenaouço isto como uma lengalenga. Não sei porque aceitei esta missão nemporque a me entregaram. Só sei que tenho frio e medo. Continuo à espera dosinal do meu parceiro mas nada. 01:23, Bronx, Nova Iorque. O alvo está aaproximar-se ligeiramente. A arma estava a postos para matar a sangue frio.Ele um criminoso e eu uma simples agente. Não posso esperar pelo sinal,seria tarde demais. Devagar levanto-me e: pum, pum! O corpo estendido deThomas Swaravosky, um contrabandista de sangue frio. Afinal, cá se fazem cáse pagam...

535. SUSANA ARRAIS - SEM TÍTULORick e Kathy começam um dia que para ser como tantos outros, mas o

que estava para vir não estava nas suas agendas. Como sempre foramchamados ao local do crime, contudo algumas coisas já tinham mudado, umnovo membro na equipa, o que levantou novos desafios, e uma nova capitã.Emma a nova detetive aproximou-se cumprimentando-os com um simplesacenar de cabeça e um sorriso, passando logo à descrição do local do crime.Era neste bizarro local de crime, que levantava mais questões do que forneciarespostas, que entenderiam que este não se tratava de apenas mais um dia nassuas vidas. Não havia corpo apenas um distintivo manchado com sangue euma morada escrita no chão com o que parecia ser o sangue da vítima. Sendoque a morada era a única pista que tinham foi por aí que começaram. Quando

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chegaram a atmosfera estava bastante pesada, havia algo que não batia certo.Contra o bom senso decidiram entrar mesmo não sabendo que os esperava iatudo mudar.

536. SUSANA COSTA - O SILÊNCIO DE MATEUSOs desenhos encontrados por Diana, a nova proprietária da casa secular

Mateus, eram arrepiantes. Vivia há apenas uma semana na casa quando osencontrou. Mostravam cabeças fora dos seus corpos e com a sua casa a servirde cenário de fundo. Soubera dos mitos em que constava que quem por alientrava desaparecia sem deixar rasto. Não era mulher de se deixar levar pormitos e muito menos acreditava em histórias fantásticas ou seressobrenaturais, mas aqueles desenhos pareciam pintados por uma criança e oscorpos tinham as características das pessoas desaparecidas. O que dava um armais macabro. Não apreciava aquele tipo de brincadeira. Ligou ao seu agenteimobiliário a pedir que se encontrasse com ela no dia seguinte após opequeno-almoço. Quando o agente chegou, encontrou a porta aberta, entrou,em cima da mesa da cozinha estavam uns lápis de cor… Diana desaparecera,assim como o desenho…

537. SUSANA CUSTÓDIO - A VERDADE DA MENTIRAElsa estava feliz, alí, em casa sozinha, com as recordações, pensava como

tinha sido o percurso da sua vida. Já tinham passados tantos anos desde o diaem que o tinha conhecido, apaixonaram-se de imediato, não tiveram culpa,coisas do destino, ele homem estrangeiro de diferente cultura, outra religião,mas nada os deteve, nem o facto de lá longe ele ser casado. Engendraram umahistória, mudaram de cidade variadissimas vezes. Ah! As casas, umas grandes,outras pequenas, mas, o amor de ambos era assaz maior. Pensativa, levantou-se, foi buscar um copo de água sorvendo-o em grandes goles. Elsa estava desemblante deveras triste! Tantos anos depois e ele teria que voltar de vez parao seu país, uma história tão linda tinha chegado ao fim, que dizer aos amigos?Impossível contar a verdade, depois começou a rir às gargalhdas: -Matei-o!Pronunciou em voz alta a respeitada e inconsolável viúva!

538. SUSANA GRAMILHO - A IRMANDADENum conhecido convento em Nova Yorque, enquanto as recém chegadas

noviças se prepraram para as orações matinais, Maria, tropeça no queaparentemente parece ser o tapete que misteriosamente desapareceu do seuquarto há dois dias. Ao cair, as restantes ocorrem em seu auxílio e reparam

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no tapete. Puxam-no debaixo do banco da igreja mas este está muito pesado.Descobrem então a superiora, Madre Marie Claire. Jaz embrulhada no tapete,sem sinais de ferimentos. Julgavam ter-se ausentado em missão para a Síria,conforme havia comunicado na manhã anterior. Todos os olharesincriminatórios recaem sobre Maria, a bonita e jovem noviça que, de acordocom as ordens da Madre, ficaria responsável pelas restantes durante a suaausência. Era notória a admiração e confiança que a Madre nutria pela jovem,o que despoletava sentimentos menos nobres entre todas, incluindo a IrmãIsabelle, a substituta hierárquica da Madre Marie Claire.

539. SUSANA PAIS - A ESPERANÇA DA SEDE DE VINGANÇAO corpo jazia num beco contra a parede de um prédio novo, a cerca de

um metro e meio do chão, com as mãos cravadas de pregos. Era já o segundocom o mesmo modus operandi: cruelmente esfaqueados e acima das cabeças apalavra vingança, escrita a sangue. Desta vez, um juiz! A primeira vítima, umpolícia. Tinham em comum um homicida que morrera há dois anos. Estasautoridades tinham levado à prisão do assassino, que por vingança tinhaaniquilado um polícia que, acidentalmente, matara a sua mulher. Bastou umcabelo deixado no corpo do magistrado para conduzir a investigação a umfilho renegado e desconhecido. Este suicidando-se antes de ser preso,proferiu ainda as ultimas palavras relegadas pelo pai: “A esperança não é aultima a morrer, mas sim a vingança!”.

540. SUSANA J. GALVEIA - ESCURIDÃOMagdalena, dezembro de 1982. O pub estava cheio e o fumo conseguia

tapar o teto do mesmo. Entre risadas e cigarrilhas, ouvia-se aclamar o nomede Magdalena. O silêncio fez-se sentir e Lurdes a observava atentamenteaprendendo e relembrando o que Magdalena lhe tinha ensinado. O fumomostrou uma bela figura, uma mulher alta e esbelta, com um vestidovermelho com uma racha acentuada para ajudar aos movimentos e, aacompanhar o conjunto, uns belos sapatos de cor pretos com a fivelavermelha. A cadeira era o acessório fundamental no pequeno palco de madeiravelha, “bravo, bravo”, recebia por parte dos espectadores. O acordeão dava ostoques da bela milonga e Magdalena fazia o seu espetáculo. A sua boquilhaentrava na peça e, o seu cabelo preto e longo permanecia preso num apanhadoem “banana”. “Bravo, bravo”. Magdalena finalizando o espetáculo sob oshabituais aplausos e gratidão através das rosas vermelhas que caíam a seuspés, o perfume das rosas marcava os momentos de cada final.

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541. TÂNIA AZEVEDO - A CHAVE DO OLHARViram-na subir a rua, olhando à volta com olhos confusos, lacrimejantes.

Anna ora fitava o céu azul, ora o passeio. -Está trancada! -gritou Joannaenquanto procurava frenética as chaves da garagem da irmã na mala. Durantemeses, os vizinhos viram Anna fazer o mesmo trajeto à mesma hora, com omesmo rosto aflito, com as mesmas lágrimas nos olhos. -Abre a porta! Já! Aluz está acesa! -instou a prima Carly enquanto Joanna escolhia a chave certa.Fitando os pés enquanto andava, Anna recordava as botas de bebé rosa iguaisàs suas que tricotara com amor e que nunca foram usadas. E chorava. -Anna!-Chamou Joanna abrindo a porta de rompante. -Não! -Gritou de dor. -Eleconseguiu! Anna jazia ali, com a faca ainda molhada no seu peito e com aspequeninas botas rosa fechadas na sua mão, manchadas de vermelho.

542. TÂNIA TEIXEIRA - MORTE DO ANJO BRANCOEla tinha por hábito ficar a trabalhar até tarde no seu consultório.

Quando estava embrenhada a sério no trabalho perdia a noçāo do tempo. Poroutro lado também não havia ninguém à espera dela em casa. Era umacriatura solitária. Doia-lhe a cabeça. Não sabia bem o porquê mas nessa noitesentira-se apreensiva. Talvez fosse o ambiente taciturno da noite fria que seavizinhava envolta em nevoeiro, talvez tivesse sido a discussão acesa com ocoordenador nas primeiras horas daquele dia. Mas havia ainda aquela malditacarta, que encontrou de manhã em cima da secretária. Àquela hora já todostinham abandonado o Centro de Saúde, local onde trabalhava, à exceçao dasenhora da limpeza. Foi ela quem, de aspirador em punho, a encontroudeitada no chão do consultório lúgubre onde a luz do pequeno candeeiro desecretaria iluminava o contorno do seu corpo abandonado de vida, segurandona mão inerte uma folha amarrotada e com uma lâmina de bisturi cravada emcheio no coração.

543. TÂNIA VARANDAS - O SEGREDO DE RYANCasey não era o tipo de mulher que se assustava fácilmente. O medo

nunca tinha feito parte nem do seu modo de agir nem do seu modo depensar, talvez fosse por isso que se tinha tornado detetive. Bem, ou isso oupelo fato de Ryan a ter arrastado. Mas naquele momento em que seaproximava do corpo, envolto em todo um aparato demasiadamente exageradode luzes e polícias, Casey não conseguiu conter conter um arrepio pelaespinha abaixo. No chão, uma mulher nos seus 20 e tal anos, cabelos muitocurtos recentemente pintados de negro. Vestia um uniforme policial e eravisível a violência a que aquela mulher tinha sido sujeita. A faca tinha

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apunhalado aquele corpo tanta vez que se tornava incontrolável não desviar oolhar. Casey sabia o que aquilo significava, olhar para aquela mulher eracomo ver-se ao espelho. Agora, era-lhe quase impossível recordar a infânciaao lado de Ryan e o tempo de academia depois disso. Como poderia ele sercapaz de tal crueldade? E porquê?

544. TATIANA FILIPA VIEIRA - FANTASMAS DO PASSADOEstava a caminho da cena do crime, numa antiga residência que antes

pertencia à minha família, jurei nunca mais voltar, mas como tinha sidodestacada para este caso eu não tinha outra opção se não o resolver. -Estátudo bem consigo, detetive Jones? -Sim, mas é estranho estar de volta, desdeaquele dia que...; bem temos um caso para resolver. Então, o que temos aqui,doutor? -A vitima é uma mulher, sem identificação, entre 20 e 25 anos. Acausa da morte aparenta ser o corte profundo no pescoço que causou aexsanguinação mas saberei mais depois da autópsia. -Obrigada. A caminho daesquadra, não sei o porquê, mas estava constantemente a lembrar-me uma eoutra vez do dia em que o meu pai foi brutalmente assassinado mesmo àminha frente naquela casa. -Jones, sente-se bem? –Não, com fantasmas dopassado a perseguirem-me.

545. TELMO ALVES - A RESSURREIÇÃO DE LISBOAA Polícia Judiciária de Lisboa deu este sábado uma conferência de

imprensa em que o âmbito da mesma foi a descoberta da identificação docadáver encontrado nas “entranhas” da capital. Luca Strauss, arqueólogoAlemão de cinquenta anos que foi dado como desaparecido pela unidadehoteleira em que estava instalado, foi encontrado por funcionários da câmarade Lisboa depois de uma visita rotineira às Galerias Romanas da Cidade. Osatípicos contornos deste caso levaram a que vários departamentos policiais deinvestigação de todo o mundo colaborassem com a Polícia Portuguesa, entreelas a Interpol e o FBI. A vítima foi encontrada decapitada e sem membros oque dificultou a identificação do defunto mas o caso tomou proporções a nívelmundial devido a um artefacto na posse da vítima, uma cruz Ankh ligada aTutancâmon que simboliza a ressurreição. Será crime organizado ou um“ressurgimento” da nova ordem mundial? A investigação continua.

546. TERESA CALISTO - O SÓSIAO soco aterrou em cheio na cara quase irreconhecível de Rick, atirando-o

para o chão. Tinha os olhos negros, sangue a escorrer pela face, um corte

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atravessava a maça do rosto. À sua volta, a multidão que delimitava o ringueimprovisado no meio da rua, endoidecia: - “Acaba com ele!”. -“Dá-lhe!”.-“Mata-o! “Rick tentou levantar-se com dificuldade. Sabia que tinha que sedefender. Sabia que a sua vida dependia disso. Soube-o desde o primeiromomento em que viu aquele sinal de mau agoiro. Ver-se a dobrar era semdúvida, um sinal de má sorte. A sua cara contorceu-se. Acabava de receber umviolento pontapé no estômago, que o deixou de joelhos no chão.Simultaneamente, o soco derradeiro aterrou na sua têmpora esquerda,deixando-o sem sentidos. Num último pensamento atordoado, pensou seestaria a viver um pesadelo demasiado realista. A última coisa que viu antes defechar os olhos foi a cara do seu agressor... uma cópia quase perfeita da sua.

547. TERESA CARVALHAL - MATAR O PASSADOTinha abandonado a minha vida familiar perfeita durante umas horas

para resolver um problema. Karl, a ponta solta do meu passado, razão daminha fuga anos antes, descobrira-me. Queria atormentar-me. Ameaçavadestruir o quadro perfeito que era a minha nova vida, a família que euconstruíra entretanto. Quando ouvi «Hello, Maggie» ao telefone, dias antes,senti o céu desabar. Mas combinei encontrar-me com ele num motel nossubúrbios. Escondi o nojo com uma saudade forjada. Fiz o meu papel.Beijámo-nos. Voltámos a ser um só, como antigamente. Agora, deitada aolado dele, saboreava um cigarro enquanto o observava. Não sei o que meproporcionava maior satisfação naquele momento: vê-lo morto ou revisitar ovício. Acabava de brindar o meu antigo amor com um shot de veneno. Vi-oestrebuchar em profunda agonia até ao suspiro final. Estava livre. Podiaregressar a casa, preparar o jantar e seguir este caso nas notícias.

548. TERESA CUNHA - TRATAMENTO DENTÁRIO!James estava inquieto enquanto esperava. Desde o seu primeiro caso

como detetive nunca mais relaxou no dentista. Um homem entrou naesquadra, calmo, bem vestido, disse que tinha acabado de transferir umafortuna para as Caimão. Aquando da transferência sabia os números dascontas, agora já não. Roubara o dinheiro à maior seguradora mundial; antesmatou um segurança, uma secretária e um gestor. Disse ter usado uma armacom silenciador que deixou no local. Relatou feito autómato… Não conheciaas vítimas, seguradora ou os titulares das contas; fez aquilo porque sentiu quetinha de o fazer. A última recordação era dum consultório de dentista: estavasentado e tinha o bibe de papel, a seguir estava na seguradora de arma namão. Leu e assinou o depoimento e caiu fulminado. A autópsia revelou um

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cocktail de drogas. Os crimes relatados ocorreram mas nem o dinheiro foirecuperado nem os criminosos apanhados.

549. TIAGO ARRIAGA - SORRISO OCODesgovernado, o carro capota duas vezes. Dos três passageiros, todos

jovens, apenas o motorista, João, ainda sobrevive. Em um abraço cada vezmais apertado da morte, a sua memória recorda-lhe, embora meio enevoada,o que levou à aproximação e pretensa amizade com os corpos sem vida que aoseu lado coexistiam: há um ano, ambos, numa brincadeira estúpida deadolescentes, puseram fogo a uma pessoa que jazia na rua. Um mendigo,deviam ter pensado, e menos um para os maçar. Acontece que essa pessoa erasimplesmente o pai de João. Nos últimos anos, o suicídio da mulher deixou-o de rastos, e o álcool era o seu único consolo. No final, o seu sofrimentodesapareceu, queimado pelas chamas silenciosas. Mas uma nova vítimanasceu. Assim como um sentimento de vingança. Ao olhar desfocadamentepara o vidro partido do carro, e como um último suspiro, João sorri pelaúltima vez.

550. TIAGO BOUÇA NOVA - SEM TÍTULONuma madrugada de verão, na majestosa Avenida da Liberdade, quase

deserta, um automóvel parou, derrapando ruidosamente. Dele saiu umhomem com um saco preto de grandes dimensões, que lançougrosseiramente para um contentor de lixo existente numa rua paralela. A unsmetros estava António, um mendigo que há vários anos pernoita naqueleponto da capital. Ao aperceber-se da situação, António, que apesar da situaçãosocial é muito perspicaz, escondeu-se atrás de uma árvore e memorizou amatrícula do carro mal parado. O veículo avançou a uma velocidade arrepiantee, com curiosidade, António abriu o saco. Inquieto e assustado, deixou-o caire uma mão clara, ensanguentada, tombou, manchando a luzente calçada dacidade. Verificou que se tratava de um cadáver esquartejado, aparentemente, deuma mulher jovem. Desesperado, António, arrancou-lhe o anel dourado eantes de fugir para o seu banco de rua, escreveu, com sangue ainda fresco, namão solta: 23:45 PM.

551. TIAGO GUEDES - ELEMENTARDe manhã cedinho, Rick recebe um telefonema de Kathy. -Rick, estás

ocupado? -Estava apenas a tratar de uns assuntos, nada de especial, -disseRick ansioso. –O que dirias se eu marcasse um voo para dois, sem destino,

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para onde quisesses? -Eu... ah... eu não sei, não posso abandonar as minhasfunções como capitã logo agora que comecei a tomar posse. -Pensa nisso -disse Rick, esperando que pudessem reatar a relação que mantinham. Passadoalgum tempo, depois de Kathy ter ligado, surge alguém que precisa de ajuda.-Bom dia, Sr. Rick, chamo-me Jared Conan Doyle -disse o provável cliente.-Seja bem... vindo... espere, Conan Doyle, como em Sir Arthur ConanDoyle, o autor de Sherlock Holmes? - exclamou Richard. -Sim, ele é meutrisavô. Preciso de ajuda. Já ouvi falar deveras bem de si e conheço a sua obra.Eu acho que o meu pai foi raptado, visto que não dá notícias há mais de 5dias, o que não é nor... Trimooo! O despertador tocou e acordou Rick doseu sono profundo.

552. TIAGO LOURENÇO - UM ACORDAR DE MATARBelo dia ao acordar, deparei com um corpo no ar, ali sem folego

pendurado num rebordo, coitado, tinha de os avisar, para que viesseminspecionar. Foi o que fiz, o agente Rudi veio de imediato e perguntou-mesobre o aparato, eu respondi o que sabia, que tinha ouvido barulhos pelamadrugada mas nem sequer me mexi, porque anda muito perigo por aí. Foientão que entraram em ação e quiseram resolver a situação. A vítima tinha 19anos e era um garanhão mas pobre coitado, morreu de overdose e por serburlão, consumia drogas e não se controlava mesmo com os avisos que lhedeixavam. Foi naquela noite portanto que deixou de ser importante e passou aser mais um, encostado a um canto, podia ter sido melhor se não fosse o seuego ser maior, do que o erro que cometeu e que o deixou a morrer semsaber.

553. TIAGO TORRES - COMO ARTE AO MODO DE PLATÃOApenas duas coisas se devem ter em conta ao replicar o trabalho criminal

de alguém. Uma réplica não é perfeita, a perfeição nem sequer cabe aosdeuses. A outra é que a harmonia é fundamental, e essa só se consegue pelosilêncio. A chave encontrava-se escondida por um espesso tapete, do ladoesquerdo do mesmo. Não foi esse o lado combinado, mas era algo a resolverem outra altura. Abriu a porta, suave e silenciosamente. Precisou de ummomento para os olhos se adaptarem à falta de luz. O documento estavapousado numa cadeira, mas o contrato tinhas mais duas alíneas. Ela dormiano quarto. Aproximou-se, desembainhou a adaga e cortou-lhe delicadamenteo pescoço. Calculou minuciosamente e fez um segundo corte, garantindouma cópia de qualidade. Limpou a lâmina, guardou a adaga e colocou a chaveno seu devido sítio. Simples, silencioso, imperfeito mas harmonioso.

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554. TIAGO FILIPE FERREIRA DE SOUSA - …VOSSO DETETIVE,ÂNGELO

Fechei o meu bloco A5 antes de sair. Clara, minha esposa, ficou adormir…Eu acrescentara um cachecol cinzento à camisa que usava por forados jeans... Atravessei a sossegada estrada negra, iluminada pelo alaranjadodos candeeiros elétricos. Avancei para o velho estrado de madeira sobre asdunas que me levava às areias da praia. Apesar da escuridão da noite, eraimpossível não ver… o cadáver! Deixara a sua silhueta na areia, onde a suaface estava mergulhada. Alguma luz esclarecia que a camisa pegajosa estavaensopada com o sangue derivado de uma bala que lhe atingira as costas. Fiz achamada. Minutos depois chegou Linda —e era! — chefe da sua equipa.Acompanhava-a Micael. Miss Matos e Micael fizeram as primeirasinvestigações, com os cuidados de um profissional forense… Foi Micaelquem encontrou o relato deste mesmo crime num bloco preso pelo meu pesomorto.

555. TOMÁS MATIAS - TERRORISMO À DISTÂNCIAIST, 13 de novembro de 2015. Estava o guarda Joaquim a fazer a ronda

à volta do campus quando ouviu uns sons estranhos, e, como era de noite foiaveriguar. Num dia normal ele teria comunicado à central o que iria fazer,mas estava desejoso de acabar o turno pelo que pensou: vou lá ver o que sepassa e depois vou ter com a minha dama. Aproximou-se da entrada dagaragem, por baixo de um dos pavilhões, e entrou. No canto oposto do pisoestava um grupo de indivíduos e uns monitores, e mais qualquer coisa, masele não conseguia ver nitidamente. Joaquim começou a sentir a famosa “pelese galinha”, mas continuou a avançar, até que estava a cerca de 100 metrosquando viu tudo: 13 homens reunidos em 2 círculos, 5 no meio e 8 à volta eestavam a recitar alguns textos, enquanto passavam notícias sobre França.Tudo aquilo já era bastante estranho mas, do nada, gritaram, e, de seguida,silêncio. Joaquim assustou-se e fugiu, mas tropeçou numa lata... Nunca maisfoi visto.

556. TONY CARVALHO - INVESTIGAÇÃO POR LAMA ABAIXOCorpo estendido na lama... Os polícias estabeleciam perímetro de

segurança. A detetive chegava na companhia do psicólogo, preocupada com ocaso. Nunca ninguém tinha pensado em matar num parque infantil. A cidadeé muito calma para ter esse tipo de situações. Ela não conseguia ver a cena docrime... pô-se de costas. -Preciso de um minuto para mentalizar a cena docrime -dizia ela ao consultor. -Não te preocupes, já tenho a resposta ao teu

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caso... simplesmente, não há caso -respondeu-lhe com cara de quem estava adivertir-se. -Pára de gozar! Pode ser o início de uma nova era de crimes nestazona tão simples e com boa vizinhança. –Ok; mas concordas comigo que senão há corpo, também não há caso. Nesse momento ela vira-se e vê o corpoque estava estendido a levantar-se e a ir embora a cambalear recusandoqualquer ajuda dos paramédicos. Afinal de contas estava apenas bêbado.

557. UGO ZAKO - “REGRESSO”9 de março de 2009. Aveiro. Toca o telefone pela madrugada, acordo, e

vejo o nome da minha parceira. Atendo. –Sim? Agente A. Calé? –Sim, Zako.-Preciso da tua ajuda, tenho uma vítima, creio que seja algo que já vimos nopassado; será que me podes ajudar? -Claro que sim, vou já para aí! Chego aolocal e deparo-me com uma vítima, sem impressões digitais, e sem olhos.Veio-me logo a cabeça o “Assassino da ria”, suspeito que retirava asimpressões digitais, os olhos, e atirava o corpo das vitimas á Ria... Olhei paraa agente A. Calé e em comum pensamos em voz alta: ele voltou! Revimostodas as provas do passado, passamos horas, dias e fomos para o terreno. Àpaisana andou por bares nocturnos, até que calhou na retina de um homem,elegante e atencioso no meio da multidão, deparou-se que há mínimadistração o sujeito colocava uma droga na bebida da vítima, para azar dele nãoconsegui com a agente. Conseguimos apanha-lo, cidade de Aveiro ficou maissegura!

558. VANDA SILVA - FINALMENTEO corpo de Valter apareceu junto ao rio numa manhã de Outono. Estava

desaparecido fazia três dias. A mãe não aguentou e foi levada para o hospitalquando a Polícia Judiciária informou que a causa da morte era uma fortepancada na cabeça. E no local do crime conseguiram perceber que o corpo foiarrastado. Na pequena localidade onde viviam, o pai de Valter não suportavaas perguntas da vizinhança. Tornou-se uma pessoa fechada para o mundo.Após várias teorias, a Polícia Judiciária faz uma visita aos pais de Valter paraprender o culpado. Sem resposta ao toque da campainha e a estranhar osilêncio, a solução é arrombar a porta. D. Júlia e o marido estão deitados nacama, de mãos dadas. Na mesa-de-cabeceira de D. Júlia está um frasco abertode veneno para ratos, uma caneta e uma folha branca com as seguintespalavras: “Finalmente em paz”.

559. VANESSA FERNANDES - O CAMINHO DA MORTE

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Já passaram dois meses desde a última. Nervosismo? Não! Simplesmenteansiedade, falta de uma certa emoção e agitação! Sentir o sangue a fervilhar.Saio da casa sorrateiramente deixando para trás a quinta vítima. Umaampulheta à entrada da sala de estar, com o tempo a contar, a vítima sentadano sofá, pálida e sem vida, agarrando um lírio-aranha. Na manhã seguinte, osdetetives, Miguel e Lara, estavam há horas à procura de uma pista diferente,que os leva-se a outro rumo. A exaustão da mente já não os deixava encontrarum raciocínio lógico e coeso, até que um caminho de cereais lhes saltou àvista, onde os levava ao grande janelão do cómodo. Rapidamente desligaramas luzes e apontaram a luz ultravioleta para o local. Lá estavam mais pistasocultas. “Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para aceitar a morte.Isto é só o começo, detetives!”.

560. VANESSA MORAIS GARCIA - ATÉ QUE A MORTE OS SEPAREDe repente ela acordou. O suor escorria-lhe pelo rosto, a respiração

acelerada e uma sensação de horror percorriam cada centímetro do seu corpo.Naquele momento, Eva entendou que ele não podia voltar a magoá-la, estavamorto, enterrado, mas era como se a sua presença permanecesse com ela, parasempre. Todas as noites ele chegava enebriado, fora dele, um outro homem, etodas as noites ela sentia o mesmo. Medo, dor, nojo, vontade de fugir... Masnão podia, não conseguia deixá-lo ele era tudo, de bom e de mau e ela ia viverassim, ou morrer assim. “Até que a morte nos separe”, foi essa a promessaque trocaram no dia do casamento, 17 anos antes, e foi essa promessa quecumpriu. Todos os dias, durante meses, Eva colocou no prato de Santiago póde vidro, e durante meses ele comeu tudo, comia sempre tudo! Um dia nãoacordou da sesta depois de almoço. A partir daquele dia Eva deixou de termedo do pesadelo que era viver ao lado de Santiago, mas passou a temer ospesadelos que a noite lhe trazia.

561. VANESSA SANTOS - SEM TÍTULOManhã de outono, uma brisa corria pelo parque. Carlos, em pé, sentia

escorrer pela sua mão as gotas de sangue de Anabela. Sim, como era bela.Mas agora já não. Não suportava a beleza, não suportava que todos fossembelos e ele não. A mãe sempre o achara feio. Sempre lho dissera. Fugiu,correu o mais rápido que pôde. Na sua mão esquerda segurava a navalha comque mutilara Anabela naquela manhã. Com que mutilara Clara no diaanterior noutro parque, noutro canto da cidade. Correu. Parou e andoucalmamente. Entrou pela porta do pequeno quiosque que explorava. Limpoua navalha gentilmente, satisfeito. Mais um dia que começara bem. Limpou as

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mãos, acariciou-as. Fechou os olhos e reviveu aqueles momentos em queClara e Anabela se debateram. Lindos. Arrumou tudo, abriu a banca doQuiosque Serafim. Ah, já lá vinham os fregueses. -Despacha-te Débora!Como era bela aquela Débora…

562. VANY SAMPAYO - SEM TÍTULOAponto-lhe a arma à cabeça e espero pelos seus gritos de desespero. O

homem ajoelhado aos meus pés, com as mãos na nuca, olha o vazio que dochão à sua frente. Sem ter reação pela sua parte, primo o gatilho, numa versãomuito própria da roleta russa. Mas tudo o que tenho da sua parte é um choroem surdina. Um silêncio que implora. Nunca nos meus trabalhos tive alguémque se calasse. Estou mais do que habituado a ouvir perdões, desculpas erazões pelas quais não devia fazer o que faço. Agora isto, nunca. Uso da armapara erguer o seu queixo e obriga-lo a olhar-me nos olhos. O que vejosurpreende-me. Ele sabe claramente o seu fim e o porquê de lhe estardestinado. Talvez por isso me olha em desafio. -Não tenho medo. Calo a suavoz com a pressão no gatilho. Desta vez certeira.

563. VASCO AGRIA - PERSEGUIÇÃOO cadáver encontrava-se na sala de jantar sobre uma poça de sangue. Os

analistas forenses observavam o corpo mutilado. Toby, detetive da polícialocal, analisava perplexo o local. Sam falava para os detetives encarregues docaso. -Anna Sullivan, 33 anos, casada e com uma filha de 7. Dois tiros naparte frontal da cabeça. Podemos estimar a morte entre as 21h e as 23h deontem. O marido trabalhou até as 0h e o seu álibi já foi confirmado. Nãosabemos o paradeiro da filha e já foram contactados os parentes maispróximos. Pela relação próxima com Toby, Sam esperava a qualquermomento que ele fraquejasse. Toby era o seu companheiro no trabalho e foradele. -Como te sentes? Uma lágrima rolou pela face de Toby... -Como mesinto, Sam? Com vontade de descobrir e torturar quem matou a minhamulher e raptou a minha filha...

564. VASCO BARCELOS - FOTOGRAFIA PERFEITAAlfredo deambulava pela sala a abrir e fechar persianas tentando

encontrar a iluminação que lhe rendesse a fotografia perfeita. Tinha tiradovárias, mas nenhuma o satisfizera. Tinha de ser perfeita. Tudo começara háseis meses, quando tinha dado de caras com o perfil de Clara numa redesocial enquanto navegava pela Internet, procurando ignorar a sua infelicidade.

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A princípio ficara fascinado com aquela mulher, todos os dias visitava a suapágina, interessado na vida daquela estranha. Rapidamente esta obsessãodiária transformou o fascínio em ódio. Ódio por aquela mulher, por ela ter oemprego de sonho dele, felicidade, a vida perfeita documentada em fotos.Alfredo pegou no telemóvel dela e capturou o momento. Achava adequadoque a última fotografia postada na conta de Clara fizesse jus a todas as outras,mesmo que esta a mostrasse caída numa poça de sangue, com a faca dele aindacravada no peito.

565. VASCO SOARES - SEM TÍTULOEra uma noite de inverno fria como se estivéssemos em janeiro; no mas

estamos em Portugal... Numa casa jazia um corpo, do mais famoso ecobiçado bilionário português de 32 anos Santiago Margarida, conhecidopelos amigos como “Guida”. Foi encontrado pela amante italiana, Alessandra.A mulher estava de licença em Madrid com o seu amante, pai do seu filho,algo que “Guida” não sabia. Santiago não era uma pessoa muito agradável,era capaz de transformar a pessoa mais calma do mundo numa pessoacompletamente fora de si. Tinha a capacidade de acabar com empresas,porque não gostava do que as pessoas que lá trabalhavam diziam sobre ele ouque tinham uma opinião contrária à dele ele comprava a empresa e despediaquem tivesse falado mal sobre ele. Ou seja, era uma pessoa que conseguia oque queria. Tinha demasiados inimigos e muitos o gostariam de vê-lo morto.

566. VÉLIA CARVALHO - ERA TARDE DEMAISLuana observou a água agitada lá em baixo e descobriu o vulto de um

corpo inerte. Ninguém sobreviria a tal queda. Baixou a arma e ouviu assirenes a aproximarem-se. Perguntou-se o que levaria um homem comoMarcos a matar a sua família de uma forma tão canibal, não tendo quaisquerantecedentes de violência. Uma mulher e uma criança de apenas cinco anostinham perdido a vida devido à crença demente de Marcos, que acreditava queestas estavam infetadas por uma misteriosa doença que as transformaria emmortas-vivas. A profissão de Luana era dura. Lidar com homicídios tãomacabros deixava-a sempre intrigada quanto ao que ia dentro da mentehumana e o que poderia levar uma pessoa normal a transformar-se numassassino repentinamente. O que a contentava era o facto de lutar sempre porum desfecho justo. O que, naquele caso, tinha resultado na morte doassassino.

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567. VERA CARTAXO - ÓRFÃNuma noite de trovoada, um homem desconhecido entrou no quarto de

uma menina (Malia) essa menina acordou por causa de um trovão, e viu ohomem, sem que ele se apercebesse que ela estava ali escondeu-se debaixo dacama, enquanto o homem andou até a porta, e foi em direção ao quarto dospais de Malia (Allison e Scott) e a sangue frio pegou numa catana e cortou-lhes a cabeça, e depois foi ao quarto do irmão de Malia (Liam) e fez a mesmacoisa que fez a Scott e a Allison. O homem voltou ao quarto de onde entrou eprocurou a menina e não a encontrou mas mesmo assim todas as noitesvoltou lá e nunca conseguiu. Mas a Malia tinha-o visto e foi até a polícia comapenas 15 anos ficou órfã e além disso a polícia nunca conseguiu encontrar oculpado.

568. VERA RODRIGUES - AS TREVAS DO PRAZERNa escuridão da garagem do meu prédio, os vidros estavam embaciados

com a intensidade fervorosa do amor contido dentro daquela viatura. Ela era aafrodite da minha vida. Sussurrou-me, sedutoramente, ao ouvido palavras deêxtase. Nem o cansaço e a respiração ofegante travaram o deleite prazerosoque estava a sentir. Nas entranhas escuras da garagem ouço “Socorro”!Ficamos em alerta. Estáticos por segundos. Os nossos corações dispararamnuma taquicardia ofegante. Saí para averiguar. Percorri o espaço velozmente,intui o pior. Gritei pelo desconhecido, mas... nada. Regressei para o carro. Omeu coração parou por uns segundos. Vi-a sem vida, com o horrordemoníaco espelhado no olhar. Vi as trevas tenho a certeza. Socorro foi aúltima palavra que saiu desta minha boca. A polícia questiona-se quem matoua minha paixão... mas na minha mente catatónia, eu sei que a questão corretanão é quem, mas sim o quê?

569. VICTOR JULIO - A HERDADEA família Gomes da Beira, mantinha o sonho de uma vida; o Monte

Relvinha em Portalegre. Residia um casal que mantinha a herdade. Naquelefim-de-semana chegaram cedo, e depararam com as portas arrombadas. Aoentrar descobriram a imagem mais macabra que alguma vez imaginaram. Oscaseiros jaziam na sala, mais concretamente sentados no sofá, só que semcabeça e com os membros arrancados, aparentemente à força de machadadas.O polícia local acorreu de imediato. E a investigação foi célere, apoiada naexperiência da cidade do agente Soares. Rapidamente detetou rastos de pneusTT que identificou como sendo da PickUp do Tobias, um ex-drogado dacapital que há meses se mudou para a região. Saíram em busca pelas tascas, e

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ao fim de 2 horas foi descoberto, bêbado e a contar alegremente como tinhadesfeito os corpos do casal da herdade Relvinha, numa tentativa vã de ser capade jornal.

570. VICTOR LOPES - SEM TÍTULOJá era tarde quando cheguei do trabalho, a porta do meu quarto

semiaberta, coisa que não costuma acontecer já que minha mãe nunca esta emcasa, sempre com aquele maldito namorado dela, mas ignorei o fato de algoestranho estar acontecendo, ao entrar no meu quarto vejo a coisa que jamaisgostaria de ver, minha mãe, amordaçada na minha cama coberta de sangue e opatife do namorado limpando suas mãos em minhas roupas, me vi em pânico,ele ainda não havia me visto, poderia prende-lo e nunca mais o ver em minhavida ou matar dois coelhos com uma cajadada só, a partir daquela noite minhamãe e o namorado nunca mais foram um problema em minha vida, a políciapoderia vir atras de mi, mas nunca desconfiaria de um dos seus, finalmentemeu pai poderá descansar em paz.

571. VIRIATO DE CASTRO - SEM TÍTULOManuel de São Roque, professor de história da arte em Coimbra, é

chamado a altas horas da noite à sede da Polícia Judiciária naquela cidade.Recebido pela inspectora Margarida Neves é confrontado com as fotografiasde um bilhete que, a par de uns símbolos de alquimia seus conhecidos,contém as coordenadas gps da sua casa. O bilhete foi encontrado no bolso docasaco de um cidadão americano que apareceu morto perto da morada doprofessor. Rick e Kathy vêm a Portugal ajudar na investigação. Virão adescobrir depois que o sujeito era um ladrão e assassino contratado por umaordem secreta para roubar um manuscrito antigo da casa do professor e que,no entretanto, foi interceptado por um agente da Nova Ordem Templária. Nofinal, já no avião, de regresso com Kathy, Rick encontra o manuscrito nobolso do seu casaco; seria a passagem de testemunho para Rick, o novoguardião?

572. VITOR COSTA - SEM TÍTULOO primeiro tiro apanhou-me de surpresa e lascou um pedaço da parede

de um edifício. Agachei-me de imediato junto ao contentor do lixo. Osegundo assobiou junto ao meu ouvido esquerdo. Rodei com os calcanharespara uma posição mais interior e tentei calcular a localização do atirador. Ostiros estavam a ser disparados de uma posição superior, talvez de sniper. Tirei

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o telemóvel do bolso, abri a aplicação denominada espelho e muito lentamenteergui a mão. Consegui um vislumbre de um vulto numa escadaria quandoum terceiro tiro estilhaçou o meu telemóvel e projetou o que restava dele paralonge. Recolhi o braço combalido e verifiquei a minha pistola. Suspirei. Umabala. Olhei para o contentor do lixo e empurrei-o com força para o meio darua. Uma manobra de distração. Aguardei. E foi só quando ouvi o quartotiro que rebolei para o exterior e disparei o derradeiro tiro.

573. VITOR RODRIGUES - DESABAMENTOA avó Matilde tinha falecido no desabamento. Nada levantara suspeitas:

prédio velho, um pouco degradado. Poucos sabiam, aliás, da herança no valorde meio milhão. Ainda menos sabiam que somente havia um herdeiro. Meiahora após o pouco concorrido funeral, Maria encontrou-se com o“Engenheiro”, conforme era conhecido aquele homem na Darknet. Quandolhe entregou o envelope com a segunda tranche do pagamento, não resistiu aperguntar: “como conseguiu, pode dizer-me”? O homem sem nomerespondeu num sorriso preocupante. “Se soubesse, você desapareceria embreve”. Depois retirou-se sem olhar para trás. Em casa, nessa tarde, o“engenheiro” olhou demoradamente o equipamento. Felizmente, pouca genteimaginava o que eram colunas de infrasons programados. Estruturas eram oseu território. Bem como conhecimentos acerca dos pontos fracos dosmateriais. Sorrindo, lembrou-se de quando tinham recusado a sua patente.“imbecils!, se tivessem querido, eu ganharia a vida honestamente a demolirprédios”.

574. YANETT FERNANDES - ENTREGA DE LUXORick e Kathy fizeram uma pausa e embarcaram num cruzeiro pela

Europa, a monotonia não fez parte do menu da viagem por muito tempo.Pouco depois do navio zarpar do porto lisboeta, o grito vindo de um dosaposentos VIP do navio causou inquietação e pânico. Quando Kathy e Castelchegaram ao quarto, depararam-se com o empregado encostado à parede, deolhar fixo na mala Louis Vuitton caída no chão, com um conteúdo no mínimomisterioso. Castel começou a imaginar o seu próximo best-seller e Katthytomou conta da situação para desvendar o mistério. A vítima, um homem denegócios bem-sucedido, era conhecida tanto pelo seu trabalho como pela suajovem mulher. Ia no quinto casamento sem filhos, o acordo pré-nupcialassegurava a intenção do magnata de não ter descendentes. Malas trocadas eum cadáver luxuoso é a aventura perfeita para as férias do casal.

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575. ZÉ CARLOS - REALIDADE DISTORCIDA31 de outubro de 2015, uma noite trágica tanto para Rodrigo, a vítima,

como para Lourenço, o culpado, que erguia na sua mão direita uma faca decozinha ensanguentada enquanto observava o corpo do rapaz, já sem vida.Rodrigo tinha que pagar por ter destruído a sua vida, era assim que Lourençojustificava o crime e o ódio que alimentou. Os olhos de Lourenço transmitiamalívio perante o homicídio que acabara de cometer, uma realidade distorcidaque Lourenço acreditava ser a correta. As drogas adquiridas por Lourenço aRodrigo não o ajudaram na faculdade como havia desejado, tendo o efeitocontrário, ao anular a medicação para a sua bipolaridade. A sua doença e asanfetaminas despertaram o outro lado de Lourenço, o seu lado obscuro edemente. Naquela noite de Halloween, esse lado surgiu diante Rodrigo,roubando-lhe a vida sem hesitação e sem remorsos, a cada facada que cravavano coração da vítima. Rodrigo perdeu a vida, mas Lourenço perdeu a suaalma, que jamais poderá ser restaurada.

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