A BIENAL DE CÁ PARA LÁ

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A BIENAL DE CÁ PARA LÁ Ana Carolina Roman Luciano Nascimento Figueiredo Regina Teixeira de Barros Yuri Quevedo

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A BIENAL DE CÁ PARA LÁ

Ana Carolina RomanLuciano Nascimento FigueiredoRegina Teixeira de BarrosYuri Quevedo

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Contexto do texto

• Publicado no livro Arte Brasileira Hoje, em 1973, mas foi redigido em 1970.

• Encomenda da editora Paz e Terra para um projeto organizado por Ferreira Gullar.

• O período entre a escrita e a publicação foi devido ao exílio de Mário e à clandestinidade de Gullar.

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Introdução

• Diacronia esquemática da formação econômica e cultural brasileira;

• Conjuntura cultural e econômica da instauração da bienal;

• Importância das bienais para o desdobramento da arte moderna no Brasil.

• Divisão do desenvolvimento da arte moderna brasileira em três períodos.

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Para estruturar seu panorama Mário Pedrosa, utiliza as noções de:

• Infra e superestrutura (Marx);

• Desenvolvimento desigual (Marx), desenvolvimento combinado (Trotsky);

• Destruição criativa (Schumpeter);

• Modelo de desenvolvimento industrial via substituição de importação (Celso Furtado).

Diacronia esquemática da formação econômica e cultural brasileira

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Diacronia esquemática da formação econômica e cultural brasileira

TESE

• O desenvolvimento combinado nos condena a uma modernidade enjambrada (torta devido ao choque entre o modelo importado e as características da cultura local) que solapa a memória e dificulta o desenvolvimento de uma cultura emancipada.

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Diacronia esquemática da formação econômica e cultural brasileira

• Brasil colonia - Tráfico Negreiro - Barroco.

• Independência - Importação de produtos industrializados ingleses - Formas neoclássicas (França e Itália).

• A partir de 1930 - Intervenção estatal - Arquitetura Moderna.

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Diacronia esquemática da formação econômica e cultural brasileira

• E “... depois da guerra, ao fim da ditadura, mas com a intensificação do segundo surto de industrialização, importam-se estruturas tecnológicas inteiras, formas de comércio mais complexas, a fórmula intacta da Bienal de Veneza e as formas mais atrevidas das artes plásticas.” p. 447.

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Conjuntura cultural e econômica da instauração da bienal

• A Bienal foi instituída sem maiores pretensões.

• A rede de relações do seu fundador com o poder público foi central para seu vicejar.

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Conjuntura cultural e econômica da instauração da bienal

• Bienal x MAM

• Para Lourival Gomes Machado isso era um problema, para Ciccillo não.

• Este um capitão de indústrias aos moldes schumpeterianos - ‘Destruição criativa’

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Conjuntura cultural e econômica da instauração da bienal

A conjuntura econômica era favorável ao desenvolvimento da Bienal:

• Aumento do mais-valor acumulado pela burguesia paulistana;

• Maior parte dos empreendedores eram europeus com certa bagagem cultural e desejavam atuar no setor da cultura que dá “prestígio, satisfação e são fonte de gozo e lazeres.” (p. 443)

• O que a Bienal oferecia combinava esses dois aspectos.

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Importância da Bienal para a arte brasileira

• “...arrancar o Brasil de seu doce e pachorrento isolacionismo” (p. 447)

• São Paulo se consolida como polo de irradiação artística no Brasil;

• O Brasil se consolida como polo de articulação artística na América Latina.

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Importância da Bienal para a arte brasileira

• Lançou a arte brasileira na arena internacional;

• “As leis do mercado capitalista não perdoam: a arte, uma vez que assume o valor de câmbio, torna-se mercadoria como qualquer presunto.” (p. 448)

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A I Bienal

Convidados artistas de maior renome nos círculos artísticos.

• Segall, Portinari e Di Cavalcanti – Pintura

• Brecheret e Bruno Giorgi - Escultura

• Oswaldo Goeldi e Lívio Abramo – Gravura

• Ausências significativas: Anita e Tarsila. Guignard, Volpi e Pancetti.

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Entre a Semana e as bienais

MP identifica 3 fases da arte moderna no Brasil

• 1. Da Semana à Revolução de 1930: artistas “presunçosos”,

individualistas; elitista

• 2. De Vargas à I Bienal: “Fase intermediária” – protagonismo da

arquitetura (arte coletiva, conotação social)

• 3. “Fase das Bienais”: hegemonia da pintura (volta ao

individualismo)

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Intervenção do Estado na economia, política e cultura.

Alguns marcos do período:

- “surto sensacional da arquitetura moderna no Brasil”

● Vanguarda; experimentação com materiais novos;

● Reconhece um mérito importante do Estado;

● Em SP: iniciativa de particulares;

● Precursor: Warchavchik

● nomeação de Lúcio Costa para a direção da ANBA (Salão de 1931)

● Projeto do Ministério da Educação e Cultura = obra de arte total

2a fase

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Ministério da Educação e Saúde (1935-1942), com painéis de Portinari e jardins de Burle Marx

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Família Artística Paulista

● Cambuci/Brás x Higienópolis (associado à Semana)Edifício Sta Helena x Teatro MunicipalVolpi “perfeitamente qualificado para tomar

parte na Semana;faltava-lhe, porém, o status social”

● Trabalhadores, concentram-se em questões do métier.

CAM, “uma tribuna de debates”; destaque para artistas sociais, engajados na luta de classes;

Clubes de arte moderna são substituídos pelo Sindicato

Posam alguns artistas do Grupo Santa Helena, 1937

Tarsila profere conferência sobre arte da URSS no CAM, 1934

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Às vésperas da Bienal

2 exposições relevantes no período:

Calder, no RJ

● originalidade, humor, uso de materiais efêmeros

● 1o artista norte-americano a se apresentar no Br (sem apoio oficial)

Max Bill, em SP

●anti-romantismo

●arte calculada matematicamente

Calder no MAM-RJ. Foto: Marcel Gautherot

Max Bill, no MASP. Foto publicada na revista Habitat

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“E que mais?”

- Escolinha de Arte de Augusto Rodrigues – artes plásticas, dança, teatro, poesia; fundamentação na Educação pela arte, de Herbert Read (liberdade de expressão);

- Nise da Silveira, Centro Psiquiátrico do Engenho de Dentro: arte virgem

e Osório César com Hospital do Juquery: exposições pioneiras

ambos rompem com a “estreiteza de concepções convencionais” em relação à natureza do fenômeno artístico.

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Época das Bienais

Bienal – um momento de alargamento das fronteiras artísticas

brasileiras.

-1951/53 - O triunfo da Abstração sobre o Velho

Figurativismo.

-1951/53 - A qualidade e reconhecimento da abstração

geométrica ante a proposta “Tachista”; romântica e

subjetiva.

-Tentativa do júri de conciliar a velha geração modernista e

a nova em ascensão – Volpi e Di Cavalcanti.

-1957 - A retomada da natureza como matriz em

detrimento da geometria – Krajcberg e Weisseman.

-1959 - A vitória da abstração informal com Manabu Mabe

– de gosto pequeno-burguês.

-1961 - Lygia Clark ganha o prêmio com Bichos – a

contemplação não é mais essencial para o gozo estético.

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-Defesa da abstração geométrica – “a forma mais severa e

duradoura que tomou o abstracionismo”.

-Breves comentários de artistas precursores e participantes da

abstração, do movimento concreto e do “neoconcreto”.

-Precursor: Cícero Dias – abstrato.

-Aglutinadores: Waldemar Cordeiro - jovens paulistas. Ivan

Serpa - jovens cariocas.

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-Uma nova sensibilidade brasileira - Peso da nova

arquitetura brasileira – disciplina formal construtiva/

problema estético social da integração das artes.

-A ordem contra o caos – ordem ética contra o informe;

-Opõe-se a tradição de acomodação ao existente. Ao

romantismo frouxo que sem descontinuidade chega ao

sentimentalismo.

-Pressão da natureza tropical não-domesticada,

cúmplice do conformismo e na conservação da miséria

social que a grande propriedade fundiária e o

capitalismo internacional produzem incessantemente.

- Joge Lampe (1959) – surpreende-se com a voga da

geometria em país “indesenvolvido” e tropical. E afirma,

que essa tônica só pode ser lida como “reação” ou

“defesa” contra a “circunstância ameaçadora” e o “caos

borbulhante”.

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Crítica à despreocupação com a educação – a Bienal nunca se

preocupou com informar o público.

-Apesar da importância e relevância das Bienais – o publico

assimilou muito pouco do que lhe foi mostrado.

Crítica à despreocupação com a documentação - A desinformação

sobre o que aconteceu nas Bienais é quase total.

Crítica aos críticos – sem capacidade “degustativa” ou “digestiva”;

-Custam a entender e quando entendem não estão preparados

para uma nova onde de novidades na edição seguinte.

-É necessário ter uma visão global do conjunto do fenômeno

artístico da época.

-“sem faniquitos de impaciência, sem timidez, sem seguidismo

acrítico ou bocó, sem frustrações de incompreensão, sem

negativismos, mas aberto e crítico!”

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Por dentro e por fora das bienais

- Bienais, para o autor, "vão se repetindo enfadonhamente".

- Prêmios como jogos entre marchands; conchavos políticos e personalistas. Pedrosa se questiona sobre a existência de critérios objetivos e sobre a validade da premiação por categorias tradicionais (pintura, escultura, gravura e desenho). Qual espaço para a experimentação?

Representações brasileira e alemã na IV Bienal, 1955

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- IX Bienal (1967): inovações radicais que começaram a aparecer a partir da década de 1960 passam a se expandir. Destaque para a sala de Julio Le Parc, Tinguely e para a "série infindável de proposições que pedem a participação pública"(p. 497).

- retomada do conceito de destruição criativa

"O público ou o povo, em tudo que se mete em massa, e com prazer, é em si mesmo bárbaro, condição, aliás, para todas as iniciativas"

"O povo consagra a arte nova"(p. 497)

Autoria: Gobel Weyne Fonte: Fundação Bienal de São Paulo

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- Bienal de 1969 como um fracasso: momento em que as manifestações coletivas de arte estão em crise em toda parte.

"A arte é um esforço perene de superação da consciência dilacerada"(p. 498)

- artistas que participaram e aquele que ficaram fora das bienais.

- O autor recorre a construção de Brasília como uma espécie de metáfora para o campo das artes: "Uma revolução precisa passar e varrer o Brasil como um tufão"(p. 502)

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Dentre aqueles que ficaram fora, Pedrosa destaca:

- artistas fora do tempo - para quem pesam os condicionamentos primários, biológicos e psíquicos.

- "descompasso entre eles e nós, quanto às atividades coletivas e obrigatórias do cotidiano, quando às ideias e às modas que moldam ou entre nós circulam": José Antonio da Silva, Raymundo de Oliveira, Darcílio Lima.

- artistas "'fantásticos' e 'ingênuos'" de seu tempo.

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- Elaboração própria no campo criativo brasileiro após penetração movimentos internacionais, do tachismo e do informalismo.

Bichos, de Lygia Clark + Não Objeto, Ferreira Gullar

Pangolé e Penetráveis, de Hélio Oiticica

Multidões e Ônibus, de Rubens Gerchman

Antonio Dias

Roberto Magalhães

- A Arte Ambienal e o ambiente carioca

- São Paulo e a Arte Cibernética, experiências de Amélia Toledo, Rezende, Tomoshigue, e outros.

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- "Daí surgiram, ao lado das produções ainda manipuladas e manipuláveis para o mercado da arte, as mais desabriadas ou as mais niilistas experiências atuais por aqui e pelo mundo. Elas se entregam, consciente ou inconscientemente, a uma operação inteiramente inédita com esse caráter extrovertido de massa nas sociedades burguesas ou nas sociedades em geral: o exercício, mas o exercício experimental da liberdade"(p. 508)

- sobrevivência da arte em uma civilização em naufrágio