A Base Filosófica Do Conflito Entre a Liberdade e o Estatismo

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Liberdade x Estatismo

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A base filosfica do conflito entre a liberdade e o estatismo

Os americanos esto travando uma guerra cultural contra o estatismo. Nosso pas, fundado como um governo constitucional limitado que deriva seus poderes do consenso dos governados, est sendo atacado por pessoas que buscam transform-lo em um estado totalitrio. H uma base filosfica para esse conflito, que vale a pena examinar. Pode ser til para os defensores da liberdade que esto nessa guerra.Existem, basicamente, dois tipos de filsofos. De um lado, filsofos comeando com Plato (427 327 AC), que vo alm do mundo da experincia humana e propem explicaes abstratas, as quais so impostas sob a experincia. Para eles, como um filsofo (Bryan Magee) salienta, o mundo da experincia humana no o que permanente ou permanentemente importante, e devemos tentar transcend-lo com nossas mentes, ou ao menos levar nosso pensamento ao limite entre nosso mundo e o que de significncia maior, e ento analisar o que podemos saber sobre isso. E h outros filsofos, comeando com Aristteles (384 322 AC), que consideram que mesmo se o mundo emprico no tudo o que h, tudo que podemos experimentar e conhecer. Se tentarmos ir alm, terminaremos falando bobagem.Plato foi o primeiro estatista. Ele oferece sua viso de estado ideal no livro A Repblica. Um grupo de elite de filsofos-monarcas governa o estado. Eles so sbios e oniscientes. Os governantes no prestam conta ao pblico, e exigem devoo individual absoluta e submisso para o bem do estado. Na Repblica de Plato, somente filsofos podem ter acesso ao conhecimento objetivo, os filsofos sendo, como ele argumenta, pessoas que so capazes de perceber o que eterno e imutvel aqueles poucos indivduos que podem sentar em um lugar calmo e pensar claramente. O restante das pessoas ele descreve como aquelas que so incapazes disso [e] se perdem vagueando na multiplicidade de coisas variadas".De acordo com Aristteles e os filsofos empiristas subsequentes, o conhecimento um processo pblico de troca crtica que derivado e testado pela experincia humana. Aristteles estudou plantas, animais, tica e diferentes formas de organizao poltica, tudo de uma forma enciclopdica. Ele trabalhou dentro da experincia e no tentou impor explicaes abstratas sobre ela de fora para dentro.Ento chegamos a Immanuel Kant (1724 1804). A grandeza de Kant se baseia nele ter sido capaz de integrar essas duas linhas de pensamento filosfico na sua obraCrtica da Razo Pura,publicada em 1781. Ele tem um papel chave no conflito entre a liberdade e o estatismo moderno.Kant demonstrou que o mundo em que vivemos no o mundo real. O mundo no incorpora os conceitos da nossa espcie de espao, tempo e causalidade. Percebemos as coisas atravs do espao tridimensional como base, com um conceito de passado-presente-futuro sequencial, e atravs de uma rede de conexes causais. Da mesma forma que o filsofo do sculo XVIII no sabia, mas os fsicos do sculo XX confirmaram, essas conexes nem ao menos so um componente do mundo que podemos descrever matematicamente e medir com instrumentos especiais. Os conceitos newtonianos de espao e tempo no se aplicam ao mundo macro da relatividade especial e geral ou ao mundo micro da mecnica quntica. O mundo real algo completamente diferente do que ns, seres humanos, vivenciamos e medimos. Kant conclui que o nvel mais profundo de realidade inacessvel ao pensamento e conhecimento humano. Ele chama a realidade ltima e profunda de coisas como so em si mesmas que fundamenta o mundo perceptvel [mundo fenomenolgico] de Noumenon [mundo numnico].Os dois principais seguidores de Kant foram G. F. W. Hegel (1770 1831) e Arthur Schopenhauer (1788 1860). Eles no concordavam totalmente com a viso de Kant do Noumenon e exploraram o que, se algo pode ser descoberto sobre ela. Hegel e seus seguidores, mais notavelmente Karl Marx (1818 1883), seguiram uma abordagem, que a base filosfica para o estatismo moderno. Schopenhauer optou por seguir um caminho diferente.Hegel v a realidade como um processo. Esse processo, ou dialtica, como ele a chama, uma das mudanas contnuas e ordenadas que se sucede em um arranjo histrico do tempo. A mudana dialtica continua incessantemente at que um ponto alcanado em que a Mente se reconhece como sendo a Realidade ltima. Para Hegel, esse o autoconhecimento doEsprito Absoluto/Ideia(Geist). A dialtica contm elementos que esto constantemente em conflito entre si. Uma ao (tese) gera uma ao oposta (anttese) que resulta em um terceiro estado das coisas (sntese), que ao trazer sua prpria anttese consigo torna-se a tese de uma nova trade. Atravs desse tipo de raciocnio abstrato (que na vida real, devemos concordar, no faz tanto sentido) Hegel acreditava que conciliara a esfera numnica desconhecida de coisas-em-si-mesmas com a realidade do cotidiano. Mais importante, entretanto, particularmente em vista da devastao econmica e humana que o marxismo fez no ltimo sculo, a ideia de Hegel de mudana dialtica inclui o conceito de alienao, que aparece proeminentemente no materialismo dialtico de Marx e o conceito de luta de classes.No sistema hegeliano, a mudana dialtica prossegue historicamente atravs de indivduos a grupos at o Estado. O grupo tem prioridade sobre o indivduo e o estado tem prioridade sobre o grupo. Indivduos representam o nvel mais baixo de realidade. O estado, estando mais prximo ao Esprito Absoluto no processo dialtico, mais real. a maior ordem da humanidade, em que os indivduos devem sua obedincia e submisso. O estado no est sujeito s leis morais ordinrias. Os direitos so definidos socialmente. O estado decide quem deve ser os detentores de direitos que so dados privilgios especiais e direitos, e quem sero os portadores de obrigaes. Neste esquema, a verdade vem depois da teoria no, como os empiristas diriam, da outra forma, em que a verdade corresponde aos fatos da realidade.Isto, claro, uma receita para o absolutismo poltico. Tal viso de mundo no tolera uma mentalidade individualista que permite liberdade de pensamento e conscincia, propriedade privada e livre mercado. uma ideologia anti-negcios, anti-tecnologia e anti-cincia. O estatismo hegeliano no gosta do capitalismo porque livra os indivduos de restries, cria empresrios, e gera a no-conformidade de comportamento.A Prssia foi o primeiro estado moderno. Foi o primeiro governo, em 1819, a por em prtica a educao pblica compulsria, com o objetivo de produzir cidados obedientes que pensassem de forma igual sobre os principais assuntos. Outros componentes do estado moderno que comearam na Prssia incluem penses pblicas (como a previdncia social, fazendo as pessoas depender do governo), desarmamento dos cidados (para evitar resistncia autoridade), carteira de identidade universal e alistamento militar em tempos de paz. Hegel ensinou filosofia em vrias universidades prussianas como um funcionrio do governo.Schopenhauer era um cidado da Prssia e contemporneo de Hegel, mas suas vises polticas e filosficas eram diametricamente opostas quelas de Hegel. Infelizmente, o caminho que Schopenhauer escolheu no bem entendido atualmente, e ele no to discutido e aclamado como deveria e j foi uma vez, antes do surgimento do coletivismo no sculo XX.Isso o que Schopenhauer tinha para dizer sobre Hegel e seu grupo estatista: fcil ver a ignorncia e a trivialidade daqueles filsofos que, em frases pomposas, representam o estado como objetivo supremo e a maior realizao da humanidade e, assim, atingem a apoteose do filistinismo.Schopenhauer via o papel do estado a partir de uma perspectiva liberal clssica. Ele escreve, noThe World as Will and Representation:O estado nada mais que uma instituio de proteo, feita necessria pelos ataques mltiplos a que o homem est exposto, e que ele no capaz de se defender como indivduo, mas somente em aliana com outros. [Essa] proteo [inclui] a manuteno da propriedade privada. Mas, como normal aos seres humanos, a remoo de um mal geralmente abre caminho para um novo, [que requer] uma proteo contra a proteo... Isso parece ser mais completamente alcanvel dividindo e separando a trplice unidade do poder de proteo, o legislativo, o judicirio e o executivo, de forma que cada um gerido por outros, e independentemente do resto.Schopenhauer concordava com Kant que a realidade ltima do mundo impenetrvel ao pensamento analtico e linguagem descritiva. E os sucessores de Schopenhauer, Ludwig Wittgenstein (1889 1951) e Henri Bergson (1859 1941) apresentam mais, e convincentes evidncias de que esse realmente o caso. Filsofos como Hegel que constroem sistemas que contm o Noumenon o faz a partir de conceitos essencialmente sem sentido, como o Esprito Absoluto, O Bem, e a Perfeio do Ser. Schopenhauer escreve: A maior afronta [a Kant] utilizando-se de pura bobagem, juntando uma irritante rede de palavras sem sentido, como j foi previamente ouvido em hospcios, finalmente aparece em Hegel. (A rplica de Hegel poderia ser, e da se eu cuspir um monte de palavreado sem dizer realmente nada de til. Somente o poder importa.Eu me formei em filosofia no colgio e tive que fazer uma disciplina penosa em Hegel. Meu professor ignorou Schopenhauer, e eu no encontrei nada sobre ele at anos depois quando eu estava lendo a obra de Richard WagnerRing of the Nibelung.(Wagner descobriu Schopenhauer em 1854, com 41 anos, escrevendo ele entrou em minha vida solitria como um presente dos cus). Schopenhauer o antdoto necessrio a Hegel e sua prole coletivista. Entre outras coisas, a filosofia de Schopenhauer fornece uma justificao forte para a liberdade individual e a liberdade.Schopenhauer estudou o carnaval da vida em todos os seus aspectos, assim como Aristteles. Ele realizou um estudo profundo sobre o sexo e nossos impulsos sexuais, o primeiro filsofo a fazer isso, e estudou textos hindus e budistas (que tinham sido recentemente traduzidos para o alemo). Ele levou a religio a srio e deu esttica um papel central em sua filosofia. Vrios de seus insights prenunciaram descobertas que depois foram feitas na rea da biologia evolucionria, psicologia profunda e fsica. Schopenhauer se foca na vida real e no hesita em lidar com seus dilemas e tragdias. Como Carl Jung salientou, ele foi o primeiro a falar do sofrimento do mundo, que visivelmente e evidentemente nos cerca, e sobre a confuso, paixo, mal todas essas coisas que [outros filsofos] dificilmente pareceram observar e sempre tentaram resolver abrangendo tudo como harmonia e compreensibilidade.A filosofia de Schopenhauer defende o conceito de direitos naturais vida; liberdade; aquisio, pertence e descarte da propriedade; e busca da sade, alegria, interesse pessoal e vocaes sem interferncia externa (desde que essas aes no violem os direitos dos outros). Comentando sobre sade e liberdade, ele escreve, no somos conscientes das trs maiores bnos da vida chamadas sade, juventude e liberdade, enquanto as possumos, mas somente depois de perd-las. Sua filosofia defende uma tradio ocidental de direitos naturais que comeou com as Doze Tbulas da Repblica Romana (450 AC); foram enunciadas por Ccero (108 43 AC); e depois codificada pela Magna Carta (1215), So Toms de Aquino (1225 1274), Edward Coke (1552 1654), John Locke (1632 1704), William Blackstone (1723 1780), e a Declarao da Independncia dos EUA (1776). Embora no visto geralmente como um sucessor desses pensadores e filsofos, Schopenhauer citou Ccero e Locke em seus textos e, como Locke, acreditava que o respeito do indivduo a nica base vivel para as relaes humanas.Schopenhauer estudou a ao humana de uma maneira similar feita posteriormente por Ludwig von Mises com relao Economia. Ele observou que o comportamento humano dirigido por trs razes principais, que existem em nveis variados em cada indivduo. Essas razes so o auto-interesse, a compaixo e a maldade. Em relao ao motivo do auto-interesse, de longe o mais proeminente dos trs, Schopenhauer escreve:O indivduo dominado pelo desejo incondicional de preservar sua vida, e mant-la longe de todos os sofrimentos, em que esto inclusos todos os desejos e privaes. Ele deseja gastar maior parte do seu tempo com uma existncia prazerosa e com toda a gratificao que for capaz de apreciar.Esforos feitos por hegelianos e marxistas em criar uma utopia socialista sem incentivos para trabalhar e produzir, sem qualquer propriedade privada, ou sem a possibilidade de lucro so, pela natureza da ao humana, condenados ao fracasso. Schopenhauer sintetiza a questo de um ponto de vista praxeolgico desta forma: Egosmo [auto-interesse]... nunca ser tirado de uma pessoa, da mesma forma que um gato no consegue desistir de sua inclinao por ratos.Os socialistas no gostam de Schopenhauer (no se estranha o fato dele no ser ensinado em escolas estatais). O historiador marxista Franz Mehring descreve Schopenhauer como o filsofo dos terrveis filisteus... sua maneira sorrateira, egosta e caluniadora, era a imagem espiritual da burguesia que, assustada com a luta de classes, tremia como o lamo, aposentou-se para viver de suas economias e renegou os ideais de sua poca como uma peste (Schopenhauer viveu independentemente com uma herana deixada por seu pai, um comerciante).Com respeito batalha que est sendo travada atualmente entre a liberdade e o estatismo, uma das mais importantes descobertas em seu estudo da ao humana que os fundamentos da moral se baseiam na natureza humana em si mesma. Os educadores nas nossas escolas estatais falam sobre relativismo, e probem qualquer meno a conceitos religiosos de certo e errado. A tica de Schopenhauer corrobora, em uma base emprica, morais religiosas. Seus insights validam o carter da educao tradicional, que ensina virtudes especficas e traos de carter como justia, auto-controle, honestidade, responsabilidade e coragem. Ele invalida o esclarecimento de valores estatista e o modelo de tomada de deciso, onde cada aluno responsvel por decidir de novo por contra prpria o que certo e errado.De uma maneira praxeolgica, Schopenhauer examinou o comportamento humano sem nenhum preconceito sobre o que ele deveria ser. Ele estudo as escolhas e as decises que as pessoas tomam e suas aes. Observando os fatos e as evidncias da experincia, ele descobriu que a compaixo suporta o comportamento moralmente certo. Schopenhauer descobriu que possvel estabelecer um padro emprico, objetivamente baseado de moral que o mesmo defendido por grandes religies, particularmente o cristianismo, o hinduismo e o budismo. O padro moral se aplica a todos os seres humanos, irrestrito raa, etnicidade ou gnero. O estudo de Schopenhauer sobre a ao humana demonstra que os sucessores de Hegel, os marxistas culturais, liderados por Antonio Gramsci (1891 1937) e a Escola de Frankfurt, esto errados. H, de fato, um padro universal de moral.O motivo da compaixo inclui duas virtudes primordiais: justia natural e bondade. Schopenhauer escreve:Quem quer que esteja repleto de compaixo seguramente no ir ferir ningum, no machucar ningum, no invadir nenhum direito humano; ao invs disso, ele ter estima a todos, perdoar qualquer um tanto quanto possa, e todas suas aes tero o selo da justia e da bondade.Os princpios fundamentais da justia natural so no machuque ningum e no pegue nada que no seu. Esse tipo de justia uma parte inata da nossa natureza e diferente do tipo que praticada com base em nosso auto-interesse (para ganhar favores com seus pares, etc.) ou que moldada como lei e executada por sanes. O princpio fundamental da bondade ajudar todas as pessoas da maneira que estiver ao seu dispor. o sofrimento pela dor de outra pessoa compartilhado de uma forma altrusta, sem esperar nada em troca. A bondade/simpatia um reflexo do parentesco profundo que cada um de ns tem com todas as criaturas.A justia natural, a bondade e o autocontrole sustentam o comportamento moralmente correto. O auto-interesse irrestrito (isto , a falta de auto-controle) e a malcia (o desejo de machucar algum simplesmente pelo prazer de machucar) definem o comportamento moralmente errado.A viso crist de comportamento moralmente certo e errado no um meio de um grupo dominante e opressor controlar grupos subordinados, como os marxistas culturais pensariam. Ela espelha a verdadeira realidade da vida. Cdigos morais no so produtos de uma cultura particular ou perodo histrico; eles so uma parte inata da condio humana e, portanto, universais.A compaixo na filosofia de Schopenhauer tem tanto significado moral como metafsico. Ele v essa fora espontnea e irracional como sendo uma manifestao da realidade mais profunda da vida. Fornece uma ideia intuitiva do Noumenon (que ele chama de Vontade) a esfera da realidade ltima que contm as verdades essenciais da vida e do mundo. Enquanto no acessvel descrio do conhecimento e lingustica, Schopenhauer discerne que podemos ter, no entanto, uma percepo intuitiva dele (Noumenon). A compaixo vivenciada uma forma de entrar no castelo da realidade ltima. E o que ela nos diz que em seu nvel mais profundo, a realidade uma unidade abrangente. Schopenhauer identifica e considera trs outras bases intuitivas e irracionais ao castelo do Noumenon. Elas so a msica, o misticismo e o sentimento de unio que experimentamos com o sexo.Os defensores da liberdade faro algo positivo ao ler Schopenhauer. Ele um aliado. Ele desmascara e desacredita completamente a dialtica hegeliana. Ele fornece um argumento forte para haver um padro moral universal, que no dependente de ensinamentos religiosos, mas acaba, na verdade, os corroborando.O sculo XX seguiu os ideais de sua poca, como moldadas por Hegel e Marx, e tentou implementar o socialismo, o fascismo e o coletivismo. Espera-se que o sculo XXI tenha o bom senso de rejeitar esses filsofos e se foque em Schopenhauer.(No se deixe levar pelas descries de Schopenhauer que dizem que ele um pessimista e misgino. Lembrem-se, os socialistas no gostam dele. Schopenhauer estudou a vida em todos os seus mltiplos aspectos. E ele tambm abordou, de uma maneira bastante interessante, a questo, o que acontece conosco quando morremos?. Wagner estava certo. A sua filosofia , de fato, um presente dos cus.)