A CADEIA PRODUTIVA DA CARCINICULTURA...

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FACULDADE BOA VIAGEM CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO A CADEIA PRODUTIVA DA CARCINICULTURA PERNAMBUCANA: UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DA ECONOMIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO DEMETRIUS SOUZA PIRES RECIFE 2008 DEMETRIUS SOUZA PIRES

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FACULDADE BOA VIAGEM

CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

A CADEIA PRODUTIVA DA CARCINICULTURA

PERNAMBUCANA: UMA ANÁLISE SOB A

ÓTICA DA ECONOMIA DOS CUSTOS DE

TRANSAÇÃO

DEMETRIUS SOUZA PIRES

RECIFE

2008

DEMETRIUS SOUZA PIRES

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A CADEIA PRODUTIVA DA CARCINICULTURA

PERNAMBUCANA: UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DA

ECONOMIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO

RECIFE

2008

DEMETRIUS SOUZA PIRES

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Administração do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração da Faculdade Boa Viagem, como requisito complementar para obtenção do grau de Mestre em Administração. Orientador: Prof° Augusto César Santos de Oliveira,

Ph.D.

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A CADEIA PRODUTIVA DA CARCINICULTURA

PERNAMBUCANA: UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DA

ECONOMIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Administração do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração da Faculdade Boa Viagem, como requisito complementar para obtenção do grau de Mestre em Administração.

Aprovado em: 31 de julho de 2008

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________ Augusto César Santos de Oliveira, Ph.D. (Orientador)

Faculdade Boa Viagem

_____________________________________________________ Olimpio José de Arroxelas Galvão, Ph.D. (Examinador Interno)

Faculdade Boa Viagem

_____________________________________________________ Prof° Dr° Tales Wanderley Vital (Examinador Externo)

Universidade Federal Rural de Pernambuco

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AGRADECIMENTOS

A Jesus Cristo, pela conclusão de mais uma etapa na minha vida.

A toda minha família, em especial a minha esposa Jamille, pelo amor e

compreensão nos momentos de dificuldade.

Ao prof. Ph.D. Augusto César Santos de Oliveira, pela paciência e dedicação.

Aos colegas de turma, em especial: Francisco, Helio, Paulo, Roberta e Suellem.

Aos produtores que gentilmente cooperaram no fornecimento de dados.

Aos demais professores que de forma direta ou indireta contribuíram no

desenvolvimento desta pesquisa.

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Agentes desejam ser racionais, mas só conseguem sê-lo

parcialmente. A racionalidade limitada interfere nos custos de

transação em virtude de que, quando prevalece este evento,

temos a necessidade de formulação de estratégias de

governança mais sofisticadas.

(Willamson)

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RESUMO

É abordado neste trabalho um estudo detalhado da cadeia produtiva do camarão

marinho em Pernambuco. A atividade é analisada sob a ótica da economia dos

custos de transação, segundo a qual, a firma moderna pode ser entendia como um

conjunto de contratos entre agentes especializados que regulam as transações com

o mercado, a fim de produzir um bem final. A atividade de carcinicultura em

Pernambuco apresenta aspectos antagônicos e contraditórios. As condições

geográficas, climáticas e econômicas favoráveis apontam um futuro promissor.

Todavia, barreiras internacionais e aspectos da organização da produção conduzem

a incertezas quanto ao futuro da atividade. Presume-se que o estudo aprofundado

das transações operacionais, bem como a análise da percepção do produtor

pernambucano sobre as transações com outros agentes da cadeia podem

influenciar um arranjo que induza os agentes a cooperarem visando a maximizar a

potencialidade da atividade. A pesquisa foi efetuada com 32 produtores, sendo 17

produtores cadastrados junto à Federação de Agricultura do Estado de Pernambuco,

02 produtores formais e 13 produtores informais. Entre os resultados desta

pesquisa, chega-se à conclusão de que a coordenação da cadeia produtiva da

carcinicultura é influenciada pela percepção de seus agentes.

Palavras-chave: Carcinicutura. Transações. Incertezas. Organização.

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ABSTRACT

The focus of this paper is a detailed study into the productive chain of the marine

prawn (shrimp) in Pernambuco. The activity is analyzed under the optics of the

economy of transaction costs, according to which, the modern company can be

comprehended as a set of contracts between specialized agents who regulate the

transactions with the market in order to produce a final commodity. The activity of

prawn aquaculture or shrimp farming in Pernambuco presents antagonistic and

contradictory aspects. Favorable conditions such as geography, climate and

economy, illustrate a promising future. However, international barriers and aspects in

the organization of production lead to uncertainties towards the future of the activity.

It is presumed that a deepened study of the operational transactions, as well as the

analysis of Pernambuco`s producers perception on the transactions with other

agents of the chain can influence an agreement that induces the agents to cooperate

aiming to maximize the potentiality of the activity. The research was conducted on

32 producers, 17 of which were producers registered under the Federation of

Agriculture of the State of Pernambuco, 02 officially registered producers and 13

non-registered producers. From the results of this research, we come to the

conclusion that the coordination of the productive chain of prawn aquaculture is

influenced by the actions and attitudes of its agents.

Word-key: Prawn Aquaculture. Transactions. Uncertainties. Organization.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

GRÁFICO 1 Evolução da Produção de Camarão no Mundo ..................... 18

FIGURA 1: Cadeia Produtiva da Carcinicultura Marinha .......................... 24

GRÁFICO 2 Valor das Exportações de Camarão – 2004 a 2007 .............. 37

GRÁFICO 3 Volume das Exportações de Camarão – 2005 e 2006 .......... 38

GRÁFICO 4 Preço Médio das Exportações – 2005 e 2006 ....................... 39

GRÁFICO 5 Volume das Exportações de Camarão – 2007 ...................... 40

GRÁFICO 6 Exportação do Brasil por Destino ........................................... 41

GRÁFICO 7 Perfil do Produtor por Área .................................................... 63

GRÁFICO 8 Área de Produção .................................................................. 64

GRÁFICO 9 Ano de Instalação .................................................................. 66

GRÁFICO 10 Participação dos Clientes e Fornecedores mais Freqüentes . 67

GRÁFICO 11 Freqüência de Exportação ..................................................... 68

GRÁFICO 12 Integração dos Elos da Cadeia .............................................. 70

GRÁFICO 13 Contratos com Clientes .......................................................... 72

GRÁFICO 14 Contratos com Fornecedores ................................................. 73

GRÁFICO 15 Dificuldades Percebidas ......................................................... 75

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Variação dos Preços de Venda e dos Principais Custos ......... 14

TABELA 2 Perfil das Exportações dos Principais Produtos do Setor

Primário da Região Nordeste (2001/2002) ..............................

17

TABELA 3 Empregos Diretos Gerados por Elo da Cadeia Produtiva ........ 27

TABELA 4 Empregos Diretos e Indiretos Gerados por Diversas

Atividades do Setor Primário Brasileiro ....................................

28

TABELA 5 Evolução da Produção de Camarão Cultivado em Toneladas

Por Estado (2004-2006) ...........................................................

30

TABELA 6 Censo da Carcinicultura Nacional 2004 ................................... 33

TABELA 7 Mercados e Contratos: Evidências na Agricultura ................... 45

TABELA 8 Composição das Variáveis ....................................................... 47

TABELA 9 Escala de Coordenação ........................................................... 47

TABELA 10 Quadro das Variáveis Explicativas ........................................... 50

TABELA 11 Correlação das Variáveis ......................................................... 56

TABELA 12 Estatística Descritiva: Perfil do Produtor .................................. 62

TABELA 13 Tabulação Cruzada: Ano de Instalação x Tamanho da

Unidade de Produção ..............................................................

65

TABELA 14 Tabulação Cruzada: Ano de Instalação x Freqüência de

Exportação ...............................................................................

69

TABELA 15 Tabulação Cruzada: Ano de Instalação x Elo da Cadeia ......... 71

TABELA 16 Classificação do Grau de Incertezas dos Produtores .............. 74

TABELA 17 Estatística Descritiva: Transações com o Mercado ................. 76

TABELA 18 Estatística Descritiva: Transações com o Mercado ................. 78

TABELA 19 Correlação das Variáveis Testadas ......................................... 80

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LISTA DE SIGLAS

ABCC Associação Brasileira de Criadores de Camarões

ACCII Associação dos Criadores Camarão da Ilha de Itamaracá

CAI Complexo Agroindustrial

Conama Conselho Nacional do Meio Ambiente

Consema Conselho Estadual do Meio Ambiente do Estado de Pernambuco

ECT Economia dos Custos de Transação

FAEPE Federação de Agricultura do Estado de Pernambuco

FCA Fator de Conversão Alimentar

FENACAM Feira Nacional do Camarão

MMA Ministério do Meio Ambiente

NEI Nova Economia Institucional

OMC Organização Mundial do Comércio

PIB Produto Interno Bruto

SSA Sociedade Sulista de Pescadores de Camarões

SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

UFRPE Universidade Federal Rural de Pernambuco

UPE Universidade de Pernambuco

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 12

1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA ............................................................... 12

1.2 PERGUNTA DE PESQUISA ................................................................. 19

1.3 OBJETIVOS .......................................................................................... 19

1.3.1 Objetivo Geral ................................................................................... 19

1.3.2 Objetivos Específicos ...................................................................... 19

1.4 JUSTIFICATIVA .................................................................................... 20

2 RELEVÂNCIA DA ATIVIDADE NO SETOR PRIMÁRIO DE

PERNAMBUCO ...................................................................................

21

2.1 IMPORTÂNCIA DO AGRONEGÓCIO PARA PERNAMBUCO ............. 21

2.1.1 Conceito de Agronegócio ................................................................ 21

2.2 CADEIA PRODUTIVA DA CARCINICULTURA .................................... 23

2.2.1 Geração de Emprego e Renda ........................................................ 26

2.3 DA PRODUÇÃO DO ESTADO ............................................................. 28

2.3.1 História da Carcinicultura Brasileira e o Desenvolvimento da

Atividade no Nordeste .....................................................................

31

2.3.1 Perfil dos Produtores em Pernambuco .......................................... 31

2.3.2 Características do Produto e Meio Ambiente ............................... 34

2.4 COMERCIALIZAÇÃO NO ESTADO ..................................................... 37

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................... 43

3.1 O AMBIENTE INSTITUCIONAL E A ECONOMIA DOS CUSTOS DE

TRANSAÇÃO .......................................................................................

43

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS................................................. 47

4.1 TRATAMENTO DOS DADOS COLETADOS ........................................ 49

4.2 DESCRIÇÃO DAS VARIÁVEIS ............................................................. 52

4.3 TRATAMENTO ESTATÍSTICO ............................................................. 56

5 ANALISE DOS DADOS ........................................................................... 57

5.1 COLETA DOS DADOS ......................................................................... 57

5.2 RESULTADO E DISCUSSÃO ............................................................... 58

5.2.1 Análise Estatística Descritiva ......................................................... 58

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5.2.2 Correlação de Variáveis ................................................................... 59

5.2.3 Limites e Limitações ........................................................................ 59

5.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS ............................................................. 60

5.3.1 Perfil do Produtor ............................................................................. 60

5.3.1.1 Estatística Descritiva: Perfil do Produtor ......................................... 61

5.3.2 Análise da Percepção do Respondente sobre as Operações

com o Mercado ...............................................................................

73

5.3.2.1 Estatística Descritiva ....................................................................... 73

5.3.3 Análise de Correlação do Grupo .................................................... 78

5.3.4 Teste de Hipóteses ........................................................................... 80

6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES ............................................................. 83

REFERÊNCIAS ........................................................................................... 87

APÊNDICES ............................................................................................... 94

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1 INTRODUÇÃO

1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA

A atividade de carcinicultura surgiu na região Nordeste como uma das principais

alternativas de desenvolvimento sustentável para a população local. No final da

década de 90, e inicio da década seguinte, as condições favoráveis para produção e

os preços atrativos do mercado exterior estimularam vários novos investimentos,

principalmente nos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e Pernambuco. A

atual conjuntura de mercado para o camarão nordestino não apresenta a mesma

euforia que a apresentada nos anos de 1999, 2000, 2001 e 2002. Desta forma,

observa-se uma retração natural do segmento, em virtude dos elevados custos

operacionais de produção e os baixos preços obtidos no mercado internacional.

Depois de crescer numa velocidade média de 50% ao ano, desde o início da exploração comercial da atividade em 1996, a carcinicultura viveu um ano atípico em 2004. No confronto com 2003, a produção de camarão registrou queda de 15,84%, saindo de um patamar de 90.190 para 75.904 toneladas. Já a produtividade passou de 6.084 kg/ha/ano para 4.573 kg/ha/ano (-24,83%) e as exportações foram reduzidas em 12,4%, caindo de US$ 226 milhões para US$ 198 milhões (PESQUISA..., 2005).

Os produtores pernambucanos, assim como os demais produtores nordestinos,

viram seus investimentos ameaçados por políticas de salvaguarda estrangeira e,

também, por conta de uma política cambial desfavorável que desvaloriza os preços

de venda em real e mantém os custos de produção elevados. Podemos notar

claramente a desaceleração dos investimentos na atividade a partir dos anos de

2003 e 2004, período no qual os EUA impetraram uma ação antidumping contra

países produtores e exportadores de camarão cultivado, entre estes o Brasil. Na

ação encaminhada à Organização Mundial do Comércio (OMC), em dezembro de

2003, os americanos acusam o país de adotar políticas que subsidiam a produção

nacional de camarão cultivado. Desta forma, os produtores brasileiros estariam

praticando preços de venda abaixo dos custos operacionais.

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Observa-se assim, o declínio dos preços praticados pelo mercado internacional a

partir de 2003, em virtude do redirecionamento das vendas para a Europa e a

concorrência do produto nacional para com os produtores orientais, principalmente.

O presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarões (ABCC), Itamar

Rocha, em entrevista concedida à Tribuna do Norte (RN), expôs que a ação

antidumping movida pelos pescadores norte-americanos contra o camarão brasileiro

provocou uma redução de 50% nas exportações nacionais para os Estados Unidos.

A ameaça de restrições à entrada do nosso produto no mais importante mercado mundial de camarão, obrigou o produtor/exportador a redimensionar sua produção e levou o Brasil a redirecionar sua oferta a outros mercados externos, principalmente a Europa. Isso exigiu um enorme esforço de marketing e intensa promoção comercial, considerando a alta competitividade do mercado global do setor (PESQUISA..., 2005).

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TABELA 1 – Variação dos Preços de Venda e dos Principais Custos.

ITEM DISCRIMINAÇÃO UND 2003 2004 2005 2006 2007 VARIAÇÃO

PERCENTUAL 2007/2003

VENDAS PARA A EUROPA R$ / Kg 11,08 10,48 8,99 7,70 6,60 -40,45%

CAMARÃO 80/100 * US$ / Kg 3,61 3,59 3,70 3,55 3,40 -5,82%

PRINCIPAIS CUSTOS

1.0.0 Salário Mínimo US$ 78,18 89,04 123,46 161,29 196 150,72%

2.0.0 Ração US$ / Kg 0,58 0,62 0,7 0,62 0,64 9,77%

3.0.0 Pós-Larvas US$ / Mil

2,21 1,78 2,16 2,16 2,02 -8,80%

4.0.0 Energia/Consumo US$ / kWh

0,03 0,03 0,04 0,04 0,05 75,17%

5.0.0 Diesel US$ / L 0,45 0,47 0,74 0,84 0,85 89,09%

*Cada Quilo de Camarão Contém entre 80 e 100 Unidades. FONTE: ABCC, 2007f.

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15

As projeções e dados apresentados pela ABCC (2007) demonstram com clareza a

variação percentual entre os anos de 2003 e 2007 (Tabela 1). Verifica-se nesta o

aumento significativo dos custos, principalmente nos combustíveis e no item de

salário mínimo, enquanto que nos preços praticados em 2007 pela Europa observa-

se uma queda de 40,45%, em relação aos praticados em 2003.

Através da análise das novas tendências de mercado, os projetos que inicialmente

foram desenvolvidos com objetivos claros de preponderância de exportação foram

redirecionados para o mercado interno, sendo a região Sudeste o principal centro

brasileiro consumidor do camarão nordestino. Com o redirecionamento das vendas

para o mercado interno, percebe-se a necessidade de uma readaptação da cadeia

produtiva, em virtude das novas condições de mercado, cuja preferência é por

produtos elaborados ou semi-elaborados, além de manter certa resistência ao termo

camarão de cativeiro (BARBIERI JUNIOR, 2002).

As projeções de exportação da ABCC para 2007 foram bastante pessimistas, pois

os preços obtidos na exportação não ofereceram atratividade para os produtores.

Desta forma, em 2006, 53,10% da produção brasileira, cerca de 34.500 toneladas, foi negociada no mercado interno e 46,90%, da produção foi exportada, cerca de 30.500 toneladas. A projeção, de fechamento da produção e destino comercial, do camarão cultivado em 2007 é ainda pior sendo 70% negociado no mercado interno e 30,00% no mercado internacional (ABCC, 2007c).

A ABCC vem despendendo esforços significativos na divulgação do camarão

cultivado no Nordeste. Entre algumas medidas adotadas, observa-se a divulgação

em eventos internacionais e nacionais, como: INFOFISH, SEAFOOD SHOW,

FENACAM, etc. O ambiente atual é de dificuldade para a manutenção da atividade,

porém é do entendimento geral, inclusive na visão da ABCC, que o produto é viável

e relevante para a economia do Nordeste. Sendo assim, se as dificuldades forem

tratadas de maneira profissional, os produtores poderão retomar os níveis de

produção e exportação observados no passado recente.

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O Nordeste possui vantagens comparativas para exploração do camarão marinho que, se estruturadas com profissionalismo, poderão vir a torná-lo um grande produtor mundial com competitividade, gerando oportunidade de trabalho e divisas para a região (PAULA NETO, 2005).

Por outro lado, o cultivo do camarão marinho no Nordeste é visto como atividade

alternativa para minimizar as perdas decorrentes do deslocamento do mercado

canavieiro para a região centro-sul do país. Entretanto a agroindústria canavieira,

pela sua capacidade de geração de emprego e renda, ainda hoje representa o

principal segmento do agronegócio pernambucano e a principal fonte econômica do

setor primário.

Em nível regional, as exportações de camarão cultivado ocupam o segundo lugar na pauta de exportações do setor primário do Nordeste, somente atrás do setor sucroalcooleiro e, em nível estadual, ocupam o primeiro lugar no Rio Grande do Norte e segundo no Ceará (MADRID, 2004).

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17

TABELA 2 – Perfil das Exportações dos Principais Produtos do Setor Primário da Região Nordeste (2001/2002).

2002 2001 VARIAÇÃO (US$)

ITEM

U$$ FOB Part. Rel. (%)

QTD (KG) U$$ FOB Part. Rel. (%)

QTD (KG) 2002/2001

Açúcar de cana e derivados

695.667.262 14,94 4.055.698.680 869.775.772 20,08 4.259.350.692 -20,01%

Camarão Cultivado

154.859.690 3,30 37.692.652 106.959.041 2,56 21.268.590 46,40%

Fruticultura Irrigada

134.414.767 2,89 281.731.445 113.194.124 2,71 233.361.669 18,74%

Cacau e derivados

130.855.066 2,82 55.510.286 88.310.874 2,11 55.884.247 48,17%

Castanha de caju

105.127.165 2,26 30.113.581 112.228.837 2,68 293.400.003 -6,32%

Soja e outros grãos

101.523.126 2,42 550.213.833 90.787.658 2,17 502.597.970 11,82%

Lagostas 60.633.780 1,3 2.311.310 55.411.416 1,32 2.219.828 0,66% Café não torrado e outros grãos

28.179.663 0,61 34.939.880 24.198.095 0,58 26.765.100 16,45%

Outros peixes frescos

9.436.696 0,20 3.591.474 7.630.284 0,18 2.944.124 23,67%

Sal Marinho

8.218.083 0,18 687.264.110 10.254.669 0,25 764.515.200 -19,86%

TOTAL 1.428.915.298 30,92 5.739.067.251 1.478.750.770 35,36 6.162.325.423 -3,37%

FONTE: SECEX (apud ABCC, 2002).

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18

Apesar do baixo preço praticado, os carcinicultores pernambucanos devem

permanecer atentos às novas oportunidades do mercado internacional. Pode-se

observar, por exemplo, um aumento significativo na produção mundial de camarão

produzido em cativeiro, como pode ser verificado na ilustração do Gráfico 1, fato

este justificado pelo aumento do seu consumo mundial.

Evolução da Produção de Camarão (1996 - 2005)

-500.000

1.000.0001.500.0002.000.0002.500.0003.000.0003.500.0004.000.000

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

Ano

To

nel

ada

Cultivo

Captura

GRÁFICO 1: Evolução da Produção de Camarão no Mundo. FONTE: FAO (2007 apud ABCC, 2007a).

Uma vez percebida a potencialidade da atividade de carcinicultura no Nordeste, faz-

se uma pergunta inquietante: seriam os preços praticados o agente determinante na

coordenação da produção? Propõe-se a hipótese de que as instituições e formas de

governança são relevantes, passíveis de análise, afetam e são afetadas pelo

ambiente institucional e econômico. Desta forma o papel dos preços é oferecer

informações e não de coordenar a produção (ZYLBERSZTAJN, 2005).

O presente trabalho representa um estudo do papel dos contratos na coordenação

da cadeia produtiva do camarão marinho cultivado no estado de Pernambuco,

apresentando uma visão global do mercado consumidor, e as características

comerciais do camarão cultivado no Estado.

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1.2 PERGUNTA DE PESQUISA

Após análise do exposto, o desenvolvimento deste projeto objetiva responder à

seguinte pergunta de pesquisa:

A organização da cadeia produtiva da carcinicultura em Pernambuco está associada

às transações realizadas entre os componentes da cadeia?

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

O objetivo principal é descrever, avaliar e caracterizar o setor de carcinicultura em

Pernambuco, avaliando o nível de percepção dos produtores em relação aos custos

de transações envolvidos nas operações com o mercado.

1.3.2 Objetivos Específicos

a) levantamento dos modelos e padrões utilizados pelas empresas de carcinicultura

no estado de Pernambuco, identificando e conceituando sua cadeia produtiva;

b) identificação das empresas instaladas em Pernambuco atuando no setor;

c) classificação da cadeia, segundo o sistema de coordenação das atividades;

d) identificação das transações verificadas entre os agentes da cadeia.

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1.4 JUSTIFICATIVAS

O setor de carcinicultura, compreendido como atividade de agronegócio, vem

apresentando índices expressivos no desenvolvimento da região Nordeste. O estudo

se justifica pela contribuição empírica ao referencial teórico da economia dos custos

de transação, pelos aspectos relevantes a seguir apresentados.

Este trabalho procura ligar os pontos teóricos da Economia dos Custos de

Transação aos padrões e modelos de contratos utilizados pelos carcinicultores

pernambucanos, enfatizando a relação entre as especificidades, ativos dedicados,

freqüência das transações e a duração dos contratos mantidos entre os agentes da

cadeia produtiva. Observa-se, em Pernambuco, um forte declínio da atividade

produtiva do cultivo do camarão marinho. Porém, índices técnicos avaliam que a

região Nordeste apresenta as melhores médias de produtividades do mundo. Como

hipótese, associa-se o aumento da duração dos contratos à necessidade de

estruturas de governança mais complexas em virtude da especificidade e dos ativos

dedicados. Quanto maior a especificidade dos ativos, maiores serão as

possibilidades de ocorrências de ações oportunistas entre os agentes da cadeia

produtiva.

A pesquisa objetiva, ainda, analisar os contratos de compra e venda, emitidos pelas

empresas que atuam no ramo do agronegócio da carcinicultura de Pernambuco,

cujo propósito central é utilizar o referencial teórico da Nova Economia Institucional

(NEI), para detectar a presença de especificidade de ativos, incertezas, e verificar a

freqüência de transações implícitas nas relações contratuais entre os agentes

econômicos que compõem a cadeia produtiva. Desta forma, utilizando-se os

conceitos da Economia dos Custos de Transação, será analisada a coexistência de

estruturas de governança distintas na cadeia produtiva.

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21

2 RELEVÂNCIA DA ATIVIDADE NO SETOR PRIMÁRIO DE PERNAMBUCO

2.1 A IMPORTÂNCIA DO AGRONEGÓCIO PARA PERNAMBUCO

Tradicionalmente, a estrutura do agronegócio em Pernambuco tem mantido

aquecida a economia local, elevando a contribuição do Estado no Produto Interno

Bruto (PIB) nacional. Durante as últimas décadas, o plantio da cana-de-açúcar e o

cultivo da fruticultura irrigada no vale do São Francisco foram os principais pilares da

produção pernambucana, porém a partir da década de noventa a produção do

camarão marinho cultivado começou a ter números significativos em relação às

exportações de produtos primários no Estado.

A evolução da economia de Pernambuco não só abriu novas frentes, como também

atingiu os setores tradicionais do Estado, a exemplo do mercado do agronegócio.

2.1.1 Conceito de Agronegócio

As primeiras abordagens envolvendo o conceito de agronegócios foram

direcionados para as operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas

(DAVIS; GOLDBERG, 1957). Hoje, a maioria das definições é bem mais abrangente,

contemplando uma visão sistêmica das cadeias produtivas agroindustriais,

envolvendo todos os segmentos e atividades que, de uma forma ou de outra,

mantêm relacionamento com a atividade principal do agronegócio ou núcleo do

complexo agroindustrial.

Em outros tempos, a palavra agricultura era utilizada como um termo que englobava

poucas atividades, além do plantio de culturas, a criação de animais, produção de

equipamentos simples de transportes e insumos orgânicos. Os produtores não eram

especializados e conheciam todo o setor num nível de especificidade suficiente para

as exigências da época. Com a modernização, tecnificação e exigência por

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melhores produtos, atividades como a produção de insumos, máquinas e

implementos e a pesquisa, passam para a mão de especialistas e são chamadas de

atividades antes da porteira. Por outro lado, o processamento, a distribuição, o

transporte e a comercialização passam a ser realizados por empresas mais

eficientes e chamadas de após a porteira. Dessa forma, o conceito de agronegócio

passou a englobar uma gama bem mais ampla de atividade, envolvendo todos os

setores tradicionais, as atividades de dentro da porteira, ou seja, o plantio, a colheita

e a produção de animais, bem como atividades de antes da porteira e depois da

porteira (MACHADO FILHO et al., 1996).

Sendo assim, foi analisando e estudando as transformações da agricultura, que

Davis e Goldberg (1957, p. 180), formularam um conceito para o termo agronegócio

ou agribusiness: “é a soma total das operações de produção e distribuição de

suprimentos agrícolas, das operações de produção nas unidades agrícolas, do

armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens

produzidos a partir deles”.

Portanto, pode-se entender que o agronegócio engloba os produtores de matéria-

prima, os fornecedores de insumo à agricultura, os produtores rurais, os

processadores, transformadores e distribuidores, até o consumidor final. Os agentes

que coordenam e afetam o fluxo dos produtos, tais como o governo, os mercados,

entidades comerciais, também participam desse complexo. Os trabalhos de Caldas

et al. (1998), Zylbersztajn (1995), Neves (1999) e Silva (1991), demonstram o

aprimoramento de tal processo no Brasil.

Segundo Haddad (1999 apud CENTRAL..., 2007), uma agroindústria é uma

empresa que processa materiais de origem vegetal ou animal. O processamento

envolve transformação e preservação através de alteração física ou química,

estocagem, embalagem e distribuição. As agroindústrias podem ser classificadas, de

forma simplificada, de acordo com o grau em que a matéria-prima é transformada.

Em geral, os investimentos de capital, a complexidade tecnológica e os requisitos de

gerenciamento aumentam, à medida que o grau de transformação se amplia

(HADDAD, 1999 apud CENTRAL..., 2007).

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Araújo Neto e Costa (2005) constataram que o PIB do Complexo Agroindustrial

(CAI) pernambucano representou, em 1999, 21,2% do PIB total do Estado. Neste

mesmo trabalho, os autores efetuaram uma análise comparativa em relação às

estimativas nacionais e constataram que a participação do agronegócio no PIB de

Pernambuco ficou bem acima da média nacional, enfatizando bem a sua importância

para a economia do Estado; esclarecem, ainda, que a cadeia produtiva total do

agronegócio vai além do centro do complexo (participação de 40,9%), sendo que as

atividades de fora da porteira (a montante e a jusante) representam maior parcela do

CAI, ou seja, 58,9%.

Uma vez percebida a importância do agronegócio para Pernambuco e a dimensão

abrangente dos conceitos modernos, podemos viabilizar o estudo da carcinicultura

sob a ótica das firmas, que compõem a atividade, como um nexo de contratos e,

desta forma, abre-se a oportunidade de estudar as organizações como arranjos

institucionais que regem as transações, seja por meio de contratos formais ou de

contratos informais; os primeiros, amparados por lei; o segundo, amparado por

salvaguardas reputacionais e outros mecanismos sociais (ZYLBERSZTAJN, 2005).

Desta maneira, pretende-se, neste trabalho, proceder à identificação das atividades

a montante e a jusante da cadeia produtiva da carcinicultura pernambucana, suas

principais características e seu papel em relação à atividade principal ou núcleo do

complexo produtivo.

2.2 CADEIA PRODUTIVA DA CARCINICULTURA

A carcinicultura deve ser compreendida no âmbito do conceito de agronegócios, que

pressupõe uma visão sistêmica do funcionamento das atividades relacionadas à

agropecuária. Assim, envolve a noção de produção, mas envolve, também, os elos a

montante e a jusante de fornecimento de insumos; máquinas e implementos;

transformação agroindustrial; e a sua comercialização.

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Sob o ponto de vista técnico a carcinicultura é uma técnica de criação de camarão

em viveiro que favorece a produção em escala comercial. Atualmente a produção

nordestina representa uma fonte viável de negócio, por se tratar de uma alternativa

para o atendimento da demanda crescente por camarão, sem a agressão predativa

das reservas marinhas, bem como apresenta excelente potencial de crescimento

com duas características notáveis: ser um produto do setor primário que não

depende de chuvas por encontrar nas águas salobras, principalmente da costa do

Nordeste, condições ideais para o seu crescimento (OLIVEIRA, 2006), e gerar

empregos permanentes para trabalhadores rurais e de pequenas comunidades

costeiras, ou seja, mão-de-obra barata.

FIGURA 1: Cadeia Produtiva da Carcinicultura Marinha. FONTE: BATALHA, 2002.

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Apesar de ser uma atividade produtiva relativamente nova no país, o cultivo do

camarão, em menos de uma década, já demonstrou sua viabilidade técnica e

econômica, despontando como uma das alternativas mais promissoras do setor

primário da economia nacional em termos de geração de emprego e renda para o

desenvolvimento regional, e de divisas para fortalecer a posição do Brasil no âmbito

financeiro internacional (BARBIERI JUNIOR, 2002).

De forma geral, a cadeia produtiva do camarão em Pernambuco é bem estruturada.

Pode-se observar o três elos básicos da cadeia: as empresas de larvicultura, as

fazendas de engorda e os centros de beneficiamento, representados no Estado,

mantendo os agentes um estágio eficiente de tecnologia em relação aos demais

Estados do Nordeste. Observa-se, assim, a presença de grandes produtores como a

Maricultura Netuno e a Bramex, unidades de produção de ração e larvicultura, bem

como centros de beneficiamento do produto. O Estado também dispõe de fábricas

de produção de ração, insumo importante da cadeia produtiva, representantes

comerciais de diversos insumos, agentes financiadores de crédito, fabricantes de

maquinas e equipamentos, entre outros. No último Censo em 2004, executado pela

ABCC, Pernambuco aparece com 98 produtores de camarão (fazendas de engorda),

03 laboratórios de produção de Náuplios e Pós-larvas e 02 centros de

processamento (ABCC, 2004a).

Sampaio e Costa (2003) enfatizam os três elos diretamente envolvidos na cadeia

produtiva: os laboratórios de larvicultura, nos quais são produzidas as pós-larvas; as

fazendas de engorda, responsáveis pelo ciclo de desenvolvimento do camarão; e os

centros de processamento, que preparam o produto para o mercado nacional e de

exportação. Esclarecem, ainda, que à cadeia conectam-se os segmentos industriais

produtores de ração, de insumos para preparo de viveiros (fertilizante e calcaréo), de

equipamentos (aeradores, bombas, motores, equipamentos de aferição da qualidade

da água, entre outros) e o segmento de serviços (energia e transporte, incluindo os

serviços portuários, como principais).

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2.2.1 Geração de Emprego e Renda

A carcinicultura é uma importante atividade econômica nas zonas costeiras de vários

países e oferece inúmeras oportunidades para contribuir na redução dos níveis de

pobreza, aumento de emprego, maior desenvolvimento da comunidade, redução da

exploração de recursos naturais costeiros, e para garantir alimentos em regiões

tropicais e sub-tropicais (ABCC, 2002).

Muito se especula sobre a potencialidade de geração de empregos pela atividade de

carcinicultura. A ABCC (2002) aponta que são gerados 3,75 empregos/ha (diretos e

indiretos), destacando que 88% desses empregos são ocupados por mão de obra

não qualificada. A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da

Câmara Federal iniciou um estudo sobre a atividade e contesta os números

apresentados pela ABCC, “a atividade não é geradora de emprego como ela (ABCC)

preconiza. De 3,5 empregos por hectare, o relatório encontrou 0,6 empregos por

hectare”, afirma Soraia Vanini, coordenadora do Instituto Terramar. Todavia, não se

dispõe de informações sobre a metodologia utilizada neste estudo (VANINI apud

CARCINICULTURA..., 2007).

O índice de geração de emprego apresentado pela ABCC é fruto do trabalho de

Sampaio e Costa (2003), que esclarece, entre outros pontos, que para identificação

de empregos na atividade de carcinicultura, deve-se levar em consideração os três

elos da cadeia produtiva, ou seja, Larvicultura, Fazendas de engorda e Centros de

Processamento.

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TABELA 3 – Empregos Diretos Gerados por Elo da Cadeia Produtiva.

SETOR DA CADEIA PRODUTIVA QTD. EMPREGOS DIRETOS POR

HECTARE

Laboratórios/Larvicultura 0,20

Fazenda de Engorda 1,20

Centros de Processamento 0,49

Total de Empregos diretos da Cadeia

Produtiva

1,89

FONTE: SAMPAIO; COSTA, 2003.

O emprego indireto é obtido na cadeia produtiva do camarão marinho cultivado a

partir das ligações com supridores de insumos e serviços e pelo efeito-consumo, ou

seja, o emprego gerado a partir dos dispêndios de renda obtida na cadeia produtiva

(SAMPAIO; COSTA, 2003).

Para cálculo do emprego indireto os autores utilizaram a matriz de insumo produto,

desagregada para conter a atividade de carcinicultura. Uma vez desagregada a linha

e a coluna correspondentes ao subsetor de carcinicultura, obtém-se a nova matriz

de requerimentos diretos e indiretos. Depois de inúmeras comparações e testes de

funções econométricas, os autores obtiveram um valor de 1,86 empregos indiretos

por hectare cultivado.

Desta forma, somando-se o total dos empregos diretos gerados por hectare

cultivado (1,89 empregos/ha) com o total dos empregos indiretos gerados (1,86

empregos/ha), obtém-se o total de 3,75 empregos totais/ha. Numa breve análise

comparativa com outras atividades do setor primário, pode-se perceber a

importância da carcinicultura como objeto de desenvolvimento regional, gerando

emprego e renda:

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TABELA 4 – Empregos Diretos e Indiretos Gerados por Diversas Atividades do Setor Primário Brasileiro.

UNIDADE GERAÇÃO DE EMPREGOS

DIRETOS (POR HÁ)

GERAÇÃO DE EMPREGOS

INDIRETOS (POR HA)

TOTAL

UVA 1,44 0,70 2,14

MANGA 0,42 0,70 1,12

CANA-DE-AÇUCAR 0,35 0,70 1,05

COCO 0,16 0,70 0,86

CAMARÃO

CULTIVADO

1,89 1,86 3,75

FONTE: ROCHA, 2006.

2.3 DA PRODUÇÃO DO ESTADO

Pernambuco tem 187 km de costa marítima, na sua maioria propícia para o

desenvolvimento da carcinicultura. As condições hidrográficas e de relevo também

são favoráveis. Observa-se uma boa logística para o desenvolvimento e escoamento

dos produtos e mão de obra técnica abundante, entre outros fatores propícios para o

desenvolvimento do setor. Mesmo assim, os produtores regionais encontram

dificuldades para manutenção de suas fazendas.

Assim como em todo o Nordeste, os produtores pernambucanos apostaram no

desenvolvimento da espécie Litopenaeus Vannamei, originária do Oceano Pacífico,

que se adaptou bem à criação no Estado, por suportar amplo intervalo de

temperaturas e de índices de salinidade da água. Atualmente, o Litopenaeus

Vannamei constitui a totalidade da produção estadual de camarões marinhos

cultivados. O Brasil detém a liderança mundial em produtividade de camarão

marinho cultivado, com uma média de 5.458 kg/ha/ano (PAULA NETO et al., 2005).

O segundo maior produtor mundial, a Tailândia, apresenta produtividade de 3.906

kg/ha/ano.

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Os principais fatores que estão contribuindo para que o Brasil ocupe lugar de destaque no cenário mundial da carcinicultura do Hemisfério Ocidental estão relacionados com o desenvolvimento e adoção de uma apropriada tecnologia de manejo em todas as etapas do processo produtivo. O aperfeiçoamento e emprego sistemático das novas tecnologias vêm contribuindo para a melhoria dos índices técnicos e, conseqüentemente, dos níveis de produtividade e rentabilidade dos cultivos. Dentre esses fatores destacam-se o controle do ciclo biológico da espécie Litopenaeus vannamei; a disponibilidade de alimentos balanceados; o aprimoramento e disseminação das técnicas de manejo (utilização de berçários intensivos; o tratamento sistemático dos solos dos viveiros; o uso de bandejas fixas para a distribuição de ração aos camarões; a utilização de um apropriado manejo de fertilização e renovação d’água; o emprego de aeração artificial), e a crescente demanda por camarões cultivados (CARVALHO, 2004).

Dados recentes indicam que Pernambuco detém o 4º Lugar em produção de

camarão no país, contando com apenas 24 produtores em atuação formal, como

empresas (RABELO apud ENERGIA..., 2006).

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TABELA 5 – Evolução da Produção de Camarão Cultivado em Toneladas por Estado (2004-2006).

TABELA 5 - EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE

CAMARÃO CULTIVADO EM TONELADAS

POR ESTADO (2004 - 2006) Estado 2004 2005 2006 Região Norte 242 280 250 PA 242 280 250 Região Nordeste 70.695 61.300 63.750 RN 30.807 25.000 26.400 CE 19.405 19.500 22.000 BA 7.577 6.000 6.000 PE 4.531 3.600 3.850 PB 2.963 1.700 1.450 PI 2.541 2.350 1.400 SE 2.543 2.800 2.300 MA 226 230 200 AL 102 120 150 Região Sudeste 370 350 50 ES 370 350 50 Região Sul 4.597 3.070 950 SC 4.267 2.500 480 PR 310 550 450 RS 20 20 20 Total 75.904 65.000 65.000

FONTE: ABCC, 2007a.

A tabela 5 mostra que dentre os principais Estados Nordestinos produtores, apenas

o Ceará experimentou um tímido crescimento da produção entre 2004 e 2006,

enquanto que se observou uma queda de produção na maioria dos demais Estados.

Tratando-se de uma cultura recente, observamos uma grande perspectiva de

crescimento do setor, visto que muito há por se fazer para que a atividade se

consolide economicamente.

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2.3.1 História da Carcinicultura Brasileira e o Desenvolvimento da Atividade no

Nordeste

Na verdade, precisa-se entender que o processo de produção de Camarão na

Região Nordeste é muito recente. Sendo assim, as empresas ainda estão em pleno

processo de adequação às características da produção e de mercado.

Segundo a ABCC (2002), o desenvolvimento da atividade se deu pela necessidade

critica de uma alternativa para a produção de sal no estado do Rio Grande do Norte,

nos anos 70. Entre os primeiros estudos para aperfeiçoamento da cultura do

Litopenaeus Vannamei e a atualidade, várias espécies foram testadas, porém sem

aproveitamento comercial suficiente para atender as expectativas econômicas dos

investidores.

A partir do momento em que laboratórios brasileiros dominaram a reprodução e

larvicultura do L. Vannamei e iniciaram a distribuição comercial de pós-larvas, na

primeira metade dos anos 90, as fazendas em operação ou semiparalisadas

adotaram o cultivo do novo camarão, obtendo índices de produtividade e

rentabilidade superiores aos das espécies nativas. As validações tecnológicas foram

intensificadas no processo de adaptação do L. Vannamei e, a partir de 1995/1996,

ficou demonstrada a viabilidade comercial de sua produção no País (ABCC, 2002).

2.3.1 Perfil dos Produtores em Pernambuco

O Estado de Pernambuco conta com condições climáticas, hidrobiológicas e de

infra-estrutura favoráveis à atividade de cultivo de camarões marinhos, que possui

um relevante significado para a Região Nordeste, em particular para a

implementação do Programa de Ação para o Desenvolvimento da Zona da Mata,

instituído pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), visto

que permite sua diversificação econômica envolvendo transformações no panorama

do emprego estrutural, levando a consideráveis modificações na estrutura sócio-

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econômica da Região. Com isto, percebe-se que o setor ainda passará por várias

transformações e o desenvolvimento da carcinicultura pernambucana será

aperfeiçoada naturalmente, conforme pode-se observar com a criação de um

pequeno grupo de produtores rurais que formaram uma associação na Ilha de

Itamaracá – Associação dos Criadores de Camarão da Ilha de Itamaracá–PE

(ACCII), cujos representantes estão no negócio de camarão mais por necessidade

que por opção profissional. Acredita-se que o caso da ACCII reflete bem a situação

da carcinicultura no Estado, ainda executada de forma primária, com seus

produtores atuando de maneira desordenada (COELHO, 2004).

Pernambuco conta com dois dos maiores laboratórios para produção de larvas de

camarão marinho da América Latina: Aqualider e o Tecmares, ambos localizados em

Ipojuca, produzindo juntos 85 milhões de larvas ao mês e empregando 80

funcionários especializados (GOELHO, 1998).

Em sua grande maioria, os produtores pernambucanos são classificados como

pequenos produtores, 88 no total. Porém, também podemos observar a presença de

produtores classificados como grandes e médios, conforme dados fornecidos pela

ABCC (2002).

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TABELA 6 – Censo da Carcinicultura Nacional 2004.

Pequeno Médio Grande Total Estado

Produtor

Área

(Há)

Produção

(Ton)

Produtor

Área

(Há)

Produção

(Ton)

Produtor

Área

(Há)

Produção

(Ton)

Produtor

Área

(Há)

Produção

(Ton)

RN 280 972 4.250 82 1.824 8.651 19 3.485 17.896 381 6.281 30.907

CE 119 604 3.502 58 1.439 7.493 14 1.761 8.410 191 3.804 19.405

PE 88 110 468 7 131 763 3 867 3.300 98 1.108 4.531

PB 59 170 739 7 164 850 2 296 1.374 68 630 2.963

BA 33 137 285 12 233 480 6 1.480 6.812 51 1.850 7.577

SC 48 276 958 45 953 2.909 2 132 400 95 1.361 4.267

SE 58 190 757 10 224 1.036 1 100 750 69 514 2.543

MA 4 17 76 3 63 304 - - - 7 85 226

ES 12 103 370 - - - - - - 12 103 370

PA 3 11 32 2 27 210 - - - 5 38 242

PR - - - 1 49 310 - - - 1 49 310

RS - - - 1 8 20 - - - 1 8 20

AL 1 3 10 1 13 92 - - - 2 16 102

PI 7 42 114 4 86 202 5 623 2.225 16 751 2.541

TOTAL 712 2.635 11.561 233 5.214 23.330 52 8.744 41.167 997 16.598 75.904

Part.

Rel.

(%)

71,41 15,88 15,23 23,37 31,41 30.74 5,22 52,68 54,24 100,00 100,00 100,00

FONTE: ABCC, 2004b.

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A classificação dos produtores leva em consideração o tamanho de suas unidades

produtivas, sendo considerados pequenos produtores aqueles com área inferior a 10

há; o de médio porte, os que mantêm área de produção entre 10 ha e 50 ha e, por

fim, os grandes produtores, que possuem fazendas de engorda com área acima de

50 ha.

Apesar do elevado número de pequenos produtores, estes mantêm uma

representatividade mínima na produção do estado, sendo de 10,33% de toda a

produção. Em contrapartida, observa-se a grande representatividade da produção

dos grandes produtores (3 Fazendas em 2004), que chega a 72,83% de toda a

produção do Estado, mostrando que existe uma forte concentração da produção

pernambucana.

2.3.2 Características do Produto e Meio Ambiente

O rápido desenvolvimento da atividade comercial em importantes áreas tropicais do

mundo é, entretanto, acompanhado de crescentes preocupações sobre a sua

sustentabilidade ambiental.

Como uma atividade econômica que usa recursos naturais para aumentar a oferta

de alimentos, tal como ocorre com as atividades agropecuárias em geral, o cultivo

do camarão pode ser desenvolvido com um mínimo de impacto ambiental desde que

sejam observados critérios técnicos na implantação e manejo de suas unidades

produtivas (ABCC, 2002).

Atualmente os projetos de carcinicultura buscam uma tecnologia sustentável, tanto

para não prejudicar as crias, quanto para não gerar efluentes prejudiciais ao meio

ambiente. É necessário que se cuide da qualidade da água e que haja

monitoramento constante das fazendas de engorda. Tais cuidados visam evitar a

poluição dos mangues e de outros recursos hídricos.

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Sob o aspecto legal, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), órgão ligado

ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), esclarece que atividades podem interferir

negativamente em relação ao ambiente em que estão inseridas, desde que incorram

nas seguintes penalidades ambientais (BRASIL. Resolução..., 2002):

a) degradação do ecossistema e da paisagem;

b) exploração de áreas de empréstimos para aterros (construção de taludes);

c) risco de remobilização de sedimentos para a coluna d´água na fase de

implantação;

d) perda de coberta vegetal;

e) redução da capacidade assimilativa de impactos futuros;

f) redução de áreas de proteção/berçários de espécies autóctones/nativas;

g) redução de áreas propícias à presença de espécies em extinção;

h) risco de alteração de refúgios de aves migratórias;

i) alteração da função de filtro biológico;

j) comprometimento dos corredores de trânsito de espécies nativas;

l) impacto dos resíduos resultantes dos processos de cultivo, pré-processamento e

processamento;

m) alterações físico-químicas e biológicas de corpos receptores de efluentes;

n) impactos sobre aqüíferos e consequentemente aumento de cunha salina;

o) recuperação de áreas abandonadas de cultivo;

p) risco de introdução de espécies exóticas.

As principais críticas dos ambientalistas em relação à atividade de carcinicultura se

baseiam nas alterações e interferências que as fazendas de engorda mantêm sobre

os estuários e manguezais. Ressalta-se que a carcinicultura, em si mesma, é uma

atividade impactante para o meio ambiente.

Em meio aos interesses convergentes entre os produtores de camarão cultivado,

podem-se citar o interesse em se obter lucro, que lhes possibilite o sustento da

família, e uma reserva para investimentos pessoais. Porém, os principais interesses

divergentes encontram-se entre aqueles que buscam preservar o meio ambiente e

os que buscam explorá-lo sem fazer uso do desenvolvimento sustentável.

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Em Pernambuco, a atividade de carcinicultura é regulamentada sob os aspectos

legais/ambientais através da Resolução do Conselho Estadual do Meio Ambiente do

Estado de Pernambuco (Consema), nº 02/2002. Entre outros assuntos, a Resolução

trata sobre a questão de licenciamento de projetos dentro do Estado e dos

procedimentos de manejo (PERNAMBUCO..., 2002).

O Ipojuca e o Capibaribe são os maiores rios que juntos, cruzam 69 municípios de

Pernambuco, onde boa parte da bacia de ambos é comprometida com construções

de casas e edifícios. Na capital, a poluição agrava a sobrevivência dos manguezais.

Segundo um dito popular, “a culpa é do holandês Maurício de Nassau, que construiu

Recife, sobre os mangues” (GÓES, 2007).

De 1973 a 2005, no litoral do Estado, houve uma redução de quase 2000 hectares de mangue. Deste número, cerca de 200 hectares foram destruídos devido à conversão da vegetação em viveiros de aqüicultura. Esta questão está sendo analisada por pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). A engenheira de pesca Ariana Guimarães destaca o cultivo de peixe e camarão como um dos vilões na devastação do mangue. A atividade da carcinicultura (camarão) tem participação no processo de degradação ambiental. Mas também a própria agricultura, a expansão urbana e o turismo têm suas responsabilidades, explica a especialista (GÓES, 2007).

Para o consultor ambiental e professor da Universidade de Pernambuco (UPE),

Geraldo Miranda, a falta de infra-estrutura e saneamento básico prejudicam o

ecossistema. Tanto a coleta, quanto o tratamento dos esgotos domésticos,

prejudicam a bacia. Há também os resíduos sólidos, que não têm um destino correto

de tratamento, o que repercute na qualidade da água, alega o professor. O autor

explica que os estuários são os berçários da fauna, mas funcionam como o lixo

humano (MIRANDA apud GÓES, 2007).

Podemos perceber, portanto, que existe uma guerra de interesses entre

carcinicultores e ambientalistas a respeito da manutenção dos manguezais.

Entende-se, ainda, que a causa ambiental é justa, porém deve-se observar que a

degradação dos manguezais não constitui uma ação exclusiva das fazendas de

engorda de camarão cultivado, existe toda uma relação de destruição do

ecossistema marinho, muitas vezes, ocasionados por esgotos humanos. Também é

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preciso perceber a importância da carcinicultura como agente de preservação das

reservas marinhas de camarão, que durante longas datas foram exploradas sem

observar nenhum critério.

2.4 COMERCIALIZAÇÃO NO ESTADO

Com a retração dos preços praticados pelo mercado externo, combinado com a

queda da cotação do dólar nos últimos anos, os produtores de camarão

pernambucanos voltaram suas atenções para o mercado interno, consumidor de

seus produtos. Alguns fatores operacionais são, profundamente, alterados nesta

mudança de mercado. Destaca-se, entre outros, uma carga de tributos cobrados

pelas esferas Estadual e Federal, as diferenças de padrão de classificação dos

produtos voltados para o mercado externo e interno, etc.

GRÁFICO 2: Valor das Exportações de Camarão – 2004 a 2007. FONTE: ABCC, 2007e.

A comercialização da produção pernambucana foi profundamente prejudicada

através do processo aberto pela Sociedade Sulista de Pescadores de Camarões

(SSA) e a Associação de Pescadores do Estado da Louisiana, dos Estados Unidos,

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que acusaram de dumping os produtores de camarão do Brasil, China, Tailândia,

Índia, Vietnã e Equador, com base na legislação antidumping norte-americana.

A Europa tornou-se a principal via de comercialização do camarão cultivado de

Pernambuco, assim como em todo o país e, desta forma, as vendas para o mercado

americano despencaram, fato observado nos Gráficos 3 e 4.

GRÁFICO 3: Volume das Exportações de Camarão – 2005 e 2006. FONTE: ABCC, 2007i.

Atualmente, os preços baixos e a cotação do dólar em queda culminaram com o

declínio das exportações pernambucanas de camarão cultivado. Conforme a ABCC

(2007), as expectativas do fechamento das exportações brasileiras para 2007 foram

restritas a uma estimativa de 30% do camarão comercializado. A opção para os

produtores foi o desenvolvimento do mercado interno brasileiro que mantém uma

demanda crescente, porém com preços inferiores aos praticados pelos mercados

internacionais. Sendo assim, os produtores em Pernambuco aguardam com

expectativa o desfecho do processo Antidumping impetrado pelo EUA.

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GRÁFICO 4: Preço Médio das Exportações – 2005 e 2006. FONTE: SECEX (apud ABCC, 2007b).

Alternativa viável para o retorno do volume de exportações está na adaptação das

indústrias de processamento do camarão para adicionar valor ao produto, visto que

existe uma demanda pelo camarão com valor agregado nos grandes centros

consumidores. Os produtores estão desenvolvendo novos produtos à base de

camarão para conquistar os principais mercados consumidores, sendo as feiras

nacionais e internacionais os principais mecanismos de divulgação. Durante os

eventos, a ABCC apresenta, através de postos de degustação, alguns produtos para

incrementação de vendas, tais como: produtos clássicos (secos, defumados, em

salmoura e semipreservados), frescos (camarão inteiro ou em pedaços, pré-cozidos,

empanados e sem casca), neoclássicos (produtos reconstituídos (imitações e

destrinchados).

O produto brasileiro vem consolidando seu valor comercial no mercado Europeu e

Americano, como livre de anomalia viral, bem como de qualidade nutritiva. Desta

forma, com o desenvolvimento de novos produtos com valor agregado ao camarão,

os produtores pernambucanos poderão explorar novos mercados para sua

produção. A agregação de valor ao produto nacional é vista hoje como fator

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primordial para conferir maior competitividade às indústrias nacionais e, também,

atingir novos nichos específicos no exigente mercado internacional.

GRÁFICO 5: Volume das Exportações de Camarão – 2007. FONTE: ABCC, 2007h.

Outros projetos de fortalecimento das ações de vendas do camarão consistem em

programações de workshops, elaboração de material didático-pedagógico para

distribuição nestes workshops; ação de certificação da cadeia produtiva do camarão

e selo de qualidade, entre outros, todos desenvolvidos sob a coordenação da ABCC.

O objetivo de tal ação é contribuir para ampliar o conhecimento das características

do camarão cultivado brasileiro nos grandes centros internacionais de consumo e,

assim, lograr maior penetração do produto no mercado.

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GRÁFICO 6: Exportação do Brasil por Destino. FONTE: ABCC, 2007g.

Medidas voltadas para o desenvolvimento do mercado interno também têm evoluído

em relação aos contratos comerciais. Desta maneira uma pesquisa recente

ressaltou a importância do desenvolvimento de estratégias de marketing, voltadas

para o consumidor brasileiro, em especial ao consumidor do sudeste do país,

desenvolvendo novos mercados internos, apresentando novas embalagens para o

produto e criando novos canais de distribuição (BARBIERI JUNIOR, 2002).

A ABCC resolveu antecipar-se na busca de novos caminhos para o mercado interno,

para ajudar os produtores de camarão na obtenção de alternativas de demanda para

produtos diferenciados (semi-elaborados e ou congelados) que poderão ser

inseridos nos supermercados, bares, restaurantes, bem como no setor industrial.

Os projetos de desenvolvimento têm contexto nacional e sua execução

(acompanhamento e avaliação) envolve vários setores da cadeia produtiva, como as

empresas exportadoras, localizadas nos estados produtores de camarão marinho

cultivado; a ABCC, Comitê Gestor do Projeto; unidades de beneficiamento de

produto, etc.

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Dentre as ações, desenvolveu-se uma pesquisa nos Estados do Rio de Janeiro, São

Paulo e Minas Gerais, com o objetivo principal de analisar a penetração do produto

nestes Estados. Como principais pontos levantados desta pesquisa, observou-se

uma demanda não atendida de camarão congelado, pré-cozido apresentado sob

diferentes formas, além de uma resistência ao termo camarão de cativeiro

(associado ao camarão gigante da Malásia, comercializado no passado) (BARBIERI

JUNIOR, 2002).

Analisando o resumo da pesquisa, observa-se que a grande maioria dos

restaurantes e bares consultados serve camarão no seu cardápio e a preferência se

dá por camarão médio – entre 11 e 18 gramas – 60%, 20% camarão grande e 10%

camarão pequeno (sete barbas, oriundo de pesca); a maioria dos clientes não

consome mais camarão em função do preço alto (50%), pela falta de hábito (40%) e

pela preferência de paladar 10%. O consumo médio semanal por estabelecimento é

de: 200 quilos, sendo que 80% preferem camarão congelado e 20%, seco e salgado,

com exceção para as cidades de Minas Gerais (BARBIERI JUNIOR, 2002).

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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 O AMBIENTE INSTITUCIONAL E A ECONOMIA DOS CUSTOS DE

TRANSAÇÃO

Coase (1937), cientista econômico, estabeleceu pela primeira vez uma conexão

entre as instituições, custos de transação e a teoria neoclássica. Os resultados

preconizados pela teoria neoclássica só são obtidos quando não existem custos

para se transacionar. O pressuposto fundamental da Economia dos Custos de

Transação (ECT) é que o funcionamento dos mercados tem custos positivos, em

contra partida à visão dada pela economia neoclássica, de um ambiente sem custos

associados ao funcionamento da economia.

Uma transação entre dois elementos de um sistema agroindustrial não se dá sem

custos. Antes do inicio da transação, existem custos de procura, obtenção de

informação, do conhecimento, do parceiro, entre outros. São os custos de transação

ex-ante (NEVES, 1999). Os custos ex-post são os custos de mensuração e

monitoramento do desempenho, custos de renegociações, etc.

Os custos de transação foram definidos por Williamson (1979, 1993 apud

NOGUEIRA, 2003), como os custos ex-ante de preparar, negociar e salvaguardar

um acordo, bem como os custos ex-post dos ajustamentos e adaptações, quando a

execução de um contrato é afetada por falhas, erros, omissões e alterações

inesperadas.

Em seu artigo, Coase (1937) estabeleceu dois pontos fundamentais no estudo da

ECT, em relação às organizações: primeiro, não é a tecnologia, mas as transações e

seus respectivos custos que constituem o objeto central da análise; e segundo, a

incerteza e, de maneira implícita, a racionalidade limitada são elementos chaves na

análise dos custos de transação.

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Em Coase (1937 apud FERREIRA et al., 2005), a empresa teria como função

economizar nos custos de transação, o que se realizaria de duas maneiras: através

do mecanismo de preço, que possibilitaria à empresa escolher os mais adequados

em suas transações com o mercado, gerando economia do custo de transação, e

substituindo um contrato incompleto por vários completos.

Zylbersztajn (1995) destaca o estudo das relações contratuais como uma das

principais áreas da Nova Economia Institucional, da qual a ECT faz parte, que

envolve outras áreas, como Economia, Direito e Administração, ainda que estas

tenham enfoques diferentes sobre os contratos. A Economia considera os aspectos

ligados à eficiência, enquanto que para o Direito o critério de avaliação dos contratos

seria a justiça.

Pode-se fazer uma ponte entre o ECT e o Direito, criando-se, assim, uma ferramenta

útil para a compreensão da estrutura e do funcionamento das organizações, pois a

firma moderna pode ser entendida como um conjunto de contratos entre agentes

especializados, que trocarão informações entre si, de modo a produzir um bem final

(ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000). Se a firma pode ser entendida dessa forma, os

problemas advindos de quebras contratuais devem ser solucionados e mitigados por

salvaguardas e instâncias que resolvam essas questões.

O contrato, portanto, é uma obrigação, legalmente exigível, de entrega ou

recebimento de determinada quantidade de uma mercadoria, bens e serviços, de

qualidade preestabelecida, pelo preço ajustado (MARQUES, 2000). É por meio dele

que firmas ou empresas realizam transações entre agentes econômicos (pessoa

física ou jurídica), seja para trocar bens, seja para procurar serviços, sendo condição

de pagamento, à vista ou a prazo, fundamental para o funcionamento do sistema

econômico, gerando renda, produção, consumo, poupança/investimentos.

Os custos incorridos nas transações entre agentes de uma cadeia produtiva podem

ser percebidos, principalmente, nas incertezas existentes quanto a ações

oportunistas e não atendimento de padrões de mercado pré-acordados. Estes

fatores podem influenciar nas decisões sobre internalização da produção ou livre

negociação com o mercado. Desta forma, caso os custos de transação sejam

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elevados, o produtor preferirá trabalhar através da integração vertical. Por outro

lado, se as incertezas quanto ao atendimento forem pequenas e por isso gerarem

custos de transação baixos, a firma preferirá contratar a produção (RAUEM, 2007).

A teoria dos custos de transação propõe que a firma, vista como uma estrutura de

governança das transações, poderá, através da influência de seus agentes, tratar

suas operações através de uma pura transação com o mercado, optar pela

transação através de contratos ou se definirá pela necessidade de integração

vertical (ZYLBERSZTAJN, 2005).

Segundo Zylbersztajn (2005), composições intermediárias de governança são

observadas com maior grau de freqüência, sendo também denominadas de

governança mista ou contratual. Neste ambiente, percebe-se que a integração

vertical não é eficiente, tampouco o mercado pode governar, de forma isolada, as

transações. O autor apresenta alguns dos estudos sobre contratos em relações

agricultura-indústria no Brasil, sendo indicativo da fertilidade desta área de estudo no

País.

TABELA 7 – Mercados e Contratos: Evidências na Agricultura.

GOVERNANÇA OBSERVADA AUTOR PRODUTO

Mercado Contratos Hierarquia

Leme (2004) Soja X X

Zylbersztain e Miele (2005) Vinho X X

Zylbersztain e Nadalini (2003) Tomate X

Soja X X

Terra X X

Zylbersztain et al (2005)

Crédito X

Zylbersztain e P. Machado (2003) Carne X X X

Zylbersztain e Nogueira (2002) Frango X X

Mizumoto e Zylbersztain (2005) Ovo X X

FONTE: ZYLBERSTAJN, 2005.

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Constata-se, portanto, que a economia dos custos de transação é um tema

abrangente e sua discussão está longe de ser esgotada pela academia. Foi

priorizado, neste trabalho, o estudo da teoria sob a ótica dos agronegócios, bem

como o estudo da percepção dos agentes com estruturas de governança. Para o

aprofundamento da matéria existe uma boa revisão da literatura sobre economia dos

custos de transação em Nogueira (2003) e em Ferreira et al. (2005).

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4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A presente pesquisa tem como campo de atuação as empresas do agronegócio de

carcinicultura instaladas no estado de Pernambuco. A metodologia baseia-se em

aplicação semelhante feita por Nogueira (2003), para a avicultura paulista.

A pesquisa de campo envolveu as empresas que atuam e que produzem pós-larvas

e camarão marinho cultivado em Pernambuco, bem como as empresas que

recebem, beneficiam, industrializam, armazenam e procedem à comercialização do

camarão. Desta forma, identificaremos as variáveis, conforme segue:

TABELA 8 – Composição das Variáveis.

AGENTES VARIÁVEL DEPENDENTE

Laboratórios de Pós-larvas (UPL)

Fazendas de Engordas (FE)

Unidades de Beneficiamento (UB)

Mercado, contratos e Hierarquia.

FONTE: Pesquisa Autor.

Os agentes compõem os elos da cadeia produtiva, conforme fluxograma

apresentado na pagina 26 deste trabalho, enquanto a variável dependente

caracteriza os arranjos institucionais, numa escala que parte da coordenação pelo

mercado, passa pelos vários arranjos de coordenação com contratos, até atingir, no

outro extremo, a integração vertical (hierarquia), conforme tabela 9.

TABELA 9: Escala de Coordenação.

Mercado Contratos Hierarquia

__________________________________________________________________

FONTE: Pesquisa Autor.

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Inicialmente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e documental, visando a

caracterizar a operacionalidade das empresas que atuam na cadeia produtiva, suas

modalidades, garantias, pontos críticos, renegociações, padrões de concorrência,

bem como as práticas vigentes no mercado.

Basicamente, o trabalho foi um levantamento de dados primários realizado por

amostragem das empresas do segmento do agronegócio, constantes do censo da

ABCC e do cadastro de produtores associados à comissão de carcinicultura da

Federação de Agricultura do Estado de Pernambuco (FAEPE).

As técnicas de pesquisa aplicadas foram: a) a exploratória, proporcionando maior

familiaridade com as ações integrantes da cadeia produtiva, e b) levantamento tipo

survey. A entrevista, mediante aplicação de questionário (ANEXO A), foi direcionada

aos diretores e/ou gerentes que são responsáveis pela elaboração e controle de

contratos das empresas estudadas, sendo a pesquisa realizada in loco.

Os dados coletados pelo questionário proporcionaram informações que irão

constituir dois blocos para o desenvolvimento da pesquisa, são eles: Perfil do

Agente, incluindo as principais características da produção e das estratégias

operacionais do agente, e Coordenação e Transação, que apresentará as

características de percepção do agente perante os arranjos institucionais e seus

custos de transação. A hipótese a ser validada é que a percepção do administrador

sobre as transações influi nos arranjos de coordenação da produção.

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4.1 TRATAMENTO DOS DADOS COLETADOS

Nesta seção, serão apresentados os métodos de análise que foram utilizados no

tratamento dos dados coletados pelo questionário. Assim, serão estruturadas as

bases para elaboração do banco de dados, bem como as formas de análise

necessárias para que os objetivos da pesquisa sejam atingidos.

Optou-se, durante o desenvolvimento dos trabalhos, pela classificação das variáveis

em dois grupos. O primeiro grupo trata da análise de perfil do produtor

pernambucano, visando a identificar as principais características operacionais da

cadeia produtiva da carcinicultura em Pernambuco, como tamanho da unidade

produtiva; número de funcionários temporários e permanentes; Fator de Conversão

Alimentar (FCA) trabalhado pelo produtor; ano de instalação da unidade produtiva;

participação do maior cliente em relação ao faturamento bruto da empresa e

participação do maior fornecedor em relação aos custos operacionais da empresa;

bem como a manutenção ou não de contratos em suas transações com os agentes

institucionais. O estudo deste primeiro grupo proporcionará condições favoráveis

para as respostas dos três primeiros objetivos específicos do projeto de pesquisa.

O segundo grupo permite analisar a observação pessoal do produtor em relação às

transações que envolvem sua empresa e o mercado. Neste trabalho, presume-se

que a percepção do produtor sobre as possíveis transações com o mercado pode

influenciar nos arranjos institucionais, contribuindo para o desenvolvimento da

cadeia produtiva. A análise deste segundo grupo fornecerá dados para responder o

quarto e último objetivo específico, como também dará subsídios para a resposta do

objetivo geral.

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TABELA 10: Quadro das Variáveis Explicativas (Continua) NOME DESCRIÇÃO CLASSIFICAÇÃO TIPO

Funcionários Temporários Número de funcionários temporários

Numérica Contínua

Funcionários Permanentes Número de funcionários permanentes

Numérica Contínua

Área Área produtiva Numérica Contínua Produtividade Em Kilos/ha/ano Numérica Contínua FCA Fator de Conversão

Alimentar Numérica Contínua

Ano Instalação Ano de inicio de operação

Numérica Ordinal

Cliente % Participação do maior cliente

Numérica Continua

Fornecedor % Participação do maior fornecedor

Numérica Continua

Freqüência de Exportação Participação das exportações

Numérica Continua

Elo da Cadeia Participação no Elo da Cadeia Produtiva

Numérica Ordinal

Contrato Cliente Existência de contratos e modalidade

Numérica Nominal

Contrato Fornecedor Existência de contratos e modalidade

Numérica Nominal

Regularidade de Fornecimento Dificuldade percebida no fornecimento

Numérica Ordinal

Negociação com Fornecedor Dificuldade percebida nas negociações com fornecedores

Numérica Ordinal

Fornecedor Fiel Dificuldade percebida na manutenção de fornecedores

Numérica Ordinal

FONTE: Pesquisa Autor.

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TABELA 10: Quadro das Variáveis Explicativas (Conclusão) NOME DESCRIÇÃO CLASSIFICAÇÃO TIPO

Freqüência de Mudança Tecnológica

Freqüência de mudança tecnológica do produtor

Numérica Ordinal

Disputas Judiciais Freqüência de disputas judiciais com terceiros

Numérica Ordinal

Tributos Carga dos tributos nas transações

Numérica Ordinal

Ações Oportunistas Percepção de ações oportunistas nas transações

Numérica Ordinal

Proteção contra ações Oportunistas

Existência de mecanismos de proteção contra ações oportunistas.

Numérica Ordinal

Sanidade Dificuldade de se medir sanidade

Numérica Ordinal

Impactos Ambientais Dificuldade em se medir os impactos ambientais

Numérica Ordinal

Potencialidade do Produto Avaliação da potencialidade do produto

Numérica Ordinal

Prever Vendas Dificuldade em se prever venda

Numérica Ordinal

Produto Mercado Interno Qualidade do produto para o MI

Numérica Ordinal

Produto Mercado Externo Qualidade do produto para o ME

Numérica Ordinal

Preço Mercado Interno Peso do Preço na relação nas transações com o MI

Numérica Ordinal

Preço Mercado Externo Peso do Preço na relação das transações com o ME

Numérica Ordinal

FONTE: Pesquisa Autor.

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4.2 DESCRIÇÃO DAS VARIÁVEIS

Nesta seção serão apresentadas as variáveis e algumas hipóteses associadas ao

seu comportamento. O objetivo é testar as possíveis operações realizadas pelos

carcinicultores pernambucanos sob a ótica da economia dos custos de transação.

Para tanto, os dados coletados através dos questionários aplicados serão tratados

estatisticamente.

a) Número de funcionários temporários e permanentes: essa variável objetiva

identificar, a partir da amostra, o número de empregos diretos gerados na cadeia

produtiva em Pernambuco.

b) Tamanho da unidade produtiva: visa a identificar o perfil do produtor

pernambucano, que poderá ser classificado entre pequeno, médio e grande,

conforme classificação da ABCC.

c) Produtividade: Kg/ha/ano.

d) Fator de Conversão Alimentar: ∆ kg de ração (÷) ∆ kilos de camarão.

e) Ano de instalação da unidade produtiva: esta variável identifica o ano de

instalação da empresa. A hipótese a ser testada é que empresas mais antigas têm

transações mais freqüentes entre os agentes. O aumento da freqüência das

transações, por sua vez, favorece a construção de uma boa reputação, criando um

ambiente propicio para a continuidade do negócio, reduzindo os custos de

transação. Um fator limitante à verificação desta hipótese é a constatada curta

história da carcinicultura em Pernambuco: As empresas mais antigas têm pouco

mais que 10 (dez) anos de instalação, o que, em se tratando de dados econômicos,

constitui uma atividade recente e ainda em formação.

f) Participação do maior cliente em relação ao faturamento bruto da empresa:

propõe-se à hipótese de que, quanto maior a concentração das vendas em um único

cliente, maior a dependência do produtor em relação a este cliente, promovendo a

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53

adoção de contratos e integração vertical. Assume-se que a elevada dependência

conduz ao uso de ativos específicos e à possibilidade de ações oportunistas,

elevando os custos de transação que seriam reduzidos com o uso de formas mais

estritas de coordenação.

g) Participação do maior fornecedor em relação às compras da empresa: visa a

identificar o nível de concentração de aquisição de insumos em um único

fornecedor, assim como na hipótese anterior a maior concentração de compras em

determinados fornecedores também pode influenciar na promoção e adoção de

contratos e integração vertical.

h) Exportação: a variável busca saber se o produtor pernambucano utiliza o mercado

externo como fonte direta de distribuição de seu produto. A avaliação e cumprimento

de padrões ou processos ocasionam a ocorrência de custos positivos de transação.

Estes custos podem se tornar excessivos e afetar a coordenação da cadeia ou

inviabilizar o negócio.

i) Elo da cadeia em que a empresa atua: mede o índice de integração vertical dos

produtores presentes no mercado pernambucano.

j) Existência de contratos celebrados nas transações de vendas: objetiva identificar

os modelos de contratos de venda celebrados entre o produtor e os agentes

institucionais.

l) Existência de contratos celebrados nas transações de compras: busca conhecer

os modelos de contratos de compra celebrados entre o produtor e os agentes

institucionais.

O segundo bloco do questionário objetiva coletar dados sobre a percepção pessoal

dos respondentes sobre o nível de ocorrências verificadas no dia a dia da empresa.

a) Regularidade de fornecimento: a variável visa a estimar o grau de incerteza do

produtor sobre a regularidade de fornecimento no atendimento aos clientes. A

obtenção ou não de regularidade está associada a um menor ou maior grau de

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incerteza. As incertezas ocasionadas por motivos diversos, tendem a elevar os

custos de transação.

b) Negociação com Fornecedores: busca medir a dificuldade percebida pelo

produtor nas negociações com fornecedores. Pressupõe-se que, quanto maior a

dificuldade percebida na negociação com o mercado, maior deverá ser a

participação de arranjos com grau mais estrito de coordenação, como contratos e

integração.

c) Manutenção de fornecedores fiéis: pressupõe-se que, quanto maior a dificuldade

de se manter fornecedores fiéis, maior deverá ser a participação de arranjos estritos

de coordenação.

d) Freqüência da mudança tecnológica: a desatualização do produtor pode

representar um risco para o seu negócio. Desta forma, quanto maior a freqüência

percebida na mudança tecnológica dos produtores, maior a assimetria de

informações e especificidade de ativos, favorecendo a ocorrência de arranjos de

coordenação mais estritos.

e) Disputas judiciais com terceiros: o objetivo é saber se, quanto maior for a

freqüência de disputas judiciais em transações de mercado, também será maior a

participação de arranjos que ofereçam mais estrita coordenação, como os contratos

e a integração vertical.

f) Peso da carga tributária: a variável mede o impacto percebido dos impostos em

transações de mercado, as quais podem reduzir a rentabilidade do produtor.

g) Ações oportunistas: objetiva identificar a ocorrência de ações oportunistas

percebidas pelo produtor. Oportunismo, definido por Williamson apud

(ZYLBERZSTAJN, 1995, p. 250), “é a busca do auto-interesse com avidez”.

Pressupõe-se que, em mercados com alto nível de ações oportunistas, maior será a

participação de arranjos com maior grau de hierarquia, como contratos e integração.

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55

h) Proteção contra ações oportunistas: visa a medir o grau de utilização de

mecanismos de proteção contra ações oportunistas. Segundo Zylberzstajn (1995),

ao ignorar a possibilidade de existência de ações oportunistas, supõe-se que os

agentes são benignos, ignorando um importante aspecto presente no mundo real.

Não se pode afirmar que todos os agentes ajam de forma oportunista ou não,

porém, podem fazê-lo, em algum momento, principalmente em ambientes

desprovidos de proteção.

i) Sanidade do produto: a variável avalia a dificuldade em se medir a sanidade do

camarão ofertado ao mercado. Os custos de medição da sanidade podem aumentar

excessivamente e comprometer o equilíbrio da empresa. Assim, propõe-se a

hipótese de que, quanto maior a dificuldade percebida para se medir a sanidade,

maior a tendência de adoção de contratos e integração vertical.

j) Impactos ambientais causados pela atividade: a variável pretende avaliar a

percepção do produtor sobre os possíveis danos causados ao meio-ambiente.

l) Potencialidade de conquista de novos clientes: busca saber a percepção do

produtor sobre a sua capacidade de conquista de novos clientes para seu produto.

m) Previsão de Vendas: a variável mede a dificuldade percebida pelo produtor em se

prever vendas. A previsão de vendas está relacionada a demanda do mercado e ao

volume de informações de que o agente dispõe. Pressupõe-se que, quanto maior a

participação das transações de mercado, maior a dificuldade percebida pelo

produtor para se prever vendas.

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56

4.3 TRATAMENTO ESTATÍSTICO

Os dados obtidos foram analisados em dois blocos: análise estatística descritiva e

análise de correlação entre as variáveis do bloco de perfil, elo da cadeia, existência

de contratos de vendas e compras e as variáveis de transação apresentadas na

tabela 10, sendo assim, foram analisadas as possíveis combinações entre as

variáveis explicativas, conforme segue:

TABELA 11 – Correlação das Variáveis.

VARIÁVEIS DEPENDENTES VARIÁVEIS INDEPENDENTES

Elo da Cadeia

Contratos com Clientes

Contratos com Fornecedores

a) Regularidade de fornecimento

b) Dificuldade de negociação com

fornecedores

c) Manter fornecedores fiéis

d) Concentração de Clientes

e) Freqüência de Exportação

f) Oportunismo

g) Sanidade do produto

FONTE: Pesquisa Autor.

O objetivo é avaliar o grau de associação linear das variáveis em relação à

coordenação da atividade, abordando, assim, o método de análise de correlação.

5 ANÁLISE DOS DADOS

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57

5.1 COLETA DE DADOS

Os trabalhos de coleta de dados foram executados na segunda quinzena do mês de

abril de 2008, logo após a aprovação pela banca examinadora do projeto de

dissertação, os quais se estenderam até o final da primeira quinzena do mês de

junho. Inicialmente, foi percebido que o Censo da ABCC estava desatualizado, não

sendo possível o seu uso para extração de uma amostra (ABCC, 2004a).

Um cadastro mais atualizado foi obtido na FAEPE - Comissão de Carcinicultura, no

qual constam 18 carcinicultores atuando em Pernambuco de maneira formal em

2008, ou seja, como Pessoa Jurídica. Já sobre os produtores informais o FAEPE

não dispõe de informações. Logo, houve a necessidade de uma pesquisa

exploratória para identificar outros carcinicultores, atuando, desta forma, em

Pernambuco. Diante desta limitação, adotaram-se os seguintes procedimentos:

a) seguir o cadastro do FAEPE;

b) levantar o maior número possível de produtores informais dentro do Estado de

Pernambuco;

c) iniciar uma pesquisa de outros possíveis produtores, atuando de maneira formal,

não cadastrados no FAEPE;

d) implementar a pesquisa sobre os agentes que produzem larvas de camarão e

unidades de beneficiamento.

Uma vez redefinida a amostra a ser pesquisada, procurou-se, através de contatos,

as localizações de produtores de camarão, visando ao levantamento do perfil do

produtor e à análise da percepção do mesmo perante sua relação com o mercado e

os demais agentes da cadeia produtiva.

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58

O resultado do trabalho de campo foi: aplicação de 32 questionários, sendo 17

aplicados a produtores cadastrados junto ao FAEPE; 2, a produtores formais não

cadastrados junto ao FAEPE e 13, aplicados a produtores informais.

Preliminarmente foi observado, durante a aplicação dos questionários, que a grande

maioria dos respondentes alerta para o péssimo desempenho da atividade nos

últimos anos, citando os baixos preços praticados pelos agentes de intermediação

da venda do camarão como fator de desestímulo à produção, ocasionando,

inclusive, o abandono da atividade de cultivo. De maneira geral, os pequenos

produtores que, insistentemente, continuam na atividade, mantêm-se trabalhando na

base da informalidade, pois, desta maneira anulam os efeitos tributários pertinentes,

conseguindo, assim, direcionar suas vendas para o mercado interno brasileiro,

ficando na expectativa de melhores condições do mercado internacional.

Dentre os produtores informais, destaca-se uma pequena comunidade na Ilha de

Itamaracá chamada de comunidade do Chié, onde se observa um aglomerado de

pequenos produtores que, de maneira artesanal, mantêm-se produzindo, muitas

vezes, para a subsistência, uma vez que os preços praticados não compensam o

desenvolvimento da produção.

5.2 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.2.1 Análise Estatística Descritiva

Como já citado anteriormente, os dados obtidos através da aplicação dos

questionários foram analisados em dois blocos, constando no primeiro a análise de

perfil do produtor e, no segundo, da análise das transações. Para ambos os blocos o

tratamento adotado foi: análise estatística descritiva, incluindo a análise de

correlação das variáveis.

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59

Estatística descritiva – Foram utilizadas as seguintes estatísticas:

a) medidas de localização: média, mediana, moda, mínimo e máximo;

b) medida de dispersão: desvio padrão;

c) medida de associação linear: coeficiente de correlação de Pearson.

5.2.2 Correlação de Variáveis

Segundo Larson e Farber (2004), correlação é uma associação entre duas variáveis,

onde o coeficiente de correlação mede o grau de associação linear entre elas. Neste

trabalho, será utilizado o coeficiente de correlação de Pearson entre pares de

variáveis do grupo de Perfil, do grupo de Transação e em ambos, conjuntamente. O

objetivo desta análise será a avaliação da influência das variáveis explicativas sobre

o ambiente institucional e comparar os resultados com as hipóteses propostas.

5.2.3 Limites e Limitações

Optou-se pelo método Survey na aplicação dos questionários. Este método

apresentou algumas dificuldades durante a pesquisa de campo, que serão

discutidas a seguir:

a) desconfiança do entrevistado: em geral, o entrevistado não tem nenhum grau de

relacionamento com o entrevistador, criando-se, desta forma, entre os produtores

mais conservadores, um ambiente de desconfiança que pode comprometer as

informações cedidas. Esses problemas podem reduzir a quantidade de respostas ou

mesmo apresentar respostas irreais e incompletas.

b) dúvidas com o questionário: quando o questionário é respondido sem a ajuda do

entrevistador, as dúvidas inerentes aos fatos pesquisados podem resultar em

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respostas irreais, prejudicando a coleta de informações. Durante o desenvolvimento

do projeto, foi executado um pré-teste entre 20 alunos do curso de Mestrado da

Faculdade Boa Viagem, buscando-se um padrão único para as explicações sobre as

possíveis dúvidas dos entrevistados.

c) a escala de resposta utilizada nos quesitos destinados às operações com o

mercado, foi a escala tipo Likert, que propicia respostas de cunho subjetivo, visto

que cada respondente irá apresentar sua percepção sobre o assunto abordado,

demonstrando pessoalmente seu nível de concordância com uma afirmação. No

presente estudo, tentou-se minimizar este problema, utilizando uma escala de 0 a

10, com a alternativa de não resposta 11. Assim, permite-se grande variedade de

respostas e utiliza-se um esquema razoavelmente conhecido de avaliação.

5.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Apresentaremos, a seguir, a análise dos dados obtidos através da pesquisa de

campo. Os resultados obtidos foram divididos e analisados de forma individualizada

em dois blocos para melhor análise das respostas, tratando, o primeiro, do perfil do

produtor e o segundo, sobre as transações com o mercado.

5.3.1 Perfil do Produtor

O objetivo da análise das variáveis de perfil do produtor é de responder aos três

primeiros objetivos específicos da pesquisa, bem como dar subsídio às conclusões e

inferências sobre o objetivo geral. As estimativas sobre o perfil do produtor serão

utilizadas para descrever, avaliar e caracterizar o setor de carcinicultura em

Pernambuco.

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61

5.3.1.1 Estatística Descritiva: Perfil do Produtor

Supõe-se que a amostra seja representativa, mesmo em se tratando de uma

pesquisa exploratória, visto que foram coletados questionários de todos os

produtores cadastrados junto ao FAEPE. Segundo dados fornecidos pela Comissão

de Carcinicultura da Federação de Agricultura de Pernambuco, a amostra concentra

a grande maioria da produção do Estado. A análise da estatística descritiva, neste

bloco de variáveis, será estudada individualmente, variável a variável.

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TABELA 12: Estatística Descritiva: Perfil do Produtor.

N.FUN

C.TE

MP

N.FUNC.

PERM

AREA PROD. FCA ANO.

INST.

FORNEC

%

FREQ.

EXP

ELO.

CAD

CON.C

LIENT

CONT.F

ORNEC

N 32 32 32 32 32 32 32 32 32 32 32

Média 2,28 13,91 41,67 3.735 1,34 2,84 47,03 1,66 1,13 1,44

Mediana 1 4,5 6,5 3738 1,35 2 45 1 1 1

Moda 0 1 6 2000 1,4 1 40 1 2 1 1

Desv.Padr

ão

3,15 26,66 107,53 2036 0,15 1,59 12,5 1,1 0,42 0,72

Mínimo 0 0 0,5 625 1 1 15 1 2 1 1

Máximo 15 120 540 7.425 1,6 5 70 4 7 3 3

FONTE: Pesquisa Autor.

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Empregos Permanentes e Temporários

Os primeiros quesitos do questionário têm caráter de interpretação do perfil

operacional do produtor pernambucano. Destaca-se o fato de que o coeficiente de

empregos diretos encontrado foi de 0,83 por hectare cultivado, abaixo dos gerados

pelo trabalho de Sampaio e Costa (2003), que apresentaram um coeficiente de 1,2

empregos diretos por hectare cultivado. Atribui-se a queda do desempenho na

geração de empregos diretos, principalmente, ao ambiente negativo pelo qual passa

o setor. A retração da potencialidade de geração de empregos na cadeia produtiva é

citada como fator de redução de custos entre os entrevistados.

Tamanho da Unidade Produtiva

Pela análise do tamanho das unidades produtivas, a pesquisa aponta que 53% dos

produtores da amostra são classificados como pequenos produtores; 34%, como

médios produtores e, apenas, 13% dos produtores são classificados como grandes,

conforme pode ser visto no gráfico 7.

PERFIL DO PRODUTOR POR ARÉA

53%34%

13%

PEQUENO

MÉDIO

GRANDE

GRÁFICO 7: Perfil do Produtor por Área. FONTE: Pesquisa Autor.

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64

Entretanto, a pesquisa também identificou que a grande maioria das áreas de cultivo

está nas mãos dos grandes produtores, como pode ser ilustrada no gráfico 8, cuja

média calculada foi de 41,67 ha por produtor, com um desvio padrão de 107,53 e um

mínimo de 0,5, e máximo de 540 ha. Pelos dados, estima-se que a produção

pernambucana seja muito concentrada e que, aos pequenos produtores,

principalmente os informais, cabe uma parcela menor da área de cultivo, como pode

ser observado, ainda, no gráfico 8.

AREA DE PRODUÇÃO

5%16%

79%

PEQUENO

MÉDIO

GRANDE

GRÁFICO 8: Área de Produção. FONTE: Pesquisa Autor.

Através da análise dos dados da tabela 13, observa-se uma concentração na

instalação das grandes empresas (75%) entre os anos de 1998 e 2000, período de

grande demanda mundial pelo camarão brasileiro (PAULA NETO et al., 2005). No

mesmo período, também é possível observar que 64,71% dos pequenos produtores

iniciaram seus cultivos.

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65

TABELA 13: Tabulação Cruzada: Ano de Instalação x Tamanho da Unidade Produtiva.

INSTALAÇÃO PEQUENO MÉDIA GRANDE TOTAL

Até 1998 8 0 1 9

1999 a 2000 3 3 2 8

2001 a 2003 0 1 0 1

2004 a 2005 3 3 1 7

2006 em

diante

3 4 0 7

Total 17 11 4 32

FONTE: Pesquisa Autor

Produtividade

Em entrevista, por ocasião da aplicação do questionário, o presidente da comissão

de carcinicultura do FAEPE esclareceu que a produtividade, de maneira geral em

todo o Nordeste, tende a cair em virtude da readequação dos custos operacionais

das fazendas de engorda. Este fato se justifica, principalmente, porque o FCA obtido

nas fazendas depende muito do índice de povoamento dos viveiros. Informou, ainda,

o presidente que existe uma relação forte entre o aumento dos custos operacionais

das fazendas de engorda e o aumento do índice de FCA.

Através da análise da produtividade, chega-se a uma média de 3.734,69 kg/ha/ano e

de um FCA médio de 1,34. Comparando os dados coletados com os apresentados

pela ABCC no censo de 2004, foi observada uma retração da produtividade de

8,66%, já que, naquele caso, a produtividade obtida foi de 4.089 kg/ha/ano. Não se

obtiveram dados estatísticos do FCA neste mesmo período, logo não foi possível

fazer uma análise comparativa dos dados coletados.

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Ano de Instalação

Esta variável visa a identificar o tempo de instalação das fazendas em Pernambuco,

onde a atividade é bastante recente, visto que as empresas mais antigas foram

instituídas entre os anos de 1990 a 1998, sendo as demais empresas distribuídas no

tempo, conforme apresentado no gráfico 9.

ANO DE INSTALAÇÃO

98

1

7 7

0

2

4

6

8

10

ENTRE1990 E1998

ENTRE1999 E2001

ENTRE2002 E2003

ENTRE2004 E2005

2005 EMDIANTE

Série1

GRÁFICO 9: Ano de Instalação. FONTE: Pesquisa Autor.

Segundo dados da pesquisa, verifica-se um número mais elevado de empresas

instaladas entre os anos de 1990 e 1998, fato que se justifica pelo momento eufórico

pelo qual passava a atividade. Após este período, observou-se a implementação de

oito projetos novos entre os anos de 1999 e 2001, porém a atividade não atraiu

projetos significativos a partir 2002, período de queda dos preços do camarão no

mercado internacional.

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Concentração

Na análise dos clientes mais freqüentes, os dados coletados demonstraram que os

produtores mantêm seu fluxo de vendas de maneira pulverizada, sendo que muitos

deles sequer optaram em indicar um percentual de concentração de vendas, uma

vez que a atividade passa por um período de adequação de suas vendas às

condições do mercado interno. Sendo assim, os produtores pernambucanos ainda

estão em processo de conquista de novos mercados. Infere-se, desta forma, uma

grande dispersão nas vendas e um grande número de compradores de pequeno

porte.

Em relação às compras de insumos, obtivemos dados que apontam para uma média

de concentração de 47,03%, com um desvio padrão de 12,5. Uma particularidade da

atividade é que a ração de engorda do camarão e as pós larvas representam mais

de 60% dos custos de produção de uma fazenda de engorda (COELHO, 2004),

razão pela qual, estima-se que, geralmente, o produtor mantém suas relações com

os dois principais insumos de forma concentrada.

GRÁFICO 10: Participação dos Clientes e Fornecedores mais Freqüentes. FONTE: Pesquisa Autor.

PARTICIPAÇÃO DE FORNECEDOR MAIS FREQUENTE

0

20

40

60

80

0 10 20 30 40

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Freqüência de exportação

Dos 32 entrevistados, 23 responderam que nunca haviam exportado; 6, já haviam

efetuado algum tipo de exportação, e 3 produtores responderam ser exportadores

freqüentes. É importante salientar que o camarão cultivado no Nordeste brasileiro foi

concebido como um produto para exportação (MADRID, 2004) e a grande maioria

dos projetos que se implantaram em Pernambuco seguiam os interesses crescentes

da demanda mundial pelo camarão cultivado.

72%

19%9%

NUNCAEXPORTOU

ESPORÁDICO

FREQUENTE

GRÁFICO 11: Freqüência de Exportação. FONTE: Pesquisa Autor.

Através do cruzamento, entre ano de instalação e freqüência de exportação,

percebeu-se que os produtores que responderam serem exportadores freqüentes

tiveram suas atividades iniciadas no final da década de 90 e no ano 2000, conforme

apresentado na tabela 14.

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69

TABELA 14: Tabulação Cruzada: Ano de Instalação x Freqüência de Exportação.

INSTALAÇÃO NUNCA

EXPORTOU

INICIANTE ESPORÁDICO FREQÜENTE TOTAL

Até 1998 8 0 0 1 9

1999 a 2000 4 0 2 2 8

2001 a 2003 0 0 1 0 1

2004 a 2005 4 0 3 0 7

2006 em

diante

7 0 0 0 7

Total 23 0 6 3 32

FONTE: Pesquisa Autor.

Como observado, em sua ampla maioria, os respondentes declararam nunca haver

exportado. Este fato pode ser entendido em virtude de os pequenos carcinicultores

usarem as unidades de beneficiamento como agentes-elo das exportações. Assim,

especula-se que, no passado, os grandes produtores que trabalhavam de forma

verticalizada exportaram diretamente seu produto, e ainda captaram o produto de

pequenos e médios produtores, destinando as vendas para o mercado internacional,

fato este, que, nos últimos anos, não é observado com freqüência. Além disso,

observa-se uma mudança em relação ao destino da produção pernambucana, que

historicamente era voltada para o mercado externo (MADRID, 2004) e, hoje,

basicamente sobrevive em virtude das vendas no mercado interno brasileiro, fato

que poderá ser melhor evidenciado, através de estudo direcionado em pesquisas

futuras.

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70

Elo da Cadeia Produtiva

A pesquisa identificou que 91% dos produtores pernambucanos atuam apenas na

fase de engorda, conforme observado no gráfico 12.

INTEGRAÇÃO DOS ELOS DA CADEIA

91%

3%

6% FAZ DE ENGORDA

FAZ DE ENGORDA ELARVICULTURA

FAZ DE ENGORDA,LARVICULTURA EBENEFICIAMENTO

GRÁFICO 12: Integração dos Elos da Cadeia. FONTE: Pesquisa Autor.

Na análise de correlação desta variável com a variável de Freqüência de

Exportação, observou-se um índice de correlação de 0,441, não rejeitado para α =

0,05, indicando que existe uma regular correlação entre a coordenação da atividade

e a atividade de exportação.

Segundo a economia dos custos de transação, empresas trabalham com integração

vertical, a fim de ficar menos sujeitas a ações oportunistas ou mesmo a práticas que

mantêm os custos de transação elevados pelo mercado. Desta maneira a integração

vertical é vista como uma alternativa para reduzir os custos de transação oriundos

da dependência de fontes externas de fornecimento de insumos ou, mesmo,

serviços. Como foi possível observar, a atividade em Pernambuco, até mesmo pelo

tempo recente de instalação, desenvolve-se de forma pouco articulada, indicando

baixos custos de transação, de acordo com a percepção dos entrevistados.

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71

Constatou-se, também, que as empresas que optaram por desenvolver suas

atividades operacionais de forma verticalizada se instalaram em Pernambuco no

final dos anos 90, conforme apresentado na tabela 15.

TABELA 15: Tabulação Cruzada: Ano de Instalação X Elo da Cadeia.

INSTALAÇÃO FAZ. ENGORDA

FAZ. ENGORDA E BENEFICIAMENTO

FAZ. ENGORDA, LARVICULTURA E BENEFICIAMENTO

(INTEGRAÇÃO VERTICAL)

TOTAL

Até 1998 8 0 1 9

1999 a 2000 6 1 1 8

2001 a 2003 1 0 0 1

2004 a 2005 7 0 0 7

2006 em diante 7 0 0 7

Total 29 1 2 32

FONTE: Pesquisa Autor.

Contratos com Clientes e Fornecedores

A pesquisa procurou identificar os modelos de contratos celebrados entre os

produtores e os demais agentes institucionais. Como já exposto anteriormente, a

regulamentação contratual é um instrumento importante para manter os custos de

transação em patamares aceitáveis, na ausência de informação perfeita. Desta

forma, procurou-se identificar, primeiramente, se o produtor mantinha algum tipo de

contrato celebrado e quais os modelos que usualmente são utilizados, sendo os

contratos limitados entre os de simples compra ou pontuais e de fornecimento

regular, ao longo de um período. Os contratos de simples compra seriam aqueles

contratos realizados entre o produtor e um cliente/fornecedor esporádico ou, mesmo,

um cliente/fornecedor irregular; o contrato teria como objetivo proteger o produtor de

uma possível ação oportunista. Quanto aos contratos de fornecimento regular, trata-

se de um instrumento de regulamentação permanente entre o produtor e um agente

de caráter fixo, ou seja, que mantenha vínculo direto sobre suas aquisições de

insumos e suas vendas.

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72

Através da análise dos dados coletados, estima-se que 91% dos produtores

pernambucanos não celebram, em suas transações de vendas, quaisquer tipos de

contrato formal; 6% mantêm contratos simples e, apenas, 3% mantêm suas

operações resguardadas através de contratos formais regulares, conforme

observado no gráfico 13.

CONTRATOS COM CLIENTES

91%

6% 3% INEXISTÊNCIADECONTRATOS

CONTRATOSSIMPLES

CONTRATOSDEREGULARIDADE

GRÁFICO 13: Contratos com Clientes. FONTE: Pesquisa Autor.

Porém, em relação às transações entre produtores e fornecedores, pode-se

observar um número representativo de operações celebradas via contratos simples

de compra (19%) e contratos de fornecimento regular (13%).

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73

CONTRATOS COM FORNECEDORES

68%

19%

13%INEXISTÊNCIA DECONTRATOS

CONTRATOSSIMPLES

CONTRATOS DEREGULARIDADE

GRÁFICO 14: Contratos com Fornecedores. FONTE: Pesquisa Autor.

Zylbersztajn (2005) destaca a relevância dos contratos no estudo da economia dos

custos de transação. O autor esclarece que produtores agrícolas tendem a

intensificar suas operações via contratos, evitando, por isso, custos associados ao

funcionamento dos mercados. As operações regulamentadas protegem as

organizações e servem de incentivo para as partes envolvidas no contrato. Todavia,

os resultados obtidos pela amostra desta pesquisa mostram pequena utilização de

contratos regulares, indicando que os produtores preferem transacionar diretamente

no mercado. Isto constitui forte indicação da ocorrência de baixos custos de

transação na percepção dos agentes.

5.3.2 Análise da Percepção do Respondente sobre as Operações com o

Mercado

5.3.2.1 Estatística Descritiva

Optou-se pelo agrupamento dos dados coletados desta seção em grupos de nível

baixo, regular e elevado, os quais serão utilizados na análise do grau de incertezas

dos respondentes, em relação às variáveis explicativas de regularidade de

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fornecimento, negociação com fornecedores, manutenção de fornecedores fiéis e

proteção contra ações oportunistas; tais variáveis apresentaram elevados índices de

correlação com a variável de perfil - ano de instalação. Os níveis serão distribuídos,

seguindo a escala seguinte:

TABELA 16: Classificação do Grau de Incertezas dos Produtores.

NÍVEL DE PERCEPÇÃO GRAU DA ESCALA

Baixo 0 – 2

Regular 3 – 6

Elevado 7 – 10

Não resposta 11

FONTE: Pesquisa Autor.

De acordo com a teoria, maiores incertezas dos produtores em relação às

transações de mercado constituem um incentivo à realização de transações

regulamentadas por contratos. Sendo assim, quando a incerteza é percebida como

baixa, é possível a realização de transações diretas com os agentes que compõem o

mercado, e contratos, por sua vez, são utilizados como instrumento de

regulamentação para conflitos. À medida que as incertezas aumentam, a

contratação se torna mais dispendiosa, até o ponto em que a integração vertical se

torna recomendável.

Conforme observado nas variáveis de perfil, os produtores pernambucanos, em sua

maioria, não celebram contratos nas suas transações com o mercado. Assim sendo,

os valores esperados na percepção dos respondentes em relação à dificuldade nas

transações com os outros agentes eram de baixo nível de incertezas, efetivamente

observado.

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75

DIFICULDADE PERCEBIDA NA REGULARIDADE DE FORNECIMENTO

47%

22%

31% BAIXO

REGULAR

ELEVADO

DIFICULDADE PERCEBIDA NA NEGOCIAÇÃO COM FORNECEDORES

46%

38%

16%BAIXO

REGULAR

ELEVADO

DIFICULDADE PERCEBIDA NA MANUTENÇÃO DE FORNECEDORES FIEIS

44%

25%

31% BAIXO

REGULAR

ELEVADO

PROTEÇÃO A AÇÕES OPORTUNISTAS

81%

13%6%BAIXO

REGULAR

ELEVADO

GRÁFICO 15: Dificuldades Percebidas. FONTE: Pesquisa Autor.

Pode-se inferir algumas informações dos gráficos apresentados, tais como: em

geral, o produtor tem nível baixo de incertezas em relação à dificuldade percebida

em suas transações com os outros agentes e não mantém quaisquer tipos de

mecanismos de proteção contra ações oportunistas. Como já observado as

empresas instaladas e produzindo em Pernambuco são muito recentes, sendo assim

a atividade está em pleno processo de desenvolvimento.

Apresenta-se, a seguir, um resumo da estatística descritiva sobre as transações com

o mercado.

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TABELA 17: Estatística Descritiva: Transações com o Mercado.

Reg.

Forneci

-mento

Neg.

Fornecedor

Forn.

Fieis

Freq.

Tecnologica

Disp.

Judiciais

Tributos Ações.

Oportunist

as

Prot.

Oportunistas

Sani-

dade

Impact.

Ambient

N 32 32 32 32 32 32 32 32 32 32

Média 4,25 3,39 4,41 2,10 1,19 3,03 4,22 1,25 3,03 0,72

Mediana 4,5 4,00 4,50 2,00 0 3,00 5,00 0 3,00 0

Moda 0 0 2,00 0 0 0 0 0 0 0

Desv.

Padrão

3,23 2,89 3,41 2,29 2,67 2,80 3,47 2,34 2,91 1,08

Mínimo 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Máximo 10 10 10 8,00 10 10 10 8 8 4

FONTE: Pesquisa Autor.

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77

A tabela mostra médias baixas de incertezas dos produtores, havendo uma

concentração entre os graus 0,72 e 4,41, para as variáveis de regularidade de

fornecimento; negociação com fornecedores; manutenção de fornecedores fiéis;

freqüência tecnológica; disputas judiciais; tributos; ações oportunistas; proteção a

ações oportunistas; sanidade e impactos sobre o meio ambiente. Este indicador nos

permite inferir que os produtores pernambucanos percebem existir um nível

relativamente baixo de incertezas sobre os eventos pesquisados; a inferência é

reforçada pelo fato da moda calculada apresentar valores entre 0 e 2 nas variáveis

já descritas. Ao mesmo em que se observam índices elevados de desvio padrão, é

possível identificar uma tendência geral de percepção dos níveis de dificuldades

explorados no questionário. Nota-se um baixíssimo índice médio de atitudes que

protegem os produtores quanto a ações oportunistas. Este fato pode ser confirmado

pela abrangência de negociações com fornecedores desprovida de mecanismos

contratuais. Desta forma, entende-se que não existe uma preocupação imediata do

produtor quanto ao assunto.

Percebe-se que o resultado das variáveis de negociações com fornecedores e

manutenção de fornecedores fiéis refletem percepções semelhantes. Os principais

fornecedores de insumos da atividade são os fornecedores de larvas de camarão e

de ração de engorda. Apesar de estes insumos serem de fácil captação no mercado,

contata-se a falta de mecanismos que assegurem maior clareza nas transações com

os produtores, principalmente sobre os fatores de qualidade de nutrientes das

rações e a sanidade das pós-larvas fornecidas, segundo informações fornecidas

pelo FAEPE.

Outro fator importante, atenuante da relevância das variáveis que envolvem

negociações com fornecedores, são as operações bancárias. Como observamos na

variável de perfil, ano de instalação, a grande maioria das empresas instaladas são

empresas jovens e que mantém endividamentos bancários que financiaram a

implantação do plantel de produção, que, de maneira geral, estão com os

financiamentos vencendo ou a vencer.

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As variáveis que exploram a percepção do produtor, em relação à qualidade do seu

produto, são: potencialidade do produto, previsão de vendas, qualidade do produto

no mercado interno e externo, preço no mercado interno e externo, as quais serão

avaliadas através do quadro de análise estatística descritiva a seguir:

TABELA 18: Estatística Descritiva: Transações com o Mercado.

POTENC. PRODUTO PREV. VENDAS PROD. MI PREÇO. MI

N 32 32 32 32

Média 7,19 5,65 9,16 6,19

Mediana 7,00 7,00 9,00 5,5

Moda 7,00 0 10,00 5,00

Desvio

Padrão

2,19 3,84 0,88 2,28

Mínimo 1 0 7 3

Máximo 10 10 10 10

FONTE: Pesquisa Autor.

5.3.3 Análise de Correlação do Grupo

As análises do grupo de transação com o mercado estão evidenciadas no anexo 02.

Os índices de correlação entre as variáveis apresentaram valores tanto positivos

como negativos.

A situação de correlação mais evidente se deu entre as variáveis de ano de

instalação e sanidade, com coeficiente de correlação 0,712 e grau de significância

1%. A sanidade é um item importante no cultivo de camarão em cativeiro,

principalmente, em virtude das enfermidades que assolam outros países produtores.

As variáveis manutenção de fornecedores fiéis e regularidade de fornecimento

apresentaram índice de correlação de 0,630, com grau de significância 1% e

previsão de vendas e regularidade de Fornecimento 0,680, também, com

significância 1%. Infere-se destes coeficientes, que a dificuldade percebida na

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79

manutenção de fornecedores, bem como a negociação com os mesmos, que

apresentou índice de correlação 0,612, significativo a 1%, são correlatos com a

variável regularidade de fornecimento. Tais coeficientes são compatíveis com a

percepção de baixos custos de transação, presentes na análise anterior das

diversas variáveis.

Observa-se baixa freqüência de índices de correlação negativos, sendo a relação

entre Manutenção de Fornecedores Fiéis e Concentração de clientes (-0,522) o mais

elevado índice negativo apresentado.

A variável sanidade apresentou índices de correlação positivos e significativos a

10% de 0,564, 0,514 e 0,519, com as variáveis regularidade de fornecimento,

negociação com fornecedores e manutenção de fornecedores fiéis, respectivamente.

Desta forma, nota-se que os produtores que têm dificuldade em conseguir

regularidade de fornecimento, ou têm dificuldade na negociação com os

fornecedores, também percebem outras dificuldades para medir a sanidade de seus

produtos.

Uma análise interessante foi feita a partir da variável de proteção contra ações

oportunistas. Para tanto, buscou-se validar a hipótese de que a percepção de

inexistência de ações oportunistas nas transações de mercado, indicando baixos

valores dos custos de transação, favorecem a adoção de práticas de coordenação

pelo mercado. Os coeficientes de correlação desta variável com todas as demais

variáveis de transação foram baixíssimos, como pode ser observado no anexo 02.

Entende-se que o produtor pernambucano não percebe a manutenção de processos

que os protejam de ações oportunistas como uma necessidade, assumindo que os

agentes são benignos, havendo reduzida possibilidade de incertezas e de ações

oportunistas.

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80

5.3.4 Testes de Hipóteses

Cruzaram-se as informações de correlação das variáveis de concentração dos

maiores clientes e fornecedores, freqüência de exportação, regularidade de

fornecimento, negociação com fornecedores, ações oportunistas e sanidade do

produto, com as variáveis, elo da cadeia e existência de contratos nas transações de

vendas e compras. Os índices podem ser aferidos na tabela 19.

TABELA 19: Correlação das Variáveis Testadas.

Concent

ração

Exportação Regularida

de

Negocia

ção

Oportunis

mo

Sanidade

Elo da

Cadeia

-0,136 0,441 -0,212 -0,101 0,006 -0,179

Contratos

com

Clientes

-0,019 0,446 -0,213 0,25 -0,196 -0,056

Contratos

com

Forneced

ores

-0,012 0,321 0,300 0,423 0,129 0,272

FONTE: Pesquisa Autor.

Concentração

A análise estatística não apresentou grau de significância que fosse possível admitir

como verdadeira a associação entre a variável de concentração e as variáveis de

correlação. Os índices de correlação observados, foram -0,136, -0,019 e -0,012,

para elo da cadeia, contratos de vendas e contratos de compras, respectivamente.

Desta forma, não foram observados evidências, que relacionem o grau de

concentração com o grau de integração dos carcinicultores pernambucanos.

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Exportação

O cruzamento com a variável elo da cadeia apresentou um índice de correlação de

0,441, com significância de 5% e o cruzamento com a variável contrato com cliente

apresentou um índice de correlação de 0,446, também, com significância de 5%.

Apesar dos índices de correlação positivos obtidos, e do seu nível de significância,

recomenda-se cuidado na análise de tais coeficientes. Observa-se na análise

estatística descritiva, que apenas 3 produtores são exportadores freqüentes, sendo

este estudo prejudicado, em virtude da baixa concentração de entrevistados,

dedicados à exportação.

Regularidade de Fornecimento

A variável apresentou índices de correlação insignificantes, conforme observado na

tabela 20: Elo da cadeia (-0,212); Contratos com clientes (-0,213) e Contratos com

fornecedores (0,300). Desta forma, não existem evidências que suportem a

associação entre a regularidade de fornecimento e a coordenação verticalizada dos

produtores pernambucanos.

Negociação com Fornecedores

Os índices de correlação obtidos da tabela 20, também, revelaram a inexistência de

evidências que suportem a associação linear desta variável com a de integração.

Vê-se, claramente, que os produtores pernambucanos utilizam usualmente o

mercado em suas transações de aquisição de insumos. Por outro lado, os dados

obtidos através da análise da estatística descritiva revelaram que a maioria dos

produtores tem baixos níveis de incertezas perante seus principais fornecedores. O

único índice relevante de correlação observado foi no cruzamento da variável de

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contratos com fornecedores. Obteve-se índice de correlação de 0,443, com grau de

significância 5%.

Ações Oportunistas

Analisando os índices de correlação da tabela 20, obteve-se os graus de correlação

0,006, -0,196 e 0,129, no cruzamento com as variáveis elo, contrato de venda e de

compra, respectivamente, todos insignificantes e insuficientes para a rejeição da

hipótese nula. Desta forma, não se observa relação de dependência entre a

percepção de ações oportunistas e integração da cadeia produtiva.

Sanidade

Os coeficientes de correlação obtidos com a variável, foram -0,179, -0,056 e 0,272;

neste teste, também não foram observados índices de significância suficientes para

a rejeição da hipótese nula.

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83

6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Serão apresentadas, a seguir, as considerações finais do autor sobre os resultados

da pesquisa. Considerando o objetivo geral de descrever, avaliar e caracterizar o

setor de carcinicultura em Pernambuco; será formulada à resposta a seguinte

pergunta de pesquisa: A organização da cadeia produtiva da carcinicultura em

Pernambuco está associada às transações realizadas entre os componentes da

cadeia?

Perfil do produtor: Percebem-se dois fatores predominantes nesta pesquisa: a

baixa concentração das negociações entre agentes e os baixos níveis de incertezas

dos produtores, diante das transações realizadas pelo mercado. A este fato soma-se

o relevante número de produtores que não realizam quaisquer tipos de contratos

formais em suas transações de compra e venda de produtos. Através dos dados da

amostra, pode-se estimar a relevância do papel do mercado no suprimento de cada

produtor. O mercado aparece como arranjo de maior participação, tendo as

operações realizadas através de contratos regulares uma participação bastante

tímida.

A atividade de carcinicultura, em média, é desenvolvida por pequenos produtores e

que estes se mantêm trabalhando apenas na atividade de engorda de camarão,

representando, este arranjo, 91% de toda a cadeia produtiva na amostra,

aparecendo a integração vertical como arranjo de menor relevância. No entanto, é

importante lembrar que um percentual representativo da produção,

aproximadamente 75%, conforme os dados da pesquisa, está nas mãos das

grandes empresas que, usualmente, agem de forma verticalizada.

O levantamento do ano de instalação comprovou as expectativas quanto à juventude

da atividade, bem como a maior concentração de empresas instaladas no período

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de ascensão da mesma, ou seja, no final da década passada e início de 2000, o

que, diante deste fato, supõe-se que as transações ainda estejam em construção.

A exportação revela-se extremamente tímida entre os produtores pernambucanos,

visto que 72% dos produtores atestaram nunca haver exportado, como se pôde

observar no gráfico 11.

A baixa concentração das vendas revelou uma tendência forte de pulverização do

produto e um elevado número de transações com varejistas dos mais diversos

portes. Porém, observa-se uma pequena concentração em um único fornecedor,

possivelmente em razão dos insumos básicos, ração de engorda e pós larvas. Um

fator relevante, evidenciado na pesquisa, é o alto índice de confiança dos produtores

no mercado. O número de respondentes que atestaram não efetuar qualquer tipo de

contrato em suas relações de compra e venda é alto, demonstrando a fragilidade

dos produtores a possíveis ações oportunistas, caso existam ou venham a existir no

futuro.

Transação de Mercado: Em média, a percepção de dificuldade dos produtores nas

transações com os outros agentes foram baixas. Muitas das variáveis apresentaram

moda igual a zero, ou seja, não foi percebido pelo produtor qualquer nível de

dificuldade ou incertezas em relação a: regularidade de fornecimento, negociação

com fornecedores, mudanças de freqüência tecnológica, disputas judiciais, ações

oportunistas, etc.

Também se observou que o produtor, em média, percebe seu produto com

qualidade adequada para o suprimento de qualquer mercado consumidor, seja

nacional ou internacional. Verificou-se um nível 7 de mediana na variável

potencialidade do produto e nível 9 de mediana na percepção do produtor, em

relação a sua qualidade para o mercado interno e externo, demonstrando que na

ótica dos produtores, o camarão cultivado em Pernambuco está apto para atender

às exigências de quaisquer mercados.

Neste grupo, destaca-se a forte correlação positiva entre as variáveis de

regularidade de fornecimento, sanidade, negociação com fornecedores e

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manutenção de fornecedores féis, o que revela que são parâmetros fortemente

associados e avaliados de forma uniforme pelos agentes.

Economia dos Custos de Transação: Analisando os resultados pela ótica da

economia dos custos de transação, percebeu-se que as transações com o mercado

relacionadas à freqüência, ao monitoramento de agentes e processos, à negociação

sobre as condições de transação e a criação de reputação do fornecedor são

avaliados com baixos níveis de incertezas. O impacto do ambiente institucional e a

influência de conflitos parece ter baixa relevância entre os produtores, permitindo

estimar a baixa freqüência de ações oportunistas, pelo menos percebidas pelos

agentes.

Vários autores exploraram a existência de custos no ambiente institucional, entre

eles Coase (apud ZYLBERSZTAJN, 2005), esclarecendo que existem custos nas

transações, mas que este fato não torna inviável a utilização do mercado como fonte

direta de negociação. Este pode funcionar como mecanismo eficiente na alocação

de recursos.

Ao analisar a complexa gama de atividades da cadeia produtiva da carcinicultura

pernambucana, percebe-se que as relações contratuais formais e acordos de

coordenação são pouco utilizados entre os agentes institucionais. Por outro lado, os

produtores observam uma elevada potencialidade de seu produto para conquista de

mercados. Logo, estima-se que sejam estabelecidos mecanismos de coordenação

mais sofisticados entre os produtores e os demais agentes, durante o período de

amadurecimento da cadeia produtiva no futuro.

Por fim, conclui-se que a coordenação da cadeia produtiva da carcinicultura é

influenciada pelas ações e atitudes de seus agentes, visto que os baixos níveis de

incertezas evidenciados pela pesquisa justificam a pouca utilização de instrumentos

contratuais, bem como de estruturas verticalizadas de suas unidades de produção.

Também ficou evidenciado durante todo este trabalho que Pernambuco dispõe de

condições tecnológicas, geográficas e sociais para desenvolvimento da cultura.

Porém, durante o aprofundamento do estudo e apoiado na teoria, percebeu-se que

as transações e seus respectivos custos, como têm valor reduzido, orientam os

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agentes para transações de mercado. A análise das transações, as incertezas e a

racionalidade limitada dos agentes formaram o objeto central deste estudo que

concluímos com o entendimento de que a percepção dos produtores sobre as

transações com o mercado influenciam nos arranjos de coordenação da produção.

Sugestões para novos trabalhos: Um tema bastante oportuno para

desenvolvimento de pesquisas futuras é a ruptura da cultura de escravidão às

exportações do camarão cultivado em cativeiro e seu redirecionamento para o

mercado interno consumidor, como alternativa de sustentabilidade da cadeia

produtiva da carcinicultura pernambucana. Estima-se que as empresas exportadoras

mantiveram maior freqüência de transações com o mercado, devido ao seu maior

tempo de funcionalidade. Esta freqüência está relacionada com a regularidade de

uma transação, a qual é um dos elementos relevantes para escolha de estruturas de

governança. Sendo assim, percebe-se que as empresas exportadoras mantiveram

maior número de transações, envolvendo consumidores internacionais e, assim

foram expostas a processos e padrões de qualidade diferenciados.

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICE A – Questionário aplicado para Carcinicultores no Estado de

Pernambuco

Informações Gerais

Nome da Organização: __________________________________

Endereço: ____________________________________________

Nome do Respondente: _________________________________

Cargo: (1) Empresário (2) Gerente responsável ______________

Telefone: _______________

Número de Funcionários da Empresa: (1) Temporários _____ (2) Permanentes

_____

Número de Hectares da Unidade Produtiva (em Ha): ______

Produtividade (tn/ha/ano): _______________

Qual o fator de conversão alimentar (FCA), médio anual: _____

Primeiro Bloco: Objetiva identificar o perfil de operacionalidade do produtor,

destacando características da empresa em relação a sua estrutura e relacionamento

com o mercado.

Análise do Perfil do Produtor:

1) Ano de Instalação da unidade Produtiva.

1 ENTRE 1990 E 1998

2 ENTRE 1999 E 2001

3 ENTRE 2002 E 2003

4 ENTRE 2004 E 2005

5 2005 EM DIANTE

2) Qual o percentual de participação do maior cliente em relação ao faturamento

bruto da empresa?

%

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3) Qual o percentual de participação do maior fornecedor nas compras

(insumos, serviços) da empresa?

%

4) Sua empresa exporta? Qual a freqüência?

(1) Nunca

exportou

(2) Iniciante (3) Esporádico (4) Freqüente

5) Sua empresa atua em qual(is) elos da cadeia produtiva?

1 Larvicultura

2 Fazenda de Engorda

3 Unidade de Beneficiamento

4 Larvicultura e Fazenda de Engorda

5 Larvicultura e Unidade de Beneficiamento

6 Fazenda de Engorda e Unidade de

Beneficiamento

7 Todos os elos

6) Nas operações entre a empresa e os compradores(clientes), são celebrados

contratos para regulamentar as transações? Como são classificados os tipos de

contratos?

( ) Não (1)

( ) Sim. Através de contratos de simples venda ou pontuais (2)

( ) Sim. Através de contratos de fornecimento regular ao longo de um período (3)

7) Nas operações entre a sua empresa e os fornecedores, são celebrados

contratos para regulamentar as transações? Como são classificados os tipos de

contratos?

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( ) Não (1)

( ) Sim. Através de contratos de simples compra ou pontuais (2)

( ) Sim. Através de contratos de fornecimento regular ao longo de um período (3)

Segundo Bloco: Objetiva coletar dados sobre a análise pessoal do respondente sob

o nível de ocorrências verificadas no dia a dia da empresa e análise pessoal do

respondente sob o nível de relação com a operacionalidade da empresa.

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Operações com o Mercado:

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Ns/nr

8) Qual o nível de dificuldade em manter regularidade de fornecimento.

9) Qual o nível de dificuldade de negociações com fornecedores. 10) Qual o nível de dificuldade de se manter fornecedores fieis. 11) Qual o nível atribuído a freqüência da mudança tecnológica. 12) Qual o nível atribuído a disputas judiciais com terceiros. 13) Qual o nível atribuído ao peso da carga tributária na transação. 14) Qual o nível atribuído a ações oportunistas. 15) Qual o nível atribuído a processos para proteção de ações oportunistas.

16) Qual o nível de dificuldade em avaliar a sanidade de seu produto.

17) Qual o nível atribuído a impactos ambientais causados pela sua empresa.

18) Qual o nível atribuído a potencialidade de conquista de novos clientes de seu produto.

19) Qual o nível de dificuldade na previsão de volume de vendas futuras.

20) Como avalia o nível de seu produto para o mercado interno? 21) Como avalia o nível de seu produto para o mercado externo? 22) Qual o nível atribuído ao preço do camarão na transação de venda para o mercado interno.

23) Qual o nível atribuído ao preço do camarão na transação de venda para o mercado externo.

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APÊNDICE B – Análise de correlação dos grupos de variáveis VER C DEMETRIUS