A BIOÉTICA E OS DIREITOS HUMANOS NO ENSINO DE … · é a informação. Surge então uma nova...
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ISSN 2176-1396
A BIOÉTICA E OS DIREITOS HUMANOS NO ENSINO DE SOCIOLOGIA DO
ENSINO MÉDIO
Valquiria Elita Renk1 - PUCPR
Cristoph Enns2 - PUCPR
Patrícia Aparecida Ferreira Pinheiro 3 - PUCPR
Jackson Lucena Barradas4 - PUCPR
Eixo – Educação e Direitos Humanos
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa sobre a presença da Bioética e Direitos
Humanos na disciplina de Sociologia no ensino médio. É uma pesquisa de natureza básica, de
abordagem qualitativa, exploratória, com procedimentos técnicos de uma pesquisa
documental e a metodologia é a análise de conteúdos de Bardin (2011). Analisou-se a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB, a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, a Declaração Universal de Bioética e Direitos Humanos – DUBDH,
especificamente sobre o ensino da Bioética, as Diretrizes Nacionais para a Educação em
Direitos Humanos – DNEDH e o livro didático Sociologia em Movimento, para identificar
quais são os conteúdos sobre Bioética e Direitos Humanos ministrados nesta disciplina. Este
conjunto de fontes documentais possibilita compreender qual é espaço da Bioética e dos
Direitos Humanos no ensino de Sociologia. O diálogo teórico é estabelecido com Edgar
Morin (2003, 2004) sobre a educação, Oliveira (2007, 2011) sobre os Direitos Humanos e
Pessini (2016) sobre a Bioética. Os resultados indicam que a Bioética é pouco ensinada, pois
há apenas uma menção ao termo no livro didático analisado, mas foram encontrados os
seguintes referenciais da Bioética: a dignidade humana, a cidadania, a vulnerabilidade, ética,
gênero, são ensinados. Assim, optou-se por analisar quais são os conteúdo referentes aos
Direitos Humanos ministrados em Sociologia. A Bioética e os Direitos Humanos são
essenciais para a convivência pacífica e a consolidação de condições dignas de vida, daí a
importância de fazerem parte dos conteúdos e dos saberes escolares. Uma sociedade mais
1 Doutora em Educação: História da Educação pela Universidade Federal do Paraná - Brasil. Professora Titular
da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Líder do Grupo de Pesquisa Bioética e Educação. E-
mail: [email protected]. 2 Mestrando no Programa de Pós Graduação em Bioética na Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUCPR). Membro do Grupo de Pesquisa Bioética e Educação. Email: [email protected] 3 Graduanda do Curso de Licenciatura em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUCPR). Pesquisadora de Iniciação Científica do Projeto Bioética e Educação. Membro do Grupo de Pesquisa
Bioética e Educação. E-mail: [email protected] 4 Graduando do Curso de Licenciatura em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUCPR). Membro do Grupo de Estudos Bioética e Educação. E-mail: [email protected]
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ética, justa e equânime é o que se espera com a formação em Direitos Humanos e Bioética na
Educação Básica.
Palavras-chave: Bioética. Direitos Humanos. Ensino Médio. Sociologia.
Introdução
Esta pesquisa é a interface entre Bioética, Direitos Humanos e Educação. Apresenta
resultados parciais sobre a investigação do ensino da Bioética e dos Direitos Humanos na
disciplina de Sociologia, desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa Bioética e Educação do
Programa de Pós Graduação Bioética da PUCPR. Tem-se como objetivo identificar quais são
os conteúdos de Bioética e Direitos Humanos na disciplina de Sociologia.
É uma pesquisa de natureza básica, de abordagem qualitativa, exploratória, com
procedimentos técnicos de uma pesquisa documental e a metodologia é a análise de conteúdos
de Bardin (2011). As fontes de pesquisa documental são: a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, LDB, Lei 9394-96, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a
Declaração Universal de Bioética e Direitos Humanos – DUBDH, o livro didático mais
vendido pelo MEC em 2013, Sociologia em Movimento de Silva el all, para identificar quais
são os conteúdos sobre Bioética e Direitos Humanos nesta disciplina.
O diálogo teórico é estabelecido com Edgar Morin (2002, 2003, 2004) sobre a educação,
Oliveira (2007, 2011) sobre os Direitos Humanos e Pessini (2016) sobre a Bioética.
A Educação e a formação ética
Neste artigo discute-se quais são os conteúdos de Bioética e Direitos Humanos no
ensino de Sociologia. A Declaração Universal sobre a Bioética e Direitos Humanos -
DUBDH, é um importante documento onde os países signatários se comprometeram a
fomentar o ensino de Bioética, respeitar e aplicar seus princípios fundamentais e respeitar os
direitos humanos e as liberdades fundamentais (UNESCO, 2005). Historicamente a Bioética e
os Direitos Humanos têm como ponto de aproximação a dignidade humana. A Declaração
Universal sobre os Direitos Humanos, promulgada em 1948, internacionalizou os direitos
humanos e reconhecendo a dignidade humana (OLIVEIRA, 2007). Integrando a primeira
geração de direitos humanos, sobre as liberdades fundamentais, como religião, pensamento,
locomoção, opinião, aprendizado e voto, à segunda geração, que compreende os direitos
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econômicos, sociais e culturais como: trabalho, moradia, previdência, saúde, educação,
transporte, cultura e artes.
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em
atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um
mundo em que os todos gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de
viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta
aspiração do ser humano comum. (ONU, 1948. p. 2).
Oliveira (2011, p. 19) analisa que a Bioética e os Direitos Humanos compartilham da
busca para moldar condutas humanas e integrá-las numa pauta de valores que a sociedade
entende como “essenciais para a convivência pacífica e condições dignas de vida – entendidos
como bens éticos básicos”. Neste sentido, entende a autora que a dignidade humana é o
campo dos direitos humanos fundamental para a construção teórica das duas áreas do saber.
O termo Bioética foi proposto por Potter em 1971, como um novo campo de estudo
interdisciplinar, deveria situar-se entre as descobertas das ciências biológicas e os valores e
teorias das ciências humanas. Para a UNESCO é o “campo de estudo sistemático, plural,
interdisciplinar, envolvendo questões morais teóricas e práticas, levantadas pela medicina e
ciências da vida, enquanto aplicadas aos seres humanos e á relação destes com a biosfera”
(2004, p. 12-14). Por seu caráter interdisciplinar busca a reflexão e o diálogo na educação
básica sobre temas como dignidade humana, autonomia, equidade, respeito à diversidade
cultural, responsabilidade ambiental e social, vulnerabilidades humanas, cuidado e
humanização entre outros, que são referencias da bioética
O Ensino Médio brasileiro visa contribuir para uma formação integral dos alunos.
Como formação integral se entende aqui a busca por uma “religação dos saberes”, onde os
conhecimentos bioéticos possam fluir de forma interdisciplinar, para construir uma sociedade
mais consciente da sua responsabilidade para a sobrevivência humana e para o
desenvolvimento do bem social (PESSINI, 2016; MORIN, 2004, POTTER, 2016). Portanto a
Bioética é mais ampla que um código de ética para os seres humanos. Assim sendo, a escola
não deve apenas voltar-se à construção de conhecimentos e ensinar conteúdos, mas também
ser lugar de formação de sujeitos críticos e reflexivos, capazes de cumprir o papel de
cidadãos. Especificamente a formação ética está prevista como uma finalidade do ensino
médio, no artigo 35, da LDB, a saber: (...) III – o aprimoramento do educando como pessoa
humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do
pensamento crítico (BRASIL, 2010).
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Diante dos dilemas sociais deste século, há a necessidade formação da Ética e
Bioética dos estudantes. Assim, “(...) a formação em Bioética é, antes de tudo, um processo de
formação voltado ao desenvolvimento dos valores associados ao exercício da cidadania. É no
espaço escolar que o indivíduo passará as primeiras experiências de exercício de cidadania
(...)” (PIRES, GARRAFA, 2011, P. 741). Considerando que a Bioética é um campo de saber
interdisciplinar, neste artigo, buscou-se os aportes teóricos de Edgar Morin para estabelecer a
discussão com a educação. O autor traz importantes contribuições para um pensamento e uma
educação interdisciplinar, o que é fundamental para a inserção da Bioética no ensino de
Sociologia. O autor analisa o pensamento complexo para interligar os saberes na educação
visando compreender melhor o ser humano e a sociedade,
(...) a noção de homem está fragmentada entre diversas disciplinas das ciências
biológicas e entre todas as disciplinas das ciências humanas: a física é estudada por
um lado, o cérebro, por outro, e o organismo, por um terceiro, os genes, a cultura
etc. Esses múltiplos aspectos de uma realidade humana complexa só podem adquirir
sentido se, em vez de ignorarem esta realidade, forem religados a ela. Com certeza
não é possível criar uma ciência do homem que anule por si só a complexa
multiplicidade do que é humano. (...) Uma outra consciência é igualmente
necessária: a que Piaget chamava de o círculo das ciências, que estabelece a
interdependência de fato das diversas ciências. As ciências humanas se ocupam do
homem; mas este é não apenas um ser físico e cultural, como também um ser
biológico, e as ciências humanas, de certa maneira, devem ter raízes nas ciências
biológicas, que devem ter raízes nas ciências físicas – nenhuma dessas ciências,
evidentemente, é redutível uma à outra. (MORIN, 2008, p. 113).
Para o desenvolvimento desta educação interdisciplinar, Morin (2002) analisa que o
ser humano é complexo, plural, sócio-político-cultural, com aptidões para produzir, construir,
aprender, conhecer, evoluir em busca do exercício da sua cidadania e conquista de sua
autonomia. Morin (2003, p. 17) analisa que é necessário a interdisciplinaridade e
transdisciplinaridade para “alimentar um pensamento capaz de considerar a situação humana
no âmago da vida, na terra, no mundo, e de enfrentar os grandes desafios de nossa época. Não
conseguimos integrar nossos conhecimentos para a condução de nossas vidas.” Assim, para
fazer do ensino da Bioética uma ferramenta para mudanças sociais, é necessário o
entendimento do ser humano biológico, social e cultural. Para Morin (2002), é de forma
interdisciplinar que o desenvolvimento e a aprendizagem ocorrem, havendo uma passagem da
ordem para o caos pelo aumento do número de interações, e o que pode organizar esse “caos”
é a informação. Surge então uma nova ordem, que trará novas interações, ocorrendo uma
alternância de estados de ordem e caos, em grau crescente de complexidade.
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Assim, a importância da Bioética para o ensino da Sociologia está no argumento de ser
uma ética para as questões que envolvem a vida, sejam elas biológicas, de avanço das
tecnologias, de relacionamento social e/ou com o meio ambiente. Aqui a palavra “vida”
significa mais que vida orgânica, comum em todos os seres vivos, trata da vida
especificamente humana, a vida que apresenta características simbólicas, morais e políticas.
(SCHRAMM, 2009)
Metodologia da pesquisa
O presente estudo trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, exploratória
com análise de conteúdo (BARDIN, 2011). A análise de conteúdo consiste em um conjunto
de técnicas de análise de textos, que se utiliza de procedimentos sistemáticos para descrever o
conteúdo das mensagens. As etapas de uma análise de conteúdo propostas por Bardin (2011):
1) pré-análise, 2) exploração do material e 3) tratamento dos resultados, inferência e
interpretação
A pré-análise é a fase em que se organiza o material a ser analisado com o objetivo de
torná-lo operacional, sistematizando as idéias iniciais. Nesta etapa foram selecionados os
documentos a serem analisados: a Lei de Diretrizes de Bases da Educação Brasileira, a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração Universal sobre Bioética e
Direitos Humanos, as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos e o
Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI.
Também foi realizada busca na página eletrônica do MEC e constatou-se que o livro didático
mais vendido 2013 para o ensino da Sociologia em Movimento de Afrânio Silva e outros. É
um volume unido, adotado nas séries do 1º, 2º e 3º anos do ensino médio.
A exploração do material constituiu a segunda fase. Inicialmente foi realizada a
leitura sistemática do livro e definidas as categorias (sistemas de codificação) e a identificação
dos termos/descritores. Inicialmente buscou-se o termo Bioética e como foi mencionado
apenas uma vez, foi necessário buscar outros termos correlatos que fazem menção à Teoria
dos Referenciais (HOSSNE, 2006), a saber: Ética, Dignidade Humana, Cidadania, Tolerância,
Justiça, Diversidade social e cultural, vulnerabilidade social, autonomia, Direitos Humanos e
Meio Ambiente Responsabilidade Social, Responsabilidade Ambiental, Autonomia e
Cidadania.
A terceira fase é o tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Foram
organizadas as tabelas e gráficos para melhor visualizar os resultados alcançados. É o
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momento da intuição, da análise reflexiva e crítica. (BARDIN, 2011). Nesta última etapa
estabelece-se a relação entre os achados da pesquisa e os aportes teóricos.
Análise documental sobre formação em Bioética e Direitos Humanos
A LDB normatiza a educação, na esfera pública e privada, nos Artigos 2 e 3.
Art. 2º: A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de
liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.
Art. 3º: O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: (...) III –
pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; IV – respeito à liberdade e
apreço à tolerância (...). (BRASIL, 2010, p. 8-9)
As Diretrizes Curriculares Nacionais são os documentos que estabelecem “a base
nacional comum, responsável por orientar a organização, articulação, o desenvolvimento e a
avaliação das propostas pedagógicas de todas as redes de ensino brasileiras” (MEC, 2013).
Embora a Bioética não esteja explicitada nesses documentos como termo ou área de estudo,
sua característica interdisciplinar e abordagem reflexiva orienta para uma contribuição para a
Educação, no ensino de temas transversais relacionados aos direitos humanos e formação
cidadã, o que um dos objetivos do ensino de Sociologia.
Existem outros documentos que indicam a educação Bioética para a educação básica:
a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração Universal sobre Bioética e
Direitos Humanos e o Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação
para o Século XXI. A Declaração Universal dos Direitos Humanos - DUDH (1948) no artigo
1 estabelece que “ Todas os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos.
São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de
fraternidade” (ONU, 1948). Neste documento observa-se a articulação dos direitos civis e
políticos aos direitos econômicos, sociais e culturais, fixando sua interdependência,
indivisibilidade e universalidade. Este documento reforça a importância de atingir um
objetivo comum por todos os povos e nações, no qual cada indivíduo e cada órgão da
sociedade se esforcem, por meio do ensino e da educação em geral, por promover o respeito
aos direitos humanos proclamados e pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional
e internacional, para assegurar sua observância universal e efetiva, tanto entre os povos dos
próprios Estados-membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.
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A Declaração Universal sobre a Bioética e Direitos Humanos, possibilita à Bioética
ser uma ferramenta para as soluções de conflitos éticos que possam atentar contra os direitos
fundamentais.
Ao tratar das questões éticas suscitadas pela medicina, ciências da vida e tecnologias
associadas na sua aplicação aos seres humanos, a Declaração, tal como o seu título
indica, incorpora os princípios que enuncia nas regras que norteiam o respeito pela
dignidade humana, pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. Ao
consagrar a bioética entre os direitos humanos internacionais e ao garantir o respeito
pela vida dos seres humanos, a Declaração reconhece a interligação que existe entre
ética e direitos humanos no domínio específico da bioética. (ONU, 2006).
No Art. 23, a DUBDH afirma que a formação em Bioética deva ocorrer em todos os
níveis educacionais.
§1. Com vista a promover os princípios enunciados na presente Declaração e
assegurar uma melhor compreensão das implicações éticas dos progressos
científicos e tecnológicos, em particular entre os jovens, os Estados devem esforçar-
se por fomentar a educação e a formação em matéria de bioética a todos os níveis, e
estimular os programas de informação e de difusão dos conhecimentos relativos à
bioética. (ONU, 2006 p. 10).
Em 2012, o Brasil estabeleceu as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos
Humanos – DNEDH (2012), que têm por finalidade promover valores e transformação social,
com o intuito de combater as desigualdades, preconceitos, discriminação social, racial e a
violência que se fazem presente no ambiente educacional.
Art. 2º A Educação em Direitos Humanos, um dos eixos fundamentais do direito à
educação, refere-se ao uso de concepções e práticas educativas fundadas nos
Direitos Humanos e em seus processos de promoção, proteção, defesa e aplicação na
vida cotidiana e cidadã de sujeitos de direitos e de responsabilidades individuais e
coletivas.
§ 1º Os Direitos Humanos, internacionalmente reconhecidos como um conjunto de
direitos civis, políticos, sociais, econômicos, culturais e ambientais, sejam eles
individuais, coletivos, transindividuais ou difusos, referem-se à necessidade de
igualdade e de defesa da dignidade humana. (BRASIL, 2012. p.1).
Este documento é um marco na educação brasileira, pois irá desenvolver a
sensibilidade ética nas relações interpessoais, buscando uma educação pautada na formação
para vida, promovendo a comunidade escolar um aprendizado voltado à responsabilidade
individual e coletiva.
No artigo 3º das DNEDH, a finalidade de promover a educação para a mudança e a
transformação social, fundamenta-se nos princípios da dignidade humana, da igualdade de
direitos, do reconhecimento e valorização das diferenças e das diversidades, entre outros
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(BRASI, 2012. p.1,2). Para que os conteúdos sobre Educação em Direitos Humanos sejam
trabalhados, o artigo 6º do mesmo documento afirma que:
Deverá ser considerada na construção dos Projetos Político-Pedagógicos (PPP); dos
Regimentos Escolares; dos Planos de Desenvolvimento Institucionais (PDI); dos
Programas Pedagógicos de Curso (PPC) das Instituições de Educação Superior; dos
materiais didáticos e pedagógicos; do modelo de ensino, pesquisa e extensão; de
gestão, bem como dos diferentes processos de avaliação. (BRASIL, 2012. p.2).
As DNEDH estabelecem no artigo 7 que os conhecimentos sobre a Educação em
Direitos Humanos poderá ocorrer de forma transversal, de forma disciplinar ou das duas
formas. (BRASIL, 2012. p.2,3).
O Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século
XXI, presidida por Jacques Delors, indica quatro pilares do conhecimento: 1 – Aprender a
conhecer; 2 – Aprender a fazer; 3 – Aprender a viver juntos e 4 – Aprender a ser (DELORS,
1998). Destaca-se aqui, relacionando a Educação com a Bioética, a importância de uma
Educação que direcione o conhecimento também para aprender a viver juntos e para o
aprender a ser.
Análise dos resultados da pesquisa no livro didático de Sociologia
Foi analisado o livro Sociologia em Movimento, de Afrânio Silva e outros (2013),
volume único, com 15 capítulos para os três anos do ensino médio. Inicialmente buscou-se o
termo Bioética, em atendimento ao artigo 23 da DUBDH que foi citado apenas uma vez e de
forma indireta. Refere-se a uma decisão sobre o uso de células tronco pelo Supremo Tribunal
Federal, PL 2401/03 que “prevê - entre outras questões - permissão para que os cientistas
brasileiros usem em suas pesquisas células-tronco de embriões humanos congelados há mais
de três anos, o que hoje é proibido no país." (SILVA 2013, p. 31). A importância deste achado
refere-se a discussão de questões éticas atuais sobre os avanços das pesquisas genéticas.
Ante isso, foram estabelecidos outros termos, cujos resultados podem ser conhecidos
no Gráfico 1. Optou-se, neste artigo por analisar o termo mais citado: Direitos Humanos.
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Gráfico 1 -
05101520253035
CONCEITOS DE BIOÉTICA ENCONTRADOS NO LIVRO DE SOCIOLOGIA
Fonte:SILVA, Afrânio. et al. Sociologia em Movimento. Curitiba, PR. Ed. Moderna, 2013.
Neste livro há um capítulo sobre Democracia, cidadania e direitos humanos, com 32
citações ao termo/descritor Direitos Humanos. Considera-se assim, que, o livro está
atualizado quanto ao artigo 7 das Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos
sobre a inserção dos conhecimentos da Educação em Direitos Humanos na educação básica.
No livro, os autores apresentam a cronologia dos direitos humanos, a partir da
proclamação dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, da Assembléia Geral das Nações
Unidas que proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948 e da criação da
Secretaria Nacional de Direitos Humanos, no Brasil pelo Decreto nº2193/97.
Sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos, os autores fazem apresentam os
artigos I, II, III, VI e VII, que abordam sobre a liberdade, igualdade e a não discriminação.
Também informam sobre Tratados Internacionais de Direitos Humanos como a prevenção e a
repressão do crime de genocídio, Eliminação de todas as formas de discriminação racial,
Discriminação contra as mulheres, Direito da Criança, e Direitos da Pessoa com Deficiência.
Estes documentos e salvaguardas dos direitos existem pois são os resultados dos processos
históricos de afirmações dos direitos humanos e “fruto da mobilização e demandas da
população para garantir os direitos de cidadania” (SILVA, 2013,p. 178). Neste sentido,
Oliveira (2011, p. 18-19) analisa que a Bioética e os Direitos Humanos compartilham da
busca para moldar condutas humanas e integrá-las numa pauta de valores que a sociedade
entende como “essenciais para a convivência pacífica e condições dignas de vida – entendidos
como bens éticos básicos”. Os autores, ao abordar os direitos também apresentam os direitos
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dos jovens, o Estatuto da Criança e Adolescente e fazem a indicação de pesquisa sobre os
direitos da criança e do adolescente.
Dialogando com a DUDH e DNDH as questões étnico-raciais são abordados no livro.
Os autores abordam a Lei nº 7716/89, que torna o racismo crime inafiançável no Brasil.
Analisam que é necessário que a construção das sociedades seja fundamentada em direitos
humanos e na valorização da diversidade étnico racial do Brasil.
No caso específico da questão racial, é importante compreender que ela se localiza
no campo que inclui a construção social, histórica, econômica, política e cultural das
diferenças em nossa sociedade. É o início de um longo caminho rumo a uma
sociedade fundamentada no respeito às diferenças e aos Direitos Humanos (SILVA,
2013, p. 123).
Estes conteúdos estão em concordância com a Declaração Universal sobre a
Diversidade Cultural, da UNESCO (2002), apesar de não informada pelos autores. A
perspectiva interdisciplinar perpassa a temática dos direitos humanos no livro analisado de
acordo com Morin (2002). Apesar de não haver a citação do termo Bioética, as temáticas dos
direitos humanos estão diretamente conectadas, pois em ambas as áreas a categoria dignidade
tem grande relevância, assim como a desconstrução dos preconceitos e a consolidação de uma
sociedade mais justa, equânime e democrática.
Os autores analisam o papel do Estado na defesa dos Direitos Humanos abordando que
“todos devem usufruir do conjunto total de direitos e de cada um na sua totalidade, pois todos
os direitos são universais. Portanto, devem ser tratados de forma global, justa e equitativa. É
dever de o Estado promover e proteger todos os direitos humanos de forma integral” (SILVA,
2013, p. 179). Esta discussão é importante, pois permitem aos jovens compreenderem seu
papel social e também as obrigações do Estado na promoção e defesa dos Direitos Humanos.
Neste sentido, este conteúdo está relacionado ao proposto nas Diretrizes sobre o Ensino em
Direitos Humanos, afirmando a importância da educação em “promover a educação para a
mudança e a transformação social, fundamenta-se nos princípios da dignidade humana, da
igualdade de direitos, do reconhecimento e valorização das diferenças e diversidades”
(BRASIL, 2012. p.1,2). Neste sentido, a DUDH, atribui à educação papel fundamental para a
promoção dos Direitos Humanos, tendo por sua vez duas finalidades, tornando-a um direito e
ao mesmo tempo colabora para garantia dos demais direitos, como no Artigo 26
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§1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos
nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A
instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior,
esta baseada no mérito.
§2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da
personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e
pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e
a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as
atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz, compreensão, a
tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e
coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. (ONU,
1948, p. 14).
Os movimentos sociais também são analisados sob a perspectiva dos direitos
humanos, mencionando o movimento estudantil, o Movimento Feminista, Movimento Negro
e Movimento Ambientalista. A importância desta temática em fazer o jovem refletir sobre a
importância dos movimentos sociais na busca por direitos e por assegurar um tratamento mais
igualitário.
Os autores também abordam sobre o trabalho escravo e os organismos nacionais e
internacionais de defesa dos direitos humanos, o qual reconhece ainda existir trabalho escravo
no país. No texto de introdução aborda a questão de os direitos humanos estarem interligada a
desigualdade social e para exemplificar ele cita que há várias formas de desigualdade, como:
desigualdade de gênero, racial, econômica. Esta discussão está intimamente relacionada com
a DUDH, Artigo 4. “Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o
tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas” (ONU, 1948).
A importância da discussão destas temáticas no espaço escolar representa um avanço
na consolidação de uma sociedade mais democrática. A escola deve transmitir os saberes e
também compreender o mundo em que vivem e estarem preparados para responder os
desafios.
Mais do que preparar as crianças para uma dada sociedade, o problema será, então,
fornecer-lhes constantemente forças e referências intelectuais que lhes permitam
compreender o mundo que as rodeia e comportar-se nele como atores responsáveis e
justos. Mais do que nunca a educação parece ter, como papel essencial conferir a
todos os seres humanos a liberdade de pensamento, discernimento, sentimentos e
imaginação de que necessitam para desenvolver os seus talentos e permanecerem,
tanto quanto possível, donos do seu próprio destino (UNESCO, 2003 p. 100)
Para o desenvolvimento desta educação interdisciplinar no Ensino Médio, Morin
(2002, 2004) analisa que o ser humano é complexo, plural, sócio-político-cultural, com
aptidões para produzir, construir, aprender, conhecer, evoluir em busca do exercício da sua
cidadania e conquista de sua autonomia.
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Além dos textos de desenvolvimento dos conteúdos, os autores usam o espaço das
atividades para desenvolver pesquisas além do espaço escolar. Nesta perspectiva, a
investigação sobre a violação dos Direitos Humanos, é apresentada pelos autores com a busca
em diversas fontes e quais foram às providências tomadas pelos órgãos em diferente nível
(municipal, estadual, federal) com relação aos casos apresentados. Os exercícios e as
atividades de pesquisa em outras fontes são importantes, pois propiciam aos estudantes
atitudes investigativas, a relação entre os saberes de diferentes campos do conhecimento
propiciam a reflexão interdisciplinar do conhecimento. As atividades de pesquisa
desenvolvem a autonomia do estudante, a análise do papel dos órgãos públicos e o exercício
da cidadania. Ao analisar casos reais os estudantes são confrontados com as situações vividas,
analisam as questões éticas envolvidas e buscar ver como os órgãos competentes apresentam
soluções para a sociedade. Outras fontes de pesquisa são sempre enriquecedoras e neste
sentido os autores indicam um documentário como fonte complementar de aprendizagem,
como o documentário “Direitos Humanos, a exceção e a regra” que retrata a situação dos
direitos humanos no Brasil e algumas histórias nos últimos 40 anos. Traz também indicações
de outros de apoio teórico e indicação de sites para pesquisa
Considerações finais
Neste artigo buscou-se analisar o ensino da Bioética no Ensino Médio, com a análise
dos documentos oficiais como a LDB, a DUBDH. Os resultados constatam que o termo
Bioética ainda é pouco ensinado, demonstrando que o ensino médio está em descompasso
com o estabelecido no artigo 26 da DUBDH. Ressalta-se que os princípios e referenciais da
Bioética, como a vulnerabilidade, cidadania, desigualdades, dignidade, direitos humanos,
entre outros são ministrados na disciplina de Sociologia. Ante estes resultados, optou-se por
analisar o termo e os conceitos de Direitos Humanos. Constatou-se que primeiramente é
apresentada a perspectiva histórica de consolidação dos Direitos Humanos, passando pelo
ensino do papel do Estado no estabelecimento de políticas públicas e da construção do
arcabouço jurídico como o Estatuto da Criança e Adolescente, assegurando os direitos e
deveres dos cidadãos. Os autores no livro analisado também inferem sobre o papel da
sociedade e dos movimentos organizados no combate aos preconceitos, trabalho escravo e
todas as formas de discriminação.
Edgar Morin possibilitou a compreensão da necessidade da superação do ensino
disciplinar e da importância do ensino inter e multidisciplinar, para se compreender o sentido
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da condição humana. Neste sentido, há um diálogo com os autores que fundamentam a
Bioética pois esta só pode ser ensinada e compreendida na perspectiva da
interdisciplinaridade. A Bioética e os Direitos Humanos têm como ponto de encontro a
dignidade humana, como analisa Oliveira (2007 e 2011). Considerando que o Ensino Médio,
é a etapa final da educação básica, é uma fase imprescindível no processo educacional para o
exercício da cidadania. (MESSIAS, ANJOS, ROSITO, 2007).
Neste artigo demonstrou-se que os referenciais da Bioética e o Ensino em
Direitos Humanos são conteúdos da disciplina de Sociologia, fato este que se espera
contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, equânime e que as pessoas vivam
com dignidade.
REFERÊNCIAS
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