A Biodanza de Rolando Toro e a Psicoterapia de Carl Rogers | Por Maria Regina Hesketh Nobre

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INTERNATIONAL BIOCENTRIC FOUNDATION ASSOCIAÇÃO ESCOLA DE BIODANZA DO RIO DE JANEIRO Sistema Rolando Toro “ A BIODANZA DE ROLANDO TORO E A PSICOTERAPIA DE CARL ROGERS ” MARIA REGINA HESKETH NOBRE Monografia apresentada à Associação Escola de Biodanza Rolando Toro do Rio de Janeiro, como requisito parcial para obtenção do Título de Facilitador de Biodanza. Orientadora: GLADYS TRINDADE DE ARAÚJO Professora Didata de Biodanza Março, 2008

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INTERNATIONAL BIOCENTRIC FOUNDATION

ASSOCIAÇÃO ESCOLA DE BIODANZA DO RIO DE JANEIRO

Sistema Rolando Toro

“ A BIODANZA DE ROLANDO TORO

E A

PSICOTERAPIA DE CARL ROGERS ”

MARIA REGINA HESKETH NOBRE

Monografia apresentada à

Associação Escola de Biodanza

Rolando Toro do Rio de Janeiro,

como requisito parcial para

obtenção do Título de Facilitador

de Biodanza.

Orientadora:

GLADYS TRINDADE DE ARAÚJO

Professora Didata de Biodanza

Março, 2008

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MONOGRAFIA APRESENTADA À ASSOCIAÇÃO ESCOLA DE

BIODANZA ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO E APROVADA

PELA COMISSÃO JULGADORA FORMADA PELOS DIDATAS:

______________________________

GLADYS TRINDADE DE ARAUJO

Orientadora: Facilitadora Didata

International Biocentric Foundation

Reg. nº RJ 9719

______________________________

DENIZIS ASSIS TRINDADE

Facilitadora Didata

International Biocentric Foundation

Reg. nº RJ 0139

________________________________

TÂNIA DO NASCIMENTO TORRES

Facilitadora Didata

International Biocentric Foundation

Reg. nº RJ 0145

Visto e permitido a impressão

Rio de Janeiro, de março de 2008

_____________________________

ANTONIO JOSÉ SARPE

Diretor da Associação Escola de Biodanza

Rolando Toro do Rio de Janeiro

International Biocenter Fundation

Registro SP 8515

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À memória de minha querida Mãe,

MARIA LEONOR HESKETH NOBRE DE ARRUDA

grande e melhor Amiga,

eterna incentivadora de meus projetos de vida.

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AGRADECIMENTOS

A Rolando Toro, pela genialidade da criação do Sistema Biodanza;

À Gladys T. Araújo, pela competente orientação dada a este trabalho;

À Denizis Trindade, por seu carinho, apoio e incentivo constantes;

A Antonio Sarpe, diretor da Associação Escola de Biodanza do Rio de

Janeiro, por sua atenção e compreensão;

À Tânia Torres, pela disponibilidade de participar da banca avaliadora;

À Ilozair Antunes, pelo material de pesquisa fornecido a este trabalho;

A todos os Facilitadores pelos quais eu passei em grupos regulares;

jornadas, maratonas, seminários e congressos;

Aos colegas e amigos de todos os grupos dos quais eu participei;

Aos alunos e ex-alunos de Biodanza da Casa Dercy Gonçalves e do

Posto de Saúde Municipal João Barros Barreto.

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RESUMO

O presente trabalho visa apontar os aspectos em

comum existentes entre a Psicoterapia de Carl Rogers e o Sistema

Biodanza de Rolando Toro. A analogia entre as duas abordagens faz

parte da grandiosa corrente humanista, que luta pela valorização do

Ser Humano e acredita que cada pessoa tem a responsabilidade e a

capacidade de propiciar vida à sua própria vida.

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ABSTRACT

This work purposes to show the points of

similitude between Carl Rogers Psychotherapy and the Biodanza

System from Rolando Toro. The analogies between the two

approaches belongs to humanist current and they believe each person

has the responsibility and ability to provide life to his own life.

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SUMÁRIO

Página

Introdução – O Problema ................................................ 01

Capítulo I

Carl Rogers – A Abordagem Centrada na Pessoa

Trajetória ...................................................................... 02/05

Grupos de Encontro ...................................................... 06/09

Pressupostos da Teoria ................................................ 10/15

Capítulo II

Rolando Toro – A Conexão do Homem com a Vida

Princípio Biocêntrico .................................................. 16/18

A Biodanza .................................................................. 19/21

Modelo Teórico ........................................................... 22/23

Os Poderes da Biodanza ............................................. 24/26

Capítulo III

Operacionalização da Biodanza

O Grupo Regular – Características ............................ 27/28

Percepção da Facilitadora .......................................... 29/30

Conclusão ................................................................... 31/33

Bibliografia ..................................................................... 34

Anexos: A – Depoimento dos Participantes .................... 35

B – Reportagem Jornal “Extra” ......................... 35

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Beleza, Força e Confiança

Tudo isso é Biodanza

A Dança da Vida

A Dança do Amor

A Dança de mim

De minha carência e de minha potência

De minha luz

Que me seduz e me conduz

Que me envolve e me comove

(mas também me acolhe)

Eu, cheia de Esperança

E tudo isso é Biodanza!*

* Poema de minha autoria, escrito em Maio de 2007, após aula no Grupo Regular de Denizis Trindade

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APRESENTAÇÃO

Durante a faculdade de Psicologia, a linha

terapêutica que mais me atraia e me identificava era a da Psicoterapia

de Carl Rogers: A Abordagem Centrada na Pessoa. Ingressei em

cursos e grupos de estudos paralelos sobre Rogers e o seu

Pensamento. Após formada, já em Pós Graduação, escolhi me

especializar na “Terapia Rogeriana”.

A Psicoterapia para Rogers é um encontro entre

pessoas. Uma facilitando o processo de mudança da outra, caso essa queira

e permita. Carl Rogers vê o Psicoterapeuta realmente como um Facilitador.

Foi ele o primeiro a introduzir o termo facilitator para assim denominar “a

pessoa que estava no papel de terapeuta”.

Participei também de Grupos de Encontro da

Abordagem Centrada. Um dos grupos que vivenciei, tive o privilégio

de estar com o próprio Carl Rogers e com seu staff da Califórnia. Esse

encontro aconteceu em Brasília durante dez dias. Chamou-se

“Vivendo em Harmonia” e foi um dos Encontros Latino Americano da

Abordagem Centrada na Pessoa.

Inúmeras foram às vezes, desde o meu primeiro

contato com a Biodanza, que me via sempre sendo remetida à Terapia

Rogeriana. Nos grupos regulares que freqüentava, em jornadas e

maratonas diversas, muito do que vivenciada, identificava a postura e

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o pensamento de Carl Rogers. E como Facilitadora, em fase de

Titulação, dando aulas de Biodanza, essa percepção se repete mais e

mais...

Este trabalho portanto, tem a finalidade de

apresentar os pontos em comum da Abordagem Centrada na Pessoa e

do Pensamento de Carl Rogers, com o Sistema Biocêntrico de

Rolando Toro.

O estudo está estruturado em três capítulos. O

Capítulo I se refere ao Psicólogo Carl Rogers, um resumo de sua

trajetória, levantando os pontos fundamentais de sua obra. Nessa

oportunidade, procura-se apontar alguns dos aspectos em comum

entre os dois autores. O Capítulo II se refere ao antropólogo Rolando

Toro, levantando também os pontos fundamentais de sua obra e de seu

trabalho. O capítulo III relata a experiência dessa autora na facilitação

de grupos de Biodanza, identificando os pontos em comum entre os

dois cientistas humanistas: Carl Rogers e Rolando Toro

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INTRODUÇÃO - O Problema

Considerando a essência do pensamento e do

trabalho de Carl Rogers, como também a de Rolando Toro, o criador

do Sistema Biodanza, é possível observarmos pontos em comum entre

as obras do Psicólogo norte americano, falecido em 1987 e a do

Antropólogo chileno ainda em plena atividade.

Dessa forma, cabe-nos a pergunta: Até que ponto

os pressupostos do Princípio Biocêntrico de Rolando Toro se

aproximam das idéias e do Pensamento de Carl Rogers? A resposta a

este questionamento será delineada no decorrer deste estudo, cujo

objetivo é a identificação do que há em comum entre esses dois

cientistas sociais e humanistas.

A analogia das duas abordagens está limitada, em

aspectos voltados para a afirmação de que o Homem é o senhor de sua

própria vida. A relevância deste estudo consiste na crença de que o ser

humano tem a capacidade de ser responsável pelo seu crescimento e

por suas escolhas e opções. Daí porque, um trabalho que enfatize a

grandeza da corrente humanista é, sem dúvida, uma contribuição à

própria vida.

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CAPÍTULO I

CARL ROGERS –A ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA

TRAJETÓRIA

Carl Ranson Rogers nasceu em Oak Park, Ilionois, Estados Unidos da

América, no dia 08 de janeiro de 1902. Ele foi o quarto de seis filhos

de uma grande família protestante, extremamente unida. Sua família

era regida por valores religiosos e morais muito rígidos e

intransigentes. Havia também um verdadeiro culto dado ao valor do

trabalho. Rogers e seus irmãos foram criados tendo sido sempre

incentivados para trabalhar duro e pesado. Mas seus pais

demonstravam constantemente grande afeto e preocupação ao bem

estar de todos eles. Controlavam bastante o comportamento de seus

filhos, porém sempre de forma afetuosa. Nada de álcool, nem danças,

jogos de cartas ou de espetáculos. Vida social por demais reduzida e

muito trabalho.

Aos doze anos, Rogers e sua família mudam-se para uma fazenda com

terreno muito fértil e estimulante, que o fez se interessar por

Agricultura e Ciências Naturais.

Quando ingressou na Universidade, Carl inicialmente se dedicou ao

aprofundamento de seus estudos em Ciências Físicas e Biológicas.

Após graduar-se na Universidade de Wisconsin, em 1924, Rogers

passou a freqüentar, como era aguardado diante das expectativas de

sua família, o “Union Theological Seminary, em Nova York, com o

objetivo de se preparar para uma missão religiosa. Felizmente, recebeu

nesse Seminário uma visão liberal filosófica da Religião.

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Os dois anos que passou no “Union” foram extremamente

enriquecedores para ele. Participou de um grupo revolucionário que

não se permitia receber idéias já feitas e sim o de explorar suas

próprias questões e próprias dúvidas e descobrir onde isso os levava.

O seu grupo chegou a solicitar à Administração que os deixasse organizar

um Seminário Oficial, sem diretor, cujo o programa fosse constituído pelos

seus próprios problemas. Embora perplexa diante da proposta, a

Administração aceitou o pedido. E este Seminário foi extraordinariamente

satisfatório e esclarecedor. Rogers tem certeza que esse grande evento (o

Seminário) o conduziu para uma filosofia de vida que era muito pessoal. E

a grande maioria dos membros do grupo, participantes do citado Seminário,

prosseguiu com suas vidas se dirigindo para o próprio caminho traçado

pelas questões que levantaram, deixando de lado a idéia de uma vocação

religiosa. Carl Rogers foi um deles.

Transferiu-se posteriormente para o Teachers College Columbia University,

quando então foi introduzido na Psicologia. E foi nesta Universidade que

obteve os títulos de Mestre em 1928 e o de Doutor em 1931.

Foi como interno do “Institute for Child Guidance” que aconteceram

as suas primeiras experiências clínicas, todas ainda baseadas no

Behaviorismo e na Psicanálise. E foi justamente neste Instituto, que

Rogers sentiu a forte ruptura entre o pensamento especulativo

freudiano e o mecanicismo medidor e estatístico do behaviorismo.

Após receber o seu título de Doutor, Rogers passou a fazer parte de

equipe do Rochester Center, do qual passaria a ser Diretor. Nesse

período, Rogers baseou-se muito nas idéias de Otto Rank, que havia

se separado da linha ortodoxa de Freud.

Foi trabalhando em Rochester, doze anos seguidos e altamente

preciosos, que Rogers atingiu novos “insights” e percepções do

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tratamento psicoterapeutico, ue o libertou da forte amarra acadêmica e

conceitual que havia (e ainda há) no ensino e prática da Psicologia.

A equipe com a qual trabalhava era bastante eclética, constituída por

pessoas das mais diversas procedências. As suas discussões sobre os

métodos de tratamentos baseavam-se em suas experiências pessoais e

diárias com os seus clientes ( crianças, jovens e adultos). Rogers

percebeu haver um esforço de um princípio transdisciplinar, que muito

significou para ele. E percebeu também a ordem que existe nas

experiências de cada um ao trabalhar com pessoas.

Em 1940, Rogers foi aceito na Universidade Estadual de Ohio.

Ofereceram-lhe a cadeira de Professor Efetivo, onde ficou por cinco

anos. Por ter passado muitos anos envolvido diretamente com a

clínica, a passagem para o meio acadêmico foi muito dura para ele.

Ficou claro que , durante seu trabalho ativo com clientes, ele tinha

atingido novas formas de pensar sobre a prática psicoterapeutica que

eram muito diferentes das abordagens acadêmicas convencionais. De

todo o modo, as críticas iniciais a que foi submetido e os interesses

que os estudantes demonstravam por seu trabalho e sua teoria, levou-o

a explanar com mais afinco seu ponto de vista, resultando uma série

de livros, principalmente “Counseling and Psychoterapy”, no ano de

1942.

Em 1945, Rogers tornou-se Professor de Psicologia na Universidade

de Chicago e Secretário Executivo do Centro de Aconselhamento

Terapêutico. Foi exercendo essa função, que ele elaborou e definiu

ainda mais o seu método da Terapia Centrada no Cliente.

Em 1957, foi para a Universidade de Wisconsin, onde passou a

ensinar, trabalhar e pesquisar até o ano de 1963. Essa Universidade foi

a mesma a qual se graduou.

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A partir de 1964, Carl Rogers associou-se ao Centro de Estudos da

Pessoa em La Jolla, Califórnia, entrando em contato com diversos

teóricos humanistas e filósofos como Buber e outros. Grandes e

valorosos trabalhos foram desenvolvidos nesse Centro de Estudos.

Carl Rogers, apesar de duras críticas também recebidas, foi

considerado por muitos cientistas, psicólogos, psiquiatras e

educadores entre outros, como um dos mais importantes psicólogos e

educadores humanistas, humanistas existenciais e/ou fenomenológicos

dos Estados Unidos da América e do mundo. Ele marcou não somente

a Psicologia Clínica, como também a Psicoterapia, a Administração de

Empresas e Escolas, o Aconselhamento Psicológico e Pastoral, a

Educação e Pedagogia, a Psicopedagogia, a Orientação Educacional e

até mesmo a Literatura, o Cinema e as Artes.

Obteve a indicação para o Prêmio Nobel da Paz e chegou a receber um

Oscar sobre sua prática, registrada em filme documentário.

Foram também realizados muitos filmes sobre o seu trabalho e

deixados vários documentos sonoros e audiovisuais que registram o

seu modo de ser como Psicólogo e Psicoterapeuta, principalmente

sobre os trabalhos realizados em grupos.

Foi extraordinária a contribuição e a dedicação de Rogers à dinâmica

da Psicoterapia de Grupo.

No ano de 1987, aos 85 anos de idade, ainda ativo,

morreu Carl Ranson Rogers.

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GRUPOS DE ENCONTRO

Grande e considerável foi a contribuição de Carl Rogers para o

trabalho desenvolvido com relação à dinâmica da Psicoterapia de

Grupo.

O Grupo para Rogers é um sistema auto-regulador onde cada pessoa

individualmente é parte fundamental constituinte do todo, ao mesmo

tempo que é o todo em si. Já se pode aqui fazer um paralelo entre Carl

Rogers e Rolando Toro. Nos grupos de Biodanza, as pessoas

individualmente são partes fundamentais constituintes do todo e são o

todo em si. Podemos ver isso claramente nas rodas de vivências. Se

apenas uma pessoa ficar parada, não será possível a roda se

movimentar. É fundamental, que como um todo, cada pessoa gire na

mesma velocidade. Cada um com o seu movimento, mas formando

um todo dentro do grupo e conseqüentemente, dentro do universo.

Os indivíduos em um grupo, percebeu Rogers, deixam-se envolver por

um clima terapêutico e o grupo em si é um organismo, verdadeiro

sistema auto-regulador. Outro paralelo se faz com a obra de Toro. Há

também um clima terapêutico nos grupos de Biodanza e do mesmo

modo, percebe-se ser um grupo de um sistema auto-regulador.

Os grupos de encontro para Rogers possuem um clima de segurança

psicológica que favorece o encorajamento e a expressão de

sentimentos, em função de estímulos gerados pelos membros do

próprio grupo, atingindo o envolvimento afetivo como um todo. Na

Biodanza, que é um sistema de integração afetiva, também nota-se um

clima de segurança psicológica, que igualmente favorece o

encorajamento, surgindo estímulos gerados pelos participantes

visando o envolvimento afetivo como um todo.

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Carl Rogers considera o desenvolvimento do grupo imprevisível. Mas

segue quase sempre um caminho auto-regulador e auto-dirigente, com

grande criatividade, chegando com eficácia a uma atuação terapêutica

e catártica grupal.

Rogers observou que quando o material afetivo significativo emerge,

as pessoas começam expressar umas às outras seus sentimentos

imediatos, tanto positivos quanto negativos. E quanto mais expressão

emocional vem à tona, aumenta a capacidade terapêutica do grupo

auto-regulador. Os participantes começam a se comportar de modo a

colaborar com os outros para que tomem consciência de sua própria

experiência de uma forma não ameaçadora.

Rogers, de Terapeuta Centrado no Cliente, passou também a ser líder

de Grupos de Encontro. Foi uma passagem quase inevitável. Ele

afirmava que as pessoas, não especializadas, poderiam também ser

terapeutas. E suas afirmações foram constatadas durante o

desenvolvimento do seu trabalho e de suas pesquisas. Na Califórnia

foi possível dedicar mais tempo para participar, estabelecer e

pesquisar este tipo de trabalho ou atividade em grupo.

O trabalho contínuo de Carl Rogers com Grupos de Encontro são

aplicações de sua teoria no livro “Grupos de Encontro”. Ele faz um

estudo dos fenômenos principais que ocorrem nos grupos que se

prolongam por vários dias. Apesar dos períodos de insatisfação,

ansiedade e incerteza, cada um desses períodos conduzem a um clima

de maior abertura, com menos defesa, com as pessoas se expondo

mais, conseqüentemente uma maior confiança em si, no outro e no

grupo. A carga emocional e a capacidade de tolerância tendem a

crescer a medida que o grupo segue o seu desenvolvimento.

Rogers trabalha o grupo como um fenômeno. É a partir do encontro

com o outro, das relações entre as pessoas, que os “fenômenos

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naturais” nos relacionamentos humanos começam a surgir. E é o

grupo que vai conduzir o seu próprio desenvolvimento.

Inicialmente há uma frustração a medida que o grupo percebe e toma

consciência que serão eles próprios, os participantes, que irão

determinar a forma pela qual o grupo irá se desenvolver.

As pessoas começam inicialmente pelo seu “eu exterior”, tendendo

naturalmente, mesmo com timidez e ambigüidade, a ir revelando algo

do seu “eu íntimo”.

Ainda como forma de resistência inicial, os participantes do grupo

compartilham sentimentos passados associados a pessoas ausentes no

grupo. As experiências passadas são mais seguras e com pouca

probabilidade de serem afetadas por crítica de apoio. Quando as pessoas

começam a expressar seus sentimentos presentes, o mais freqüente é serem

as primeiras expressões negativas. Os sentimentos profundos positivos são

muito mais difíceis e perigosos de exprimir que os negativos. Se uma

pessoa, por exemplo, diz que ama outra no grupo, pode ficar vulnerável

e exposta a mais terrível rejeição. Mas se diz que detesta, pode apenas ficar

sujeito a um ataque onde é possível defender-se.

Quando os sentimentos negativos são expressos e o grupo não se

desintegra, começa a aparecer um material com significado pessoal, sendo

ou não aceitável para os membros do grupo. O “clima de confiança”

começa a se formar e as pessoas começam a assumir riscos reais. Quando o

material significativo emerge, as pessoas começam a expressar umas as

outras seus sentimentos imediatos, tanto positivos quanto negativos.

Rogers percebe o desenvolvimento de uma capacidade terapêutica no

grupo. Quanto mais expressões emocionais vem à tona e sofrem as

reações dos participantes, as pessoas começam a fazer coisas que

parecem ser de grande auxílio, que ajudam os outros a tomar

consciência de sua própria experiência de forma não ameaçadora. Nos

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grupos de Biodanza também ocorre o desenvolvimento de uma

capacidade terapêutica e os participantes igualmente procedem

auxiliando os outros a tomar consciência de sua própria experiência.

Em qualquer Grupo de Encontro há o “feedback”. Cada membro que

reage a outro, pode obter um feedback à sua reação. Este pode ser

difícil de aceitar, mas uma pessoa, num grupo, não pode evitar

facilmente o conflito que poderá ou não surgir. Na metodologia da

Biodanza de Rolando Toro, também considera-se o “feedback”, porém

sem confrontações negativas.

Rogers chama de confrontação as formas extremas de feedback. Ele dizia

que há momentos em que o termo feedback é excessivamente moderado

para descrever as interações que se processam, momentos que é mais

correto dizer que um indivíduo se confronta com o outro diretamente, em

pé de igualdade. Essas confrontações podem ser positivas, como também

bastante negativas. E são justamente as confrontações que muitas vezes

conduzem os sentimentos a uma intensidade tal que um tipo de resolução

e/ou atitude faz-se necessário. Este é um momento de perturbação e

dificuldade para um grupo e, em potencial muito mais perturbador para os

indivíduos envolvidos.

Fica claro que quando o grupo demonstra de maneira eficaz que aceita

ou tolera os sentimentos negativos, sem rejeitar as pessoas que os

expressa, os participantes do grupo ficam dessa forma mais confiantes

e abertos uns com os outros.

Muitas pessoas quando falam de suas experiências nos Grupos de

Encontro, relatam como as experiências de aceitação mais empáticas e

positivas que aconteceram em suas vidas. Relatam também do calor

emocional que é gerado e de toda a capacidade que o grupo fornece

para o crescimento pessoal. Aqui percebe-se um sistema de integração

afetiva, como na Biodanza.

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PRESSUPOSTOS DA TEORIA

Carl Rogers rejeitou a idéia de que todo Ser Humano possui uma

neurose básica. Ele rejeitou essa idéia, após investigação científica e

defendeu que o núcleo básico da personalidade humana era tendente à

saúde e ao bem estar.

A partir dessa concepção básica, o seu processo psicoterapeutico se

desenvolveu. Esse processo consiste em um trabalho de cooperação

entre psicólogo e cliente, cujo objetivo é a liberação desse núcleo da

personalidade, obtendo-se com isso a descoberta ou redescoberta da

auto-estima, da auto-confiança e do amadurecimento emocional.

Nos grupos de Biodanza trabalha-se muito a auto-estima, a auto-

confiança e também o amadurecimento emocional. Durante as sessões

inclusive, há exercícios voltados para esse objetivo. A proposta da

Biodanza é um convite à vida, para que cada pessoa possa contatar

cada vez mais o seu núcleo básico, a sua essência, que é tendente à

saúde a ao bem estar.

Existem três condições básicas e simultâneas, necessárias e

suficientes, defendidas com ênfase por Rogers, que precisam estar

presentes na relação terapêutica. Serão essas condições que permitirão

ao cliente, no decorrer de sua terapia, descobrir e entrar em contato

com esse núcleo essencialmente positivo existente dentro dele. E esses

aspectos, tão fundamentais para a Terapia Rogeriana, também estão

presentes no Sistema Biodanza.

São as seguintes condições:

. Aceitação (Consideração Positiva Incondicional)

. Empatia (Ver com os Olhos do Outro)

. Congruência (Autenticidade do Terapeuta ou Facilitador)

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A Aceitação ou Consideração Positiva Incondicional consiste na

capacidade de receber e aceitar a pessoa como ela é. É expressar um

afeto positivo por ela, simplesmente porque ela existe, não sendo

necessário que faça algo ou que seja isto ou aquilo.

A Empatia consiste na capacidade de se colocar no lugar da pessoa,

ver o mundo através de seus olhos, o sentir como ela sente,

comunicando tal situação para ela, que receberá esta manifestação

como uma profunda e reconfortante experiência de estar sendo

compreendida e não julgada.

A Congruência ou Autenticidade do Terapeuta consiste na

capacidade do terapeuta ser ele mesmo. Quanto mais o facilitador

puder ser sincero, autêntico, transparente, maior a probabilidade de

que a pessoa mude e cresça de um modo construtivo. E o termo

“transparente” expressa a essência dessa condição. A pessoa (o

cliente) pode ver com clareza o que o facilitador é na relação; percebe

que não está diante de alguém com máscaras, e sim ao lado de uma

pessoa verdadeira. Na correspondência que surge entre as duas partes,

o cliente se ver estimulado a ser cada vez mais ele mesmo.

Rogers relata: “Nas minhas relações com as pessoas

aprendi que não ajuda, a longo prazo

agir como se eu não fosse quem sou...

Descobri que sou mais eficaz quando

me posso ouvir a mim mesmo aceitan-

do-me e quando posso ser eu mesmo”1

Na Abordagem Centrada na Pessoa, a psicoterapia rogeriana, faz-se

necessário que, para a aplicação de seu método, o terapeuta passe por

um processo de amadurecimento de sua própria pessoa. Não é

possível a esse psicoterapeuta (facilitador) apropriar-se da “técnica”,

antes que lhe seja próprio e natural agir conforme as condições

1 ROGERS, Carl R. Tornar-se Pessoa p.28

Page 22: A Biodanza de Rolando Toro e a Psicoterapia de Carl Rogers | Por Maria Regina Hesketh Nobre

colocadas e/ou estabelecidas por Rogers. Nota-se por exemplo, que

expressar incondicionalmente uma afetividade, só ocorre se emergir

ou brotar realmente de uma forma natural do próprio terapeuta. A

afetividade não há como ser simulada. E o mesmo vai ocorrer com a

Empatia e a Congruência. Em função desse acontecimento natural, é

que se pode dizer que não há uma “técnica rogeriana” e sim

psicoterapeutas ou facilitadores que mais se aproximam em sua

conduta pessoal e profissional da perspectiva e do pensamento de Carl

Rogers.

É importante também considerar, que após anos de muitos estudos e

pesquisas, concluiu Rogers, que as “três condições necessárias e

suficientes” enfatizadas por ele em sua Teoria, são eficazes como

instrumento que servirá para aperfeiçoar o relacionamento humano em

qualquer tipo de envolvimento interpessoal, seja na educação entre

alunos e professores, no campo profissional entre chefes e

subordinados, na família com pais e filhos, marido e mulher e na vida

em geral.

Uma das grandes características da Terapia Rogeriana, é a mesma se

voltar bastante para o presente, se preocupar com o realizar-se de cada

momento. É defendida a idéia de que toda a pessoa é capaz de

reestruturar suas respostas a medida que a experiência permite ou

sugere novas possibilidades. Todo e qualquer ser humano se encontra

comprometido em contínuo processo de atualização. Carl Rogers

considerou essa característica humana de “Tendência Atualizante”, e

que veio a se tornar um grande postulado de sua teoria.

Na obra de Rogers, temos como uma das idéias mais importantes, a de

que é a própria pessoa que é capaz de controlar o seu

desenvolvimento, e que ninguém mais pode fazer isso por ela. O

mesmo acontece dentro do processo da Biodanza.

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Carl Rogers é considerado um grande representante da corrente

“humanista” e “não diretiva” na Psicoterapia, como também na

Educação. Ele concebe o ser humano como essencialmente bom e

curioso, porém necessitando de ajuda para a sua evolução. Daí

surgindo a necessidade das Técnicas de Intervenção Facilitadoras.

A “não diretividade”, sua metodologia, é bem característica. Trata-se

de um método não estruturante do processo de auto conhecimento.

Rogers pressupõe que o Terapeuta (Facilitador) oriente o seu cliente

para as suas próprias experiências e que, a partir delas, ele (cliente) se

auto determine e governe.

A sensibilização, a afetividade e a motivação são fatores que Rogers

acredita como atuantes na construção do conhecimento.

Uma das críticas à Teoria de Rogers é que ela tende a ser utópica,

idealista, romântica e até mesmo irrealizável na opinião de alguns

críticos mais severos. Porém, são percebidos com destaque na obra

rogeriana os seguintes aspectos, entre outros: o “desejo de mudança” e

a “ intenção de realização de algo concreto”

Rogers se apresenta como sendo um psicólogo, dos quais um de seus

interesses principais, durante muitos anos, foi o da psicoterapia. E a

psicoterapia como sendo um processo de crescimento que vai sendo

realizado e/ou construído. É um processo que envolve as duas

pessoas, facilitador e cliente, quando juntos e maravilhados vêem as

forças poderosas e organizadas se manifestarem para o crescimento e

o encontro de si mesmo.

Rogers foi um terapeuta em atividade durante toda sua carreira

profissional. Sua teoria psicoterápica passou por diversas fases de

desenvolvimento e mudanças, mas alguns pontos básicos sempre

ficaram inalterados. São eles:

Page 24: A Biodanza de Rolando Toro e a Psicoterapia de Carl Rogers | Por Maria Regina Hesketh Nobre

. Uma abordagem que coloca peso maior sobre o impulso individual

direcionado para o crescimento, à saúde e o equilíbrio, visando

libertar a pessoa para o seu desenvolvimento normal.

. Uma terapia que dá muito mais ênfase para o lado afetivo de uma

situação do que para os aspectos intelectuais.

. Um processo terapêutico que dá muito mais ênfase para a situação

imediata do que para os aspectos do passado do cliente.

. Uma abordagem que enfatiza a relação terapêutica, valorizando-a

como uma experiência para o crescimento.

Rogers escolheu usar o termo “cliente” no lugar do tão tradicional

“paciente”. Para ele, paciente é visto geralmente como alguém

enfermo, precisando de ajuda de profissionais especializados e

superiores. A própria palavra “paciente” sugere alguém “passivo” ,

ficando em discordância com a sua teoria. O cliente, mesmo portador

de muitos problemas, é alguém capaz de compreender a sua situação e

que veio buscar um atendimento ou ajuda, por reconhecer não ser

possível resolver sozinho. A relação terapeuta e cliente pode ser

chamada de uma “relação horizontal”, isto é, há uma igualdade entre

as duas partes. As pessoas envolvidas estão se relacionando em um

nível de “igual para igual”. O mesmo não parece acontecer na relação

médico e paciente, que pode até ser chamada de “relação vertical”. O

médico parece estar em um “patamar superior” em relação a seu

“paciente”

A Psicoterapia para Rogers é definida como a liberação de

capacidades já presentes em estado latente. Para ele, o cliente possui,

potencialmente a competência necessária para a solução de seus

problemas. A psicoterapia é dirigida pelo cliente ou centrada no

cliente, já que é a sua pessoa que assume a direção que for necessária.

Page 25: A Biodanza de Rolando Toro e a Psicoterapia de Carl Rogers | Por Maria Regina Hesketh Nobre

Carl Rogers acredita que é o cliente que tem a chave de sua

recuperação. O terapeuta, então, deve ser possuidor de determinadas

qualidades para poder ajudar esse cliente a aprender como usar tais

chaves. Estes poderes implícitos no cliente, se tornarão efetivos, se na

relação estabelecida entre os dois existir compreensão e aceitação

suficientemente calorosas (afetividade). O terapeuta precisa ser

autentico, genuíno e não estar desempenhando um papel,

principalmente o de terapeuta, quando está diante do cliente. Ele é

apenas um facilitador do processo de mudança do cliente e também

um modelo de uma pessoa autêntica. Se o cliente confia que vai

receber uma resposta com honestidade, isso só tende a favorecer a ele

cliente, na busca do seu encontro consigo mesmo. O cliente precisa

saber que o terapeuta é autêntico, preocupa-se, ouve e compreende de

fato.

Terapeuta e cliente são co-responsáveis pelo processo psicoterapêutico.

Page 26: A Biodanza de Rolando Toro e a Psicoterapia de Carl Rogers | Por Maria Regina Hesketh Nobre

CAPÍTULO II

ROLANDO TORO - A CONEXÃO DO HOMEM COM A VIDA

PRINCÍPIO BIOCENTRICO

Rolando Toro nos apresenta sete paradigmas que sustentam a sua

proposta de criação do Sistema Biodanza. Os paradigmas são

pensamentos-chaves anteriores a uma formação teórica e

metodológica. Eles configuram a base conceitual da Biodanza.

O mais abrangente de todos os paradigmas é o Princípio Biocêntrico

que consiste em reconhecer a vida como centro do universo. A

própria vida sendo o referencial imediato. Existe o universo porque

existe a vida

O Princípio Biocêntrico significa “Conexão com a Vida”. Tem sua

prioridade absoluta em ações ligadas a conservação e evolução da

vida. Podemos aqui também observar o pensamento de Carl Rogers:

Ele acredita que não importa se o estímulo seja interno ou externo,

pois a natureza do processo chamado vida, tem sempre o

comportamento de seu organismo voltado para o crescimento e

reprodução.

Os demais paradigmas estão diretamente relacionados com o Princípio

Biocêntrico. São eles:

Princípio Neguentrópico de Amor e Iluminação - Neguentropia

significa imprevisibilidade. De acordo com esse princípio, é do ser

humano a capacidade de conduzir seu próprio processo evolutivo para

novas formas de otimização e grandeza, através do amor e de atos de

iluminação nele gerados. E assim, há a possibilidade de elevação da

qualidade de vida até atingir seu máximo esplendor e plenitude.

Page 27: A Biodanza de Rolando Toro e a Psicoterapia de Carl Rogers | Por Maria Regina Hesketh Nobre

Princípio de expansão da existência a partir do potencial genético

- De acordo com este princípio, cada ser humano possui um núcleo

genético único e diferenciado desde o seu nascimento com potencial

de expandir em seus múltiplos canais de expressão. Esses potenciais

genéticos são manifestados quando o homem encontra as condições

favoráveis a esse processo. E a Biodanza estimula a expressão desses

potenciais genéticos.

Princípio do Processo Biológico Auto-Induzido - De acordo com

esse princípio, os exercícios de Biodanza são capazes de proporcionar

processos de auto-regulação, reforçando a homeostase e conduzindo

cada pessoa, com suas características pessoais, a um processo

evolutivo.

Princípio de Pulsação da Identidade - De acordo com esse

princípio, a identidade não é cultural. Ela possui uma origem

biológica e se manifesta quando há o encontro com o outro.

Princípio da Permeabilidade da Identidade - De acordo com

esse princípio, a identidade é permeável à música e ao contato ou

presença do outro. As situações de encontro e os estímulos

musicais, durante as vivências de Biodanza, podem influenciar a

expressão da identidade, pois ela trabalha com a “gestalt” música-

movimento-vivência.

Princípio que o ponto de partida auto-regulador é a Vivência - De

acordo com esse princípio, a vivência é a percepção de estar vivo aqui

e agora e ela é capaz de estremecer com harmonia o sistema vivente

do ser humano. Não é a consciência o ponto de partida da Biodanza, e

sim a vivência. Todos os exercícios são para serem vivenciados e só

posteriormente conscientizados.

Todos esses paradigmas estão profundamente relacionados, que

poderiam formar apenas um único: O Princípio Biocêntrico.

Page 28: A Biodanza de Rolando Toro e a Psicoterapia de Carl Rogers | Por Maria Regina Hesketh Nobre

O homem é um “ser relacional , ecológico e cósmico”. É muito

importante e até mesmo indispensável valorizarmos e/ou

recuperarmos o sentimento de “sacralidade da vida” e do “gozo de

viver”. Carl Rogers comunga com esse mesmo pensamento e sua

terapia também está voltada para essa valorização.

No Sistema Biodanza são estimulados e expressados os potenciais

genéticos de vitalidade, sexualidade, criatividade, afetividade, e

transcedência. São as cinco linhas de vivencia pelas quais o Sistema

Biodanza utiliza.

Há também os fatores ambientais, que constituem os “ecofatores” de

integração com a natureza e com o semelhante. Os ecofatores se

organizam em volta do amor, da natureza, da sacralidade da vida e do

amor pelo semelhante.

O Principio Biocêntrico, é portanto o paradigma filosófico fundamental da

Biodanza. Trata-se do pressuposto de que todo o Universo (incluindo os

seres humanos) está organizado em função da vida.

“O principio biocêntrico coloca seu in teresse em

um universo compreendido como um sistema

vivo.O reino da vida abrange muito mais que os

vegetais,os animais e o homem. Tudo o que existe

dos neutrinos ao quasar, da pedra ao pensa-

mento mais sutil, faz parte desse sistema vivo

prodigioso. Segundo o principio biocêntrico, o

universo porque existe a vida e não o contrário.”2

Rogers também nos traz a manifestação da vida:

“Quer falamos de uma flor ou de um carvalho, de

uma minhoca ou de um belo pássaro, de uma

maçã ou de uma pessoa, creio que estaremos

certos ao reconhecermos que a vida é um

processo ativo e não passivo.” 3

2 Toro, Rolando. Biodanza. Edit. Olavobras/EPB p.51

3 ROGERS, Carl R. Um Jeito de Ser p.40

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BIODANZA

“ Me chego e me aconchego

Em um ninho de carinho

A minh‟alma se acalma

Descansa, alcança e avança

Pelas rodas da Biodanza! ” 4

A Biodanza se define segundo o seu criador, o antropólogo e

sociólogo chileno Rolando Toro Arañeda, como: “Um sistema de

integração afetiva, renovação orgânica e reaprendizagem das funções

originárias da vida. É baseada na indução de vivencias integradoras

através da música, dança e canto, mediante exercícios de comunicação

e contato”.

A palavra “biodanza” se origina do prefixo “bio” que significa “vida”

e de “danza” que quer dizer “movimento” ou “movimento integrado e

pleno de sentido”. Com a junção desses dois termos, surge o encontro

poético “DANÇA DA VIDA”.

O Sistema Biodanza foi criado nos anos 60, no próprio Chile.

Rolando Toro, trabalhando em hospital psiquiátrico, percebeu que a

dança, considerado movimento carregado de emoção, é capaz de

produzir alterações fisiológicas que despertam potenciais

adormecidos.

O Princípio Biocêntrico é o paradigma filosófico fundamental da

Biodanza. Já abordado anteriormente, é o pressuposto de que todo o

universo (incluindo os seres humanos) se organizou em função da

vida. E na concepção da Biodanza, o que se objetiva é o resgate da

sacralidade da vida.

4 Poema de minha autoria, escrito em junho de 2007, após aula no Grupo Regular de Denizis Trindade.

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A Biodanza tem como alicerce as leis universais que sustentam e

proporcionam a evolução da vida. Sua proposta é para os participantes

dançarem a alegria de viver, estabelecendo vínculos consigo mesmo,

com o outro, através de trocas afetivas, realizadas durante as

vivências que estimulam a auto-estima e o auto-conhecimento.

Em Biodanza, portanto. a função de conexão com a vida se exerce em

três níveis: . Conexão consigo mesmo

. Conexão com o semelhante

. Conexão com o Universo

Os exercícios da Biodanza foram organizados a partir do seu Modelo

Teórico. E esse modelo baseia-se nas ciências da vida: Antropologia,

Biologia, Psicologia e Sociologia. A fusão do conhecimento dessas

ciências vão originar os alicerces do modelo apresentado pelo seu

criador.

E os exercícios de Biodanza, obedecendo ao modelo teórico,

apresentam uma seqüência de movimentos baseados nas “na cinco

linhas básicas” de vivências, a saber:

. Vitalidade – Um convite ao Movimento. Está relacionado ao ímpeto

vital, a energia da pessoa para enfrentar o mundo. A Vitalidade busca

a regulação do organismo, trabalhando a dissociação entre as partes e

as funções do organismo.

. Sexualidade - Um convite à Integração. Está relacionada para a

dissolução gradativa das couraças que visam bloquear nossa

sensibilidade. A Sexualidade busca a redescobrir a pele como fonte de

prazer e limite do mundo. Objetiva “quebrar” o condicionamento

ligado ao sexo, que ainda para muitos, é apenas genital.

. Criatividade - Um convite à Expressão. Está relacionada a liberação

de nossos movimentos, como também resgatar gestos perdidos ou

Page 31: A Biodanza de Rolando Toro e a Psicoterapia de Carl Rogers | Por Maria Regina Hesketh Nobre

esquecidos. O criar vindo de si mesmo, dando sentindo interno a cada

ato. É um exercício estimulante para o nosso poder criativo.

. Afetividade - Um convite ao Amor. Está relacionada ao útero afetivo que

cada um de nós possuímos e na nossa capacidade de dar e receber, de nutrir

e ser nutrido. É o amor indiscriminado pelo ser humano. Desenvolve e

estimula as trocas de carinho, fazendo as pessoas se sentirem parte do todo,

melhorando os seus relacionamentos. A afetividade não está ligada apenas

ao amor entre as pessoas com vínculos específicos, mas ao respeito à vida,

ao amor universal.

. Transcedência - Um convite à Harmonia. Está relacionada com a

capacidade de irmos além do ego, integrando unidades maiores,

possibilitando conexão com o todo. E o ser humano. para a Biodanza com

sua visão holística, é considerado um todo e não uma mera soma de partes.

É uma linha bastante reprimida, devido aos mitos e divindades, que se

encontram fora de nosso alcance, impostos pelas religiões.

A Biodanza, portanto, é um convite à vida. São diversos os seus

objetivos e benefícios : Integração e expressão afetiva; descobertas

de novos caminhos; o aumento da criatividade e da capacidade de

comunicação; colaborar para o auto conhecimento e o fortalecimento e

expressão da identidade; trabalhar a auto estima; a diminuição do

stress e da ansiedade, tendo sempre como objetivo a integração e o

desenvolvimento de cada indivíduo. Vale considerar o lado

preventivo da Biodanza. Para as pessoas que a praticam, há um

reforço de suas funções orgânicas, a reaprendizagem das funções

originárias da vida, como também a reeducação afetivo motora

A Biodanza, como um convite à vida, é um convite para um caminho

de crescimento e de forma prazerosa. Através da dança e dos

movimentos, a pessoa poderá entrar em contato com as suas

qualidades e talentos, redescobrindo a si mesma.

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MODELO TEÓRICO

O Modelo Teórico da Biodanza, idealizado e desenvolvido por seu

criador, Rolando Toro, tem experimentado modificações por mais de

três décadas, sempre em confronto com a realidade. Rolando

enriquece seus componentes, mas conservando a estrutura original.

Pode ser concebido como um sistema fechado de relações

homeostáticas , apresentando aberturas sutis para novas possibilidades

de equilíbrio, através do contato interpessoal e processo aberto de

integração. Assim sendo, podemos considerar o Modelo Teórico da

Biodanza como um sistema semi-aberto e até denominarmos de

“Sistema Complexo Adaptativo” (Toro, Biodanza – Editora

Olavobrás, p.73), em uma linguagem contemporânea.

As “aberturas ou semi-aberturas” possibilitam discretas

transformações, de maneira evolutiva a partir de reorganização

biológica provocadas por vivências integradoras, tendo como suporte

o potencial genético

“O modelo teórico da Biodanza, se articula

ao longo de dois eixos colocados dentro de

uma expiral. O eixo vertical é estável e o

horizontal é pulsante. Ambos os eixos são

virtuais, pois não denotam uma trajetória

rígidas; são projeções direcionadas.

A expiral representa a abertura do mo-

delo aos processos universais de gestação

da vida” 5

A seguir, representação gráfica do Modelo Teórico criado por

Rolando Toro:

5 Toro. Rolando Biodanza. Edit. Olavobtás/EPB p.74

Page 33: A Biodanza de Rolando Toro e a Psicoterapia de Carl Rogers | Por Maria Regina Hesketh Nobre

MODELO TEÓRICO DE BIODANZA

Rolando Toro

International Biocentric Foundation 2008

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PODERES DA BIODANZA

Como um convite para o crescimento pessoal, o praticar a Biodanza,

significa estar ingressando em um novo universo. E o que será

vivenciado, através de seus “poderes ou ferramentas”, vão constituir

as referências para esse caminho de crescimento.

São sete os “ poderes” da Biodanza, a saber:

. A MÚSICA - Estimular o vínculo afetivo. Tem efeito ligado a parte

emocional, ao ânimo da pessoa. Pode gerar os mais diversos

sentimentos, de alegria e de tristeza, de amor e raiva e tantos outros. A

música está no centro da Biodanza, direciona a vivência, conduz o

movimento. O seu “poder” está na emoção que ela deflagra e no grau

de integração que pode ser gerado. No entrar em contato com essa

emoção, o “viver a emoção”, muitas vezes bastante reprimida, poderá

vir a acontecer a liberação daquele sentimento, o desfazer daquele

“nó”.

. A DANÇA INTEGRATIVA – Estimular o vínculo com o outro.

Tem efeito ligado para os gestos plenos de sentido e não despedaçados

pela cultura; de um corpo integrado (movimento e emoção) com a

capacidade de vincular uma pessoa à outra. A Biodanza tem no seu

objetivo o resgate das funções originárias da vida, de seus instintos e

necessidades básicas. Sendo um movimento que parte de um

organismo conectado ass suas emoções, com motivação afetiva em

ressonância com o meio, é possível para as pessoas, através da Dança

Integrativa de resgatarem e/ou se perceberem estimuladas ao vínculo

com o outro e com a vida.

. A VIVÊNCIA - Estimular a integração plena da pessoa consigo

mesma, com o outro e com o meio. Tem efeito ligado para viver o

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“aqui e agora”. O próprio termo “vivência” está relacionado ao

instante profundamente vivido, onde há inclusive uma ruptura com o

tempo cronológico. Uma realidade de dimensão atemporal. Promove a

uma qualidade de se viver intensamente o momento presente.

. O TRANSE - Estimular o desenvolvimento e a auto- regulação

orgânica, como também a ação no mundo e renovação celular. Tem

efeito ligado a passagem de um estado de consciência de si próprio

enquanto pessoa singular, para outro estado de consciência de si na

fusão com um todo, com um grupo. O aprofundamento do estado de

transe corresponde a diretamente atuar sobre o equilíbrio

homeostático. É possível acontecer momentos de estabilidade e

instabilidade, mas gerando a auto- regulação no organismo.

. A CARÍCIA - Estimular a uma mobilização do centro afetivo pelo

ato de tocar e ser tocado. Tem efeito ligado a expressividade das mãos

que acariciam e do corpo como o receptor. Em nossa cultura, a carícia

é bastante reprimida. Mas as terapias corporais tem mostrado os

grandes benefícios surgidos para as pessoas, tanto àquelas que dão as

carícias como as que recebem as mesmas. O tocar, o acariciar, muitas

vezes, é de grande poder.

. A AMPLIAÇÃO E PERCEPÇÃO DA CONSCIÊNCIA -

Estimular a uma nova sensibilidade frente à vida. Tem efeito ligado a

um maior envolvimento e conhecimento do mundo o qual

interagimos. É a consciência do sentir e perceber.

. O GRUPO – Estimular a observação e respeito de seus próprios

limites e os limites dos demais. Tem efeito ligado a uma maior

qualidade de convivência em grupo, que trará benefícios para a saúde

física e mental. Reconhecer o outro é a base para reconhecer a si

mesmo. Amar e/ou aceitar o outro é a base para amar e aceitar a si

Page 36: A Biodanza de Rolando Toro e a Psicoterapia de Carl Rogers | Por Maria Regina Hesketh Nobre

próprio. O grupos, quando nutritivos, são fontes poderosas de

proteção, trocas e crescimento.

E a BIODANZA, como um SISTEMA DE INTEGRAÇÃO

AFETIVA, ela é possuidora desses poderes transformadores, que

podem ser sentidos e vividos por seus alunos. As vivências são

capazes de grandes efeitos modificadores.

Para Rolando Toro, tornar conscientes os conflitos inconscientes

através de experiências psicoterapêuticas, não trazem modificações

comportamentais. Ele acredita que somente as vivencias tem a

capacidade de efeitos transformadores profundos.

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Capítulo III

OPERACIONALIZAÇÃO DA BIODANZA

O GRUPO REGULAR - Características

Os encontros de Biodanza acontecem às quartas-feiras, no horário das

15 às 17 horas, no Posto de Saúde Municipal João Barros Barreto, em

Copacabana. Foi apresentado à Prefeitura, o Projeto “Aumento do

Nível de Saúde através da Biodanza”. Após algumas reuniões com os

Servidores responsáveis pelo Núcleo de Saúde-Voluntariado do

Município, o trabalho foi aceito e aprovado. Cabe ressaltar, que o

Projeto então apresentado, baseou-se em outro Projeto, em andamento

há sete anos, de comprovado sucesso, sob a coordenação da

facilitadora didata, Gladys Trindade de Araújo, no Posto de Saúde

Zeferino Tibau Junior, em São Cristóvão.

Para o trabalho no “João Barros Barreto”, além da autora desse estudo

fazer parte do mesmo, a equipe é formada por mais dois facilitadores,

em fase de titulação: Ivo Alberto Peixoto Fortuna e José Augusto de

Freitas.

As aulas começaram em maio de 2006, na sala reservada ao Centro de

Estudos do Posto. O local possui ar condicionado, é relativamente

tranqüilo, onde se pode ficar com o grupo, desenvolvendo o trabalho

de modo satisfatório. O Centro dispõe de uns vinte banquinhos de

plástico, que são usados para as reuniões preliminares. Os banquinhos

também são utilizados durante algumas vivencias específicas, pois não

há colchonetes ou tapetinhos. O aparelho de som não é fornecido pelo

Centro. Um dos colegas facilitadores, o Ivo Fortuna, é que leva o seu

próprio aparelho para as aulas. As músicas utilizadas durante os

exercícios são aquelas que fazem parte do elenco oficial da Biodanza.

Page 38: A Biodanza de Rolando Toro e a Psicoterapia de Carl Rogers | Por Maria Regina Hesketh Nobre

Dentro do possível, procura-se escolher músicas que tenham uma

ligação com a faixa etária do grupo, principalmente para as rodas

inicial, de embalo e final.

Inicialmente tal Projeto, teria como público alvo, os pacientes

freqüentadores do Posto de Saúde, com as inscrições sendo realizadas

em dias e horários estipulados pela Coordenação do Posto. Com a

evolução do trabalho, o “gostar” do que estava sendo desenvolvido, as

alunas foram fazendo a propaganda “boca a boca”. As amigas e

conhecidas eram convidadas pelas próprias participantes,

entusiasmadas e felizes com o que estavam vivenciando. O grupo,

então, não ficou mais restrito aos pacientes do Centro de Saúde João

Barros Barreto. E as “novas alunas” acompanhadas pelas “veteranas”

já vinham direto para participarem dos encontros semanais.

O grupo tem uma média de aproximadamente de quinze pessoas em

cada Encontro. As idades variam de 45 a 86 anos. A grande

concentração está na faixa de 60 a 70 anos. Todas do sexo feminino, a

grande maioria moradora de Copacabana, sendo aposentadas, viúvas

ou divorciadas. Uma pequena minoria ainda casada. O nível sócio

econômico é o de classe média a classe média baixa.

Pode-se dizer que já se tem formado um núcleo de “alunas” nesse

Grupo de Biodanza. Há um número significativo de pessoas que estão

frequentando as “aulas” com regularidade e muitas desde o início.

Sentem-se bastante beneficiadas com o que estão vivenciando.

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PERCEPÇÃO DA FACILITADORA

O Grupo ainda era iniciante. Mas o seu crescimento era significativo.

Não só durante as vivências, como no próprio “feedback”. Uma

senhora, que só tinha participado de dois encontros e estava indo para

sua terceira “aula”, ao se expressar no “feedback”, disse que se pegou

dançando em casa sozinha. Acrescentou que sempre teve vergonha de

tudo. Quando veio a vontade de dançar e o corpo acompanhou o

movimento, ficou surpreendida consigo mesma, porém se sentiu muito

feliz com o que realizou. Ela imediatamente associou com a Biodanza.

Outro “feedback” que considerei significativo foi quando, também no

início do trabalho, outra senhora e com uma idade mais avançada, se

expressou de forma muito natural e verdadeira, e de imediato teve a

concordância das demais. Ela disse: “É uma terapia do carinho e da

atenção”.

Esse “depoimento”, me tocou profundamente. Eu fui remetida a Carl

Rogers, à sua terapia humanista e afetiva. Lembrei também dos

Grupos de Encontros rogerianos dos quais participei, de todo o lado

afetivo desses encontros. E me veio à mente o título de um grande

livro de Rogers: “Tornar-se Pessoa”. Imaginei que a Biodanza estaria

proporcionando a esse grupo de senhoras, de viver o presente,

sentindo-se pessoas qualificadas, vivenciando e trocando carinho e

atenção.

A grande maioria das senhoras participantes do grupo, não conhecia a

Biodanza ou até mesmo nem ouvido falar. Mas ao participarem das

aulas, das vivências, começaram a sentir a Biodanza em seus corpos,

em suas vidas. Começaram a experenciar os poderes da Biodanza.

Assim como na Abordagem Centrada na Pessoa, a Biodanza procura

promover o crescimento, o desenvolvimento, a maturidade, um

Page 40: A Biodanza de Rolando Toro e a Psicoterapia de Carl Rogers | Por Maria Regina Hesketh Nobre

melhor funcionamento e uma maior capacidade de enfrentar a vida. E

principalmente, procurando levar a pessoa para um encontro com ela

mesma.

Rogers diz que podemos ter confiança em nossas experiências. E a

Biodanza promove com as suas vivências, essa confiança para si

mesmo. A pessoa que experenciou algo verdadeiro seu durante as

vivencias, permitindo que entrasse em contato com ela própria,

aceitando-a como é, passa a sentir-se confiante diante de si e

consequentemente diante do(s) outro(s).

Como facilitadora, tenho percebido nesse grupo regular de Biodanza,

esses objetivos bem rogerianos (que também percebia em outros

grupos regulares que participei como aluna). O conhecer-se melhor, o

entrar em contato consigo, seus sentimentos, facilidades e

dificuldades, isso tudo levando a uma aceitação da sua pessoa como

verdadeiramente é, e as possibilidades de mudanças. Para me aceitar

como sou, preciso me conhecer. Para mudar, preciso me aceitar.

É muito gratificante para mim, reconhecer o crescimento de um grupo

de senhoras, que felizes dão seus depoimentos...

Page 41: A Biodanza de Rolando Toro e a Psicoterapia de Carl Rogers | Por Maria Regina Hesketh Nobre

CONCLUSÃO

CARLS ROGERS e ROLANDO TORO

As três condições básicas, necessárias e suficientes, e indispensáveis

para a Terapia de Carl Rogers, também estão presentes, fazendo parte

integrante do Sistema de Biodanza de Rolando Toro.

São elas: - Aceitação

- Empatia

- Congruência

As pessoas, integrantes dos mais diversos grupos de Biodanza, neles

permanecem e deles se beneficiam, quando são aceitas, há a empatia e

percebem a congruência do Facilitador.

Creio, portanto, que também são condições necessárias e suficientes

para o sucesso de qualquer pessoa em todo e qualquer grupo de

Biodanza.

Carl Rogers, rejeitou a idéia da neurose do homem, defendendo que o

núcleo básico da personalidade humana era tendente à saúde e ao bem

estar. Rolando Toro, em sua definição clássica de Biodanza, diz: “É

um Sistema de integração afetiva, renovação orgânica e

reaprendizagem das funções originárias da vida...”. Nada mais é do

que rejeitar a idéia da neurose básica em todo Ser Humano, e sim o de

também acreditar que o núcleo básico da personalidade humana é

tendente à saúde e ao bem estar. E por acreditar nessa premissa, que a

Biodanza objetiva o contatar e resgatar as funções básicas e

originárias da vida: Saúde e Bem Estar.

A partir dessa concepção básica, a psicoterapia de Carl Rogers se

desenvolveu.

Page 42: A Biodanza de Rolando Toro e a Psicoterapia de Carl Rogers | Por Maria Regina Hesketh Nobre

A partir dessa concepção básica, o Sistema Biodanza de Rolando

Toro também se desenvolveu.

A Biodanza e a Terapia Rogeriana objetivam o resgate desse núcleo

de vida. E assim sendo, é possível o aumento da auto estima, da auto

confiança e um amadurecimento emocional. Tudo isso visando uma

conexão maior consigo próprio, com o outro e com o Universo.

Como na Abordagem Centrada, na Biodanza, para a aplicação de seu

método, faz-se necessário um processo de amadurecimento pessoal

do próprio facilitador. Não basta apenas o conhecimento teórico, pois

a sua pessoa torna-se também instrumento para o trabalho proposto.

Outro ponto em comum é que a Abordagem Centrada e a Biodanza se

voltam bastante para o presente, para o “aqui e agora”. Estão

preocupadas com o realizar-se de cada momento. Na Biodanza,

também se compreende a idéia de que “toda pessoa é capaz de

reestruturar suas próprias respostas, a medida que a experiência

permite ou sugere novas possibilidades”.

Para Rogers e Toro, o Homem se encontra comprometido e em

contínuo processo de atualização.

Carl Rogers pressupõe que o Facilitador “oriente” o seu cliente para as

suas próprias experiências e que a partir delas, ele se auto determine e

governe. Na Biodanza acontece o mesmo. Rolando Toro, inclusive,

diz que a Biodanza começa quando deixamos a sala. Toro, assim

como Rogers, pressupõe que o Facilitador, dentro do Sistema

Biodanza, “oriente” o participante de seu grupo para suas próprias

experiências e partindo delas, ele se auto determine e governe.

A Psicoterapia para Rogers é um processo de crescimento que vai

sendo realizado e/ou construído. É um processo que envolve as duas

partes, o terapeuta (facilitador) e o cliente. Quando essas duas pessoas,

juntas e felizes, vêem as forças poderosas e organizadas se

Page 43: A Biodanza de Rolando Toro e a Psicoterapia de Carl Rogers | Por Maria Regina Hesketh Nobre

manifestarem para o crescimento e o encontro de si mesmo: Isso é

Abordagem Centrada! Isso é Biodanza!

O que foi relatado no parágrafo anterior, eu vivenciei não só como

facilitadora de Biodanza, mas também em inúmeras vezes, como

aluna de Biodanza. Nos vários grupos que freqüentei, em maratonas e

jornadas diversas, eu era sempre remetida à terapia Rogeriana, quando

percebia ou sentia a felicidade do Facilitador no momento que as

forças poderosas e organizadas se manifestavam para o crescimento

daquela pessoa, participante do grupo, como do meu próprio

crescimento

A Biodanza e a Abordagem Centrada na Pessoa desenvolvem com

os seus “alunos” ou seus “clientes”, um relacionamento de “igual para

igual”. Uma relação horizontal; simplesmente são pessoas que se

encontram. Apenas uma facilitando a outra, caso essa queira e

permita, visando a sua SAÚDE E BEM ESTAR.

Na Biodanza e na Abordagem Centrada na Pessoa, todos os

envolvidos são co-responsáveis pelo processo de mudança.

Page 44: A Biodanza de Rolando Toro e a Psicoterapia de Carl Rogers | Por Maria Regina Hesketh Nobre

BIBLIOGRAFIA

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TORO, Rolando – Biodanza, tradução de Eliane Matuk, São

Paulo: Editora Olavobrás, 2002.

_________ Teoria da Biodanza: Coletânea de Textos, s/d.

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ANEXOS

A - DEPOIMENTO DOS PARTICIPANTES

Após vários meses de encontros semanais, solicitamos em nosso

Grupo Regular, que os participantes escrevessem livremente, como

estavam se sentindo.

Foi um pedido que fizemos para o grupo, com o objetivo de

avaliarmos o nosso trabalho. Como cada pessoa estava vivenciando a

Biodanza, com se sentia no Grupo. Se a Biodanza já havia lhe trazido

ou estava lhe proporcionando algum benefício para sua vida. Se havia

percebido alguma mudança ou não. Algum bem estar ou não.

Poderia ser escrito em uma linha, um parágrafo, como quisessem. Um

depoimento bastante livre de cada participante, o que incluía também

não ser obrigatório acatar esse pedido.

Em anexo, o que foi escrito por algumas “alunas” que estão

freqüentando o nosso Grupo Regular...

B – REPORTAGEM JORNAL „EXTRA‟

Em anexo, a reportagem feita em outubro de 2006, a respeito do

Projeto “Aumento do Nivel de Saúde através da Biodanza,

desenvolvido no Posto de Saúde João Barros Barreto, que ainda se

encontra em atividade.

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