A COMUNICAÇÃO VISUAL DA CIÊNCIA: ANÁLISE DAS … · capas reflete aspectos de uma cultura...

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1 A COMUNICAÇÃO VISUAL DA CIÊNCIA: ANÁLISE DAS CAPAS DO PERIÓDICO BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI 1 Elaynia Ono (PPGCOM-UFPA-Pará) 2 Guaciara Freitas (PPGCOM-UFPA-Pará) 3 Resumo: No presente artigo, realizaremos uma análise visual das capas do periódico científico Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, nas suas duas versões, Ciências Humanas e Ciências Naturais, considerado atualmente, o mais antigo do Brasil ainda em circulação, desde 1894. A abordagem abrange os três últimos momentos específicos de transição da composição gráfica, adotada ao longo do período correspondente entre 1984 a 2016. Trataremos a materialidade empírica do objeto como narrativas imagéticas impressas, enfatizando aspectos da produção editorial. Assim, analisamos as capas segundo uma perspectiva teórica de interação imagética dos sujeitos e relacional do campo científico com a sociedade. Consideramos que as referidas capas viabilizam a circulação de representações da Amazônia e do mundo científico, tanto para cientistas, como para o público em geral. Neste sentido discutimos de que modo a constituição das capas reflete aspectos de uma cultura científica e como participa do processo de comunicação da ciência. Palavras-chave: Periódico Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi; Comunicação visual; Comunicação científica. INTRODUÇÃO Neste artigo abordaremos a dimensão das práticas do conhecimento cientifico dentro do contexto de uma ciência emergente, que se imagina como objeto transformador, configurando-se em uma ciência que busca a compreensão do mundo, com o propósito de formar indivíduos voltados a um “paradigma social, o paradigma de uma vida decente”, Santos (2008, p. 60). 1 Trabalho apresentado no II Encontro de Antropologia Visual da América Amazônica, realizado entre os dias 25 e 27 de outubro de 2016, Belém/PA. 2 Mestranda pelo programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia da Universidade Federal do Pará. [email protected] 3 Professora, Pesquisadora vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia da Universidade Federal do Pará pelo Programa Nacional do Pós-Doutorado (PNPD) da Capes. [email protected]

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A COMUNICAÇÃO VISUAL DA CIÊNCIA: ANÁLISE DAS CAPAS DO

PERIÓDICO BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI1

Elaynia Ono (PPGCOM-UFPA-Pará)2

Guaciara Freitas (PPGCOM-UFPA-Pará)3

Resumo: No presente artigo, realizaremos uma análise visual das capas do periódico

científico Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, nas suas duas versões, Ciências

Humanas e Ciências Naturais, considerado atualmente, o mais antigo do Brasil ainda em

circulação, desde 1894. A abordagem abrange os três últimos momentos específicos de

transição da composição gráfica, adotada ao longo do período correspondente entre 1984

a 2016. Trataremos a materialidade empírica do objeto como narrativas imagéticas

impressas, enfatizando aspectos da produção editorial. Assim, analisamos as capas

segundo uma perspectiva teórica de interação imagética dos sujeitos e relacional do

campo científico com a sociedade. Consideramos que as referidas capas viabilizam a

circulação de representações da Amazônia e do mundo científico, tanto para cientistas,

como para o público em geral. Neste sentido discutimos de que modo a constituição das

capas reflete aspectos de uma cultura científica e como participa do processo de

comunicação da ciência.

Palavras-chave: Periódico Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi; Comunicação

visual; Comunicação científica.

INTRODUÇÃO

Neste artigo abordaremos a dimensão das práticas do conhecimento cientifico

dentro do contexto de uma ciência emergente, que se imagina como objeto transformador,

configurando-se em uma ciência que busca a compreensão do mundo, com o propósito

de formar indivíduos voltados a um “paradigma social, o paradigma de uma vida

decente”, Santos (2008, p. 60).

1 Trabalho apresentado no II Encontro de Antropologia Visual da América Amazônica, realizado entre os

dias 25 e 27 de outubro de 2016, Belém/PA. 2 Mestranda pelo programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia da Universidade Federal

do Pará. [email protected] 3 Professora, Pesquisadora vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e

Amazônia da Universidade Federal do Pará pelo Programa Nacional do Pós-Doutorado (PNPD) da Capes.

[email protected]

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Entendemos que a sociedade contemporânea é fruto de suas práticas de

conhecimento científico e tecnológico, o indivíduo, portanto faz parte desse processo,

desse modo não pode permanecer passivo diante de seu desenvolvimento, e conquistar

seu lugar como agente transformador de sua própria realidade, torna-se vital. Desse modo

buscaremos refletir como a comunicação científica e seus métodos de linguagem atuam

no processo de interação com a sociedade, e de como esse processo estimula a essa mesma

sociedade, refletir de maneira a se apropriar da ciência como ferramenta de “sabedoria

cotidiana”, incorporando-a como valores de uma prática cultural. É nesta ordem de

entendimento que atravessaremos o conceito de cultura científica de Carlos Vogt, para

tentar esclarecer a dinâmica que a difusão do conhecimento científico se estabelece e

penetra nos tecidos sociais.

Por fim, tentaremos aqui elucidar, através da narrativa imagética das capas dos

Boletins do Museu Paraense Emílio Goeldi, produzido na Amazônia, o desenvolvimento

dessa ciência que emerge como produto da cultura científica, e de como os aspectos do

processo de produção dessas capas podem refletir na interação entre a comunicação

científica e a sociedade. A discussão proposta também ressalta a trajetória do processo de

construção da imagem pública que o periódico possui enquanto patrimônio nacional do

conhecimento cientifico produzido na “periferia do mundo” para o mundo. (FERREIRA,

FUNARI, 2009. p.11).

A análise aborda os três últimos períodos específicos que apresentam uma

transição na composição gráfica do Boletim, enfatizando aspectos de sua linha editorial

que influenciaram na escolha da imagem da capa, do logotipo e dos demais aspectos, que

contribuíram para essa construção ao longo do período correspondente entre 1984 a 2016.

O recorte de tempo se justifica por representar o intervalo após a adoção do número

internacional para registro de periódicos seriados nos Boletins, o ISSN (International

Standard Serial Number) e pelas expressivas reconfigurações visuais gráficas das capas

no período citado.

O BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI

O atual periódico “Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi”, foi idealizado por

Emílio Goeldi ainda no século XIX, denominado inicialmente de Boletim do Museu

Paraense de História Natural e Ethnographia, com a missão de configurar na região, uma

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tradição de produção científica voltada para o intercâmbio de experiências entre os

pesquisadores da Amazônia e o resto do mundo. Durante sua trajetória o Boletim passou

por diversas reformulações, tanto no âmbito editorial e gráfico, quanto a situações

relacionados a sua baixa ou irregular periodicidade e até mesmo falta de circulação,

geralmente ligadas a falta de investimentos públicos.

Nos seus primeiros anos, entre 1894-1914, foi caracterizado por ser o período

áureo de produção e difusão do conhecimento Amazônico para o mundo, ganhando fama

internacional, o periódico transformou o antigo Museu Paraense na mais produtiva

instituição científica do país, responsável, juntamente com os demais museus de história

natural, pela introdução das teorias evolucionistas e ecológicas nas ciências naturais

brasileiras.

Sua história segue com momentos de restabelecer a produção e circulação do

Boletim, o que só voltou a aconteceu por volta de 1933, após 20 anos sem novos

lançamentos, mantendo uma escassez de publicação até meados de 1950, quando o

Conselho Nacional de Pesquisas (atual Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico – CNPq), através do Instituto Nacional de Pesquisas da

Amazônia (INPA), passou a administrar o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) (SITE

INSTITUCIONAL, 2016).

Neste período até 1983, diversos fascículos avulsos do Boletim, sem periodicidade

e desmembrados em quatro séries (Antropologia, Zoologia, Botânica e Geologia) foram

publicados. Em 1984, com a transferência da administração do Museu diretamente para

o CNPq os boletins passaram por outra adequação, uma nova reformulação editorial e

gráfica e a adoção do número internacional para registro de periódicos seriados (ISSN-

International Standard Serial Number), sendo mantidas as três primeiras áreas de estudo,

Antropologia (ISSN 0522-7291), Zoologia (ISSN 0077-2232) e Botânica (ISSN 0077-

2216) e a quarta substituída pela série Ciências da Terra (ISSN 0103-4278).

Entre 2002 e 2005 se instaurou um outro momento de dificuldades de publicação,

e sua produção é suspensa, só voltado a circular novamente em 2005, com um novo

regime editorial e gráfico, porém, mantendo ainda uma periodicidade irregular, o Boletim

concentrou suas séries em duas grandes áreas Ciências Naturais e Ciências Humanas,

porém permaneceu com características de revista seriada, o que poderia ser visto na

primeira página do impresso, antes do título, a palavra série.

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Em 2006, com o apoio da Fundação Biblioteca Nacional juntamente com

Biblioteca Virtual em Saúde do Instituto Evandro Chagas, sugere-se um ajuste tanto no

título quanto no seu ISSN. Nesta nova fase a contagem do Boletim é reiniciada e novos

registros ISSN são adotados. No ano seguinte uma nova equipe de produção reestrutura

um outro plano de reconfiguração total das condutas editoriais e gráfica do periódico,

conduzindo ações voltadas às normas internacionais de publicação científica. Atualmente

os Boletins são encontrados em duas versões: Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi.

Ciências Humanas (ISSN 1981-8122) e Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi.

Ciências Naturais (ISSN 1981-8114), com publicação quadrimestral, lançadas três vezes

ao ano nos meses de abril, agosto e dezembro, distribuída por todo território nacional e

ampla circulação internacional.

Os Boletins hoje, estão indexados e fazem parte de um grupo de indicadores de

excelência em produção científica. Na área de humanas o Boletim se encontra nas bases

de dados da Anthropological Index Online, Anthropological Literature, da Citas

Latinoamericanas en Ciencias Sociales y Humanidades (CLASE), Directory of Open

Access Journals, da International Bibliography of the Social Sciences (IBSS), do

Latindex, do sistema Scientific Electronic Library Online (SciELO), e do SCOPUS

ELSEVIER. Sendo classificado na avaliação QUALIS, na categoria A2.

Na área de Ciências Naturais, o Boletim está indexado nas plataformas: CAB

Abstracts, Directory of Open Access Journals, International Bibliography of the Social

Sciences (IBSS), e no Sistema Regional de Información en Línea para Revistas

Científicas de América Latina, el Caribe, Espanã y Portugal (LATINDEX).

A CONSTRUÇÃO DE UMA IMAGEM PÚBLICA

Os Boletins do Museu Paraense Emílio Goeldi são dois periódicos, publicados por

uma Instituição de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação,

o Museu Paraense Emílio Goeldi, localizada em Belém, região Amazônica. A instituição

foi fundada em 1886, e tem como missão “realizar pesquisas, promover a inovação

científica, formar recursos humanos, conservar acervos e comunicar conhecimentos nas

áreas de ciências naturais e humanas relacionados à Amazônia” (Plano Diretor 2011-

2015. p.10).

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Por estar inserida em um contexto geográfico estratégico, o processo de

construção de sua identificação, sempre esteve ligado ao significado que a Amazônia

adquiriu para a ciência, tanto como lugar de grande riqueza natural, e elemento mítico

que permeia o imaginário coletivo sobre o mundo natural Amazônico e

sua exuberante Biodiversidade, como área de preservação ambiental

para a manutenção da vida no planeta, e expressivo canteiro econômico de interesse

mundial, ingredientes que encantaram a comunidade científica a se juntar ao projeto de

desenvolver em Belém do Pará, uma “colônia científica” (Sanjad, 2010), e que continua

a despertar até hoje, a atenção de pesquisadores do mundo inteiro e de órgãos

competentes, para a importância de se perpetuar o projeto científico proposto por seus

fundadores.

“O Museu”, como é conhecido entre a população paraense, é parte da construção

histórica e cultural da cidade, estando presente nas lembranças do imaginário coletivo da

sociedade local, sendo admirado por seus habitantes como ponto de visitação turística, de

educação, de entretenimento familiar e contato com a natureza, viver em Belém é ter uma

parte de suas lembranças construída na própria instituição, que desde o início de sua

trajetória, propiciou uma estreita ligação com a sociedade local, promovendo não só um

espaço de convívio social, mas atuante no sentido de despertar na sociedade o interesse

pelo mundo natural, e pelas ciências.

O Museu Goeldi é hoje um centro de referência internacional no desenvolvimento

dos estudos voltado as questões Amazônicas, no que concerne a sua biodiversidade,

ecossistemas e dinâmicas socioculturais.

Os periódicos do Museu Goeldi, atuam neste contexto não apenas como veículo

de informação da produção de saberes dessa instituição, mas se configuram como

representante de uma cultura científica, delineada pela trajetória histórica em se pensar

ciência de forma integrada e compromissada com a sua democratização. Representa a

memória de uma ciência, que conta em sua própria trajetória as diversas narrativas que

configuraram a construção de sua imagem, uma imagem que para ser descrita é

necessária que ultrapasse seus conceitos de funcionalidade prática e se enverede por uma

dimensão mais ampla, que seja possível abarcar uma interpretação mais subjetiva que dê

conta do plano dos sentidos qual está inserido.

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O OBJETO: CAPA

Denominamos de capa, o invólucro de um objeto. No caso de um livro, de uma

revista periódica ou outro material impresso a capa é a parte exterior da publicação,

muitas vezes produzida em material diferenciado do restante, denominado de miolo ou

corpo de livro. São componentes da capa: a primeira capa, que é a parte da frente da capa,

a segunda capa, parte de trás da primeira capa, terceira capa que é a parte de dentro da

quarta página, e a quarta capa ou contracapa parte de trás do material impresso, faz parte

também da composição da capa, a orelha ou aba, parte da capa dobrada para dentro e que

podem conter informações do autor, e a lombada que apresenta informações da obra como

título e nome do autor.

A capa tem a função prática de proteger o exemplar, sendo também um

componente visualmente atrativo que convida à leitura, é a vitrine de uma publicação, é

a apresentação de um conteúdo, mas é também sua identidade. Para se formar um

conjunto final integrado de design, a capa apresenta diversos elementos como, o próprio

layout, tipografia, o formato, a qualidade de impressão, o tipo de papel, o acabamento e

as imagens, todos esses elementos desenvolvem uma mensagem. Para Fonseca (2008, p.

261-262) “a capa é muito mais que uma embalagem, porque o produto que está dentro

dela, não é detergente nem chocolate, mas pensamento do espírito humano”.

DESENVOLVENDO OS CONCEITOS

Não é novidade alguma afirmar que vivemos em uma sociedade altamente visual,

nossas relações com o mundo estão intimamente ligadas com as representações

simbólicas, que as imagens podem construir no nosso cotidiano.

As experiências visuais criam sensações que nos remetem as ideias, a formulação

de conceitos, e a recordação das experiências vividas. Retomamos parte de nossas

lembranças a partir da evocação de uma imagem guardada no subconsciente, podemos

acionamos em alguns minutos, o rolo do filme de nossas vidas, quando buscamos nossas

lembranças imagéticas afim de narrar toda uma história de vida.

A imagem atrai instiga ao pensamento, o tempo que se dedica ao admirar uma

imagem, nos faz refletir, sentir, interpretar e construir modelos a partir de sua experiência,

se colocando no contexto apresentado e se reconhecendo no mundo como indivíduo

participante da sua própria realidade.

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Bakhtin (1997. p. 220) nos fala da imagem como símbolo produtora de sentidos.

A passagem da imagem para o símbolo revela-lhe a profundidade e a

perspectiva de sentido. Relação dialética entre identidade e não-identidade. A

imagem deve ser compreendida pelo que ela é e pelo que significa. O conteúdo

do símbolo autêntico aparece através do encadeamento mediador de um

sentido que foi correlacionado com a idéia da totalidade universal (do conjunto

universal cósmico e humano). O mundo tem um sentido — “a imagem do

mundo manifestada na palavra” (Pasternak) [...]. (BAKHTIN, 1997. p. 220).

Para ele a definição de sentido se encontra na compreensão daquilo que

descobrimos, através do ato de contemplação e dos movimentos criativos que o

submetemos, e que o aprofundamento da compreensão de sentidos depende de uma

racionalização entre a análise científica habitual e a interpretação filosófica-artística.

“Até que ponto é possível descobrir e comentar o sentido (da imagem

ou do símbolo) unicamente mediante outro sentido isomorfo (símbolo ou

imagem)? O sentido não é solúvel no conceito. Papel do comentário. Teremos

quer uma racionalização relativa do sentido (a análise científica habitual), quer

um aprofundamento do sentido, com a ajuda dos outros sentidos (a

interpretação filosófico-artística). O aprofundamento mediante ampliação das

distâncias contextuais.

Uma explicação das estruturas simbólicas tem de entranhar-se na

infinidade dos sentidos simbólicos; por isso não pode tornar-se urna ciência na

acepção desta palavra quando se trata das ciências exatas.”

Uma interpretação dos sentidos não pode ser de ordem científica, mas

mesmo assim conserva seu valor profundamente cognitivo. Pode servir

diretamente à prática que concerne às coisas.

“Cumpre reconhecer que a simbologia não é uma forma não-científica

do conhecimento, mas uma forma científica-diferente do conhecimento,

dotada de suas próprias leis internas e de seus critérios de exatidão”

(Averintsev). (BAKHTIN, 1997. p. 220).

Para Manguel (2001, p. 21) as “imagens que formam nosso mundo são símbolos,

sinais, mensagens e alegorias, são a matéria a qual somos feitos”. Para ele as narrativas

existem no tempo, e as imagens no espaço, onde podemos recriar novas narrativas através

da interpretação de outras narrativas recriando assim, um “museu de imagens”, ao qual

nos assemelhamos e nos refletimos nas várias interpretações que elas podem causar.

É a imagem como código visual, que emerge preocupada em se fazer entender na

sua plenitude, como um organismo vivo, que molda a sociedade e a natureza de como o

indivíduo se percebe nesse processo, como ele constrói sua percepção do mundo através

do olhar estético.

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É principalmente por meio da experiência visual que o indivíduo interpreta o

mundo que o cerca, as experiências vividas alimentam e expandem seus significados,

comove a imaginação, desperta sentidos, podendo criar laços afetivos familiar de

reconhecimento de seu mundo, com a representatividade oferecida pela própria imagem.

É através do campo da sensibilidade visual e imagética que conseguimos

“ (...) pensar o mundo não apenas e a partir da pretensão à

racionalidade pura, não apenas a partir de modelos gerais ou teóricos e, sim do

ponto de vista de um imaginário social, latente em cada um de nós, sempre

uma interpretação desta visão de mundo” (SAMARIN, 1999, p. 39).

AS “NOVAS” CAPAS DO BOLETIM

Em 1984, os Boletins recebem seu ISSN (International Standard Serial Number),

neste momento percebemos, mesmo que de forma pouco explorada, uma aproximação da

ciência com uma linguagem mais expressiva de comunicação. A composição da imagem

da capa apresentada por uma tipografia com serifa clássica, de nuances quadrada, nos

remete ao tradicionalismo árido, expressa a ideia de uma ciência

conservadora, rígida, e “imperialista” afastada das artes e do mundo dos sentidos. Não se

trata aqui de uma tentativa de aproximar a análise estética das capas, para uma dimensão

apenas artística, mas, como bem coloca BRASIL (1999, p. 19), de observa-lo a criar

tensões e linhas de fuga em outros regimes, forçando a variações no interior das

estruturas, sejam elas científicas, tecnológicas, filosóficas ou sociais.

A exaltação de parte do título do periódico, “Museu Paraense Emílio Goeldi” em

relação a primeira parte do título, “Boletim do”, sugere a importância da

instituição na própria geografia da região, a escolha das cores para a capa, representam

cada área de estudo e delimita seu campo de ação, o peso das cores fortes e sólidas

intensificam a ideia de imponência. Quanto aos aspectos físicos o periódico mantinha um

padrão de sua dimensão em aproximadamente 22 X 15,5 cm, composto nas cores: verde

para a série de Botânica, cor laranja para série de Zoologia, e tons de marrom para

Ciências da Terra e Antropologia. (Figura 1)

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Figura 1. Apresentação das capas do Boletim a partir de 1984. Fonte: acervo da pesquisa.

Esse modelo de capa foi utilizado até 2004, quando passa no ano

seguinte a introduzir nas suas linhas editoriais uma outra proposta de disseminação

científica, a proposta foi apresentada na carta editorial do primeiro número de janeiro de

2005 por Peter Mann de Toledo, na época diretor do Museu Goeldi.

Ele ressalta o novo formato da revista (figura 2) como sentido de ação para a

difusão científica, o qual permitiria uma comunicação de forma coerente entre as diversas

áreas do conhecimento. A apresentação do novo formato editorial do periódico, ressaltava

a importância de “uma instituição centenária de pesquisas científicas que está inserida

num ambiente geográfico que se transforma rapidamente e que não pode, em princípio,

manter-se distante da sociedade e dos movimentos sociais”.

(...) “deve também se preocupar em conduzir, incentivar e induzir

programas e ações de disseminação científica. Tais instrumentos devem

permitir uma comunicação de forma coerente e condensada das novidades

científicas e reflexões sobre a história social e natural expressa no

diálogo entre diferentes áreas do conhecimento. Nesse sentido, com o apoio da

comunidade científica, esta gestão apresenta esse novo formato de revista

científica” (TOLEDO, 2005. p. 5.)

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Figura 2. Modelos de capas adotados entre o período 2005 a 2008, nas suas duas séries

Ciências Humanas e Ciências Naturais. Fonte: acervo da pesquisa.

O Boletim passaria a exibir o formato fechado nas dimensões aproximadas de 25

x 21,2 cm. Na capa a imagem de uma pena nas cores que se estende de um tom de marrom,

com toque avermelhado ao azul, a ideia da imagem interpretaria tanto elementos da área

de Humanas quanto o arcabouço de Ciências Naturais, o título ganha uma outra

organização e não mais aparece desmembrado em hierarquias diferentes, mantendo uma

unidade entre título e área de conhecimento, ocupando toda a parte inferior do periódico,

assim como a indicação do volume e número da edição, a posição do ISSN

é mantida no canto superior direito, a capa se apresenta limpa de outros ornamentos e

imagens, dando ênfase a áreas de atuação, que a partir desse momento se apresentam

condessas em duas séries Ciências Naturais e Ciências Humanas.

Na quarta capa (Figura 3) foi mantida o sumário e introduzidos a marca da

instituição, seguida dos logos do Museu Paraense Emílio Goeldi, e do Ministério da

Ciência e Tecnologia, Órgão de apoio e fomento ao desenvolvimento científico. A

lombada continuava a expor o nome do periódico a área, o volume, número, e ano da

edição, a capa se alongou e ganhou um formato com orelhas. As edições posteriores a

2005, adotaram um novo ISSN, mantendo apenas os formatos e o layout de capa.

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Figura 3. Capa e contracapa dos Boletins de Ciências Humanas e de Ciências Naturais, nas suas duas

séries Ciências Humanas e Ciências. Fonte: acervo da pesquisa.

Percebemos nessa ação de reformulação de formato e de capa, um primeiro passo para o

ajustamento de uma linguagem comunicacional, preocupada tanto em expandir suas ações de

interação com os campos sociais onde circula, como reforçar a sua representação enquanto

lugar de produção de sentidos, e que apoia a construção de um conhecimento

que precisa constantemente se reposicionar, se reconhecer como objeto de transformação

social.

Entende-se aqui como processo de interação o movimento de comunicação que

representa ações sociais, construídas a partir de uma complexa estrutura de experiências,

que condicionam estímulos de respostas, dotada de significados e simbolismo que

realimenta o círculo de interatividade social humana (FRANÇA, 2008).

A partir do volume 4, número 1 de 2009, e já sobre o domínio de outro ISSN, e

dando prosseguimento as fases de reformulação, os Boletins passaram por uma nova

adequação de seus padrões editoriais gráficos, adotando uma performance visual mais

dinâmica e atrativa. As capas são redefinidas dentro das áreas que a compete

de maneira distinta, cada número passou a ser abordado com uma imagem especifica,

gerando uma expectativa por parte dos autores, da própria instituição e do

público em geral quanto ao lançamento da próxima edição, de como seriam as próximas

capas dos Boletins (Figura 4).

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Figura 4. Adotadas a partir de janeiro de 2009, as capas dos Boletins de Ciências Humanas e de Ciências

Naturais, ganham novo visual a cada edição. Fonte: acervo da pesquisa.

A mudança não ocorre somente na inclusão da imagem como novos parâmetros

de apresentação, o título também evolui em formato e cores, e se adapta a um quadrante

de proporções gráficas que foge de um padrão convencional se alinhando a um formato

inovador e contemporâneo, sugerindo uma ciência que pode ser interpretada por

diversos ângulos.

O posicionamento do título, assim como os demais elementos na página, foi

distribuído obedecendo regras de produção gráfica visual, que leva em consideração o

arranjo alinhadamente “agradável, atraente e confortável” (FONSECA, 2008. p. 210),

uma organização visual que direciona o leitor a uma hierarquia de sequência

lógica de leitura, nessa elaboração aparece na capa um outro elemento, uma espécie de

tema para a edição, uma chamada, quase um convite para a leitura, e na contracapa surge,

além do sumário e dos logos institucionais, um selo (neste número foi adotado a imagem

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de um anfíbio), que representam as edições especiais, como o que usada no primeiro

número de 2010, na edição especial sobre os resultados de pesquisas realizadas durante

as expedições a Calha Norte, que resultou na edição sobre os vertebrados do norte do

Pará. (Figura 5)

Figura 5. Imagem do anfíbio na contracapa para representar o número especial do Boletim de Ciências Naturais

v.5 n.1 de janeiro/abril de 2010.Fonte: acervo da pesquisa.

A ideia da composição da capa não era apenas de inserir uma imagem bonita, mas

a de compor um cenário que mostrasse um significado uma mensagem ou uma história,

observando-a neste contexto podemos perceber a utilização de todos os componentes da

capa, usados como um quadro de representação (Figura 6).

A naturalidade da composição da paleta de cores, sombreamentos e contrastes

usados nos elementos tipográficos, são percebidas e obtidas da própria imagem da capa,

o que produz uma unidade harmônica e de efeito elegante. A escolha da imagem

para a capa obedecia a critérios específicos de seleção, e representava temas da

edição, a imagem geralmente pertencia a um dos artigos publicadas naquele

número, essa escolha de imagem significava para o autor um reconhecimento a mais de

sua obra, elevando a importância da imagem do seu artigo a um outro status de referência.

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Figura 6. Imagem da capa do Boletim de Ciências Humanas v.4 n.2 maio/agosto de 2009, para representar

o contexto histórico que estava presente nesta edição. Fonte: acervo da pesquisa.

Para os autores em geral, a capa era uma forma de identificar rapidamente a sua

produção, em qual número havia sido publicado e facilmente localizado, para a sociedade

em geral, a proposta de capas distintas em cada edição, significava o ciclo de constante

renovação científica, de uma ciência em movimento, atualizada com as demandas da

sociedade, e do próprio mercado editorial, e que por sua vez acaba por gerar um outro

ciclo de interesses, o de se buscar por essa ciência que se faz presente, participativa e

atual, proporcionando, assim, um fluxo interacional mais ativo entre a comunicação da

ciência e a divulgação científica, sendo a experiência vivida das relações estéticas e

imagética a amalgama desse processo interacional.

Efetivamente, na experiência vivida (que se pode dar frente a coisas

do mundo, a situações vivenciadas ou a materiais expressivos de qualquer

ordem) parece ocorrer, junto com a emoção, uma reação proprioceptiva desta.

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No esforço de compartilhar – expressando para outros, tentando

incluir aí mais que um relato frio de uma experiência exaurida para recuperar

uma expressão o próprio afeto relatado – se encontraria o elemento central da

experiência estética relacionada aos processos interacionais da sociedade

(BRAGA 2010, p. 82).

São nesses processos interacionais que envolve a comunicação e a divulgação

científica, que surge uma ciência que se afasta do antigo modelo cartesiano de produção

científica determinada pela negação da “racionalidade em todas as formas de

conhecimento, pautadas nos seus princípios epistemológicos, e regras metodológicas”

Santos (2008, p. 21), para ser imaginada como objeto transformador, configurando-se em

uma ciência que busca a compreensão do mundo, com o propósito de formar indivíduos

voltados a um “paradigma social, o paradigma de uma vida decente”,

Santos (2008, p. 60).

Para Santos (2008), a ciência que emana do paradigma emergente se apresenta

como um conhecimento “não dualista”, que se funda na superação das distinções, que

para ele parecem tão “obvias” e “familiares” como “natureza/cultura, natural/artificial,

vivo/inanimado, mente/matéria, observador/observado, subjetivo/objetivo,

coletivo/individual, animal/pessoa”. Ele também sustenta que o paradigma emergente se

caracteriza muito mais por uma dimensão contemplativa do que “ativa”.

A qualidade do conhecimento afere-se menos pelo que ele controla

ou faz funcionar no mundo exterior do que pela satisfação pessoal que dá a

quem a ele acede e o partilha. A dimensão estética da ciência tem sido

reconhecida por cientistas e filósofos da ciência, de Poincaré a Kuhn, de

Polanyi a Popper. Roger Jones considera que o sistema de Newton é tanto uma

obra de arte como uma obra de ciência. A criação científica no paradigma

emergente assume-se como próxima da criação literária ou artística, porque à

semelhança destas pretende que a dimensão activa da transformação

do real (o es-cultor a trabalhar a pedra) seja subordinada à contemplação do

resultado (a obra de arte). Por sua vez, o discurso científico aproximar-se-á

cada vez mais do discurso da crítica literária (SANTOS, 2008. p. 86-87).

É desta maneira, que uma ciência pautada num paradigma social, que sua

construção e difusão ganham um outro sentido, estabelecendo uma relação mais ativa na

sociedade, onde o indivíduo tem a possibilidade de se tornar objeto participante do

próprio processo de construção de sua realidade, podendo se apropriar das questões

científicas, refletir sobre elas, e gerir uma consciência crítica de seu envolvimento com o

mundo. Tornando a ciência tema corriqueiro, parte da vida comum, possibilitando desde

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suas bases educacionais primárias a formação um de um indivíduo capaz de se apropriar

dela como aparelho de construção e transformação do mundo contemporâneo,

estabelecendo a ciência como um “esforço de criação e difusão das ideias e valores” de

uma sociedade, e se posicionando como um processo cultural.

“(...) a ideia de que o processo que envolve o desenvolvimento

científico é um processo cultural, quer seja ele considerado do ponto de vista

de sua produção, de sua difusão entre pares ou na dinâmica social do

ensino e da educação, ou ainda do ponto de vista de sua divulgação na

sociedade, como um todo, para o estabelecimento das relações críticas

necessárias entre o cidadão e os valores culturais, de seu tempo e de sua

história”. (VOGT, 2003.)

É também neste ambiente que o Boletim busca se inserir na sociedade, como

produto da cultura científica, proporcionando ações que possam promover seu

reconhecimento público dentro dos vários quadrantes da cultura científica, o que Vogt

chama de espiral da cultura científica.

Tomando-se como ponto de partida a dinâmica da produção e da

circulação do conhecimento científico entre pares, isto é, da difusão científica,

a espiral desenha, em sua evolução, um segundo quadrante, o do ensino da

ciência e da formação de cientistas; caminha, então, para o terceiro

quadrante e configura o conjunto de ações e predicados do ensino

para a ciência e volta, no quarto quadrante, completando o ciclo, ao eixo de

partida, para identificar aí as atividades próprias da divulgação científica (...)

(...) Assim, a título de ilustração, teríamos no primeiro quadrante, com

seus respectivos papéis, as universidades, os centros de pesquisa,

os órgãos governamentais, as agências de fomento, os congressos, as revistas

científicas; no segundo, acumulando funções, outra vez as universidades, o

sistema de ensino fundamental e médio, o sistema de pós-graduação;

no terceiro, os museus e as feiras de ciência; no quarto, as revistas de

divulgação científica, as páginas e editorias dos jornais voltadas para o tema,

os programas de televisão, etc. (VOGT, 2003).

Nessa dinâmica as capas dos Boletins funcionam como símbolo, memória,

identidade, visibilidade e ligações afetivos de envolvimento, promovendo um outro

sentido para a ciência, valorizando a sua democratização. E como bem coloca Barthes

(1990, p. 161), (...) “nada chega ao homem sem estar acompanhado de um sentido, sentido

dado por outros homens, e assim por diante, voltando ao infinito”.

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REFERÊNCIAS

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Janeiro: Nova Fronteira, 1990. p. 161.

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