A Condição Urbana

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A CONDIÇÃO URBANA ensaios de geopolítica cidade PAULO CÉSAR DA COSTA GO!S

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  • A CONDIO URBANAensaios de geopoltica da cidade

    PAULO CSAR DA COSTA GOMES

  • Uma proposta de contribuio geogrfica para a compreenso das dinmicas sociaisProduzir uma interpretao dos fenmenos (sociais, histricos, polticos, culturais, etc.) a partir da anlise de dinmica espacial, mais especificamente da disputa territorial.

    Nesse sentido, a ordem espacial dos objetos e das prticas sociais - a trama relacional das localizaes um aspecto central dessa interpretao. Essa ordem espacial encarada como condio bsica para a existncia das prticas e tambm portadora de sentidos.

  • Trs noes estruturam a obra

    Territrio

    Poltica

    Cidade

  • TerritrioEle parte da extenso fsica do espao, mobilizada a partir de certo poder. uma expresso desse poder exercendo controle sobre o algum ou algo, atravs da imposio de regras, atitudes e comportamentos sobre o espao. Esse poder cria valores diferenciais como excluso/incluso e submisso/subverso que geram tenses, o territrio tambm um campo de disputa.

  • PolticaA partir de Hannah Arendt, ele pensa a poltica como uma convivncia de diferentes, a organizao de grupos humanos por certas temas em comum, entre eles esta a ocupao do espao. Nesse sentido a geopoltica a disputa e busca pela afirmao de um poder, um territrio. Na obra analisada essa luta se d dentro do espao urbano.

  • Cidade Retomando Max Weber, o autor define a cidade como um fenmeno de origem poltico-espacial. Sua disposio fsica unida a dinmica sociocomportamental, so elementos fundadores para a condio urbana.

    Gomes tambm utiliza as reflexes de Milton Santos para pensar a cidade, definindo-a como uma associao de pessoas, que possui uma forma fsica e um contedo.

    A cidade encarada como um produto histrico fundado na relao dialtica entre organizao poltica e dinmica territorial.

  • As duas matrizes territoriaisPaulo Csar da Costa Gomes se prope a uma agenda prxima a de Milton Santos, investigar as interaes complexas entre lugares, coisas e pessoas a partir de uma viso dialtica, fora de uma disposio simples de determinaes.

    Atravs da dialtica ele pensa os conceitos por meio de jogos de oposies, confrontos. Dessa forma, o que ele denomina de matrizes os dois conjuntos opostos de concepes de espao ligadas a sociedade. Duas formas distintas de refletir sobre a dimenso poltica do espao, duas formas de se entender a geografia poltica.

  • Nomoespao, pressupostosO espao pensando a partir da sociedade, da relao entre indivduos.

    Essa organizao possui cdigos que regem suas interaes, as leis em um sentido amplo que definem o que desejvel e o que condenvel.

    Como Maquiavel, ele pensa que a regulamentao e ordenamento do espao um elemento fundamental da organizao social. A distribuio no espao atende a uma lgica que limita o bem comum e a liberdade individual.

  • A criao do territrio a partir de leisRetomando Arendt, ele define criao do territrio a partir de leis como uma atividade de diferenciao de espaos que formaliza incluses e excluses.

    Exemplos: a definio de territrios pertencentes ao rei de que nos fala Jaques Revel; a disputa de territrios entre os estados do Cear e do RN; as lutas por demarcao de terras no passado e no presente.

  • Nomoespao, conceitosDinmica prpria e singular atravs da qual se delimita, domina e classifica o espao. Essa atividade de ordenao do territrio, uma condio fundadora do fenmeno social.

    O nomoespao o espao hierarquizado atravs dos poderes que criam territrios. Esses poderes possuem estruturas complexas que regem e controlam a dinmica espacial atravs de disposies formais.

  • Nomoespao, conceitosO nomoespao fsico, limitado, institudo e regido por leis. definido atravs a associao de indivduos unidos por interesses comuns e pela aceitao de certos princpios e regras, um pacto social do tipo contratual. Esses pressupostos so mutveis ao longo do tempo e acompanham a transformao do espao e da sociedade.

    O nomoespao se relaciona com uma concepo de espao geomtrico, dividido racionalmente. baseado em condies contratualistas que limitam o pblico e o privado atravs de concepes de pacto, isonomia, igualdade e justia especficas.

  • Nomoespao e ordem socialA organizao do espao para Gomes um pressuposto para a realizao da ordem social. Ao mesmo passo, os contratos sociais regem a organizao espacial e atravs delas constroem lugares para prticas e comportamentos especficos do social. Nesse sentido, o espao delimita as aes da sociedade, atravs dele podemos acessar a ordenamento e regulamento das prticas e instituies sociais.

    Exemplos: as praas, o porto, o teatro, o cabar, etc.

  • Nomoespao e exclusoO nomoespao exprime relaes formais de pertencimento e ordenao. As instituies sociais dispe de seus mecanismos de controle e vigilncia para regular as prticas sociais no espao. H marcos territoriais que delimitam as esferas de prticas aceitveis e a no-aceitveis so passveis de punio. Entre as prticas punitivas esto a excluso social e a territorial.

    Exemplos: as prises, os manicmios, as colnias de trabalho forado.

  • Nomoespao e crticosO que Gomes entende por nomoespao possui uma extensa bibliografia crtica . Alguns deles so George Orwell (1984 e A revoluo dos bichos), passando por Michel de Certeau, Oswald Spengler at Michel Foucault.

  • O GenoespaoEsta categoria se refere a relao de um grupo ou comunidade com o espao que pratica. Nesse sentido observa-se a criao de uma identidade comum e prpria, que legitima a posse e o pertencimento do/ao territrio, baseada em sua relao com a alteridade.Nesse contexto, o compromisso social no se d com base na formalidade, mas sim por meio da homogeneidade, da solidariedade e da coeso. Os critrios de dominao e controle so coletivos. As aes no so classificadas pela distribuio no espao, elas prprias formam o espao. A diviso espacial perde o carter classificatrio das aes, tendo em vista a participao de um grupo social.

  • O GenoespaoNesse tipo de relao, ressalta-se o prestgio do passado e da tradio. Quanto mais antigo o costume, mais importante ele se torna no sentido de legitimar o uso do espao, categoria essencial para que a identidade se estabelea, sendo ele prprio um elemento fundador.As fronteiras do genoespao so mais fluidas que as do nomoespao, mas ainda assim so frequentemente reivindicadas como forma de afirmar a posse pela diferenciao. O conflito entre grupos, para alm das questes tnicas e culturais, tambm um conflito territorial, por isso a manuteno da coeso do grupo est baseada no conflito com o elemento externo. Exemplo dos ndios borors (Lvi-Strauss).

  • O GenoespaoQuanto mais perto do ncleo que emana os valores do grupo, maior a reafirmao do mesmo. Assim, temos como exemplo a cidade micnica. Outro exemplo a cidade medieval que ganha nova conformao com ascenso da burguesia. Se antes os ncleos eram coordenados por igrejas e abadias, ou seja, possuam um carter religioso e paroquial, agora a cidade apresentava uma conformaes polinuclear, orientada pelos diversos grupos de categorias profissionais, onde cada corporao possua sua torre para onde convergia o grupo social e de onde emanava os seus valores. Desse modo, cada unidade espacial possua cdigos de conduta e valores diferentes.

  • Os modelos polticos: que lugares para cidadania moderna? O Estado, a nao e os Estados-naesO autor busca problematizar sobre a instituio desses conceitos na compreenso da comunidade social e poltica. Utilizando o exemplo dos pases africanos e suas fronteiras delimitadas no processo de descolonizao, Gomes apresenta que estas categorias no so naturais, atendem a determinados interesses de grupos e supem o conflito, pois no h fronteira natural, nem os conceitos so capazes de dar conta da complexidade que as relaes de pertencimento ao territrio trazem luz. um processo dinmico do que a lei determina, em interface quilo que os grupos sociais praticam em seus modelos de estado e nao.

  • Os modelos polticos: que lugares para cidadania moderna? O Estado, a nao e os Estados-naesSendo assim, o autor nos apresenta que esses fenmenos podem ser analisados com base nos conceitos de nomoespao e genoespao. Sendo o primeiro deles o espao da nao pensado como uma comunidade que compartilha de um cdigo de leis civis, enquanto que a segunda categoria estaria relacionada ao que ele chama de uma nao orgnica, vivenciada e experimentada pelos que compartilham dessa ideia. Porm, Gomes deixa claro que a simples oposio dessas duas matrizes no so suficientes para explicar o fenmeno nacional, j que o mesmo se d atravs de uma interelao das duas. A compreenso reside em considerar que a nao se funda no dilogo desses dois modelos. Anlise de Hobsbawm e Habermas.

  • Os modelos sociolgicos: os espaos da civilizao ou territrios das culturasO autor analisa as discusses acerca da civilizao e da cultura com base nas ideias de Johann Herder, Norbert Elias e Ferdinand Tnnies.Inicialmente, trata-se dos modelos difundidos pela Frana e a Inglaterra que tm em seu cerne os ideais iluministas de defesa das liberdades individuais, em caminho para uma civilizao, pautada na urbanidade. Do outro lado, apresenta-se o modelo alemo, que leva em considerao a fragmentao das pequenas unidades territoriais e dos grupos sociais, que levar a cabo uma ideia de Kultur, visando evocar elementos fortes de sua relao sociedade e espao para construir uma narrativa de elementos comuns convergentes para o ideal de cultura alem, forte o suficiente para fazer oposio aos demais grupos.

  • Os modelos sociolgicos: os espaos da civilizao ou territrios das culturasSendo assim, observamos uma dicotomia entre passado e futuro, tradio e modernidade. Ao passo que um modelo se legitimava no discurso do desenvolvimento, o outro sustentava-se por meio da tradio. Ideia de evoluo de um modelo primitivo para estatal.Nesse sentido, Gesellschaft surgiria como uma possvel explicao para o modelo Francs/Ingls, onde a civilizao apontaria para o estabelecimento de leis que garantissem os direitos dos cidados e se fundasse enquanto nao por meio desse cdigo, em que a cidade era a sua expresso mais sublime. So as sociedades frias. J a ideia de Gemeinschaft estaria mais relacionada s sociedades quentes, em que a vida em conjunto est relacionada com afinidades e laos familiares, dando vazo a uma organizao social comunitria.

  • Os limites metodolgicos dos modelos de nomoespao e genoespaoCrticos da ideia de Gemeinschaft: Raymond Boudon, Georges Gurvitch e Talcott Parsons. Impossibilidade de compreender o estabelecimento de uma sociedade unicamente por meio de um sentimento de concrdia e organicidade natural.J Max Weber atenta para a no reduo desses conceitos a duas categorias antagnicas, mas sim como tentativas de compreender os processos scio-espaciais, onde nomoespao e genoespao estariam inseridos. No se trata de isolar ou desconsiderar o carter poltico (Genoespao), mas vislumbrar nesse conceito uma tentativa de explicao possvel para organizaes sociais que no se baseiam nos princpios legislativos civis. (Ex. cidado/ pichador)

  • Aplicao das matrizes aos casos

  • Cidadania e espao pblico: o que a Geografia tem a dizer?O autor nos insere na discusso explicitando que a criao de um espao considerado pblico foi de primeira importncia para constituio de uma ideia de cidadania. (Grcia clssica do genos ao demos)O espao a condio e o meio que permite o desenvolvimento das prticas cidads. Cidade, poltica e espao compem um nico objeto, por isso novos projetos polticos e sociais, so sempre acompanhados de novas organizaes espaciais. Ex. da constituio da cidade moderna e dos diversos debates de construo dos espaos em urbanistas como Camilo Sitte, Choay, Fourrier, etc. A questo das utopias e a dicotomia entre os modelos de cidade moderna e medieval.

  • Cidadania e espao pblico: o que a Geografia tem a dizer?A Geografia repousa no conceito de espao pblico para compreender questes ligadas a cidadania.O espao pblico se constitui por meio de relaes contratuais, regulamentadas pela lei. Ganha sentido atravs da lei que orienta a prtica, enquanto que a prpria prtica d sentido a existncia deste espao. o lugar da representao social, do desenrolar da vida pblica a que todos tm direito de acesso, desde que atentem para o cumprimento das leis.O autor atualiza a discusso de cidadania com relao a constante supresso e homogeneizao espacial no mundo globalizado.

  • O espao pblico e as manifestaes do recuo da cidadaniaO espao geogrfico o terreno onde as prticas sociais se exercem, a condio necessria para que elas existam e o quadro que as delimita e d sentido. (p.172)O autor atenta para um recuo da ideia fundante de cidadania, e para a resignificao dos espaos pblicos.A apropriao privada dos espaos comunsA progresso das identidades territoriaisO emuralhamento da vida socialO crescimento das ilhas utpicas

  • Exemplos de anliseO autor faz uma anlise comparativa entre os movimentos dos casseurs em Paris, e dos arrastes, nas praias do Rio de Janeiro.Guardadas as devidas ressalvas de realidades socioeconmicas e processos histricos diferentes, o autor explicita a origem dos grupos que promovem os movimentos que so nos dois casos de camadas excludas da sociedade e do direito a prtica do espao pblico, que so representados nestes casos pelos bulevares e pelas praias.O futebol como metfora da disputa territorialA questo do Quebec

  • ltimas notasPensar nomoespao e genoespao como duas categorias de anlise possveis dos fenmenos socioespaciais.Conceber a anlise espacial com base no dilogo entre a morfologia e as prticas sociais.Observar o espao fsico a partir das vivncias nele estabelecidas e das construes de sentido.O espao possui sentidos diferentes, de acordo com dinmicas sociais diferentes.A orientao do olhar do pesquisador quando lanado ordem espacial.