A China – Quando a Natureza e a Verdade se Renegam a Cada Esquina…

16
quando a natureza e a verdade se renegam João Aníbal Henriques

description

Apontamento histórico-sociológico sobre a China actual (Beijing, Shanghai e Guangzhou) da autoria de João Aníbal Henriques.

Transcript of A China – Quando a Natureza e a Verdade se Renegam a Cada Esquina…

  • quando a natureza e a verdade se renegam

    Joo Anbal Henriques

  • A China o maior e o mais populoso Pas do Mundo. Com os seus perto de um bilio e

    meio de habitantes, ocupando uma imensido de mais de nove milhes de quilmetros

    quadrados, a Repblica Popular da China conjuga uma histria milenar, patente em cada

    canto e recanto e sensvel em milhares de pequenos laivos da vivncia cultural do seu povo,

    com uma espcie de histria nova, de pouco de setenta anos, que acompanha algo a que

    por l se chama revoluo cultural e que ditou os destinos do controle do Partido

    Comunista Chins desde o fim da guerra civil que aconteceu em meados do Sculo XX.

    CHINAquando a natureza e a verdade se renegam

  • Quando se chega China tudo inesperado e a sensao que perdura, mais do que os sons marcantes eos cheiros que preenchem todos os detalhes da sua paisagem marcante, uma sensao de choquecultural que se traduz num impacto muito grande.

    Com um regime poltico muito marcado pelo totalitarismo poltico do Partido Comunista, bem visvel nossmbolos, nas cores e na profusa presena de militares nas ruas das cidades, a China empreendeu umesforo hrculeo ao longo das ltimas dcadas para literalmente apagar das memrias dos seushabitantes os ensinamentos antigos que haviam dado corpo identidade nacional. Quem hoje visita aChina, e salvo as rarssimas excepes de monumentos ancestrais que no foi possvel demolir peloimpacto que tiveram e continuam a ter um pouco por todo o Mundo, como a Cidade Proibida, a GrandeMuralha da China, etc. v um pas marcadamente ocidentalizado, com avenidas largas repletos demilhes de carros em engarrafamentos constantes, enormes arranha-cus ao jeito do que se faz naAlemanha e na Amrica e centenas de gigantescos centros comerciais, copiados dos que existem noOcidente mas agigantados ao gosto chins, nos quais se encontram as marcas e as lojas maisimportantes da Europa actual.

  • por isso um banho de gua fria, para quem l chega espera de encontrar os vestgios da culturamilenar chinesa, da sua forma de vestir e de estar, bem como os retorcidos telhados dos pagodesancestrais. Tudo isso desapareceu merc da revoluo dita cultural que o regime empreendeu, e foipaulatinamente substitudo por uma espcie de grande cenrio Ocidental onde se tenta copiar de formaespampanante o que se faz por c.

    Mas tenta-se somente. Porque por detrs das fachadas de vidro, dos carros alemes e das lojas maisrequintadas de Paris, sobressaem ainda os gestos antigos que os Chineses teimam em perder osarrotos sonoros em plena rua, a preparao de comida porta de casa, as cuspidelas para o cho e olixo que esvoaa por todo o lado, contrastam de sobremaneira com aquilo que imaginamos para umlugar assim. E depois a desordem ordenada e controlada que existe por todo o lado. Num Pas onde no possvel navegar livremente na internet, as ruas esto cheias de prostitutas e chulos que perseguemos poucos turistas ocidentais que por ali andam, oferecendo o seu produto e tentando levar os maisincautos para aventuras estranhas e muitos caras das quais poucos tm a coragem de voltar a falar maistarde.

  • E o engano palavra de ordem que no deixa ningum indiferente. sombra da sua incapacidade de falaroutra qualquer lngua para alm do Chins e da natural dificuldade de comunicao que da advm,qualquer ocidental que entre num txi, que tente comprar o que quer que seja e que no esteja habituadoaos usos e costumes daquela gente, ser enganado com toda a certeza.

    Apesar de tudo isso, da falta que fazem as memrias antigas de um Pas antiqussimo e que tantaimportncia teve na nossa forma de estar e de ser, o impacto de uma visita China traduz-se numaexperincia de vida, provavelmente mais impactante do que qualquer outra viagem que algum possatentar fazer.

    Vale a pena? Vale certamente!

  • Existem elementos incontornveis numa visita a Pequim. Para almda sua imponncia e antiguidade, so marcos fulgurantes naimaginao de qualquer um e definem com rigor aquilo que umturista Ocidental pensa antes de chegar a um destino toimpactante. A Cidade Proibida, a Praa de Tiananmen, a GrandeMuralha ou o Templo do Cus, so parte da paisagem e da aura demistrio que acompanha esta enorme metrpole asitica.

    Tendo anteriormente designaes diferentes, como Zhongdu, Daduou Cambuluc, Pequim (ou Beijing na ortografia local) a actualcapital da China. Com uma imensa populao de quase 24 milhesde habitantes, a segunda cidade chinesa depois de Shanghai eaquela que conjuga maior simbolismo no contexto da ditaduracomunista que actualmente se est ali a viver.

    Fundada originalmente no Sculo XIII, quando Genghis Khan unificouum conjunto de pequenos povoados ali existentes, Pequim (ouCapital do Norte) foi crescendo ao sabor das muitas vicissitudes quederam forma sua Histria. Ali residiram as principais figuras daHistria da China e ali se centralizam as estruturas de poder ao longodos ltimos sculos.

    Pequim vs Beijing

  • TianamnenA Praa da Paz Celestial, como optou por chamar-lhe o regime comunista que controla o Pas,tambm conhecida por Praa de Tianamnen, a maior do Mundo e foi inaugurada em 1651 sportas da Cidade Proibida. Por ali se representaram as encenaes das grandes paradas e dosespectculos com maior impacto polticos da sia e nela se desencadearam acontecimentospolticos que mudaram para sempre a percepo do Mundo em relao a este pas to marcante.Foi ali, em 1989, que centenas de estudantes foram massacrados pelo regime depois de tentarammostrar a sua insatisfao pelo que estava a acontecer.

    Hoje, rodeada de enormes medidas de segurana muito visveis (e tambm de outras que ningumv mas que se sentem), alberga o monumento de memria ao antigo lder comunista Mao Ts-Tung (1893-1976) e a tumba onde se encontra exposto o seu corpo embalsamado e estpermanentemente cheia com centenas de milhares de visitantes maioritariamente chineses que,com um permanente sorriso nos lbios, por ali deambulam horas e horas a fio para poderem verde perto o corpo daquele a quem, por medo ou respeito, continuam a chamar o GrandeTimoneiro. E quase faz impresso olhar para aquele mar de gente, ali s portas da antiqussimaCidade Proibida, gesticulando de satisfao em filas interminveis que rodeiam o monumentovrias vezes e onde passam horas aps horas s para comprar o bilhete.

  • E se a cidade tem uma histria ancestral, marcante principalmente no Sculo XVquando a Cidade Proibida foi construda, o certo que a sua importncia foireforada no dia 1 de Outubro de 1949 quando Mao Ts-Tung (1893-1976) aliproclama o nascimento da actual Repblica Popular da China. Tendo sidoconquistada pelo poder Nipnico em 1937, que manteve o controle sobre acidade at sua derrota na II Guerra Mundial em 1945, Pequim foi libertada peloexrcito liderado por Mao e posteriormente reconquistada pelo poder comunistaaps a Guerra Civil que imps o actual regime poltico.

    E foi precisamente o auto-designado Grande Lder que, com a ajuda de uma dassuas mulheres, empreende entre 1966 e 1969 aquilo a que optou designar porRevoluo Cultural que literalmente deu forma China actual e que tantainfluncia tem ainda hoje na formulao plstica e social o povo Chins.

    Tendo reformulado praticamente todos os aspectos da via quotidiana no seuPas, o regime comunista optou por uma soluo final que pusesse cobro a todae qualquer possibilidade de protesto ou de sublevao. Para alm de destruirgrande parte do patrimnio histrico e cultural do Pas, que associava possibilidade de descentrar as atenes do povo das inovaes e do progressoque o regime comunista pretendia impor, a revoluo cultural foi palco degrandes perseguies a oposicionistas, artistas e a todos os que ousassempensar de maneira diferente. A autntica lavagem cerebral levada a cabo porMao Ts-Tung, apagando os vestgios da milenar histria chinesa e reforando oslaos com o movimento comunista, estendeu-se a escolas, empresas e s suas,que se encheram de simbologia do regime e apagaram por completo tudo aquiloque dissesse respeito a outros tempos.

    Ainda hoje, na fachada principal da entrada da Cidade Proibida, se ostenta afotografia do lder revolucionrio, literalmente vigiando o seu povo ereverenciado como se de uma divindade se tratasse

    MaoTs

    Tung

  • E o maior choque para quem visita a China pela primeira vez ser possivelmente a Cidade Proibida. Conjuntomonumental de templos e palcios utilizados pelos vrios imperadores chineses desde 1420, quando foiconstrudo, a Cidade Proibida possivelmente o monumento chins que transversalmente acompanha oimaginrio de todos aqueles que j pensaram estar neste lugar to diferente.

    Palco de filmes e de dramas imperiais, vedada ao acesso do cidado comum, a Cidade Proibida um autnticoe maravilhoso palco onde se recriavam os espectculos que sustentavam a magnificncia do poder polticoChins.

    Actualmente, depois da revoluo cultural de Mao Ts-Tung, franquearam-se os portes antigamente semprefechados e o povo literalmente tomou conta do espao. Perdendo grande parte da sua mstica e o antigosilncio que dava corpo apreciao do lugar e que contado e recontado por todos os viajantes antigos quetiveram a sorte de l entrar, a Cidade Proibida est sempre literalmente a abarrotar de milhares e milhares devisitantes, maioritariamente chineses, que entram aos gritos, preenchem cada recanto e vo (literalmente)arrancando bocados dos adornos existentes no local.

    A Cidade Proibida

  • Sem qualquer outra espcie de orientao para

    alm de umas tnues informaes muitos

    genricas acerca dos nomes ancestrais daquelas

    vastas praas e terraos, os visitantes seguem ao

    ritmo da curiosidade, espreitando aqui e alm as

    muitas salas que enchem o lugar e ouvindo aqui e

    ali algumas palavras ditas por algum guia mais

    descuidado. No existe informao escrita, placas

    indicativas ou sequer livros venda com notas

    sobre o lugar (o nico stio onde encontrmos um

    livro em ingls sobre a histria da Cidade Proibida

    foi na rea de embarque do Aeroporto), tudo

    acontecendo ao sabor do nada que tudo enche!

    Perde-se a simbologia, o significado profundo e a

    magnificncia milenar de uma histria que

    importava recordar.

    A Cidade Proibida

  • SHANGHAI

  • SHANGHAISituada junto foz do Rio Yangtze, importante emprio comercialdurante muitos sculos, a Cidade de Shanghai actualmente amaior cidade da China e possivelmente uma das maioresmetrpoles do Mundo.

    Considerada como Cidade Mercado em 1074, foi sempre pontocentral na distribuio das riquezas produzidas no vastssimoterritrio Chins e um porto da maior importncia. De tal formaassim foi que, em 1842, quando a revoluo industrialsimplesmente comeava na Europa, Shanghai se tornou no ponto-angular do comrcio asitico, facto que ficou consubstanciado noTratado de Nangum.

    Profundamente ocidentalizada, com a sua estrutura urbanamarcada por alguns dos maiores arranha-cus do mundo,Shanghai consubstancia o seu impacto na linha costeira do RioHuangpo e no magnfico cenrio do Pudong e a Torre ProlaOriental, visto a partir do Bund.

  • A torre, construda entre 1991 e 1995, foi desenhada por Jia Huan Cheng e, com osseus 468 metros de altura, actualmente uma das mais altas torres de televiso doMundo, tendo-se assumido como ex-libris da cidade. O seu trao, baseado numpoemos da Dinastia Tang, procura recriar a linha de paisagem com os traos de umalade

    Do outro lado, causando estranheza por ter sobrevivido ao surto implacavelmentedestruir da revoluo comunista, sobrevive um antigo palacete colonialactualmente utilizado como Embaixada da Rssia na China.

  • GUANGZHOUDe todas as cidades Chinesas, Guangzhou possivelmente aquela que melhor traduz o estadoem que se encontra China actual. Emprio comercial antiqussimo, fundada no Sculo II a.C. ecom mais de dois milnios de Histria, Guangzhou ou Canto, como conhecida no Ocidente, a capital da provncia de Guangdong, um dos mais prsperos territrios do Pas.

    E se o Canto bem conhecido dos Portugueses, existindo centenas de relatos e descries deviagens feitas cidade ao longo de muitos sculos, at porque um tratado de 1511 atribui aPortugal o monoplio do comrcio em Guangzhou, j pouco resta da magnificncia de outrora.

    Os antigos bairros, as casas tpicas, os templos e as ruelas estreitas, foram progressivamentesubstitudos por enormes arranha-cus com dezenas e nalguns casos centenas de andares dealtura, muitas vezes pintados de dourado e verdadeiramente resplandescentes, num processode descaracterizao total que cumpre os objectivos ditados pela dita revoluo culturalcomunista. Sendo actualmente a terceira metrpole da China continental, com mais de 13milhes de habitantes, Guangzhou uma espcie de enorme centro comercial, cruzando vrioscentros comerciais entre si e que se estende por cima e por baixo da terra.

    CANTO

  • Da sua histria mais rocambolesca, subsiste o velhoabrigo anti-bombardeamentos, resqucio da pressojaponesa durante a II Grande Guerra, mas que seencontra literalmente perdido debaixo de uns quantosarranha-cus e de uma amlgama de centenas ecentenas de lojas aglomeradas em vrios centroscomerciais subterrneos.

    O que sobrevive da antiqussima cultura Chinesa? Poucomais de nada. Os maus hbitos arreigados por prticasde sucessivas geraes, a sujidade quepermanentemente vai enchendo as ruas das suascidades, alguns hbitos alimentares tambm elesassociados a prticas de pouca higiene e nada mais.

    Uma pena.

  • Joo Anbal [email protected]

    Tel. +351 96 251 95 14