A Centralidade de “Experiência” na Concepção Educacional...

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO A Centralidade de “Experiência” na Concepção Educacional de John Dewey: análise de apropriações no pensamento pedagógico brasileiro. CRICIÚMA, Outubro de 2008.

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO

A Centralidade de “Experiência” na Concepção Educacional de

John Dewey: análise de apropriações no pensamento pedagógico

brasileiro.

CRICIÚMA, Outubro de 2008.

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LUIZ DONATO CASTELLER

A Centralidade de “Experiência” na Concepção Educacional de

John Dewey: análise de apropriações no pensamento pedagógico

brasileiro.

CRICIÚMA, Outubro de 2008.

Dissertação apresentada como requisito para obtenção de grau de Mestre em Educação no Curso de Mestrado em Educação da Universidade do Extremo Sul Catarinense. UNESC Orientador: Prof. Dr. Ilton Benoni da Silva

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LUIZ DONATO CASTELLER

A Centralidade de “Experiência” na Concepção Educacional de

John Dewey: análise de apropriações no pensamento pedagógico

brasileiro.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________________________ Prof. Dr Ilton Benoni da Silva (Orientador)

Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC

Prof. Dr César Candioto Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC- PR

Prof. Dr. Vidalcir Ortigara Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC

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“Uma democracia é mais que uma forma de governo,

é principalmente, uma forma de vida associada, de experiência conjunta e mutuamente comunicada”.

( John Dewey )

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pelo dom da vida e por ter me ajudado durante todo o

tempo de conclusão deste curso.

Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Ilton Benoni da Silva, brilhante

educador, pela oportunidade de convivência, aprendizado e paciência na

orientação desta pesquisa.

Ao corpo de Docentes do Programa de Pós-graduação e Mestrado da

UNESC – em especial aos professores: Ademir, Vidalcir, Rômulo Frota, Alcides

pela oportunidade de tê-los como Professores e aos meus colegas do Curso.

Aos colegas da E.E.B.João Colodel, pelo carinho e incentivo, por ter me

compreendido quando precisei de ajuda.

A minha mulher Aríete, pelo incentivo constante e força nos momentos

de desânimo e pelos frutos do nosso amor que estão chegando, os nossos filhos:

Maria Clara e Pedro.

Aos meus irmãos João Batista e Marta, pela ajuda a partir do Curso de

Graduação, Pós e Mestrado, que há anos ambos vêm me apoiando em todos as

minhas metas.

Finalizo agradecendo, a duas pessoas em especial, as quais sentiram

orgulho do meu ingresso neste Curso, meus pais que há poucos meses partiram e

não deixaram somente saudades, mas o amor que pulsa em meu coração,

obrigado PAI E MÃE - Quintino e Lenir Maria.

A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a concretização

desta dissertação. Meu carinho.

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Resumo

A inquietação por saber como foram apropriadas as concepções filosóficas deweyanas sobre educação e democracia, em realidades distintas como nos Estados Unidos e no Brasil, sugeriu a formulação da seguinte problemática: qual a concepção deweyana de democracia e educação em Anísio Teixeira e Marcus Vinicius da Cunha rupturas ou continuidades? O pensamento filosófico evolui com o tempo e em função do contexto. Daí, temos consciência de que lançar perguntas sobre a trajetória e apropriações das idéias de um autor significa dedicar-se necessariamente aos diversos contextos dessa evolução. A principal categoria do pensamento deweyano é a experiência, e chega-se à conclusão de que a escola não pode ser uma preparação para a vida, mas própria vida. Então, para Dewey, vida-experiência e aprendizagem estão unidas, tornando a função da escola, a instituição que possibilita a reconstrução constante da experiência. A Educação, deweyana, é uma necessidade, pois os indivíduos precisam ser educados para que se assegure a continuidade da sociedade, transmitindo suas crenças, idéias e conhecimentos. Dewey, vê na escola o instrumento ideal para estender a todos os indivíduos os seus benefícios, tendo a educação uma função democratizadora de igualar as oportunidades. Considerado o principal idealizador das grandes mudanças que marcaram a educação brasileira no século XX, Anísio Teixeira, foi pioneiro a trazer para o Brasil as idéias deweyanas, fez a tradução das principais obras do norte-americano. Anísio Teixeira, o mais importante seguidor das idéias deweyanas no Brasil, vê a sociedade em constante transformação, tanto social como econômica e politicamente. A escola, por sua vez, deveria formar indivíduos aptos a refletir sobre e inserir-se nessa sociedade, considerando sua liberdade individual e sua responsabilidade diante do coletivo. Logo, o resultado da educação escolarizada deveria ser o indivíduo integrado à democracia, ou seja, o cidadão democrático. Teixeira vê a sociedade como dinâmica e em pleno curso de transformação. Ciente do momento propício para a consolidação de uma sociedade mais justa e igualitária - a sociedade democrática - propõe não só a transformação dos conceitos básicos educacionais, mas a reestruturação moral e social da sociedade. Em outro momento analisamos as idéias de Dewey na atualidade através de Marcus Vinicius da Cunha, considerado um dos principais intelectuais brasileiros a se debruçar sobre as idéias de Dewey. Cunha é grande comentador destas idéias, vê a necessidade de se trazer Dewey na atualidade, pois a escola enfrenta muitas mazelas, problemas concretos, que só podem ser melhorada com a implantação da filosofia deweyana. Mas antes ela merece ser analisada, estudada, e utilizada como uma ferramenta e não como o único meio verdadeiro. Dewey é crítico da escola tradicional, porque este modelo de educação não estabelece a democracia, mas sim classifica os indivíduos, portanto, não podendo ser uma educação democrática, uma vez que selecionar é excluir, e uma sociedade democrática, pede a participação de todos os indivíduos. A pedagogia deweyana não questiona a sociedade e seus valores como estão propostos no seu tempo; sua teoria representa plenamente os ideais liberais, sem se contrapor aos valores burgueses, acabando por reforçar a adaptação do aluno à sociedade.

Palavras chaves: conhecimento, democracia, educação, experiência, reconstrução.

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Abstract The concern for how the concepts were appropriate philosophical deweyanas on education and democracy, as distinct realities in the United States and Brazil, suggested the following wording of the problem: : how to design deweyana democracy and education in Anisio Teixeira and Marcus Vinicius da Cunha breaks or continuities? The philosophy evolves with time and depending on the context. Hence, we are aware that questions about the launch trajectory and appropriations of the ideas of an author means is necessarily devoted to the various contexts of development. The main category of thought deweyano is the experience and comes to the conclusion that the school can not be a preparation for life but life itself. So, for Dewey, life-learning experience and are joined together, making the role of the school, the institution that allows the reconstruction in the experience. Education, deweyana is a necessity because people need to be educated in order to ensure the continuity of society, transmitting their beliefs, ideas and knowledge. Dewey, the school sees the ideal instrument for all individuals to extend their benefits, and education a function of democratizing match opportunities. Considered the main creator of the great changes that marked the Brazilian education in the twentieth century, Anisio Teixeira, has taken the lead in bringing to Brazil the ideas deweyanas, made the translation of key works of the United States. Anisio Teixeira, the most important follower of the ideas deweyanas in Brazil, see the society in constant transformation, both socially and economically and politically. The school, in turn, should train individuals able to reflect on and embed themselves in society, considering their individual freedom and responsibility before the public. Therefore, the result of schooling education should be integrated into the individual democracy, or the democratic citizen. Teixeira sees the company as dynamic and in the course of processing. Aware of the opportunity for the consolidation of a more just and egalitarian society - a democratic society - suggests not only the transformation of basic educational concepts, but the moral and social restructuring of society. In another time discussing the ideas of Dewey in actuality by Marcus Vinicius da Cunha, considered a leading Brazilian intellectuals to discuss the ideas of Dewey. Cunha is great commentator of these ideas, see the need to bring Dewey nowadays, as the school faces many problems, real problems, which can only be improved with the implementation of the philosophy deweyana. But it deserves to be examined, studied and used as a tool and not as the only way true. Dewey is critical of the traditional school, because this type of education does not establish a democracy, but classifies individuals therefore may not be a democratic education, since select is excluded, and a democratic society seeks participation of all individuals. The pedagogy deweyana does not question the society and its values are as proposed in his time, his theory represents fully the liberal ideal, but not against the bourgeois values and eventually strengthen the student's adaptation to society. Key words: knowledge, democracy, education, experience, reconstruction.

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SUMÁRIO

1 - Introdução........................................................................................................08

2– A CENTRALIDADE DE EXPERIÊNCIA NA CONCEPÇÃO DE DEMOCRACIA

E EDUCAÇÃO DE JOHN DEWEY.........................................................................12

2.1-Experiência como processo mediador de aprendizagem.................................13

2.2-A Concepção de Educação Segundo John Dewey..........................................20

2.3-A Função da Educação....................................................................................25

2.4-A Escola Como Experiência Social..................................................................28

2.5-A Concepção Democrática de Educação.........................................................32

2.6-Pragmatismo e educação de John Dewey.......................................................36

2.7-Filosofia da Educação......................................................................................39

3- A CONCEPÇÃO DEWEYANA DE EXPERIÊNCIA DEMOCRÁTICA

EDUCACIONAL EM ANÍSIO TEIXEIRA ...............................................................42

3.1- Experiência no Pensamento de Anísio Teixeira..............................................42

3.2-O que é Democracia e Educação para Anísio Teixeira? Sinais de sua

presença.................................................................................................................46

3.3-A Filosofia da educação deweyana Anísio Teixeira.........................................57

4- A CONCEPÇÃO DEWEYANA DE EXPERIÊNCIA DEMOCRÁTICA

EDUCACIONAL EM MARCUS VINICIUS DA CUNHA.........................................65

4.1- A noção de experiência educacional deweyana no debate pedagógico no

brasileiro atual........... .............................................................................................65

4.2-A importância da experiência para uma sociedade democrática ....................78

4.3- Método experimental ......................................................................................82

4.4- Filosofia deweyana e a experiência ...............................................................84

5- INVESTIGAÇÕES EM RELAÇÃO ÁS RUPTURAS OU CONTINUIDADES DO

PENSAMENTO EDUCACIONAL DE JOHN DEWEY ..........................................89

5.1- O Contexto............................. .........................................................................89

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5.2- Porque estudar John Dewey na atualidade: Uma visão do pesquisador........93

Referencias Bibliográficas...................................................................................99

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INTRODUÇÃO

O interesse em estudar John Dewey (1859 – 1952), sua concepção

sobre Democracia e Educação e especialmente a repercussão nas apropriações

teóricas do seu pensamento, no debate pedagógico atual, no Brasil, foi despertado

durante o curso de especialização em Filosofia em que se discutia a educação

brasileira na década 1930. Naquela época o Brasil desenvolvia um sistema

educacional nos moldes americanos através de Anísio Teixeira. A inquietação por

saber como se deu o funcionamento dessas concepções filosóficas deweyanas

em realidades distintas tornaram-se insistentes levando-nos a formular a

problemática: qual a concepção deweyana de democracia e educação em Anísio

Teixeira e Marcus Vinicius da Cunha rupturas ou continuidades? O pensamento

filosófico evolui com o tempo e em função do contexto. Daí, temos consciência de

que lançar perguntas sobre a trajetória e apropriações das idéias de um autor

significa dedicar-se necessariamente aos diversos contextos dessa evolução.

Analisando o cenário americano da época de John Dewey, sua

participação e desenvolvimento de suas teorias filosóficas, nos defrontamos com

uma realidade que é fruto da Revolução Industrial. A mesma Revolução Industrial

que consolidou o Imperialismo contemporâneo, que em um contexto de busca por

novos mercados emergentes nos continentes africanos e asiáticos desencadeou

conflitos como: a Primeira Grande Guerra Mundial, o período entre guerras e a

Segunda Grande Guerra Mundial. De acordo com Cunha:

O pensamento filosófico educacional de John Dewey foi elaborado ao longo de meio século, durante este tempo, nosso autor presenciou as diversas transformações sofridas pela civilização, talvez as maiores transformações já vividas pela humanidade em período tão curto de tempo. (CUNHA, 2002.p 89).

Movendo o nosso olhar para o Brasil na década de 1930, momento em

que as idéias deweyanas aportam por aqui, se percebe importantes mudanças no

cenário sócio educacional. No plano político, o fim da República Velha; a república

dos fazendeiros e cafeicultores, da política café-com-leite. Com a chegada ao

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poder de Getúlio Vargas, teve início o processo de mudança do perfil do país, de

rural agrário para urbano e industrializado.

Além da crise de 1929 a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque

afetou o mundo, pela primeira vez de forma globalizada, fazendo desmoronar

impérios econômicos e gerando crises de desempregos, principalmente nos

Estados Unidos e seus parceiros, entre eles o Brasil. Na esteira destes

acontecimentos Getúlio Vargas promulga a Constituição de 1934 e logo depois

estabelece o Estado Novo em 1937.

A intelectualidade brasileira não fica alienada, pois havia em seu seio

algumas preocupações com este contexto, dentre elas o interesse pela descoberta

do Brasil “verdadeiro”. Isto é, fazia-se necessário estudar o país com o olhar do

brasileiro, não mais com o olhar do colonizador europeu que havia marcado os

estudos sobre o Brasil. Procurava-se dar uma visão brasileira sobre a nossa terra

e nossa gente. Outra preocupação, neste cenário de crescente nacionalismo, diz

respeito aos esforços no sentido de unir os diversos “brasis”, superando o

regionalismo e as diferenças sócio culturais. Quando Vargas assume a

presidência provisória, comenta que para o funcionamento do sistema político no

país, havia a necessidade de uma mudança educacional, o que provocou

“manifesto dos pioneiros da educação nova”, trazendo no seu bojo o pensamento

de Dewey.

Com esta abordagem pretendeu-se analisar e compreender o

pensamento de John Dewey acerca dos conceitos de “Experiência, Democracia e

Educação”. Com o intuito principal de analisar as apropriações de seu

pensamento no debate pedagógico brasileiro em dois momentos: o primeiro

representado pelo pensamento de Anísio Teixeira, porque é Teixeira o primeiro, e

pode se dizer o principal intelectual brasileiro a trazer a filosofia de Dewey para o

Brasil. Em outro momento buscar a compreensão sobre a acolhida das

concepções deweyanas de experiência democrática e educacional no debate

pedagógico atual.

Perguntamos: de que forma Dewey desenvolveu sua filosofia da

educação? Qual a sua concepção de democracia e educação? Como Anísio

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Teixeira entende e transporta, para o Brasil, tais concepções? E hoje, de que

forma são apropriadas suas idéias no debate pedagógico brasileiro?

Estes questionamentos nos levam a dividir nossa pesquisa em quatro

momentos, através de uma ponte denominada “concepção de experiência

deweyana em democracia e educação”. Em um primeiro momento analisamos

como se apresentam as idéias deweyanas contidas na obra Democracia e

Educação, de 1916. De acordo com Marcus Vinicius da Cunha esta obra é uma

síntese do pensamento do filósofo norte-americano, onde investigamos as

categorias definidoras de sua concepção de democracia e educação.

De todos, Democracia e educação é o título mais indicado pelos estudiosos, dado ser um dos principais – se não o principal – escrito de John Dewey. Isso certamente leva muitos leitores iniciantes a recorrer às suas páginas com o intuito de conhecer mais de perto o autor estadunidense. De fato, nesse escrito encontra-se o essencial do pensamento deweyano sobre a educação em ambiente democrático, o que constitui o cerne de suas idéias. (CUNHA, 2001, p. 116).

Em uma segunda etapa, investigamos como se comporta a concepção

de democracia e educação de John Dewey nos estudos de Anísio Teixeira. Muitos

intelectuais e educadores brasileiros do início do século XX foram formados pelo

Colégio dos Professores, da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, onde

Dewey atuou por mais de 30 anos, oportunidade em que conheceram as idéias da

escola ativa progressiva de Dewey. No entanto, fizemos nossa opção por Anísio

Teixeira, por ser o intelectual brasileiro que deu maior destaque à filosofia de John

Dewey, inclusive traduzindo algumas obras do filósofo para a língua portuguesa.

Bandeira (1978, p. 207) afirma que intelectuais brasileiros como: Gilberto Freyre,

Anísio Teixeira, Monteiro Lobato e outros revelavam grande interesse pelas idéias

americanas.

A influência cultural dos Estados Unidos, que no Brasil, acompanhou a ascensão da burguesia, só se acentuou após a guerra imperialista de 1914-1918. O cinema, a descoberta dos irmãos Lumière que Hollywood aperfeiçoou e lhe deu bases industriais, permitiria aos Estados Unidos a propaganda de massa, a imposição do seu ‘way of life’, e de sua ‘culture’, de seus objetivos políticos e militares.

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Finalmente, em outra etapa, analisamos e buscamos a compreensão

da forma em que estão sendo apresentadas e comentadas estas idéias filosóficas

no debate atual, através de Marcus Vinícius da Cunha, pois ele continua com

ênfase debatendo e pesquisando a filosofia e a pedagogia de John Dewey.

Sabemos que existem muitos estudiosos sobre o filósofo, mas nos preocupamos

especificamente com este, pela sua representatividade nos debates atuais sobre a

educação, isto é, estaremos estudando e analisando Dewey por Dewey, através

de uma observação crítica sobre a presença, as possíveis rupturas ou

desdobramento da concepção de democracia e educação nestes três momentos:

o filósofo em seu tempo, em Anísio Teixeira e na atualidade com Vinícius da

Cunha.

Em síntese, visamos compreender o comportamento da concepção de

experiência em democracia e educação elaborada e entendida por John Dewey,

por Anísio Teixeira e por Marcus Vinícius da Cunha. Os objetivos e interesses de

pesquisa podem ser descritos como analisar e apresentar as modificações e

eventuais rupturas que sofreram na concepção de democracia e educação nessa

trajetória.

Quanto à metodologia, seguiremos uma trajetória teórica, conceitual, de

cunho bibliográfico, critica e reflexiva, considerando com especial atenção os

aspectos filosóficos, históricos e educacionais das fontes utilizadas.

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2 – A CENTRALIDADE DE “EXPERIÊNCIA” NA CONCEPÇÃO DE

DEMOCRACIA E EDUCAÇÃO DE JOHN DEWEY

Inicia-se o percurso desta reflexão analisando primeiramente o

pensamento de Dewey, exatamente porque é com esta referência que se quer

analisar os desdobramentos, repercussões e eventuais modificações de suas

idéias no debate pedagógico brasileiro. Assim, quando se fala em educação

lembramos imediatamente de escolas, alunos e professores, e quando falamos

em democracia a primeira idéia é de algo que interage ou não com a própria

política. Mas para se fazer educação precisa de alguém para educar, na política

alguém para governar. Este alguém é o ser humano, com suas características

inerentes, únicas.

O homem deweyano é um ser “biológico”, em constante interação com

a natureza, que se integra na sociedade através de uma contínua reorganização

da sua experiência, e este, por meio de vivência social, torna-se um ser moral.

Sendo o homem um ser vivo, Dewey interpreta a vida como um processo que se

renova a si mesmo por intermédio da ação sobre o meio ambiente

(Dewey,1959,p.01). Deste modo, a vida é uma contínua readaptação no ambiente

de acordo com as necessidades dos seres vivos, pela atividade que exerce na

sociedade. Não é o homem primariamente um ser conhecedor, mas antes um ser

ativo, participativo. Na realidade a característica mais enfatizada do homem

deweyano é a atividade, fora dela não podemos definir o que seria o homem para

Dewey, isto é, a essência do homem não está no intelecto, mas na ação.

Esclarece Dewey esta questão sobre a atividade:

O homem é algo mais que um ser que conhece. É primeiramente um ser que atua e faz o que deve fazer para viver. Sua atividade é, antes de tudo, uma expressão de amor e ódio, de esperança e medo de curiosidades que o levam a explorar e de perigos que o fazem retroceder, uma manifestação de impulsos, desejos e hábitos. Sua conduta se estende desde as ações ditadas pela intensidade estúpida, pela mera rotina e pelo capricho momentâneo até a conduta ordenada, unificada por propósitos planejados. A diferença que existe entre os primeiros e os últimos modos de conduta é devida a uma inteligência informada por fatos e princípios. (DEWEY, 1967, p.87)

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Em relação aos animais, o homem deweyano caracteriza-se pela

capacidade de reter as experiências passadas. O que ele fez no passado revive

na memória, e este reviver é, segundo Dewey, “experenciar”. Os animais, ao

contrário, não têm essa capacidade de experenciar, rememorar os

acontecimentos. Porém, o homem vive em um mundo em que cada experiência é

carregada de reminiscências e ressonâncias em que cada acontecimento é

lembrança de coisas passadas. O animal quando morre, leva consigo também

tudo aquilo que vivenciou por não ter a capacidade de passar aos outros aquilo

que ele experenciou, vivenciou. Convém destacarmos duas características

humanas: a memória e a consciência. O homem é homem porque se lembra das

coisas que vivenciou. Não é somente história, mas participa da construção da

história viva. Quando Dewey se reporta à vida, ele fala em vida dentro de um

determinado ambiente, uma evolução continua nunca fora de uma totalidade.

Completa Dewey (1959.p 02).

Com o renovar da existência física, também se renovam, no caso de seres humanos, as crenças, idéias, esperanças, venturas, sofrimentos e hábitos. Assim se explica, com efeito, a continuidade de toda experiência, por efeito da renovação do agrupamento social. A educação em seu sentido mais lato é o instrumento dessa continuidade social da vida.

Parte-se aqui desse esforço para compreender conceito de homem em

Dewey, o que nos remete ao conceito de experiência, pois tudo em sua filosofia é

concebido, relacionado, dirigido através e para a experiência. Para o entendimento

de democracia e educação em Dewey, a experiência é eleita neste estudo como

uma categoria essencial no pensamento deste autor. E, portanto, a partir deste

estudo é que se pode conceber o que é educação na ótica deweyana.

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2.1 - Experiência como processo mediador de aprendizagem

A experiência foi tratada por Dewey em vários livros, entre eles: Experiência

e Natureza, 1925; Democracia e Educação, 1916; Experiência e Educação, 1936;

Reconstrução em Filosofia 1959 e Vida e Educação, 1967. Nessa última obra ele

apresentou a experiência como um processo mediador da aprendizagem na

medida em que ela estabelece um elo com aquilo que está se aprendendo e as

referidas significações para a vida. De que forma se dá esta mediação? Segundo

Francisco Beltrán (1930,p.55)

A escola é uma instituição especializada em determinados intercâmbios sociais entre gerações. Trata-se de um ambiente particular, que concentra os meios mais eficazes para orientar as crianças a utilizarem suas próprias capacidades para fins sociais.

Desta forma, o seu pressuposto fundamental é de que “a educação é um

processo de reconstrução e reorganização da experiência, pelo qual lhe

percebemos mais agudamente o sentido, e com isso nos habilitamos a melhor

dirigir os cursos de nossas experiências futuras”(DEWEY,1967).

A educação tradicional adquiriu uma nova dimensão, um valor relativo

enquanto inserida num contexto social e um valor absoluto enquanto processo

educacional. Isto é, enquanto processo ela se identifica com os seus meios.

Conforme observou Dewey (1967, p.17), “o fim da educação, se identifica com

seus meios, do mesmo modo, aliás, que os fins da vida se identificam com o

processo de viver”. Aparentemente, era uma contradição alguma coisa ter valor

relativo e outro absoluto, entretanto, o fato de Dewey estabelecer um caráter

educativo da experiência é estar ligada, diretamente, ao processo de viver, não

permite essa conclusão. Dewey (1980a, p.14) ilustrou com seguinte exemplo:

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Quando olho para uma cadeira, digo ter experiência dela. Mas o que realmente experiencio são tão somente alguns poucos dos elementos que constituem a cadeira, a saber, a cor, a forma, ainda que vista a partir de um determinado ângulo. Quando a cadeira é retirada do lugar, ela é substituída por outras características sensoriais presente no ato da visão, no entanto a imagem a transforma em idéias.

Assim, para Dewey (1967), a experiência é definida como a relação que se

processa entre dois elementos, alterando-lhes, até certo ponto, a realidade. Isso

equivale dizer também que ela não é em si mesma cognitiva, mas que pode

ganhar esse atributo. Para Dewey (1971, p.14) com esta afirmação, ele não

negava que a sala de aula, mesmo numa escola tradicional, não fosse um local de

experiência, pelo contrário, ela oferecia um grande número de experiências,

porém o que sinalizava a diferença era que muitas experiências estavam

desconexas e desligadas uma das outras, embora agradáveis e mesmo excitantes

em si mesmas, não se articulavam cumulativamente. “Assim como homem

nenhum vive ou morre para si mesmo, assim nenhuma experiência vive ou morre

para si mesma”.

( DEWEY 1971).

Deste modo, constata-se que a aprendizagem nada mais é do que adquirir

o que já estava incorporada aos livros e na mente dos mais velhos. A disciplina

externa estava em oposição à atividade livre. A aquisição de conteúdos pelo

método de repetição se tornava estático e não permitia tomada de decisões numa

sociedade em constantes mudanças. Para superar esse impasse, uma nova forma

de situar a matéria de estudo era a sua organização a partir da experiência. Essa

era uma grande dificuldade e um desafio, porque não se tratava de uma

organização acabada. Além disso, por ser dinâmica e ter muitas variáveis, não se

devia rejeitar a velha educação substituindo por uma nova, simplesmente.

A educação, segundo Dewey, oferecida à classe trabalhadora, suprimia o

pensamento independente e construtivo em favor da aceitação passiva das

condições de trabalho. Sua recomendação não era uma educação igualitária, nem

tampouco aristocrática, isso porque inclusive a educação proletária transformava

os estudantes em adultos capazes de aplicar um método uniforme de avaliação de

fatos. O cabedal fixo de conhecimentos e que o trabalhador dispunha acerca dos

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fatos funcionava como o teste de verdade, o mesmo acontecia com o cabedal fixo

de princípios lógicos que a aristocracia dispunha. Assim, estes métodos de testar

a verdade propiciavam verdades eternas nos dois lados. Dewey via, nessa

divisão, os resquícios de uma forma medieval e monárquica da sociedade, na qual

as verdades eternas eram ditadas pela autoridade a uma população obediente.

No ensaio A criança e o programa escolar (1967), ele apresentou alguns

elementos para compreender o processo educativo. De um lado, apresentou a

criança e, de outro, fins, idéias e valores sociais representados pela experiência

do adulto. O processo educativo se daria na adequada interação desses

elementos, porém existia uma dificuldade real, uma vez que a experiência

apresentada do adulto nem sempre era a vivenciada pela criança. Neste sentido, a

experiência do adulto transformava-se em algo teórico e irreal para a criança.

Essas concepções de Dewey partiram da premissa de que o mundo da criança e a

sua aprendizagem se davam pela experiência e pelo contato pessoal, ou seja, o

seu mundo era um mundo de pessoas e de interesses pessoais, não um sistema

de fatos ou leis.

A escola era definida por Dewey, como o meio social em que se educava e

que, portanto, não havia um meio direto de controlar ou governar a educação que

a geração infantil recebia, salvo o de preparar o ambiente em que a criança agiria,

pensaria e sentiria. Com isso, “as escolas são meios organizados

intencionalmente para o fim expresso de influir moral e mentalmente sobre seus

membros” (DEWEY, 1967). Desta forma, ela deveria ser um ambiente com três

características: primeiro, um ambiente simplificado, segundo um meio purificado e

terceiro de confraternização.

Nestas características, chama a atenção para o fato de que a escola

deveria prover um ambiente de integração social, de harmonização de tendências

em conflito, de larga tolerância inteligente e hospitaleira, onde as influências

antagônicas próprias da sociedade de seu tempo pudessem se harmonizar. Seria

possível este espaço escolar com estas características, tendo em vista os

antagonismos da sociedade neste período? Para Dewey, não só era possível,

como deveria ser construído.

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Quando Dewey afirmava que a educação era vida e que a escola deveria

servir para a reconstrução da experiência, ele pressupunha uma premissa

democrática como instrumento dessa reconstrução. Da mesma forma que

concebeu a experiência como uma relação de troca, e não uma forma unilateral de

recebimento ou uma forma unilateral de comunicação, ele concebia uma forma

democrática entre os envolvidos na experiência. É como se a democracia na sua

essência se apresentasse de forma natural. Porém, reafirma que essa

reconstrução da experiência só poderia ser aceita conscientemente por

sociedades progressivas ou democráticas: “as sociedades democráticas são as

que permitem uma maior liberdade aos membros que a constituem a criar o mais

largo espírito de solidariedade social e de comunhão de interesses”. (DEWEY,

1967).

Deste modo, a sua proposta metodológica, fundamentando-se na

observação e na experimentação, tinha alguns pontos básicos para que

processasse a aprendizagem, entre as quais: 1) se aprende o que se pratica; 2)

aprende-se através da reconstrução consciente da experiência; 3) aprende-se por

associação; 4) não se aprende nunca uma coisa só; 5) toda aprendizagem deve

ser integrada à vida, isto é, adquirida em uma experiência real de vida, onde o que

for aprendido tenha o mesmo lugar e função que tem na vida.

Essas condições básicas de aprendizagem, propostas por Dewey, tinham

como finalidade não permitir que o rol de conteúdos trabalhados na escola

fracionasse o mundo da criança, isso porque ela ainda estava presa aos laços

vitais de afeição. Para que não houvesse tantas diferenças entre o que deveria ser

ensinado (conteúdos) e aquilo que a criança vivia, ele propunha uma nova forma

de compor o currículo escolar, vinculado a múltiplas experiências que se

processavam na vida das crianças, de uma forma que se obtivesse sempre uma

reconstrução contínua, que parta da experiência infantil, a cada momento, para a

experiência representada pelos corpos organizados de verdade, a que são

chamados de matéria de estudo. (DEWEY, 1967).

Ao propor uma nova forma de organização curricular direcionada para a

vida, os conteúdos adquiririam um significado real, e nisso consistiria uma certa

praticidade. Entretanto, Dewey não desprezava o conteúdo, pelo contrário, ele

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propunha conteúdos necessários, úteis e formas diferentes de posicionar-se

diante deste ou daquele conteúdo. Também não se tratava de educar

simplesmente pela experiência de cada um, mas, no processo, confrontá-la com

outras experiências e agir de forma inteligente, reflexiva.

A educação, para Dewey (1967), devia ter um caráter de conciliação entre o

que as ciências já tinham produzido e o significado que esse conhecimento teria

para a vida, mas sempre partindo da própria experiência de vida. Desta forma, ela

teria um caráter de produtora de novas experiências e não de reprodutora daquilo

que já estava solidificado, uma vez que cada matéria ou ciência tem dois

aspectos: um para o cientista, como cientista; outro para o professor como

professor. O cientista utiliza certo corpo de verdades para novas pesquisas e

novas conclusões, ao professor cabe a tarefa de conduzir uma experiência viva e

pessoal, entender como a matéria se tornou uma parte daquela experiência.

Distanciados da aplicação a atos e objetos de uma cultura adiantada, estes

conhecimentos se constituíam em material relativamente técnico e superficial. Isso

poderia resultar no impedimento de criar uma atitude. Assim, para Dewey a

primeira função da escola é propiciar um ambiente simplificado, selecionando os

aspectos mais fundamentais da vida humana e que sejam capazes de despertar

novas atitudes nos jovens. Essas atitudes deveriam dar conta de uma convivência,

na sociedade, mais humana e mais solidária, frente às transformações que se

processavam.

Neste sentido, as disciplinas que deveriam compor os programas escolares

seriam: jogos, lazer, trabalhos, história, geografia e ciências, todas voltadas para

dar significado na vida social e ao mesmo tempo proporcionar soluções para os

problemas e situações da vida em sociedade. Ele dava grande ênfase aos

brinquedos, aos jogos e às atividades práticas, porém sua preocupação era não

torná-las meios ou instrumentos de preparação da criança para a vida adulta da

sociedade. Sua preocupação estava mais voltada para uma aprendizagem que se

relacionasse com o próprio desenvolvimento intelectual da criança no seu estágio

de criança. Dewey (1959, p.232) enfatiza que o ensino de geografia, por exemplo,

tem uma significação para a própria vida, sem desprezar o seu caráter científico:

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O significado de geografia é que apresenta a terra como a casa duradoura das ocupações de homem. O mundo sem sua relação para atividade humana é menos que um mundo. A Industrialização suplantou a realização humana, esta é apresentada sem nenhum sentimento, apenas uma relação de nomes. A terra é a fonte primordial da comida, do abrigo, da matéria-prima e de todas as atividades humanas. É neste ambiente que o gênero humano fez seu progresso histórico e político. As ocupações humanas foram determinadas por este ambiente. Faz-se necessário que essas ocupações tenham uma interpretação intelectual e emocional de acordo com a natureza que foi desenvolvida.

Atividades integradas que permitissem uma observação ininterrupta e

simpatizante dos interesses de infância, despertando nelas uma curiosidade

intelectual, estimulando e despertando as emoções correspondentes nas

atividades propostas. De acordo com sua concepção, nós só podemos afiançar

hábitos certos de ação e pensamento, com referência para o bem, o verdadeiro e

o bonito. Ele (1897, p.7), expressa sua crença da seguinte forma:

Eu acredito que toda a educação procede pela participação do indivíduo na consciência social da raça. Este processo inconscientemente quase começa no nascimento, e está amoldando os poderes do indivíduo, saturando a consciência dele, formando os hábitos dele, treinando as idéias dele, e despertando os sentimentos dele e emoções, continuamente. Por esta educação inconsciente o indivíduo vem compartilhar nos recursos intelectuais e morais que a humanidade teve sucesso adquirindo junto gradualmente. Ele se torna um herdeiro do capital fundado de civilização.

Assim, Dewey aponta para a mudança do comportamento via

aprendizagem e via conhecimento. O conhecimento não é apenas uma

quantificação de dados e a experiência nem tampouco uma sucessão de atos, ele

enfatiza a necessidade de um comportamento emocional, caso contrário os seres

humanos seriam apenas autômatos animados. Essa sua formulação é expressa

da seguinte forma:

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A pessoa deve sentir as qualidades dos atos, do mesmo modo que sente com as mãos a aspereza ou a macieza dos objetos. A reflexão eficaz deve, também, terminar numa situação que seja diretamente apreciada, se o pensamento tem que ser eficiente na ação. O pensamento a frio poderá chegar à conclusão correta: mas se a pessoa ficar insensível ou indiferente às considerações que se lhe apresentam de modo racional, elas não o incitarão a agir de conformidade com elas mesmas. Um julgamento moral, por mais intelectual que seja, deve, pelo menos, ser avivado pelo sentimento, se tem que influenciar sobre o comportamento. Reações emocionais formam o principal material do conhecimento de nós mesmos e de outros.( DEWEY,1980, p.286)

Os problemas apresentados pela sociedade capitalista, entre os quais o

caráter antidemocrático e as desigualdades sociais de seu tempo, permitiram a

Dewey propor novas formas de conceber o homem e a sociedade, e dentre essas

novas formas, a educação do homem para uma sociedade mais justa era

fundamental, assim como era necessário uma nova forma de conceber a

democracia. A educação com uma metodologia que privilegiasse a experiência

individual e a troca de experiências teriam como fim ensinar esta nova

democracia, tendo em vista uma ampliação das oportunidades sociais e ao

mesmo tempo permitindo que todos participassem dos bens materiais produzidos.

Entretanto, as propostas deweyanas não ameaçavam e nem tinham um caráter

revolucionário, elas se tornaram aliadas da burguesia, principalmente ao ampliar

as oportunidades escolares aos trabalhadores, e permitiram que estes se

contentassem com o alimento cultural.

Vale ressaltar também que os rumos que a sociedade poderia tomar a partir

das sucessivas crises, o inimigo comum da democracia era os seus próprios

mecanismos estáticos, inflexíveis, institucionalizados, a exemplo do que ocorria na

Europa, assim poderia facilitar o surgimento de um Estado autoritário. Este tanto

poderia legitimar uma ordem capitalista como uma ordem socialista.

Além do que as indefinições no cenário econômico determinavam as novas

formas de organização do Estado e acentuavam as desigualdades sociais.

A igualdade de oportunidades deveria ser garantida pela forma

democrática, que mantivesse os valores da inteligência livre e da liberdade.

Segundo Dewey (1970, p.59), “a oportunidade de cada indivíduo realizar suas

potencialidades eram preciosas demais para ser sacrificadas a um regime

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despótico, agente de uma classe economicamente dominante”. Deste modo, ele

se coloca como defensor de uma sociedade mais justa, mais humana e de um

capitalismo menos excludente. Dewey acenava para a educação como o principal

meio.

2.2 - A concepção de Educação segundo John Dewey

De acordo com Dewey, não podemos separar o processo educativo da

experiência, ele concebe experiência como um processo de renovação da

existência física. Os seres humanos agem por um processo de renovação. Não

somos seres estáticos e inanimados, sem vida. Dewey entende a vida como

processo contínuo, uma readaptação do ambiente às necessidades dos

organismos vivos. A vida é um processo de renovação dos costumes, crenças,

vitórias, derrotas, divertimentos e ocupações.

Segundo Emile Durkheim (TOMAZI,1993) ao trabalhar o “fato social”,

quando um indivíduo nasce em uma sociedade, ele não cria uma sociedade, mas

passa a pertencer a uma sociedade com suas leis, costumes, crenças, etc. A

sociedade está “pronta”, em funcionamento, mas ele pode lutar para fazer

modificações, transformações. Diante de tal questão a educação é um processo

de interação e renovação. Com o renovar da existência física renovam-se

também, no caso os seres humanos, as crenças, idéias, esperanças, sofrimento e

hábitos.

Não estamos querendo aproximar Dewey de Durkheim, apenas mostrar

uma visão diferenciada de educação. Azevedo (1951, p.76) é quem explica melhor

esta relação:

Não, há, portanto quando Durkheim fala em ‘transmissão’ e Dewey em ‘reconstrução’ da experiência social, dois conceitos postos ou irredutíveis: transmissão e reconstrução são dois tempos ou dois aspectos do mesmo fenômeno de educação que se processa entre suas gerações, uma das quais, a dos adultos, exerce uma ação para ‘transmitir’ as formas de experiência social, e a outra, a dos jovens, reage pela sua plasticidade, ao recebê-los modificando-as e reconstruindo-as.

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Para Azevedo, as divergências entre Dewey e Durkheim referem às raízes

do fenômeno educacional, que, para Durkheim, é em essência um processo de

transmissão cultural de uma geração a outra, um processo de socialização

metódica do indivíduo, e para Dewey uma reconstrução da experiência social.

Dewey tem uma visão oposta de Durkheim. Para o filósofo estadunidense, há uma

conexão íntima entre educação e experiência pessoal, a maior maturidade de

experiência do adulto é um importante componente devido, as suas experiências

adquiridas, possibilitando o poder de avaliar cada experiência do jovem,

direcionando o jovem que não está capaz ainda de realizar por não ter adquirido

experiência suficiente. Para Dewey, a tarefa do adulto como educador é “ver em

que direção marcha à experiência”. (DEWEY,1971, p. 29).

Neste âmbito é a educação um instrumento dessa continuidade social

da vida. De acordo com Dewey, a continuidade da vida significa uma contínua

readaptação do ambiente às necessidades dos organismos vivos. A educação é

um processo de orientação social, pois os seres humanos não só nascem

inconscientes dos objetivos do grupo, como também completamente indiferentes a

esse respeito, necessitando conhecer e interessar-se ativamente pelo grupo. A

educação, e só a educação, suprime esta distância, entre o indivÍduo e o grupo.

Um processo de assegurar a continuidade da sociedade é o “processo

de transmissão” e esta se dá pela comunicação dos mais velhos para os mais

novos, comunicação no sentido de sentimentos, experiências, anseios, objetivos,

opiniões, entre os membros de uma sociedade. Para Dewey, sem a comunicação

não seria possível a vida em sociedade. Mesmo que os membros de uma

sociedade se portassem de maneira indefinida poderiam educar os novos

membros, mas seria uma tarefa mais inspirada pelo interesse pessoal do que

pelas necessidades sociais. Vale lembrar que a educação acontece também por

imitação.

Deste modo, a “linguagem” para Dewey na educação assume um papel

importante, pois é um meio pelo qual se adquire conhecimento e se passa

conhecimento. Uma criança apreende através da linguagem. Entende a finalidade

de se usar chapéu, usando-o da mesma forma que outros, porque eles fazem,

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quando vão sair o põem na cabeça, é através desta atividade partilhada que se dá

à apreensão; por meio da palavra falada ou escrita.

A linguagem é o principal meio pelo qual se dá a aprendizagem, pois a

criança começa ouvindo sons, ruídos, sem qualquer motivo, significação ou

expressão. Os sons são uma espécie de estímulo para uma reação imediata,

alguns sons são tranqüilizadores, outros fazem ficar em alerta, e assim por diante.

Os sons da palavra chapéu ficariam sem sentido algum se parecessem apenas

ruídos, se não fossem associados a um ato, prática de que se participa com outra

pessoa. O som chapéu é associado ao objeto e ao interesse do grupo, isto é,

quando a mãe for para um passeio fala a palavra chapéu e o usa, temos então um

interesse de ambas as partes.

Se for pela educação que se assegura a existência da sociedade, as

escolas são um meio importante de transmissão para formar a mentalidade das

crianças. A sociedade não só continua a existir pela comunicação e pela

transmissão, como ela é transmissão e comunicação. Entende-se, dentre outros

conceitos de sociedade, como algo, coisa comum, e os homens vivem em

comunidade em virtude do que eles possuem em comum; e é através da

comunicação que eles chegam a possuir as coisas em comum, “O que eles devem

ter em comum para formar uma comunidade, sociedade são os objetivos, as

crenças, aspirações, os conhecimentos – um modo comum de compreender –

mentalidade similar, conforme dizem os sociólogos” (DEWEY,1959. p.04).

A transmissão destas coisas em comum não pode ser feita de um

indivíduo para outro como se passam coisas de uma mão para outra. Para a

comunicação assegurar a participação em uma compreensão comum, é e se faz

necessário apoderar-se dos modos analógicos de reagir frente a uma atividade em

perspectiva dos meios de realizá-los. Toda vida social é e depende da

comunicação, assim como toda comunicação é educativa, uma vez que a

educação é um processo humano que só pode ser visto na sociedade e mantém a

sociedade viva por meio da educação.

A vida social é por si mesma educativa para garantir a sua existência.

Ela amplia e ilumina as experiências, gera sentimento de responsabilidade,

estimula e enriquece a imaginação, forçando-nos a falar e pensar com cuidado e

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exatidão. Imaginemos a vida de um homem que vive só, tanto fisicamente e

mentalmente, o que teria ele para refletir sobre a sua experiência passada ou

extrair o significado das coisas? Afirma Dewey (1959.p 06) que: “A desigualdade

de eficiência dos adultos e dos mais novos não só exige que se ensine a estes,

como também a necessidade deste ensino é um poderoso estímulo para dar a

experiência ordem e forma que se torne mais facilmente transmissível e,

conseguintemente, mas utilizável ”.

Expressamos anteriormente que uma comunidade ou grupo social se

mantém através de uma linha contínua de auto-renovação, sendo que a

renovação se dá por meio do crescimento educativo dos membros “imaturos”1 do

grupo, e a educação é o processo, caminho que conduz para o grau de maduro. A

educação tem em inglês um sinônimo, expressão que significa ”elevar”,

exprimindo assim a diferença de nível a que a educação visa suprimir. O

significado etimológico da palavra educação está preso ao sentido de condução,

processo de dirigir, de conduzir ou de elevar.

Dewey expressa a educação como um modo pelo qual a sociedade

molda, trabalha os imaturos. Imaginemos um escultor esculpindo um tronco de

madeira, relacionamos o escultor à sociedade e o que está ganhando forma de

estátua os imaturos; a educação seria a ação do escultor sobre a madeira. A

educação não é algo físico ou material, em que coisas materiais podem ser

transportadas no espaço, ela trabalha com valores e crenças que não podem ser

postos e extraídos; tem-se um método onde os mais velhos tornam os jovens

mentalmente semelhantes a eles.

Em termos gerais o método consiste em provocar, pela ação do meio, que as impõe, determinadas reações ou respostas. As crenças necessárias não podem ser embutidas à força e as atividades requeridas não podem ser plasmadas materialmente. Mas o meio, o ambiente particular em que o indivíduo vive, leva-o a seguir certos planos com o fito de ter bom êxito em suas relações com os outros; reforça-lhe algumas convicções e enfraquece-lhe outras, como condição para obter aprovação de outras pessoas. (DEWEY,1959.p 12).

1 Dewey chama de imaturo as crianças, que necessitam passar pelo processo de educação para chegar à maturidade. Quando na pesquisa utilizarmos tal expressão estamos nos referindo às crianças.

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Os seres humanos não vivem somente em um meio ambiente, mas em

uma "cultura", que impregna e transforma seus próprios comportamentos

biológicos. Esse meio "cultural" consiste em todo um sistema de sinais,

significações, símbolos, instrumentos, artes, instituições, tradições e crenças.

Deste modo, para Dewey, o “meio ambiente”, é também as condições que

facilitam, ou complicam, que estimulam ou inibem a atividade característica do ser

vivo. A vida é, para o filósofo, um modo de proceder, agir na sociedade ou meio.

Mas o que entende o filósofo por ambiente social? “O meio social consiste

naquelas condições que desenvolvem ou embaraçam, estimulam ou inibem; a

atividade característica de um ser vivo” (DEWEY,1959.p 13). A vida é para o

filósofo uma ação, ou seja, uma interação com o meio ambiente.

Estar em um ambiente social é estar vinculado às atividades dos outros.

Toda ação humana depende das exigências, reprovação, desejos dos outros. Um

sujeito pertencente a uma sociedade não pode fazer algo sem tomar conta das

atividades dos outros. Conceber um indivíduo fazendo suas atividades sem tomar

conta das atividades dos outros é a mesma coisa, segundo Dewey, que um

comerciante comprar e vender isoladamente dos outros. Vale lembrar neste

momento a definição de homem para Aristóteles: um ser político, homem da pólis,

onde o significado desta é para os gregos cidade, então, é aquele que vive e

participa da cidade, e nesta há uma dependência entre os cidadãos, portanto, para

Aristóteles: “Nenhum ser humano é uma besta ou Deus que não dependa dos

outros (1999, p.146 – 147)”. Deste modo, para a filosofia, o homem possui a

mesma necessidade social de estar inserido e, mesmo que não contribua para o

desenvolvimento da pólis ele precisa estar em contato com os outros.

Segundo Dewey (1959. p13) “o que precisamos mais detidamente

patentear é o modo pelo qual o meio social desenvolve seus membros imaturos”.

Mudar os hábitos dos animais é algo fácil, pois é somente a mudança do social,

isto é, alteração do meio social, e através de alimentos, freios, rédeas, sons, para

que os animais possam então responder a estes estímulos, isto é, adestrar, não

educar. O ser humano modifica suas atividades com semelhança dos animais. Um

pai que utiliza um brinquedo com algum sistema, para sempre que a criança pegar

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levar um choque, após algumas insistências a criança evitará o brinquedo ou

alguma coisa parecida; estamos tratando de adestramento e não de educação.

Em muitas situações as crianças reagem e comportam-se de forma

semelhante a um animal através dos hábitos úteis, neste processo não há

educação. Para surtir um efeito, os hábitos da criança, ou seja, os interesses dela

devem ser o mesmo que dos outros, a atividade deve ser comum; as mesmas

idéias, interesses, devem despertar nela e nos seus companheiros.

Inicialmente o ser humano é mais adestrado como um animal do que

educado como um ser humano. Deste modo os instintos humanos estão presos a

coisas, objetos que inspiram dor e prazer. Com o tempo o ser humano encontra o

prazer e a dor, procedendo como os outros. Em outros casos participa realmente

da atividade comum, passa a proceder somente em atividade comum, não

somente como outros, mas despertam nele idéias e atividades, emoções que

agradam aos outros.

Para dar seqüência à reflexão e identificação das categorias centrais do

pensamento de Dewey, examina-se a seguir, de forma mais detida, como o

filósofo norte-americano define a função da educação.

2.3 - A Função da Educação.

De todas as preocupações de Dewey, pode-se afirmar que esta seria a

de maior destaque, pois aqui se encontra o ponto de partida das idéias

deweyanas. A sociedade democrática tem a sua base na educação, portanto, o

rumo desta sociedade objetivada por ele estaria orientada pela função

educacional. Deste modo, educar é motivar, não podemos forçar alguém a fazer

algo que não esteja interessado. Educar é contribuir, fazer com que o educador e

o educando tenham uma interação, prática comum. Quando forçamos alguém a

fazer algo, podemos despertar no indivíduo atos contrários, no caso da educação

passa a ter resposta somente naquela ocasião. Podemos trancar um indivíduo em

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uma penitenciária, mas isso não vai torná-lo arrependido, apenas evitará que ele

furte enquanto estiver internado nesse sistema. Quando confundimos o resultado

físico com o resultado educativo, perdemos sempre as probabilidades de

participação, para o efeito visado e de, por esse meio, desenvolver-lhe no espírito

uma direção intrínseca e perseverante no sentido convincente. Dewey (1959.

p29), comenta:

Se uma pessoa não pode prever as conseqüências de um seu ato, é incapaz de compreender o que dizem as mais experientes sobre o resultado do mesmo, é-lhe impossível guiá-lo inteligentemente. Nessas condições, todos os atos teriam significação igual... Usa-se vexame, o ridículo, o desfavor, a censura e a punição. Ou se apela para as tendências contrárias do educando a fim de afastá-lo do seu impróprio modo de proceder. Utilizam-se sua sensibilidade ao elogio, sua esperança de cair nas boas graças de alguém por algum ato agradável, para fazer-se a sua atividade de mudar de direção.

Dewey (1959. p 30), apresenta-nos outro método que “reside no modo

por que utilizam as coisas”, ou pessoas com quem o imaturo convive; a postura,

instrumentos e nos modos como realizam seus próprios fins. O meio social é o

agente significativo e eficaz para orientar a atividade. Mesmo que uma mãe peça à

filha ajuda para uma atividade doméstica, e se esta não atender tal pedido, se a

mãe não a repreender pelo fato de não ajudar, a filha seria dirigida em sua

atividade pela simples circunstância de estar empenhada no lar. Conclui-se que a

imitação, a acumulação e a necessidade de trabalharem juntos reforçam a

regulação ou o controle educativo. Dewey circula entre os grandes filósofos para

formalizar a função educacional, faz-se necessário entender o meio em que ele

circulou.

Ao entrar em contato com o pensamento de Rousseau, Dewey concebe

a educação como processo de desenvolvimento de acordo com a natureza, ela é

o ponto de partida e ponto de chegada da ação educativa. A natureza percebida

como “o conjunto de nossas aptidões e tendências inatas do modo como elas

existem antes da modificação trazida pelos hábitos construtores e pelo influxo da

opinião de outras pessoas” (DEWEY,1959. p123). Dewey concorda com Rousseau

quanto à questão das “atividades inatas”, naturais, mas discorda que estas

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“atividades” se desenvolvam naturalmente, independente do uso que se faz dos

órgãos que as contêm, pois estes não fornecem condições, nem os fins do seu

desenvolvimento. “As atividades inatas se desenvolvem pelo uso que delas se faz,

e a função do meio social é orientar o desenvolvimento dando às aptidões o

melhor uso possível” (DEWEY, 195, p.116).

Rousseau analisa a contraposição entre o social e o natural. Segundo

Dewey, a crítica rousseauniana se dirige à ineficiência social, isto é, ao fato de que

a sociedade, ao invés de educar, corrompe seus cidadãos. A sociedade para

Dewey é educativa, ao passo que a educação é responsável pela transmissão dos

valores da vida social aos “imaturos”.

Assim como as demais ciências, a educação possui responsabilidade

social, ela deve permitir o desenvolvimento da vida social. Deste modo o

desenvolvimento e a eficiência social objetivam a melhoria da qualidade de vida

dos indivíduos em sociedade. Ela deve permitir a prosperidade econômica. Os

recursos, os artefatos produzidos pela inteligência humana devem ser usados

eficazmente. “Tudo que passamos chamar estudo, seja aritmética, história,

geografia ou algumas ciências naturais, há de derivar de materiais que

inicialmente se encontrem dentro da área de experiência comum”

(DEWEY,1971,p. 73.) Isto é, toda educação teria como ponto de partida aquilo

que, atualmente, é denominado de “conhecimento espontâneo”.

Em sua obra Experiência e Educação (1971,p. 73), Dewey nos

apresenta o problema da educação: “No entanto, o problema crucial da educação

é o de conseguir o adiantamento da ação imediata em face do desejo, até que a

observação e o julgamento intervenham e façam o seu trabalho”. O desejo leva ao

propósito, que por sua vez irá culminar num plano de ação, que tem sua

repercussão social. Os desejos são as molas da ação. “A intensidade do desejo

dá a medida com que se farão os esforços” (p69). Precisamos dos meios, que se

originam de estudos das condições de realização dos objetivos e propósitos, para

que chegue a bom termo a realização de nossos desejos. Assim, a atividade do

professor é um auxílio à liberdade do aluno. A educação se torna então um

processo de comunicação e inteligência social. Estas como finalidades educativas

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devem “significar o cultivo da faculdade de participar-se livre e plenamente de

atividades comuns”. (DEWEY,1959, p.135).

Educar é alimentar, cultivar, experimentar, incentivar a atenção às

condições de crescimento. A educação conduz a criança a uma forma de vida

social. O meio social pode ajudar ou inibir a experiência do indivíduo. Por isso, se

educa por meio da ação. Agir é viver, lutar pela vida num contínuo esforço natural

de adaptação ao ambiente. A atividade deve ser partilhada, a linguagem tem o

papel de expressar a experiência. O meio social cria atitudes mentais e

emocionais, do procedimento dos indivíduos. O indivíduo recebe através da

educação a vida social da comunidade humana à qual pertence, por isso o meio

social é um fator educativo e as escolas seriam, assim, um exemplo de um meio

eficaz de “inferir na direção mental e moral dos que as freqüentam” (DEWEY, 1959,

p. 15).

O importante é que, os fins da educação devem ser enraizados na

necessidade de sobrevivência da coletividade, o objetivo só é alcançado quando

se permite que o indivíduo seja ativo participante desse processo. Em síntese,

pode-se afirmar que a educação, para ele, é uma necessidade social, os

indivíduos precisam ser educados para que se assegure a continuidade social,

transmitindo suas crenças, idéias e conhecimentos. A escola é o instrumento ideal

para estender a todos os indivíduos os seus benefícios, tendo a educação uma

função democratizadora de igualar as oportunidades.

2.4 - A escola como experiência social

Para Dewey, é na escola, depois da família, o segundo contato que a

criança tem com a sociedade. Quando uma criança é levada à escola pela

primeira vez, ela luta para não permanecer neste ambiente, mas aos poucos ela

vai acostumando-se com essa nova realidade, realidade esta que vai levá-la a

interagir com outras pessoas e também com outros grupos sociais que formam a

sociedade. Assim a escola deve “purificar” o ambiente, preparando a criança para

a ação, pois na medida em que a sociedade se torna mais esclarecida, percebe

que não é necessário transmitir e conservar todas as suas realizações, mas

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somente aquelas que importam para a construção de uma sociedade futura

perfeita.

Pode-se, ainda, dizer que a escola tem como função oportunizar ao

indivíduo possibilidades de superar os limites do ambiente social em que vive,

entrando em contato com ambiente mais amplo.

Segundo Dewey (1959.p 22):

Palavras como ‘sociedade’ e ‘comunidade’ são próprias para falsear-nos os juízos, pois tendem a fazer-nos pensar que existe uma coisa única, correspondente à palavra única. O fato é que a sociedade moderna se compreende de muitas sociedades mais ou menos frouxamente entrosadas entre si.

Cada um desses grupos exerce efeito formador nas disposições e nas

ações desses componentes. Dessa maneira, a escola tem a função de coordenar,

na vida de cada indivíduo às diversas influências, os vários meios da sociedade

em que vive (DEWEY,1959.p.15). Como a criança aprende? A essa pergunta

Dewey responderia: através da língua materna, pelos exemplos de

comportamento que experimenta na família e pelo bom gosto da apreciação

estética.

A convivência, na escola, de jovens de diversas raças e religiões, e de costumes dessemelhantes, proporciona a todos um meio novo e mais vasto. Os estudos comuns acostumam a todos, por igual, a um descortino de horizontes amplos que são visíveis aos membros de qualquer grupo quando este se encontra isolado. A força assimiladora das públicas americanas é eloqüente testemunho da eficácia do interesse comum bem dosado. (DEWEY,1959.p 22).

De acordo com Dewey, em sua obra Vida e Educação (1964), a escola

é um meio indireto de influir na educação dos mais novos, isto é, meios

organizados intencionalmente para influir moral e mentalmente sobre seus

membros. O objetivo da escola é ensinar a criança a viver no mundo em que se

encontra, a partir das experiências e necessidades que a criança apresenta.

A escola é uma instituição, um ambiente particular, que encontra meios

mais eficazes para orientar as crianças a utilizarem suas próprias capacidades

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para fins sociais. A educação institucional como recurso de que a sociedade

beneficia a si própria deve ser definida de maneiras sempre novas, de acordo com

o desenvolvimento da sociedade. Deste modo a escola esta inserida na vida social

da comunidade.

Para Dewey ( 1959,p.21), a escola possui três funções suficientemente

especiais. “Primeiro deve promover um ambiente simplificado”, para permitir que a

criança tenha acesso à sociedade, pois uma civilização complexa não deve ser

assimilada totalmente, unicamente; mas proporcionar um ambiente simplificado,

selecionando o que apresenta maior significado e acima de tudo despertar nos

jovens reações e em seguida uma progressão, utilizando-se dos elementos

adquiridos e em primeiro lugar como meio de conduzi-los ao sentido e

compreensão real das coisas mais complexas.

Segundo, a escola “deve organizar um meio purificado”, pois a

sociedade apresenta alguns aspectos maléficos, que exercem influência nos

indivíduos. Em uma sociedade que progride, a escola é um órgão de constante

melhoria, selecionando que a sociedade possui de melhor e usá-lo. Terceiro,

“deve promover um ambiente de integração social”. A sociedade é formada por

muitos grupos sociais, e estamos ao mesmo tempo interagindo com muitas

sociedades, ameaçando as sociedades a se dividirem e conseqüentemente os

seus membros. Dewey (1959, p.22), diz que “a escola deve ser a casa de

confraternização”, esclarecendo que a sua filosofia pedagógica é democrática,

pedindo a participação de todos.

A escola, para Dewey, além de funções possui missões, e a primeira

delas é ajudar no crescimento dos imaturos, despertando neles um desejo de

crescimento permanente, isto é, continuar aprendendo, possibilitando em todo o

encontro de sua felicidade na melhoria das condições dos outros. Para alcançar

estes objetivos, deve-se deixar de lado o hábito de considerar a inteligência como

uma condição pessoal, estudar processos de comunicação e interação para

conhecer a gênese das capacidades individuais, tratar as atividades como

elementos da organização escolar e considerar a educação como um processo

inacabado.

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A segunda missão da escola, ainda para Dewey, é dar oportunidade

aos jovens de não se algemarem com as limitações do grupo social em que

nasceram, mas abrir horizontes, entrar em contato e ampliá-los. É próprio de

quaisquer culturas convencerem os membros que a sociedade perfeita ou correta

é a sua, esquecemos que a sociedade é composta por outras, e por grupos

sociais, cada grupo que compõe a nossa sociedade, seja grupo de amigos,

família, time de futebol, grupos de negócios, são distintos entre si e pertencemos a

todos estes ou mais. Cada grupo é composto por uma idéia central e através das

idéias destes grupos nós esclarecemos dúvidas, debatemos e conceituamos

idéias, isto é, um modo de ampliarmos nossos horizontes. E a terceira missão da

escola é apontar às crianças que existem outras sociedades, e que aquela da qual

ela faz parte não é pior, ou melhor, mas, sim apenas diferente. Eis um caminho

para extinguir muitos complexos raciais.

E ainda comentando sobre a escola, não podemos deixar de analisar o

modelo de escola proposto por Dewey, a escola nova, sendo dentre muitas

características uma oposição à escola tradicional ou conservadora. Para Dewey

(1959,p 75):

A educação dita conservadora, se efetua pela instrução, tomada em sentido literal, é uma edificação feita, de fora para dentro, no espírito. Que a educação seja formadora do espírito não há nenhuma dúvida, na teoria que propomos, isso já foi afirmado. Mas a formação, na concepção que estamos a criticar tem significado técnico, importando em alguma coisa a atuar do exterior.

Na versão tradicional de educação há um método uniforme para alunos

de todas as idades, classes sociais e culturas. Suas teorias da educação se

baseiam na educação como recapitulação, como uma evolução da vida animal e

da história humana. A educação tradicional é eminentemente retrospectiva, e

abdica de uma vinculação com o presente em benefício do passado, que deve ser

aprendido e cultuado, como se a ontogênese reproduzisse a filogênese.

Conservar vivo o processo de crescimento e desenvolvimento, ”conservá-lo vivo

de modo a tornar mais fácil o conservá-lo vivo no futuro, esta é a função da

matéria verdadeiramente educação” (DEWEY, 1959.p 82).

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Não pode haver selecionamento entre o passado e o presente. O

presente inclui em si o passado e começa o futuro. O presente começa o futuro.

Segundo Dewey, a educação é a transformação direta da qualidade da

experiência. A experiência é uma significação, uma reconstrução que pode ser de

caráter pessoal ou social. Ele diz que o presente não é uma coisa que continua

depois do passado e, muito menos, uma coisa produzida por esse passado. Ele é

aquilo que é a vida ao deixar o passado para trás.

Por isso, o conhecimento do passado é de grande importância quando

esse contexto se incorpora ao presente, mas é por outro motivo. O passado é

passado justamente porque não encerra o que é característico do presente. O

passado é um grande recurso para a imaginação – ele acrescenta uma nova

dimensão à vida, mas com a condição de que seja visto como o passado do

presente, não mais entendido como outro mundo, sem relação com o presente.

“Educação é uma reconstrução de reorganização da experiência, que esclarece e

aumenta o sentido desta e também a nossa aptidão para dirigirmos o curso das

experiências subseqüentes”. (DEWEY,1959.p 82).

Dewey acredita que a educação consiste na contínua reconstrução da

experiência, concepção que se distingue da educação como “preparação para um

remoto futuro” como “desdobramento”, como formação externa e como repetição

do passado.

2.5 - A Concepção Democrática de Educação

Até aqui, a preocupação foi com a educação tal como pode existir em

qualquer grupo social. E de acordo com Dewey (1958), em sua obra A Filosofia

em Reconstrução, apresentaremos as diferenças que se produzem no espírito,

material e método de educação tal como opera, nos diferentes tipos de

organização social. Dizer que a educação é uma função social, assegurando o

direcionamento e desenvolvimento do imaturo através da sua participação na vida

do grupo ao qual pertence, é dizer efetivamente que a educação varia com a

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qualidade de vida prevalecente num grupo. Particularmente é verdade que a

sociedade que não só muda, mas que tem também o ideal dessa mudança para

se melhorar a si própria terá diferentes modelos e métodos de educação em

relação à outra que pretenda simplesmente a perpetuação dos seus próprios

costumes. Para que as idéias gerais que apresentaremos em seguida sejam

aplicáveis à prática educacional deweyana é, então, necessário fazer a

abordagem da natureza da presente vida social.

Sociedade é uma palavra com vários significados. Os homens

associam-se de diversos modos e pelos mais variados propósitos. Um só homem

envolve-se em diversos grupos, nos quais os seus associados podem ser bastante

diferentes. Freqüentemente parecem não ter nada em comum, exceto serem

modos de vida associativa. Em cada organização social maior existem numerosos

grupos menores: não só subdivisões políticas, mas também associações

industriais, científicas, religiosas. Existem facções políticas com diferentes

objetivos, grupos sociais, “gangs”, corporações, firmas, grupos fortemente ligados

por laços de sangue, e poder-se-ia prosseguir numa variedade infinita. Em muitos

estados modernos e em alguns antigos existe uma grande diversidade de

populações, com várias línguas, religiões, códigos morais e tradições. Nesta

perspectiva, muitas das pequenas unidades políticas, uma das nossas grandes

cidades, por exemplo, é um amontoado de sociedades vagamente relacionadas,

ao invés de uma comunidade inclusiva e permeável de ação e pensamento

(DEWEY,1958.p.20).

Os termos sociedade e comunidade são assim ambíguos. Têm ambos

um sentido normativo e um sentido descritivo; um significado de jurisprudência e

um significado de fato. Em filosofia social, a primeira conotação é quase sempre a

predominante. A sociedade é concebida como única pela sua própria natureza. As

qualidades que acompanham esta unidade, uma comunidade com méritos de ter

objetivos, bem-estar, lealdade aos fins públicos e simpatia, são realçados. Mas

quando olhamos para os fatos que o termo denota, em vez de confinarmos a

nossa atenção na sua conotação intrínseca, não encontramos unidade, mas uma

pluralidade de sociedades, boas e más. Homens unidos em conspirações

criminais, agregações de negócios que se servem do público ao mesmo tempo em

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que o servem, máquinas políticas unidas pelo interesse no ganho, estão incluídas.

Diz-se que tais organizações não são sociedades porque não preenchem os

requisitos ideais da noção de sociedade.

Mas o que seria então sociedade? Toda sociedade é marcada por

conflitos e possui conflitos. A resposta, em parte, é que a concepção de sociedade

foi feita tão “ideal” que deixou de ser aplicável, não tendo referência em fatos; e

em parte, que cada uma dessas organizações, não importando como se opõe aos

interesses dos outros grupos, tem algo das realçadas qualidades de “Sociedade”

que os mantêm unidos. Até mesmo entre os criminosos existe um código de

honra, e um bando de ladrões tem um interesse comum, pois respeita os seus

membros. A vida familiar pode ser marcada pela exclusividade, suspeita e ciúme

em relação aos de fora, e, no entanto, ser um modelo de amizade e ajuda mútua

entre os seus membros. Qualquer educação dada por um grupo tende a socializar

os seus membros, mas a qualidade e valor da socialização dependem dos hábitos

e objetivos do grupo.

Em diferentes tempos da história existiram muitas sociedades

humanas, e várias formas de entender a democracia. Na atualidade o

entendimento de democracia diverge da sociedade democrática grega, pois para

estes somente homens da aristocracia é que decidiam os rumos políticos e

econômicos da sociedade, mulheres, escravos e outros eram desprezados por

não serem considerados cidadãos gregos. Mas será que existe uma democracia,

isto é, um ideal democrático? Como resposta, para o filósofo (DEWEY,1958.P.93),

o reconhecimento, a aceitação grupal e a interação são elementos que apontam

para a democracia. O primeiro significa não só mais numerosos e mais variados

pontos de interesse comuns partilhados, mas maior confiança no reconhecimento

dos interesses mútuos como um fator de controle social. O segundo significa não

só uma interação entre grupos sociais, mas também mudança nos hábitos sociais,

o seu contínuo reajustamento através do enfrentar de novas situações produzidas

por variadas relações. E estas duas características são precisamente o que

caracteriza a sociedade constituída democraticamente.

Na ótica educacional, percebemos primeiramente que a realização de

uma forma de vida social nas quais os interesses são mutuamente

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interpenetrantes, e onde o progresso, ou reajustamento, é uma importante

consideração, faz a comunidade democrática mais interessante que qualquer

outra comunidade e é a razão de uma educação deliberada e sistemática. A

explicação superficial é que um governo baseado em sufrágio popular não pode

ter êxito a não ser que aqueles que elegem e obedecem aos seus governantes

sejam educados. Uma vez que a sociedade democrática repudia o princípio da

autoridade externa, necessita encontrar um substituto com disposição e interesse

voluntários; estes só podem ser criados pela educação. Dewey esclarece que “A

democracia é mais que uma forma de governo; em primeiro lugar é uma forma de

vida associativa, de experiência conjunta comunicada” (DEWEY,1958.p.93).

John Dewey comunga de algumas idéias do sociólogo alemão Max

Weber (1864 – 1920), ou este de Dewey, pois são contemporâneos. Weber ao

definir ação social esclarece que: “é qualquer atividade que o indivíduo faz

orientando-se pela ação dos outros” (TOMAZI,1993.p.20). E Dewey, ao relatar o

interesse comum, a questão da ação para a formação de uma sociedade

democrática:

A extensão no espaço do número de indivíduos que participam num interesse de modo que cada um tenha que remeter a sua própria ação à dos outros, e que considerar a ação dos outros para orientar e direcionar a sua própria é equivalente à quebra das barreiras de classe, raça, e território nacional que impede os homens de se aperceberem de toda a importância da sua atividade.

Assim, o que caracteriza a democracia é a abertura da área de

interesses partilhados, e a libertação de uma maior diversidade de capacidades

pessoais. Não são evidentemente o produto de um esforço deliberado e

consciente. Pelo contrário, são causados pelo desenvolvimento dos tipos de

manufatura e comércio, viagem, migração e intercomunicação que derivam do

comando da ciência sobre a energia natural. Mas depois de uma grande

individualização por um lado e uma comunidade de interesses mais ampla por

outro lado passarem a existir, é uma questão de esforço deliberado para mantê-

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los e estendê-los. Obviamente que a sociedade em que a estratificação em

classes separadas seria fatal, deverá ter para tal, assegurar as oportunidades

intelectuais, para que todos tenham acesso

Uma sociedade dividida em classes somente necessitará estar

especialmente atenta à educação dos seus elementos dirigentes. A sociedade,

que é maleável, onde existem muitos canais para a distribuição de uma mudança

ocorrida em qualquer lugar, deverá apontar para que os seus membros sejam

educados para uma iniciativa pessoal e na adaptabilidade da realidade. Senão,

eles serão esmagados pelas mudanças em que forem apanhados e das quais

não se apercebam do significado ou ligações. O resultado será uma confusão na

quais poucos se apropriarão dos resultados das atividades dos outros e dirigidas

para o exterior.

O filósofo grego Platão é um pensador que merece ênfase nas

reflexões de Dewey, principalmente por seu modo de propor uma sociedade

democrática, ou seja, a organização de uma sociedade democrática, e o lugar do

indivíduo na sociedade, não foi melhor exposta senão por ele. Nesta sociedade,

ele apresenta uma educação que, segundo Dewey (1958, p.95):

No entanto, Platão sugeriu uma saída. Alguns homens, filósofos ou amantes da sabedoria - ou verdade - podem aprender pelo estudo pelo menos os perfis dos modelos corretos da verdadeira existência. Se um governante poderoso formar um estado com estes modelos, então as suas normas poderão se preservadas. Uma educação poderia ser dada de modo a examinar minuciosamente os indivíduos, descobrindo aquilo para que eram bons, e fornecendo um método de atribuir cada um ao trabalho na vida para o qual a sua natureza o talhou. Cada um fazendo a sua parte, e nunca transgredindo, a ordem e unidade do todo seriam mantidas.

Mas a sociedade democrática que Platão expôs diverge do conceito

contemporâneo de democracia. Para ele, a democracia era vista como uma forma

de organizar a sociedade, pois ao propor o lugar do indivíduo na sociedade não

estava democratizando-a. A forma como ele classifica o indivíduo e a ocupação, o

lugar deste na sociedade relaciona-o aos metais e por sua ordem de valor

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(bronze, prata e ouro). E é pela educação que estes eram postos em seus lugares

na sociedade. Dewey (1958, p.95) comenta:

Mas o seu limite é fixado pela sua falta de razão, que é a capacidade de abranger o universal. Os que possuem isso são capazes do mais alto tipo de educação, e tornam-se com o tempo os legisladores do estado - visto que as leis são o universal que controla o particular da experiência. Assim não é verdade que em intenção, Platão subordinou o indivíduo ao todo social. Mas é verdade que faltando-lhe a percepção da singularidade de cada indivíduo, da sua incomensurabilidade com os outros, e conseqüentemente não reconhecendo que a sociedade pode mudar e, no entanto ser estável, a sua doutrina de poderes limitados e classes origina a idéia da subordinação da individualidade.

A sociedade que providencia a participação nos seus bens de todos os

membros em igualdade de circunstâncias e que assegura um reajuste flexível das

suas instituições, através da interação das diferentes formas de vida associativa, é

aqui democrática. Tal sociedade deve ter um tipo de educação que dê aos

indivíduos um interesse pessoal nas relações e controle sociais e hábitos da

mente que assegurem alterações sociais sem introduzirem desordem.

Como se percebe, o modelo educacional proposto por Platão à

formação de uma sociedade democrática não combina com o modelo de

democracia deweyana. O modelo platônico seleciona os cidadãos. No modelo

deweyano não pode haver seleção, pois quando se seleciona exclui-se alguns, em

um sistema democrático de educação tem-se a participação de todos.

A democracia não é só política, mas uma forma de vida, única do ser

humano. O homem é livre porque conhece, e conhece porque o mundo em que

vive é aquele qualificado e valorizado por sua própria inteligência. E essa

inteligência, está comprometida com padrões democráticos de vida. “Nossa

concepção deve basear-se em sociedades que existam realmente, de modo a

obtermos alguma exeqüibilidade de nosso Idea” ( DEWEY,1958 p.89). Dessa

consideração Dewey fundamenta o conceito de democracia em seu pensamento.

O princípio democrático baseado na idéia de igualdade e de liberdade e a ação

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humana deve estar apoiada na ação cooperativa em vista da realização do bem

comum.

O pragmatismo é uma filosofia americana que antecede o pensamento

deweyano, está presente na filosofia educacional de John Dewey, é muito

estudado e criticado por filósofos que sucederam a época deste norte-americano.

Para dar seqüência aos estudos de refletir sobre a filosofia de Dewey, examina-se

a seguir o pragmatismo do filósofo e a sua importância para o meio educacional.

2.5 - Pragmatismo e educação de John Dewey.

Estudar qualquer conceito deweyano e não analisar, entrar em contato

com o pragmatismo, teria o mesmo sentido que não estudar Dewey. O objeto de

estudo da pesquisa é o entendimento de democracia e educação em Dewey, não

é, portanto, nossa preocupação estudar o pragmatismo, mas a articulação e o

comprometimento de Dewey com este modo de pensar, por isso, faremos uma

breve análise sobre este conceito.

O pragmatismo é visto como uma filosofia tipicamente norte-americana

e não há dúvidas de que os maiores representantes do pensamento pragmático

são integrantes da filosofia americana. As raízes do pragmatismo encontram-se

em tradições filosóficas européias, o que nos impede de afirmar ser o

pragmatismo uma filosofia genuinamente norte-americana, embora em muito

configure a visão de mundo do que se convencionou chamar de americana. Entre

os partidários dessa filosofia estão Charles Sanders Peirce, William James e John

Dewey, principais teóricos e idealizadores.

Para Dewey, o pragmatismo surge com a intenção de reparar o atraso

da filosofia em relação ao mundo moderno. O mundo moderno é palco de

inúmeras revoluções. Entre elas podemos citar: a revolução científica,

protagonizada por Bacon com o método indutivo, e a fundação da ciência

moderna; a revolução industrial, ocasionada devido ao avanço do capitalismo

aliado com o desenvolvimento da ciência, e a revolução política representada pelo

pensamento democrático e pelo liberalismo. Dewey (1958.p.03) afirma:

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Uma filosofia ajustada ao presente deve tratar daqueles problemas que resultam de mudanças que se processam num setor humano-geográfico em escala cada vez mais ampla e com poder de rapidez e de penetração cada vez mais intenso; eis aí uma indicação bem marcante da necessidade que se faz sentir de uma espécie de reconstrução diversa, em todos os sentidos, daquela que está agora em evidência.

A filosofia, bem como as demais experiências humanas, segundo a

visão do pragmatismo e também deweyana devem ser reconstruídas, isto é,

pensadas sob o viés utilitário, pragmático, que até então permaneceu distante do

universo do conhecimento, uma vez que o conhecimento era visto em si mesmo

distante de sua significação útil, e ainda justificado por uma lógica racionalista que

o legitimava. Trata-se da superação das dicotomias geradas pelo dogmatismo

gnosiológico que buscava para si uma fundamentação supra-natural. Contra isso

afirma o pragmatismo a necessidade da substituição desse modelo de

dogmatismo pelo método experimental.

Pode-se dizer que o pragmatismo se iniciou com Charles Sanders Peirce

em 1878 em um artigo intitulado “Como tornar clara as idéias”, em Popular

Science Monthly em janeiro daquele mesmo ano (James, 1974), mas Willian

James foi que primeiro formulou o pragmatismo. Não só nos primeiros tempos,

mas também posteriormente, a doutrina do pragmatismo suscitou grandes

polêmicas. Houve inclusive profundas diferenças entre James e Peirce,

especialmente no referente às idéias religiosas. Para James, a verdade não é

algo eterno, um conceito universal, mas o que esta encadeado com determinada

circunstância ou momento sendo passível de mudança, ao passo que Dewey só

admitia o que funcionava, o que produzia efeitos, esclarece Schmitz (1980 p.2)

A principal diferença entre o pragmatismo de Peirce e o pragmatismo de James surge do fato de que o ponto de vista de Peirce é lógico, ao passo que o de James é psicológico. Enquanto Peirce procurava a significação duma proposição nas suas conseqüências lógicas e experimentalmente testáveis, James procurava sensações ou reações mais imediatamente sentidas.

Nas leituras das obras de Willian James e John Dewey não podemos

deixar de verificar que muitas vezes ambos se dirigem a uma figura obscura e

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difusa, que estava por detrás dos palcos acadêmicos, agradecendo-lhe o fato de

ter-lhes sugerido algumas das suas importantes idéias. Willian James muitas

vezes prestou agradecimentos, e a ele declarava que deveria a sua posição

filosófica, e até o nome a sua filosofia, a esse misterioso e desconhecido. Foi nele

que Dewey foi buscar alguns de seus pontos de partida fundamentais. Esta figura

que esteve por detrás de James e Dewey, esse mestre intelectual era Charles

Sanders Peirce.

Wese H.B Van (1966,p.37), expressa a importância e o apreço que

Dewey e James têm por Peirce:

Ambos reconheceram abertamente tudo quanto lhe deviam. Willian James chegou até a tentar fazer com que Peirce saísse da obscuridade em que se encontrava. Dewey saltava sempre em sua defesa quando alguém, segundo ele pensava, interpretava erroneamente os escritos de Peirce. “Todos aqueles que se referem às obras de Peirce”, disse Dewey rispidamente, “deviam respeitar o que ele diz ou deixá-lo em paz.

Dewey, portanto, é uma das três figuras centrais do pragmatismo nos

Estados Unidos, ao lado de Charles Sanders Peirce (que criou o termo), e William

James (que o popularizou). Mas Dewey não chamava sua filosofia de pragmática,

preferindo o termo “instrumentalismo”. Sua linha filosófica era de influência

fortemente Hegeliana e Neo-Hegeliana. Ao contrário de William James, que

seguia uma linha positivista inglesa, ele era particularmente empírico e utilitarista.

Dewey também não era tão pluralista ou relativista como James. Ele dizia “a

natureza é essencialmente saudosa e patética, turbulenta e passiona” (DEWEY

,1971.p45).

2.7 - Filosofia da Educação

A filosofia proposta por Dewey é uma filosofia da educação, segundo o

filósofo americano John R. Shook, Dewey, “é especialmente lembrado por sua

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filosofia da educação e por sua filosofia social, que formam a base de todo o seu

pensamento” (SHOOK, 2002.p.135). Como se pode ler em Democracia e Educação, Dewey tenta sintetizar,

criticar e ampliar a filosofia e a sua educação democrática, contida em Rousseau e

Platão. Enquanto Rousseau tinha uma visão que se centrava no indivíduo, Platão

acentuava a influência da sociedade na qual o indivíduo se inseria. Dewey

contestou esta distinção, pois concebia o conhecimento e o seu desenvolvimento

como um processo social-integrando os conceitos de sociedade e indivíduo. Para

ele, o indivíduo somente passa a ser um conceito significante quando considerado

parte inerente de sua sociedade, enquanto esta nenhum significado possui, se for

considerada à parte, longe da participação de seus membros individuais.

Para tanto, aponta a estruturação de seu pensamento em Democracia e

educação em três grandes partes: 1) Educação como necessidade e função

social. O critério democrático é utilizado na intenção de educar para a democracia

através da reconstrução da experiência. 2) Aumento da significação da natureza e

do seu conteúdo social. Sintonizar a educação com a natureza, e extrair dela

conhecimentos que favoreçam a melhoria da vida dos indivíduos e da sociedade.

3) O critério democrático e sua aplicação à vida social. Apresenta o seu ideal de

uma sociedade não dividida em classes. Os principais dualismos combatidos no

pensamento deweyano são: trabalho x lazer, homem x natureza, individualidade x

associação e cultura x vocação. Assim, Dewey (1958,p.357) afirma que:

A respeito da matéria a filosofia é uma tentativa de compreender, isto é, reunir as várias particularidades do mundo e da vida em um todo único que seja uma unidade, ou, como nos sistemas dualistas, reduzir a pluralidade de particularidades a um número pequeno de princípios finais.

A filosofia é a sabedoria dando direção à vida, ela deve conduzir a um

modo de viver inteligente e sábio. Para exemplificar, Dewey cita as antigas

escolas filosóficas gregas, onde a filosofia como um modo de vida era proposta. A

filosofia é um ato de pensar e não conhecimento. Deve, portanto, levar em conta a

totalidade da experiência humana que significa a continuidade deste modo, Dewey

(1958,p.359),sintetiza:

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Filosofia é pensar o que aquilo que é conhecido requer de nossa parte – qual atitude de correspondência ele exige. É uma idéia do que é possível, e não um registro de fatos consumados. Por essa razão é hipotética, assim como todo o ato de pensar.

A atitude filosófica assinala algo a ser experimentado. Ela não

proporciona soluções, sendo este o papel da ação. A filosofia analisa as

dificuldades e métodos de ação que devem estar em unidade com as

necessidades da vida. Pois se não há necessidade de vida, não há necessidade

de filosofia, onde as necessidades são reais e não superficiais, assim ela deve

instigar respostas concretas. Procura ainda harmonizar conflitos, já que nas

palavras de Dewey uma filosofia “caseira” é legítima, por essa expressão quer

dizer um tipo de pensamento que responde às exigências práticas da vida. “Não

se pode esperar que uma casta dominante e que vive em meio ao conforto

conceba uma filosofia igual à da casta que luta penosamente por sua

subsistência” (DEWEY,1958,p.360).

A filosofia como um ato de pensar unificador que se dá a partir da

continuidade da experiência é uma forma de representação social. A reflexão

filosófica dos empobrecidos não equivale a das elites. Existindo essa dualidade

Dewey vê no pensamento democrático a solução para tal problema. Numa

sociedade onde desapareçam as classes que a dividem o pensamento tende a se

unificar contemplando a pluralidade por meio da democracia. Para Dewey

(1958,p.362), a democracia é antes de qualquer coisa um modo de vida:

Se quisermos conceber a educação como o processo de formar atitudes fundamentais, de natureza intelectual e sentimental, perante a natureza e os outros homens, pode-se até definir a filosofia como ‘teoria geral da educação.

A afirmação deweyana de que “a filosofia é a teoria geral da educação”,

é muito utilizada pelos estudiosos do filósofo e educador norte-americano. Ao se

referir nestes termos à relação da filosofia com a educação podemos entender que

filosofia tem a responsabilidade de analisar, avaliar e problematizar os métodos de

ação educativos adotados pela pedagogia.

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A filosofia oferece à educação o pensamento sistematizado que emerge

da aplicação de métodos de ação. “A educação é o laboratório onde as distinções

filosóficas são concretizadas e postas à prova” (DEWEY,1958.p.377). A questão é

paradoxal: como a filosofia analisa os métodos de ação educativos, investigando o

seu valor, igualmente a educação põe em prática as teorias filosóficas, isto é, se

serve delas para a aplicação pragmática e educativa, o que por sua vez se faz

uma prova à validade de uma proposta filosófica.

Analisamos, neste capítulo, as principais categorias de Dewey, de acordo

com o objetivo proposto no início deste trabalho, tornando este capítulo a base

fundamental para o entendimento do desenrolar desta pesquisa. O homem como

expressou Dewey, é um ser “biológico”, que interage com o seu meio

continuamente. Nesta interação ele troca e recebe experiência, e nesta troca

forma e constrói com os outros a sua sociedade, a democrática. O conceito

deweyano de democracia não deve ser entendido no sentido político, ele pensa a

democracia como modo de vida, de relações entre as pessoas, num modo como

as pessoas se organizam. Assim, Dewey propõe que a educação deve ser

progressiva, um crescimento constante da vida, na medida em que o conteúdo da

experiência vai sendo aumentado, assim como o controle que podemos exercer

sobre ela.

Tendo o conceito de experiência como fator central de seus pressupostos,

chega à conclusão de que a escola não pode ser uma preparação para a vida,

mas, sim, a própria vida. Assim, para ele, vida, experiência e aprendizagem estão

unidas, de tal forma que a função da escola encontra-se em possibilitar uma

reconstrução permanente feita pela criança da experiência.

A pedagogia de Dewey apresenta muitos aspectos inovadores,

distinguindo-se especialmente pela oposição à escola tradicional. Sua teoria

representa plenamente os ideais liberais, sem se contrapor aos valores

burgueses, acabando por reforçar a adaptação do aluno à sociedade.

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3 – A CONCEPÇÃO DEWEYANA DE EXPERIÊNCIA DEMOCRÁTICA

EDUCACIONAL EM ANÍSIO TEIXEIRA

3.1-Experiência no Pensamento de Anísio Teixeira

Para compreender a importância do pensamento de Dewey no Brasil hoje,

é imprescindível analisar a sua principal via de ancoragem no pensamento

nacional, através de Anísio Teixeira, em torno da concepção de experiência. Para

isso, parece oportuno analisarmos elementos biográficos e do contexto de

inserção do autor, pois somente deste modo compreenderemos as suas idéias.

Esclarece-se, no entanto, que o objetivo desta etapa da pesquisa não é tão

somente compreender o pensamento de Teixeira, mas como ele aporta a teses

educacionais de Dewey, isto é, identificar a presença de Dewey em suas idéias,

para se chegar a este, que é o centro da nossa pesquisa, analisaremos o cenário

cultural, histórico, político e econômico do Brasil a partir de meados do XIX até a

primeira metade do século XX. Todas estas mudanças no país vão pedir um novo

sistema educacional, tendo imensa participação do nosso filósofo educador

professor Anísio Teixeira.

Todo o pensamento anisiano está estruturado no desejo de construção de

um modo de vida mais justo a todos os indivíduos. Anísio Teixeira almejava a

instauração da sociedade democrática como tendência e solução para o Brasil

que vivia transformação significativa desde o final do século XIX: processo de

industrialização, urbanização acelerada e formação da classe média urbana, entre

outras. Ao mesmo tempo que tais mudanças implicavam idéias de crise e conflito,

vinham acompanhadas da idéia de progresso. Para Anísio, o progresso podia ser

percebido claramente nas transformações materiais do mundo, uma vez que trazia

maior conforto ou comodidade ao ser humano.

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São as casas maiores e mais confortáveis. É o transporte mais rápido e mais barato. São ruas mais bonitas. É a diversão mais interessante e mais acessível. É a luz e água mais fáceis e melhores. São os jornais e as publicações mais numerosas e mais bem feitos (TEIXEIRA, 1930a, p. 8)

Entretanto, ele esclareceu que a noção de progresso é muito mais

abrangente do que a simples transformação material do mundo; é resultado do

desenvolvimento da ciência envolvendo também transformações morais, políticas

e sociais. As sociedades, antes da intensa aplicação da ciência, eram estáveis, ou

seja, estruturavam-se em verdades absolutas e inabaláveis. Diz-se “intensa

aplicação da ciência”, porque a ciência está em desenvolvimento desde o século

XVI, com o surgimento do método experimental, preconizado por Bacon. No

entanto, tal desenvolvimento e aplicação ocorreram em ritmo menos acelerado no

período que antecedeu a Revolução Industrial. Portanto, na modernidade, a

valorização e a utilização sistematizada da ciência trazem a ruptura de

paradigmas inflexíveis até então estabelecidos, buscando a adequação de

mentalidade à nova ordem de valores. O que se torna estático, flexível e dinâmico

e o ser humano tende, moral e socialmente, a acompanhar tal movimento. A

transformação científica, e conseqüentemente material, desencadeia uma nova

relação entre ser humano e mundos: físicos, moral e social, estabelecendo, desse

modo, a idéia de que a verdade é provisória, pois está submetida a

questionamentos, à verificação.

O fato é que a ciência trouxe consigo uma nova mentalidade. Primeiro, determinou que a nova ordem de coisas de estável e permanente para dinâmica. Tudo está a mudar e a se transformar. Não há alvo fixo. A experimentação científica é um método de progresso literalmente limitado... Tudo o que ele (o homem) faz é um simples ensaio. Amanhã será diferente. (TEIXEIRA, 1930a,p.9)

De acordo com Henning (2001,p.65), a visão anisiana do papel da

ciência avaliou que esta trouxe indiscutíveis mudanças “no perfil dos

agrupamentos humanos”. Tais mudanças, primeiramente, consistiram na

elaboração de novos métodos para a compreensão e resolução dos problemas

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mundanos, “passando do mero empirismo para o conhecimento científico

propriamente dito”, ou seja, da observação e especulação o ser humano

necessitou de novas descobertas por meio da “possibilidade de comprovação e

repetição”. Como resultado desse processo houve, além da alteração dos

“conhecimentos acumulados e sistematizados”, mudança nas práticas humanas:

“das práticas puramente contemplativas e empíricas para práticas de intervenção,

de participação, de controle, de renovação e de descobertas”.

Para Teixeira, o desenvolvimento científico na modernidade traz a idéia

de progresso, que necessariamente sugere idéia de movimento, de processo.

Processo, por sua vez, implica a idéia de utilização da verdade como instrumento

colocado a serviço dos fins a serem atingidos, desde que sujeita a questionamento

constante. Desse modo, os “velhos” paradigmas sociais e morais – entre outros a

organização das classes sociais e a educação submetem-se à reflexão, uma vez

que a sociedade é um conjunto de “micros-sociedades”, é colocado sob o

processo de revisão, todo conjunto societário acaba por sofrer questionamentos

e/ou transformações, seja de forma intencional e organizada, seja de forma

inconsciente e desorganizada.

Para Cunha (2001b,p.88), autor que será analisado no próximo

capítulo, a concepção de progresso e de suas conseqüentes transformações

permearam o pensamento de Anísio Teixeira por toda a sua trajetória. Na década

de 1930, Teixeira acreditava com convicção e entusiasmo ferrenho na capacidade

do ser humano em optar por uma sociedade comprometida com o

desenvolvimento de todos os indivíduos. Menos ingênuo e otimista, observou, na

década de 1950, que o ser humano alcançou importantes conquistas científicas,

contudo, desprezou as condutas intelectual e moral, restringindo-se a conquistas

físicas (TEIXEIRA, 1958b, p.6).

A desvinculação entre o progresso material e o progresso humano

ocorre pelo fato do ser humano, apesar de mais hábil quanto ao domínio do

mundo físico, não estabelecer relação ética e moral com a utilização da ciência;

ele manipula segundo interesses particulares. Ora, a aplicação da ciência tem

certamente implicações sociais, pois submete material, moral e socialmente as

suas conquistas e retrocessos. Havendo comprometimento de interesse e de

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poder no campo científico, estabelece-se uma sociedade parcial, sem

planejamento coletivo e, conseqüentemente, desorganizada, considerando que ela

é produto humano. Anísio compreende que a incorporação dos produtos da

ciência no mundo do senso comum tem acontecido de forma “desintegradora”, o

que produz um “estado de confusão”, por não ser acompanhada por um processo

de “mudança de atitudes, crenças e métodos intelectuais” (TEIXEIRA,1955,p.7).

Nesse contexto de desarticulação entre desenvolvimento científico e

desenvolvimento humano, o educador caracterizou a civilização moderna como

período de “tumulto material” e conseqüente “tumulto social”.

Só muito recentemente é que o impacto de pensamento humano, da obra deliberada do homem na transformação do seu habitat e dos seus meios de trabalho veio a universalizar-se e a tornar possível mudança na vida de todos e de cada homem no planeta. Não é difícil imaginar, assim, a extensão com que se libertaram, em toda espécie forças e esperanças e com que se reduziram inibições e resignações antes tão sólidas que pareciam imutáveis. Ao tumulto material sucedeu-se então o tumulto social, em que nos achamos imersos e suscita as vozes do desalento e desencanto tão característico dos dias que correm. (TEIXEIRA, 1958b, p. 6).

Nesse mesmo texto, o autor apontou duas atitudes possíveis a serem

seguidas diante da situação conturbada: “a criação de condicionamentos sociais

irracionais de ajustamento à condição de opressão e pobreza antiga” e a criação

de condicionamentos sociais racionais para a condução das sociedades, ou seja,

a formação de indivíduos capazes de estabelecer uma nova generalização do

conhecimento humano e de aplicação do método científico a todos os setores da

vida humana, o que poderia ser concebido como “uma nova etapa na evolução do

homem” (TEIXEIRA,1958b,p.6). Assim sendo, observou que:

Temos, em relação ao mundo físico, aplicado corajosamente o método científico. Mas em relação à conduta própria do homem, conservamos os velhos métodos pré-científicos de simples condicionamento mecânico e irracional... Toda a ciência se fez materialista, com uma natureza casualmente determinada e indiferente e um homem, dia a dia, mais hábil no domínio dessa natureza, mas também cada vez mais discípulo de sua ausência de plano e de propósito. (TEIXEIRA, 1958b, p. 6).

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Percebe-se, então, que o filósofo renovador, como é chamado hoje por

aqueles que se dedicam a estudar o seu pensamento, termo também utilizado por

Cunha(2001), não atribuiu aos resultados da ciência a razão pela desordem e pela

complexidade das civilizações modernas. Defendeu que o equívoco está no

dualismo entre homem e natureza, sendo que não é o homem que se integra à

natureza, ao contrário, age sobre ela. Voltado para a conquista, para o poder e

acúmulo de riquezas, desvincula-se de aspecto fundamental e primitivo: sua

condição social e cultural.

Levando em consideração que as verdades absolutas ditas nos séculos

passados pela teologia e filosofia já não atendem mais à flexibilidade da

sociedade moderna e industrializada, verdades questionáveis e prováveis, ou seja,

a verdade do método científico, Teixeira sugeriu que o homem pensasse seus

valores e estabelecesse uma relação autônoma e responsável com a ordem

social. Para tanto, diante dos avanços da ciência e conseqüentemente a

transformação de mentalidade, as sociedades deveriam ser orientadas para que

não ocorresse a reafirmação das desigualdades sociais e tampouco a

permanência do homem comum no estado pré-científico.

O fato da ciência trouxe consigo uma nova mentalidade. Primeiro, determinou que a nova ordem das coisas de estável e permanente passasse a dinâmica. Tudo esta a mudar a se transformar. Não há alvo fixo. A experimentação cientifica é um método de progresso literalmente ilimitado. (TEIXEIRA, 1930, p9)

Diante de tal fato, Teixeira se mostrava preocupado com o rumo a ser

tomado pela civilização moderna, lutou e defendeu a instauração de um modo de

vida no qual todos os homens se sentissem responsáveis pelo bem estar-social e

desenvolvessem suas aptidões e também o seu desenvolvimento econômico para

colocar-se no mundo de forma digna materialmente: moradia, saúde, educação,

no qual todos os indivíduos pudessem participar ou mesmo desfrutar de suas

conquistas e de benefícios, por meio do comportamento e da responsabilidade

com seu grupo, com a civilização de um modo geral, em síntese uma sociedade

democrática, mas a pergunta que tange a pesquisa neste momento é: o que é

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democracia e educação para Anísio Teixeira? É o que estaremos tratando a

seguir.

3.2- O que é Democracia e Educação para Anísio Teixeira: reflexos da

presença de Dewey.

De acordo com os nossos estudos até o momento sobre este educador

brasileiro, o que podemos perceber é que a visão de Teixeira sobre filosofia da

educação é a de John Dewey, adaptada ao Brasil. Ela está elaborada no livro

citado, Pequena introdução à filosofia da educação (1967). Todavia,

metodologicamente, as relações entre filosofia e educação foram mais bem

expostas em um breve artigo que se encontra na internet para pesquisa, feito por

ocasião do centenário de nascimento de John Dewey, em 1959. Fundamentado

em John Dewey, ele esclareceu que democracia não é apenas um modo de

governo e sim um modo de vida social, na qual “cada indivíduo tem oportunidade

de expressão máxima de seus valores” (TEIXEIRA,1930,p14), assim como dever

de exprimir-se, sobretudo, no modo de vida compartilhada, estruturada na ética,

uma vez que nesse modo de vida cada indivíduo tem importância fundamental no

processo de reconstrução de valores sociais

A sociedade democrática é a sociedade em que haja o máximo de comum entre todos os grupos e, por isto, todos se entrelacem com idêntico respeito mútuo e idêntico interesse. As relações entre todos os grupos e o sentimento de que todos têm algo a receber e algo a dar emprestam à grande sociedade o sentido democrático e lhe permite fazer-se o meio do desenvolvimento de cada um e de todos. (Teixeira, 1956, p7)

Teixeira pretendia ultrapassar a oligarquia brasileira, sua vontade era levar

o Brasil para a modernidade. Lembramos que neste momento o país estava

voltado para os interesses da aristocracia brasileira. Segundo Teixeira, a

aristocracia brasileira é resultado da estrutura social colonial portuguesa, origem

do processo da civilização no Brasil, o que impossibilita o desenvolvimento de seu

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senso de responsabilidade social por descender de um poder concedido, e não

conquistado. Ele estava em busca de uma sociedade soberana e, portanto,

independente, que progredisse. Insistiu na conscientização das elites, afirmando

que somente por meio da superação dessa mentalidade “retrógrada” e da

descentralização do poder o país ingressaria em processo de desenvolvimento

social e poderia então abrir área para implantação de uma sociedade

de pares, em que os indivíduos, a despeito das diferenças individuais de talento, aptidão, ocupação, dinheiro, raça, religião e mesmo posição social, se encontrem associados, como seres humanos fundamentalmente iguais, independentes mas solidários (TEIXEIRA,1956,p15)

Teixeira acreditou na democracia como “imperativo moral”, como

possibilidade de os seres humanos se associarem convictamente, de forma

organizada e planejada, a favor do desenvolvimento geral da sociedade. O que

levou Teixeira a defender a organização e planejamento da sociedade

democrática foi

O aumento do poder dos governos se vem fazendo tão intenso, com o crescimento de sua organização burocrática, que tornaria indispensável a máxima competência por parte dos governantes, a fim de se evitar a injustiça e a desordem (TEIXEIRA, 1958,p13)

Teixeira percebeu que não era viável estabelecer espontaneamente

relações morais e sociais na ética, na igualdade e na participação social. Desse

modo, o filósofo desenvolveu seu pensamento estruturado na crença de que a

educação não é o único meio eficaz para o planejamento e organização para a

construção de uma sociedade democrática. Neste momento podemos perceber

uma divergência entre o pensador brasileiro e o seu mestre, pois Dewey

acreditava que o único meio era a educação.

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A sociedade democrática não é algo que exista ou tenha existido, nem é algo a que tenda o homem por evolução natural. ... a sociedade democrática não pode, por natureza, ser espontânea. Nenhuma organização social o é ... Foi e é uma opção, e só se realiza ... por um tremendo esforço educativo.(TEIXEIRA,1956,p15-16).

Nunes (2003,p.31), nos aponta outra divergência entre Dewey e Teixeira,

quando trabalha sobre a democracia para os dois pensadores:

Anísio Teixeira não assimilou Dewey incondicionalmente. Ao contrário dele, que acreditava no pleno êxito das reformas educativas em países pouco desenvolvidos pela ausência de tradições culturais aí arraigadas, Anísio Teixeira conhecia e denunciou criticamente a força dessas tradições na sociedade brasileira. Ao contrário de Dewey, que em nenhum momento indicou, na sua vasta obra, quaisquer medidas de aferição de inteligência ou de escolaridade, Anísio Teixeira aplicou-as nas escolas da rede pública, na década de 1930. Se Dewey permaneceu como pensador independente, não se filiando a qualquer partido, para defender a reforma do governo municipal carioca, Anísio Teixeira chegou até a redigir um programa partidário. Se Dewey nunca entrou na polêmica entre escola confessional e escola pública, Anísio Teixeira mergulhou, em cheio, nela. Anísio Teixeira assumiu também a crítica deweyana dirigida tanto à escola tradicional quanto à escola nova, o respeito ao pluralismo e um pragmatismo temperado pela sua formação em colégios jesuítas e sua experiência na política regional. ( Nunes, 2003)

Em uma sociedade democrática não pode existir um homem que tenha

interesses próprios, que diz respeito somente ao seu status, que possua um saber

que possa ser útil somente a ele, ou seja, torná-lo somente sábio. O homem

democrático é um sujeito capaz de desenvolver suas especificidades individuais,

mas, porém, ciente da sua importância e de sua repercussão no âmbito social. A

noção de individualidade não é inata, ela deve ser construída. Diante disso,

Teixeira acreditava que a escola seria o lugar adequado para o desenvolvimento

da capacidade de o indivíduo de estar e atuar no seu grupo social, ou seja, para o

desenvolvimento da capacidade de construção de uma sociedade estruturada na

vida compartilhada. Nela o indivíduo adquire valores, e no momento que esses

valores passam a estruturar-se na ética, na participação, na solidariedade e,

ainda, no conhecimento científico, torna-se possível formar um indivíduo integrado

à coletividade.

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O objetivo da escola anisiana é desenvolver uma educação que respeite as

características individuais, levando para a sociedade como ser único, e como

parte participativa de um todo a ser construído – a sociedade democrática.

Teixeira acreditava que tal objetivo não era uma tarefa simples, uma vez que a

escola nasceu com e para a aristocracia, e assim encontrava-se impregnada de

valores de poder, domínio e status, mas não era uma tarefa impossível.

Teixeira, de acordo com Nunes (2003), era a favor de uma escola primária

organizada e séria, com seis anos de estudo nas áreas urbanas e quatro na zona

rural, destinada à formação básica e comum do povo brasileiro; de uma escola

média em que a língua, a civilização nacional e a ciência fossem os verdadeiros

instrumentos de cultura do aluno.

A aplicação dos recursos públicos assegurados pela Constituição à

educação à luz de dois critérios básicos: assegurar a cada brasileiro o mínimo

fundamental da educação gratuita e de somente custear com recursos públicos a

educação pós-primária de alunos escolhidos em competição por esforço e

inteligência. Declarava-se, enfim, a favor de uma educação voltada para o

desenvolvimento, que realmente habilitasse a juventude brasileira à tomada de

consciência do processo de autonomia nacional.

Teixeira a exemplo do que fizera Dewey, critica a escola tradicional, pois ela

reproduzia a sociedade aristocrática e conservadora de seu tempo, não

desenvolvia a atitude crítica, não dava espaço para elaboração de um pensar

questionador, limitava-se à conservação dos valores existentes, por meio da

transmissão do conhecimento sistematizado e de normas disciplinares,

impossibilitando o desenvolvimento de indivíduos. Frente a este cenário, a escola

era vista por ele como “suplementar e preparatória” (TEIXEIRA,1930,p17). Nesse

tempo acreditava-se que educação se fazia no lar e na vida social, estava

preocupada a escola, além do que já foi dito, em fornecer instrumentos de cultura

para os indivíduos como: ler, escrever, contar, informar fatos da natureza livresca,

e atuar como instrumento de controle social.

Segundo Teixeira (1930,p17), a escola precisava estar além do seu

papel de transmissora de conteúdos, deveria fornecer aos indivíduos

conhecimento elaborado, um meio no qual o educando exerceria funções como

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indivíduo integrado a um âmbito mais amplo; onde seria então este meio? A

sociedade onde ele se encontra. Se, para Dewey, a escola tem como função

oportunizar ao indivíduo possibilidades de superar os limites do ambiente social

em que vive entrando em contato com ambiente mais amplo, para Teixeira a

escola não deveria assumir papel parcial na sociedade. A escola anisiana tinha o

objetivo de formar o homem novo, no sentido de estar integrado ao mundo

moderno e industrializado, um homem sensível à realidade vivida coletivamente e

capaz de transformá-la.

Além de formar indivíduos cultos, ele pretendia que a escola atuasse

pautada na concepção de cultura enquanto conjunto de saber sujeito à dinâmica

moderna em constante transformação, que auxiliaria seus educandos, enquanto

indivíduos inseridos no seu grupo de forma ativa, na aquisição de modos eficazes

de enfrentamento da realidade, de seu aspecto mais simples ao mais complexo.

De acordo com as nossas leituras dos escritos Teixeira, podemos afirmar

que ele objetivava alcançar uma sociedade mais bem preparada tanto em nível

intelectual como moral. A educação anisiana partiu do princípio de que a condição

de igualdade natural e a história de vida de cada indivíduo deveriam ser

reconstituídas e integradas a um âmbito mais amplo: o social. As orientações

educacionais democráticas e a transmissão de conhecimento acumulado ao longo

dos tempos não são suficientes para a transformação da mentalidade dos

indivíduos.

A escola deve constituir-se democraticamente desde a sua estrutura

organizacional até as suas relações entre os indivíduos, uma vez que a

experiência democrática é sempre uma experiência de relação entre passado e

presente com projeção do futuro. Essa correspondência aumenta o grau de

compreensão e de operação do indivíduo em seu desenvolvimento emocional,

intelectual e moral, formando assim um ser possuidor de cultura, de conhecimento

que o tornará mais humano e, conseqüentemente, o conduzirá à maior

participação social.

De acordo com Teixeira (1956, p14), não basta somente à transformação

da escola. É necessário que todo corpo escolar, professores, diretores e toda

administração escolar aceitem o princípio democrático, que consiste no postulado

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que cada um dos participantes da experiência escolar tem mérito pessoal bastante

para ter voz. O programa escolar tem grande importância no processo

educacional democrático anisiano; além do fornecimento de conhecimentos

conquistados durante a história da civilização humana, elemento fundamental para

a superação do senso comum, o programa deve constituir-se de atividades

comuns a todos os educandos, de modo que seja possível o intercâmbio de

experiências sociais e éticas, que permitam a convivência orientada

democraticamente. A troca de experiências é fundamental para a formação de

uma nova sociedade democrática.

Assim como Dewey, Teixeira acredita que o postulado que faz o

intercâmbio entre educação e democracia é que “todos os homens são

educáveis”.

A democracia é um modo de vida a ser construído, deve ser traçado um

programa de educação estruturado em concepções e relações democráticas. A

educação, como único meio viável para instauração da ordem democrática,

segundo os pensamentos deweyano e anisiano, deve ser elaborada, então, de

forma “intencional e organizada” (TEIXEIRA,1956,p.3). Procurando viabilizar a

educação democrática, Teixeira propõe a conciliação entre filosofia e ciência e a

filosofia se encarrega de dar esclarecimento da realidade.

Tal união é necessária, sendo que educar não é ciência, mas arte, no

pensamento anisiano. A arte se vale da ciência e dos métodos científicos, exigindo

o desenvolvimento da capacidade humana de aplicação de tais conhecimentos e

métodos diante da dinâmica e variáveis de sua prática, o que caracteriza com “

modos de fazer” (TEIXEIRA,1956,p.3). Sabemos que no processo educativo não é

possível aplicar “leis e fatos laboratoriais” de forma mecânica. Assim, a ciência se

vale de mantenedora de melhores recursos para o desenvolvimento do trabalho

educativo, tomando-o mais eficiente.

Teixeira ou o educador renovador, com era chamado, elaborou o seu

pensamento embasado em John Dewey visando à criação de condições

favoráveis de desenvolvimento “inteligente, e controlado, contínuo, e sistemático”

(TEIXEIRA,1957,p.7), para que se alcançasse o progresso em educação. Os

instrumentos necessários, e básicos, na concepção educacional de Teixeira são

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as implantações do método cientifico em educação e a capacidade reflexiva e de

construção humana de aplicação desses conhecimentos, submetendo assim o

processo educativo à análise objetiva, à investigação, à verificação.

No processo de adaptação das ciências para o campo educacional, os

resultados do trabalho educativo se tornaram meramente quantitativos. Desse

modo, Teixeira propôs que as ciências aplicadas em educação não fossem

tomadas como leis e técnicas inflexíveis e mecânicas e, sim, que assumissem

papel instrumental, isto é, que fornecessem elementos para a elaboração de

técnicas e procedimentos sistematizados, porém sujeito à adequação para o

aprimoramento criativo dessa prática. Para Teixeira, a prática educativa deve ser

composta por quatro elementos fundamentais:

1º - a filosofia concebida por valores e aspirações do educador;

2º - a cultura e a civilização na qual esta inserida;

3º - o pensamento humano em métodos e resultados;

4º - o auxílio das ciências.

Desse modo, o universo prático da educação exige a subordinação do

saber ao interesse humano, elaborando assim a aplicação do conhecimento

científico em ação transformadora, imaginativa e criadora (TEIXEIRA,1957,p.11).

É diante destes pontos que se firma a aproximação entre ciência e filosofia no

campo educacional:

A realidade é que a filosofia e a ciência são dois pólos do conhecimento humano, a filosofia representada o mais alto grau do conhecimento geral e a ciência tendendo para o mais alto grau de conhecimento especial. Entre ambas tem de existir um comércio permanente, a ciência revendo-se à luz dos pressupostos e conceitos generalizados da filosofia (TEIXEIRA,1957, p.15).

De acordo com Teixeira (2000,p.166-167), sobre a distinção fundamental

entre filosofia e ciência, à filosofia cabe buscar o “sentido íntimo e profundo das

coisas”, logo, a filosofia está estreitamente vinculada aos valores e sentidos da

compreensão e da interpretação de mundo. A ciência, por sua vez, tende ao

conhecimento especializado, vincula-se a verdades possíveis de verificação e

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comprovação, distanciando-se assim do caráter geral e universal da filosofia.

Desse modo, a filosofia e ciência devem caminhar lado a lado uma vez que:

“ambas elaboram, criticam e refinam os fins e os meios, pois uns e outros sofrem e precisam sofrer tais processos de crítica e revisão, a ciência criando muitas vezes novos fins com as suas descobertas e a filosofia permanentemente os meios à luz dos fins que lhe cabia descobrir e propor à investigação científica” (TEIXEIRA, 1957, p. 16).

Deste modo, a cooperação entre ciência e filosofia na educação, na visão

anisiana, evitaria o desenvolvimento de aspectos quantitativos e mecânicos, ou

seja, tornaria possível a aplicação flexível de leis cientifica no processo educativo,

caracterizando assim a prática pedagógica. A educação no pensamento anisiano

como agente de contínua transformação e reconstrução social, ou ainda, como

colaboradora da constante reflexão e revisão social frente à dinâmica e à

mobilidade da sociedade democrática.

Oposto à filosofia educacional tradicional, por fundamentar-se na disciplina

e no modo de julgar o processo, Teixeira estabelece algumas metas a serem

seguidas pela escola para que se efetue a educação democrática

(TEIXEIRA,1956, p13). Em um primeiro momento, fez a ressalva de que a escola,

como instituição deve organizar-se de forma a proporcionar ao indivíduo um meio

apropriado à revisão e integração de suas experiências, no sentido de fazê-lo

participante inteligente e ajustado de uma sociedade de todos e para todos, em

que o respeito e interesse pelos outros se estendam além das estratificações

sociais e de grupo. É o indivíduo membro de sua comunidade, do seu país, de

toda a humanidade.

Como base necessária ao processo democrático, a comunidade escolar

deve eliminar-se de qualquer preconceito e de impulsos de poder e dominação e

formar-se, sobretudo, como espaço de desenvolvimento humano geral. Neste

âmbito, faz-se necessário entender o que Teixeira quer expressar na relação

“saber das coisas” e o “saber sobre as coisas” (1956 p.10). De acordo com o

filósofo, o saber das coisas está vinculado às práticas educacionais tradicionais

aristocráticas, onde predomina a formação de indivíduos “dóceis e obedientes”,

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possuidores de um conjunto de conhecimentos, técnicas e regras morais

destinados à reprodução da ordem social estabelecida. Em uma ótica distinta, o

saber sobre as coisas é o objetivo da educação democrática, consiste na

aquisição de conhecimentos científicos que visa à capacitação dos indivíduos para

resolver os problemas humanos de forma criativa e inteligente, por meio da

assimilação, no seu sentido mais amplo e de verdadeira interiorização. O saber

sobre as coisas é a oportunidade de vivência de experiências formadoras,

construtoras e transformadoras.

A organização democrática da instituição escolar apresentou um aspecto

fundamental a ser considerado: a escola deve fornecer ao indivíduo o sentido de

independência e responsabilidade, valendo-se de elementos que proporcionarão o

seu crescimento enquanto pessoa ou, melhor ainda, enquanto cidadão. Até o

momento vemos que Teixeira faz critica a escola tradicional e seu aprendizado,

mas o que é aprender para ele na escola renovadora?

Aprender significa ganhar um modo de agir... Nós aprendemos, quando assimilamos uma coisa de tal jeito, que chegado o momento oportuno nós sabemos agir de acordo com o aprendido. A palavra agir tem vulgarmente um sentido estreito de ação material. Mas um ato é sempre uma reação a uma situação em que nos encontramos. (TEIXEIRA, 1930, p.20).

Esta citação faz lembrar a primeira parte da pesquisa, quando Dewey

explica que agir também é educar. Assim, quando Teixeira se refere à idéia de

aprendizado vinculada à assimilação e à reação, explicitou que um conteúdo só é

de fato aprendido quando superadas as etapas de absorção e formulação,

passando a integrar “automaticamente uma série de reações especiais”. Ele está

convicto de que “não se aprende senão aquilo que se pratica” (TEIXEIRA, 1930,

p.21), logo, a situação real de experiência é requisito incondicional. Isso se aplica

à assimilação de modos de agir democrático.

De acordo com Teixeira, há duas leis essenciais para que um conteúdo seja

apreendido: lei de prática e efeito e lei de inclinação. A primeira consiste nas

reações – efeitos – que as práticas causam no indivíduo, isto é, se “as reações

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são satisfatórias” o indivíduo tende a repetir tal prática e, assim, aprendê-la. Se as

reações não são satisfatórias, ocorrerá o contrário, ou seja, o indivíduo tenderá a

não repetir tal prática e, assim, não aprendê-la. A lei de inclinação, por sua vez, é

“quando um indivíduo está inclinado a agir de certo modo; agir satisfaz e não

aborrece. Quando um indivíduo não está inclinado a agir de certo modo, não agir

satisfaz e agir aborrece. (TEIXEIRA, 1930a,p.21)

Percebemos que essas leis, o “aprender”, dependem essencialmente

de uma situação real de experiência. Para o renovador brasileiro, assim como

para Dewey, o “fenômeno educativo é reconstrução da experiência”, ou seja, o

processo educativo se executa a partir de uma experiência vivida. A ação vivida

para Teixeira significa a “interação do organismo e do meio ambiente”, que resulta

em uma “adaptação para melhor utilização deste mesmo meio ambiente. Para

Cunha, Dewey concebia a mente humana como uma “instância biológica que se

forma e só efetiva no âmbito social”, o que “acentua os conceitos de processo, de

atividade e de relação”; a mente funciona como um instrumento que possibilita ao

ser humano “situar-se diante de eventos naturais e dos condicionamentos

impostos pela sociedade” (CUNHA, 1994, p.30)

É na educação para estes “Mestres” que a experiência constitui-se

como “elemento fundamental do método” (CUNHA, 1994, p. 53) para que ocorra o

aprendizado, não há educação sem experiência. A experiência é fato concreto que

permitirá ao educando o desenvolvimento das capacidades de refletir e de agir. A

cada experiência, algo de novo será acrescentado ao indivíduo, o que permite seu

enriquecimento intelectual e moral. Neste contexto, a escola anisiana é o lugar

onde o indivíduo encontrará:

Meio apropriado à revisão e integração de suas experiências, no sentido de fazê-lo participante, inteligente e ajustado a uma sociedade de todos para todos. Tal escola tem assim de se fazer uma escola de vida, em que as matérias sejam as experiências e atividades da própria vida, conduzidas com o propósito de extrair delas todas as consequências educativas, por meio da reflexão e da formulação do que assim, for apreendido. (TEIXEIRA, 1956, p. 9)

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Teixeira não está desvalorizando o conhecimento científico, como pode

deixar a impressão a citação acima. O conhecimento sistematizado, ou elaborado,

no pensamento anisiano, não é em hipótese alguma desprezado no processo

educativo. Ao contrário, ele deve ser abordado com rigor; no entanto, faz-se

necessário que o conhecimento científico adquirido tenha uma ponte com a

realidade vivida pelo educando. O conhecimento científico servirá de subsídio para

a ruptura com o senso comum e para o desenvolvimento da capacidade reflexiva,

ou crítica, e, a partir dessa ruptura e da aquisição de capacidade diferenciada de

pensamento, o indivíduo obterá condições de atuar no seu grupo como agente

participativo e transformador.

Aqui se verifica mais um ponto importante da convergência dos

pensamentos de Teixeira e de Dewey. Para ambos, o conhecimento científico é

concebido como instrumento capacitador de transformação da ordem social e de

superação do senso comum. O educador renovador buscou relacionar ciência e

filosofia para que a escola estivesse munida de elementos para a transformação

de indivíduos capazes de elaborar, sistematizar e aplicar os conhecimentos

adquiridos na construção inteligente da sociedade. O aprendizado de um

determinado conteúdo não está nunca vinculado a um só objetivo; nas suas

próprias palavras: ”não se aprende nunca uma só coisa” (TEIXEIRA, 1930a, p.

22).

O objeto de estudo a ser assimilado está sempre associado a outros

objetos implícitos, o que caracteriza o processo educativo como um processo

amplo e complexo. Visando abranger o máximo possível as diversas implicações

de aprendizado de um conteúdo específico, o autor sugeriu projetos de estudos

para o desenvolvimento do processo de aprendizado global. Os projetos deveriam,

além de abranger as variadas possibilidades de aprendizado do conhecimento

científico, visar à construção do pensamento crítico e transformador – denominado

por Dewey pensamento reflexivo – por meio da seleção e da sistematização de

conteúdos científicos e sua aplicação para o desenvolvimento.

Entendemos que a educação, para Anísio Teixeira, tem como papel

formar o homem democrático. Sabendo-se que a democracia não nasce

espontaneamente numa sociedade, caberá à educação, segundo o educador, a

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construção do espírito democrático a partir de experiências intelectuais, de

práticas coletivas e democráticas. Assim, destina-se à escola a criação de

ambiente propício para o exercício de valores democráticos, uma vez que essa é

uma “micro-sociedade” (TEIXEIRA, 1956, p.6) de uma sociedade mais ampla uma

vez constituído o ambiente escolar democrático, o indivíduo terá condições de

desenvolver sua capacidade de convivência em grupo de forma harmônica e

responsável. Nessa linha, pode-se afirmar que o ideário educacional de Anísio

Teixeira pode ser compreendido como um conjunto de idéias que procura

viabilizar a instauração da sociedade democrática.

À medida que formos mais livres, que abrangemos em nosso coração e em nossa inteligência mais coisas, que ganhamos critérios mais finos de compreensão, nessa medida nos sentiremos maiores e mais felizes. (TEIXEIRA, 1930, p. 38).

Em todo o seu tempo de vida pública, Anísio Teixeira produziu muitos

artigos, conferências e relatórios. Como explicam alguns de seus comentadores,

livros foram poucos e surgiram quase sempre nos intervalos de exercício de seus

cargos públicos. Em toda a sua produção, o tema da democracia no âmbito da

escola e fora dela foi decisivo e se impôs sobre outros assuntos. Sob essa ótica,

elaborou uma interpretação de conjunto da história, da sociedade e da educação

brasileiras ao buscar construir, sobretudo, uma ponte entre a reforma da

sociedade pela educação e a renovação cultural desejada, no sentido da

valorização da ciência, do industrialismo e da democracia, que ganha com a sua

vida e obra uma entonação própria, distinta mesmo de outros intelectuais que

colaboraram com os seus projetos ou se opuseram a eles. Em síntese, o que

Anísio Teixeira defende em tudo o que escreveu é a educação como um direito de

todos.

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3.3- A filosofia da educação deweyana em Anísio Teixeira

A filosofia para Anísio Teixeira é um modo de pensar o mundo a partir das

transformações tecnológicas que a ciência moderna nos trouxe. Partindo de sua

interpretação da filosofia deweyana, afirma que para se chegar a uma forma de

conhecimento atual, isto é, relacionada, adequada e útil à modernidade, é preciso

rever a fórmula grega de conhecimento. A mesma Grécia que ofereceu ao mundo

ocidental a filosofia como forma de racionalidade, introjetou no seu âmago os

dualismos. Os gregos se constituíram na análise de Anísio Teixeira e Dewey,

como propagadores de um pensamento e elaborado sob antagonismos. A

sociedade grega era desigual, aristocrática e orientada por uma filosofia

contemplativa.

No Brasil, Teixeira investiga a vigência, em pleno século XX, de idéias

tradicionais, sobretudo na educação. Essas idéias tradicionais são sinônimas do

pensamento grego, principalmente de Platão e Aristóteles que, com seus

dualismos, inspiraram toda racionalidade ocidental e, conseqüentemente, todas as

filosofias posteriores. Essa influência do dualismo grego foi tamanha que chegou a

ser proposta sob nova roupagem, na análise de Dewey e Anísio Teixeira, em

filosofias modernas como as de Bacon, Descartes e Locke e em filosofias

contemporâneas como as de Kant, Fichte e Hegel.

O dualismo de forma e matéria, assim tomado aos gregos na formulação aristotélica, viria, mais tarde, sofrer a reformulação e reconciliar-se com a doutrina judaico-cristã, dando origem ao desenvolvimento moderno e às filosofias de Bacon, Descartes, Locke, Kant, Fichte e Hegel, todas oriundas e, no fundo destinadas apenas a completar Platão, em face da evolução da sociedade e dos conhecimentos humanos. 1 (TEIXEIRA, 1977, p. 15).

Não podemos esquecer de salientar que a primeira fase da formação de

Teixeira é profundamente marcada pelo humanismo greco-latino e pelo

pensamento cristão, pois foi aluno do Colégio dos Jesuítas, de Salvador. Tamanha

foi essa influência que Saviani (2000,p.16) afirma que num dado momento da sua

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trajetória de vida Anísio Teixeira se viu diante do dilema de optar entre a vida

religiosa jesuítica e sua carreira como educador.

Seu pai era médico e fazendeiro em Caetité, no interior da Bahia, e se opôs

fortemente ao ideal de Anísio Teixeira de se tornar religioso. Contudo, abandonará

esses ideais mais tarde entrando numa fase de influência norte-americana,

incorporando consigo com maior intensidade o pensamento de John Dewey e

William Kilpatrick. Essas considerações fazem de Anísio Teixeira uma figura-

chave no panorama intelectual, educacional e cultural brasileiro, por isso é preciso

dar o devido valor a suas idéias.

Trata-se de um pensador que se colocou na defesa de uma sociedade democrática em que os indivíduos, a despeito de diferenças individuais de talento, aptidão, ocupação, dinheiro, raça, religião e, mesmo, posição social, se encontrem como seres humanos fundamentalmente iguais, independentes, mas solidários. (NASCIMENTO, 2000, p. 10).

O esforço de Teixeira pela democracia através da educação supõe uma

filosofia, uma cultura e uma ciência que apontem para os níveis do conhecer e do

agir educativo. A filosofia, tanto para Dewey como para Anísio, nos dá um

programa de ação e conduta, assim, ela se torna uma espécie de interpretação da

vida. Essa é uma idéia deweyana, isto é, considerar a filosofia como uma teoria da

vida, do pensamento e da experiência reflexiva. À filosofia competiria mostrar uma

experiência ontológica que se dá na relação do homem com aquilo que o constitui,

ou fazer com que o ambiente e a sociedade na qual ele se encontra sirvam de

fundamento para sua vida.

Para Teixeira a filosofia tinha a missão de dar testemunho de um mundo

novo, o mundo moderno. Os gregos lançaram mão de uma concepção segundo a

qual tudo o que existe se divide em formas e aparências; as formas são reais,

eternas, e, só elas, suscetíveis de conhecimento, e as aparências são passageiras

e mutáveis, em processo de ser, mas não chegando a ser, produzindo apenas

opinião e crença, sem valor de conhecimento, não se tratando, portanto, de um

valor racional. Trata-se do dualismo platônico, que é muito combatido por Anísio

Teixeira, principalmente no primeiro capítulo, Filosofia e Educação (p. 9). Assim,

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chega à consideração de que embora a filosofia grega tivesse entre os seus

maiores representantes defensores das teorias dualistas, por sua vez não havia o

dualismo entre filosofia e ciência.

Pelo fato de a filosofia grega ser muito mais contemplativa que ativa é que

seus pensadores não descobriram o método experimental. A teoria do

conhecimento dos gregos, anteriormente quando tratamos desse assunto, era

muito mais uma contemplação das verdades eternas vindas aos homens por

iluminação, como na teoria platônica, que fruto de uma atividade especulativa

experimental. Era muito mais cômodo acreditar num universo fixo e imutável.

Dessa maneira, o ser à maneira de Parmênides foi muito mais aceito que na

proposição de Heráclito.

Segundo essa concepção de filosofia a atividade intelectual deveria ser

imutável. O que é mutável está impregnado do não-ser. A atividade da razão era

superior à atividade física. Teixeira estuda o platonismo para evidenciar os

dualismos constitutivos dessa teoria: essência e aparência, inteligível e sensível.

Em Platão não se deve buscar o conhecimento sensível, mas o inteligível. O

primeiro é apenas crença, ilusão. O conhecimento inteligível sim é o conhecimento

das essências e, por isso, da verdade. A natureza não é digna de estudos, para

Platão. Por isso sua teoria chega a afirmar a existência de dois mundos, o

sensível e o supra-sensível, que poderiam garantir uma verdade estática,

adequada para uma sociedade aristocrática como a grega. A sociedade é, assim,

rigorosamente aristocrática e se funda na desigualdade em que os homens se

distribuem (TEIXEIRA. 1997, p.13). Por isso, Anísio Teixeira definirá o platonismo

como uma forma contemplativa do saber.

O cristianismo difundiu na cultura e na civilização ocidental ao longo da

história a fé aliada da filosofia grega. Contudo, ele acrescenta ao platonismo a

idéia de criação e de pecado original. Isso deu uma nova explicação aos

problemas humanos: alma x corpo. A natureza ganha outra dimensão, ela passa a

ser sagrada, criada por Deus, por isso intocável. O homem cristão se via diante da

luta entre a carne e o espírito, entre o bem e o mal sob a ameaça do julgamento

final. Apesar dessas dicotomias cristãs, recuperadas da filosofia grega, para

Teixeira o maior dualismo medieval foi o embate razão e fé. O conhecimento

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nessa perspectiva não poderia conciliar numa mesma construção teórica esses

dois extremos. A visão cristã, para o autor, não altera as estruturas do mundo, da

natureza e da sociedade. Por outro lado ele via o cristianismo como

“potencialmente democrático”. Os pontos positivos do cristianismo nessa análise

são o pensamento democrático e a visão em dignidade da natureza. O

pensamento democrático deweyano, surge inclusive a partir de experiências cristã

(Idem, p.23).

Já na filosofia moderna, Teixeira percebia uma ligação muito estreita do

pensar filosófico com a condição humana, porém, mesmo assim ela não se via

livre dos dualismos. Estes, reformulados na modernidade nas filosofias de Bacon,

Descartes, Locke, Kant, Fichte e Hegel, entre outras. O método experimental,

porém, viria inaugurar uma nova fase para a filosofia. Ele aproximaria a filosofia do

método científico. O dualismo moderno na visão de Teixeira levou à dualidade de

classes, de instituições e de formas de vida. Por fim, conclui que essa filosofia

levará ao pragmatismo.

Com efeito, o método desenvolvido pela pesquisa científica – originário do retorno à experiência, recomendado inicialmente por Bacon, depois de séculos de pensamento puramente especulativo e racional – constitui algo de tão característico e amplo que veio a refletir-se sobre a filosofia, produzindo primeiro os ‘empiricistas’, depois, em contraste com estes, os ‘racionalistas’ e a afinal os ‘pragmatistas’, ‘instrumentalistas’ ou ‘experimentalistas’, que buscam reconciliar as posições dos dois primeiros mediante uma reconstrução fundamental dos conceitos de experiência e razão, à luz desse novo método científico (TEIXEIRA. 1997, p. 24).

Para Teixeira, o pragmatismo traz novos conceitos sobre a natureza do

homem, sobre a natureza do conhecimento e para a natureza do comportamento

social e moral do homem. Sua preocupação com a educação vem de que ela

refletirá nesses novos conceitos, uma vez que eles se verão institucionalizados

nas escolas. Essas modificações introduzidas no empirismo pelo pragmatismo,

vêm de alterações introduzidas na psicologia pelo progresso das ciências

biológicas, particularmente das contribuições do naturalismo e do darwinismo.

A integração desses novos conceitos na filosofia veio permitir a sua formulação, com a elaboração de uma teoria geral do conhecimento

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fundada no método do conhecimento científico, uma teoria da sociedade adaptada aos novos meios de trabalho industrial criados pela ciência e uma nova teoria política da democracia, a qual essa mesma ciência veio a final tornar possível. Em nosso continente, de forma mais marcante, contribuíram para essa reconstrução os pensadores William James, C. S. Peirce e John Dewey (TEIXEIRA. 1997, p.23)

Teixeira deixa muito evidente em seus escritos sua admiração pela filosofia

e a educação norte-americana. Tamanho era o valor que atribuía a essas idéias

que Paulo Ghiraldelli (2002), considerara próximo do neopragmatismo.

Consideramos clara a adesão de Anísio Teixeira ao pragmatismo filosófico, e mais

explícito ainda é a sua apropriação das idéias de Dewey. Anísio Teixeira acredita

no liberalismo pelo viés democrático, mas ainda vê no capitalismo industrial a

possibilidade de progresso para o Brasil. Essas idéias são fundamentalmente

interpretação do pensamento social e político deweyano no Brasil. “A designação

mais corrente dessa filosofia como ‘pragmatismo’ e a identificação de

pragmatismo com a frase ‘saber fazer o que é útil’ concorrem para

incompreensões, deformações e críticas as mais lamentáveis” (TEIXEIRA, 1997,

p.21).

A formulação mais completa e demorada do pragmatismo, no

entendimento de Anísio Teixeira, foi realizada por Dewey. Na sua compreensão, o

pensamento pragmático é mais que um sistema filosófico, chegando a ser um

método filosófico. Essa afirmação é exposta por William James no livro

Pragmatismo, de 1907. Coube a Dewey a formulação do método de inteligência,

como prefere chamá-lo, para caracterizar sua revisão do conceito de razão e

experiência (TEIXEIRA, 1997, p.21)

Na visão de Teixeira (1997, p.21), o autor ressalta a concepção de Dewey

que conciliou em sua filosofia da educação os dualismos. O mesmo dirigiu o

processo educativo com um espírito de continuidade. Seu método requer

constante exercício de revisão e reconstrução. O conceito de reconstrução tem

uma importância fundamental nas idéias de Dewey, e Teixeira também insistia

nesta temática em seus escritos. Esse ideal tinha a intenção de buscar a unidade

básica da personalidade em desenvolvimento. John Dewey marcou os rumos e

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batizou as linhas para essa marcha da “inteligência experimental por esses novos

campos, marcha que nos há de dar uma nova ordem, mais humana do que tudo

que até hoje tenhamos conhecido”.

Anísio Teixeira afirma que ainda não se havia revelado a influência de

Dewey no sistema educacional dos Estados Unidos. A presença das idéias

deweyanas tampouco se fazia presente em outros países. Considera que o

pensamento de Dewey era tomado apenas em aspectos superficiais e

secundários. Assim sendo ele não tinha sido totalmente aplicado. Uma das

razões, continua Anísio, se deveria ao fato de o pensamento deweyano procurar a

conciliação das contradições e conflitos da vida moderna. Teixeira explica que:

Este pensamento, porém, na sua mais fecunda parte original, no seu esforço de conciliação das contradições e conflitos da vida moderna, ainda não logrou implantar-se e está mesmo ameaçado de se ver nos Estados Unidos e na parte que lhe é oposta do mundo, submergido por um refluxo das velhas doutrinas dualistas, de origem platônica, hoje em franca popularidade no leste e no oeste (1997, p.21)

Até o momento investigamos a filosofia de Anísio Teixeira e seus nexos

com a de Dewey, nos cabe ainda analisar outros aspectos do pensamento de

Dewey nas concepções de Teixeira. Não é muito difícil perceber as relações da

filosofia com a educação. Como vimos, as relações entre filosofia e educação são

tão intrínsecas que John Dewey pode afirmar que as filosofias são, em essência,

teorias gerais de educação. A educação é o campo de aplicação de filosofias. Ao

mesmo tempo ela é também um campo de elaboração do pensar filosófico. Dewey

dizia que uma teoria filosófica que não fosse educativa, não seria útil e por isso

não poderia ser levada a sério. Na educação se realiza ainda a revisão das

filosofias, se trata do horizonte onde elas serão testadas em vista de serem

consideradas válidas.

A mesma importância que os gregos tiveram para a filosofia, igualmente

tiveram para a educação. Teixeira considerava que os sofistas são os primeiros

profissionais da educação (Idem, p. 9). Os primeiros métodos de aprendizagem

elaborados a partir de pressupostos não míticos estão na cultura grega. A própria

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pedagogia encontra sua origem nesse contexto.Teixeira, faz essas considerações

para insistir na proximidade da educação com a filosofia. Assim como os gregos

elaboraram a filosofia e nela introjetaram os dualismos, o mesmo fizeram com a

educação. Toda essa tradição filosófica se reflete na educação, com sua

organização intelectualista e sua prevenção contra o técnico ( Idem, p.9).

A educação livresca, acadêmica e ornamental que Dewey e Teixeira

convencionaram chamar de tradicional tem sua origem nas filosofias de Sócrates,

Platão e Aristóteles. O pensamento filosófico foi evoluindo em perspectiva

histórica, acompanhada de seus dualismos e influenciando a educação. O dado

intelectual nessa pedagogia era sobreposto à prática, ou à experiência. Os gregos

acentuaram a divisão do trabalho material e do trabalho espiritual e isso levou a

um dualismo de classes, instituições e formas de vida.

Até nos tipos de escolas encontra-se a hierarquia platônica, com a maior dignidade assegurada às formas contemplativas do saber, depois, em uma segunda ordem, às do conhecimento científico experimental e, afinal às de ensino prático ou técnico, como último escalão da ordem educacional (TEIXEIRA, 1997, p.21).

A educação carece de uma filosofia que lhe dê o substrato teórico para o

seu ingresso no mundo moderno. E o ingresso no mundo moderno quer dizer

ingresso no liberalismo através da democracia, quer dizer ingresso no capitalismo

industrial por meio da mentalidade do desenvolvimentismo, muito presente em

Anísio Teixeira. Essa filosofia, para Teixeira, já está elaborada no pensamento

pragmático e, em especial, nas idéias de Dewey. Essa filosofia, que irá determinar a educação adequada à nova sociedade democrática em processo de formação, já se acha esboçada na grande obra de John Dewey, que a traçou tendo em vista, mais especialmente, a sociedade americana, a qual, por um conjunto de circunstâncias, constitui a sociedade de que historicamente, mais viu sob influência direta do espírito oriundo dos movimentos pré-democráticos dos séculos XVII e XVIII e mais liberta das influências do feudalismo e da idade média. (TEIXEIRA, 1997, p.21)

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O educador brasileiro se preocupava com a aplicação da nova filosofia

democrática no Brasil. Não via alternativa para a sociedade brasileira a não ser

sintonizá-la com a modernidade e aderir ao pensamento democrático,

conseqüentemente ao liberalismo. Portanto, notamos que Teixeira se empenhou

nessa luta que acima de tudo era política, e mostra a influência recebida de

Dewey. Nos comentários feitos pelo próprio autor, na reedição de seu livro

Pequena Introdução à Filosofia da Educação:

A Escola Progressiva ou A Transformação da Escola, de 1967, e afirma de si mesmo: O pensamento do autor não tem preocupações de originalidade. Filia-se ao dos educadores e, mais diretamente, ao do grupo que reconhece como sua figura, a do filósofo John Dewey ( TEIXEIRA, 1967.p.11).

Partindo desses pressupostos é que Anísio se põe a refletir sobre a

filosofia da educação no Brasil. Desejava elaborar pela filosofia a educação

brasileira. Mas, para que isso fosse possível, o Brasil precisaria reconstruir sua

história com vistas à edificação da nação brasileira pela democracia. Essa

reconstrução passaria inevitavelmente pelas instituições sociais, das quais a

escola é a primeira e mais importante, uma vez que é dela a responsabilidade de

educar para a democracia.

O pensamento deweyano tornou-se para Anísio Teixeira a viga mestra

para compreensão da sociedade norte-americana. Mais do que isso, Dewey atuou

nas leituras do educador Anísio como respostas ás suas inquietações intelectuais.

O contato com Dewey aportou-lhe a noção de flexibilidade da verdade, seja ela

científica ou pessoal, submetida a uma reflexão e à reconstrução permanente.

Teixeira deixou para as gerações futuras, como veremos em próximo momento

deste estudo onde abordaremos Marcus Vinicius da Cunha, onde se os seus

princípios fossem seguidos estes poderiam colaborar para mudanças na ordem

social. Para muitos a escola anisiana seria ou será depende do tempo desta

leitura, mais uma ideologia das muitas que se tem. Percebemos que as obras de

Teixeira ou obras de seus comentadores, e também para aqueles que acreditam

na educação e na democracia no sentido deweyano poderão apresentar-se como

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objetivos pelos quais valem a pena lutar, não somente em relação à democracia

política, mas, sobretudo por uma sociedade democrática.

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4- A Concepção De Experiência Democrática Educacional De Marcus

Vinicius da Cunha.

4.1- A noção de experiência educacional deweyana no debate pedagógico

brasileiro atual.

O objetivo deste capítulo é analisar o comportamento das idéias deweyanas

a partir da categoria “experiência” no debate pedagógico atual, orientando-se por

Marcus Vinicius da Cunha em sua obra John Dewey Uma Filosofia para

Educadores em Sala de Aula. Partiremos desta obra para fazer a análise, pois

nela Cunha concentra as principais idéias de John Dewey. Cunha é um dos

principais filósofos da educação brasileira que manifesta clara preocupação com o

estudo da Escola Nova no Brasil, seu tema de pesquisa, e em especial as

influências de John Dewey sobre os intelectuais brasileiros.

Cunha na data citada acima, ao discutir a função socializadora da educação

destaca que “a experiência é, de fato, o elemento fundamental da pedagogia

deweyana; para não se incorrer em extremismos, há que se ter em mente que

uma experiência possui um aspecto que é psicológico e outro que é lógico”

(CUNHA 2002, p. 61).

Para Cunha, a experiência é a principal categoria deweyana em se tratando

da educação democrática. Quando o autor insere a experiência como aspectos

psicológico e lógico, ele está debatendo, abordando os erros cometidos por

aqueles que defenderam a escola tradicional e também defensores da escola

progressiva.

Cunha esclarece que John Dewey, em busca da construção de suas

próprias concepções filosóficas, faz um balanço de algumas correntes da filosofia

existentes em sua época, pois era o seu objetivo compreender o significado da

experiência humana para aquisição do conhecimento. “A atenção do nosso autor

se concentra sobre esse tema por ser justamente ele que irá construir... o cerne

de suas proposições educacionais” (CUNHA, 2001, p. 25).

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Segundo Cunha, até meados do século XX as idéias de Dewey em se

tratando da educação escolar foram objeto de discussão acirrada nos Estados

Unidos, pois os críticos valeram-se das teses deweyanas para criticar

negativamente a escola progressiva.

Sob a égide do progressivismo, reuniram-se severos críticos da adoção de programas de ensino; em defesa do valor máximo representado pela experiência do educando, recusavam a organização racional das matérias a serem objetos da aprendizagem. (CUNHA, 2001, p. 58)

Para Cunha, a educação deweyana envolve dois elementos fundamentais:

a criança e a experiência, destacando que Dewey usa conceitos adversos. A

criança é analisada por ele como um ser individual que vivencia a experiência

imediata e se relaciona com objetos que visam ao seu bem-estar. E a verdade é

algo, um conceito que emana de sua afetividade sem importar-se com os fatos

externos. O segundo ponto é a experiência, que enfatiza os valores adultos.

Dewey utiliza dois conceitos aparentemente antagônicos: num extremo a criança... No outro pólo situam-se os valores adultos, a experiência da sociedade que corporifica nos programas de ensino e que diz respeito, em grande parte, ao passado e a eventos não situados na esfera da experiência individual. (CUNHA, 2001, p. 59)

De acordo com Cunha, podemos entender que a escola visa transmitir um

mundo contrário ao pensamento deweyano, o mundo adulto é ordenado,

organizado e de forma pessoal, um tanto quanto limitado, sem afetividade, e está

submisso à razão. Os valores são transmitidos em conhecimentos fragmentados.

A criança passa a ser educada formalmente, pois no seu mundo as matérias

seriam os fatos, coisas que chamam sua atenção e a sua afetividade.

As matérias, no pensamento de Dewey e de Cunha, são trocas de

experiências, são os conhecimentos onde o adulto passa a transmitir valores

produzidos na história, geografia, biologia e assim por diante. Tudo o que a escola

tradicional quer transmitir ao educando segundo, Cunha (2001, p. 59), tem relação

com o conhecimento fragmentado, organizado de forma lógica, para a suposta

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melhor compreensão do mundo. Para Dewey (1959, p. 43-45), “à criança, o

mundo é ordenado de maneira pessoal, é especialmente pequeno e

cronologicamente limitado e está sob o comando de sua energia afetiva e não de

seu intelecto”.

A escola tradicional, para Cunha (2001, p.59) separa a criança e a

sociedade, “onde imaturidade daquela que aprende deve subordinar às matérias,

percebe-se aqui que as experiências da criança no mundo lógico são estáveis

representado pelas matérias. Assim a escola tradicional valoriza somente a

educação livresca, bancária, e a criança é vista como algo que deve ser

trabalhada para “esta sociedade” desprezando aquilo que ela entende e traz da

mesma sociedade.

Segundo Cunha (2001, p. 59), a escola progressiva para Dewey considera

a criança o centro de todo o processo de aprendizagem. “O que interessa à escola

é promover o desenvolvimento do ser infantil e, para isto, a quantidade e a

qualidade dos conhecimentos devem ser norteadas pelas necessidades de quem

aprende” (CUNHA, 2001, p. 59-60). Percebe-se então, que a escola progressiva

valoriza a experiência, a formação da personalidade do educando, enquanto que

na escola tradicional destaca a disciplina, a matéria, como o centro da

aprendizagem.

Cunha (2001, p. 60), esclarece que a meta de John Dewey é ultrapassar o

raciocínio dicotômico que separa a criança e a experiência do adulto. Nesta meta

antagônico ele pretende mostrar:

“o desenvolvimento da criança enquanto ser individual e os valores sociais adultos; as experiências fortuitas da infância e a verdade ordenada e objetiva; o desenvolvimento psicológico e a ordenação lógica dos saberes contidos nos programas de ensino. O fundamento de sua tese é que os componentes do mundo adulto encontram-se já no ser infantil.... o ser individual é a semente do ser social, e por isso não se há de opor a liberdade da criança aos ensinamentos contidos nos programas de ensino.” (Idem, p .60)

Deste modo, a experiência do mundo infantil e as de estudo, que é a

sociedade fragmentada nas matérias, devem ser considerados como o início e o

final de uma realidade única. Chocar a infância e a sociedade, sendo o adulto,

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sociedade e matéria, é entrar em contradições, pois a criança deve interagir com o

social e o social com a criança. Dewey afirma que o primeiro contato que a criança

tem com a sociedade depois da família é na escola, como já mencionamos na

primeira parte da pesquisa, a bagagem que o imaturo traz da sociedade foi

repassada pelo adulto.

A criança de hoje é o adulto de amanhã, que se relaciona na sociedade,

preparar ela para o amanhã é construir conhecimento, e sempre que se constrói

deve-se partir de alguma realidade, a criança é a realidade e desprezar essa

realidade – experiência, não é construir conhecimento. Ora, para se construir

conhecimento deve-se ter algum princípio, nada se constrói do nada, deve ter uma

idéia, a criança é o início do ser social do futuro.

Cunha não oferece uma definição acabada de experiência, mas esclarece

que a experiência é a base do pensamento de Dewey, e como foi exposto

anteriormente, a experiência possui um aspecto psicológico e outro lógico.

Portanto, sobre esta afirmação Cunha, nos faz perceber que a pedagogia de

Dewey não pode ser levada aos extremos:

É certo dizer que a educação tradicional erra ao considerar a criança como um ser carente e incompleto em cuja mente se deva incutir a sabedoria adulta, é certo também reconhecer que a nova educação deweyana exagera ao atribuir significado definitivo e absoluto exclusivamente às energias atuais da infância. (Cunha 2001, p.61).

Deste modo, a matéria tem seu valor desejável, porque serve como guia,

coordena as experiências, ela não se apossa do individuo, é uma ferramenta que

o leva a construir conhecimentos. Portanto, nesta ótica que é pela relação delas

que se produz conhecimento, ou seja, a relação existente entre as experiências e

a matéria produzir conhecimento para a criança. É a experiência a célula, um dos

princípios básicos da teoria educacional de Dewey, tudo gira em torno da

experiência e dela nasce todo o conhecimento e toda ação.

Se Cunha explicita que a matéria serve como guia para a construção de

conhecimento, para um fim democrático, qual o papel do professor nesta questão?

Cunha (2001, p.62), responde que, “compete ao mestre conhecer os aspectos

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psicológicos do desenvolvimento humano, sim, mas sem descuidar de manter

domínio sobre as matérias escolares cuja sinopse se encontra nos programas de

ensino” e destaca ainda que o” mestre desempenha sua função ao planejar

antecipadamente as atividades do grupo, ao organizar um ambiente que favoreça

experiências satisfatórias à construção do conhecimento e que desenvolva as

potencialidades dos educandos (CUNHA, 2001, p. 64).

O professor não é um tirano, um absolutista, na sala de aula é um membro

do grupo, mas um membro que amadureceu as suas experiências, e que tem o

dever de coordenar as interações entre os alunos e destes com o objeto a ser

conhecido. Deste modo, o professor para Cunha (2001, p.64), deve mostrar-se

como um membro do grupo, pois é um processo social em que todos devem ser

envolvidos, uma educação democrática, onde tudo participa e, não um processo

de classificação no sentido de que de um lado teríamos alunos e do outro os

professores.

Cunha deixa claro que é importante que o educador descubra os

verdadeiros interesses da criança, para apoiar-se nesses interesses, pois para ele,

esforço e disciplina são produtos do interesse e somente com base nesses

interesses a experiência adquiriria um verdadeiro valor educativo. Para Cunha, o

processo de ensino- aprendizagem deweyano estaria baseado em:

• Uma compreensão de que o saber é constituído por conhecimentos e

vivências que se entrelaçam de forma dinâmica, distante da previsibilidade

das idéias anteriores;

• Alunos e professor são detentores de experiências próprias, que são

aproveitadas no processo. O professor possui uma visão sintética dos

conteúdos, os alunos uma visão sincrética, o que torna a experiência um

ponto central na formação do conhecimento, mais do que os conteúdos

formais;

• Uma aprendizagem essencialmente coletiva, assim como é coletiva a

produção do conhecimento.

Criaram-se alguns mitos, por aqueles que criticam a teoria educacional

deweyana, quando Dewey esclarece que alunos e professores são iguais. Quando

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Cunha e Dewey debatem esta idéia não estão querendo colocar a níveis

igualitários na intelectualidade. Estão no mesmo nível no sentido de liberdade para

a construção do conhecimento.

São iguais professores e alunos no sentido de que são seres humanos que se encontram diante de um ambiente democrático e que irão vivenciar situações que trarão experiências enriquecedoras para ambos. Diferem, entretanto, pois ao mestre cabe a responsabilidade de dominar toda a extensão dos conhecimentos sobre os quais se darão as experiências construtoras de novos conhecimentos. (CUNHA, 2001, p. 64).

Quanto à prática pedagógica, Cunha esclarece que, para Dewey, esta não

relaciona as matérias, não as classifica como se cada uma teria um lugar exato,

cada disciplina trabalha em um mesmo programa escolar em separado, mesmo

porque selecionar é excluir, e esta não se faz presente em seu pensamento.

Todas as matérias possuem e fornecem valores, subsídios ao processo

educacional. Deve existir entre as matérias cooperação para a formação de um

novo ser social. A sociologia deve trabalhar relacionada com a história, e estas

com a biologia e assim também com a matemática.

Dewey se recusa a aceitar uma distinção rígida entre esses campos do conhecimento; não é encargo da psicologia determinar os aspectos metodológicos da educação, da mesma forma que não cabe à sociologia prescrever as finalidades da atividade educacional. O método e a matéria; as teorias da aprendizagem que informam a respeito de como se aprende e se ensina; os conteúdos socialmente desejáveis que determinassem o que se deve aprender; esses componentes devem estar em perfeita cooperação no interior da escola e constituir um só processo (CUNHA, 2001, p.62)

Cunha comenta que o processo educacional deweyano é um movimento

que parte do imaturo para a sociedade e da sociedade para o imaturo, e esta

relação é o caminho para a formação de um novo ser social, um novo individuo.

No texto “O mundo em movimento: John Dewey, em Periódicos Educacionais

Brasileiros”) Cunha (2000), esclarece que o conceito deweyano de democracia é

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uma transformação constante. No ambiente social onde aconteciam às novas

concepções pedagógicas que se dava por um processo contínuo e que a

sociedade democrática era uma sociedade em indefinido estado democrático.

A escola não é uma agência que fornece experiências passadas, mas sim

um instrumento de constante reconstrução social, levada pela transformação

econômica, industrial e a evolução da ciência muda este meio social. Nesse artigo

Cunha comenta o entendimento do pedagogo Anísio Teixeira sobre a relação

entre escola, sociedade e ciência:

Enfim, noções como movimento, mudança e transformação constantes ocupavam lugar central no pensamento de Anísio Teixeira, traduzindo a idéia de que a escola, a sociedade e o progresso científico jamais assumem formas estáticas e definidas, quando em ambiente democrático. A “sociedade em permanente mudança”, sob a democracia, continha, em sua essência, a possibilidade de conflito, discussão e reflexão dirigidas pela coletividade. No contexto de uma sociedade assim, em “indefinido estado de reconstrução”, os problemas educacionais não podiam ser vistos como estritamente técnicos, solucionáveis pela mera aplicação de saberes científicos, supostamente objetivos e inquestionáveis. As questões educacionais apresentavam-se, então, como “um problema de filosofia de educação.( CUNHA, 2000, p. 3)

Ainda no mesmo texto, Cunha comenta que para Anísio Teixeira a

sociedade está em constante reconstrução e movimento, sendo que esta também

ocupa lugar de destaque no pensamento de Teixeira. Para ambos a escola, ou

seja, o processo educacional também deveria ser dinamizado. Estas idéias vão ao

encontro das idéias deweyana e de uma sociedade democrática.

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O conceito deweyano de democracia, que implicava, segundo as palavras de Anísio Teixeira, movimento constante. O ambiente social em que se davam as novas concepções pedagógicas era a vida democrática “em permanente progresso”, pois a sociedade democrática era uma “sociedade em indefinido estado de reconstrução. Enfim, noções como movimento, mudança e transformação constantes ocupavam lugar central no pensamento de Anísio Teixeira, reduzindo a idéia de que a escola, a sociedade e o progresso científico jamais assumem formas estáticas e definidas, quando em ambiente democrático. A “sociedade em permanente mudança”, sob a democracia, continha, em sua essência, a possibilidade de conflito, discussão e reflexão dirigidas pela coletividade. No contexto de uma sociedade assim, em “indefinido estado de reconstrução”, os problemas educacionais não podiam ser vistos como estritamente técnicos, solucionáveis pela mera aplicação de saberes científicos, supostamente objetivos e inquestionáveis. As questões educacionais apresentavam-se, então, como “um problema de filosofia de educação. .(CUNHA, 2000, p. 4)

A autoridade é um ponto que merece destaque em Cunha, pois ele

comenta que Dewey destaca que a autoridade dos professores sobre os alunos é

fundamental para se manter o controle social, e para o entendimento do que é a

liberdade, o que gerou conflitos entre professores e alunos. Para Cunha, Dewey

entende que a autoridade é fundamental em toda e qualquer atividade humana em

grupo, com o objetivo de manter o controle. Ele destaca a importância dos jogos,

pois estes envolvem regras, que são sancionadas por uma equipe coordenadora,

assim o aluno entenderá que não é submisso a uma entidade, mas que a situação

global é assim. O aluno deve estar consciente, pois obedece as leis.

Na escola, bem como em qualquer outra circunstância que envolva vida em grupo, é fácil distinguir quando o exercício da autoridade é ou não fundamentado em critérios de justiça. Uma ação justa é aquela que emana das normas originadas da situação; trata-se do exercício de um controle que é social mas que não é vivenciado pelos indivíduos como coação de um sobre seus subordinados; é a atividade quem impõe as normas e não a pessoa, motivada por desejos próprios e contrários à coletividade ( CUNHA,2001, p.63).

Esta categoria, da autoridade, conduz a outra que é a liberdade. Segundo

Cunha, Dewey entende como “autonomia”, o objetivo final da educação,

necessário para reflexão e decisão. “A idéia de ser livre diz respeito a uma

disposição interior do indivíduo e não pode ser substituída ou confundida com

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liberdade em seu aspecto físico, exterior (CUNHA, 2001, p. 65). Nesta ótica Cunha

deixa claro que liberdade é autonomia para pensar, estabelecer relações as quais

são transcritas pelo autor que busca embasamento no texto em que é

apresentada a idéia intitulada como: ”John Dewey: filosofia política e educação”, ao

procurar compreender o pensamento educacional brasileiro nas décadas de 1930,

1940 e 1950 e para tal ele analisa o conceito de liberdade em Dewey.

Mas liberdade não é um conceito formal, à parte da história, pois sempre diz respeito “a alguma classe ou grupo que está a sofrer ... alguma forma de constrangimento resultante da distribuição de forças na sociedade contemporânea”. Neste momento histórico, diz Dewey, liberdade “significa libertar-se da insegurança material e das coerções e repressões que vedam as multidões de participar dos vastos recursos materiais disponíveis” (idem, p. 54). A idéia de liberdade, assim, integra-se à luta por um mundo melhor, mais justo e menos desigual, referindo-se assim não só a direitos legalmente constituídos, mas também, e principalmente, à distribuição de bens materiais. (CUNHA, 2001c, p. 5).

A teoria educacional deweyana foi elaborada no desenvolvimento de sua

crítica ao capitalismo, ao liberalismo e aos sistemas autoritários de governo

(CUNHA, 2001, p. 111). O filósofo tomou como ponto de partida a análise do

modelo liberal burguês, historicamente contextualizado, discutindo-o, num primeiro

momento, segundo o olhar lockiano, como teoria que visa à preservação da “

liberdade de pensamento e ação, ou seja, como o direito de o indivíduo

administrar sua vida” (CUNHA, 2001, p. 35), lembrando que John Locke pertenceu

ao período de ascensão da burguesia, momento de oposição ao pensamento

medieval.

Para Dewey, a liberdade estava principalmente vinculada à participação dos

indivíduos na ordem social e política e, ainda, à idéia de superação das

deficiências materiais da coletividade, buscando a construção de uma sociedade

com maiores possibilidades a todos os indivíduos. Ora, o sistema capitalista

defende o desenvolvimento dos indivíduos diretamente ligado às capacidades

naturais e à competência individual estruturada no acúmulo de riquezas, a idéia de

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liberdade restringe-se ao indivíduo, obtendo como resultado um mundo desigual

quanto às oportunidades culturais, econômicas, políticas e sociais.

Desse modo, Dewey posicionou-se como crítico da abordagem liberal

articulada no século XIX, uma vez que acreditava na liberdade na individualidade

e na inteligência vinculadas ao desejo de um mundo mais justo, “menos desigual e

de menor insegurança material” para a coletividade (CUNHA, 2001, p. 37).

Observou-se, ainda, que a concepção de inteligência no liberalismo deu-se como

aspecto inerente à natureza humana, abordagem essa contrária ao seu

pensamento que considerava a inteligência como produto humano a ser

construído. Já que o liberalismo colocava tais concepções como instrumentos das

desigualdades sociais, uma vez que não ofereciam igualdade de oportunidades a

todos os indivíduos, Dewey analisou como impedimento para instauração do modo

de vida democrático.

É importante destacar que para Dewey, na leitura de Cunha, as concepções

de liberdade sugerem renovação, na metodologia escolar e no cotidiano escolar,

para uma nova mentalidade diante do mundo. Segundo Cunha:

A atitude deweyana exige empenho critico voltado para a transformação das condições atuais da sociedade, sempre no sentido da democratização cada vez mais ampla das relações sociais.... é parte fundamental do nosso autor a concepção de que a verdadeira experiência é aquela que se realiza junto à coletividade, por meio de ações que envolvem cooperação” (CUNHA, 2001, p. 66).

Cunha deixa claro que as concepções de liberdade visam renovação,

mudança na vida escolar, para a formação de nova mentalidade de mundo. Se o

aluno sabe a importância da escola, percebe o ambiente onde se encontra, e

desenvolve uma atitude critica, e esta o leva à transformação social, uma

democratização de relações sociais, assim uma sociedade democrática é uma

sociedade em movimento das experiências que surgem. As novas experiências,

de acordo com Cunha, devem resultar da união entre os indivíduos, da

cooperação. Uma sociedade democrática é uma cooperativa, onde todos

participam e partilham suas experiências para o crescimento social, não pode

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existir uma sociedade democrática em que alguns decidem o que é melhor para

um grupo, a partir somente das suas experiências. Deste modo Cunha esclarece

que:

No ideário filosófico-educacional de John Dewey encontra-se um espírito político largamente democrático, marcadamente generoso no que diz respeito à aceitação de novas possibilidades de organização de vida. Aberto ainda ao que não foi vivenciado, profundamente favorável ao experenciar coletivo “(CUNHA, 2001, p.66).

O experenciar coletivo faz-se entender e deixa claro que o conhecimento é

construído de consensos, que por sua vez resulta de discussões coletivas. O

aprendizado se dá quando os indivíduos compartilham experiências e isso só é

possível num ambiente democrático, onde não haja barreiras ao intercâmbio de

idéias. Deste modo, Dewey quer destacar a capacidade de pensar dos alunos, as

suas experiências. Dewey, segundo Cunha, acreditava que, para o sucesso do

processo educativo, bastava um grupo de pessoas se comunicando e trocando

idéias, sentimentos e experiências sobre as situações práticas do dia-a-dia. Ao

mesmo tempo, reconhecia que, à medida que as sociedades foram ficando

complexas, à distância entre adultos e crianças se ampliou demais. Daí a

necessidade da escola, um espaço onde as pessoas se encontram para educar e

serem educadas.

A função da escola deweyana (democrática) é, para Cunha, apresentar o

mundo de um modo simplificado e organizado e, aos poucos, conduzir as crianças

ao sentido e à compreensão das coisas mais complexas, o que Dewey dizia era

que a escola era a sociedade em miniatura. Em outras palavras, o objetivo da

escola deveria ser ensinar a criança a viver no mundo.

Os imaturos, como Dewey chamava, vivem e aprendem no sentido de

serem preparados para a vida. A educação, na visão deweyana, é uma constante

reconstrução da experiência, de forma a dar-lhe cada vez mais sentido e a

habilitar as novas gerações a responder aos desafios da sociedade. Educar,

portanto, é mais do que reproduzir conhecimentos. É incentivar o desejo de

desenvolvimento contínuo, preparar pessoas para transformar algo no meio onde

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se encontram. Cunha comenta em seu artigo John Dewey: Filosofia Política e

Educação que ”a concepção educacional de John Dewey consiste em transmissão

de conhecimento acumulado pela experiência humana, o que se traduz em

desempenho ativo do adulto que detém esse conhecimento”.(CUNHA, 2001c, p.

9).

Comparamos esta expressão de Cunha com uma de Dewey, quando o

filósofo explicita que uma sociedade é democrática quando:

Prepara todos os seus membros para com igualdade aquinhoarem de seus benefícios e em que assegura o maleável reajustamento de suas instituições por meio da interação das diversas formas da vida associada. Esta sociedade deve adotar um tipo de educação que proporcione aos indivíduos um interesse pessoal nas relações e direção sociais, e hábitos de espírito que permitam mudanças sociais sem ocasionar desordens “(DEWEY, 1959, p. 106).

Cunha comenta aquilo que todo aquele que se dedica a estudar o

pensamento deweyano expressa, que para entender o pensamento de Dewey é

preciso voltar-se para a sociedade onde ele se encontrava, inclinada para o

desenvolvimento industrial, que a levou para a corrida pelo Imperialismo afro-

asiático, atitude que Dewey condenava pelo modo de exploração, que levou à

Primeira Grande Guerra Mundial, a Crise de 1929, o New Deal de Franklin

Roosevelt e à Segunda Grande Guerra Mundial. Não nos resta dúvida de que a

corrente filosófica em que Dewey se inclui, o pragmatismo, é fruto desta

sociedade. Deste modo, Cunha (2001, p.68), expõe o pragmatismo de Dewey,

dizendo que:

O pragmatismo, não é um mero “reflexo”, ou uma simples, “racionalização” da mentalidade predominante na era da máquina. É certo que essa filosofia coloca o pensamento como uma ferramenta a serviço de fins práticos, os quais podem eventualmente ser os mais mesquinhos interesses pecuniários; porém, ao lado da intensa valorização da cultura americana, desenvolve-se um raciocínio crítico que diz respeito às conseqüências desse modo de vida.

Percebemos, então, que o desenvolvimento do pragmatismo tem relação

estreita com os fatos que marcaram o desenvolvimento dos EUA. E Cunha afirma

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que não só as realidades norte-americanas levaram ao desenvolvimento do

Pragmatismo, mas o relacionamento de John Dewey com as idéias de Willian

James, George H. Mead e Charles S. Peirce, que são considerados os fundadores

do Pragmatismo.

Esses pensadores foram testemunhas do avanço dos colonizadores em direção ao Oeste e da conseqüente luta pelo desbravamento desse território inóspito; vivenciaram a experiência das transformações sociais e tecnológicas, além do esforço em prol da construção de um sistema político democrático.(CUNHA, 2001, p.19).

Esta realidade filosófica e histórica trouxe à mentalidade democrática a

certeza que a autoridade humana motivada pela inteligência e pela vontade pode

alterar a condição humana. O meio ambiente, como trabalha Dewey em sua obra

Democracia e Educação como é o combustível que alimenta, estimula e inibe a

atividade humana e que, “para os pragmatistas, o terreno em que se dá a

transmissão do conhecimento, particularmente a escola, pode tornar-se um campo

fértil de experimentação de teses filosóficas” (CUNHA, 2001, p.20).

Para Cunha, o pragmatismo de Dewey não é resultado de um curto espaço

de tempo, é fruto de um longo tempo de pesquisa e estudo, assim como os

aspectos particulares da vida de Dewey contribuíram para a elaboração de suas

teorias, como a crença inicialmente no protestantismo como a passagem sua

como professor e pesquisador por várias universidades e o seu casamento com

Alice Chipaman. Não é objetivo deste trabalho discorrer sobre este assunto, mas a

menção a ele é útil para que pensemos, pesquisemos um pouco mais sobre o

modo como as idéias de Dewey devem ser entendidas mediante o incessante

movimento do mundo.

No texto em que é discutido a “Centralidade do Movimento” Cunha(2001),

destaca que o pragmatismo deweyano não foi elaborado para descansar nas

estantes das bibliotecas, para sustentar uma sociedade desumana ou para dar

crédito à passividade, mas sim para implementar a compreensão e alteração da

ordem do mundo em benefício contínuo da experiência humana.

O pragmatismo está ligado ao ato de prática, praticar, experimentar, por

isso, o conceito central do pensamento de Dewey é a experiência, a qual consiste,

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por um lado, em experimentar e, por outro, provar. Com base nas experiências, a

experiência educativa torna-se para a criança ato de constante reconstrução.

Educação é uma contínua reconstrução da experiência, porque os fins da

educação não podem ser senão mais e melhor educação, no sentido de maior

capacidade em compreender, projetar, experimentar e conferir resultados.

Até o momento do estudo, não nos deparamos com algum estudo ou

escrito sobre a validade da experiência para Cunha, mas Egídio Francisco

Schimtz (1980), em sua o Pragmatismo de Dewey na Educação, esclarece que, a

validade da experiência em Dewey está fundamentada em dois princípios;

primeiro é a continuidade, não no sentido de seqüência, em que uma coisa

acontece depois da outra. Mas a experiência bem sucedida leva obrigatoriamente

a outras experiências, e assim uma série de outras experiências. Quando esta

cadeia (seqüência) não se une mais, rompe-se a validade da experiência; sendo

um dos pontos fundamentais para Schimitz a teoria da experiência deweyana a

democracia. Schimitz deixa claro que a continuidade da experiência requer alguns

princípios: liberdade individual, colaboração, não pode haver saltos e interrupções,

para não quebrar a validade, e planejamento integrado e global onde “sem ele não

se obtém a continuidade e portando a educação é prejudicada” (SCHIMITZ, 1980,

p.193).

O segundo ponto para que a experiência seja aceita como válida é a

interação. Onde para Schimitz (1980, p.196), continuidade sem interação não tem

possibilidade de subsistência, pois é necessário considerar todos os elementos

constituintes da experiência, para que possa organizar de tal maneira que tenha

garantia ou possibilidade de servir a novas e mais ricas “experiências”. Dewey, em

sua obra, destaca que:

As concepções de situação e de interação são inseparáveis uma da outra. Uma experiência é sempre o que é porque, tem lugar uma transação entre um individuo e o que, no momento, constitui seu ambiente, e se este último consiste em pessoas com que está falando sobre algum ponto ou acontecimento, o objeto sobre o qual se fala faz parte da situação; ou os brinquedos com que esta brincando; ou o livro que está lendo (no qual suas condições de ambiente no momento podem ser a Inglaterra ou a Grécia clássica ou uma região imaginaria); ou os materiais de um experimento que está realizando (1945, p. 46-47)

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Deste modo, percebe-se que estes dois princípios, continuidade e interação

são necessários e exercem influência um sobre o outro, são dois pontos

essenciais para a validade da experiência, possibilitando a sociedade

democrática.

4.2- A importância da “experiência” para uma sociedade democrática

Para Cunha (2001, p. 25), Dewey faz uma análise em várias linhas da

filosofia que se encontra em seu tempo, para compreender o significado da

experiência para a construção do conhecimento. Assim Dewey dialogou com os

filósofos tradicionalistas, modernos, empiristas, com o idealismo racionalista de

Kant, e todas estas linhas batiam de frente, confrontavam com as idéias

deweyanas, pois “Dewey considera que grande parte da filosofia buscou atribuir à

existência do homem um significado que se encontrava distante da experiência”.

Deste modo, a adesão de Dewey a uma filosofia é fundamentada em suas críticas

a essas filosofias. Assim, Cunha destaca que:

O que contribuiu para a formulação da postura epistemológica desposada por nosso autor foi o surgimento de certas concepções inovadoras no âmbito cientifico, vale dizer, o desenvolvimento de uma psicologia baseada na biologia (CUNHA, 2001, p.28)

No início desta pesquisa, foi destacado o conceito do homem para Dewey,

que é um ser em contínua interação com o ambiente. A interação é a sua ação

com o meio ambiente, esta não deixa de ser uma auto-educação, e à medida que

ele interage troca experiência com os outros.

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O ser vivo adquire segurança quando se identifica intelectualmente como os elementos que o circundam e, mais ainda, quando prevê as conseqüências de seus atos; ele é capaz de moldar suas ações de acordo com o que prevê. O conhecimento possui um caráter “operante”, o que confere ao organismo a característica de não se restringir à mera contemplação passiva e desinteressada do mundo.... O meio ambiente, uma vez transformado pelo sujeito, reage sobre ele, de sorte que o ser vivente experimenta e sofre as consequências de seu próprio comportamento (CUNHA, 2001, p. 29 -30)

Para Cunha, o fundamento central do pensamento deweyano é a relação

que o ser humano estabelece com o meio ambiente ou a ação do ambiente sobre

ele. Isso é experiência, é experenciar, pois toda experiência como sabemos leva a

uma transformação, do contrário não podemos dizer que tenha feito experiência. A

filosofia de John Dewey firma-se na própria contingência e precariedade do

mundo, fundando a interpretação do homem e do seu meio e o sentido da vida

humana no próprio risco e aventura do tempo e da mudança.

O homem constitui-se um dos agentes, entre os muitos outros, cósmicos,

físicos e biológicos, da transformação do universo. O instrumento dessa contínua

transformação é a experiência concebida como uma ocorrência cósmica. Tudo o

que se encontra no meio ambiente reage sobre o homem ou o contrário, esta

reação se dá pela experiência, num amplo, múltiplo e indefinido processo de

repetições e renovações, de ires e vires, graças a cujo processo se tornam

possíveis, de um lado, a predição e o controle e, de outro, a oportunidade e a

aventura.

Todos os seres vivos agem e reagem em seu meio, alterando-se e

alterando o universo. E o homem exalta esse processo de interação e experiência.

Graças à linguagem, que torna a experiência cumulativa e, com o auxílio do seu

registro simbólico, ela mesma é objeto da experiência, e é pela linguagem que o

homem transfere as suas experiências. Essas experiências o levam à descoberta

das suas leis, sem os que acrescentam uma dimensão nova ao universo, como a

da direção da experiência, abrindo as portas aos desenvolvimentos insuspeitados

nas ordens e desordens, harmonias e confusões, seguranças e incertezas do

mundo, que constitui o seu meio e que passam a transformar em seu benefício.

Deste modo Cunha (2001, p.31) comenta que:

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Esse ponto de vista, que situa o homem no contexto da interação entre o seu próprio organismo e o meio que o circunda, revela a continuidade existente entre o caráter biológico e a natureza cultural do ser humano. O ser biológico, com suas características peculiares herdadas, vai sendo moldado pelo meio social e tendo que se acomodar ao ambiente em que vive. Essa acomodação, porém, não é passiva; o homem não recebe as configurações culturalmente determinadas como se um molde impusesse sobre ele; pelo contrário vai modificando, pouco a pouco, as injunções do meio e adequando-as às suas necessidades. Enfim, o que define o homem e estabelece o conhecimento que irão formalizar é o processo de interação entre o biológico e o meio sócio-cultural.

Uma vez que se interage se inicia o processo do conhecimento, e este é um

processo filosófico, pois, para a filosofia do conhecimento, conhecer é a relação

que existe entre o sujeito cognocente e o objeto a ser conhecido. Foi neste

processo do conhecimento que nos deparamos com o conceito que Cunha “a

experiência, conceito básico da filosofia deweyana, significa a interação do

organismo e do meio ambiente que redunda nalguma adaptação para melhor

centralização deste mesmo meio ambiente” (2001 p.30). Deste modo, o ambiente

social é precioso, é o lugar onde se produz o conhecimento, troca e se cria novas

experiências e conduz o homem aos poucos a uma sociedade democrática. Sem

o meio ambiente não existiriam conhecimentos sendo estes originários das

experiências.

A experiência é uma conseqüência do relacionamento do ser humano com

o ambiente, é uma interação, como já foi expresso. Apreender é, então, ir e vir, da

realidade, meio, objeto com o indivíduo. Não pode haver experiência apenas em

uma direção, pois não há transformação. Uma criança só vai sentir o que é

queimar se ela puser o dedo no fogo, ou só vai saber o que é um choque elétrico

se puser o dedo na tomada, ou qualquer meio que conduz corrente elétrica. O

arder do fogo, o choque – dor é o resultado de experenciar o meio, isto é, entrar

em ação, é prática pragmatismo.

Nesse processo de interação, Cunha aponta como Dewey entende o

conhecimento, como algo secundário. Não podemos classificar todo este processo

deweyano no sentido hierárquico, meio ambiente, homem, experiência,

aprendizagem. Não podemos dizer que o meio ambiente valha menos que o

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homem, ter o homem e não o meio ambiente, não há como se produzir

conhecimento. Para Cunha (2001,p.31):

As concepções deweyanas sugerem colocar o conhecimento em uma posição, derivada, secundaria quanto à origem, embora, sua importância, quando estabelecida, seja no interior do processo ao contrário de conceder-lhe a supremacia de elemento já definido e pronto; Dewey localiza o conhecimento no interior do processo pelo qual a vida se sustenta e evolve.

Organismo e mundo não existem independentemente, desde que o mundo

se faz o meio de um ser vivo, isto é, o conjunto de condições pelos quais ele vive.

Organismo e meio constituem um todo. Os dois só existem independentemente

nas fases de desintegração, que se resolvem com a reintegração, onde a vida

continua. Na realidade, a estrutura e o curso do comportamento normal do ser vivo

seguem um caminho, “espaço” e neste o “tempo”. Com efeito, de um estado de

ajustamento que entra em perturbação, nasce uma situação problemática

indeterminada, que provoca no organismo atividades de inquietação, indagação,

busca, exploração e manipulação as quais, se bem sucedidas, conduzem o

organismo à reintegração nas condições ajustadas da vida, pela resolução da

indeterminação ou satisfação da necessidade.

Após esta apresentação sobre a importância da experiência para uma

sociedade democrática, analisaremos a seguir como podem ser verificadas as

veracidades do conhecimento. Para a verificação do conhecimento Cunha nos

apresenta o método experimental, ou seja, o método cientifico como prefere,

Dewey.

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4.3- Método experimental

Para Dewey, segundo Cunha, o conhecimento é valido quando passa pelo

método experimental ou científico, pela experimentação, onde teremos o resultado

de aprovação ou reprovação. Todos os seres vivos fazem experimento, mas

somente o homem o faz com um fim planejado. O ser humano aprende por suas

experiências e repassa aquilo que aprendeu aos demais, estes a recebem,

interagem e a partir dela produz novas experiências. Assim Cunha (2001, p.32)

expressa que:

Além do surgimento de uma psicologia enraizada nos conhecimentos biológicos, outro fato que revolucionou a teoria do conhecimento foi o método experimental. A experimentação é uma abordagem dos fatos que busca “descoberta e verificação”, que permite certificar se determinado conhecimento é verdadeiramente conhecimento ou mera opinião. Faz parte da atitude experimental o principio de que só se pode denominar alguma coisa conhecimento “quando nossa atividade produziu de fato certas mudanças físicas nas coisas”. Sem essa precondição, “nossas idéias são unicamente hipóteses, teorias, sugestões, conjeturas”, elementos úteis apenas como indicadores de atividades experimentais a serem efetivadas. O método experimental de pensar compreende a noção de que o pensamento tem utilidade, que ele é útil exatamente no grau em que a previsão de consequências futuras é feita baseada na observação completa das condições presentes.

O método experimental de Dewey está relacionado com a sua teoria lógica.

A essência da Teoria Lógica ou Teoria da Investigação consiste na generalização

do método científico aplicado em todas as áreas do conhecimento e na própria

vida do homem. Teoria que foi bastante extensa, fundamentada e sintetizada por

Anísio Teixeira em um artigo para a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos

(www.prossiga.br/anisioteixeira/index.html). Para tanto a lógica ou teoria do

conhecimento de Dewey funda-se, com efeito, no exame do processo de adquirir o

conhecimento.

Dewey (1959, p. 181) identifica a lógica com a metodologia e com o método

científico. Sua hipótese é a de que o método experimental ou científico de

pesquisa é a própria lógica. Para o filósofo norte-americano, estas formas

decorrem e resultam da atividade de investigação, na qual se podem encontrar os

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princípios e critérios necessários à direção orientada e eficaz de nossas atividades

intelectuais.

A hipótese de Dewey faz da lógica uma ciência experimental e, como tal,

progressiva, cujo objeto é determinado operacionalmente, e cujas formas são

postuladas, ou seja, convenções construídas especulativamente e comprovadas

pela experiência, podendo assim mudar. Sendo uma ciência natural, contínua com

as teorias físicas e biológicas, nem por isto deixa de ser social, porque lida com o

humano e o humano é naturalmente social. Além disto, a lógica é uma ciência

autônoma, no sentido de que suas "formas", princípios, normas ou leis decorrem

do estudo da "investigação ou indagação ou inquérito", como tal, e não de algo

externo, sejam intuições apriorísticas ou pressupostos metafísicos.

Lógica é o modo de conduzir o processo de pesquisa. O processo de

pesquisa ou investigação é o processo pelo qual as situações indeterminadas, que

se criam nas relações entre o organismo e o meio, se resolvem.

A teoria lógica de Dewey foi aqui enunciada, a qual poderá ser abordada

em outro momento, citar o método deweyano de investigação sem explicitar a sua

teoria lógica torna-se amplo. O seu desenvolvimento completo exige que a

façamos com atenção e minuciosa análise, sendo para tanto apenas citada nesta

pesquisa.

De acordo com Cunha (2001, p. 32), na teoria do método de conhecer,

apresentada por Dewey em sua obra prima Democracia e Educação (1959, p.

377), só pode ser considerado conhecimento aquilo que:

Esteja organizado em nossas disposições mentais com a função de nos tornar capazes de adequar o meio às nossas necessidades, e mais ainda, de adaptar nossos objetivos e desejos à situação em que vivemos; o conhecimento consiste nas disposições do espírito que conscientemente adotamos para compreender o que atualmente sucede (Cunha, 2001, p.32).

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4.4- Filosofia Deweyana e a Experiência

As concepções de conhecimento que caracterizam a filosofia deweyana, ou

seja, a filosofia para John Dewey, é um esforço de continuada conciliação, e

ajustamento entre a tradição e o conhecimento científico, entre as bases culturais

do passado e o presente que flui cada vez mais rápido e rico, para um futuro

amplo, ou seja, entre o que já foi e o vir a ser, de modo a permitir e até assegurar

integrações e reintegrações necessárias do velho no novo, já operante quando

não ainda dominante.

O conhecimento, para Dewey, é o resultado de uma atividade que se

origina em uma situação de perplexidade e que termina com a resolução desta

situação. A perplexidade é uma situação indeterminada e o conhecimento é o

elemento de controle, de determinação da situação. O conhecimento é o resultado

de um processo de indagação. A caminho deste processo de pesquisa e a de sua

lógica deweyana como já esclarecemos anteriormente, lógico é o processo do

pensamento reflexivo; conhecimento é o resultado deste processo; o já conhecido

é a matéria, que usamos a operar a investigação ou a pesquisa. Para tanto, lógica

é teoria do processo de adquirir o conhecimento, no qual o conhecimento

adquirido é o termo limite, ou seja, final. Cunha (2001, p.32), é feliz neste

esclarecimento:

A concepção de conhecimento aqui exposta é justamente o que atribui à filosofia de John Dewey um caráter distinto das demais correntes do pensamento filosófico. A atividade reflexiva não se submete a qualquer instancia que não seja definida pela experiência de organizar o mundo concreto de acordo com as necessidades da vida humana e, completamente, pela capacidade genuinamente humana de ajustamento às condições oferecidas pelo meio. Trata-se de uma filosofia que desce das alturas metafísicas em que usualmente se coloca o pensar e se embrenha nas coisas terrenas que dizem respeito diretamente à vida das pessoas.

As teses ou os conceitos de Dewey são originais, não foram ditas por

alguém no passado, o que o leva a diferenciar-se dos demais filósofos, não que

outros copiem, mas o que ele produz é algo essencialmente próprio. Esta última

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parte da citação trata a filosofia de uma maneira especial, como algo venerável,

onde desce das alturas e participa da vida do homem. Mas devemos ter cuidado

para não confundirmos:

A sua filosofia com a ciência do senso comum e da ausência de sistematização. Dewey aponta certas semelhanças entre o método de sua filosofia e os procedimentos científicos. No campo da ciência natural, a experiência é uma maneira reconhecidamente legitima para se alcançar a natureza do que ela realmente é (CUNHA, 2001, p.33).

Segundo Cunha, da forma como o pesquisador se dedica a testar suas

experiências e suas hipóteses, Dewey aponta a reflexão filosófica como alvo de

investigação, onde as conclusões do filósofo de voltar para a experiência da qual

provêm para se ter à confirmação ou modificação da nova ordem em que irá se

estabelecer. Deste modo, para Cunha, a filosofia de Dewey não deve ser vista

como um conhecimento sobre a realidade. Para o autor a proposta deweyana, é a

filosofia como sendo uma reflexão sobre a experiência dos homens no mundo real

e não uma guardiã da verdade; um farol condutor da humanidade na direção do

bem. Em suma para Cunha, Dewey expressa que não devemos utilizar a filosofia

com a única verdade, mas uma ferramenta que leva o homem a buscar a verdade.

A filosofia devia ser uma contribuição para o aclaramento do sentido da vida, um esforço infindável, posto que o sentido da existência de seres social e historicamente determinados altera-se a cada momento. O papel do filósofo devia ser guiado não pela busca da Verdade, mas pelo reconhecimento da mutabilidade permanente do mundo, acompanhado pelo olhar crítico dirigido às necessidades sugeridas pela experiência coletiva (CUNHA, 2001b.p.91)

Em seus escritos, Cunha menciona que a filosofia adotada por Dewey

recebeu várias denominações estas dadas por ele mesmo como: naturalismo

empírico, ou empirismo naturalista. Em algumas épocas foi chamada de

pragmatismo, instrumentalismo e naturalismo. Mas, de acordo com o autor nos

interessa saber é que a sua filosofia possui caráter civilizador e faz-se presente na

educação:

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Orientação social, por sua vez, pressupunha a vigência de um ambiente democrático, segundo os parâmetros já delineados acima. O estudo objetivo da sociedade e da escola seria útil como instrumento adicional para fornecer elementos com os quais a sociedade poderia discutir o seu destino e o destino de sua escola. Esta última tarefa seria obra do pensamento, da reflexão e da crítica, enfim, da filosofia – auxiliada, por certo, mas apenas auxiliada, pelos recursos da ciência. (CUNHA, 2001b. p.92).

Atribuir à filosofia a função de civilizadora é atribuir a ela uma enorme

responsabilidade diante das transformações que o mundo vem sofrendo, sob o

impulso da sociedade democrática, o conhecimento cientifico. Diante desta

questão, a filosofia deve buscar novas maneiras de orientações do homem. A

sociedade está em constante movimento, não seria também a verdade um

processo em constante transformação, já que ela está estritamente presa à

realidade? Cunha responde esta questão ao analisar o pensamento de Anísio

Teixeira:

Assim, as noções deweyanas de mudança, transitoriedade e alteração incessantes da ordem social implicavam a aceitação de verdades também transitórias, o que conduzia, segundo o ideólogo católico, uma ética desprovida de fundamento, pois baseada no desdém pelos “princípios fundamentais das coisas”. Observe o leitor que, em oposição à idéia de movimento do mundo, da sociedade e da escola, idéia sempre presente na concepção deweyana de Anísio Teixeira, o pensador católico apresentava expressões que remetiam à fixidez das coisas, ao estabelecido, àquilo cuja natureza e essência jazem imutáveis e que podem ter seus fundamentos definidos uma vez e para sempre. (CUNHA, 2001b. p.92)

Para Cunha, a função civilizadora da filosofia reflete na sociedade

democrática de Dewey, por sua capacidade de absorver as mudanças que

ocorrem, uma sociedade que se preocupa com a reconstrução permanente do que

foi estabelecido para o bem e a igualdade de seus membros. A filosofia e a ciência

devem estar na sociedade para servir os membros e a própria sociedade, o que só

é possível com o abandono de verdades imutáveis e de práticas de investigação

socialmente descomprometidas.

A sociedade almejada por Dewey, segundo Cunha, é a democrática, um

modo de vida cooperativo em que todas as definições advêm de consensos

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obtidos mediante livre e aberta participação de todos. A democracia pode ser

alcançada somente por intermédio da reconstrução moral se os conhecimentos e

métodos da ciência puderem contribuir para tanto, o que exige o rompimento da

separação que se faz entre ciência natural de um lado e ciência moral de outro,

pois, “somente por meio da ação cooperativa, sob a orientação da inteligência,

pode-se controlar o ambiente físico e social com o intuito de torná-lo mais

adequado à vida humana” (CUNHA, 2001, p.35).

A essência da democracia, de acordo com Cunha, é seu caráter de vida

compartilhada, muitas vezes as necessidades individuais, confrontam com os

propósitos do trabalho cooperativo, sendo o modo correto na sociedade

estabelecida por Dewey, um estar para o outro, “sendo os aspectos

complementares que dão significado e direção tanto ao comportamento do

individuo quanto ao da sociedade” (Cunha, 2001, p.36). Em uma situação onde o

indivíduo confronta com a via estabelecida pela sociedade, qual o meio a tomar ou

como saber qual dos dois estão corretos? Cunha esclarece que:

O caráter individual é social, uma vez que os fins coletivos brotam da ação conjunta, da experiência e não constituem um fenômeno ao mesmo tempo individual e cultural. O individuo contribui para a formação da cultura e esta, por sua vez fornece o sustentáculo sobre o qual a existência ganha significado. Desse modo, por mais paradoxal que esta afirmação apresente ser, a individualidade é um fenômeno que surge da pratica associativa e não das vivencias do individuo isolado; menos do que em fato psicológico, a individualidade é um fato cultural. (Cunha, 2001,p.36)

Cabe destacar que o que liga sociedade e individuo é a inteligência, que, de

acordo com o pensamento deweyano, é uma “atmosfera fortemente socializada”.

A inteligência nascida no social e socialmente articulada permitirá ao indivíduo

social desenvolver um espírito de integração, palavra que merece destaque na

filosofia educacional deweyana, pois esta liga ao todo. A satisfação do indivíduo

se dá no social, na cooperação, do contrário isolamento não seria possível, como

definiu Aristóteles. O homem é um ser da polis, impossível imaginar um ser

humano que viva isolado da sociedade, é da natureza humana estar em contato

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com a polis, e a felicidade acontece quando nos realizamos socialmente. A

democracia é o único sistema de vida que pode possibilitar tal fato.

Cunha deixa claro que, para Dewey, a experiência só pode ser realizada no

meio ambiente, na sociedade, não podendo ser esta efetuada por uma parcela da

sociedade ou em um meio particular, pois todos os seres vivos agem e reagem em

seu meio, alterando-se e alterando o universo. Para Cunha, a experiência é base

de todo pensamento educacional deweyano, e que não podemos analisar o

pensamento do filósofo americano em partes, isoladamente, pois para Dewey

democracia é interação com o todo, ao contrário esta não existiria.

Para Cunha (2002, p.73) a filosofia educacional de Dewey é uma

contribuição, uma ferramenta para nossos problemas concretos cotidianos em

sala de aula. Contribuição, pois não possui uma solução plena para aquele que se

dedica ao ato mais belo do homem, o “trabalho de ensinar”. Cunha nos alerta que

a pedagogia deweyana nos dias de hoje não deve ser utilizada cegamente, pois, o

que Dewey nos deixou foi um método para que pensemos a realidade que se

encontra em torno de nós, e busquemos organizar a escola em função desta

questão. Este método, para Cunha requer uma postura democrática pelo

professor para que a educação possa ser utilizada como um instrumento de

equiparação de oportunidades ligação aos bens sociais, culturais, científicos que o

homem produz ao longo dos tempos. Não esperamos que a educação faça ou se

torne um movimento revolucionário, mas que o professor sintonize os jovens com

a realidade, em ternos científicos, culturais ou em movimentos sociais.

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5. Investigações em relação às rupturas ou continuidades do pensamento

educacional de John Dewey

5.1- O Contexto

Um dos questionamentos que nos levou a desenvolver este trabalho foi o

entendimento de como a pedagogia educacional deweyana foi implantada no

Brasil, por Anísio Teixeira, sabendo que entre o Brasil e EUA, as realidades

sociais não se equiparam, assim como o tempo em que Anísio Teixeira se

encontrava em relação à atualidade, para não dizer nesta mesma época Marcus

Vinicius da Cunha. Ao longo da pesquisa, tivemos dificuldades em distinguir as

modificações ou rupturas do pensamento deweyano em Teixeira e em Cunha,

pois, ambos dão continuidade ao pensamento deweyano. Sendo que, Teixeira

adapta o pensamento de Dewey ao Brasil.

Anísio Teixeira não assimilou Dewey incondicionalmente. Ao contrário dele,

como ficou dito anteriormente, que acreditava no pleno êxito das reformas

educativas em países pouco desenvolvidos pela ausência de tradições culturais

arraigadas, Teixeira conhecia e denunciou criticamente as forças dessas tradições

na sociedade brasileira, esta aristocrática. Se Dewey permaneceu como pensador

independente não se filiando a qualquer partido, para defender a reforma do

governo municipal carioca, Teixeira chegou até a redigir um programa partidário.

Dewey nunca entrou na polêmica entre escola confessional e escola pública,

Teixeira mergulhou nesta.

Se para Dewey, a escola tem como função oportunizar ao indivíduo

possibilidades de superar os limites do ambiente social em que vive entrando em

contato com ambiente mais amplo. Para Teixeira, a escola não deveria assumir

papel parcial na sociedade. A escola anisiana tinha o objetivo de formar o homem

novo, no sentido de estar integrado ao mundo moderno e industrializado, um

homem sensível à realidade vivida coletivamente e capaz de transformá-la.

Para Cunha (2001, p.59) a escola progressiva de Dewey considera a

criança o centro de todo o processo de aprendizagem “o que interessa à escola é

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promover o desenvolvimento do ser infantil e, para isto, a quantidade e a

qualidade dos conhecimentos devem ser norteadas pelas necessidades de quem

aprende”. Não podemos esquecer que para Dewey, a escola era uma sociedade

em miniatura, tem a função de simplificar o mundo, a realidade para a criança.

Dewey queria levar a escola à sociedade, de maneira simples à criança,

como ele (1959, p131), expressava que “a educação tem a função de facilitar,

simplificar a sociedade à criança”. Teixeira ansiava mudar a educação para

transformar a sociedade. Na atualidade Cunha, ou seja, em nossa realidade as

escolas preparam os alunos para a sociedade, visando o mercado de trabalho,

formando seres humanos materialistas e futuramente angustiados, deixando de

lado a formação essencialmente humana, no sentido da valorização do capital.

Podemos notar que o pensamento de Dewey neste sentido foi prolongado, foi

continuo.

Dewey e Teixeira atribuem grande peso à filosofia, ela teria a função de

civilizar as pessoas, enquanto Cunha concebe a filosofia apenas uma ferramenta,

uma orientação para os homens em sua realidade. Na sociedade atual, a ciência

é o centro das atenções, facilitando ao máximo para os homens o que se encontra

na sociedade (mundo), o essencial esta ai na internet; qual a necessidade de se

ler uma obra de Machado de Assis, para elaborar uma síntese, se ela esta pronta

em um site qualquer, o único trabalho é fazer a impressão do trabalho.

Esta atitude distância o homem da reflexão, o que leva a filosofia a ser

repudiada, eliminada por grande parte da sociedade. Este é apenas um dos

problemas que o professor hoje enfrenta na educação, desenvolver atividade

reflexiva no aluno e motivá-lo ao estudo. De acordo com Dewey, o professor

reflexivo, não canaliza o aprender através de atividades compartilhadas, mas

também reflexivas e experimentais.

Para Francisco Béltran (1930), a escola não é somente um lugar de

preparação para a vida futura, mas é em si mesma, um lugar de vida que será

preciso projetar a fim de que se manifestem as experiências que os alunos já tem

em si e se possibilitam outras novas. Dewey afirma que, a educação é vida e que

a escola deveria servir para a reconstrução da experiência, ele pressupunha uma

premissa democrática como instrumento dessa reconstrução. Da mesma forma

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que concebeu a experiência como uma relação de troca. Assim, à pedagogia

deweyana é uma forma de movimento, no sentido em que o aluno passa a ser

educado pela escola com a sua bagagem (experiência), e a escola transmite a ele

a sua experiência escolar, uma forma democrática entre os envolvidos na

experiência. É como se a democracia na sua essência se apresentasse de forma

natural.

Para Marcus Vinicius Cunha (2001, p.49), o pensador norte-americano não

justificou a democracia por meio de teorias “sobre a natureza humana ou sobre o

funcionamento psíquico dos indivíduos”, pois essas teorias estruturam-se

essencialmente sobre a historicidade em que são elaboradas, o que as torna

passíveis a equívocos. Em outra análise, comenta Cunha que:

Para Dewey, a democracia só faz sentido como imperativo moral, jamais, como imperativo psicológico ou filosófico. A democracia é algo que desejamos que aconteça, independentemente das inclinações de Verdade Última, seja ela qual for, porque julgamos que a vida democrática propicia o melhor para a experiência atual e futura da humanidade, por ser o único modo de vida que permite crescimento individual e coletivo. (CUNHA, 2001, p. 52)

De acordo com Cunha, diante de tal fato, percebe-se, então, que os

princípios fundamentais da noção de democracia anisiana são a igualdade entre

os indivíduos e o aspecto coletivo de modo de vida. Cada ser humano tem um

papel a ser desempenhado na sociedade, indiferente da classe social ou sua

origem. Assim como Dewey via a organização societária como produto humano,

uma vez que a sua construção se deu segundo os valores dos membros que a

compunham, sejam eles transformadores ou conservadores.

Frente, então, do “tumulto social”, resultado do progresso científico

material, Cunha parte do conceito deweyano de que a democracia é vida em

comunidade, responsabilizando a integração social e física e mecânica, causada

pelo industrialismo, como obstáculo ao progresso científico humanizado. Como

alternativa Cunha propõe como base da sociedade, a necessidade de

intercomunicação de todos os membros, trançando, caminhos viáveis para a

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transformação da “Grande Sociedade” em “Grande Comunidade”, com o intuito de

reforçar a concepção de público, assim como Dewey, a noção de coletivo.

De acordo com o que foi estudado e como um dos objetivos do trabalho, é

analisar as rupturas ou continuidades do pensamento educacional deweyano,

podemos afirmar que o pensamento de Dewey em Teixeira ou na atualidade com

Cunha, com relação às rupturas, as quais tiveram pouco significado quando

comparadas à continuidade do pensamento deweyano. O pensamento de Dewey

foi adaptado à realidade de Teixeira de forma a preservá-lo, mantendo a sua

originalidade.

Concluímos que em Cunha também não há modificações, pois, é ele um

dos comentadores mais recentes das obras ou da filosofia educacional de Dewey.

Mas nota-se nos escritos de Cunha, uma tendência à aplicação parcial a filosofia

educacional de Dewey no Brasil, quando nos relata que:

Ao pararmos para pensar na possibilidade de aplicação da pedagogia deweyana nos dia de hoje, devemos ter em vista que ela não é um formulário a ser utilizado cegamente... tanto a pedagogia quanto o pensamento filosófico e político de Dewey devem ser objeto de continua verificação, mediante a diagnósticos precisos que nos digam o que é necessário e possível no momento presente. (CUNHA, 2002, p. 74-75)

Deste modo Teixeira diferente de Cunha, pensou a educação como único

meio possível para rumar o país nas vias do progresso, e para a democracia – um

modo de vida compartilhado ou a sociedade uma grande cooperativa. O caminho

viável para Teixeira diante sociedade de seu tempo que era elitista, inflexível e

valoriza os que cultivam pés de cafés e não cultura seria por meio da instauração

de uma educação democrática, amparada pela ciência.

Teixeira acreditava que a escola seria o único meio de mudar a sociedade,

neste sentido ele foi ingênuo e utópico, pois ele (1958) quando discutiu os

conceitos da ideologia e da utopia, afirmou que toda sociedade precisava ser

repensada e não apenas a escola, mas o ser humano necessita compreender-se

como construtor dessa sociedade, pouco se fará para que as estruturas sociais,

políticas, econômicas, cientificas e outras, sofram mudanças.

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5.2- Porque estudar John Dewey na atualidade: Uma Visão do Pesquisador

Vários conceitos elaborados por John Dewey no campo da educação estão

presentes ainda hoje no pensamento reflexivo: professor reflexivo, educação

significativa, e vários outros. Há um aspecto particular que nos interessa que é a

visão de Dewey sobre o papel da escola na sociedade, ou seja, a escola não é um

instrumento de adequação das pessoas ao mundo existente, de adequação do

indivíduo, das crianças, dos nossos alunos na sociedade que temos como se esta

sociedade fosse uma sociedade perfeita. Isto é algo que hoje está em discussão

em âmbito internacional, no mundo todo.

No Brasil particularmente nós temos uma situação em que devemos refletir

sobre isso, que tipo de escola queremos? Uma escola de adequação ao mundo

existente ou uma escola que contribua para a superação desta realidade, do

mundo, da sociedade brasileira em que nós estamos. As idéias de Dewey vêm

sendo retomadas dos anos de 1980 para cá juntamente com vários outros

pensadores, renovadores da educação, particularmente devido ao clima político

que nós vivemos de redemocratização. Para tanto, estudar John Dewey

atualmente para os educadores significa incrementar essa discussão sobre o

papel social da escola, sua função, a escola democrática, ativa, para a

perspectiva de mudança social, de avançarmos para um mundo democrático, mais

justo e mais equilibrado.

Neste contexto nos leva a considerar que em todo o estudo abordado as

reflexões fundamentais estão voltadas para as preocupações de John Dewey com

a realidade econômica, social e política que traziam a aquela realidade incertezas

e indefinições aos primeiros tempos do século XX. Estas improbabilidades não era

algo novo, pois os EUA no passado já haviam enfrentado com o ideal separatista

que impulsionou a Guerra Civil, o racismo que desde os primeiros tempos até

atualidade se comporta como uma doença incurável. Externamente, a política

mundial se preparava para enfrentar ou solidificar em algumas nações os regimes

Totalitários e Autoritários.

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Deste modo, para entender a Filosofia deweyana temos que conceber este

cenário, pois foi para esta realidade que Dewey projetou a sua Filosofia

educacional, com a responsabilidade de propiciar mudanças, quando necessário,

mas, sobretudo mantendo os valores pautados nas relações sociais capitalista,

quando as crises econômicas ameaçaram esta ordem. Diante de tal fato, insere-se

a função da escola, harmonizar a sociedade frente as desigualdades, conservar e

manter a hierarquia dada pela organização capitalista.

Apesar de Dewey não comungar com o sistema capitalista vigente, pois o

considera desleal e desumano, desenvolveu no seu processo de reflexão alguns

elementos, concepções que aparecem nas entrelinhas de seu pensamento, que

ele não desconsidera e nem abandona a construção histórica do capitalismo.

Diferente de outras linhas de pensamento que visam mudar a sociedade

capitalista de um momento para outro, através de até revolta armada se for

necessário. Dewey propõe trazer para esta realidade a escola, para que as

crianças futuramente com novo pensar instaurem a sociedade democrática.

Destaca que o papel do Estado além de outros, é estimular e ampliar as

oportunidades da sociedade escolar. Nada mais que modo de trazer e formar a

democracia.

Em relação ao seu pensamento, é bom lembrar que a democracia não é

algo natural, e para tal ela tem que ser ensinada, direcionada, disciplinar e

somente obtida através da educação escolar. Assim, temos as propostas e

reformas educacionais da sociedade da América do Norte. A educação foi tratada

por ele como uma necessidade de vida, não somente como um meio de transmitir

conhecimentos intelectuais ou científicos, mas conhecimentos adquiridos na

“experiência” individual e vida coletiva, para dar sentido, significações para a vida

do aluno e para a necessidade social de convivência harmônica entre os

indivíduos sem mudar as relações sociais. Assim, a educação foi trabalhada para

o desenvolvimento da vida e renovação do principio coletivo.

Como vimos no decorrer desta pesquisa, Dewey foi um critico da sociedade

tradicional e da escola tradicional que tinha como objetivo, manter a sociedade,

então, ele introduziu e estabeleceu que educar é a reconstrução da experiência

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dada inicialmente da vida em sociedade, a qual traz novas significâncias na

atividade prática, pois envolvem o “aprender fazendo” e o “aprender sentido”.

Este sistema de educar para a sociedade a instauração da sociedade

democrática, não se da só por meio de teorias, o fundamental é a reflexão sobre

um novo sistema pedagógico voltado para a superação das mazelas sociais.

Deste modo, ela precisa ser pensada constantemente, para que se desenvolva

uma metodologia coerente a esse modelo, visando a reconstrução das

experiências, assegurando a liberdade de cada um e de todos os envolvidos.

As propostas de Dewey, eram refletidas da a partir das mazelas do sistema

vigente, decorrentes do modelo liberal, arcaico e não contundente que foi

confundido capitalismo com o liberalismo. O sistema a ser superado, foi a forma

de pensar e agir nele existente em não no modelo de produção que vigorava.

Mudar o pensamento dos homens era e é mudar os rumos da sociedade e

estabelecer um novo sistema social.

John Dewey foi um liberal, este conceito hoje em dia está extremamente

associado à idéia de neoliberalismo, ou seja, um retorno das idéias liberais.

Neoliberalismo basicamente hoje é um sistema, uma proposta em que o Estado se

omite da condição de uma série de políticas sociais. Dewey discutiu esta questão

nos EUA na década de trinta, quarenta, no período anterior e durante a segunda

guerra e afirmando a necessidade da presença do estado nas políticas sociais,

isto é algo importante para deixar claro e não se confundir a proposta deweyana, a

visão política deweyana com a visão política que se chama neoliberalismo.

Na sua época Dewey era um crítico, nós o chamamos de neoliberal. Ele

viveu o período da crise posterior a 1929, a queda da bolsa, a crise internacional,

verificava o empresariado em situação extremamente difícil e a classe

trabalhadora sofrendo uma miséria quase que absoluta. A solução que os liberais

do seu tempo apresentavam, era a menor participação do Estado na economia, a

mão invisível conduziria os negócios, o mercado resolveria a situação. Dewey foi

contrário a esta visão, afirmando que os fortes sobreviveriam, apenas os

empresários mais fortes, o trabalhador mais submisso será capaz de sobreviver.

Sua luta era que o Estado implementasse políticas de recuperação da economia e

de restauração da dignidade da vida dos trabalhadores como de fato acabou se

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consolidando, com o New Deal à política de Roosevelt que acabou modificando,

amenizando os efeitos dessa crise nos EUA.

De outro lado se falando de concepção política de Dewey, para ele a nossa

sociedade não é democrática, porque ela é dividida em classes sociais e até

acena com sua utopia democrática de no futuro nós chegarmos a uma sociedade

sem classes, isso poderia levar a uma identificação dessas idéias com o:

Marxismo, Comunismo. Dewey chegou a ser acusado de comunista, viajou a

União Soviética nos anos vinte, voltou elogiando bastante o que viu, mas

percebeu também que se tratava de um regime extremamente autoritário, por isso

a discordância dele em relação aos marxistas, não está no diagnóstico, para

ambos o problema está na divisão da sociedade em classes social.

A diferença é que, Dewey não acredita na solução que os comunistas

apresentam, à revolta armada, a violência, a tomada do poder. Do ponto de vista

de Dewey, isto só leva a mais violência, discriminações e distinções. A partir daí

ele propõe o método da inteligência, ao invés da violência a inteligência, mais

liberdade ao invés de menos liberdade, mais possibilidade de diálogo e discussão

para se tentar chegar a um consenso. Para se alcançar a democracia é algo que

demanda tempo, é uma das questões é a administração da liberdade, se a

conquistarmos.

A democracia e a educação proposta por Dewey, esta deve orientar e

facilitar a troca de experiências entre os homens, a cooperação, aquisição de

valores significativos socialmente. Muitos críticos do pensamento deweyano o

elegeram como defensor dos interesses burgueses ou dos trabalhadores, mas ao

elaborar as suas criticas, esqueceram talvez de lembrar que o seu pensamento

estava voltado para a sociedade complexa do seu tempo, para o seu país. O

pensamento dele no Brasil encontrou vários simpatizantes, mas nenhum foi tão

simpático como Anísio Spínola Teixeira.

Considerado o principal idealizador das grandes mudanças que marcaram a

educação brasileira no século 20, Anísio Teixeira, foi pioneiro na implantação de

escolas públicas de todos os níveis, que refletiam objetivo de oferecer educação

gratuita para todos. Como teórico da educação, Teixeira não se preocupava em

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defender apenas suas idéias. Muitas delas inspiradas na filosofia de John Dewey,

de quem foi aluno fazer um curso de pós-graduação nos Estados Unidos.

Embora em sociedades e contextos distintas, tanto Dewey como Teixeira,

tinham as mesmas preocupações e se defrontaram com os mesmo problemas,

entre os quais os problemas de caráter desigual entre os homens em que a

sociedade capitalista se apresentava, no qual diminuíram, a olhos vistos, suas

chances de reproduzir-se vendendo sua força de trabalho.

Dewey considerava a educação uma constante reconstrução da

experiência. Foi o pragmatismo, que impulsionou Teixeira a se projetar para além

do papel de gestor das reformas educacionais e atuar também como filósofo da

educação. A marca do pensador, Teixeira era uma atitude de inquietação

permanente diante dos fatos, considerando a verdade não como algo definitivo,

mas que se busca continuamente. Para o pragmatismo, o mundo em

transformação requer um novo tipo de homem consciente e bem preparado para

resolver seus próprios problemas acompanhando a tríplice revolução da vida

atual: intelectual, pelo incremento das ciências; industrial, pela tecnologia; e social,

pela democracia.

Na atualidade, a Filosofia educacional de John Dewey vem sendo discutida

por muitos pensadores preocupados com a educação, mas é Marcus Vinicius da

Cunha, que mais se destaca por seus trabalhos e obras publicadas sobre este

norte-americano, o qual foi eleito por nós para representar o comportamento das

idéias deweyanas hoje, mas como, destacamos no curso da pesquisa, não

podemos nos esquecer que Cunha é um comentador das idéias educacionais de

Dewey. Esta situação, alguns momentos, nos deixou preocupados, para perceber

se haviam rupturas ou continuidades da Filosofia educacional de Dewey.

Podemos assegurar que John Dewey hoje vem sendo muito discutido e

talvez seja, porque ele coloca toda a sua crença na escola, como meio de mudar a

sociedade e esta crença continua em nossa sociedade, apesar das mazelas com

relação à educação. Podemos dizer que a escola de tempo integral que temos

hoje teve o seu embrião formado John Dewey, Anísio Teixeira a implantou na

Bahia quando foi secretário pela segunda vez, na década de 1950, mas foi

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abortado este embrião quando os militares assumem o governo do país, pois

Teixeira teve que renunciar.

Deste modo, o pensamento de Teixeira continua influenciando a sociedade

atual, quando notamos a implantação destas escolas na atualidade, dizemos que

se o pensamento de Teixeira continua presente nesta ótica é similar afirmar que o

pensamento filosófico educacional deweyano continua presente. Como vimos no

capitulo anterior da pesquisa, quando tratamos a questão de Cunha, em que ele

confessa que as idéias de Dewey aplicada na atualidade não podem ser

implantadas cegamente, mas adaptadas, portanto, afirmamos que a escola de

tempo integral é a adaptação da escola laboratório de Dewey e da Escola-Parque

de Teixeira.

Nossa pesquisa quis trazer para a discussão o entendimento de

Democracia e Educação e suas eventuais categorias em John Dewey, se

conseguimos tal objetivo já nos damos por satisfeitos. Mas, se nós, conseguimos

apontar de que forma estas idéias aportaram no Brasil apesar das diferenças

culturais e sociais e a influencia destas sobre educação do país na década de

1930, através de Anísio Teixeira e o comportamento delas na atualidade em

Marcus Vinicius da Cunhas, então teremos alcançado o objetivo.

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