A Cidade e as Serras

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A Cidade e as Serras Eça de Queirós

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Slides com análise da obra A Cidade e as Serras.

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Page 1: A Cidade e as Serras

A Cidade e as SerrasEça de Queirós

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   A imagem contemporânea da sociedade: “O Realismo deve ser perfeitamente do seu tempo, tomar a sua matéria na vida contemporânea. Deste princípio, que é basilar, que é a primeira condição do Realismo, está longe a nossa literatura. A nossa arte é de todos os tempos, menos do nosso.”

A reforma social – a obra de fundo moral Visão pessimista da sociedade

O Estilo de Eça

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A crítica mordaz – ataca as instituições portuguesas.

A criação de tipos sociais.

A linguagem declamatória.

O uso de estrangeirismos.

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“Releu profundamente o papel de Sua Alteza que os seus dedos acariciavam com uma

reverência gulosa.”

“E como eu lamentava que o meu Príncipe, senhor tão rico e de tão fino orgulho, por

economia duma gamela própria chafurdasse com outros numa gamela pública - Jacinto

levantou os ombros, com um camarão espetado no garfo: (...)”

“E eu (miserável Zé Fernandes!) também me senti muito sério, trespassado por uma emoção grave, como se nos envolvesse, naquela alcova

de Café, a majestade dum Sacramento.”

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A influência naturalista

“Amei aquela criatura. Amei aquela criatura com Amor, com todos os Amores que estão no Amor, o Amor divino, o Amor humano, o Amor bestial, como Santo Antonino amava a Virgem, como

Romeu amava Julieta, como um bode ama uma cabra.”

“(...) todo ele chupado, tisnado, com maus dentes, sobraçando uma enorme pasta sebenta, e dardejando, de entre a alta gola duma peliça

puída, como da abertura dum covil, dois olhinhos torvose de rapina.”

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O adultério consentido

“- Estamos separados, cada um vive como lhe apetece, é excelente! Mas em tudo há medida e

forma...Ela tem o meu nome, não posso consentir que em Paris, com conhecimento de todo o Paris,

seja a amante do trintanário. Amantes da nossa roda, vá! Um lacaio, não!... Se quer dormir com

os criados que emigre para o fundo da província, para a sua casa de Corbelle. E lá até com os

animais!...”

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O foco narrativo: 1ª pessoa – Zé Fernandes (deuteragonista).

A narrativa acontece pelo filtro da subjetividade.

O protagonista: Jacinto: “Este delicioso Jacinto fizera então vinte e três anos, e era um soberbo moço em quem reaparecera a força dos velhos Jacintos rurais.”

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O Perfil de Jacinto

“Não teve sarampo e não teve lombrigas. As letras, a Tabuada, o Latim entraram por ele tão facilmente como o sol por uma vidraça.”

“Sem coração bastante forte para conceber um amor forte, e contente com esta incapacidade que o libertava (...).” “(...)indiferente ao Estado e ao Governo dos Homens, nunca lhe conhecemos outra ambição além de compreender bem as Ideias Gerais; (...)”

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O Perfil de Jacinto

"Espalhava pela mesa um olhar já farto. Nenhum prato, por mais engenhoso, o seduzia; (...)”

“E sobretudo me impressionava o seu horror pela multidão (...)”

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Obs: As transformações de Jacinto são reveladas por Zé Fernandes que, ao identificar as mudanças no amigo, faz o registro de si mesmo.

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“Reparei então que o meu amigo emagrecera: e que o nariz se lhe afilara mais entre duas rugas

muito fundas, como as dum comediante cansado. Os anéis do seu cabelo lanígero rareavam sobre a

testa, que perdera a antiga serenidade de mármore bem polido. Não frisava agora o bigode, murcho, caído em fios pensativos. Também notei

que corcovava.”

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O choque: NATUREZA x CIVILIZAÇÃO

“Este Príncipe concebera a ideia de que o homem só é superiormente feliz quando é

superiormente civilizado.”

Suma Ciência X Suma Potência

Suma Felicidade

“Claro é portanto que nos devemos cercar da Civilização nas máximas proporções para gozar nas máximas proporções a vantagem de viver.”

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Anticlericalismo

“A religião é o desenvolvimento suntuoso de um instinto rudimentar, comum a todos os brutos, o terror. Um cão lambendo a mão do dono, de quem lhe vem o osso ou o chicote, já constitui toscamente um devoto.Mas o telefone! O fonógrafo! - Aí tens tu, o fonógrafo, Zé Fernandes, me faz verdadeiramente sentir a minha superioridade de ser pensante e me separa do bicho.

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A imagem depreciativa do campo

“Toda a intelectualidade, nos campos, se esteriliza, e só resta a bestialidade. Nesses reinos crassos do Vegetal e do animal duas

únicas funções se mantêm vivas, a nutritiva e a procriadora. (...) Ao cabo duma semana rural, de

todo o seu ser tão nobremente composto só restava um estômago e por baixo um falo! A

alma? Sumida sob a besta.

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A visita ao 202

ElevadorBiblioteca

Relógio das capitaisConferençofone

A domesticação da natureza

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As águas

“Todo um aparador porém vergava sob o luxo redundante, quase assustador de águas - águas

oxigenadas, águas carbonatadas, águas fosfatadas, águas esterilizadas, águas de sais,

outras ainda, em garrafas bojudas, com tratados terapêuticos impressos em rótulos.”

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O contraponto de Zé Fernandes

“Homem pensa ter na Cidade a base de toda a sua grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua

miséria. (...) Na Cidade findou a sua liberdade moral; cada manhã ela lhe impõe uma

necessidade, e cada necessidade o arremessa para uma dependência; pobre e subalterno, a sua

vida é um constante solicitar, adular, vergar, rastejar, aturar; e rico e superior como um Jacinto,

a Sociedade logo o enreda em tradições, preceitos, etiquetas, cerimônias, praxes, ritos,

serviços mais disciplinares que os dum cárcere ou dum quartel...

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(...) Mas o que a cidade mais deteriora no homem é a Inteligência, (...) Nesta densa e pairante camada de Ideias e Fórmulas que constitui a

atmosfera mental das Cidades, o homem que a respira, nela envolto, só pensa todos os

pensamentos já pensados, só exprime todas as expressões já exprimidas: (...) Todos,

intelectualmente, são carneiros, trilhando o mesmo trilho, balando o mesmo balido, com o focinho pendido para a poeira onde pisam, em

fila.E aqui tem o belo Jacinto o que é a bela Cidade!”

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A crise de Jacinto e suas consequências:

Leituras: Eclesiastes e Schopenhauer. A indiferença à civilização e seus bens. Cai no pessimismo e no tédio.

“Foi então que o meu Príncipe começou a ler apaixonadamente, desde o Eclesiastes até Schopenhauer, todos os líricos e todos os teóricos do pessimismo.”

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“Então olhei de novo para toda a injustiça que existe neste mundo. Vi muitos sendo explorados e maltratados. Eles choravam, mas ninguém os ajudava. Ninguém os ajudava porque os seus perseguidores tinham o poder do seu lado.

Porém mais felizes do que todos são aqueles que ainda não nasceram e que ainda não viram as

injustiças que há neste mundo.”(Eclesiastes 4: 1-3)

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Há um tempo de nascer e tempo de morrer;(...)Tempo de demolir e tempo de construir.Tempo para chorar e tempo para sorrir;Tempo para a guerra e tempo para a paz.

(Eclesiastes 3: 1-8)

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“- Meu filho, olha que eu não passo dum pequeno proprietário. Para mim não se trata de saber se a

terra é linda, mas se a terra é boa. Olha o que diz a Bíblia! “Trabalharás a Quinta com o suor do teu rosto! �

E não diz “contemplarás a Quinta com o enlevo da �tua imaginação! �

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“- Com efeito, há aqui falta de mulher, com M grande. Mas essas senhoras aí das casas dos arredores...

Não sei, mas estou pensando que se devem parecer com legumes. Sãs, nutritivas, excelentes para a

panela - mas, enfim, legumes.”

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“Mas, à porta, que de repente se abriu, apareceu minha prima Joaninha, corada do passeio e do vivo ar, com um vestido claro um pouco aberto no pescoço, que fundia mais docemente, numa larga claridade, o esplendor branco da sua pele,

e o louro ondeado dos seus cabelos (...)”

“E foi assim que Jacinto, nessa tarde de Setembro, na Flor da Malva, viu aquela com

quem casou em Maio, na capelinha de azulejos, quando o grande pé de roseira se cobrira todo

de rosas.”

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O encontro com a Natureza

“Na Natureza nunca eu descobriria um contorno feio ou repetido! Nunca duas folhas de hera, que,

na verdura ou recorte, se assemelhassem! Na Cidade, pelo contrário, cada casa repete servilmente a outra casa; todas as faces

reproduzem a mesma indiferença ou a mesma inquietação; as ideias têm todas o mesmo valor,

(...); e até o que há mais pessoal e íntimo, a Ilusão, é em todos idêntica (...) ... a mesmice –

eis o horror das Cidades!

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“A arte oferece-nos a única possibilidade de realizar o mais legítimo desejo da vida – que é

não ser apagado de todo pela morte. A Arte é tudo porque só ela tem a duração – e tudo o resto é

nada!”

(Eça de Queirós)

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“Para a maioria, quão pequena é a porção de prazer que basta para fazer a vida agradável!”

(Friedrich Nietzsche)