A Comunidade Que Projeta Um Modo de Pens

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    CategoriaArtigo Completo

    Eixo Temtico GERENCIAMENTO DE CIDADES

    A COMUNIDADE QUE PROJETA:

    Um modo de pensar, projetar e idear de forma participativa.

    Reflexes sobre o Projeto Design Urbano da Grande Terra

    Vermelha, Vila Velha/ES.

    Marcos Antonio Spinass1

    RESUMOA possibilidade de sistematizao do acmulo das experincias em projetao participativa, emespecial do Projeto de Extenso da Universidade Vila Velha (UVV) Design Urbano da Grande TerraVermelha (Vila Velha/ES) realizado em 2011, o que motiva este artigo.Este experimento, entre outros, que foram fundamentados nas tcnicas do planejamento urbano e dedesign, nos recursos e meios de produo disponibilizados pela comunidade, e pelas instituiesinteressadas na construo de um diagnstico participativo que subsidiou a elaborao das diretrizespara a regio, definidas e apresentadas em conjunto com os moradores em oficina realizada naprpria comunidade, no tinham, at ento, sido sistematizados como uma possvel metodologia do

    ato de projetar ou idear de forma participativa.Em vista a realizar o possvel projeto Reconhecendo e Reprojetando Nossa Cidade, queprovavelmente envolver o Ministrio Pblico do Estado do Esprito Santo, a Universidade Vila Velha(UVV) atravs do Ncleo de Estudos e Prticas de Arquitetura e Urbanismo, Design de Produto eEngenharia Civil (NEP) e o Movimento Vida Nova (MOVIVE) no ano de 2014, utilizando a partepositiva da experincia do processo de projetao participativa, surgiu a necessidade de relacionareste mtodo emprico a um arcabouo cientfico.

    PALAVRAS-CHAVE:Projeto participativo. Design Urbano, Design Thiking

    1

    Mestre em Arquitetura e Urbanismo - UFALFAUPPG; Professor pesquisador do GrupoArqCidades vinculado ao NEPNcleo de Estudos e Prtica de Arquitetura e Urbanismo, Design deProduto e Engenharia Civl da Universidade Vila VelhaUVV e doutorando em Arquitetura eUrbanismo na UFALFAU - PPG - Doutorado Cidades. E-mail:[email protected];[email protected];.

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    COMMUNITY THAT DESIGNS: One way to th ink , desig n and

    design part ic ipatory manner.

    Reflect ions o n th e Project Urban Design of Great Red

    Earth , Vila Velha / ES.

    ABSTRACT

    The possibility of systematic accumulation of experiences in participatory projetao, especially the Extension

    Project Vila Velha University (UVV) Urban Design of Great Red Earth (Vila Velha / ES) conducted in 2011, is what

    motivates this article.This experiment, among others, which were based on the techniques of urban planning and design, resources

    and means of production provided by the community, and institutions interested in building a participatory

    analysis that supported the development of guidelines for the region, defined and presented together with the

    locals in the workshop held in the community, had not hitherto been systematized as a possible methodology of

    the act of designing or devise a participatory manner.

    In order to achieve the project possible "Recognizing and Redesigning Our Town," which will likely involve the

    Public Ministry of the State of Esprito Santo, Vila Velha University (UVV) through the Center for the Study and

    Practice of Architecture and Urban Planning, Design and Product Civil Engineering (NEP) and the New Life

    Movement (MOVIVE) in 2014, using the positive part of the experience of the participatory process projetao,

    the need to relate this empirical method to a scientific framework.

    KEY-WORDS:Participatory Project. Urban Design, Design Thiking

    LA COMUNIDAD QUE DISEA : Una form a de pensar,

    d is ear y d is ear de manera par ti c ip at iv a.

    Reflexio nes so bre el Proyecto de Diseo Urban o de la Gran

    Tierra Ro ja, Vila Velha / ES.

    RESUMENLa posibilidad de la acumulacin sistemtica de experiencias en projetacion participativa, especialmente el

    Proyecto de Extensin Universitaria Vila Velha (UVV) de Diseo Urbano de la Gran Tierra Roja (Vila Velha / ES)

    llev a cabo en 2011, es lo que motiva este artculo.

    Este experimento, entre otros, que se basa en las tcnicas de la planificacin urbana y el diseo, los recursos y

    medios de produccin proporcionado por la comunidad, e instituciones interesadas en la construccin de un

    anlisis participativo que apoya el desarrollo de directrices para la regin, definidos y presentado junto con los

    lugareos en el taller realizado en la comunidad, que hasta ahora no se haba sistematizado como una posible

    metodologa del acto de disear o elaborar de manera participativa.

    Con el fin de lograr el proyecto posible "Reconoceindo y rediseo de Nuestra Ciudad", que probablemente

    incluir el Ministerio Pblico del Estado de Esprito Santo, Universidad Velha Vila (UVV) a travs del Centro para

    el Estudio y la Prctica de la Arquitectura y Urbanismo, Diseo y Producto Ingeniera Civil (NEP) y el Movimiento

    de la Nueva vida (MOVIVE) en 2014, utilizando la parte positiva de la experiencia de la projetacion proceso

    participativo, la necesidad de relacionar este mtodo emprico a un marco cientfico.

    PALABRAS-CLAVEProyecto Participativo. Diseo Urbano, Design Thiking

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    ORIENTAO

    A possibilidade de sistematizao do acmulo das experincias em

    projetao participativa dos projetos Design Urbano Barra de So Miguel/AL - 2003,identidade Corporativa da Companhia de Saneamento de Alagoas (CASAL) - 2006,

    Braso de armas da universidade da Universidade Estadual de Cincias da Sade

    de Alagoas (UNCISAL) - 2006, Design Urbano da Grande Terra Vermelha - 2011 e

    Design Urbano do IBES - 2012, estes dois ltimos ambos em Vila Velha/ES, o que

    motiva este artigo.

    Estes experimentos, em especial os dois ltimos citados, foram

    fundamentados nas tcnicas do planejamento urbano e de design

    2

    , nos recursos emeios de produo disponibilizados pela comunidade, assim como, pelas

    instituies interessadas; na percepo de caractersticas identificadas em visitas a

    campo, em estudos de documentos e atravs de reunies com a populao local e

    atores estratgicos para construir um diagnstico participativo que subsidiou a

    elaborao das diretrizes para a regio, definidas e apresentadas em conjunto com

    os moradores em oficina realizada na prpria comunidade porm, at ento, a

    possibilidade de ser tornar uma possvel metodologia do ato de projetar de forma

    participativa ainda no sido sistematizada.

    Objetivando utilizar a parte positiva da experincia do processo de

    projetao participativa, surgiu a necessidade de relacionar este mtodo emprico a

    um arcabouo cientfico a fim de desenvolver o possvel projeto Reconhecendo e

    Reprojetando Nossa Cidade, que provavelmente envolver o Min istrio Pblico do

    Estado do Esprito Santo, a Universidade Vila Velha (UVV) atravs do Ncleo de

    Estudos e Prticas de Arquitetura e Urbanismo, Design de Produto e Engenharia

    Civil (NEP) e o Movimento Vida Nova (MOVIVE) no ano de 2014.

    DO INDIVIDUO AO PARTICIPATIVO: COMPLEXO, INSTVEL E

    INTERSUBJETIVO.

    Nas reflexes sobre a produo do espao, em seu aspecto ontolgico, em

    especial no vis do ato projetual, tende-se no geral a relacion-lo com a

    configurao morfolgica ou com os elementos que o definem na dimenso fsica,

    2Entendido como o ato de projetar o que possui forma como artefatos, espaos arquitetnicos e urbanos.

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    pois nesta dimenso que se materializa a forma de pensar do autor (projetista) que

    o concebeu.

    Esta tendncia formal influenciou significativamente a maneira de ver e fazerarquitetura e consecutivamente o urbanismo, com a tendncia do ato projetivo como

    atividade individual. o que podemos observar ao refletirmos sobre o pensamento

    do historiador Giulio Carlo Argan (...) pode-se dizer que o desenho, o projeto, a

    relao direta entre uma atividade puramente intelectual e uma atividade manual.

    Entre uma atividade individual e uma atividade que quase sempre uma atividade

    coletiva, o projeto no somente um procedimento da arquitetura, mas um

    procedimento presente em todas as artes. (ARGAN, 1993:01)Nesta vertente, o arquiteto e urbanista e, tambm, o designer, concebe

    produtos, habitaes e at cidades, supondo ser o objeto criado o artefato capaz de

    atender as necessidades e desejos de seus usurios pela forma proposta e adotada

    para o objeto projetado. O faz como se incorporasse o deus grego Demiurgo, que

    segundo a mitologia fazia em nome do povo (Demi, demo como povo e ourgos

    como trabalhador), e acreditando ter, possivelmente por meio do conhecimento

    cientfico e/ou de um elevado senso do belo, a sabedoria necessria para conceber

    o espao de acordo com a funo que acredita ser alinhada com aqueles a quem

    se destinava.

    Esta premissa to significativa que na Resoluo n 21, de 5 de abril de

    2012, do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), que dispe

    sobre as atividades e atribuies profissionais do arquiteto e urbanista, encontramos

    em seus anexos um glossrio que define projeto como criao do esprito,

    documentada atravs de representao grfica ou escrita de modo a permitir sua

    materializao, podendo referir-se a uma obra ou instalao, a ser realizada atravs

    de princpios tcnicos e cientficos, visando consecuo de um objetivo ou meta e

    adequando-se aos recursos disponveis e s alternativas que conduzem

    viabilidade de sua execuo, mas uma vez o ato de criao do esprito

    regulamentado para aqueles indivduos devidamente autorizados pelo CAU/BR.

    Porm, como diz o senso comum a teoria diferente da prtica o usurio

    ao fruir parece impor ao espao, projetado e construdo, outros usos e significaes

    de uma maneira totalmente descompromissada. Ele obedece apenas o seu prprio

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    desejo, fruto do seu ser dinmico, multifacetado e biopsicossocial e cria um

    paradoxo entre o espao demirgico como o uso nascido da ttica do usurio.

    No entanto, esta contradio provoca, no mnimo, uma problemtica: Comoprojetar incluindo a fruio do usurio? Foi desta inquietao que gerou (e ainda

    gera) algumas experincias de envolver o usurio no ato criativo (do projeto).

    Porm, a possibilidade da coo-criao mesmocom uma aparncia de novo

    paradigma projetual pode ser rechaada, pois se constitui em uma atividade que,

    aparentemente, o projetista ajuramentado perde o controle ao colocar na mo

    daqueles que no so tcnicos (ou artistas) e, tambm, carentes de uma

    capacitao especializada ou habilidade adequada o poder de criar. Porm o focoaqui no ser contrrio ao processo de projetao individual, que normalmente

    feito em voo solo, mas contribuir para mais uma forma, que quando houver a

    necessidade ou a possibilidade da participao coletiva poder ser usada de

    maneira consciente.

    Como se sabe, ao longo da experincia histrica possvel encontrar

    registro que em um primeiro momento o ato de projetar (pensar) e o de fazer no

    eram separados. Ao fazer, se pensava ou idealizava-se ao construir. Em seguida

    estas dimenses foram separadas e, consecutivamente, dividiram-se tambm as

    classes: uma responsvel pelo pensar (que tinham e ainda tem mais valor e nessa

    classe que esto os arquitetos, urbanistas e designers) de outra especializada no

    executar (com menor valor). No entanto, ao separar e valorizar o foco se

    potencializou ainda mais no projetista como criador individual, que tem as condies

    de propor o que melhor e, tambm, pode controlar o processo do incio ao fim.

    Outra vertente, que reafirma o projetista como criador individual, centra

    esforos no artefato (espao ou produto a ser usado), onde o idealizador trabalha na

    adequao do objeto a uma funo ou uso determinado. Neste caso tambm o

    desenvolvimento do artefato e sua materializao passvel de ser controlvel.

    A fim de dirimir estas questes que tange ao controle do projetista sobre o

    artefato e em busca da possibilidade da gerao de um espao construdo visto

    como aquilo que ser do, (para o) e (com o) ser humano, nos deparamos como um

    modo de pensar em forma sistmica.

    A forma sistmica de pensar e, por conseguinte, de idear, conforme afirma

    Minayo (2006:94) constituir-se-ia de trs dimenses epistemolgicas que

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    diferenciam as teorias tradicionais do paradigma sistmico: (1) a ideia de

    simplicidade dos fenmenos substituda pela noo de complexidade; (2) a noo

    de estabilidade e regularidade contraposta noo de instabilidade do mundo dosseres vivos; (3) a crena na objetividade d lugar noo de intersubjetividade na

    constituio da realidade e de sua compreenso.

    Segundo Minayo (2006:94) a Complexidade significa entrelaamento de

    causas. E citando Atlan (1992) continua dizendo que A noo de complexidade e

    simplicidade no so inerentes aos fenmenos e sim, s condies lgicas e

    empricas em que so observados, onde h a ampliao do foco: contextualizando

    o fenmeno em estudo, entendendo-o em suas interaes e retroalimentao (ascoisas so causadas e causadores) e tratando-o como parte de um sistema

    interconectado com outros sistemas (Minayo, 2006:96).

    Dando sequencia Minayo (2006:94) declara que O Segundo Pressuposto

    dos sistemas abertos a instabilidade. Esse princpio vem da constatao de que o

    mundo sempre est em processo de tornar-se, e de devir havendo, portanto, uma

    lgica na desordem: ela um elemento necessrio auto-organizao. Ele

    aposta nos processos de auto-organizao: observando o dinamismo das

    mudanas e as foras de resistncias, os estudiosos admitem que nem tudo

    s positivo ou s negativo, que existem muito caminhos e que

    impossvel controlar a direo dos processos. (Minayo, 2006:96)

    J O terceiro pressuposto do pensamento sistmico diz Minayo (2006:94)

    o da intersubjetividade na construo da realidade e do saber, o que se ope

    ideia da possibilidade de existir um conhecimento objetivo externo aos sujeitos.

    Afirma que a

    adoo do caminho da objetividade entre parntese: o estudioso se

    reconhece parte do sistema e entende que s h sentido na construo das

    solues. Dentro desse tipo de viso, do ponto de vista tico, no cabe

    pensar que a soluo para os problemas est na existncia de cdigos

    exteriores aos sujeitos, a serem aplicados por autoridades competentes.

    (Minayo, 2006:96)

    Desta forma, a indcios que, mesmo com a teoria a posteriori, foi substituda

    a ideia de simplicidade pela noo de complexidade, de estabilidade e

    regularidade por instabilidade e a crena na objetividade deu lugar noo de

    intersubjetividade na constituio da realidade e de sua compreenso e nas

    propostas ideadas nos experimentos de Design Urbano que abordaremos frente.

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    Essa possibilidade, de uma prtica da teoria, mesmo que a priori,

    impulsionou ao aprofundamento e descortina algo que pode ser compreendido,

    registrado e compartilhado como uma provocao de envolvimento do fruir dousurio no ato de projetar.

    CRIAO PARTICIPATIVA OU PROJETO PARTICIPATIVO: PENSAR PELA

    ABDUO E DECIDIR PELO PRAGMATISMO.

    Movido pelo pensamento sistmico e com a possibilidade de propor espaos

    como aquilo que ser do, (para o) e (com o) ser humano projetado de forma

    participativa (aqui tambm a posteriori) tivemos acesso ao Design ThinkingA nosso ver o ponto notvel do modo de pensar Design Thinking est em

    sua relao com o modelo da inferncia abdutiva a qual inclui o pragmatismo.

    O Design Thinking pode ser compreendido em Vianna (2012:12) como

    uma abordagem focada no ser humano que v na multidisciplinaridade,

    colaborao e tangibilizao de pensamentos e processos, caminhos que levam a

    solues inovadoras e, assim sendo, por estes balizamentos se emparelha com o

    pensamento sistmico (complexo, instvel e intersubjetivo) que lhe aufere

    importncia neste estudo.

    Vianna acredita que No se pode solucionar problemas com o mesmo tipo

    de pensamento que os criou (...) pensando de maneira abdutiva que o designer

    constantemente desafia seus padres, fazendo e desfazendo conjecturas, e

    transformando-as em oportunidades para a inovao. essa habilidade, de se

    desvencilhar do pensamento lgico cartesiano, que faz com que o designer se

    mantenha fora da caixa. (VIANNA, 2012:14).

    No geral o pensamento abdutivo est categorizado como um dos trs

    modelos inferncias nomeados de Dedutivo, Indutivo e Abdutivo, pelos quais se

    chega a concluses lgicas a partir de premissas verdadeiras.

    O Modelo da inferncia abdutiva atribudo a Charles Sanders Peirce e que

    pode ser traduzido da forma seguinte: Um facto surpreendente, C, observado.

    Mas, se A fosse verdadeiro, C seria natural. Donde h razo para suspeitar que A

    verdadeiro (Peirce, 1977 apud SERRA, 2014). Por exemplo, em um dia de sol cai

    gua de um telhado (isso seria um fato observado e surpreendente C). Sabendo-se

    que algum est jogando gua com um balde sobre o telhado (verdade A), logo se

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    pode concluir que a gua que cai no telhado no dia de sol natural. Desta forma,

    possvel suspeitar que a gua que cai do telhado verdade.

    No entanto, tambm pode ter gelo sobre o telhado que est sendo derretidopelo calor do sol. Esse tambm verdadeiro (A) logo, tambm, pode-se concluir

    que a gua que cai no telhado no dia de sol natural e, desta forma, tambm

    possvel suspeitar que a gua que cai do telhado verdade.

    Neste caso a inferncia abdutiva admite sempre a possibilidade de a

    verdade ser negada (para afirmarmos outra), porm, no caso dos juzos perceptivos

    no nos possvel conceber a sua negao ("prova da inconceptibilidade"). Diante

    disso, mesmo que o fato da gua cair do telhado (C) seja irrefutvel, pois umjuzo perceptivo, pode se duvidar se a verdade que algum est jogando gua com

    um balde sobre o telhado, ou que o gelo est derretendo sobre o telhado ou,

    mesmo, existir outras verdades alm dessas. Ento como decidir pela verdade?

    Nessa hora de deciso que se vale do Pragmatismo, onde, segundo

    Abbagnano (1979 apud SERRA, 2014) toda a verdade uma regra de ao, uma

    norma para a conduta futura, entendendo-se por "ao" e por "conduta futura toda a

    espcie ou forma de atividade, quer seja cognoscitiva quer seja emotiva. Por esta

    lgica a deciso sobre o que verdade estar calada na sua utilidade para uma

    ao futura.

    Em termos de projeto onde se busca soluo, ou solues, para problema,

    ou problemas, que em especial que se utiliza uma premissa de pensar sistmico

    parece ser profcuo adotar-se o modelo abdutvo e, consecutivamente, o

    pragmatismo a fim de se contemplar a complexidade, instabilidade e

    intersubjetividade em um processo de projetao (criao) participativa.

    Da mesma forma do pensamento sistmico, o Design Thinking, a inferncia

    abdutiva e o pragmatismo parece que tambm, de forma intuitiva, foram adotados no

    Projeto Design Urbano de Terra Vermelha.

    PREMISSAS TANGVEIS DO DESIGN THINKING

    Ao relacionarmos os atos intuitivos adotados no Projeto Design Urbano de

    Terra Vermelha com as etapas do Design Thinking possvel encontrar certa

    isomorfia. Faz necessrio, ento, discorrer sobre estas etapas do Design Thinking

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    e para tanto adotaremos VIANNA (2012) como referencia por ser este um dos

    pioneiros no Brasil.

    O grfico (1) a seguir apresenta uma sntese das etapas de Imerso,Ideao e Prototipao que, necessariamente, possuem natureza no linear. Onde,

    a Imerso divide-se em Preliminar e em Profundidade. A Preliminar visa o

    entendimento inicial do problema e, caso necessrio, seu reenquadramento e a em

    Profundidade destina-se identificao das necessidades dos atores envolvidos no

    projeto e provveis oportunidades que emergem do entendimento de suas

    experincias frente ao tema trabalhado. e por meio da Anlise e Sntese objetiva -

    se organizar esses dados visualmente de modo a apontar padres que auxiliem acompreenso do todo e identificao de oportunidades e desafios. (VIANNA,

    2012:16).

    Grfico 1

    Fonte: VIANNA, 2012:18

    Na ideao busca-se gerar ideias inovadoras atravs de atividades

    colaborativas que estimulem a criatividade. Normalmente utiliza-se as ferramentas

    de sntese desenvolvidas na fase de Anlise como base para a gerao de soluesque sejam direcionadas ao contexto do assunto trabalhado. (VIANNA, 2012:17) as

    alternativas encontradas so selecionadas de forma pragmtica e que podero ser

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    materializada na prototipao que a tangibilizao de uma ideia, a passagem do

    abstrato para o fsico de forma a representar a realidade - mesmo que simplificada -

    e propiciar validaes. (VIANNA, 2012:122).Existe uma srie de tcnicas e ferramentas que podem auxiliar em cada uma

    das etapas como demonstrado em VIANNA (2012) e possvel encontrarmos,

    tambm, em Brose (2010), Cordioli (2001), Rigitano (2008), Sanoff (1999) e Santos

    (2014), e como veremos alguns dos procedimentos que foram utilizados, mesmo

    que intuitivamente, no Projeto Design Urbano de Terra Vermelha podem constituir-

    se em exemplificaes de algumas formas de materializao destes instrumentos

    auxiliadores.

    DESIGN URBANO DE TERRA VERMELHA: PRTICA E TEORIA OU TEORIA E

    PRTICA

    Como meio de verificar uma relao prtico-terica ou vice-versa

    utilizaremos o projeto de extenso universitria intitulado Desenho Urbano e

    Ordenamento Territorial da regio da Grande Terra Vermelha (Design Urbano Terra

    Vermelha), no municpio de Vila Velha, no estado do Esprito Santo, em 2011,

    desenvolvido inicialmente por uma parceria entre a Universidade de Vila Velha

    (UVV), a ONG Movimento Vida Nova (MOVIVE), o Instituto do Grupo de Gestores da

    Regio V (Instituto GG5), a Prefeitura Municipal de Vila Velha (PMVV) e posterior

    adeso do Governo do Estado do Esprito Santo (GEES). Este projeto de extenso,

    que foi coordenado pelo Prof. Msc. Marcos Antonio Spinass e que teve como

    colaborador o Prof. Msc. Giovanilton Andr Carretta Ferreira, estava atrelado

    Pesquisa: Os descaminhos da violncia: a expanso urbana da grande terra

    vermelha2 etapa, coordenada pela Prof Dr. Rossana Ferreira da Silva Mattos.

    Fundamentado nos dados levantados pela pesquisa, desenvolvida pelo

    Movimento Vida Nova Vila Velha (MOVIVE), no ano de 2009, onde foi identificado

    que 63% da populao residente na regio da Grande Terra Vermelha que tinha

    renda mensal menor que um salrio mnimo e 58% das famlias tinham somente um

    membro com renda, o que indicava, e que possivelmente ainda indica, uma

    necessidade urgente de interveno em prol de uma melhoria das condies

    socioeconmicas daqueles que ali residem.

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    Diante desta realidade o projeto Design Urbano Terra Vermelha foi pensado

    como uma possibilidade de relacionar dois elementos, onde de um lado estavam as

    pessoas e de outro o espao em que habitam, como um meio de gerar fonte derenda e riqueza e representando uma oportunidade de desenvolvimento da regio

    daquela regio.

    Vale ressaltar que o foco aqui estar no ato de projetar enquanto processo

    criativo de forma participativa uma vez que o relato dos desafios da participao

    popular enquanto planejamento urbano (como aquilo que da natureza do

    urbanista: o pensar as cidades enquanto espao urbano) tambm abordado no

    artigo de FERREIRA; SPINASS; FEHELBERG (2013). necessrio registrar que depois da 4 etapa outras ocorreram, a saber:

    apresentao na Jornada de Iniciao Cientfica da UVV; Reunies das lideranas

    comunitrias com o GEES para apresentao e reivindicao da implementao das

    propostas e assinatura de protocolo de intenes de cooperao tcnica, entre a

    UVV e o GEES (FERREIRA; SPINASS; FEHELBERG, 2013).

    Este projeto de extenso contou com uma srie de atores envolvidos em

    vrias etapas e se desenvolveram durante todo o ano de 2011, onde a 4 etapa

    constitui-se no momento do ato de criao projetual, ou ideao, como

    apresentado a seguir:

    1 ETAPAMETODOLOGIAA metodologia de trabalho foi apresentada e

    discutida com os moradores, no dia 16 de abril de 2011, na Unidade Municipal de

    Ensino Fundamental Governador Christiano Dias Lopes Filho, no bairro de So

    Conrado, no municpio de Vila Velha, ES.

    2 ETAPALEVANTAMENTO DE DADOSAlunos da UVV realizaram um

    levantamento de dados atravs de pesquisas, visitas a campo e entrevistas com

    moradores da regio, no perodo de 18 de abril a 02 de junho de 2011.

    3 ETAPA DIAGNSTICO PARTICIPATIVO - Apresentao, validao e

    complementao dos dados levantados pelos alunos da UVV junto aos moradores,

    no dia 04 de junho de 2011, na Unidade Municipal de Ensino Fundamental Professor

    Paulo Cesar Vinha CAIC, no bairro Residencial Terra Vermelha, Vila Velha, ES.

    4 ETAPAOFICINA DE DESIGN URBANO Realizao de um workshop

    com a participao dos moradores da regio, alunos, professores, profissionais,

    tcnicos, pesquisadores e representantes da administrao pblica, assim como, da

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    sociedade civil organizada, para desenvolvimento de propostas para a microrregio

    da Grande Terra Vermelha na semana de 18 e 23 de julho de 2011, na Unidade

    Municipal de Ensino Fundamental Paulo Cesar Vinha CAIC no bairro ResidencialTerra Vermelha, Vila Velha, ES.

    Os procedimentos executados e registrados apresentam certa isomorfia com

    o pensamento sistmico e com o Design Thiking pelos seguintes elementos e as

    suas inter-relaes.

    De incio, assim como no Design Thinking todo o esforo objetivava a

    preparao adequada do momento de ideao (4 etapa: oficina de design urbano) e

    para tanto, desde de a candidatura ao projeto de extenso, em atendimento aoEdital da UVV, j se tinha uma aproximao com a comunidade atravs do MOVIVE.

    O MOVIVE atuava na comunidade criando meios para a organizao da

    sociedade civil daquela regio e para isto estimulou a criao do Instituto do Grupo

    Gestor da Regio 5 de Vila Velha para o Desenvolvimento Comunitrio (GG5) e

    identificou, junto com os habitantes daquele local, alguns de seus desejos e

    necessidades. Esta compreenso territorial conduziu o projeto a caminhar de par em

    par com os que l viviam.

    Com o processo de atendimento ao edital encaminhado, surgiu a primeira

    oportunidade de termos a anuncia para conduzirmos, concomitantemente, como os

    moradores o projeto Design Urbano Terra Vermelha durante o encontro da 1 Etapa

    (que foi chamada de apresentao da metodologia). Aqui perceptvel a isomorfia

    com a etapa da Imerso Preliminar do Design Thinking que objetiva alm do

    entendimento inicial do problema, o reenquadramento dos atores envolvidos, pois foi

    apresentado o que pretendamos fazer em conjunto com os moradores, os objetivos,

    o cronograma de trabalho e foi solicitada a validao junto aos participantes. Uma

    vez validada a proposta de trabalho e as premissas iniciais, agendou-se o prximo

    encontro para apresentao do diagnstico participativo.

    Desta forma, foi feita a sistematizao, preparao e a aplicao com os

    stakeholders (os indivduos que integram as partes interessadas ou intervenientes)

    de ferramentas para o reenquadramento e o entendimento inicial do problema. Eles

    foram motivados a se considerarem como membros da equipe deste projeto

    multidisciplinar similar, aos procedimentos do Design Thinkign.

  • 7/25/2019 A Comunidade Que Projeta Um Modo de Pens

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    Figura 01: Reunio de apresentao da metodologia de trabalho com a comunidade.

    Fonte: Projeto de Extenso Universitria Desenho Urbano e Ordenamento Territorial da Grande Terra

    Vermelha, Vila Velha/ES (2011).

    Em seguida, iniciou-se a 2 Etapa, que no Design Thinking a Imerso em

    Profundidade, onde os estudantes da UVV realizaram um levantamento de dados

    atravs de pesquisas, visitas a campo e entrevistas com moradores da regio com

    objetivo de identificao das reais necessidades e desejos dos usurios do espao

    urbano em questo e, concomitantemente, identificando as oportunidades e os

    desafios que emergiam. Os pesquisadores, alunos das disciplinas de planejamento

    urbano e outras do curso de Arquitetura e Urbanismo da UVV, tinham que fazer uma

    apresentao sinttica do levantado a ser apresentado para a comunidade de forma

    prioritariamente visual.

    O prximo passo foi a 3 Etapa, que foi intitulado de Diagnstico

    Participativo, onde se construiu em parceria com os moradores a validao e

    complementao dos dados levantados pelos alunos da UVV. Assim sendo, como

    no Design Thinking, realizou-se a pesquisa de campo preliminar (Pesquisa

    Exploratria) para auxiliar no entendimento do contexto do assunto trabalhado e na

    identificao dos comportamentos extremos e, consecutivamente, o registro e

    sistematizao dos dados com a 2 e 3 Etapas.

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    Figura 02: Reunio de Leitura com a comunidade (diagnstico participativo) coordenada pelosalunos da Universidade de Vila Velha.

    Fonte: Projeto de Extenso Universitria Desenho Urbano e Ordenamento Territorial da Grande TerraVermelha, Vila Velha/ES (2011).

    Paralelamente, o aluno bolsista do projeto de extenso realizava parte da

    pesquisa Desk que segundo o Design Thinking serve para encontrar referncias

    das tendncias da rea estudada, alm de insumos de temas anlogos que podem

    auxiliar no entendimento do assunto trabalhado e, consecutivamente, no registro e

    sistematizao dos dados. O mesmo procedimento foi solicitado aos coordenadores

    voluntrios, os profissionais e outros atores que iriam atuar na 4 Etapa.

    O intuito maior era preparar uma compilao dos dados levantados,

    cruzamento das informaes a fim de identificar padres e oportunidades e

    sintetizao visual com objetivo de fornecer insumos para a fase de Ideao que foi

    a 4 Etapa.

    A 4 Etapa denominada de Oficina de Design Urbano constitui-se de um

    conjunto de reunies de trabalho (workshops) cuja durao pode variar entre 40 a 80

    horas, com o objetivo de desenvolver em tempo real propostas de intervenes

    urbanas para uma determinada regio, abordando a questo do reordenamento do

    espao urbano e de suas reas comuns adequando-o as transformaes funcionais

    que esto em curso e tambm aquelas que devero ocorrer em futuro prximo.

    Refletindo sempre sobre aquilo que permite identificar e distinguir os elementos mais

    representativos da cultura material e iconogrfica da regio, assim como, sobre as

    particularidades do problema colocado.

    Foram constitudos cinco grupos de projetos. Cada grupo conposto por um

    coordenador e designers, arquitetos, urbanistas e comunicadores sociais

    convidados, e mais 4 ou 5 participantes de formao tcnica (aluno ou profissional)

    e 4 a 5 membros da comunidade, fazendo um total em torno de 10 participantes por

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    grupo. Os participantes locais foram escolhidos em funo de sua disponibilidade de

    tempo e especialidade.

    A configurao dos objetivos dos grupos de projetos ficou assim definidaGrupo de Projeto 1 - Proposta do sistema de identidade visual. Temas a

    serem tratados: Proposta de um smbolo e/ou um braso de armas e um sistema de

    identidade visual da microrregio.

    Grupo de Projeto 2 - Proposta de ordenamento territorial. Temas a serem

    tratados: Proposta de reordenamento territorial e melhoria da infraestrutura,

    mobilidade e acessibilidade e equipamentos pblicos comunitrios; proposta de

    criao e alocao de equipamentos fixos de apoio e de servios;Grupo de Projeto 3 - Proposta do sistema de sinalizao urbana. Temas a

    serem tratados: Proposta de um sistema de informao, comunicao e sinalizao

    urbana bsica da microrregio.

    Grupo de Projeto 4 - Proposta do sistema de mobilirio urbano. Temas a

    serem tratados: Proposta do sistema de equipamentos urbano: mveis e fixos, tais

    como: barracas para comercio informal; suportes e marcos de sinalizao;

    equipamentos de iluminao; cestas de lixo; abrigos e parada de nibus; bancos e

    sombreamentos.

    Grupo de Projeto 5 - Proposta de comunicao territorial. Temas a serem

    tratados: Proposta da estratgia de marketing e comunicao promocional: Proposta

    de produtos promocionais, conceito da mensagem, definio dos canais de

    comunicao, proposta de uma campanha de fortalecimento de imagem da

    microrregio.

    A semana de trabalho seguiu o seguinte cronograma:

    Primeiro Dia: Seminrio de integrao (Tpicos a serem discutidos:

    processo histrico de formao do tecido urbano; principais intervenes; propostas

    no implementadas; dificuldades e necessidades; pesquisas realizadas; origem e

    destinos; aspectos da cultura local, entre outros) e apresentao das pesquisas e

    diagnsticos construdos com a comunidade at a data da oficina. Brainstorm3 e

    definio do marco conceitual.

    3Brainstorming uma tcnica para estimular a gerao de um grande nmero de ideias em um curto espao de

    tempo. Geralmente realizado em grupo, um processo criativo conduzido por um moderador, responsvel pordeixar os participantes vontade e estimular a criatividade sem deixar que o grupo perca o foco. (VIANNA,

    2012:101)

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    Segundo dia: Diviso dos grupos e discusso do marco conceitual (a

    cidade desejada e a cidade possvel; limitaes e dificuldades) Ideias e princpios

    norteadores para cada grupo de projeto. Diviso de tarefas e responsabilidades.Anlise das propostas e projetos existentes. Reunies com especialistas e notveis.

    Desenvolvimento de alternativas

    Terceiro dia: Desenvolvimento de alternativas

    Quarto dia: Apresentao das alternativas desenvolvidas por cada

    grupo de projeto e seleo das propostas de maior possibilidade de sucesso

    Quinto dia: Detalhamento das propostas

    Sexto dia: Preparao das apresentaes e dos relatrios Stimo: Preparao das apresentaes e dos relatrios e

    Apresentao final dos resultados para validao junto comunidade e integrao

    social dos grupos.

    Durante os trabalhos de ideao adotou-se o conceito central a partir de seu

    objeto que era multidisciplinar e para inter-relacionar os elementos que o comporia

    utilizou-se da compreenso do processo de projetao com o pensamento

    sistmico, permitindo a possibilidade de um fazer no linear e interconectado, onde,

    a cada momento que era necessrio adotava-se a inter-relao mais apropriada.

    Cada grupo de projeto tinha os seus objetivos especficos, assim como, os

    produtos a serem gerados e entregues (1- Relao Grupo/Grupo). Procurou-se

    estabelecer a relao do objetivo e produto de cada grupo de projeto (objetivos e

    produtos) com o Marco Conceitual que foi definido junto com os participantes no 1

    ou 2 dia da Oficina por meio de um braim storm (2 - Inter-relaes Grupo/Marco

    Conceitual).

    Da mesma forma, instituram-se os vnculos dos objetivos e dos produtos de

    cada grupo de projeto com os objetivos e produtos dos outros quatro grupos (3 -

    Inter-relaes Grupo/Outros Grupos) e, tambm, de cada grupo de projeto (objetivos

    e produtos) com marco conceitual e com os outros grupos projeto (4 Inter-relaes

    Gerais). Assim as relaes se estabeleciam de acordo com a necessidade do

    momento, sem menosprezar as demais inter-relaes, ativando-as sempre que

    fosse preciso.

    O grafo a seguir prope uma representao grfica plana deste sistema de

    projetao.

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    Grafo 1 - Oficina de Design Urbano de Terra Vermelha

    Sistema no linear e interconectado para projetar de forma participativa um objeto multidisciplinar

    1- Relao Grupo/Grupo: Cada grupo de projetocom o seu prprio grupo, cada grupo de projetocom seus objetivos especficos e os produtos a

    serem gerados e entregues.

    2 - Inter-relaes Grupo/Marco Conceitual:Cada grupo de projeto (seus objetivos e

    produtos) com marco conceitual.

    3 - Inter-relaes Grupo/Outros Grupos: Cadagrupo de projeto (objetivos e produtos) com os

    outros grupos projeto.

    4Inter-relaes GERAIS: Cada grupo deprojeto (objetivos e produtos) com marco

    conceitual e com os outros grupos projeto.

    Fonte: Desenvolvido pelo autor

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    Facilitado pelo coordenador cada grupo de projeto se organizava da forma

    mais adequada ao seu grupo tendo sempre como norteador as inter-relaes, osobjetivos e produtos, assim como, o marco conceitual acordado. Os componentes

    dos grupos podiam livremente atuar em seu grupo ou participar de outro. No fim da

    cada dia todos os grupos se reuniam para compartilhar suas percepes e ideias da

    experincia vivida.

    Figura 03: Oficina de Design Urbano de Terra Vermelha.

    Fonte: Projeto de Extenso Universitria Desenho Urbano e Ordenamento Territorial da Grande Terra

    Vermelha, Vila Velha/ES (2011).

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    Em tempo real, as decises projetuais foram pragmticas, tomando-se como

    referencial o marco conceitual (que alinhou as deliberaes com a percepo dos

    membros da comunidade sobre o espao urbano que habitavam) e a promessa dosprodutos a serem entregues.

    Os modelos gerados constituiu-se em desenhos e esquemas onde foi

    tentado expressar as ideias propostas para uma interveno urbana criada de forma

    participativa, porem, apresentou-se e foi validado, segundo Vianna (2012), um

    prottipo de baixa fidelidade, isto , uma representao conceitual da soluo

    encontrada que deveria, posteriormente, evoluir para um projeto mais prximo

    possvel da soluo final (alta fidelidade) tambm de forma participativa.

    Figura 04: Produto (prottipo de baixa fidelidade) Oficina de Design Urbano de Terra Vermelha.

    Fonte: Projeto de Extenso Universitria Desenho Urbano e Ordenamento Territorial da Grande Terra

    Vermelha, Vila Velha/ES (2011).

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    REFLEXES SOBRE O RESULTADO

    Diante da observao do que ocorreu nestas experincias de projetao

    participativa, h elementos que nos impulsionam a continuar experimentando autilizao de ferramentas e instrumentos que permitam, facilitem e estimule a

    adoo da inferncia abdutiva, o pragmatismo nos processos de tornar tangveis as

    percepes dos usurios de um espao urbano (ou mesmo de espao arquitetnico

    ou um artefato qualquer) concomitantemente ao modo de pensar sistmico.

    H, no relato deste artigo exemplo de substituio da ideia de simplicidade

    pela noo de complexidade, quando foi proposto as inter-relaes Grupo/Grupo,

    Grupo/Outros Grupos, Grupo/Marco Conceitual e Geral uma vez que objetoprojetado/estudado se caracterizava como multidisciplinar, vendo-o em suas vrias

    dimenses desde a mobilidade, passando pela segurana, pela percepo enquanto

    territrio identitrio e, tambm, em sua vertente comunicacional.

    A possibilidade de utilizar as inter-relaes quando fosse adequada, a

    permisso que os grupos de projetos se organizassem e que seus membros

    pudessem atuar neste ou naquele grupo de projeto trocou estabilidade e

    regularidade por instabilidade e a crena na objetividade deu lugar noo de

    intersubjetividade na constituio da realidade e de sua compreenso quando se

    estimulou a participao efetiva de indivduos das mais variadas profisses,

    escolaridade e realidade social no processo de ideao.

    Outro ponto notvel foi a utilizao do marco conceitual textual como

    principio sustentador da deciso pragmtica, pois ao mesmo tempo que permite a

    incluso de percepes distintas e at paradoxal e, tambm, cria uma espcie de

    alma gasosa e transparente conceitual que permeia o objeto tangvel com os

    aspectos imateriais que so sensveis ao grupo.

    Dividir um projeto que contempla a ideao participativa em etapas de

    Imerso (Preliminar em Profundidade), Ideao e Prototipao sem preocupao

    que sejam de forma linear da forma que proposto pelo Design Thinking parece

    apropriado, pois permite organizar sem enrijecer dando ao processo um carter mais

    libertrio e, por conseguinte, com abertura para ideias mais incomuns e, talvez, com

    a possiblidade de gerar um maior sucesso.

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    PRXIMO PASSO (?)

    Munidos das reflexes expostas acima, o que se prope uma nova

    experimentao destas premissas de projetao participativa no desenvolvimento dopossvel projeto Reconhecendo e Reprojetando Nossa Cidade, que provavelmente

    envolver o Ministrio Pblico do Estado do Esprito Santo, a Universidade Vila

    Velha (UVV) atravs do Ncleo de Estudos e Prticas de Arquitetura e Urbanismo,

    Design de Produto e Engenharia Civil (NEP) e o Movimento Vida Nova (MOVIVE) no

    ano de 2014.

    Em linhas gerais o projeto Reconhecendo e Reprojetando Nossa Cidade

    busca oportunizar a discusso sobre o ambiente urbano e ambiental de VilaVelha/ES para despertar a valorizao do patrimnio cultural e natural da cidade,

    alm de elaborar propostas para atuao na valorizao de espaos pblicos nas

    cinco Regionais do municpio.

    A metodologia projetual pretendida tem sua concepo a partir da

    observao dos indcios emanados nos cidados de criar um processo continuo, e

    talvez um trao cultural, naqueles que habitam (nasceram ou vieram de outros

    lugares, moram, trabalha, estudam ou tem algum tipo de ligao afetiva com) o

    municpio de Vila Velha/ES. Descobrir ou identificar os elementos (materiais e

    imateriais) que definem a identidade a fim de relacion-los aos objetos que sero

    utilizados para uma interveno urbanstica que a caracteriza ser o grande desafio.

    Para tanto, se pensou em utilizar uma analogia baseada na abordagem da

    ontologia onde o ser humano possuidor de duas dimenses (CORPO e ALMA),

    onde o Corpo o meio fsico atravs do qual a entidade no material se manifesta e

    a Alma uma caracterstica prpria, nica, que aufere ao ser uma personalidade

    individualizada, e a partir desta metfora, buscar nas razes os traos da cultura

    imaterial para torna-las tangveis em espaos de uso coletivo no meio urbano nas

    cinco regionais do municpio de Vila Velha. Ver o grafo 2 abaixo.

  • 7/25/2019 A Comunidade Que Projeta Um Modo de Pens

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    Grafo 2 Do centro parte o marco conceitual que permeia a alma ao seu redor e se materializa

    no corpo atravs dos equipamentos que sero distribudos e ordenados compondo o espao

    urbano de cada uma das cindo regionais de Vila Velha/ES.

    Fonte: Desenvolvido pelo autor

    Esta vertente, nos faz crer, que a adoo de um processo participativo pode

    render produtos de qualidade reconhecida, tanto em seus aspectos tcnicos, quanto

    em seu vis de alinhamento, com a percepo daqueles que utilizaro o espao

    projetado, que sejam seus habitantes, aqueles que ali se destinam, ou mesmo os

    que saem dali levando uma imagem positiva em suas lembranas.

    O projeto Reconhecendo e Reprojetando Nossa Cidade emerge como mais

    uma oportunidade de experimentao de um processo participativo de ideao emespecial porque abarca a identidade dos habitantes de um determinado territrio

    espacial em um momento lquido, de valores cambiantes em uma sociedade onde

    individualismo presente.

  • 7/25/2019 A Comunidade Que Projeta Um Modo de Pens

    23/23

    REFERNCIAS

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