A Biblioteca Universitária Na Encruzilhada

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DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação - v.11 n.6 dez/10 ARTIGO 07 A biblioteca universitária na encruzilhada The university library at the crossroad por Murilo Bastos da Cunha Resumo: Este trabalho aborda os principais desafios que estão sendo enfrentados pelas bibliotecas universitárias brasileiras. São desafios complexos que exigem muita atenção por parte dos gestores das bibliotecas para poderem atravessar uma verdadeira encruzilhada. Inicialmente, é analisado o contexto do ensino superior no Brasil, o crescimento no número de instituições de ensino superior e do alunado nos níveis de graduação e de pós-graduação. Em seguida são vistos a missão da biblioteca universitária; o acervo, enfatizando as conseqüências da introdução do livro eletrônico e o surgimento de um novo acervo ligado à dados científicos (e-science); o espaço físico da biblioteca; os produtos e serviços, enfatizando a referência digital, o repositório eletrônico; as inovações e tecnologias que afetam a unidade de informação e, por último, a importância da cooperação bibliotecária como elemento facilitador para a absorção dessas mudanças. Palavras-chave: Biblioteca digital; Biblioteca universitária; Ciência eletrônica; Desenvolvimento de coleções; Ensino superior; Gestão da informação; Internet; livro eletrônico; Periódico eletrônico; Referência digital; Repositório eletrônico; Repositório da dados científicos; Universidade. Abstract: This paper addresses the key challenges being faced by Brazilian university libraries. These challenges are complex and require close attention by the managers of those libraries in order to go beyond a real crossroads. Initially, it examined the context of higher education in Brazil, the growth in the number of institutions of higher education and student body into two-level (undergraduate and postgraduate). Then are seen the mission of the university library; the collection, emphasizing the consequences of the introduction of electronic book and the emergence of a new electronic collection of science data

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DataGramaZero - Revista de Cincia da Informao - v.11 n.6 dez/10 ARTIGO 07

A biblioteca universitria na encruzilhadaThe university library at the crossroadporMurilo Bastos da Cunha

Resumo:Este trabalho aborda os principais desafios que esto sendo enfrentados pelas bibliotecas universitrias brasileiras. So desafios complexos que exigem muita ateno por parte dos gestores das bibliotecas para poderem atravessar uma verdadeira encruzilhada. Inicialmente, analisado o contexto do ensino superior no Brasil, o crescimento no nmero de instituies de ensino superior e do alunado nos nveis de graduao e de ps-graduao. Em seguida so vistos a misso da biblioteca universitria; o acervo, enfatizando as conseqncias da introduo do livro eletrnico e o surgimento de um novo acervo ligado dados cientficos (e-science); o espao fsico da biblioteca; os produtos e servios, enfatizando a referncia digital, o repositrio eletrnico; as inovaes e tecnologias que afetam a unidade de informao e, por ltimo, a importncia da cooperao bibliotecria como elemento facilitador para a absoro dessas mudanas.Palavras-chave: Biblioteca digital; Biblioteca universitria; Cincia eletrnica; Desenvolvimento de colees; Ensino superior; Gesto da informao; Internet; livro eletrnico; Peridico eletrnico; Referncia digital; Repositrio eletrnico; Repositrio da dados cientficos; Universidade.Abstract:This paper addresses the key challenges being faced by Brazilian university libraries. These challenges are complex and require close attention by the managers of those libraries in order to go beyond a real crossroads. Initially, it examined the context of higher education in Brazil, the growth in the number of institutions of higher education and student body into two-level (undergraduate and postgraduate). Then are seen the mission of the university library; the collection, emphasizing the consequences of the introduction of electronic book and the emergence of a new electronic collection of science data (e-science); the physical space of the library; products and services, emphasizing the digital reference, the electronic repository; innovations and technologies that affect the information unit and, lastly, the importance of library cooperation as a facilitator factor for the absorption of these changes.Keywords:Digital library; University library; E-science; Collection development; High Education; Information management; Internet; E-book; E-journal; Digital reference; E-repository; University.

IntroduoTudo parece ser igual, mas tudo mudou,Michelle Rabinowitz(2008)

Nesta segunda dcada do sculo XXI, a revoluo digital no mostra sinais de abrandar. Para se manter relevante, qualquer instituio, incluindo-se a aquela estabelecida como biblioteca, deve avaliar o seu lugar em um mundo cada vez mais com acesso em tempo real. A boa notcia que os profissionais da biblioteca, especialmente aqueles que militam na biblioteca universitria, h muito j reconheceram essa necessidade e esto realizando as adaptaes destinadas a assegurar que as bibliotecas continuem a fazer parte integrante do compromisso da nossa sociedade com a educao e ao acesso igualitrio informao. Enquanto algumas pessoas esto pessimistas sobre o futuro das bibliotecas, muitos na comunidade vislumbram futuros servios e produtos de biblioteca que incorporam novas filosofias, tecnologias e espaos para atender s necessidades de todos os utilizadores de forma mais eficaz, rpida e barata.

Estas mudanas vo alm da mera incorporao de avanos tecnolgicos. Elas incluem o repensar da essncia do que define uma biblioteca universitria, o seu sentido de lugar, de produtos e servios para a comunidade acadmica, coisas que, todos concordam, tm caracterizado a biblioteca ao longo dos sculos passados.

Portanto, depois que o mundo entrou num novo milnio e tambm num novo sculo, parece que parcela da populao as cabeas pensantes incrementou suas reflexes em torno dos futuros contornos dessa sociedade que est entrando na Era da Informao (ou da Sociedade da Informao).No que tange biblioteca universitria este autor j tinha elaborado, em 2000, um documento que foi originalmente apresentado aoSeminrio Nacional de Bibliotecas Universitrias(SNBU), realizado em Florianpolis (Santa Catarina). Ele teve por objetivoanalisar os principais tpicos que, provavelmente, tero maiores impactos na biblioteca universitria brasileira em 2010(Cunha, 2000, p. 71). Dez anos depois, discusses so feitas sobre as alteraes ocorridas nessas bibliotecas na dcada e reflexes tm ocorrido sobre as principais temticas do momento atual e que provavelmente, sero resolvidas e incorporadas ao nosso contexto bibliotecrio. Similar discusso anteriorvale a pena ressaltar que, por se tratar de um estudo prospectivo, no se teve neste trabalho pretenso de apresentar perguntas e respostas para toda a problemtica da futura biblioteca universitria. Pretendeu-se, entretanto, que este trabalho servisse de elemento auxiliar na importante reflexo sobre o tema(Cunha, p. 71).

Este trabalho pretende comentar os grandes desafios que esto sendo enfrentados pelas bibliotecas universitrias. Inicialmente, analisado o contexto do ensino superior em nosso pas, o crescimento no nmero das instituies de ensino superior (IES) e do alunado em seus dois nveis(graduao e ps-graduao). Em seguida, so vistos a misso da biblioteca universitria; o acervo, enfatizando as conseqncias da introduo do livro eletrnico e o surgimento de um novo acervo ligado cincia eletrnica (e-science); o espao fsico da biblioteca; os produtos e servios, enfatizando a referncia digital e o repositrio eletrnico; as inovaes e tecnologias que afetam a unidade de informao e, por ltimo, a importncia da cooperao bibliotecria como elemento facilitador para a absoro paulatina dessas mudanas.

As grandes mudanas que se aproximamEste autor j havia ponderado que:os prximos dez anos sero um perodo de mudanas significativas em nossas instituies de ensino superior IES, caso elas consigam reagir aos desafios, oportunidades e responsabilidades que se apresentam. O elemento-chave ser a capacidade de as universidades e, em especial, sua biblioteca assimilarem os novos paradigmas. ... vital entender que o desafio da mudana no seja visto como uma ameaa mortal, mas uma oportunidade para renovao do ensino superior e sua biblioteca (Cunha, 2000, p. 88).

Alm disso, como sero os universitrios do futuro e as suas necessidades de informao? Quem sero nossos usurios e que necessidades eles iro demandar ainda no sabemos. As tecnologias de ensino esto mudando, a criao do conhecimento est cada vez mais sendo feita de forma colaborativa, o ensino distncia est caminhando para usos mais intensos. Portanto, anlises prospectivas sobre a universidade, a pesquisa, o ensino e os usurios so condies essenciais para a reduo das incertezas quanto ao futuro da biblioteca universitria.

O ensino superior no BrasilEm 1990, existiam no Brasil 918 instituies de ensino superior, IES, caracterizadas por uma grande diversidade em tamanho, distribuio geogrfica e dependncia administrativa (tabela 1). Observa-se que, no perodo de 1980-1990, o nmero das instituies de ensino superior, IES com dependncia administrativa subordinada aos trs nveis da rbita pblica (federal, estadual e municipal) teve pequenas oscilaes. Em contrapartida, aquelas da rbita privada tiveram, no mesmo perodo, grandes oscilaes. Elas passaram de 69% do total em 1986 para 77% em 1996. Portanto, evidente que nesse perodo o grande crescimento das instituies de ensino superior se d na esfera privada.

Tabela 1 -Instituies de ensino superior por dependncia administrativa (1980-2008) Fonte: MEC/INEP/DEED

O Censo da Educao Superior de 2008 (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira,INEP, 2009), elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, registrou a participao de 2.252 instituies de ensino superior (IES) no pas, representando uma diminuio de 29 instituies em relao ao ano de 2007. Como possvel observar na tabela 1, houve uma desacelerao no aumento de instituies at o ano de 2007. Em 2008, pela primeira vez desde 1997, o nmero de instituies de ensino superior diminuiu, sobretudo o das faculdades federais. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira, INEP comenta que :"tal diminuio pode ser explicada pela integrao de instituies, por fuso ou compra, observada nos ltimos anos. De fato, a criao dos Institutos Federais de Educao, Cincia e Tecnologia, em muitos casos, se deu a partir da fuso de Centros Federais de Educao Tecnolgica. A nica parte do pas onde se verificou um acrscimo no nmero dei nstituies de ensino superior foi na regio Nordeste, com 10 instituies a mais do que em 2007. Cabe ressaltar que o declnio no nmero das instituies de ensino superior, assim como em 2007, no se refletiu na oferta de vagas, nmero de ingressos, matrculas e concluintes, que mantiveram um crescimento semelhante aos dos anos anteriores (...). A distribuio de IES por categoria administrativa se aproxima verificada no ano anterior, com 90% de instituies privadas e 10% de instituies pblicas, divididas entre federais (4,1%), estaduais (3,6%) e municipais (2,7%). importante salientar que esto includas aqui todas as IES que oferecem cursos de graduao (presencial e distncia) (INEP2009, p. 8)."

Dez anos atrs, apontei que as instituies de ensino superior comeavam a entrar no mercado agora denominado mercado de ensino. Mas, o que isto tem a ver conosco? Tambm ponderei que:"esses tpicos, quase nunca tratados em um evento de bibliotecas universitrias, precisam ser analisados, e diretrizes devem ser traadas para serem incorporadas ao planejamento estratgico de nossas instituies. Vale lembrar que o enfoque do mercado globalizante pode ser perverso para as bibliotecas universitrias, porque elas, tradicionalmente, so centros de custos, e no de captao de recursos. A mar globalizante precisa ser entendida em todas as suas facetas e, com certeza, mudanas precisam ser feitas para que (...) a biblioteca universitria possa ocupar um nicho importante na vida acadmica" (Cunha, 2000, p. 72).Em anos recentes, vrios indicadores de avaliao foram criados pelo Ministrio da Educao. Entre eles podem ser destacados o Exame Nacional do Ensino Mdio (ENEM) que, inclusive, de forma paulatina, est sendo utilizado como forma de seleo unificada nos processos seletivos das universidades pblicas federais. OENEMestimulou o aparecimento de um ranking das melhores escolas de nvel mdio e, ao lado disto, uma enorme competio entre essas escolas, com reflexos tambm nas instituies de ensino superior, IES. Esses reflexos demonstram que o ensino superior brasileiro est sendo alvo da mar globalizante, levando as instituies particulares a investir em qualidade, o que envolve cifras bilionrias. Depois da compra do Anglo pela Abril, a Pearson, dona doFinancial Times, arrematou na semana passada [julho de 2010], por R$ 900 milhes, o grupoCOC. (Dimenstein, 2010). No cenrio atual de crescimento econmico, convivendo com a carncia de mo de obra qualificada, a baixa qualidade da educao bsica e a enorme demanda reprimida por ensino superior, cada vez mais so atrados investimentos externos para a educao brasileira. E os segmentos que mais tm atrado esse capital so o ensino superior, os sistemas de ensino (que oferecem material didtico e metodologia estruturada para escolas) e o ensino distncia.

A entrada de grupos estrangeiros no ensino universitrio brasileiro motivada por uma srie de razes. Entre elas esto os sistemas de ensino que incluem apoio e treinamento de professores, impresso e materiais digitais e servios de tecnologia. A Pearson estima que o mercado de material educacional do Brasil seja avaliado em US$ 2 bilhes(Britnicos, 2010).

Como se v, parece que existe um novo contexto nessa rea, em vez de um grupo comprar um pequeno, a transao agora entre grandes grupos. Essa poltica foi iniciada em 2007 com a expanso do Anhanguera Educacional; outro importante grupo o Kroton, um dos maiores do pas com 43 mil alunos, e o IUNI, gigante do setor, com 53 mil.Com a compra doIUNI, dono da Universidade de Cuiab, entre outras, o nmero de alunos do Kroton mais que dobrar e passar dos 90 mil estudantes, ficando em terceiro ou quarto lugar no ranking das maiores universidades do pas, ao lado da Universidade Paulista (UNIP), Universidade Estcio de S e Universidade Nove de Julho (UNINOVE). ... Hoje, essas corporaes detm 27,4% das vagas no pas e a expectativa que o percentual alcance 50% at 2015.(Em dez anos, 2010).Mas, quais so as razes pelas quais, neste momento, esto sendo abordados esses aspectos ligados ao mercado de ensino? Em 2000, este autor j tinha alertado que:"no futuro, provvel que surjam novas entidades educacionais. Algumas instituies de ensino superior podero desaparecer, outras sero fundidas ou adquiridas por concorrentes, semelhana das reas comercial e industrial. Alianas e consrcios sero formados visando a obter uma reduo dos custos e aumento da produtividade. Assim, o setor dever sofrer um processo de fuses e incorporaes semelhante ao que os bancos vivem hoje. S as melhores e mais competitivas vo sobreviver" (Cunha, 2000, p. 74).

E o que ocorrer com as bibliotecas? Possivelmente, elas tambm passaro por fuses. O que se pode prever, com alto grau de certeza, que a instituies de ensino superior, IES futura no ser a mesma do momento atual, e, como resultado dessas mudanas, suas bibliotecas sero afetadas pelos impactos dessas transformaes.

Tambm, na mesma poca, foi observada a possibilidade de terceirizao das atividades das bibliotecas universitrias. Na dcada passada isso j acontecia com as operaes de catalogao nos Estados Unidos e Canad! Agora, em 2010, comeam a ser ofertados novos produtos e servios como bibliotecas digitais, com acervos de livros-texto, com obras em portugus e disponvel via internet [ver, por exemplo, no URL:http://www.bvirtual.com.br/]. possvel, portanto, que o tradicional setor de coleo didtica ou sala de reserva, bem como o recente acervo com contedos digitais usado nas disciplinas de ensino distncia, venham a ser terceirizados.

Em termos de graduao, o pas, em 2000, contava com 2.694.245 discentes; j em 2008, segundo dados oficiais (INEP. Sinopse), foi atingido o total de 5.080.056 alunos. Esses dados mostram um impressionante crescimento de 53.03% em oito anos! Vale ressaltar que nesse total no esto includos os alunos que utilizam a modalidade de educao distncia (EAD). O censo preparado pela Secretaria de Educao Distncia do Ministrio da Educao mostra que no primeiro semestre de 2009, oMECdivulgou uma estimativa de crescimento do nmero de alunos e de instituies de educao distncia no ano de 2008 (...) Segundo os dados colhidos havia 760.599 alunos de graduao distncia em 2008 em 145 instituies de ensino superior (IES) (BRASIL. MEC. Censo EAD.br, 2010, p. 5).

Vale a pena mencionar que o ensino distncia tende a crescer mais em anos vindouros. Alm do crescimento que est ocorrendo no setor privado de ensino, destacam-se tambm os investimentos realizados pelaUniversidade Aberta do Brasil(UAB) um sistema integrado por universidades pblicas que oferece cursos de graduao. Instituda pelo decreto n 5.800, de 8 de junho de 2006, e gerenciada pelaCAPES, ela tem por objetivoo desenvolvimento da modalidade de educao distncia, com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de educao superior no Pas(Universidade, 2010). A proposta que estados e municpios disponham de plos presenciais com a oferta de bibliotecas, laboratrios pedaggicos e de informtica, tutores presenciais para atendimento e sala para videoconferncia. No final de agosto de 2010, participavam daUniversidade Aberta do Brasil92 instituies, as universidades pblicas (federais, estaduais e municipais) e os Institutos Federais de Educao, Cincia e Tecnologia. Essas 92 instituies de ensino superior estavam assim distribudas por regies: 12 no Norte; 31 no Nordeste; 27 no Sudeste; 13 no Sul e 9 no Centro-Oeste. No que tange ps-graduao (segundo dados da CAPES, constantes da Tabela 2) tambm h um crescimento na ltima dcada.

Tabela 2 -Ps-graduao no Brasil 2000-2009Fonte: CAPES, 2010.

Se somarmos todo o alunado de graduao, ensino distncia e da ps-graduao, ser alcanado o total de5.991.588estudantes. claro que esses quase seis milhes de universitrios vo causar impactos nas nossas bibliotecas universitrias, especialmente no que tange a espao fsico adequado para acomodar esses alunos de graduao, bem como para atender essa enorme demanda de informao e a oferta de produtos e servios.

Misso da biblioteca universitriaAs bibliotecas universitrias so organizaes complexas, com mltiplas funes e uma srie de procedimentos, produtos e servios que foram desenvolvidos ao longo de dcadas. No entanto, o seu propsito fundamental permaneceu o mesmo, isto : proporcionar acesso ao conhecimento. Esse acesso ao conhecimento que ir permitir que o estudante, o professor e o pesquisador possam realizar suas aprendizagens ao longo da vida.Consequentemente, essas bibliotecas, juntamente com as suas instituies mantenedoras, pblicas ou privadas, tm sido consideradas, de forma inconteste, como as principais fornecedoras do conhecimento registrado. Dentro do contexto do ensino superior, especialmente, quando os usurios querem informaes confiveis, eles se voltavam para a biblioteca universitria quase como a nica fonte provedora das informaes demandadas.Hoje, porm, a biblioteca universitria est deixando o seu lugar como a principal fonte de busca. Ela est perdendo a sua supremacia na realizao deste papel fundamental devido, claro, ao impacto da tecnologia digital. Como essa tecnologia tem permeado todas as facetas da nossa civilizao, estabelecendo uma revoluo no s na forma como armazenamos e transmitimos o conhecimento registrado e uma srie de outros tipos de comunicao, mas tambm na forma como procurar e ter acesso a esses materiais.

Estudos divulgados em anos recentes (Carlson, 2002;Lamb, 2005) tm revelado que os comportamentos e hbitos de busca informacional esto mudando. A utilizao da internet est cada vez mais onipresente e continua crescendo ainda mais pela introduo de novos e melhores algoritmos nos mecanismos de busca. AWorld Wide Web(web) se tornou o maior depsito de informao do mundo. Na verdade, o sucesso da Web como principal fonte mundial de informao tem sido inacreditvel. Em meados de 2010, um bilho e oitocentos milhes de pessoas 26,6 % da atual populao mundial passaram a usar a internet (Internet world stats, 2010).

Como crescente o nmero de pessoas que passam a utilizar a internet, poucas, ou quase nenhuma imagina que ela pode no ser uma fonte confivel de informao. Apesar de existir certa suspeita em relao qualidade da informao hospedada nessa rede mundial, as estatsticas indicam que o uso da web continua a aumentar. A suspeita da baixa qualidade de informao encontrada na Web parece no desencorajar sua atrao. impressionante que, em pouco menos de cinco anos, houve um aumento de 11%, passando de 15% no final de 2004, para 26,6% da populao mundial em meados de 2010 (Internet world stats2010).

Ainda assim, acredita-se que o problema da qualidade da informao armazenada na Web pode preservar o papel da biblioteca universitria como vital, mesmo que, ocasionalmente, ela se torne uma fonte secundria de informao, porque no contexto do ensino superior, a integridade e confiabilidade do conhecimento so fatores primordiais. Mesmo antes de a Web ter sido criada em 1994, as bibliotecas universitrias comearam a desenvolver bibliotecas digitais com contedos informacionais confiveis. Aps 1994, muitas destas colees digitais foram disponibilizadas na Web e seu crescimento foi acentuado. Como o volume de informaes digitais cresceu e com o amadurecimento da Web, autores importantes como Deanna Marcum passaram a difundir a idia de uma biblioteca totalmente digital. Estes visionrios previam que num futuro prximo, o conhecimento acumulado de alta qualidade e em todos os suportes estaro disponveis em formato digital na internet. Em poucos anos, essas anlises mostraram que, na verdade, esta viso tornou-se uma realidade.

Entretanto, alguns obstculos redundaram em resistncia investida da tecnologia digital. A revoluo cultural est provocando alteraes nos hbitos de busca informacional. Como Clifford Lynch j tinha observado em 1997:"agora que estamos comeando a ver, nas bibliotecas, o texto completo aparecendo online, acho que muito em breve estaremos prestes a cruzar uma espcie de limite crtico, onde as publicaes que no esto imediatamente disponveis em texto integral sero uma espcie taxada como de segunda classe, no porque a qualidade seja baixa, mas apenas porque as pessoas vo preferir a acessibilidade das coisas que podem ser disponibilizadas imediatamente. Elas vo se tornar muito menos visveis para a comunidade dos leitores". (Lynch, 1997)A realidade que a facilidade de acesso afeta significativamente a disposio dos usurios para consultar uma fonte particular de informao. Este fato est estimulando inmeros autores, tanto no exterior como no Brasil, a sugerirem critrios para avaliao da qualidade da informao hospedada na internet (Lopes, 2004;Oleto, 2006;Stvilia, 2007;Tomael,Alcar, Silva, 2008;Cohen,Jacobson, 2009). Apesar de esse novo contexto estar pressionando as bibliotecas universitrias para mudanas, elas, em sua maioria, continuam funcionando da forma costumeira. Embora este comportamento possa ser parcialmente atribudo inrcia institucional, outro fator que pesa que muitas operaes importantes continuam a ser realizadas nesse local, entre elas est includo o fornecimento de acesso fsico. Alm disso, muitas bibliotecas se dedicam s obras raras e s colees especiais, que no so susceptveis de alterar a sua misso bsica, mesmo que ocorra um decrscimo em suas misses institucionais.Da mesma forma, as bibliotecas tm valiosos acervos em suportes ainda no digitalizados que so vitais para pesquisa em muitas reas. Mesmo com uma revoluo to rpida, isto ainda requer um perodo de transio durante o qual as atuais operaes das atuais bibliotecas continuam sendo necessrias.Assumindo que esta transio possa se alongar por mais uma dcada, devemos olhar para o futuro em longo prazo. Os bibliotecrios universitrios e a academia devem indagar: Ser que a biblioteca sobreviver? E, em caso positivo, qual seria a sua nova finalidade? Se no passado ela exerceu o papel de fonte primria do conhecimento atestado, qual ser o seu propsito primordial futuro? claro que perguntar mais fcil do que responder. Mesmo assim, inmeros autores (Lougee, 2002;Rodger, 2002;Abram2005,Arl, 2010) sugerem as possveis respostas para essas indagaes. Segundo os mesmos autores, nesse novo contexto digital, servios inovadores tm evoludo dentro das bibliotecas universitrias. Dentre eles podem ser citados: proviso de espaos para o aprendizado com qualidade; criao de metadados; servios de referncia digital; ensino do letramento informacional; seleo e escolha de recursos digitais bem como os direitos de seu uso; coleta e digitalizao de materiais de arquivo e manuteno de repositrios digitais.

Para muitos desses autores, esses servios so difusos. Eles cresceram fora da misso original da biblioteca universitria. Como grupo, eles no constituem um objetivo fundamental para a biblioteca do futuro, e eles no tm a clareza do toque da misso histrica bem conhecida. No entanto, de forma individual eles podem ser considerados e analisados mais de perto e, mesmo alguns deles podem, realmente, provar ser a chave para o futuro da biblioteca universitria.

Tambm tenho inmeras indagaes sobre o futuro da biblioteca universitria. Antes de perguntar sobre a biblioteca propriamente dita seria interessante ter mais subsdios sobre como seriam a universidade, o ensino e a pesquisa em anos vindouros. semelhana do estudo daAssociation of Research Libraries(2010), ora em fase de coleta de dados, inmeras indagaes poderiam ser feitas. Dentre elas gostaria de apontar algumas: A demanda por informaes por pesquisadores e estudantes continuar a aumentar? Eles vo querer as coisas por via eletrnica, fceis de serem usadas e manipuladas? Ser a informao um bem econmico? Como as pessoas gostariam de ter acesso a informaes? Como iro querer l-las?

Comeam os usurios a transportar as suas prprias bibliotecas? Ser ela porttil? Teremos que ter leitores de livros eletrnicos [e-book reader] para emprstimo? Iro esses leitores, armazenar 400 ou mais livros com a coleo bsica de cada curso?AcervoO crescimento do acervo da biblioteca universitria impulsionado pela demanda dos seus usurios e ir incluir novos tipos de recursos informacionais. As redues oramentrias, a tendncia crescente do usurio para o acesso eletrnico a esses documentos [a indagao: Cad o pdf? est sendo um comportamento do estudante universitrio], o espao fsico limitado, e a incapacidade de sustentar financeiramente colees completas esto forando muitas bibliotecas universitrias a adotarem a filosofia de umjust-in-case para um just-in-time. Assim, em vez de se manter um grande acervo para poder suprir a maioria das demandas futuras a filosofia dojust-in-case est se advogando a filosofia dojust-in-timeque preconiza que nenhum documento deva ser adquirido pela biblioteca antes da hora, isto , antes de ser demandado pelo usurio. Essa mudana pode acarretar enormes implicaes no oramento bibliogrfico e na poltica de seleo da biblioteca universitria.

Em inmeros pases desenvolvidos, essa mudana est sendo facilitada pela existncia de programas personalizados de aquisies a partir de distribuidoras de livros, de novas e mais baratas opes de impresso sob demanda para monografias, e de sistemas de compartilhamento de recursos que provem comutao bibliogrfica na base de 24/7 (24 horas por dia/7 dias por semana). AUniversidade de Michigan, desde 2008, est usando um equipamento de impresso que pode imprimir e encadernar um livro em cerca de 6 minutos e, dependendo do tamanho da obra, a um custo mdio de 10 dlares. Depois de aprontada, a obra pode ser emprestada ao usurio que a solicitou.

Apesar de tudo isso, ainda cedo para prever a longo prazo, o efeito desta mudana sobre a capacidade da biblioteca universitria para atender as necessidade de informao de sua clientela, a estabilidade de alguns dos novos mtodos de acesso, e, principalmente, as implicaes para o futuro da pesquisa acadmica.As bibliotecas, cada vez mais, esto ampliando suas colees locais com documentos originais e nicos e, quando possvel, digitalizando-os para prover de forma imediata, o acesso em linha ao texto completo aumentando sua visibilidade e utilizao.Connaway(2008) j tinha observado que o acesso s fontes de texto completo e no a descoberta das fontes era uma questo transcendental para o estudioso. Alm dos documentos tradicionais, tambm possvel incluir colees especiais e a produo acadmica dos docentes e discentes da, a crescente importncia dos repositrios institucionais e as bibliotecas digitais de teses, dissertaes e monografias de cursos de graduao e especializao.

Livro eletrnicoHelen Josephine, chefe da Biblioteca da Escola de Engenharia da Universidade de Stanford, afirmou em reportagem publicada no Library Journal, de 14 de julho de 2010, que o seu slogan menos livros, no sem livros.No entanto, ela observou que muitas editoras das reas de cincia e tecnologia esto se movendo rapidamente para um modelo totalmente digital, e ela espera que sua biblioteca no tenha obras impressas dentro de uma dcada(Rapp, 2010). Continuando, essa diretora comentou quej gastamos mais com livros eletrnicos [e-books] do que fazemos com livros impressos. ... Tambm estamos experimentando Kindles, leitores Sony e o Apple I-Pad como uma opo para estudantes. ... os estudantes de Engenharia parecem mais favorveis ao uso de livros eletrnicos que os alunos de outras disciplinas. Muitas vezes eles esto procurando uma frmula especfica, normas tcnicas, desenho ou plano, e tendo a capacidade de pesquisa de texto completo o livro eletrnico lhe permite encontrar de forma imediata exatamente o que precisam (Rapp, 2010).Os livros eletrnicos tambm tm outras caractersticas que os distinguem das obras impressas. Por exemplo, a maioria das prticas das licenas adotadas pelas grandes editoras como aElsevier, Springer e Wiley permite o uso ilimitado. Tal fato far com que esse tipo de obra nunca esteja indisponvel para o usurio. Alm disso, certas licenas permitem que o universitrio possa fazer odownloade imprimir o seu contedo para uso pessoal. OCourseSmart,um dos grandes fornecedores de livros didticos universitrios nos Estados Unidos, passou a comercializar, a partir do ano acadmico de 2010/11, o acesso a mais de 14.000 livros eletrnicos com desconto de at 60% comparado com os preos das edies impressas (Reid, 2010). Com este tipo de negcio, essa empresa pretende oferecer aos alunos a capacidade de acessar mais de 90% dos livros didticos de ensino superior em formato digital, passveis de serem lidos por leitores de livro eletrnico (e-book reader), computador ou telefone celular! Que implicaes tm esta notcia para o contexto brasileiro? Isto um indicador de que, brevemente, as grandes editoras brasileiras de livros didticos muito provavelmente estaro adotando tambm este tipo de poltica comercial.

O emprstimo de leitores de livros eletrnicos comeou a ser introduzido na biblioteca universitria. Em agosto de 2010, por exemplo, a North Carolina University contava com 30 I-Pads para emprstimo domiciliar (North, 2010); na mesma poca, a biblioteca doRed Rocks Community Collegedisponibilizava 100 equipamentos com a mesma finalidade. muito difcil compreender, daqui a 30 ou 40 anos, por que algum ir utilizar um livro impresso. claro que ainda persistiro aqueles que iro preferir o livro impresso. Tenho certeza de que a tecnologia ser capaz de simular a maioria dos aspectos do livro impresso atual que poderia ser de interesse do leitor.

Neste ponto, vale a pena indagar:o livro impresso ir desaparecer?Acredito que no. Dizer que as livrarias no tero futuro s porque aAmazonvende livros seria o mesmo que afirmar que os restaurantes italianos esto fadados a desaparecerem porque existe o espaguete enlatado com molho parmegiana! Existiro nichos de mercado, tanto para o livro eletrnico como para o impresso certamente, este ser mais caro do que atualmente, tendo em vista que ser fornecido em pequenas tiragens; portanto, um produto para poucos.

As bibliotecas continuaro a selecionar e adquirir contedo digital para atender as necessidades de seus usurios como j faziam na poca do livro impresso. Cada vez mais, elas vo adquirir contedo de livro eletrnico e a seguir o caminho j trilhado peloperidico eletrnico[e-journal]. A mudana nos hbitos de leitura ser muito mais gradual em reas como as obras de fico, mas o nmero e a engenhosidade dos dispositivos de leitura disponveis para o livro eletrnico vo ajudar na adaptao e aceitao desse novo formato para o livro.

A cincia eletrnica (E-science)Outra rea do acervo informacional que tende a crescer no futuro o chamado conjunto de dados cientficos (ou cincia eletrnica, e-science). Essa rea, geralmente composta por bases de dados numricos e os diferentes conjuntos de resultados das pesquisas realizadas nos institutos, faculdades e departamentos, nunca foi objeto de preocupao por parte da biblioteca universitria. Como a biblioteca comea a tomar para si a responsabilidade da gesto do conhecimento gerado no campus, ela agora precisa conhecer os contedos e as estruturas desses recursos informacionais hospedados nos laboratrios e gabinetes docentes.

Uma definio ampla da cincia eletrnica significa que para apoi-la necessariamente esto sendo incorporados uma srie de atividades e servios. Tal apoio exige o desenvolvimento, a coordenao e investimentos em vrios setores da biblioteca para criar um sistema onde, certamente, estaro envolvidos a segurana dos dados, a preservao, o acesso e o controle dos metadados. Esses setores encontram na biblioteca universitria o seu nicho natural. Levantamento realizado em agosto de 2010, junto a 40 bibliotecas universitrias dos Estados Unidos e Canad, para a Association of Research Libraries, mostrou que:"73% dos entrevistados (...) indicaram a que biblioteca foi envolvida com o apoio e-science em suas instituies. (...) Todos, com exceo de algumas bibliotecas, esto fornecendo consultoria e servios de referncia, tais como identificar a infra-estrutura de tecnologia usando ferramentas disponveis (...) e no desenvolvimento de planos de gerenciamento de dados, e desenvolvimento de ferramentas para ajudar os investigadores. Alguns descreveram servios mais avanados, tais como o arquivamento de dados relevantes e curadoria para a preservao digital em longo prazo e integrao entre conjuntos de dados. (...) Enquanto as bibliotecas identificaram uma significativa lista de pontos a serem solucionados, ficou evidenciado durante todas as respostas da pesquisa um entusiasmo geral a respeito dos novos papis a serem desempenhados [pela biblioteca] no processo da pesquisa acadmica " (Soehner; Steeves; Ward, 2010, p. 8).A incluso dessa nova rea pela biblioteca universitria, por meio do que poderia ser denominado de repositrio de dados cientficos, no ser rpida nem tranquila. Ela exigir o treinamento dos recursos humanos para assumirem as novas funes inerentes gesto de dados em formatos e assuntos variados, alm do tratamento dos documentos e arquivos cientficos existentes nos laboratrios de pesquisa.

EspaoPor sculos a biblioteca universitria tem sido mantida por universidades ou faculdades com a sua localizao num lugar nobre e/ou central no campus. Ela geralmente abrigada em belos e espaosos prdios, com reas para salas de leitura, para reunies em grupo, provendo um ambiente agradvel, com o necessrio silncio e conforto para facilitar as tarefas ligadas ao aprendizado e a interao com o conhecimento registrado. Ao longo das ltimas dcadas isto tem sido uma verdade; nessa jornada a biblioteca universitria acompanhou a introduo das novas tecnologias como o microfilme, a fita cassete, o vdeo (antes no formato VHS, agora em DVD), o computador, os discos pticos (CD-ROM e agora o DVD) e, nos ltimos 15 anos, as novidades da internet. Elas tambm esto incorporando as ferramentas da chamadainternet 2.0caminhando, portanto, para abiblioteca 2.0.

Entretanto, essa viso evolutiva do prdio da biblioteca universitria nem sempre foi unnime. Num artigo clssico, publicado em 2000, Charles Martell previu quea construo de novas bibliotecas ir diminuir e, dentro de vinte e cinco anos, o smbolo fsico da biblioteca no ser mais vivel como uma representao de funcionalidade(Martell, 2000, p. 110). Essa afirmativa controvertida e tem sido motivo de muita discusso em anos recentes. Alguns estudos como o dePomerantz e Marchionini(2007);Spencer(2006),Gerke e Maness(2010) apoiam a noo de que a rea fsica deve sair do modelo de depsito de livros para outro onde haja integrao entre as reas fsicas e a tecnologia de informao tambm denominado, nos Estados Unidos, deinformation commons. Esse novo modelo parece que est alcanando sucesso, poisShill e Tonner[2004] encontraram, de fato, que 80% das bibliotecas que passaram por projetos de novas construes ou reformas entre 1995 e 2002, converteram espaos especficos para computadores de acesso pblico, mesas com acesso rede sem fio, incrementos nos servios de telecomunicaes e espaos para o trabalho do usurio (entre outras variveis) tiveram um aumento no uso das suas instalaes numa mdia superior a 37%. (Gerke e Maness2010, p. 27).

Portanto,apesar da mudana para um uso maior dos recursos bibliogrficos eletrnicos, o espao fsico ainda um importante fator na percepo desses recursos [por parte dos usurios](Gerke e Maness, p. 27). claro que a biblioteca universitria tambm reservou espao significativo para o armazenamento de livros, com acervos sempre se avolumando, gerando uma demanda para novas reas isto provocou o surgimento de depsitos fora do campus para abrigarem colees pouco utilizadas e, ao mesmo tempo, acarretou problemas logsticos para atender a demanda dos usurios. Em meados de 2010, a Biblioteca de Engenharia da Universidade de Stanford comeou a transferir 98 mil livros e revistas cerca de 85% da sua coleo impressa para um depsito fora do campus (Rapp, 2010). Ao mesmo tempo, essa biblioteca ter mais contedo digital, bem como as opes de novas tecnologias, incluindo leitores de livros eletrnicos (e-readers). A Engenharia de Stanford mesmo ainda retendo cerca de 15 mil obras impressas, pode estar entrando num movimento que nossos colegas americanos esto denominando debibliotecas sem livros(bookless libraries) isto um exemplo claro do uso da filosofia dojust-in-timemencionado anteriormente.

Ao longo do tempo, a maneira como os espaos das bibliotecas eram utilizados mudou lentamente, Nos ltimos anos, segundoLippincott(2005), esses espaos foram alterados para acomodar o ambiente crescentemente digital e para se adaptarem aos novos estilos de pesquisa e estudo. Para atender ao novo alunado de graduao que possui enorme familiaridade com os recursos da internet a denominada Gerao Internet muitas bibliotecas universitrias passaram a oferecer espaos para indivduos e grupos, que abrigam computadores, escneres, impressoras rpidas e baratas, bem como uma gama enorme de softwares que podero ser utilizados na preparao de trabalhos escolares, apresentaes multimdia e/ou acesso ao correio eletrnico ou s redes sociais.

claro que a biblioteca tambm precisa estar preparada com pessoal tcnico para dar suporte aos inmeros problemas advindos do uso intenso dessas mquinas, fazer varreduras peridicas para eliminar vrus informticos e dar treinamento no uso dessa verdadeira biblioteca de softwares. No contexto brasileiro, especialmente nas universidades pblicas, o item recursos humanos no trivial. O pessoal de apoio de informtica no consta dos planos de cargos do pessoal; os salrios geralmente so baixos e, como conseqncia, a rotatividade alta esses funcionrios so em sua maioria, terceirizados. O diretor da biblioteca sempre tem que conseguir junto ao setor central de recursos humanos a soluo para manter abertos esses laboratrios de informtica.

Outro aspecto que no pode ser negligenciado o crescimento dos documentos eletrnicos. No contexto brasileiro, por exemplo, com o advento doPortal daCAPES, em muitas universidades pblicas aconteceram redues e/ou eliminaes das assinaturas no suporte impresso daqueles ttulos hospedados nesse portal. Portanto, a demanda por espao fsico para armazenamento dos documentos no suporte impresso, principalmente dos peridicos, dever ser atenuada e poder gerar espaos ociosos. Assim, embora seja provvel que o espao da biblioteca venha a ser cada vez menos utilizado para guardar colees de livros e peridicos, a forma como esse espao ser reaproveitado ainda incerto. Consequentemente, at que as discusses ocorram dentro de toda a comunidade acadmica, permanecer claro, que, no que tange ao espao fsico, a biblioteca ir atuar em um contexto onde as comunidades e as atividades virtuais sero cada vez mais usadas. Tambm existe o perigo desse espao nobre liberado seja cobiado por institutos ou faculdades caso a biblioteca no seja bastante gil em planejar logo novas destinaes para essas reas.

A novidade advinda da liberao de rea fsica est provocando mudanas organizacionais na estrutura do sistema bibliotecrio. Dentre essas alteraes podem ser mencionadas o fechamento de algumas bibliotecas, alterao nos fluxos de trabalho, estabelecimento de mais parcerias e trabalho mais estreito com o corpo docente para definir prioridades. Essa poltica de mudanas claramente um ato de equilbrio. Por exemplo, a Universidade de Cornell, que ir comemorar os seus 150 anos de fundao em 2015, planeja reduzir o nmero de bibliotecas do campus (CORNELL UNIVERSITY, 2010).

Essas mudanas tambm podem envolver a realocao de pessoal dessas bibliotecas para reas crticas ou novos projetos notadamente aqueles voltados para o ensino distncia. A acelerao de bibliotecas digitais, especialmente via repositrios digitais, tambm pode ser uma das estratgias a serem adotadas pelos dirigentes dos sistemas de bibliotecas universitrias.

Servios e produtos bibliotecriosA biblioteca universitria existe porque presta servios de atendimento no campus, de forma presencial ou virtual. O atendimento presencial tender a decrescer medida que os usurios passem a utilizar, de forma intensa e variada, as inmeras ferramentas disponveis na chamadaWeb 2.0. A biblioteca no ficou parada frente a esse avano e, nos ltimos anos, essas ferramentas tambm passaram a ser usadas em nosso contexto. A nova biblioteca 2.0 centrada e dirigida para o usurio com aplicaes de interao, colaborao e tecnologias multimdias baseadas na internet.Na primeira fase da internet, os usurios da web 1.0 apenas consumiam informao, eram incapazes de alter-la ou produzir novas verses. A informao flua em apenas um sentido, do produtor para o consumidor. No momento atual, o objetivo principal da web 2.0 a construo do contedo, ou seja, todos os usurios podem contribuir para o desenvolvimento e expanso da internet, criando e editando o contedo de forma coletiva.

A web 2.0 a mudana para uma internet como plataforma, e um entendimento das novas regras e servios para se obter sucesso (Machado, 2008). Portanto, ser possvel desenvolver aplicativos que aproveitem as caractersticas daqueles j existentes na rede, aproveitando-se da inteligncia coletiva para criar novos produtos e servios. Agora, essas oportunidades para desenvolver e publicar contedos com facilidade possibilita imaginar uma nova forma de ensino totalmente diferente dos modelos tradicionais. A rapidez das inovaes tecnolgicas nem sempre corresponde capacitao dos professores para a sua utilizao, o que, muitas vezes, resulta na utilizao inadequada ou na falta de uso dos recursos tecnolgicos disponveis. Se o professor no compreende ou no est inserido no contexto social do pblico para o qual d aulas, provavelmente o aluno no ir se interessar pelo contedo da aula (Carvalho e Cruz, 2006, p. 241).

Nesse contexto, a biblioteca 2.0 deve fazer uso, entre outros, do blog, do wiki, podcast, do social bookmarking(ou marcadores sociais) e das redes sociais. A seguir, sero vistas algumas das aplicaes dessas ferramentas nos principais produtos e servios da biblioteca universitria.

Referncia digitalO servio de referncia nas bibliotecas, que se originou em torno das necessidades e caractersticas associadas impresso em papel, se tornou o principal ponto de contacto para os estudiosos pedirem ajuda no exerccio da sua pesquisa entre os acervos da biblioteca. Normalmente, o servio de referncia era executado prximo a uma coleo de livros de referncia que representava compilaes de informaes teis sobre quase todos os assuntos. Mas os bibliotecrios de referncia geralmente trabalhavam com acervos e fontes de informao alm daquelas do acervo de referncia. No exerccio das suas funes eles tanto respondiam as perguntas que eram direcionadas como tambm criavam bibliografias e/ou guias bibliogrficos que eram teis para informar os usurios, notadamente os estudantes, antes que as perguntas fossem geradas. Como o volume de conhecimento publicado cresceu e as pesquisas bibliogrficas se tornaram mais complexas, isto veio comprovar que esses bibliotecrios realizaram tarefas importantes durante dcadas.

Vale ressaltar, entretanto, que por sua prpria natureza, o servio de referncia constitui um elo interativo entre duas pessoas (bibliotecrio-usurio). Este fato fez com que o seu raio de ao se restringisse a uma parte limitada da comunidade acadmica e, segundoHernon e McClure(1986), sofresse presses para mudanas nos ltimos 25 anos. Nesse perodo, essa presso foi acelerada por uma migrao macia de informaes de referncia para o formato digital e uma reduo significativa na demanda por servios de referncia. No perodo de 1991-2007, segundo dados coletados pelaAssociation of Research Libraries, houve uma reduo de 51% no atendimento do servio de referncia das bibliotecas universitrias americanas e canadenses (Arl, 2008, p. 9).

Essa acentuada reduo pode ter sido ocasionada pelo crescimento no uso da internet no campus e o crescente percentual de documentos disponveis no formato digital. Por outro lado, a biblioteca universitria no ficou inerte e passou a oferecer e expandir a oferta de produtos e servios de referncia por meio da internet. Essa nova referncia, tambm denominada referncia digital, agora tambm pode ser contatada via bate papo em linha, correio eletrnico, redes sociais (entre elas o Twitter e o Facebook), telefone celular, telefone via internet (IP phone)e tambm continua atendendo por meio da centenria rede de telefone fixo. visvel, portanto, que o servio de referncia torna-se cada vez mais virtual. Entretanto, isto no quer dizer que ele possa ter a pretenso de atingir todos os membros da comunidade acadmica; os usurios, cada vez mais, querem respostas quase que instantneas. obvio que a referncia no ter condies de atender a todos, com o mesmo grau de presteza e qualidade. Este , portanto, o grande desafio para os prximos anos: como manter um servio de atendimento pessoal? As atuais ferramentas da chamadainternet 2.0ainda precisam ser adaptadas s caractersticas e demandas direcionadas ao servio de referncia. Sem o apoio desse potencial tecnolgico, em longo prazo, a continuidade desse tipo de atividade na biblioteca universitria poder sofrer desgastes.

Repositrio eletrnicoO repositrio eletrnico algo recente em nosso contexto. Ele est ligado a criao e manuteno de colees de dados e documentos armazenados e gerenciados por uma biblioteca universitria. Na prtica, uma operao anloga manuteno dos materiais de uma biblioteca fsica e, muitas vezes, relaciona-se construo local de bibliotecas digitais. Em sua fase inicial o repositrio era basicamente constitudo por documentos que foram convertidos para o digital a partir de outro formato e os que originalmente nasceram digitais.

No final da dcada de 1990, um segundo tipo de repositrio surgiu: o repositrio institucional (RI). Ele foi at certo ponto um subproduto da crise ocorrida entre as instituies de ensino superior e as grandes editoras de peridicos tcnico-cientficos. Estas, utilizando polticas de restries de direitos autorais e elevados custos das assinaturas de seus peridicos provocaram umarevoltadas grandes universidades e de suas bibliotecas que passaram a exigir o direito de publicarem as obras de seus docentes e as disponibilizarem de forma mais livre.Foi a partir da que possibilitou o surgimento, em 2002, de projetos com softwares livres como oDSpacee o movimento dos arquivos abertos. Em decorrncia desses fatos, em menos de uma dcada aconteceram enormes transformaes e a biblioteca universitria passou a ser criadora de recursos digitais, isto de documentos que resultam das pesquisas e do ensino, como pr-publicaes, teses e material didtico. Esses materiais, cada vez mais reunidos em repositrios institucionais, tm um contedo informativo e cientfico s vezes extraordinrio, desde que sejam organizados como uma biblioteca digital, com acurada seleo qualitativa da coleo e dos metadados, com garantia de preservao dos recursos no tempo, com modalidades de acesso garantidas aos usurios destinatrios do servio e a todos os demais, por meio de portais e outras interfaces (Tammaro, 2008, p. 143).

Nos ltimos anos visvel o crescimento da produo sobre repositrio institucional, RI na literatura biblioteconmica. Tambm tem havido muita discusso sobre eles depois queHarvarde outras universidades adotaram a poltica do acesso aberto e criaram o repositrio institucional nos quais os docentes pudessem depositar os seus trabalhos. Isto incluiu no apenas artigos de peridicos, mas a chamada literatura cinzenta: documentos de trabalho, conjuntos de dados de pesquisas, palestras, slides de aulas e outros materiais dos quais, geralmente, os editores comerciais passam ao largo. Os repositrios institucionaais ainda no provocaram uma revoluo no acesso aberto, mas tm possibilitado que os resultados das pesquisas possam ser mais acessveis e visveis.

Um detalhe importante e, muitas vezes no percebido, que os metadados dosRIso indexados pelos mecanismos de busca. Isto significa que uma pessoa comum, distante do mundo acadmico, com acesso internet, fazendo uma determinada busca no Google, por exemplo, pode explorar a literatura tcnico-cientifica ebaixaro documento que lhe interessa. Entretanto, vale a pena mencionar aqui que o grande problema no encontrar usurios para o contedo dos RI; a dificuldade receber a contribuio dos autores! Portanto, as bibliotecas universitrias precisam investir no marketing dos RI e tentar amenizar essas resistncias. O valor potencial dosRI dependente da cooperao dos professores e pesquisadores para depositar os seus trabalhos (Quinn, 2010).

Como j bem observouTammaro(2008, p. 186), preciso ponderar que os repositrios institucionais exigem muito mais do que uma simples organizao de arquivos multimdia, pois representam uma verdadeira organizao do conhecimento de uma instituio. Criando e mantendo os arquivos digitais, resolvendo as dificuldades relacionadas com o gerenciamento dos direitos autorais, esses fatores facilitam o crescimento do repositrio institucional no campus e do uma slida sustentao para o futuro das bibliotecas universitrias.Inovaes e tecnologiasEm 2008, o Online Computer Library Center (OCLC)contratou uma empresa especializada em avaliaes de risco para clientes corporativos com o objetivo de identificar os riscos mais significativos que poderiam afetar a vida das bibliotecas universitrias norte-americanas. Esta ao foi imaginada na suposio de que as mesmas tcnicas utilizadas para analisar os riscos, habitualmente empregadas em contextos competitivos da rea privada, pudessem tambm ser testadas em reas tradicionalmente mais conservadoras, como o caso das organizaes vinculadas ao setor cultural e educacional, como so as bibliotecas universitrias. Para este grupo de organizaes relacionadas, ao invs de qualquer biblioteca individual, foi examinado o setor como um todo, procurando obter respostas s seguintes indagaes: Em um ambiente de informao em rpida evoluo, quais so os maiores riscos para as bibliotecas universitrias? Individualmente, como prestadoras de servios locais; Coletivamente, como uma organizao distribuda. Qual desses riscos suscetvel a atenuao? A viabilidade: um risco controlvel? O impacto: vale a pena o investimento para reduzir os riscos? Onde a forma coletiva pode fazer a diferena?A anlise dos resultados dessa pesquisa foi divulgada em meados de 2010. Nela, os autores reconhecem que a biblioteca universitria dentro de um ambiente acadmico diferente das organizaes independentes individuais que passam por esse tipo de processo de avaliao de risco. Tambm ponderaram que:"a biblioteca universitria no independente da misso de sua instituio de origem. No inteiramente livre para definir e alterar metas e objetivos. um centro de custo dentro da academia, no uma entidade geradora de sua prpria receita. Muitas vezes, o destinatrio de instrues especficas e limitaes ditadas pela universidade que oferece os seus servios. Devido a essas diferenas, a gama de respostas que os gestores da biblioteca de pesquisa podem reunir para enfrentar os desafios e riscos reconhecidos so bastante limitadas em relao as suas contrapartes da indstria privada" (Michalko; Malpas; Arcolio, 2010, p. 5).

Cooperao bibliotecriaEm momentos de muitas presses para mudanas, as bibliotecas voltam a pensar na necessidade de maior cooperao entre elas. hora de compartilhar mais. Um bom exemplo desse esprito cooperativo o Borrow Direct, um catlogo coletivo em linha, com um acervo de mais de 40 milhes de volumes, no qual participam as bibliotecas das universidades da chamadaIvy League,a saber:Brown, Columbia, Cornell, Dartmouth College, Pennsylvania, Princeton e Yale. Por meio desse sistema, alunos, professores e funcionrios podem fazer busca nesse catlogo e solicitar, via entrega rpida, o emprstimo dos documentos necessrios para atender suas necessidades informacionais. (Cornell University Lobrary)E no Brasil? Por que no temos este tipo de emprstimo entre bibliotecas? A estrutura que hospeda o catlogo coletivo de livros existe! aRede Bibliodataque, em julho de 2010, contava com 32 instituies de ensino superior e um catlogo com mais de um milho e oitocentos mil registros (FGV). Infelizmente, devido a problemas estruturais junto sua mantenedora, aFundao Getulio Vargas, a Rede Bibliodatatem perdido adeses importantes, como a Universidade Federal de Minas Gerais. Caso ela contasse com a compreenso e apoio das nossas bibliotecas universitrias, poderia, sem sombra de dvidas, realizar alm da catalogao, outras atividades cooperativas, como, por exemplo, as seguintes:a) aquisio cooperativa de livros, outros materiais, produtos e equipamentos, aproveitando o poder de compra advindo de um grupo de bibliotecas;b) treinamento dos recursos humanos visando a mant-los atualizados e ajudar as organizaes a crescerem;c) solues tecnolgicas inovadoras com a rpida implantao de novos programas;d) ponto focal para aes colaborativas com outras instituies;e) poder de lobby junto s autoridades educacionais, notadamente numa poca em que no existe mais um setor para as bibliotecas universitrias junto ao Ministrio da Educao;f) programa conjunto de digitalizao em massa;g) expanso de produtos e servios digitais;O avano do setor privado no contexto universitrio aparentemente est provocando reaes junto rea pblica. Isto ficou visvel na reunio, realizada em 3 de agosto de 2010, na qual compareceram os reitores das universidades federais de Alfenas, Itajub, Juiz de Fora, Lavras, So Joo del-Rei, Ouro Preto e Viosa. Eles discutiram a criao de um consrcio reunindo sete instituies de ensino superior, IES de Minas Gerais. Juntas, as sete instituies atendem a 41 mil alunos de graduao em 260 cursos presenciais, alm de 5.300 alunos de ps-graduao em 111 programas de mestrado e 59 de doutorado. Segundo o comunicadoo consrcio nasceu de forma natural porque essa a nica regio do Brasil e talvez do mundo que rene sete universidades com excelncia comprovada em um raio de 200 quilmetros. ... Um estudante de qualquer curso passar a ter um elenco de disciplinas muito maior sua disposio. Ele poder cursar uma disciplina em sua instituio ou em outras seis universidades, usar os laboratrios, os equipamentos. Isso otimiza recursos e d mais resultados para a sociedade (Reitores, 2010).

claro que as bibliotecas dessas sete instituies de ensino superior devero estar interligadas e buscar objetivos comuns. Espera-se que, semelhana de outros exemplos, seja criado um catlogo coletivo desses acervos e fornecidos produtos e servios informacionais integrados. Parece que o Brasil est mudando e isso alvissareiro!

Consideraes finaisA tecnologia est mudando a forma dominante dos suportes fsicos da informao, a partir do impresso para o eletrnico. Essa mudana, por sua vez, irrevogvel; altera as maneiras pelas quais as pessoas criam, localizam e processam as informaes. Como resultado deste novo contexto, as bibliotecas, notadamente as universitrias, devem evoluir adaptando as suas filosofias, misses e processos.

A aplicao dos avanos tecnolgicos realizada de forma mais eficaz caso leve em conta as necessidades do usurio. Uma vez sendo essas necessidades identificadas, os bibliotecrios e os gestores universitrios podero criar espaos flexveis, programas inovadores, adaptveis e produtos e servios que forneam informaes de forma adequada para usurios individuais. Eles podero formar colaboraes e parcerias que resultem na evoluo do desenvolvimento econmico e de modelos de funcionamento, produtos e servios da biblioteca. Eles podero criar bibliotecas digitais em ambientes acadmicos e comunidades que iro mudar a natureza da descoberta cientifica.

medida que a biblioteca caminha para a era digital, a mudana ser inevitvel, indo muito mais do que a oferta de livros eletrnicos. A misso e a existncia da biblioteca universitria esto sendo questionadas. Se o servio de auto-atendimento prevalecer, ento o papel do bibliotecrio deve mudar e suas interfaces com os usurios devem acompanhar essas alteraes. O problema que nessas mudanas existem inmeras questes culturais, tecnolgicas e comerciais, mas o principal fio condutor delas deve ser a reduo dos custos da biblioteca e o aumento da qualidade dos servios e produtos disponveis a usurios locais e remotos. Portanto, a busca por qualidade, por entrega mais rpida ao usurio do documento e/ou informao e da sustentabilidade, possivelmente sero os grandes desafios a serem enfrentados pelas bibliotecas nos prximos anos.

Neste ponto vale a pena relembrar algumas das Cinco Leis da Biblioteconomia elaboradas porS. R. Ranganathan, onde foi enfatizado o valor do tempo e a necessidade de poupar o tempo do usurio. Assim, cabe aqui o esprito da tripla injuno:a cada livro o seu leitor, cada leitor o seu livro e poupe o tempo do leitor. Neste contexto deciberespao, como os recursos se tornam mais abundantes e como o tempo se torna escasso que precisamos adotar fielmente os sbios ensinamentos do Mestre Indiano.

Ao explorar as possibilidades do sculo XXI, os bibliotecrios podem assegurar a relevncia e o valor dos servios que eles e suas instituies fornecem. No entanto, mesmo que seja alterada a natureza da biblioteca universitria e do trabalho do bibliotecrio, este profissional continuar a desempenhar um papel essencial na prestao desses servios. A natureza do ambiente pode mudar, mas a necessidade de um navegante experiente e bem preparado permanecer.

Para finalizar, creio que as bibliotecas esto aqui para ficar, porque elas tm um forte instinto de sobrevivncia. Elas criaram uma relao de interdependncia com as comunidades a que servem e, mais importante, elas sabem como se adaptar evoluo do mundo sua volta. Fico sempre impressionado com as coisas criativas que tm surgido nas bibliotecas. Como Eleanor Roosevelt disse certa vez:O futuro pertence queles que acreditam na beleza de seus sonhos. Neste momento, existe um monto de sonhos lindos que esto sendo criados e implantados e que, certamente, iro ajudar a formar as bibliotecas universitrias do amanh.Referncias BibliogrficasABRAM, Stephen Abram. The Value of Libraries: Impact, Normative Data, and Influencing Funders. Sirsi OneSource, May 5, 2005. Disponvel em:http://www.imakenews.com/eletra/mod_print_view.cfm?this_id=396335&u=sirsi&issue_id=000072758&show=F,T,T,T,F,Article,F,F,F,F,T,T,F,F,T,TAcessado em: 10/07/2010.ASSOCIATION OF RESEARCH LIBRARIES. ARL Statistics 20062007. 2008. 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Sobre os autores / About the AuthorMurilo Bastos da [email protected] em Library and Information Science, University of Michigan. Professor titular da Faculdade de Cincia da Informao da Universidade de Braslia.