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II Seminário Internacional sobre Desenvolvimento Regional Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional Mestrado e Doutorado Santa Cruz do Sul, RS – Brasil - 28 setembro a 01 de outubro. A CADEIA DO LEITE NO BRASIL E OS REFLEXOS DAS AÇÕES DA COOPERATIVA CENTRAL AGROPECUÁRIA SUDOESTE – FRIMESA Márcio Alberto Goebel 1 Leomar Valler 2 Jefferson Andronio Ramundo Staduto 3 Weimar Freire da Rocha Jr 4 Resumo O objetivo central deste trabalho é examinar as estratégias que as cooperativas agroindustriais estão seguindo para a sua expansão, sendo que a mesma tem grande impacto no dinamismo de algumas regiões, no caso deste estudo foram focalizados os reflexos sobre o produtor de leite, e em particular o pequeno produtor. Para tanto foi realizado um estudo de caso da cooperativa Frimesa. Inúmeras empresas operam no setor leiteiro, principalmente as vinculadas às cooperativas e dentre elas está a Cooperativa Central Agropecuária Sudoeste – Frimesa, cuja abrangência é o Oeste Paranaense. A Frimesa, bem como outras cooperativas, tem expandido constantemente a sua capacidade de processamento e produção de produtos lácteos, e seguido, de certa forma, a tendência nacional para o setor lácteo e das cooperativas agroindustriais. Neste estudo foi analisada a evolução da Frimesa a partir do exame de diversos aspectos estratégicos adotados pela empresa ao longo do tempo, tais como, a adoção de tecnologia tanto no processo produtivo como junto aos produtores filiados, que nos últimos anos tiveram que se adequar às necessidades da qualidade e quantidade de leite solicitados pela empresa. Um dos desafios das cooperativas agroindustriais é superar o conflito do princípio cooperativo com a busca 1 Administrador, Especialista em Desenvolvimento Agroindustrial e Mestrando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio pela UNIOESTE/CampusToledo,[email protected] 2 Administrador, Licenciado em Geografia, Acadêmico de Direito, Especialista em Desenvolvimento Agroindustrial, Mestrando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio pela UNIOESTE/CampusToledo,[email protected] 3 Professor adjunto do Curso de Ciência Econômicas e do Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio da UNIOESTE/Campus de Toledo, [email protected] ; [email protected]. 4

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II Seminário Internacional sobre Desenvolvimento Regional Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional Mestrado e Doutorado Santa Cruz do Sul, RS – Brasil - 28 setembro a 01 de outubro.

A CADEIA DO LEITE NO BRASIL E OS REFLEXOS DAS AÇÕES DA COOPERATIVA CENTRAL AGROPECUÁRIA SUDOESTE – FRIMESA

Márcio Alberto Goebel

1

Leomar Valler2

Jefferson Andronio Ramundo Staduto3

Weimar Freire da Rocha Jr4

Resumo

O objetivo central deste trabalho é examinar as estratégias que as cooperativas

agroindustriais estão seguindo para a sua expansão, sendo que a mesma tem grande

impacto no dinamismo de algumas regiões, no caso deste estudo foram focalizados os

reflexos sobre o produtor de leite, e em particular o pequeno produtor. Para tanto foi

realizado um estudo de caso da cooperativa Frimesa. Inúmeras empresas operam no setor

leiteiro, principalmente as vinculadas às cooperativas e dentre elas está a Cooperativa

Central Agropecuária Sudoeste – Frimesa, cuja abrangência é o Oeste Paranaense. A

Frimesa, bem como outras cooperativas, tem expandido constantemente a sua capacidade

de processamento e produção de produtos lácteos, e seguido, de certa forma, a tendência

nacional para o setor lácteo e das cooperativas agroindustriais. Neste estudo foi analisada a

evolução da Frimesa a partir do exame de diversos aspectos estratégicos adotados pela

empresa ao longo do tempo, tais como, a adoção de tecnologia tanto no processo produtivo

como junto aos produtores filiados, que nos últimos anos tiveram que se adequar às

necessidades da qualidade e quantidade de leite solicitados pela empresa. Um dos desafios

das cooperativas agroindustriais é superar o conflito do princípio cooperativo com a busca

1 Administrador, Especialista em Desenvolvimento Agroindustrial e Mestrando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio pela UNIOESTE/CampusToledo,[email protected] 2 Administrador, Licenciado em Geografia, Acadêmico de Direito, Especialista em Desenvolvimento Agroindustrial, Mestrando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio pela UNIOESTE/CampusToledo,[email protected] 3 Professor adjunto do Curso de Ciência Econômicas e do Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio da UNIOESTE/Campus de Toledo, [email protected]; [email protected]. 4

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pela competitividade, sendo que os pequenos produtores são os mais tencionados nesta

situação, o que pode comprometer a sua permanecia nesta atividade, e em particular na

produção do leite. Os resultados analisados mostram que a Frimesa segue uma trajetória

comum às cooperativas agroindustriais e às demais empresas da cadeia do leite, ou seja,

está sendo norteada pelos ditames do mercado, e primando pelo recebimento de leite dos

produtores com maior capacidade produtiva e qualidade do produto ofertado. Desta forma,

esta cooperativa, como as demais, deve elaborar estratégias em relação aos pequenos

produtores que não atendem os padrões competitivos da indústria de laticínio para ficar em

consonância aos princípios cooperativos.

Palavras-chave: Cadeia Do Leite, Cooperativa Agroindustrial, Oeste Paranaense.

THE MILK CHAIN IN BRAZIL AND THE REFLECTION OF THE ACTIONS OF

COOPERATIVA CENTRAL AGROPECUÁRIA SUDOESTE – FRIMESA

Abstract

The main objective of this work is to examine the strategies that agro-industrial co-

operative societies are using to expand their businesses, in a way that it has a great impact

in the dynamism of some regions. This studied focused on the reflexes on the milk

producers, in particular the small ones. In order to do that, we realized a study-case on the

Frimesa co-operative society. Innumerous businesses work in the milk sector, mainly the

ones linked to the co-operatives, and among them is Cooperativa Central Agropecuária

Sudoeste – Frimesa, which is part of the West Region of the Paraná State. Frimesa, as well

as other co-operative societies, has constantly expanded its processing and production

capacity of milk products, in which it follows, in a sense, the national tendency to the milk

sector and agro-industrial co-operative societies. In this study, we analyzed the evolution

of Frimesa trhough the examination of diverse strategic aspects adopted in the productive

process and with the affiliated producers, who in the last years had to adequate themselves

to the quality and quantity necessities of milk solicited by the enterprise. One challenge of

the agro-industrial co-operative societies is to overcome the conflict of the cooperative

principle with the search for competing capacity, in which the small producers tend more

to do in this situtation, and that can compromise their permanence in the activity, in

particular, the production of milk. The analyzed results show that Frimesa follows a

common path of the agro-industrial co-operative societies and that of the other businesses

in the milk chain, that is, it is ruled by the market, and rank first the reception of milk of

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the producers with the biggest productive capacity and the quality of the product offered.

This way, this co-operative society, like the others, have to elaborate strategies in relation

to the small producers that do not attend to the competitive patterns in the milk industries

in order to be in consonance with the cooperative principles.

1 INTRODUÇÃO O sistema agroindustrial brasileiro do leite vem apresentando continua

expansão, desenvolvendo, melhorando e procurando consolidar uma estrutura que envolva

e fortaleça todos os setores da cadeia do leite. O desenvolvimento contínuo desta cadeia

resultou em oferta constante de matéria-prima e, por conseqüência, oferta de proteína

disponível para todas as camadas de renda da população brasileira, principalmente o leite

in natura.

De alguma forma, o sucesso desta cadeia está ligado diretamente às

necessidades e estratégias das agroindústrias processadoras do leite, por meio da busca da

qualidade e produtividade por parte das agroindústrias e principalmente dos produtores

rurais de leite. Não obstante, a empresa Cooperativa Central Agropecuária Sudoeste –

Frimesa5 tem buscado junto aos seus produtores filiados produtos de melhor qualidade e

constância nas quantidades ofertadas, através de treinamentos e disponibilização de novas

tecnologias relativas à produção, armazenamento e transporte do leite até a indústria. As

estratégias e a necessidade da Frimesa no mercado de lácteos também têm alterado as

características dos produtores filiados e contribuído para alterar significativamente o perfil

da produção no Oeste do Paraná, o que de certa forma, se deve também às necessidades do

mercado consumidor mais seletivo e exigente.

Considerando a área de abrangência da cooperativa Frimesa, e mais

amplamente a cadeia do leite, este trabalho tem como objetivo, à luz de estudos e revisão

da literatura, analisar alguns pontos da evolução produtiva da cadeia do leite brasileiro e

regional, a evolução ocorrida na Frimesa, algumas de suas estratégias e as influências desta

evolução junto aos produtores filiados.

Este trabalho, incluindo esta breve introdução é composto por cinco

seções. Na primeira seção efetua-se uma breve apresentação de alguns aspectos evolutivos

da cadeia do leite e estratégicos de modo geral. Na segunda seção são apresentadas

características da produção leiteira brasileira e regional. Na terceira seção, através do

5 No Início de 2004 a Empresa incorporou a marca Frimesa ao nome em substituição a SUDCOOP.

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cenário percebido da cadeia do leite e da evolução do mercado, será feita a relação com a

empresa Frimesa, o seu contexto, o perfil do produtor de leite filiado a ela e aspectos

estratégicos da empresa, finalizando na quinta seção com as considerações finais.

2 ASPECTOS DO AMBIENTE DA CADEIA DO LEITE

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –

EMBRAPA (2003), os Estados Unidos é o maior produtor de leite do mundo, respondendo

por 15% da produção mundial e em segundo lugar está a Índia com 7%. No ano de 2002, o

Brasil produziu 23,26 bilhões de litros de leite, representando 4,7% da produção mundial,

estando atrás também de países como a Rússia, Alemanha e França respectivamente,

colocando-o como o sexto maior produtor de leite do mundo, considerando-se os principais

países e blocos econômicos. Segundo o Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa –

SEBRAE (2004), a atividade leiteira brasileira participa com quase 15% no PIB – Produto

Interno Bruto - da agropecuária nacional, com uma renda estimada em US$ 5,5 bilhões.

Para Ailvim, Martins e Mustefaga (2002, p.195-196),

O sistema agroindustrial do leite é um dos mais importantes no Agronegócio brasileiro. A atividade é praticada em todo o território nacional em mais de um milhão e cem mil propriedades rurais e, somente na produção primária, estima-se que ocupe 3,6 milhões de pessoas. A cada R$ 1,00 de aumento na produção no sistema agroindustrial do leite no Brasil, há um acréscimo de R$ 4,98 no aumento do PIB, o que o coloca à frente de setores importantes como siderurgia e indústria têxtil. Em termos de geração de emprego, uma elevação da demanda final por produtos lácteos em R$ 1 milhão gera anualmente 195 empregos.

O sistema agroindustrial leiteiro no Brasil é formado por um enorme

número de produtores, na maioria pequenos e médios, espalhados por todo o território.

Esses produtores trabalham com rebanho numeroso e de baixa produção, e pequenos

produtores com baixa quantidade de leite produzido (BANDEIRA, 2001).

Os problemas enfrentados pela pecuária leiteira nacional estão ligados às

mudanças em andamento no sistema capitalista, que na atualidade tem como característica

a globalização da economia. Na década de 80, os países industrializados passaram por

grandes modificações, onde são propostos e debatidos novos modelos de desenvolvimento.

Com a globalização e a eliminação de barreiras comerciais entre países, aumenta a pressão

competitiva, na qual a qualidade e os custos têm forte influência sobre o setor leiteiro.

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Na década de 90, principalmente depois da liberação do preço do leite em

1991, após 45 anos de controle do governo, por meio da administração destes preços e, da

criação do Mercosul, ocorreram profundas transformações no setor, as quais refletiram no

aumento significativo da produção de leite, redução do número total de produtores de leite,

concentração da produção e aumento da produtividade, concentração da industrialização e

aumento da concorrência no mercado interno.

Para Farina, Azevedo e Saes (1997), um dos objetivos do controle de

preços era o de proteger o produtor contra o oligopsônio da indústria, cujo poder de

barganha e influência nos preços era ampliado pela especificidade temporal do leite in

natura. A partir de 1989, a coordenação da cadeia via Estado vai sendo transferida para o

setor privado.

Brandão e Leite (2002) reforçam as mudanças institucionais no sistema

agroindustrial leiteiro brasileiro, que tem passado por significativas modificações em

função de fatores externos à economia brasileira, em razão da pressão competitiva que se

originou a partir da reforma tributária de 1990, da criação do Mercosul, dos efeitos da

rodada do Uruguai; e também de fatores internos, tais como a liberalização dos preços e a

estabilização da economia.

Diante deste contexto, previu-se o fim da produção de leite derivada de

produtores familiares tradicionais, sendo que a quantidade de produtores diminuirá nos

próximos 15 anos em 50% dos 1,1 milhões atualmente existentes, isso porque existem

fortes incentivos de mercado para o aumento de escala nos sistemas de produção devido às

estratégias das empresas de laticínios de pagarem um preço diferenciado pelo critério de

volume e qualidade, existindo pressões para redução dos preços pagos aos produtores de

menor potencial produtivo (LEITE, BRESSAN e ZOCCAL, 2002).

Bandeira (2001, p. 97) destaca que:

o cenário que se visualiza para a cadeia do leite é de crescimento, modernização e exclusão, seguindo a tendência das grandes mudanças estruturais que vêm ocorrendo desde o início da década passada. (...) os produtores que não dispuserem de terra suficiente, recursos financeiros, acesso à tecnologia e capacidade de gerenciamento, que são fatores essenciais para crescer e ser competitivo, serão excluídos da atividade.

A tendência é de que devem ficar nas atividades agropecuárias os

produtores integrados aos Sistemas Agroindustriais, possuidores de tecnologias modernas e

ganhos em escala. Em contrapartida, os pequenos produtores não integrados tendem a

desaparecer ou deverão buscar formas alternativas de organização para conseguirem

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comercializar os seus produtos no mercado. De alguma forma, existem características neste

processo que denotam a formulação de uma política industrial através da percepção de

desenvolvimento econômico apresentado pelo governo, ou seja, tornar o Brasil um país

industrializado, auto-suficiente em alimentos e também um grande exportador.

Para Villela e Suzigan (1996), além do papel do governo, através das

políticas industriais, a expansão industrial também é importante para a estabilidade

econômica, promovendo ajustes pelo lado da oferta e forçando a maior eficiência produtiva

e elevação da produtividade.

A evolução do binômio tecnologia-escala, determinada pela pressão da concorrência, produz exigências que vão destacando gargalos e forçando a criação, expansão e adequação das atividades que constituem a cadeia ou o complexo agroindustrial. A competitividade pode depender, portanto, mais que das vantagens naturais, da capacidade de resposta e do ajustamento dos elos da cadeia” (KAGEYAMA (Coord), 1987, p.108).

Segundo Batalha (1997), a tecnologia desempenha um papel cada vez

mais importante como fator explicativo das estruturas industriais e do comportamento

competitivo das firmas. Do ponto de vista da competitividade, o desenvolvimento e/ou

implantação de uma nova tecnologia só faz sentido se aumentar de alguma forma sua

capacidade de permanecer no mercado em condições julgadas adequadas pela firma, o que

é possível através da capacidade de adaptação das firmas, ou seja, a capacidade de

responder às mudanças que ocorrem no ambiente.

A ligação que a firma possui com o ambiente no qual ela está inserida,

faz com que a mesma procure desenvolver estratégias que visam lucro, competitividade,

permanência no mercado, ganhos de escala entre outros, ou seja, busca a definição e

operacionalização de estratégias que maximizem os resultados das interações com o

ambiente.

Diversas formas de abordagem estratégicas das firmas ou empresas

podem ser apresentadas, entre as quais destacam-se Porter (1986 e 1999); Mintzeberg e

Quinn (2001); Ansoff (1977) entre outros, as quais dentro dos seus princípios propõem a

importância de um planejamento estratégico e sua implementação para o sucesso da firma,

estratégias estas ditadas pela percepção do meio ambiente (micro e macro ambiente). O

estabelecimento de estratégias não deve ser algo definitivo, mas deve ser visto como um

caminho traçado que busque valorizar a utilização dos pontos fortes e de alguma forma

evitar os pontos fracos, aproveitando de certa forma as oportunidades e evitando as

ameaças.

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As empresas, para sobreviverem e aumentarem a sua participação no

mercado, precisam ser mais competitivas que seus concorrentes. É preciso estar à frente

dos concorrentes principalmente em se tratando de custos, produtos com qualidade,

velocidade e inovação.

As transformações constantes e regulares da economia têm gerado

desafios econômicos e estruturais para as empresas e o cooperativismo e, para que

empresas cooperativas cresçam no ritmo do mercado onde elas operam, há necessidade de

se tornarem competitivas em relação às empresas não-cooperativas do setor, ou seja, o

crescimento e a eficiência competitiva depende da relação dos fatores de produção, capital

e trabalho, através da integração do capital de terceiros e o empreendimento organizado

cooperativamente, em que o novo perfil cooperativo é constituído de empresas nas quais a

doutrina cooperativista é respeitada, estabelecendo-se um novo conceito de empresa,

aproveitando-se das vantagens cooperativas e eliminando-se as desvantagens

(BIALOSKORSKI NETO, 2000).

3 O MERCADO NACIONAL E REGIONAL DO LEITE

A produção brasileira de leite cresce constantemente desde 1980,

passando da produção de leite na ordem de 11,2 milhões de litros para uma produção

projetada de 22,6 milhões de litros de leite para 2003, sendo que o número de vacas

ordenhadas declinou, demonstrando claramente um aumento na produtividade por vaca

ordenhada, conforme pode ser observado no Gráfico 1.

10,0011,0012,0013,0014,0015,0016,0017,0018,0019,0020,0021,0022,0023,0024,00

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

Período 1980 - 2003

Produção de Leite(milhões/litros/ano)

Vacas Ordenhadas(milhares cabeças)

Fonte: IBGE (Censo Agropecuário e Pesquisa Pecuária Municipal). In: ZOCCAL, R. (2004a)

(1) Projeção realizada pela Embrapa Gado de Leite.

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Gráfico 1 - Produção de leite em milhões de litros e vacas ordenhadas em mil cabeças - Brasil - 1980/2003¹

Em 1980 tinha-se uma produtividade por vaca ordenhada de 676

litros/vaca/ano. Para 2003 1.177 litros/vaca/ano conforme projeções realizadas pela

Embrapa Gado de Leite, ou seja, um crescimento médio anual de 2,707%6. Porém, com

um rendimento muito abaixo ainda dos Países considerados de primeira linha estratégica

na produção de leite, tais como, os Estados Unidos, Canadá, Países Baixos, Reino Unido e

Alemanha, cuja produtividade de litros/leite/vaca/ano é superior a 6.000 litros.

Segundo Álvares, Bernardes e Nogueira Netto (2002), problemas de

sazonalidade de oferta, a baixa qualidade do leite in natura e baixa produtividade da

pecuária leiteira do Brasil sempre estiveram ligados aos fatores de produção, ou seja, terra,

mão-de-obra e capital. A partir da tecnificação, através do incremento da utilização dos

resfriadores de leite e transporte a granel em meados de 1997, mudanças significativas

ocorreram, pois a utilização de novas tecnologias e a qualificação da mão-de-obra através

dos órgãos de pesquisa e desenvolvimento ligados à pecuária leiteira foram importantes no

desenvolvimento e progresso deste setor.

Conforme Gomes (2002), junto com as questões macroeconômicas existe

o papel importante da pesquisa agrícola, cujas tecnologias propiciaram maior

produtividade na cadeia leiteira, indicando o crescimento de sistemas especializados na

produção de leite. O aumento da produtividade, a partir de meados de 1990, compensou

em parte as mudanças daqueles produtores que tiveram condições de conhecimento e

recursos financeiros para ingressarem com novas tecnologias que permitiram ganhos de

produtividade.

Melhorar a qualidade da produção através do incremento tecnológico e

produtivo é uma das necessidades para o desenvolvimento e organização do setor

6 As taxas de crescimento dos sub-períodos analisados foram calculadas através da seguinte fórmula: [(Valor final – Valor inicial) / Valor inicial] x 100. A estimativa da taxa geométrica de crescimento, calculada para todo o período, está de acordo com o método dos mínimos quadrados, onde:

Yn = Yo (1 + r)t (1)

Logaritmizando (1), tem-se: LnYn = Ln [Yo (1 + r)

t] (2) Aplicando as propriedades da multiplicação e potenciação da função logarítmica, e simplificando (2), tem-se:

LnYn = LnYo + t Ln (1 + r) (3) Chamando LnYn de Y, LnYo de B, e Ln(1 + r) de M, tem-se a seguinte função linearizada:

Y = B + Mt (4) Com os valores de t e Y faz-se uma regressão, obtendo-se o valor do coeficiente angular M = Ln (1 + r) Destarte, (1 + r) = eM, logo r = eM -1 Maiores considerações sobre o processo de cálculo desta taxa, ver: HOFFMANN & VIEIRA (1987).

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produtivo de leite, pois através de investimento e aprimoramento tecnológico será possível

obter manutenção de produtividade e lucratividade.

Para Álvares, Bernardes e Nogueira Netto (2002), o aumento da escala de

produção compensou o declínio no número total de produtores, desta forma, permitiu que

ocorresse crescimento na captação da indústria.

Analisando-se particularmente as diversas regiões produtoras de leite

existentes no Brasil, depara-se também com um grande diferencial na produtividade por

vaca ordenhada. Verifica-se na Tabela 1, a existência desta grande diferença, onde as

mesorregiões com maior potencial produtivo, cuja produção está acima de 2.000 litros de

leite/vaca/ano, concentram-se na região Sul, sendo que a diferença entre a melhor

mesorregião, Centro Oriental Paranaense, possui a produtividade 629% maior do que a

pior mesorregião, a Centro Sul Baiano. A maior parte da produção de leite do Brasil

encontra-se nas regiões Sudeste e Sul, que participam com 68,2% do total da produção

nacional, sendo que o crescimento em produção dessas regiões em relação a 1991 foi de

ordem de 48%.

Comparando-se estes dados (Tabela 1), verifica-se também que, em

relação ao Gráfico 1, as cinco maiores mesorregiões produtoras de leite, possuem uma

produtividade média de 2.322 litro de leite/vaca/ano para o ano 2002, contra a média

nacional de 1.139 litros de leite/vaca/ano, ou seja, superior em 104%. A região Oeste

Paranaense se destaca com uma média de 2.053 litros de leite/vaca/ano, ou seja, 80% a

mais que a média nacional, que aumentou em 50% a produtividade de leite/vaca/ano,

enquanto a região Oeste Paranaense no mesmo período (1991 a 2002) aumentou a

produtividade em 55%.

Tabela 1 – Ranking (2002) das principais mesorregiões produtoras de leite no Brasil

1991/2002 (Regiões que produziram em 2001 mais de 200 milhões de litros) Produtividade

(litros/vaca/ano) UF Mesorregião (2) 1991 2001 2002 PR Centro Oriental Paranaense 2.175 2.883 2.806 SC Oeste Catarinense 1.146 1.947 2.224 RS Noroeste Rio Grandense 1.394 2.120 2.205 PR Oeste Paranaense 1.329 1.985 2.053 MG Campos das Vertentes 1.533 1.866 1.928 PR Sudoeste Paranaense 1.375 1.882 1.892 SP Campinas 1.457 1.782 1.870

RS Centro Oriental Rio Grandense 1.255 1.811 1.864

RS Nordeste Rio Grandense 1.234 1.371 1.845 MG Central Mineira 1.001 1.689 1.822

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MG Oeste de Minas 1.003 1.743 1.799 MG Metropol. de Belo Horizonte 1.049 1.712 1.732 MG Sul / Sudoeste de Minas 1.232 1.569 1.564 MG Noroeste de Minas 611 1.509 1.482 MG Zona da Mata 1.193 1.443 1.435 SP Ribeirão Preto 1.000 1.338 1.345 PR Norte Central Paranaense 1.006 1.296 1.329 GO Sul-Goiano 504 1.218 1.264 PR Noroeste Paranaense 822 1.220 1.258

MG Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba 720 1.185 1.199

SP Vale do Paraíba Paulista 1.365 1.244 1.191 GO Centro-Goiano 520 1.094 1.108 MG Vale do Rio Doce 766 1.099 1.095 RO Leste Rondoniense 578 964 987 SP São José do Rio Preto 654 818 830 MG Norte de Minas 495 760 800 PA Sudeste Paraense 278 741 593 BA Centro Sul Baiano 451 452 446

Fonte: IBGE (Pesquisa da Pecuária Municipal). In: ZOCCAL, R.(2004b) Obs. - Ordenação por produtividade em 2002

Segundo Garcias (2002), constata-se que o setor leiteiro brasileiro vem

passando por mudanças se comparado com outros países produtores de leite mais

desenvolvidos, o que também pode ser verificado principalmente na indústria de

transformação no estado do Paraná, a qual ocupa desde 1998, lugar de destaque na

produção de leite do Brasil. No estado as cooperativas são responsáveis por 50% do leite

processado e comercializado no estado.

4 A EVOLUÇÃO ESTRATÉGICA DA INDÚSTRIA DE LEITE DA COOPERATIVA CENTRAL AGROPECUÁRIA SUDOESTE – FRIMESA

Em 1980, a Cooperativa Central Agropecuária Sudoeste - Sudcoop, hoje

Frimesa, iniciou seu trabalho na captação e industrialização de leite, visando atender às

expectativas dos produtores que desejavam investir na atividade, o que deu início às

operações de Laticínio de Marechal Cândido Rondon, Paraná, situada no extremo Oeste

Paranaense, a qual expandiu a sua área de atuação e hoje recebe leite de toda a

microrregião oeste paranaense, porém com uma concentração maior das propriedade que

se encontram num raio de alcance mais próximo (Figura 1).

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Fonte: SUDCOOP (2004b)

Figura 1- Localização da Frimesa e sua principal área de abrangência.

Em 1984 a Frimesa industrializava 45.000 litros de leite/dia, sendo que

as características do produtor, nessa época, eraM de baixa tecnologia, atividade

extrativista, rebanho mestiço de baixa produção, pouca área destinada à atividade, controle

sanitário deficiente, matéria prima de baixa qualidade e grandes sazonalidades.

Em 1988, inicia-se o trabalho de fomento leiteiro direcionado ao

aumento de produção e melhora da matéria- prima, a qual consistiu em diversas etapas, nas

quais se destacam os repasses via financiamento de novilhas holandeses importadas do

Uruguai: Período de 1988/1996: 10.200 novilhas repassadas. Projeto PIA (Programa de

Inseminação Artificial): 1998/1996: 150.000 inseminações efetuadas; a elaboração do

plano de pagamento de bonificação pela qualidade do leite: período setembro/90 a

fevereiro/96; o Projeto BNDES - FINSOCIAL: 1990/1991, que beneficiou 450 pequenos e

médios produtores na aquisição de equipamentos de ordenha, resfriadores, instalações e

reformas de pastagens; o projeto de captação do leite a granel que tinha como objetivo a

melhoria da qualidade da matéria-prima; a redução dos custos da recolha e recepção de

leite; diminuição de frete ao produtor; desativação das unidades ociosas, competitividade e

garantia de sobrevivência.

Frimesa

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A última etapa se deu a partir de alterações do cenário econômico e com

a globalização houve a necessidade de readequação da cadeia produtiva resultando no

aprimoramento do sistema do pagamento do leite por qualidade ao produtor.

Em 1990, a Frimesa inaugurou a nova Fábrica de queijos em Marechal

Cândido Rondon, com capacidade para industrializar 4.692.273 litros de leite. Em 1994

entrou no mercado de produtos lácteos longa vida com a instalação da fábrica acoplada a

unidade de queijo em Marechal Cândido Rondon (PR) com capacidade de produção de

6.000.000 litros de leite por mês. Ainda em 1994, teve início a implementação do

programa de qualidade total da empresa.

O leite longa vida entrou no mercado brasileiro em meados de 90,

trazendo praticidade, qualidade e facilidade para transportar e estocar sem refrigeração.

Esses fatores vêm contribuindo para o crescimento do consumo. Segundo Mauro Kramer,

Gerente Comercial da Frimesa, o leite longa vida é produto commodity, e para ser

competitivo precisa de uma grande escala de produção (FRIMESA, 2003).

Para Farina, Azevedo e Saes (1997) há um crescimento de investimentos

na produção de leite tipo longa vida, colaborando para a existência de uma forte

concorrência entre os laticínios e uma “comoditização” do que antes era visto como um

produto diferenciado.

Em 1999, todos os produtos lácteos começaram a ser comercializados

com a marca Frimesa. Em 2000, firmou parceria e locação da Centralpar, CLAC –

Cooperativa de Laticínios Curitiba Ltda. e a Cooperativa Witmarsun de Palmeiras, Paraná,

para aumentar a captação de leite e produção, lançando também produtos lácteos não

produzidos na unidade de Marechal Cândido Rondon, Paraná. Hoje, a Frimesa é a 1ª

empresa do Paraná em recebimento de leite, com 750 mil litros de leite/dia e na produção

nacional ocupa a 7º colocação, conforme Tabela 2, o que pode vir a ser alterado através

dos recentes acontecimentos ocorridos com a Parmalat, a qual passa por problemas de

gestão administrativa, dificuldades financeiras e em processo de concordata.

Tabela 2 - Maiores empresas de laticínios – Brasil (2002)

Classificação Empresas/Marcas 1 Nestlé 2 Parmalat 3 Itambé 4 Elegê 5 CCL 6 Danone 7 Sudcoop (Frimesa)

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Fonte: Leite Brasil, CNA/Decon, CBCL e Embrapa/Gado de Leite. In: ASSOCIAÇÃO BRAILEIRA DOS PRODUTORES DE LEITE (2004).

A Frimesa, mesmo se destacando no cenário nacional de produtos

lácteos, projeta aumentar em 100% a produção, passando de 150 para 300 toneladas/mês,

o que representa um crescimento de 100% no faturamento no período de 18 meses. Esta

capacidade de produção tem uma ligação direta com a quantidade de leite in natura

recebida pela empresa, que até 2005 deve incrementar cerca de 130 mil litros/dia, destaca

Frosi, Gerente Industrial da Frimesa (FRIMESA, 2003).

Assim como outras cooperativas centrais do Paraná (CCLPL, Copersul,

Centralpar), a Frimesa também é resultado de transformações das Cooperativas Centrais de

Leite, sendo que a Cooperativa Central Agropecuária Sudoeste Ltda - SUDCOOP,

dedicada a comercialização de leite, denominada e detentora da marca Frimesa, surgiu em

função das mudanças ocorridas na estrutura das alianças entre cooperativas singulares

durante a década de 90 (GARCIAS, 2002).

Ainda segundo Garcias (2002), no processo de evolução das cooperativas

de leite do Paraná, é possível identificar três grandes fases, cuja primeira está relacionada

ao aumento do valor agregado pela comercialização, principalmente nadécada de 50 até

meados da década de 70. A segunda fase liga-se ao processo de aumento do valor agregado

da comercialização mais à industrialização, surgindo aí as cooperativas, sendo esta fase

ocorrida entre meados da década de 70 até início da década de 90. A terceira fase deu-se

em função do processo de competição globalizada e desregulamentação da economia

brasileira, fazendo com que houvesse necessidade de uma reestruturação e consolidação do

sistema cooperativo, através de alianças estratégicas, sendo que as cooperativas de leite do

Paraná encontram-se atualmente neste processo.

Atualmente, o leite recebido pela empresa é industrializado em diferentes

subprodutos, principalmente leite longa vida (40%) (Gráfico 2), por apresentar

características favoráveis ao processo de armazenamento e transporte em longas distâncias,

em função do seu maior prazo de validade. Os demais produtos são produzidos de acordo

com a tendência do consumo nacional, o que mostra uma estratégia de seguir produzindo o

que o mercado está consumindo, evitando de certa forma riscos com aventuras em

produtos, mercados ou segmentos diferenciados.

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0%

10%

20%

30%

40%

50%

Longa Vida Pasteurizado Em Pó Cru

Produtos

Percentuais

Formas deConsumo doLeite noBrasil - 2002em % .

ProdutosproduzidospelaFRIMESA2002 em % .

Gráfico 2 - Formas de consumo de leite no Brasil e formas de transformação do leite pela Frimesa (2002 em %)

Fonte: IBOPE (informativo Tetra Park). In: FRIMESA (2003)

Com o crescimento da Frimesa, das suas estratégias e também da necessidade do produtor

de leite se manter na cadeia produtiva do leite e seus derivados, foi necessária uma

evolução da estrutura produtiva, passando pela infra-estrutura física, técnica, tecnológica e

fitossanitária na propriedade do produtor de leite.

Este processo evolutivo gerou reflexos no número de produtores filiados,

o que pode ser verificado através da Tabela 3, onde se mostra a redução do quadro de

produtores filiados e ao mesmo tempo tem-se um aumento considerável no recebimento de

leite pela empresa, o que caracteriza a saída de muitos pequenos produtores, aumento de

produtores com plantéis maiores além de um aumento na produtividade de leite por

vaca/ano, seguindo uma tendência nacional na cadeia do leite, independente de sua

natureza jurídica, ou seja, cooperativas ou empresas privadas.

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Tabela 3 – Número de produtores filiados e litros de leite recebido por ano dos produtores filiados- 1992-2003 (Frimesa)

Ano N.º de Produtores Filiados

Litros de leite recebidos. por Ano/produtores filiados.

1992 7.282 99.242.760 1993 6.525 94.870.307 1994 5.368 91.755.278 1995 4.848 109.653.295 1996 4.577 111.862.943 1997 3.921 107.165.671 1998 3.863 118.266.240 1999 3.604 124.992.000 2000 3.289 124.997.264 2001 3.302 133.151.571 2002 3.279 124.899.723 2003 3.007 114.321.807

Fonte: SUDCOOP (2004b).

Como pode ser observado em 1992, a Frimesa tinha 7.282 produtores

que entregaram 99.242 milhões de litros, numa média de 13.629 litros de leite por

produtor. Em 2003, ela recebeu 114.321 milhões de litros de leite de 3.007 produtores

filiados, numa média de 38.019 litros de leite por produtor. Esses números mostram uma

redução de 4.275, o equivalente a 58,71 % no número de produtores filiados. Por outro

lado, a quantidade de leite recebido aumentou em 15.079.047 litros, um crescimento de

15,19 %, sendo que esta tendência fica ilustrada no Gráfico 3.

010,00020,00030,00040,00050,00060,00070,00080,00090,000100,000110,000120,000130,000140,000

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

Período 1992/2003

0.00

2,000.00

4,000.00

6,000.00

8,000.00

10,000.00

12,000.00

14,000.00

Litros de Leite Recebido (milhões) pela FRIMESA 1992/2003

Numero de Produtores Filiados (mil) da FRIMESA 1992/2003

Gráfico 3 - Número de produtores filiados e litros de leite recebidos pela Frimesa / Ano 1992-2003

Fonte: SUDCOOP (2004b). Em uma pesquisa conduzida pela Frimesa em 2003 com 2.513

produtores filiados, num quadro de 3.007 produtores filiados, observou-se uma

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característica marcante quanto ao plantel existente nas propriedades, ou seja, quanto maior

o plantel, maior é o investimento em melhoria genética. No caso dos produtores com até 8

vacas, praticamente a proporção entre animais de raça e comuns é de 50% para cada tipo,

enquanto nas propriedades acima de nove vacas em lactação a proporção entre animais de

raça cresce em relação aos comuns, sendo esta proporção cada vez maior quanto maior o

número de vacas produzindo, conforme pode ser observado na Tabela 4.

Tabela 4 – Características das propriedades dos produtores de leite filiados à Frimesa

pesquisados em 2003

ITENS Até 4 vacas

De 5 a 8 vacas

De 9 a 12 vacas

De 13 a 16 vacas

Mais de 16 vacas Total

Número de Produtores 345 550 562 383 673 2.513 Litros de Leite / DIA 8.228 2.176 36.327 37.679 153.152 257.146 Características do Plantel de Vacas Vacas de raça dando leite 123 1.567 2.725 2.688 10.524 17.627 Vacas comuns dando leite 106 1.215 1.564 1.269 3.261 7.415 Vacas de raça secas 44 410 845 853 3.233 5.385 Vacas comuns secas 35 474 728 655 1.938 3.830 Novilhas prenhes mais de 4 meses 76 548 816 787 2.289 4.516 TOTAL DE VACAS 384 4.214 6.678 6.252 21.245 38.773 Características da Propriedade (área total) Até 5 hectares 158 143 83 36 46 466 De 5 a 10 hectares 66 142 143 80 92 523 De 10 a 20 hectares 74 168 200 135 178 755 De 20 a 30 hectares 22 58 86 79 150 395 Mais de 30 hectares 25 39 50 53 207 374 Fonte: SUDCOOP (2003b).

Outro ponto importante é que os produtores com mais de 16 vacas, os

quais representam cerca de 27% destes produtores filiados, são detentores de 54,79% do

plantel do gado leiteiro, sendo responsáveis pela entrega de 60% do leite processado pela

empresa, levando-se em conta a produção diária de leite. Outra constatação é a de que

69,4% dos produtores filiados pesquisados possuem até 20 ha, sendo responsáveis por 58%

da produção diária de leite.

O segmento produtivo da cadeia do leite é afetado pela competitividade,

rentabilidade e lucratividade dos sistemas de produção e leite, mais a sustentabilidade da

atividade leiteira num contexto ambiental, econômico e social, aliado às desigualdades

sociais de acesso a tecnologias apropriadas a cada sistema de produção e sua escala

econômica, além da disponibilidade de assistência técnica distinta entre classes de

produtores e acesso desigual a benefícios de programas de governo, indústrias e

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cooperativas de laticínios, orientados, em geral, para privilegiar produtores com maior

capacidade de exploração leiteira (BRESSAN, SILVEIRA e MARTINS, 2002).

Farina, Azevedo e Saes (1997) destacam que algumas cooperativas

centrais, mais próximas dos mercados mais dinâmicos, exigentes e competitivos, já

acordaram e prestam maior atenção para os problemas de escala e qualidade. Nesse

sentido, os novos sistemas de pagamento que estão sendo adotados pelas cooperativas

refletem a exigência de escala e qualidade. O pagamento diferenciado pela qualidade se

transformou em um instrumento para as agroindústrias estimularem os produtores a se

especializarem.

Além dos preços recebidos pelos produtores ter tendência decrescente, as

indústrias e cooperativas têm assumido uma postura de pagarem por volume. Estas duas

tendências trabalham fortemente contra o segmento de pequenos produtores. Além do

mais, há uma tendência das indústrias de laticínios de abandonarem gradativamente a

coleta de leite de estratos mais baixos de produção, e, diante dessa realidade, os sistemas

de produção com menor margem de ganho, geralmente com pequena ou média escala, têm

enfrentado sérios problemas para se manter no mercado de forma sustentável.

Tabela 5 – Número de produtores filiados por faixa e respectivos preços pagos pela Frimesa em 2003 Média Litros De Leite/Dia

N.º / Produtores por faixa/leite

% Produtor Preço Médio recebido/faixa

Leite Rec. no ano/faixa

0 a 25 684 22,74 0,3720 3.759.883 26 a 50 629 20,92 0,3784 8.596.891 51 a 75 425 14,13 0,3846 9.457.927 76 a 100 302 10,04 0,3903 9.327.473 101 a 150 361 12,01 0,3990 16.047.431 151 a 200 203 6,75 0,4069 12.710.397 201 a 300 199 6,62 0,4157 17.468.298 301 a 400 85 2,83 0,4253 10.610.855 401 a 500 44 1,46 0,4332 7.094.554 501 a 600 29 0,96 0,4382 6.254.097 601 a 700 15 0,50 0,4451 3.042.526 701 a 800 8 0,27 0,4485 1.922.398 801 a 900 6 0,20 0,4511 1.505.682 901 a 1000 5 0,17 0,4592 1.522.823 Acima de 1000 12 0,40 0,4609 5.000.572 Fonte: SUDCOOP (2004b) .

Na tabela 5, constata-se que os produtores filiados da Frimesa, que

entregam até 300 litros de leite por dia representam 93,21% dos produtores filiados e são

responsáveis pela entrega de 67,68% do leite entregue. Já os que entregam acima de 300

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litros de leite/dia representam 6,79% dos produtores e são responsáveis por 32,17% do

leite entregue. Verifica-se ainda que o preço médio por litro de leite dos que entregam até

300 litros/dia é de R$ 0,3977, e dos que entregam acima de 300 litros/dia é de R$ 0,4391,

ou seja, 10,41% superior aos que entregam até 300 litros.

Os dados mostram ainda que 67,83 % dos produtores que entregaram até

100 litros de leite/dia, representando 27,24% do leite entregue, receberam em 2003 uma

remuneração média por litro de R$ 0,3831, o que equivale a 14,65% a menos do que

aqueles que entregaram acima de 300 litros por dia e 17,18% a menos do que aqueles que

entregaram acima de 500 litros de leite/dia.

Segundo Ailvim, Martins e Mustefaga (2002), o preço diferenciado pela

qualidade do leite é uma das maneira encontradas pelas agroindústrias para estimularem os

produtores a especializar o processo produtivo através da adoção de novas tecnologias,

valorizando o produto em si, reduzindo os desperdícios e aumentando a produtividade, o

que de certa forma possibilitará a entrada do Brasil em mercados mais exigentes.

Outro fator determinante na queda de preços recebidos pelo produtor são

os efeitos causados pela produção sazonal, os quais são danosos tanto para estes agentes

como para a agroindústria. A sazonalidade da produção atinge principalmente os pequenos

e médios laticínios que recebem de produtores tecnificados de menor escala de produção.

Estes produtores possuem pequeno número de vacas em lactação, cujo rebanho é formado

por animais mestiços e de baixa produtividade, com isso na entressafra há grande

amplitude na produção (AILVIM, MARTINS e MUSTEFAGA, 2002).

Para Gomes (2002), os preços do leite para o produtor oscilam bastante

durante o ano, apresentando-se menores na época das águas e maiores no da seca, sendo

que a variação do preço do leite está ligada a estas épocas, pois no período das águas há

pastagem disponível para a alimentação com pouco uso da ração e conseqüentemente há

também um aumento de produtividade. Existe também a ausência de informações corretas

na cadeia do leite sobre o real comportamento do mercado, prevalecendo a idéia safrista,

favorecendo a prática de preços menores no verão. Apresentam-se ainda, de maneira

menos importante, as questões referentes às imperfeições de mercado, dada a presença de

poucos compradores e muitos fornecedores que trabalham de forma desorganizada.

O efeito da sazonalidade sobre o preço médio do leite pago pela Frimesa

aos produtores pode ser verificado no Gráfico 4. Para os períodos de outono e inverno,

tem-se pago preços mais elevados do que para os períodos de primavera e verão, com

exceção para os anos de 2002, que apresentou uma elevação crescente nos preços médios,

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e 2003, que apresentou uma maior constância nos preços médios pagos ao produtor durante

o ano. Isso pode ter ocorrido devido a diminuição da produção, conforme a Tabela 3,que

fez com que os preços aumentassem em 2002 e se mantivessem mais estáveis em 2003,

conforme informações obtidas junto a Frimesa.

Durante a safra, a produção de leite provoca desequilíbrio entre a oferta e

a demanda, gerando queda acentuada dos preços recebidos pelos produtores, inviabilizando

a produção, o que leva muitos produtores a abandonar a atividade neste período. Para a

agroindústria, que opera com capacidade instalada ociosa, durante o período de entressafra,

acentuam-se os custos de produção, gerando elevados custos de armazenamento para

formação de estoque regulador no período de safra.

0,18

0,23

0,28

0,33

0,38

0,43

Janeiro

Fevereiro

Março

Abril

Maio

Junho

Julho

Agosto

Setem

bro

Outubro

Novembro

Dezem

bro

Meses

Valores em R$/Litro/Leite 1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

Fonte: SUDCOOP (2004a) e (2004b). Gráfico 4 - Preços Nominais Médios Pagos pela Frimesa aos Produtores

Filiados - Janeiro a Dezembro - 1995 a 2003 (em reais). Todo este processo de crescimento e desenvolvimento da cadeia do leite,

principalmente relativos à área de abrangência da Frimesa, refletiu na necessidade de

melhores insumos, equipamentos e estruturas de produção mais modernos, tudo isso em

função da demanda de maior quantidade de matéria-prima com maior qualidade, tendo

reflexos visíveis sobre as características do produtor de leite, que em função destas

mudanças demandadas pelo consumidor e pelas indústrias, se viu obrigado a integrar-se ao

processo sob o risco de ver-se excluído dele.

De 1987 a 2003, novas tecnologias foram adotadas pelos produtores de

leite, visando a melhoria do produto oferecido pela Frimesa, sendo que as principais delas

(Gráfico 5) foram as melhorias nas estruturas dos estábulos, com o uso mais intensivo da

alvenaria; em relação ao resfriamento do leite a substituição das geladeiras e congeladores

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por resfriadores; nos equipamentos, o aumento significativo do uso de ordenhadeiras e

também a utilização de ensiladeiras, buscando suprimento de alimento para o inverno; na

ração a utilização de rações para aumentar a produtividade; investimentos na prevenção de

doenças, principalmente por exigências fitossanitárias; mudanças nos alimentos produzidos

na propriedade, substituindo-se a cana-de-açúcar e a mandioca por alimento de maior

conversão na produção de leite.

0%5%10%15%20%25%30%35%40%45%50%55%60%65%70%75%80%

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1197

1998

1999

2000

2001

2002

2003*

Período

Percentuais

- Estábulos dealvenaria

- Tanque resfriador a granel

- Ordenhadeira

- Rações

- Silagem

Fonte: SUDCOOP (2003b). * Dados de 2003 referem-se a 2.513 questionários do total de 3.007 produtores filiados.

Gráfico 5 - Resumo (%) do Nível de Tecnificação dos Produtores Filiados da FRIMESA - 1987 a 2003*

Conforme Brandão e Leite (2002), os produtores possuidores de maior

tecnificação são estimulados a aumentar o volume de produção através da garantia de

maiores rendas, beneficiando-se da redução dos custos de produção que conseguem.

Contrariamente o produtor não-especializado tem dificuldades na obtenção de recursos

para a realização de investimentos no melhoramento da qualidade do leite, sendo que estes

investimentos destinam-se à preparação de instalações adequadas, uso de ordenhadeiras

mecânicas, resfriadores de leite entre outros.

De alguma forma, todo o contexto competitivo que se apresenta para a

cadeia leiteira, faz com que a Frimesa busque constantemente se fortalecer e permanecer

no mercado, e apesar de ser uma cooperativa, possui a missão de conquistar consumidores

e oferecer produtos de qualidade através de ações estratégicas que buscam a sua

estabilidade no mercado e com o objetivo de ter uma maior fatia do mercado de lácteos e

outros produtos produzidos pela empresa, a mesma está buscando um melhor

posicionamento de sua marca no mercado, tanto interno como externo, “valorizando cada

vez mais a qualidade dos produtos e os preços e iniciando as exportações desses

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industrializados”,comenta Elias José Zydek, Diretor Executivo da Frimesa (FRIMESA,

2004, p. 13).

“Além da valorização da marca, outras ações gerenciais foram

desenvolvidas, como: ajuste da estrutura organizacional, redução de custos

e despesas gerais, ampliação e flexibilização dos mix de produtos

industrializados, implantação de um novo sistema de pagamento de

matéria-prima leite e gestão do ciclo financeiro visando a ajustar o fluxo de

caixa com substancial redução no custo financeiro”. (id)

A proposta estabelecida dentro do planejamento estratégico da Frimesa

para o período 2004 a 2008,

“está fundamentada no trabalho cooperativo entre as pessoas que compõem

toda a cadeia de produção que vai do produtor ao cliente final.

Acreditamos que o desenvolvimento da Empresa só será possível com foco

no mercado e com o conhecimento de todas as pessoas envolvidas no

processo de busca e satisfação dos clientes” (SUDCOOP, 2003a, p. 1)

Segundo Silva, Portugal e Castro (1999, p. 101), “a concentração de

empresas, o planejamento estratégico, a desregulamentação, as relações contratuais, a

revisão da legislação e o pagamento por qualidade são itens prioritários na pauta de ações a

serem implementadas pelas altas gerências dos laticínios”.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo como objetivo central a verificação da evolução ocorrida na

cooperativa Frimesa a partir das mudanças ocorridas na cadeia do leite num cenário

nacional, analisou-se alguns pontos da evolução produtiva da cadeia do leite brasileiro e

regional, a evolução ocorrida na Frimesa, algumas de suas estratégias e as influências desta

evolução junto aos produtores filiados, observando os reflexos sobre a diminuição da

quantidade de pequenos produtores que entregavam leite para a Frimesa.

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Como o setor lácteo vem se modernizando rapidamente, as mudanças

tecnológicas não ocorrerão se a mão-de-obra que se dedica à atividade leiteira não tiver

acesso a novos conhecimentos e compreensão para o uso adequado de tecnologia. Sem

pessoal capacitado não haverá progresso consistente e includente, pois é fundamental ter

conhecimento dos processos que envolvem a administração de uma propriedade rural para

produzir leite com qualidade de forma sustentável e competitiva, através da incorporação

de novas tecnologias geradas pela pesquisa e também produtos de maior qualidade,

solicitados por um mercado cada vez mais exigente sob a regência de leis e regras mais

específicas.

A Cooperativa Central Agropecuária Sudoeste -.Frimesa tem se

destacado não só em relação às empresas de produtos lácteos, mas também nas estratégias

de fomento junto aos produtores filiados, pois a produção de leite litros/vaca/ano dos seus

produtores chegou em 2002 a 3.652litros, contra uma produção de 3.053 litros/vaca/ano no

município de Marechal Cândido Rondon, PR, no qual a empresa se localiza, sendo que a

região Oeste Paranaense apresentou no mesmo ano 2.053 litros/vaca/ano, maior que a

produção paranaense que foi de 1.672 litros/vaca/ano e a nacional que foi de 1.139 litros de

leite/vaca ano, sendo que os produtores filiados apresentaram em 2003 uma produtividade

de 3.694 litros de leite/vaca/ano.

O estudo realizado neste trabalho mostrou que há um processo de

modernização já iniciado na atividade leiteira, e que afeta diretamente os produtores

filiados na Frimesa, onde os produtores mais especializados e com uma produção em

grande escala têm conseguido sobreviver e obter uma lucratividade maior do que aqueles

pequenos produtores que a cada ano vêm diminuindo em número, pois a redução do

lucro/litro do grande produtor pode ser compensada pelo aumento da escala de produção,

mostrando também que os produtores que produzem em uma escala maior , recebem um

preço maior por litro de leite, pois conseguem produzir um leite de melhor qualidade e por

isso acabam sendo premiados pela empresa com uma remuneração melhor, reduzindo

também o efeito sazonal sobre os preços pagos aos produtores de leite.

É perceptível também a evolução tecnológica dos filiados em relação ao

tipo de estábulo, resfriamento do leite através de resfriador, a predominância da mão de

obra familiar, prevenção de doenças, a área total da propriedade e área total destinada para

o leite.

A tendência é de permanecerem na atividade leiteira os produtores que

adotarem tecnologias, capazes de aumentar a eficiência dos fatores de produção. Por isso, é

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sob esta perspectiva que o desenvolvimento tecnológico da atividade leiteira precisa ser

conduzido e implementado, principalmente em relação aos pequenos produtores. Embora à

margem da cadeia produtiva do leite, esses produtores devem receber um tratamento

diferenciado e uma atenção especial elaborando estratégias de reconversão produtiva ou

mesmo outras formas criativas para produção agrícola e agroindustrial, de tal forma que o

atendimento esteja em consonância aos princípios do cooperativismo. Essa situação

merece especial atenção visto que a característica regional é a da concentração de pequenas

propriedades rurais de até 50ha.

Desde a sua formação, a Frimesa tem procurado aprimorar os seus

sistemas de gestão, incorporando metodologias, técnicas e ferramentas visando ao aumento

da eficiência e eficácia organizacional. Esse trabalho vem sendo desenvolvido desde 1989,

quando a empresa incorporou em sua gestão o planejamento estratégico por objetivos,

estabelecendo metas a serem alcançadas a curto, médio e longo prazo nos diversos níveis

da empresa.

De certa forma a Frimesa tem seguido os preceitos colocados pelo

mercado, ou seja, a busca pela competitividade, através da inovação tecnológica, melhoria

da qualidade do leite recebido dos produtores e redução de custos, primando pelo

recebimento de leite dos produtores com maior capacidade produtiva e qualidade do

produto, ofertando para estes preços melhores, o que de certa forma tem se apresentado de

forma conflitante entre os princípios cooperativos que regem seus estatutos com a busca

pela competitividade e permanência no mercado.

Deve ainda o setor leiteiro buscar implementação de medidas que

proporcionem maior estabilidade e previsibilidade aos preços recebidos pelas indústrias e

pelos produtores, pois essa é uma condição fundamental à sobrevivência da atividade

leiteira especializada.

Uma legislação mais específica, de uma parte, promoverá a melhoria da

qualidade do leite, ampliando as condições de o produto nacional competir no mercado

externo, mas sua aplicação poderá resultar também em aumento dos custos de produção e

somente empresas preparadas e aliadas à uma boa gestão e um planejamento estratégico

sobreviverão neste mercado.

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