A Busca

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José Marcio Souza Costa A Busca “um encontro humano”

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A cada encontro sempre deixamos para o outro ou recebemos algo que nos muda para sempre. Sem percebermos somos transformados a cada palavra, cada olhar, cada abraço daqueles que invadem nossas vidas quer ser convidados quer não.

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José Marcio Souza Costa

A Busca“um encontro humano”

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José Marcio Souza Costa

A Busca“um encontro humano”

SÃO PAULO - 2011

editora

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© Editora Lexia Ltda, 2011. São Paulo, SPCNPJ 11.605.752/0001-00

www.editoralexia.com

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o prévio e expresso consentimento do autor.Impresso no Brasil. Printed in Brazil.

Editores-responsáveisFabio Aguiar

Alexandra Aguiar

Projeto gráficoFabio Aguiar

Diagramação e capaEquipe Lexia

RevisãoBianca Briones

editora

C837b

Costa, José Marcio Souza

A busca: um encontro humano / José Marcio Souza

Costa. -- São Paulo: Lexia, 2011.

104 p.

ISBN 978-85-63557-68-1

Inclui bibliografia

1. Literatura - Brasileira. I. Título.

CDD – B869

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“Desde o nascimento até a hora de nossa partida, vivenciamos uma busca contínua. Nem sempre sabemos

com convicção o que procuramos, mas, trilhamos em busca. Nossa busca de uma forma ou outra é nossa volta

para casa e esta volta dependerá na verdade dos caminhos que trilhamos, das companhias de viagem e sobre tudo da

direção que temos que ir.”

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Prefacio

Este livro não tem como objetivo competir com grandes escritores ou ser um livro de sucesso, o objetivo é apenas expor e nivelar ideias comuns de uma interpretação do autor acerca de nosso modo de viver contrapostos ao de um passado não tão distante. Uma forma de dizer que estamos caminhando para uma evolução desumanizada e robótica, feita de forma simbóli-ca. Uma oportunidade de repensar nossas ideias e convicções.

Este livro trata do humano é uma narrativa fictícia que se apoia nas dores humanas adquiridas pelo processo atual que tem levado ao homem a ser cada vez mais afastado de si próprio, de Deus e dos outros. Vejo, nos dias de hoje, que o homem tende a ser mais triste, pois, a comunicação rápida e o ritmo acelerado sem função diferente de trabalho, tem tornado o homem cada vez menos sensível, menos amável, menos humano.

Do homem de enxada nas costas que junto com filhos, pais e irmãos cultivavam grandes campos para o sustento, até o homem tecnológico que compra, vende, conversa e trabalha sem sair da cadeira de seu escritório, há um processo de perda e ganho, sendo o mais grave na verdade a perda de sensibilidade.

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O livro começa com um encontro de vidas onde um trabalhador autônomo neste perfil moderno, estressado, se vê motivado a parar suas atividades para ajudar um misterioso senhor que entra em sua vida pela porta da frente sem ser percebido.

Neste encontro o escritor é forçado a encontrar com pesso-as, cada pessoa uma história de vida e um ensinamento diferente.

Não sendo para ele comum este contato físico diferenciado ao trabalho dele, o escritor acompanhado do velho entrará nas casas e nas vidas de pessoas diversas tentando encontrar a família do velho, mas, ele encontrará muito mais do que procura, encon-trará a si próprio e ao ser humano.

A busca não é um livro teológico ou religioso, porém, se apoia na necessidade da fé humana em Deus, levando em muitos dos textos a defender tais teorias e sempre referencia a Bíblia e personagens bíblicos para ilustração das ideias

A todos que poderão ter a oportunidade de ler, ressalto que este livro não defende religiões ou descrimina pessoas e seus atos. Os relatos aqui descritos buscam mostrar de uma forma simples algumas características que confrontam desvantagens deste pro-cesso evolutivo que vivemos.

Esperando que todos gostem, tentei tratar do assunto de forma bem simbólica e resumida.

Gostaria de compartilhar com todos os leitores sobre o assunto e dedico este livro a todos os meus familiares, minha es-posa, companheira de toda a vida, minha filha, presente de Deus, e amigos que compartilharam conhecimentos e ensinamentos do que acredito e pude escrever.

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Porque viver não é apenas estar, é participar

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Sumário

Capítulo 1 – Solitários ................................................................. 13 Capítulo 2 – Necessidade de complemento ................................. 37

Capítulo 3 – Felicidade: buscas frustrantes .................................. 49

Capítulo 4 – Entendendo a felicidade ........................................ 63

Capítulo 5 – Anjos o encontro que transforma .......................... 85

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Capítulo 1

Solitários

O início da jornadaEstranho como o que transforma nosso jeito de ser e ver o

mundo tende a simplesmente aparecer em nossas vidas quando não estamos esperando. Foi assim que tudo começou.

Em um dia que tudo parecia caminhar normal, acordei como de costume, fiz o meu café e fui logo para meu escritório realizar meus trabalhos diários.

Trabalhava como contador para inúmeras empresas de pequeno e médio porte. Fazia parte do meu cotidiano uma agenda cheia. Ficava em frente do computador por horas a fio calculando lucros, pagando impostos, realizando transa-ções online, saindo apenas às vezes para visitar as empresas dos clientes ou bancos.

Não pouco frequente, deixava de me alimentar de maneira adequada ou de ter lazer entre família e amigos. Para se ter uma ideia de quanto minha agenda era cheia, já fazia meses que não saía de casa, com exceção obviamente, das condições citadas an-teriormente que se refletia em trabalho.

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Meu jeito de ver o mundo se limitava em poucas coisas, entre elas, dinheiro, trabalho, necessidades básicas e saúde física. Neste estágio de vida me tornei uma máquina de trabalhar, traba-lhava para viver, vivia para trabalhar. Não tinha lazer nem prazer em minha vida acreditando que poderia ter tudo com o dinheiro que ganharia e compraria assim que o adquirisse.

Na manhã em que ele entrou em minha vida, eu estava muito ocupado como habitualmente. Nem por um instante que-ria perder meu tempo com um velho estranho, mas, como disse, o que nos transforma aparece simplesmente.

De repente, à frente de minha escrivaninha, estava aque-le homem, cabelos brancos, barba feita, não usava óculos. Não entendi o que ele fazia dentro de minha casa e nem o vi entrar, estava tão perdido em meus documentos e papéis de contas que me sentia o homem mais ocupado do mundo, a ponto de não perceber o quão era estranho um homem que eu nunca havia visto antes, adentrar em minha casa sem que eu o percebesse.

– Quem é você? – perguntei-lhe logo, – Não sei! – ele me respondeu. “Não sei” não é uma resposta que se espera, mas, como não

se pode entender tudo, continuei a interrogá-lo. – O que faz aqui?– Não sei! – respondeu-me novamente. Ora, mas como alguém entra na casa de outra pessoa sem

saber o que quer? E por que não me fala quem é? Pensei em chamar a polícia, no entanto, achei desnecessário por ver em um homem idoso, um jeito inofensivo.

Pedi para que se retirasse, no entanto, ele me disse que ti-nha sede e fome. Dei-lhe de comer e beber e tentei continuar a empreitada de questioná-lo, porém, não consegui nenhuma resposta. Só depois de um tempo percebi que se tratava de um homem sem memória.

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Vi-me então no meio da sala, sentado no sofá, conversando com um homem velho sem memória e ainda me sentia muito ocupado com minhas atividades.

Mas como deixar um velho sem memória sozinho nas ruas? Não tive coragem de expulsá-lo. Percebi que estava em uma situ-ação bem atípica da minha vida. Resolvi então procurar pela fa-mília dele supondo que ele errou a casa e que certamente morava ou estava alojado na casa de um dos meus vizinhos.

Supostamente ele saiu da casa que estava sem que um pos-sível tutor percebesse e voltou para casa errada. Larguei meu tra-balho pela primeira vez em meses.

Acreditando não demorar sai com o velho para a busca de sua família e lar. Sem imaginar que iria encontrar muito mais que pensei estar indo procurar.

A procura

Estive ocupado demais pra mim Procurando ter e conquistar, me esqueci de ser e de estar. Preso em tempos que pensei que não se passava, me vi envelhecido e esquecido De uma forma que não esperava. Sonhei muito, planejei demais, sofri muito e me deixei pra trás. Me iludi com o que não era real, me deixei levar pelo que fez mau Cansado de me enganar resolvi me procurar. Por dias afio comecei a me buscar, mas minha vista estava cansada demais pra me enxergar

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Tentei ouvir o que antes não procurei escutar, consegui ouvir o que minha audição não soube decifrar Procurei os que antes faziam parte de minha vida esperando ainda estar lá E tudo que encontrei foi saudades de um tempo e povo que não mais vai voltar. Meus passos foram lentos, na busca do que ainda há Não ficou nada, não tinha nada a encontrar. Que pena, que pena, não soube aproveitar Vivi como se não fosse eu, fui uma máquina de trabalhar. Triste lamento tanta coisa a explorar! Deixei pra trás uma vida inteira que nunca mais vai voltar.

Assim bati na porta do primeiro vizinho com o velho ao meu lado. Carlos Amadeu saiu daquela casa. Eu nunca o havia visto, ao conversar com ele percebi que ele era meu vizinho há 6 anos. Ele também nunca havia me visto. Me disse que o velho não pertencia ao seu convívio, nos convidou a entrar e começa-mos a conversar.

Carlos era policial, me contou sobre os crimes soluciona-dos por ele, ouvi histórias lindas e me emocionei muito. Uma delas, eu me lembro, se refletia na história de um assassina-to de um adolescente negro, a mãe estava inconformada, mas, a polícia aparentemente não fez muito caso. Acreditava-se ser queima de arquivo, supôs-se que o garoto tinha envolvimento com drogas. Carlos se comoveu com as lágrimas de uma mãe e resolveu investigar, mesmo que sem apoio de seus superiores, a morte do garoto.

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Descobriu então que o garoto nunca havia se drogado ou vendido drogas, ele apenas foi confundido com um ladrão no mercado do bairro. O dono do mercado sem hesitar matou o jovem com um tiro na cabeça.

Todo um futuro findado, uma família arruinada, uma mãe de luto, mas Carlos deu a ela pelo menos a dignidade de ver preso o assassino, sabendo assim que ele não mais faria mal a criança nenhuma. Após este fato ele foi classificado como herói pelo batalhão. Havia sido condecorado várias vezes e onde passava era elogiado. Sem dúvidas heróis fazem falta em uma sociedade.

Me lembrei que fui contador do referido comerciante em uma época, eu o incentivei a ser próspero em seu mercado, mani-pular imposto para ganhar mais, enfim ser ganancioso pelo suces-so financeiro. Repensei um pouco na minha vida, será que toda ganância que levou o homem a fuzilar sem piedade um jovem, só por acreditar que este o roubava, não era mesmo que um pouco influencia minha?

O homem que estava comigo ouviu todas as histórias sem pronunciar uma palavra. Ao sair da casa, porém, me olhou e me confidenciou algo que me deixou perplexo.

– Sou o homem mais rico do universo – disse ele —, pois tudo que tenho não podem me roubar e se quiserem me roubar, dou a quem quiser de bom grado. Me alegro em doar e me enriqueço mais que antes, quanto mais entrego mais te-nho. O que tenho eu dou a quem quiser e o que não tenho não preciso, desta forma me torno rico enquanto doo a quem queira e nada me falta.

Fiquei tentando entender o que ele quis dizer e entendi que ele não falava de dinheiro ou coisas materiais, pois para mim, que sou tão acostumado com a matemática, só se pode somar o que tem e não o que se doa.

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Percebi que ele não era só um homem sem memória era também um homem muito inteligente e intrigante e enquanto tentava entender, pensava sobre o sentido heroico.

Conceitos de heróis Um herói se preocupa com seus semelhantes a ponto de

estar disposto a morrer para salvar a vida do outro. É altruísta, corajoso, dedicado, amável, fiel, bondoso, motivado. Um herói é a personalização de um humano perfeito.

Não se sabe ao certo quem foi o primeiro herói citado ou criado pelos homens, talvez o primeiro herói tenha sido Sansão. Por ser um personagem bíblico, este fora o primeiro herói real que viveu a alguns milhares de anos antes de Cristo.

Sansão foi um homem consagrado por Deus com a missão de proteger todo o seu povo de um povo inimigo, sua força era tal que chegou a matar um leão com as mãos ou matar centenas de homens com alguns golpes.

Conta a história bíblica que a mãe de Sansão era estéril e um anjo anunciou-lhe que teria um filho o qual seria consagrada a Deus.

Um menino com força sobrenatural cresceu naquele povo israelita, ele era destinado a salvar seu povo dos abusos dos filis-teus, seria forte mas, jamais a navalha passaria a sua cabeça, ou seja, nunca cortaria seu cabelo.

Quando adulto se tornou o herói defensor de seu povo, fora casado duas vezes, nas duas as respectivas mulheres o traí-ram. Sua primeira mulher o traiu por ser ameaçada, ela era do povo filisteu e seu próprio povo a intimidou ameaçando a matar e matar seus familiares, caso ela não revelasse a eles o segredo de um enigma proposto por Sansão.

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Ela o seduziu através de choros e solicitações de provas de amor, conseguiu a resposta do enigma e entregou a seu povo. Uma grande tragédia acontece a partir deste instante, Sansão irri-tado mata muitos filisteus e os filisteus matam sua mulher, que já não estaria mais em seu convívio.

Sua segunda esposa, Dalila, teve uma oferta, um alto valor financeiro para que ela descobrisse o segredo da força de Sansão, os filisteus queriam uma forma de prendê-lo e humilha-lo, eli-minando assim o herói israelita. Ela aceitou e traiu seu esposo através da sedução.

Implorando que contasse seu segredo em provas de amor ele cedeu, confiou e contou que sua força permaneceria enquanto seu cabelo fosse comprido.

Dalila esperou o momento oportuno, fez Sansão dormir em seu colo, chamou um homem que o raspou o cabelo e entre-gou-o a seus inimigos.

Depois de Sansão, foram criados vários outros heróis até os dias de hoje, no entanto, cada um com características e pontos fracos diferentes. Mas por que o homem tem tanta necessidade de um herói? O que o herói representa para o homem?

O ser humano é um ser complexo. Diferente dos animais, o homem tem consciência de suas limitações, fraquezas, temores e que é temporal, ou seja, sabe que vai morrer.

Ele sabe que sua vida pode se findar de um instante para outro, que na imensidão do desconhecido pode estar escondido sua morte mesmo que ele não a entenda e isto o assusta.

Pela necessidade de preencher este vazio e superar o medo, o ser humano cria os heróis ou os idealizam em homens e mulhe-res que se destacam por algo diferente do comum.

Assim como Sansão os heróis aparecem e salvam seus protegidos. São eles quem garantem salvar o ser ameaçado em momentos de riscos, nos quais, as limitações próprias

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já não são suficientes para salvar e não se pode contar com mais ninguém.

O herói é o único que possui em si as características neces-sárias para defender o ser ameaçado do risco em questão.

Com o decorrer dos anos, após evoluções científicas e descobertas de ameaças novas, os heróis criados ficaram ineficientes para o combate, por isto, foi criado um novo grupo de heróis que são os super-heróis. Estes por sua vez conservam todas as características e razões de existir dos he-róis convencionais com um atrativo a mais, possuem super-poderes. Deste grupo nossa ficção tem imaginado limitações muito superiores às humanas, poderes que variam de gêneros mais simples aos mais complexos como voar, mudar de for-ma, ficar invisível, enfim, poderes que os permitem enfrentar desafios nunca antes imaginados.

Os heróis independente de ter ou não superpoderes, estão prontos para defender seus protegidos dando a vida se for necessário, porém, como disse, todos possuem um ponto fraco.

Talvez esta condição do ponto fraco se da pelo conhecimen-to da história de Sansão que é um herói real modelo ou então os criadores entenderam que se não fosse assim os heróis deixariam de ser heróis para serem deuses, perderiam suas características.

A imagem dos heróis tranquiliza em geral o cidadão. O hu-mano ciente de suas limitações conta com seres que superam suas próprias para serem heróis ou naturalmente as tem superiores as humanas, super-heróis são também sobre humanos.

Mas mesmo assim um herói também é uma carência de Deus, pois, se olhados bem de perto veremos que todo herói su-pre uma carência do divino, disponibilizando uma proteção além da proteção comum que nos pode ser dada por um sistema ou nossos próprios méritos.

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Se o homem adulto tem os heróis como espelho e esperan-ça de acordo com suas limitações, as crianças os têm mais inten-samente, pois para elas existe mais fascínio e encanto.

Imaginar os heróis salvando as pessoas, corrigindo as injustiças, salvando a natureza, utilizando máscara, máquinas futuristas e armas sofisticadas, para as crianças possui um toque mágico. É magnífico!

Quando uma criança se sente protegida e quer proteger, a imagem do herói é o que lhe vem em mente.

Muitas vezes esta imagem heroica é transferida para um adulto mais próximo como pai, irmão, professor entre outros. Este fato se torna um grande desafio para os adultos que por muitas ve-zes não percebem quando ocupam esta posição de herói. Acabam por decepcionar as crianças de tal forma que elas se perdem em seus ideais deixando o brilho heroico ser ofuscado e seu espelho man-chado pela imperfeição daquele que por ela foi idealizado.

A criança quer ser um herói, salvar o mundo e seus amados, ela é carinhosa e amável e tem nos olhos a motivação de fazer o bem, se identifica com os ideais heroicos.

Apesar do espelho do herói ser positivo, os heróis também têm pontos negativos o que acabam contaminando as crianças.

Características negativas dos heróis.O poder do herói e seu ideal de bondade inspiram em mui-

to todas as pessoas principalmente as crianças, porém, sua condu-ta social é um reflexo negativo.

Visto que todo herói tem inimigos e ponto fraco, eles são obrigados a viver isolados e mascarados, sua máscara é uma for-ma de se esconder, esconder do mundo o que se é. Incrível! Os melhores seres idealizados escondem o rosto como se fosse ruim o que fazem.

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Um herói não tem família, pois tem medo do risco de expor quem ama. Se por um lado o herói é a idealização do per-feito, por outro ele é medroso, solitário, mentiroso, melancólico e infeliz.

O herói é um escravo do homem, trabalha para proteger dia e noite. Embora nobre e altruísta, a missão do herói o priva de ser uma pessoa feliz e usufruir de uma liberdade de agir pensar e viver.

Um herói não confia em ninguém, acredita que sempre há alguém tramando para sua destruição ou destruição de seus amados.

Estas desconfianças e medos se concretizam na história de Sansão, sua primeira esposa morre assassinada por vingança contra ele e a segunda Dalila, esforça para descobrir qual seu ponto fraco.

Outro ponto negativo, também na influência dos heróis às pessoas é o físico. Normalmente bonitos e com corpos bem definidos, os heróis usam trajes coloridos e chamativos que nor-malmente possuem apelo à sexualidade.

Heróis e heroínas são normalmente idealizados com beleza escultural e corpos sensuais. Isto se deve em parte a cultura da beleza que associamos a bondade automaticamente.

Essa associação de beleza nos é brotada desde criança. Nos-sas mães nos ensinam que tal atitude má nos torna feios e outras boas nos tornam bonitos.

Tal cultura nos faz imaginar criaturas más horríveis e Deu-ses e anjos ou qualquer criatura boa, lindos.

Da mesma forma os heróis por serem bons são idealizados como belos, e como temos a tendência de cultura bidirecional, se o que é bom é belo o que é belo é bom.

Logo o conceito fica errôneo, pois a beleza não pode ser asso-ciado à bondade embora a bondade possa ser associada a beleza.

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Conceito da belezaComo definir o que é belo? Fiquei algum tempo tentando

buscar esta reposta.Beleza no conceito geral pode se dizer de tudo que nos

agrada ser visto. Logo a beleza esta nos olhos de quem a vê. Sendo humanos, conceituamos belo tudo que se for-

ma em organização e harmonia sistemática. Ou seja, toda forma bela deve respeitar uma organização da qual somos habituados a ver estando no lugar e não sendo diferente dos padrões. Assim determinados pelo subconsciente do que é belo resume em simetria de lados e harmonia dos conjuntos que formam um todo.

Sendo assim o contrário passa a ser verdade para o que é feio. Feio é qualquer coisa desarmônica (desorganizada), assimé-trica e desconhecida a primeiro instante aos olhos. Esta terceira definição muda o status após o período de psicoadaptação.

É que muitos objetos embora tenham certa beleza ficam ofuscados no primeiro instante pelo choque do ver.

O primeiro contato com o desconhecido é rejeitado, após alguns instantes, vendo novamente com mais calma, esta impressão pode mudar do conceito feio para belo. Psicoadap-tar é acostumar com estímulos psíquicos também na forma de interpretar beleza.

A partir desta definição podemos dizer o porque o bom pode ser associado ao belo. Tudo que é bom é agradável a ser visto.

Mesmo que a estrutura básica saia do padrão citado ante-riormente, o bom por ser agradável ganha uma forma nova de ser visto. A isto chamamos de beleza mas não sabemos defini-la.

A beleza simétrica através de estudos, tecnologias e recursos financeiros para custear, pode ser moldada.

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Especificamente a beleza humana, os padrões passam por corpos perfeitos e roupas que valorizam o corpo. Logo tudo isto pode ser comprado.

É neste ponto que podemos concluir que o belo não neces-sariamente pode ser associado ao bom, pois, pode ser montado. O que não é bom passa a ser evitado de ser olhado e interpretado com uma força repulsiva a isto chamamos de feio. A mídia po-rém insiste em fabricar pessoas belas que são vendidas igualmente como boas sem ser.

Baseados nisto um problema ainda maior. Se associamos o belo ao bom, se o herói é bom então o belo pode ser idealizado como herói. Assim a mídia coloca atores, atrizes entre outros bo-nitinhos que aparecem por ai, como heróis modelos.

Os heróis criados para vender produtos, os heróis da mí-dia, possuem a função de influenciar pessoas a desvalorizar todo conceito do agradável e bom para aceitar o conceito da beleza a todo custo.

Um conceito de herói errôneo nasce para espelharem prin-cipalmente jovens e crianças.

Herói social e o risco da desilusãoNo conceito humano e suas limitações deveriam se caracteri-

zar como herói social, pessoas que se entregam a causas humanitá-ria a fim de proteger os pequenos e fracos ou pessoas que superam limitações quer física ou social com dignidade, como policiais, mé-dicos, professores, atletas e renomados homens que apesar de terem vidas dificílimas superaram e atingiram grandes conquistas.

A interpretação comercial troca os valores heroicos e ven-dem um grupo de pessoas através da mídia que não tem nada de herói.

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Este grupo de herói social moldado pela mídia é normal-mente individualista e não possui muita ética, são pessoas que possuem status sociais, bonitos e bem-sucedidos.

Apesar de apresentarem destaque os meios pelos quais che-garam a este status, contradizem todo o conceito de um herói.

Homens e mulheres na idealização de heróis servem de mo-delos de venda. Uma sociedade inteira acompanha uma mentalidade pequena, egoísta e narcisista, focando a beleza simétrica como fonte principal, o que vale é ser reconhecido e belo não importando como.

Fantoches de heróis aparecem todos os dias nas revistas, rádios e televisão. Vestir como um destes, cantar suas músicas ou imitar seus comportamentos, nos da ilusão que somos melhores e reconhecidos.

É lamentável ver como uma coisa tão positiva como ter um espelho heroico pode se transformar em algo tão ruim como ser copiadores de nuvens passageiras que nos molham em uma leve brisa e depois secos acostumados com frescor da neblina, ficamos esperando outra passar.

Os heróis sociais da mídia são assim, ficam pouco tempo, modismo superficial que não deixam nem recordação a longo tempo. Baseados pela beleza, são superados facilmente, basta ape-nas o conceito de moda ou o tempo passar para um destes lindos nem serem vistos mais.

Quem foi o melhor cantor de 10 anos atrás? Quem era o jogador mais falado? Qual modelo mais bem-sucedida? Quem era o homem mais rico?

Uma certeza tenho, se ainda lembramos de algum será por pouco tempo.

Percebi ser necessário cautela ao se espelhar nas pessoas vendidas como heróis. Crianças e jovens promissores tendem a ter uma conduta ruim após ter-se esbarrado com este grupo de vendedores sem histórias.

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Os heróis reais assim como os fictícios vivem à sina de San-são, não podendo confiar em ninguém ficam solitários.

Carlos não era diferente. Seu medo de expor seus amados a risco de vida o fez optar por não se casar e ter filhos, este foi o preço que ele pagou por uma profissão motivada a salvar e defender.

O herói verdadeiro também é assim, faz o bem e se esconde em identidades secretas, máscaras ou simplesmente se afasta entre o paradoxo de ser aclamado e solitário, salvador e melancólico, corajoso para enfrentar até a morte e medroso a ponto de escon-der o próprio rosto.

Após sair da casa de Carlos, caminhei para a segunda casa, lá encontrei Clara.

A menina da xícara Clara era uma mulher linda, exuberante, olhos azuis cabe-

los longos e negros pele morena corpo escultural. Era também minha vizinha, esta pelo menos eu já havia

visto algumas vezes na vizinhança, também quem não há havia visto? Clara chamava atenção onde quer que fosse, mas, eu não sabia nada sobre ela.

Clara foi muito simpática a nos receber, ela também não conhecia o velho que me acompanhava, nos convidou a entrar e trouxe um lindo jogo de xícaras para chá, um bule pequeno com uma porção de café. Serviu-nos carinhosamente três xícaras. O jogo estava completo sobre a mesinha da sala.

Perguntei-a porque trouxe o jogo completo ela me con-fessou que tinha um enorme desejo de usá-lo. Aquele jogo era um presente de sua mãe, a senhora que já não mais fazia parte de sua vida, deixou-o para Clara tomar chá com as amigas e amigos, como ela fazia.

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Clara nos confessou que quando criança via a mãe re-ceber as amigas para tomar chá. Por muitas horas elas con-versavam em uma mesa realizando um ritual. Entre bolachas tiradas do forno e as xícaras de chá decoradas, as amigas con-fessavam segredos, intimidades, amores, desamores, dores e alegrias.

Por vezes Clara participava das conversas, mas, às vezes sua mãe pedia o afastamento da menina, não era tempo para Clara ouvir tudo.

Quando tomei minha xícara imaginei o quanto de lágrimas sobre ela havia sido derramada e também o quanto de sorriso e sentimentos restaurados.

Clara se esqueceu por um instante que era a primeira vez que conversávamos, acho que esqueceu também que conversava com homens. Sua ânsia era tanto em compartilhar aquele ritual com alguém que nos fez amigos confidentes.

Clara nos contou angústias, afetos mal curados, dores, alegrias. Não estava acreditando que a mulher mais bonita do meu bairro guardava tantos sonhos e sentimentos. Meu Deus! Que surpresa tive por encontrar em Clara a amiga que nunca tive.

Mas Clara não tinha amigos ou amigas. Descobri que ela era chefe de uma editora de modas e as mulheres que a cercavam a invejam.

Elas viam em Clara uma mulher realizada, linda e feliz. Mas o que elas não sabiam é que o sucesso financeiro não preen-chia o vazio que a consumia, que apesar de linda só havia encon-trado em seus relacionamentos pessoas superficiais. Seus namoros e suas amizades não eram sinceros.

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Solitários na multidão Percebi em Clara uma grande solidão e esta característica

não é muito incomum nos dias de hoje. Apesar dos grandes avanços da tecnologia de comunicação,

a sociedade está cada vez mais afastada de contatos, mais solitária. O encanto acabou.

Nos tempos da mãe de Clara tudo era diferente. Não havia computadores nas casas, não havia internet, celulares ou outras tecnologias de comunicação e entretenimento como hoje, tudo era mais difícil. No entanto as pessoas eram mais felizes, menos saturadas e mais emotivas.

Clara relata em suas lembranças, na imagem de sua mãe, uma mulher compromissada com as amigas e com sua felicidade. Na época, a mulher não tinha a liberdade que tem hoje, a socie-dade descriminava por vários motivos e a liberdade de expressão era negada.

A mulher era propriedade do pai ou do marido, não podia trabalhar fora ou se divorciar. Se fosse mãe solteira era vergonha para família e se tivesse uma vida em prazeres carnais era excluída até mesmo dos convívios sociais.

Os problemas pessoais e dúvidas não eram tratados com o marido, pai ou mãe, admitia-se conversar com uma irmã ou na maioria das vezes com as amigas e vizinhas. Um ditado muito comum nesta época era “os vizinhos são os parentes mais próximos”.

Reuniões como as citada para tomar chá eram criadas para conversar trocar experiências e magoas, ouvir conselhos e aconse-lhar, se conhecerem e se ajudarem mutuamente.

Nesta época um vizinho procurava o outro para con-versar e ou ajudar de alguma forma. Quando não existia tele-

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fones celulares as pessoas procuravam uma as outras em suas casas, conversavam, abraçavam se olhavam e eram capazes de saber ou observar uma tristeza nos olhos do outro e dizer algo para animá-lo.

Os amigos sabiam qual cor era a preferida do outro ou o que gostavam de fazer e comer, sabiam onde moravam e quem era seus familiares, hoje muitas vezes os chamados amigos sabem pouco mais que o nome ou profissão.

Tenho razões para acreditar que encontros como os que a mãe de Clara promovia teria salvado muitos que cometem suicí-dio nos dias de hoje.

O encanto dos encontros era rodeado de ansiedades, espe-ranças e diálogos sinceros. Tudo era mais encantador mais inte-ressante e menos automático.

Nos tempos modernos os telefones nos encontram em qualquer lugar e as pessoas não se visitam ou se procuram pesso-almente, não se olham nos olhos e estamos ocupados demais pra tentar ajudar os outros.

Entendi porque Clara era tão solitária, sua mãe era sua heroína. Quando criança ela ainda não entendia as difi-culdades da mãe em levar uma vida conjugal ou de ser mu-lher em um mundo mais preconceituoso, mas, ela entendia que as mulheres que se olhavam naquela mesinha, comendo bolachas e bebendo chá, tinha uma energia de motivação. Como quem dizia “estou aqui por você”, todas se restaura-vam mutuamente.

Diferente dos dias de hoje, os relacionamentos, tanto os de amizade como os conjugais eram verdadeiros. Lembrei-me da história de um amigo, que relata com orgulho o melhor encontro de sua vida.

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