A concentração de gases de efeito estufa em 2016

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A concentração de gases de efeito estufa em 2016 José Eustáquio Diniz Alves Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: [email protected] https://www.co2.earth/ O nível dos gases de efeito estufa na atmosfera teve uma alta recorde em 2016, em um momento em que o agravamento das mudanças climáticas faz com que o planeta fique mais perigoso. Por exemplo, os meses de maio e junho foram marcados por diversas catástrofes naturais decorrentes das mudanças climáticas extremas. Em maio, uma onda de calor na Índia quebrou o recorde de temperaturas. No dia 19/05/16, foram registrados 51 graus Celsius na cidade de Phalodi, no estado desértico do Rajastão. Dois dias depois um ciclone deixou 23 mortos e 500 mil deslocados em Bangladesh. Em 30 de maio 2016 um temporal deixou 900 desalojados em três cidades do Grande Recife. Ainda em maio, um imenso incêndio florestal provocou a evacuação da cidade petroleira canadense de Fort McMurray e arredores. Cerca de metade dos 1.550 bombeiros da província combateram o fogo que devastou mais de 2.500 km2 de floresta, além de destruir 2.400

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O aquecimento global é um fenômeno típico da “Sociedade de Risco”, como definiu Ulrich Beck. As mudanças climáticas, provocadas pela concentração de CO2 tal como descrito acima, não são fenômenos naturais, mas “incertezas fabricadas” que pode gerar uma grande catástrofe global. Segundo Beck, estas “incertezas fabricadas” caracterizam-se por três aspectos: “deslocalização” (suas causas e consequências não se limitam a um local ou espaço geográfico – são unipresentes); “incalculabilidade” (são incalculáveis); e “não-compensabilidade” (é o fim do sonho da segurança da modernidade em tornar os perigos cada vez mais controláveis). O desafio do aquecimento global é um fenômeno que se encaixa na definição de Beck sobre “imperativos cosmopolitas”: coopere ou fracasse!

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A concentração de gases de efeito estufa em 2016

José Eustáquio Diniz AlvesDoutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População,

Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: [email protected]

https://www.co2.earth/

O nível dos gases de efeito estufa na atmosfera teve uma alta recorde em 2016, em um momento em que o agravamento das mudanças climáticas faz com que o planeta fique mais perigoso. Por exemplo, os meses de maio e junho foram marcados por diversas catástrofes naturais decorrentes das mudanças climáticas extremas. Em maio, uma onda de calor na Índia quebrou o recorde de temperaturas. No dia 19/05/16, foram registrados 51 graus Celsius na cidade de Phalodi, no estado desértico do Rajastão. Dois dias depois um ciclone deixou 23 mortos e 500 mil deslocados em Bangladesh. Em 30 de maio 2016 um temporal deixou 900 desalojados em três cidades do Grande Recife. Ainda em maio, um imenso incêndio florestal provocou a evacuação da cidade petroleira canadense de Fort McMurray e arredores. Cerca de metade dos 1.550 bombeiros da província combateram o fogo que devastou mais de 2.500 km2 de floresta, além de destruir 2.400 casas na cidade e nos arredores de Fort McMurray, onde cerca de 100.000 personas foram evacuadas.

Em junho, um fenômeno de microexplosão atingiu Campinas e o interior de São Paulo em 05 de junho, provocando a destruição de muitas casas e benfeitorias. No mesmo dia, um incêndio fez 5 mil pessoas serem evacuadas na região de Los Angeles, nos Estados Unidos. Ainda em junho, enchentes e deslizamentos de terra deixaram ao menos 24 pessoas mortas e 26 desaparecidas e danificaram milhares de casas na região central da ilha indonésia de Java após chuvas torrenciais no dia 19 de junho 2016. Inundações na Virgínia Ocidental, nos EUA, dia 24/06/2016, provocou a morte de 26 pessoas e gerou danos enormes nos dias seguintes.

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Portanto, o aquecimento global já está provocando efeitos sobre as gerações atuais e vai prejudicar ainda mais as gerações futuras. Em abril de 2014, as concentrações mensais de CO2 na atmosfera ultrapassaram 400 partes por milhão (ppm), atingindo o nível mais alto dos últimos 800.000 anos, ressaltou a NOAA. Possivelmente, nos últimos 3,5 milhões de anos a concentração desse gás-estufa jamais ultrapassou 300 ppm.

Em grandes quantidades, o CO2 é um poderoso e perigoso gás-estufa, resultado das atividades humanas como a combustão de combustíveis fósseis (carvão e petróleo), e desmatamento. Juntos com outros dois gases do efeito de estufa produzidos pelas atividades antrópicas, o metano (a pecuária é grande produtora deste gás) e o óxido nitroso aceleram o aquecimento global. O aquecimento global provoca acidificação dos solos e dos oceanos e acelera o degelo dos polos e dos glaciares elevando o nível do mar, o que ameaça as áreas costeiras do mundo.

No mês de maio de 2016 as concentrações globais de dióxido de carbono (CO2) atingiram um recorde de média global de 407,7 partes por milhão (ppm), sendo que a média do período pré-industrial estava abaixo de 280 ppm. "Pela primeira vez desde que medimos a concentração de dióxido de carbono na atmosfera global, a concentração mensal deste gás de efeito estufa ultrapassou 407 partes por milhão (ppm) ", informou a Agência Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA).

O mais grave é que a média anual de crescimento da concentração de CO2 na atmosfera vem aumentando nas últimas décadas, conforme mostra o gráfico abaixo. Na década de 1960 o aumento médio estava em 1 ppm por ano, passando para mais de 2 ppm ao ano nos anos 2000.

http://www.esrl.noaa.gov/gmd/ccgg/trends/gr.html

A concentração de CO2 é um indicador climático registrado no Observatório do Mauna Loa, no alto do vulcão homônimo no Havaí, que mede a variação na concentração do principal gás de efeito estufa na atmosfera. A concentração de CO2 sobre uma variação sazonal. O gráfico

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abaixo mostra que os níveis sobem de setembro a maio todos os anos e caem de maio a setembro.

Em maio de 2016 a concentração de CO2 atingiu 407,7 ppm e caiu para ???? em junho e ???? em julho. Mas mesmo com a queda sazonal, tudo indica que no mês de setembro os níveis de CO2 vão ficar acima de 400 ppm. Portanto, 2016 será o primeiro ano em que o limiar dos 400 ppm vai ser alcançado todos os meses do ano.

http://www.esrl.noaa.gov/gmd/ccgg/trends/graph.html

No ritmo atual vai ser muito difícil atingir as metas estabelecidas no Acordo de Paris, da COP-21. O aumento da concentração de gases de efeito estufa vai acelerar o aquecimento global e se a temperatura passar de 2º C, o mundo vai entrar em uma era de incertezas.

O aquecimento global é um fenômeno típico da “Sociedade de Risco”, como definiu Ulrich Beck. As mudanças climáticas, provocadas pela concentração de CO2 tal como descrito acima, não são fenômenos naturais, mas “incertezas fabricadas” que pode gerar uma grande catástrofe global. Segundo Beck, estas “incertezas fabricadas” caracterizam-se por três aspectos: “deslocalização” (suas causas e consequências não se limitam a um local ou espaço geográfico – são unipresentes); “incalculabilidade” (são incalculáveis); e “não-compensabilidade” (é o fim do sonho da segurança da modernidade em tornar os perigos cada vez mais controláveis). O desafio do aquecimento global é um fenômeno que se encaixa na definição de Beck sobre “imperativos cosmopolitas”: coopere ou fracasse!

Referências: CO2 Earth: https://www.co2.earth/NOAA, ESRL, TRENDS http://www.esrl.noaa.gov/gmd/ccgg/trends/graph.html

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Annual Mean Growth Rate for Mauna Loa http://www.esrl.noaa.gov/gmd/ccgg/trends/gr.html