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Ana Carla Batissoco A conexina 26 e sua relação com outras proteínas no órgão de Corti São Paulo 2011

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Ana Carla Batissoco

A conexina 26 e sua relação com outras proteínas no órgão de Corti

São Paulo 2011

2

Ana Carla Batissoco

A conexina 26 e sua relação com outras proteínas no órgão de Corti

Tese apresentada ao Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, para a obtenção de Título de Doutor em Ciências, na Área de Biologia/Genética.

Orientadora: Profa. Dra. Regina Célia Mingroni Netto

Co-orientadora: Profa. Dra. Luciana Amaral Haddad

São Paulo 2011

3

Ficha Catalográfica

Batissoco, Ana Carla

A Conexina 26 e sua relação com outras proteínas no órgão de Corti

181 pp.

Tese (Doutorado) - Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. Departamento de Genética e Biologia Evolutiva.

1. GJB2

2.Conexina 26

3. Surdez hereditária

4. órgão de Corti

5. precipitação por afinidade de proteínas

6. células progenitoras

7. células de suporte

Comissão Julgadora:

Prof(a). Dr(a). Prof(a).Dr(a).

Prof(a). Dr(a). Prof(a).Dr(a).

Profa. Dra. Regina Célia Mingroni Netto Orientadora

4

Aos amores da minha vida;

Alê e Urko.

5

Agradecimentos

À minha orientadora Profa. Dra. Regina Célia Mingroni Netto, por sua

dedicação, confiança e conselhos valiosos.

À minha co-orientadora Profa. Dra. Luciana Amaral Haddad, por toda

orientação técnica e científica e pela grande disposição em me ajudar em todos os

momentos desse estudo.

Aos meus pais, Luiz e Zulmira, e meus irmãos, Miguel e Graça, aos quais

devo tudo o que sou.

Ao Alê pelo amor e apoio integral, ao Urko por ser a fonte de toda minha

energia e a Ori, por todos os momentos de descontração.

Ao Prof. Dr. Paulo Otto, por ter me apresentado ao Laboratório de Genética

Humana.

À Profa. Dra. Angela Vianna Morgante, pelo uso das dependências do

laboratório de Genética Humana.

Ao Dr. Ignácio del Castillo pela amostra controle cedida para a triagem da

deleção de 200Kb localizada nas proximidades do gene GJB6 e pelas análises de

MLPA.

Ao diretor da DERDIC (Divisão de Reabilitação dos Distúrbios da

Comunicação, PUC-SP), Dr. Alfredo Tabith Jr. e ao diretor clínico Dr. Mauro

Spinelli (in memoriam) e todos os demais membros do corpo profissional pelas

inúmeras avaliações clínicas e audiológicas realizadas nos pacientes e seus familiares.

Aos amigos Faculdade de Medicina da USP, Jeanne, Luiz e Karina, pela

amizade, pelo companheirismo e parceria na pesquisa e pelas ótimas discussões

científicas e não científicas.

Aos funcionários e alunos do Laboratório de Genética Humana, de

Genômica Funcional e de Oxidações Biológicas em Leveduras, que contribuíram de

alguma forma para que eu realizasse este projeto. Em especial, agradeço à Maraísa

pela amizade.

Aos meus colegas do laboratório de Genética Humana, Dayane, Magnólia,

Renata e Vítor. Agradeço em especial a Lilian e a Maria Teresa pelo apoio técnico,

científico e pela amizade. E também ao “agregado” Gustavo. E as ex-alunas Daniela

e Renata Thiele.

6

Aos meus amigos mais do queridos Deborah e Fernando, e também Crys,

Larissa e Juliana por todo o apoio durante as aventuras e “desventuras” da vida

acadêmica.

Aos funcionários do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva e do

Centro de Estudos do Genoma Humano pelo apoio técnico.

Ao Prof. Dr. Alberto A. G. F. C. Ribeiro, por ter permitido o acesso ao seu

laboratório de Biologia Celular e Microscopia Eletrônica e em especial ao técnico

Waldir Caldeira, por todos os longos períodos de captura de imagens.

À Ana Lucia Garippo, do núcleo de microscopia confocal/fluorescência

Rede Multiusuários do Sistema FMUSP/HC pela captura de imagens e pelas

valiosas dicas de imunofluorescência.

Aos nosso colaboradores internacionais, Prof. Stefan Heller (Department of

Otolaryngology Head and Neck Surgery and Department of Molecular and Cellular

Physiology, Stanford University School of Medicine, Stanford, Califórnia, USA) e

Prof. Azel Zine (Institute for Neurosciences of Montpellier and Institute for

Research in Biotherapy, University of Montpellier I, Montpellier, France) por todo o

treinamento oferecido a nossa equipe de pesquisa em células-tronco/progenitoras

do órgão de Corti.

Ao Prof. Dr. Ricardo Bento, pela coordenação dos projetos INCT-CNPq

(Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Células-Tronco) e RNTC-FAPESP

(Rede Nacional de Terapia Celular), cujos recursos financieros permitiram parte das

pesquisas aqui apresentadas.

À Profa. Dra. Mayana Zatz, pela coordenação dos projetos PRONEX-CNPq,

CEPID-FAPESP, Centro de Estudos do Genoma Humano e INCT-CNPq, cujos

recursos financeiros permitiram a execução da maioria das pesquisas aqui

apresentadas

Ao Instituto de Biociências e ao Departamento de Genética e Biologia

Evolutiva, pela infra-estrutura.

À FAPESP e CNPq pelos auxílio financeiro.

Aos nossos pacientes com deficiência auditiva e às suas famílias, pela enorme

paciência em colaborar com nossas pesquisas.

A todos os animais sacrificados que contribuíram para esse estudo.

7

SUMÁRIO

Apresentação 1

Resumo 4

Abstract 6

Capítulo 1 9

1. Revisão bibliográfica 9

1.1.Introdução 9

1.2.Fisiologia da audição 10

1.2.1.O órgão de Corti 11

1.2.1.1.Desenvolvimento, proliferação e diferenciação celular no órgão de Corti

13

1.2.1.2.A regeneração das células ciliadas como indicativo da presença de células-tronco na orelha interna

17

1.3.Surdez de etiologia genética 19

1.4.Surdez não-sindrômica 20

1.5.Surdez não-sindrômica de herança autossômica recessiva e o lócus DFNB1 21

1.6.As proteínas conexinas 26

1.6.1.Expressão e estrutura das conexinas 26

1.6.2.Funções das conexinas 28

1.6.3.Biossíntese das conexinas 30

1.6.4.Interação entre conexinas e outras proteínas 33

Capítulo 2. Objetivos 35

2.1. Objetivo geral 35

2.2. Objetivos específicos 35

Capítulo 3. Pesquisa de novos alelos patogênicos no lócus DFNB1 relacionados à surdez não-sindrômica de herança autossômica recessiva

36

3.1.Introdução 36

3.2.Objetivo 37

3.3.Casuística e Métodos 38

3.3.1.Pacientes 38

3.3.2.Amostra controle 39

8

3.3.3.Métodos 39

3.3.3.1.Sequenciamento das regiões de código, promotora e de splicing do gene GJB2

40

3.3.3.2.Triagem da deleção de 200kb localizada nas proximidades do gene GJB2

43

3.3.3.3.Pesquisa de variações no número de cópias nos exons dos genes GJB2, GJB6, GJB3 e WFS1 por MLPA

45

3.4.Resultados 52

3.4.1.Sequenciamento das regiões de código, promotora e doadora de splicing do intron 1 do gene GJB2

52

3.4.2.Triagem da deleção de 200kb a a 130kb da região 5’ do gene GJB6 53

3.4.3.Pesquisa de variações no número de cópias por MLPA e por PCR em tempo real quantitativa

56

3.5.Discussão 59

3.5.1.Sequenciamento das regiões de código, promotora e doadora de splicing do intron 1 do gene GJB2

59

3.5.2.Triagem da deleção de 200kb localizada a 130kb da região 5’ do gene GJB6

61

3.5.3.Pesquisa de variações no número de cópias por MLPA (Multiplex Ligation-dependent Probe Amplification) e por PCR em tempo real quantitativa

62

3.6.Conclusão 65

Capítulo 4. Estabelecimento de culturas primárias de células neuro-epiteliais do órgão de Corti de cobaias e camundongos

66

4.1.Introdução 66

4.2.Objetivo 68

4.3.Animais e Métodos 68

4.3.1.Animais 68

4.3.2.Métodos 69

4.3.2.1.Dissecção do órgão de Corti de cobaias e camundongos neonatos 70

4.3.2.2.Cultura em suspensão de células progenitoras do órgão de Corti 70

4.3.2.3.Caracterização fenotípica das células em cultura 73

4.3.2.4.Contagem celular 75

4.3.2.5.Análises estatísticas 75

4.4.Resultados 75

4.5.Discussão 85

4.6.Conclusão 90

9

Capítulo 5. Pesquisa e identificação de proteínas que interagem com a Cx26 91

5.1.Introdução 91 5.2.Objetivo 93 5.3.Animais e Métodos 94 5.3.1.Animais 94 5.3.2.Métodos 95 5.3.2.1.Clonagem e expressão de uma proteína com a sequência codificadora para a região C-terminal da Cx26 em fusão com GST

95

5.3.2.2.Obtenção de proteínas recombinantes em condições solúveis ou insolúveis 98 5.3.2.3. Ensaios de precipitação por afinidade entre a proteína de fusão recombinante (GST-Cx26) e proteínas do lisado celular

100

5.3.2.4.Identificação proteica por espectrometria de massas 102 5.3.2.5.Análises in silico 104 5.4. Resultados 105 5.4.1. Clonagem e expressão de uma proteína com a sequência codificadora para a região C-terminal da Cx26 em fusão com GST

105

5.4.2.Ensaios de precipitação por afinidade entre as proteínas recombinantes e proteínas do lisado celular

111

5.4.3.Análises das proteínas identificadas por espectrometria de massas 112 5.5.Discussão 127 5.6. Conclusão 142

Referências Bibliográficas 144 Anexos 165

10

Índice de Figuras

Figura 1.1. Esquema representando o aparelho auditivo humano: orelha externa (E), orelha média (M) e orelha interna (I).

12

Figura 1.2. Secção transversal de um dos giros da cóclea, mostrando sua divisão em três compartimentos longitudinais: as escalas vestibular, timpânica e média ou duto coclear.

12

Figura 1.3. Esquema ampliado do órgão de Corti, mostrando as células ciliadas internas e externas e as células de suporte.

13

Figura 1.4. Diferenciação das células progenitoras em células ciliadas e de suporte.

16

Figura 1.5. Representação esquemática dos genes GJB2 e GJB6.

23

Figura 1.6. Representação esquemática da região do lócus DFNB1, 13q12-11, onde estão presentes os genes GJB2 e GJB6 e das deleções descritas nessa região e associadas a surdez não-sindrômica de herança autossômica recessiva.

25

Figura 1.7. Representação esquemática da estrutura das conexinas, dos conexons e dos canais de junção do tipo fenda.

29

Figura 1.8. Representação esquemática da reciclagem dos íons potássio na cóclea.

31

Figura 1.9. Representação esquemática da síntese, montagem e degradação dos canais comunicantes do tipo fenda.

32

Figura 3.1. Representação esquemática do gene GJB2 e das suas regiões de código, promotora e doadora de splicing do intron 1 e da extensão das regiões sequenciadas nesse trabalho.

42

Figura 3.2. Exemplo de curva de dissociação específica mostrando um único pico máximo entre 80-84oC.

49

Figura 3.3. Exemplo das curvas de amplificação das diluições seriadas utilizadas para a construção das curvas padrão e cálculo da eficiência dos pares de iniciadores quanto a sequência alvo.

52

Figura 3.4. Nova mutação p.L76P(c.C227T) no gene GJB2.

53

Figura 3.5. Resultados da genotipagem de SNPs com o MegaBace SNuPe Genotyping Kit da nova mutação p.L76P (c.C227T).

54

Figura 3.6. Triagem da deleção de 200kb localizada a 130kb da região 5’ do gene GJB6.

54

11

Figura 3.7. Perfil das sondas de MLPA do kit SALSA P163-C1 Hearing loss no paciente em que foi detectada a duplicação do gene GJB2 associada à mutação 167delT.

57

Figura 3.8. Gráficos mostrando a quantificação relativa (QR) realizada a partir dos resultados da PCR em tempo real quantitativa no paciente controle sem duplicação e no paciente com a duplicação.

57

Figura 3.9. Representação esquemática do gene GJB2 e da região duplicada detectada no DNA genômico do paciente portador da mutação c.167delT.

59

Figura 3.10. Heredograma da família da paciente portadora da mutação c.167delT no gene GJB2 em heterozigose e na qual foi detectada a duplicação na região de código do gene GJB2 .

59

Figura 3.11. Análise do alinhamento do resíduo 76 na conexina 26, do gene GJB2, em diferentes espécies.

60

Figura 4.1. Dissecção da orelha interna de cobaias.

76

Figura 4.2. Morfologia dos diferentes tipos de esferas obtidas de culturas de células em suspensão do órgão de Corti de camundongos.

77

Figura 4.3. Análise do potencial de proliferação das células do órgão de Corti de cobaias e camundongos em suspensão.

79

Figura 4.4. Resultado do ensaio de auto-renovação das células do órgão de Corti em suspensão.

80

Figura 4.5. Análise do número de células presentes nas otoesferas obtidas com o cultivo em suspensão das células do órgão de Corti de cobaias e camundongos em meio enriquecido com TGFα ou bFGF.

82

Figura 4.6 Imunofluorescência indireta com os anticorpos anti-nestina e anti-Sox2 nas otoesferas de cobaias e camundongos, após uma ou duas passagens, cultivadas na presença de bFGF or TGFα.

83

Figura 4.7.: Imunofluorescência indireta com os anticorpos p27kip1 e Jagged 1 nas otoesferas de camundongos, após duas passagens, cultivadas na presença de TGF e submetidas a diferenciação celular.

84

Figura 4.8: Imunofluorescência indireta com os anticorpos miosina VIIa e Jagged 2, nas otoesferas de camundongos, após duas passagens, cultivadas na presença de TGF e submetidas a diferenciação celular.

84

Figura 5.1. Gráfico mostrando a variação da probabilidade de identificação correta de uma proteína pelo Scaffold 3 proteomic software, em função ao número de peptídeos identificados e probabilidade de identificação correta que reflete a porcentagem de similaridade.

104

12

Figura 5.2. Triagem das colônias recombinantes com o vetor pGEX-4T-1.

108

Figura 5.3. Padronização das condições de expressão das proteínas GST-Cx26 e GST.

109

Figura 5.4. Western blotting para confirmação da expressão das proteínas GST-Cx26 e GST.

109

Figura 5.5. Solubilidade das proteínas GST-Cx26 e GST.

110

Figura 5.6. Quantificação e purificação das proteínas GST-Cx26 e GST.

111

Figura 5.7. Eletroforese em SDS-PAGE a 10% dos precipitados ou sobrenadantes de ensaios de precipitação por afinidade com GST ou GST-Cx26, tendo sido usada a extração de cérebro com o tampão PHEM.

114

Figura 5.8. Eletroforese em SDS-PAGE a 12% dos precipitados ou sobrenadantes de ensaios de precipitação por afinidade com GST ou GST-Cx26 tendo sido usada a extração de cérebro com os tampões EGTA e EDTA.

114

Figura 5.9. Eletroforese em SDS-PAGE a 8 % dos precipitados ou sobrenadantes de ensaios de precipitação por afinidade com GST ou GST-Cx26 tendo sido usada a extração de fígado com o tampão EGTA.

115

Figura 5.10. Eletroforese em SDS-PAGE a 8% dos precipitados ou sobrenadantes de ensaios de precipitação por afinidade com GST ou GST-Cx26 tendo sido usada a extração de fígado com o tampão EGTA.

115

Figura 5.11. Diagrama de Venn mostrando as 23 proteínas candidatas a interagirem com a Cx-26 classificadas em cinco grupos distintos de acordo com identidade de ontologia gênica relacionada a processo biológico, compartimento celular e função molecular.

121

13

Índice de Tabelas

Tabela 1.1. Distribuição tecidual das conexinas (RNAm) em humanos (Cx hs) e camundongos (Cx mus).

27

Tabela 3.1. Relação das sondas que compõe o Kit SALSA MLPA P163 C1 (MRC - Holland) e as regiões cromossômicas abrangidas por elas.

46

Tabela 3.2. Programa de amplificação utilizado nos experimentos de PCR em tempo real.

49

Tabela 3.3. Sequência dos iniciadores de regiões diferentes do gene GJB2 utilizados nos experimentos de PCR em tempo real.

49

Tabela 3.4. Caracterização dos dezesseis pacientes com mutações monoalélicas nos genes GJB2 ou GJB6 e resultados das análises moleculares.

55

Tabela 3.5. Resultados das quantificações relativas (QR) das sequências alvo do gene GJB2, que indicam o seu número de cópias, e seus valores de P adotando-se intervalo de confiança de 95%.

58

Tabela 4.1. Relação dos anticorpos primários utilizados na caracterização fenotípica das culturas de células progenitoras do órgão de Corti de cobaias e camundongos.

74

Tabela 4.2. Análise dos parâmetros obtidos quanto ao número de otoesferas e o número de células por otoesferas presentes no cultivo em suspensão de células do órgão de Corti de cobaias e camundongos, cujo meio de cultura foi enriquecido com TGFα ou bFGF.

81

Tabela 5.1. Relação das conexinas descritas por interagir com os domínios PDZs das proteínas ZO-1 e a sequência dos últimos dez resíduos da região C-terminal de cada para a espécie Mus musculus.

93

Tabela 5.2. Composição dos três diferentes tampões de lise utilizados para o ensaio de precipitação por afinidade.

101

Tabela 5.3. Sequência dos dez aminoácidos que compõem a região C-terminal da Cx26 nas espécies Mus musculus e Homo sapiens.

106

Tabela 5.4. Relação dos 11 pares de fatias recortadas em geis de SDS-PAGE de concentrações diferentes referentes às bandas presentes no ensaio de interação por afinidade com a proteína de fusão GST-Cx26 e ausentes no ensaio com a GST.

113

Tabela 5.5. Relação do número de proteínas identificadas por meio da espectrometria de massas das 11 bandas isoladas em SDS-PAGE presentes apenas no ensaio de precipitação por afinidade com a proteína GST-Cx26 e das outras 11 bandas localizadas na mesma posição da canaleta vizinha correspondentes ao ensaio com a GST.

117

14

Tabela 5.6. Relação total das 49 proteínas identificadas por meio da espectrometria de massa após análises com o Scaffold 3 proteomic software das 11 bandas recortadas de géis SDS-PAGE presentes no ensaio de precipitação por afinidade com a proteína GST-Cx26.

118

Tabela 5.7. Relação das 23 proteínas candidatas a interagirem com a região C-terminal da Cx26.

122

Tabela 5.8.: Classificação funcional baseada na literatura científica das 22 proteínas candidatas em potencial a participarem do complexo molecular da Cx26.

140

15

Sites utilizados para Análises in silico

- DECIPHER: http://decipher.sanger.ac.uk/

- DGV - Database of Genomic Variants: http://projects.tcag.ca/variation/

- EMBL-EBI: http://www.ebi.ac.uk/

- Ensembl Genome Browser: http://www.ensembl.org/index.html

- ExPASy Proteomics server : http://expasy.org/

- Hereditary Hearing Loss Homepage-: http://hereditaryhearingloss.org/

- Kyte Doolittle Hydropathy:http://gcat.davidson.edu/rakarnik/KD.html

- MGI- Mouse Genome Informatic: http://www.informatics.jax.org/

- NCBI :http://www.ncbi.nlm.nih.gov/

- POLYPHEM-2: http://genetics.bwh.harvard.edu/pph2/

- PSORT: http://psort.hgc.jp/

- The Connexin-Deafness Homepage : http://davinci.crg.es/deafness/

- SWISSPROT: http://www.ebi.ac.uk/uniprot/

- UCSC Genome Bioinformatics: http://genome.ucsc.edu/

1

APRESENTAÇÃO

Estimou-se que 16% dos casos de surdez no Brasil, assim como 60% nos

países desenvolvidos, tenham causas genéticas. Desses, em 70% dos casos a surdez

é não-sindrômica. Dos casos hereditários, 80% têm herança autossômica recessiva.

A causa mais comum de surdez não-sindrômica de herança autossômica recessiva

são as mutações nos genes GJB2 e GJB6. Dentre os indivíduos com deficiência

auditiva recessiva associada ao gene GJB2, 10% a 50% apresentam uma única

mutação recessiva em heterozigose detectável por testes convencionais, frequência

muito superior à esperada com base na frequência de heterozigotos na população

geral.

Durante o projeto de mestrado que teve o objetivo de caracterizar os tipos e

estimar a frequência das mutações dos genes GJB2 e GJB6 (lócus DFNB1), que

codificam para as proteínas conexinas 26 e 30, respectivamente, estudamos uma

amostra de 300 indivíduos com perda auditiva e sem diagnóstico de síndrome

conhecida associada à surdez. Foram rastreadas as mutações c.35delG e c.167delT

no gene GJB2, del(GJB6-D13S1830) e del(GJB6-D13S1854) no gene GJB6, e

polimorfismos conformacionais de fita simples (SSCP) no gene GJB2, para posterior

identificação de mutações por sequenciamento. A mutação c.35delG no gene GJB2

foi a mais frequentemente detectada, presente em 37 indivíduos (12,4%), sendo 22

homozigotos e 15 heterozigotos. Entre os heterozigotos, em oito (53,3%) não foi

identificada uma segunda mutação no gene GJB2 ou no GJB6. Desde então, mais 8

indivíduos com situação semelhante foram identificados em nosso serviço de

aconselhamento genético, totalizando 16 casos.

A maioria dos trabalhos sobre mutações no gene GJB2 investigam sua região

codificadora e a região não codificadora foi pouco estudada. Alguns estudos já

revelaram mutações fora da região de código do gene que afetam o padrão de splicing

do RNA mensageiro ou o seu nível de expressão. O alto número de surdos

portadores de uma única mutação recessiva (sem a segunda mutação detectada)

sugere que a haplo-insuficiência no gene GJB2 possa interagir com outras mutações

no mesmo gene, no gene GJB6 vizinho ou até em outros genes.

2

A triagem de variantes patogênicas no gene GJB2 fora de sua região código,

bem como o estudo de grandes deleções, a exemplo das que ocorrem com o seu

gene vizinho, o GJB6, pode nos auxiliar a revelar os mecanismos moleculares que

relacionam os produtos desses dois genes, GJB2 e GJB6, além de poder explicar os

casos de pacientes surdos com uma única mutação detectada no gene GJB2. Para

dar continuidade aos estudos iniciados no mestrado e também contribuir para o

esclarecimento da patogênese da surdez de herança autossômica recessiva, o nosso

primeiro objetivo no doutorado foi a identificação de novos alelos patogênicos no

lócus DFNB1 (onde estão contidos os genes GJB2 e GJB6) que possam ser

responsáveis por surdez quando presentes com outros alelos patogênicos nos genes

GJB2 e GJB6, no material genético de pacientes surdos, previamente caracterizados

como portadores de uma única mutação recessiva patogênica.

Na orelha interna, mais especificamente na cóclea, o órgão de Corti, estrutura

responsável pela transdução do som em impulsos nervosos, é formado por dois

tipos celulares altamente diferenciados, as células ciliadas (internas e externas) e as

células de suporte. Uma característica marcante destas células é que, durante o

desenvolvimento embrionário, elas entram em diferenciação terminal e são mantidas

em quiescência mitótica ao longo da vida. Em aves, peixes e anfíbios, as células

ciliadas auditivas são capazes de se regenerarem após lesão celular como parte do

processo fisiológico de crescimento e manutenção tecidual, devido à proliferação e

transdiferenciação das células de suporte. Já em mamíferos, a perda das células

ciliadas auditivas é definitiva, representando uma das principais causas de surdez em

seres humanos. Recentemente, foi demonstrado que células ciliadas do órgão de

Corti podem ser obtidas a partir de células-tronco embrionárias e de células-tronco

adultas da orelha interna, da medula óssea e neurais dos camundongos. Essas células

são multipotentes e, em teoria, capazes de originar todos os tipos celulares da orelha

interna. Dada à extrema relevância do tema, o cultivo das células do órgão de Corti

em laboratório representa um passo fundamental, não somente para o

desenvolvimento de futuras terapias gênicas e celulares, mas também para

desvendar os mecanismos moleculares e celulares relacionados à fisiologia da

audição e, consequentemente, à sua perda. Assim, buscando realizar pesquisas

3

básicas sobre audição e alternativas ao tratamento da surdez foi formado, em 2007,

um grupo de pesquisa com integrantes do Instituto de Biociências da USP e do

Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da

USP, com o objetivo de estabelecer no Brasil condições para pesquisa básica e

clínica sobre audição, com ênfase no cultivo e no estudo de células do órgão de

Corti. Uma vez que a conexina 26, proteína codificada pelo GJB2, é expressa nas

células de suporte do órgão de Corti, o cultivo dessas células em laboratório

representa passo de fundamental importância em estudos básicos de identificação e

localização de proteínas, relacionadas à função auditiva. Desse modo, o segundo

objetivo do projeto de doutorado foi padronizar protocolos para cultivo e

diferenciação de células epiteliais do órgão de Corti de cobaias e camundongos, para

se criar, a médio prazo, condições experimentais fundamentais aos estudos

funcionais relacionados às conexinas e suas “parceiras” e, a longo prazo, ao

desenvolvimento de estratégias futuras de terapia celular e terapia gênica na

deficiência auditiva.

Diversos estudos têm sido realizados com o objetivo de demonstrar a

interação entre conexinas e outras proteínas, como as proteínas de zônula de

oclusão-1 (ZO-1 ou TJP1), as calmodulinas, as caderinas, algumas cinases e

proteínas do citoesqueleto. No entanto, até o momento, são poucas as proteínas

identificadas por interagirem com a Cx26. A identificação de proteínas que se

associam com a Cx26 amplia a base de nosso conhecimento funcional das conexinas

e indica novos genes candidatos como causa de surdez sindrômica e não-

sindrômica, que poderiam vir também a explicar os casos de pacientes surdos com

uma única mutação no gene GJB2. Estes casos poderiam ser explicados por herança

digênica, ou seja, interação gênica entre o loco da Cx26 e outro que codifique para

outra proteína, que se associa a ela física e funcionalmente. Desse modo, o terceiro

objetivo do nosso estudo foi identificar proteínas que interagem com a Cx26, em

diferentes tecidos que a expressam e também nas células de suporte do órgão de

Corti. Desta forma, pretende-se aprofundar o conhecimento sobre as vias

funcionais relacionadas à audição.

4

RESUMO

A causa mais frequente de surdez de herança autossômica recessiva são as

mutações no lócus DFNB1, onde estão os genes GJB2 e GJB6. Dentre os

indivíduos com deficiência auditiva associada a esse lócus, 10% a 50% apresentam

uma única mutação recessiva no gene GJB2, frequência muito superior à esperada

em função da frequência de heterozigotos na população geral. Apesar de alguns

desses casos terem sido elucidados após a identificação de grandes deleções no gene

GJB6 ou nas suas proximidades, a existência de muitos indivíduos com uma única

mutação patogênica no gene GJB2 sugere que a haplo-insuficiência nesse gene possa

interagir com outras mutações no mesmo gene, no gene GJB6 vizinho, ou até em

outros genes.

O objetivo desse estudo foi identificar novos alelos patogênicos, novas

proteínas e novos genes que interagem com o lócus DFNB1, do ponto de vista

molecular e celular, e que possam ser responsáveis por surdez de herança

autossômica recessiva. Desse modo, pretendemos contribuir para o esclarecimento

da patogênese da surdez de herança autossômica recessiva. Nesse trabalho, três

tipos de estudos foram realizados, com metodologias próprias.

Na primeira parte, buscamos identificar novos alelos patogênicos no lócus

DFNB1 que poderiam ser responsáveis por surdez quando presentes em

heterozigose composta com outros alelos patogênicos nos genes GJB2 e GJB6. Foi

realizada a análise do DNA de 16 pacientes surdos portadores de uma única

mutação patogênica em um desses dois genes por meio: (i) do sequenciamento das

regiões codificadora, promotora e doadora de splicing (intron 1) do gene GJB2, (ii) da

triagem de uma deleção de 200 kb localizada a 130 kb da proximidade distal da

região 5’ do gene GJB6 e (iii) da pesquisa de variações no número de cópias de um

ou mais exons dos genes GJB2, GJB6, GJB3 e WFS1 por MLPA (Multiplex Ligation-

dependent Probe Amplification). Detectamos uma segunda mutação provavelmente

patogênica em dois dos 16 pacientes heterozigotos: em um deles, a mutação p.L76P

(c.C227T) foi identificada na região de código do gene GJB2 e foi por nós descrita

5

pela primeira vez; no segundo caso, uma duplicação (0,4-1,2Kb) que inclui a região

de código do gene GJB2 foi detectada, também inédita na literatura.

Na segunda parte, tivemos como objetivo obter um modelo experimental

para estudos funcionais in vitro da proteína codificada pelo gene GJB2, a conexina

26, em seu local de expressão que são as células de suporte do órgão de Corti.

Padronizamos o cultivo in vitro de células progenitoras do órgão de Corti de

camundongos e de cobaias e conseguimos obter a diferenciação in vitro das

otoesferas dos camundongos em células que expressam marcadores de células

ciliadas (Miosina VIIa e Jagged2) e de células de suporte (p27kip e Jagged1).

Por fim, na terceira parte, buscamos por proteínas que interagem com a

conexina 26 por meio de ensaios de precipitação por afinidade. Para isso,

produzimos clones recombinantes de uma proteína de fusão GST-Cx26 e de uma

proteína controle (GST), e realizamos sua expressão in vitro em bactérias E.coli B21.

Ensaios de precipitação por afinidade entre a proteína de fusão GST-Cx26 ou GST

sozinha e proteínas extraídas de cérebro ou fígado de camundongos foram

realizados em diferentes condições. A identificação e a análise das proteínas

presentes em bandas de SDS-PAGE, obtidas no ensaio de precipitação com a

proteína de fusão GST-Cx26 e ausentes no ensaio com a GST, foi realizada por

espectrometria de massas. Identificamos um total de 49 proteínas candidatas a

interagirem com a região C-terminal da Cx26. Realizamos diversas análises in silico e

em literatura específica e após exclusão de candidatas por: (i) redundância de

representação no ensaio GST-Cx26, (ii) diferença entre a massa molecular esperada

e a obtida, (iii) precipitação inespecífica e (iv) localização subcelular incompatível

com a conexina 26, selecionamos um total de 22 proteínas candidatas a interagirem

com a região C-terminal da conexina 26, para estudos futuros. A confimação da

interação entre essas 22 proteínas e a conexina 26 é desejável por meio de estudos

de co-localização e imuno-coprecipitação.

6

ABSTRACT

The most frequent causes of nonsyndromic recessive hearing loss are

mutations in locus DFNB1, in the GJB2 and GJB6 genes. Among the individuals

with hearing loss with mutations in this locus, 10% to 50% present a single recessive

mutation in the GJB2 gene, frequency much higher than expected taking into

account the frequency of heterozygotes in the general population. Although some

of these cases have been elucidated after the identification of large deletions in GJB6

or its surrounding regions, the existence of many individuals with a single

pathogenic mutation in the GJB2 gene suggests that haplo-insufficiency of this gene

may interact with other types of mutations in the same gene, in the neighbor gene

GJB6, or even in other genes.

The aim of this study was to identify new pathogenic alleles, proteins and

genes that interact with the locus DFNB1, from the molecular and cellular

perspective, and that may be responsible for autosomal recessive deafness. Thus, we

aimed to contribute to the understanding of the pathogenesis of autosomal recessive

deafness. In this work, three different types of studies were performed, each one

with a particular methodology.

In the first part, we searched for new pathogenic alleles in the locus DFNB1

that could be responsible for deafness, when present in compound heterozygosis

with other pathogenic alleles in GJB2 and GJB6 genes. We performed DNA analysis

in samples from 16 deaf patients, carriers of a single pathogenic mutation in one of

these two genes by: (i) sequencing the coding, promoter and splice donor (intron 1)

regions of the GJB2 gene, (ii) screening for a deletion of 200 kb located 130 kb

upstream from GJB6 gene and (iii) investigating copy number variations in of one or

more exons of the genes GJB2, GJB6, GJB3 and WFS1 by MLPA (Multiplex

Ligation-dependent Probe Amplification). We detected a second mutation, probably

pathogenic, in two of the 16 heterozygous patients: in one case, the p.L76P

(c.C227T) mutation was identified in the coding region of the GJB2 gene and was

7

firstly described by us; in the second case, a novel duplication (0.4 - 1.2 Mb) that

includes the coding region of the GJB2 gene was detected.

In the second part, our objective was to obtain an experimental model for in

vitro functional studies of the protein encoded by the GJB2 gene, connexin 26, in its

site of expression, that is, in the supporting cells of the organ of Corti. We

standardized the culturing of guinea pigs and mice progenitor cells of organ of

Corti. We were also able to induce differentiation of mice’s otospheres into cells

that express markers of hair (myosin VIIa and Jagged2) and supporting cells (p27kip

and Jagged1).

Finally, we searched for connexin 26 interacting proteins by pull-down

assays. Recombinant clones expressing a fusion protein GST-Cx26 and a control

protein (GST) were produced, so that in vitro expression in E. coli B21 could be

performed. Pull-down experiments, perfomed with fusion protein GST-Cx26 or

GST alone, and with proteins from mice brain or liver extracts were done under

several different conditions. The identification and analysis of proteins present in

SDS-PAGE bands in experiments performed with the fusion protein GST-Cx26,

and absent in the GST assay, were performed by mass spectrometry. We identified a

total of 49 candidate proteins for interaction with the C-terminal region of Cx26. In

silico analyses performed in several databases and search in the literature allowed

exclusion of candidates by: (i) redundancy of representation in the GST-Cx26

experiments; (ii) discrepancy between the expected and the obtained molecular

weight; (iii) nonspecific precipitation and (iv) subcellular localization incompatible

with connexin 26 localization. Summing up, we selected a total of 22 candidate

proteins to interact with the C-terminal region of connexin 26. Confirmation of the

interaction between these proteins and connexin 26 is planned to be performed by

co-localization studies and by immuno-coprecipitation.

8

CAPÍTULO 1

9

CAPÍTULO 1 Revisão Bibliográfica

1.1. Introdução

Os termos “perda” ou “deficiência auditiva” são comumente utilizados para

se referir a qualquer déficit ou comprometimento auditivo. Já o termo “surdez”

implica em um comprometimento auditivo geralmente grave ou profundo (Smith e

col., 2011). A OMS (Organização Mundial da Saúde) considera a surdez leve como

capacitante e as demais incapacitantes (In: http://www.who.int/en/, 2011).

Utilizaremos neste trabalho, porém, os três termos como sinônimos, do mesmo

modo que esses termos têm sido tratados na maioria dos trabalhos de genética, pois

muitas vezes perdas auditivas com a mesma etiologia genética exibem gravidade de

manifestação muito variável.

Em países desenvolvidos, a taxa de perda auditiva congênita permanente

entre recém-nascidos varia de 1 a 3 por 1000 nascidos vivos (Nelson, Bougatsos e

Nygren, 2008). No Brasil, foi estimado que a cada mil nascimentos, cerca de quatro

crianças apresentam perda auditiva de grave a profunda, frequência maior que nos

países desenvolvidos, provavelmente devido a uma maior contribuição dos fatores

ambientais (Braga e col., 1999, Piatto e Maniglia, 2001). Segundo estimativa da

OMS, 10% das pessoas de qualquer população têm algum tipo de deficiência, sendo

que desses, 1,5% são portadores de deficiência auditiva. Resultados do Censo 2000

(IBGE - Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em uma

população de aproximadamente 170 milhões, mostraram que 14,5% da população

total (24,5 milhões de brasileiros) apresentam algum tipo de incapacidade. Dentre

estes, os portadores de deficiência auditiva representam 16,7%, sendo essa a terceira

deficiência mais frequente e acometendo 3,4% da população total (5,7 milhões de

brasileiros) (In: http://www.ibge.gov.br/2011).

A surdez é clinicamente muito heterogênea. Sua apresentação difere quanto à

idade de manifestação, gravidade e lado do acometimento. A perda auditiva de

10

origem sensorioneural é o tipo mais frequente e pode decorrer da disfunção do

epitélio sensorial do órgão de Corti, dos neurônios do gânglio espiral da orelha

interna, do nervo auditivo, das vias centrais no tronco encefálico ou encéfalo

(Raphael e Altschuler 2003; Atar e Avraham 2005). Ruído excessivo, infecções,

doenças auto-imunes, fármacos e a própria idade podem levar à degeneração de

células ciliadas do órgão de Corti, assim como mutações em diversos genes (Zippora

e col., 2006), o que leva à deficiência auditiva.

1.2. Fisiologia da audição

A audição é a capacidade de detectar e interpretar as vibrações mecânicas que

se propagam pelo ar ou pela água por meio de ondas, que são chamadas de som, e

que resultam de variações na pressão do ar. Ela depende de um sistema complexo e

altamente desenvolvido capaz de assimilar e responder aos mais diversos estímulos

ambientais. Viabiliza nossa interação com o meio, sendo responsável por uma das

mais importantes, únicas e complexas características da espécie humana, a

comunicação. Este sistema depende de estruturas sensoriais altamente

especializadas, com características similares a neurônios, capazes de converter a

onda sonora mecânica em estímulo elétrico, transmitindo-o aos circuitos neurais

centrais e interpretando-o do ponto de vista cognitivo como estímulo auditivo

específico (Smith e col., 2011).

A orelha humana é capaz de detectar variações na pressão do ar caso estas

estejam dentro da faixa de frequências entre 20Hz e 20kHz. Ela está dividida em

orelha externa, média e interna. A orelha externa coleta as ondas sonoras

provenientes de uma grande área, concentrando-as no tímpano, que constitui a

fronteira entre a orelha externa e a orelha média. A orelha média é a cavidade cheia

de ar no osso temporal na qual residem os ossículos martelo, bigorna e estribo.

Devido ao acoplamento mecânico do tímpano e dos ossículos, a energia de vibração

do tímpano em resposta às ondas sonoras é conduzida por eles até a orelha interna.

A orelha interna é a estrutura onde estão o vestíbulo, que capta os sinais de

aceleração e velocidade da cabeça no espaço contribuindo para o equilíbrio, e a

11

cóclea, que converte os estímulos sonoros em sinais nervosos ou elétricos que serão

interpretados gerando a percepção auditiva (Figura 1.1). A cóclea é um canal ósseo-

membranoso em forma de caracol, dividido em três dutos preenchidos por fluidos:

a escala vestibular, a escala timpânica e a escala média ou duto coclear (Figuras 1.1 e

1.2). A diferença de composição iônica entre a endolinfa, fluido que preenche o

compartimento central da cóclea onde está o órgão de Corti, e a perilinfa, fluido dos

outros dois compartimentos, gera o potencial endococlear, que é de fundamental

importância para a transdução do estímulo sonoro. A perilinfa é caracterizada por

uma alta concentração de Na+ e baixa concentração de K+, semelhante a outros

fluidos extracelulares. Já a endolinfa é um fluido com alta concentração de K+ e

baixa de Na+ ou seja, com composição iônica distinta da perilinfa e semelhante à do

citosol. A estria vascular, no duto coclear, tem fundamental importância no

potencial endococlear, pois ela participa da reciclagem de potássio no órgão de Corti

e secreta a endolinfa (Figura 1.2) (Junqueira & Carneiro, 1999).

1.2.1. O órgão de Corti

O órgão de Corti, situado sobre a membrana basilar, é constituído por células

de suporte não sensoriais e por células ciliadas sensoriais. A porção apical das células

ciliadas sensoriais contém projeções especializadas ricas em actina denominadas

estereocílios. Existem dois tipos de células ciliadas, as externas e as internas. As

externas ocorrem em maior número, cerca de três vezes maior que as internas. Os

dois grupos de células diferem tanto na forma quanto na função. Enquanto as

células ciliadas internas desempenham a função da transdução do som em sinais

nervosos, as externas, que apresentam tanto elementos sensoriais quanto motores,

contribuem para uma maior sensibilidade e discriminação das frequências por meio

da amplificação da recepção do som. A membrana tectória apresenta-se conectada

às células ciliadas externas por meio dos estereocílios mais longos e permanece em

estreita proximidade em relação aos estereocílios das células ciliadas internas (Figura

1.2) (Junqueira & Carneiro, 1999).

12

Figura 1.1. Esquema representando o aparelho auditivo humano: orelha externa (E), orelha média (M) e orelha interna (I). Figura modificada da página Promenade round the cochlea Home Page (Pujol e col., 2011).

Figura 1.2. Secção transversal de um dos giros da cóclea, mostrando sua divisão em três compartimentos longitudinais: as escalas vestibular, timpânica e média ou duto coclear. O circulo em vermelho delimita o órgão de Corti no duto coclear (Figura modificada da página http://ccrma.stanford.edu, 2011).

Quando o som é captado, os fluidos se movem pela escala média e fazem

vibrar a membrana basilar e a membrana tectória. As vibrações são o gatilho para a

deflexão dos estereocílios, permitindo o influxo de íons potássio por meio da

abertura de canais que irão despolarizar a membrana das células ciliadas internas.

Essa despolarização provoca a liberação de neurotransmissores que irão

13

desencadear o impulso nervoso e assim transmitir a informação ao cérebro via

nervo vestíbulo-coclear (oitavo par craniano) (Dror e Avraham, 2009).

1.2.1.1. Desenvolvimento, proliferação e diferenciação celular no órgão

de Corti

O desenvolvimento do órgão de Corti resulta na diferenciação de dois tipos

de células ciliadas (internas e externas) e quatro tipos de células de suporte (Deiters,

Hensen, Claudius e pilares). Alguns autores classificam as células de suporte em até

doze subtipos. Essa classificação esta baseada no posicionamento dessas células no

órgão de Corti. Para esse estudo, dada a sua proximidade com as células ciliadas,

iremos incluir apenas dois subtipos; borders e phalengeals (Figura 1.3) (Smeti e col.,

2011). Cada um destes tipos celulares possui morfologia distinta e contribui de

modo único para as complexas propriedades estruturais e funcionais do órgão de

Corti.

Figura 1.3. Esquema ampliado do órgão de Corti, mostrando as células ciliadas internas e externas e as células de suporte (os quatro tipos: Deiters, Hensen, Claudius e pilares e os dois subtipos: borders e phalangeals (Figura modificada de Rio e col., 2002).

Uma característica marcante das células ciliadas é que, durante o

desenvolvimento embrionário, elas entram em diferenciação terminal e são mantidas

ativamente em quiescência mitótica pelo aumento da expressão de inibidores da

progressão do ciclo celular (Baumgartner e Harper, 2003). Estas células

permanecem pós-mitóticas ao longo da vida e, em mamíferos, a perda de células

14

ciliadas auditivas é definitiva, representando uma das principais causas de surdez em

seres humanos (Chen e Segil, 1999).

Além das células ciliadas sensoriais, o órgão de Corti também contém células

não-sensoriais denominadas células de suporte. Essas células, como o próprio nome

diz, servem de apoio às células ciliadas. Em aves, peixes e anfíbios, após a morte das

células ciliadas, as células de suporte não-sensoriais recebem sinais moleculares que

desencadeiam proliferação e/ou transdiferenciação em células ciliadas imaturas. Há

posteriormente, reinervação dessas novas células ciliadas, ocorrendo a aferência

sensorial e consequentemente, a manutenção da função auditiva (Kelley, 2006).

Durante o desenvolvimento da orelha interna, o primórdio sensorial e as

células que darão origem ao órgão de Corti saem do ciclo celular (mitose) em uma

onda relativamente sincrônica, tornando-se pós-mitóticas e constituindo a zona de

células não proliferantes (ZNPC, zone of nonproliferating cells), localizada na parede

dorsal do duto coclear do embrião. A mitose terminal coincide temporalmente com

a formação da ZNPC e se propaga mediada pelo aumento progressivo do gradiente

de expressão do p27Kip1, um inibidor de cinase dependente de ciclina (CKI, cyclin

dependent kinase inhibitors). Portanto, o p27Kip1 é um marcador molecular do órgão de

Corti rudimentar, o que permite sua identificação antes de qualquer outra alteração

bioquímica ou molecular e sinaliza precocemente a região do otocisto que dará

origem ao órgão sensorial maduro (Kelley, 2006).

Estudos de expressão gênica usando cócleas de camundongos evidenciaram

que inúmeros genes reguladores negativos da proliferação celular, além do p27kip1,

sofrem aumento de sua expressão nos estágios mais tardios do desenvolvimento

embrionário. Esses incluem outros CIK, como p19ink4d, p21 e genes supressores

tumorais, membros da família das pocket protein, como por exemplo o produto do

gene de suscetibilidade ao retinoblastoma (pRb, product of the retinoblastoma susceptibility

gene) (Kelley, 2006). Esse aumento de expressão coincide com a saída do ciclo celular,

o estabelecimento e a manutenção do estado de quiescência do epitélio sensorial

coclear (Figura 1.4) (Chen, 2003 e 2006).

15

É na ZNPC que o padrão de diferenciação celular dará origem ao mosaico

de células ciliadas e de suporte do órgão de Corti (Chen, 2003). Os sinais

moleculares indutores do aumento da expressão do p27Kip1 nas células progenitoras,

que darão origem tanto às células ciliadas quanto às células de suporte, ainda não

são bem conhecidos. A expressão do pRb inicia-se após a formação da ZNPC e

coincide com a onda de diferenciação celular, seguindo gradiente que se propaga da

base para o ápice da cóclea (Kelley, 2006). Na ZNPC, a determinação do fenótipo

celular ocorre após a saída das células-tronco sensoriais do ciclo celular de

proliferação. A diferenciação em células ciliadas é determinada por influência do

fator de transcrição do tipo hélice-alça-hélice básico (bHLH, basic helix-loop-helix),

também conhecido como Atoh-1 ou Math-1. O fenótipo de células de suporte é

sinalizado pela via do fator denominado Notch (Figura 1.4) (Chen, 2006).

À medida que a diferenciação progride no órgão de Corti, as expressões do

p27Kip1 e do pRb se tornam segregadas, pois o pRb passa a ser expresso apenas nas

células ciliadas e o p27Kip1 fica restrito às células de suporte. Esta segregação resulta

da queda na expressão do p27Kip1 nas células progenitoras, que darão origem às

células ciliadas e coincide com o aumento da expressão da miosina VIIa, marcador

molecular precoce e exclusivo destas células, sinalizando o início do gradiente de

diferenciação e um padrão de expressão mutuamente excludente desses dois

marcadores (Chen 2003, Kelley, 2006). O CIK que mantém a quiescência das células

ciliadas após a diferenciação é o p19Ink4d (Chen e col., 2003). Por outro lado, o

p27Kip1 continua a ser expresso nas células progenitoras que darão origem às células

de suporte, o que determina o fenótipo destas no órgão de Corti maduro, além de

manter sua quiescência após diferenciação (Baumgartner e Harper, 2003).

Apesar do Atho1/Math-1 ser fundamental na determinação do número e na

disposição das células ciliadas internas e externas na cóclea de mamíferos, os fatores

que regulam sua expressão espacial e temporal ainda são desconhecidos. Outros

fatores de transcrição bHLH podem influenciar a determinação do fenótipo celular,

agindo como reguladores negativos.

16

À medida que o desenvolvimento progride, ocorre inibição da expressão de

ID (ID - inhibitors of differentiation and DNA binding) nas células progenitoras que irão

se diferenciar em células ciliadas, o que permite a atividade do Math-1 nestas células.

Naquelas em que a expressão do ID é mantida, a atividade do Math-1 é inibida,

assim como o surgimento de células ciliadas também é inibido e surgem assim as

células de suporte. Isto sugere um papel indireto dos ID na regulação da expressão

do Math-1 e no fenótipo das células ciliadas (Kelley, 2006).

Figura 1.4. Diferenciação das células progenitoras em células ciliadas e de suporte. Na orelha interna de camundongos, as células progenitoras que passam a expressar p27kip1 podem diferenciar-se em células ciliadas ou de suporte, dependendo se ocorrer expressão de pRb ou p27kip1. A expressão do Math-1 determina o desenvolvimento das células ciliadas e é controlado pela expressão da proteína ID, cuja presença determina o desenvolvimento das células de suporte. Genes expressos na via Notch contribuem também ao fenótipo de células de suporte: os ligantes de Notch, Jag2 e Delta1 (Dlt1) ativam Notch, que aumenta os níveis de transcrição dos genes Hes1 e Hes5 (Figura modificada de Kelley, 2006).

As células ciliadas em diferenciação geram sinais inibitórios laterais, por meio

da expressão de dois ligantes de Notch, Jagged2 e Delta1, que ativam Notch1 e

aumentam a transcrição de dois genes alvos de Notch, Hes1 e Hes5, nas células

vizinhas que irão se desenvolver como células de suporte (Figura 1.4). A expressão

simultânea de ID, com Hes1 ou Hes5, nas células progenitoras inibe a transcrição do

Math-1 e induz o fenótipo de células de suporte. Portanto, a diferenciação das

células de suporte é dependente de sinais indutores gerados pelas células ciliadas

17

adjacentes (Jones e col., 2006). Hes1 passa a ser expresso durante o período de

diferenciação das células ciliadas, sua expressão se eleva ao nascimento e se mantém

na vida adulta, em regiões adjacentes a estas células (Zheng e col., 2000).

1.2.1.2. A regeneração das células ciliadas como indicativo da presença

de células-tronco na orelha interna

A maioria das perdas auditivas sensorioneurais, adquiridas ou congênitas,

decorre da perda irreversível das células ciliadas cocleares ou de seus neurônios. Até

pouco tempo acreditava-se que os vertebrados nasciam com um estoque limitado de

células ciliadas, e, por isto, sua lesão era sempre permanente. Este conceito sofreu

uma reviravolta na década de 1980, com a descoberta de que a maioria dos

vertebrados, incluindo aves, peixes e anfíbios, é capaz de regenerar as células ciliadas

do órgão de Corti e do vestíbulo, tanto após lesão celular ou como parte do

processo fisiológico de crescimento e manutenção tecidual. Nestas espécies, a lesão

das células ciliadas não é definitiva, e sim seguida por reparo espontâneo e funcional.

Esse fato é oposto ao observado usualmente em mamíferos, incluindo a espécie

humana (Corwin e Cotanche, 1988; Ryals e Rubel, 1988). No entanto, já foi

demonstrado que a regeneração das células ciliadas em resposta a ototoxicidade

induzida por aminoglicosídeos ocorre no epitélio sensorial vestibular de mamíferos

adultos (cobaias e camundongos), embora de forma muito menos impressionante

do que a vista em aves (Forge e col., 1993; Warchol e col., 1993).

Estudos preliminares em aves têm demonstrado que a regeneração das

células ciliadas ocorre por meio da re-entrada das células de suporte adjacentes no

ciclo celular e subsequente divisão assimétrica, gerando novas células ciliadas e

novas células de suporte. Essa regeneração parece ocorrer também pela conversão

fenotípica, também conhecida como transdiferenciação, na qual células de suporte

são convertidas em células ciliadas sem que haja mitose (Walchol e Corwin, 1996;

Roberson e col., 2004; Brigande e Heller, 2009). Ao que parece, as células de

suporte ou, pelo menos, uma subpopulação de células de suporte atuam, na verdade,

18

como células-tronco específicas do órgão de Corti, atuando como precursoras para

as células ciliadas (Edge e Chen, 2008; Groves, 2010).

A existência de outros sistemas sensoriais no corpo humano com capacidade

regenerativa e contendo população de células-tronco adultas quiescentes, capazes de

reparo após lesão aguda, como por exemplo, o neuroepitélio olfativo, somado ao

fato de que a divisão assimétrica das células de suporte para gerar novas células

ciliadas e cópias idênticas de si mesma é uma das características que definem as

células-tronco em geral, levou os pesquisadores a testarem o próprio órgão de Corti

da orelha interna como fonte de células precursoras (progenitoras e/ou células-

tronco) tanto para reparo biológico como para estudos relacionados à fisiologia

auditiva (Leung e col., 2007).

Em estudos relativamente recentes foi possível isolar e demonstrar a

presença de células-tronco na cóclea (órgão de Corti, gânglio em espiral e estria

vascular) de camundongos neonatos e no vestíbulo de camundongos adultos.

Nesses estudos, foi demonstrado que essas células são pluripotentes e com

capacidade de originar in vitro e in vivo diferentes tipos celulares, sendo que no caso

do vestíbulo estão incluídas células das linhagens ectodérmica, mesodérmica e

endodérmica (Li e col., 2003, Senn e col., 2007, Oshima e col., 2007). No entanto, as

células-tronco da cóclea estão presentes somente até a terceira semana de vida

enquanto que as do vestíbulo persistem no camundongo adulto (Li e col., 2003,

Senn e col., 2007, Oshima e col., 2007). Em humanos, a presença de células

progenitoras neurais já foi demonstrada no gânglio espiral de onde emerge o nervo

vestíbulo-coclear. Entretanto, ainda faltam evidências da existência de células-tronco

na cóclea humana (Rask-Andersen e col., 2005).

O cultivo em suspensão de células dissociadas do órgão de Corti em

condições não aderentes leva à formação de colônias de células flutuantes,

denominadas “otoesferas”, que, quando dissociadas, são capazes de se auto-renovar,

proliferar e expressar marcadores prováveis de células progenitoras como nestina,

Sox2 (células progenitoras) e Abcg2, considerado um marcador universal de células-

tronco. Além disso, as células provenientes dessas otoesferas são capazes de se

19

diferenciar in vitro em células que expressam marcadores para células ciliadas, células

de suporte e neurônios (Li e col., 2003; Zhai e col., 2005; White e col., 2006;

Oshima e col., 2007; Savary e col., 2007; Senn e col., 2007; Zhang e col., 2007;

Savary e col., 2008).

Dada a extrema relevância do tema, diversos estudos têm sido realizados

com o objetivo de descobrir quais os principais mecanismos reguladores do reparo

das células da audição e porque este fenômeno é diferente em mamíferos quando se

compara aos outros vertebrados. Entre os fatores aparentemente responsáveis,

destacam-se o grau de desenvolvimento do sistema responsável pela audição e os

fatores relacionados ao número de células-tronco e a sua capacidade de proliferação

(Li e col., 2003, Oshima e col, 2007).

1.3. Surdez de etiologia genética

O sistema auditivo é complexo e especializado e requer interação entre a

função de diversos genes e proteínas para funcionar normalmente. Existem

evidências da ação de mecanismos gênicos em cascata no desenvolvimento do

sistema auditivo humano. O estudo da surdez genética tem auxiliado a compreensão

de como a orelha interna funciona em nível molecular, mostrando que muitos genes

codificam para bombas ou canais iônicos, fatores de transcrição, componentes da

matriz extracelular, componentes do citoesqueleto celular, moléculas

transportadoras (por exemplo, proteínas essenciais para o tráfego de vesículas

sinápticas), moléculas sinalizadoras, receptores, reguladores da proliferação celular,

enzimas ou junções do tipo fenda para comunicação intercelular (Eisena e Ryugoa,

2007).

Além do enorme número de genes relacionados com a surdez, outros fatores

contribuem para aumentar a complexidade da genética da audição: em um mesmo

gene, podem existir mutações que estão associadas a diferentes padrões de herança.

Por exemplo, mutações nos genes GJB2, GJB6, MYO7A, TECTA e TMC1 podem

ter efeito dominante ou recessivo. Estudos moleculares também têm demonstrado

que diferentes mutações no mesmo gene podem causar surdez sindrômica ou não-

20

sindrômica, como é o caso dos genes SLC26A4, USH1C e WFS1 (Smith e col.,

2010). Dessa maneira, fica evidente a grande heterogeneidade genética da surdez.

Além disso, a surdez também pode resultar de mecanismo multifatorial, ou

seja, resultar da interação de vários fatores genéticos e ambientais. Um exemplo é a

presbiacusia, que se caracteriza pela diminuição da capacidade auditiva relacionada

ao envelhecimento. Até o momento, poucos genes foram associados a esse tipo de

surdez. Não se sabe ao certo se genes relacionados a formas monogênicas de surdez

também podem estar associados à surdez de mecanismo multifatorial (Hilgert e col.,

2009).

No Brasil, foi estimado, na década de 1990, que as causas hereditárias

contribuem com cerca de 16% dos casos de deficiência auditiva (Braga e col., 1999).

1.4. Surdez não-sindrômica

Apesar de existirem mais de 400 doenças ou síndromes que incluem a surdez

como um de seus sinais clínicos, 70% dos casos de surdez hereditária são não-

sindrômicos (Keats e Berlin, 1999). Algumas das principais síndromes que

apresentam surdez como um de seus sinais mais característicos são: Waardenburg

(com defeitos de pigmentação e telecanto), Treacher Collins (com anormalidades

craniofaciais), Usher (com retinose pigmentar), Pendred (com bócio) e Alport (com

defeitos renais).

Dentre os casos de surdez não-sindrômica, o padrão de herança autossômico

recessivo é o mais frequentemente encontrado (75-80% dos casos genéticos), sendo

seguido pelos casos de herança autossômica dominante (20%) e apenas 1 a 1,5%

com herança ligada ao cromossomo X. As mutações mitocondriais contribuem em

pelo menos 1% dos casos de surdez não sindrômica (Smith e col., 2011) e

alcançaram 2% em um estudo realizado na população brasileira (Abreu-Silva e col.,

2006).

Os diferentes loci ou regiões candidatas a conterem um ou mais genes

responsáveis por surdez não-sindrômica são designados DFN (do inglês DeaFNess)

21

e numerados seguindo a ordem de descoberta. Os loci que supostamente contêm

genes de surdez de herança autossômica recessiva são denominados DFNB, aqueles

com padrão autossômico dominante de DFNA e os loci que estão no cromossomo

X são designados DFNX. Segundo Van Camp e Smith (2011), até o momento, 61

loci de surdez não-sindrômica de herança autossômica recessiva foram mapeados

com a identificação de 36 genes; 49 loci foram mapeados com 24 genes

identificados para a herança autossômica dominante e, para a herança ligada ao X,

cinco loci foram mapeados com a identificação de três genes. Adicionalmente, dois

loci identificados como genes modificadores e um lócus no cromossomo Y também

já foram mapeados. Em relação à herança mitocondrial, dois principais genes foram

identificados e muitas mutações diferentes nesses genes foram relacionadas à surdez

hereditária não-sindrômica.

1.5. Surdez não-sindrômica de herança autossômica recessiva

e o lócus DFNB1

Cerca de 80% dos casos de surdez não-sindrômica apresentam herança

autossômica recessiva. As perdas auditivas com esse padrão de herança geralmente

são sensorioneurais, de manifestação pré-lingual, de graves a profundas,

estacionárias e geralmente atingem todas as frequências (Keats e Berlin, 1999).

Apesar do grande número de loci mapeados, o DFNB1 (13q11-12), que

contém o gene da conexina 26 (Cx26, gene GJB2), é o mais importante, já que mais

de 50% dos casos de surdez não-sindrômica autossômica recessiva são devidos às

mutações nesse gene. Mais de 100 mutações diferentes já foram descritas na região

codificadora do gene GJB2, sendo a c.35delG a mutação predominante, presente em

até 75% dos casos (Denoyelle e col., 1997; Sundstrom e col., 1999; Connexin deafness

homepage: http://davinci.crg.es/deafness/, 2011). A c.35delG se caracteriza pela

deleção de uma base guanina (G) em uma sequência de seis guaninas, que resulta em

mutação de quadro de leitura e possivelmente leva à tradução de uma proteína

truncada com apenas treze aminoácidos.

22

A frequência de heterozigotos com a mutação c.35delG na população

brasileira foi estimada em 1% (Sartorato e col., 2000); todavia essa frequência pode

atingir até 3,5% em algumas populações de origem mediterrânea, como a população

grega (Gasparini e col., 2000).

A alta frequência da mutação c.35delG na população e a variabilidade do

quadro clínico a ela associado tornam mandatória sua triagem em todos os

indivíduos com deficiência auditiva sensorioneural de causa desconhecida. Essa

indicação é válida tanto para os casos isolados como para os familiais, ainda que o

padrão de herança aparente não seja o recessivo. Várias mutações detectadas no

gene GJB2 da conexina 26 parecem ser características de certos grupos

populacionais, como a c.35delG, comumentemente encontrada na população

caucasiana, principalmente da Europa e dos EUA, a c.167delT nos judeus askhenazi,

a c.235delC nos asiáticos e a c.T427C (p.R143W) nos africanos (Lerer e col., 2000;

Abe e col., 2000; Brobby e col., 1998).

O gene GJB2 é um gene pequeno, possui dois exons, mas o exon 1 não é

codificador. Apresenta uma região promotora altamente conservada entre as

diferentes espécies (Figura 1.5A) (Kiang e col., 1997). A conexina 26, proteína

codificada por esse gene, possui 226 aminoácidos e massa molecular aproximada de

26kDa. A maioria dos alelos mutados até agora descritos no gene GJB2 se

comportam como recessivos e acarretam surdez pré-lingual (Kenneson e col., 2002).

No entanto, algumas mutações no gene da conexina 26 têm sido descritas causando

surdez de herança dominante, caracterizando o lócus DFNA3.

Dentre os indivíduos com deficiência auditiva associada ao lócus DFNB1,

10% a 50% apresentam uma única mutação recessiva no gene GJB2, frequência esta

muito superior à esperada em função da frequência de heterozigotos na população

geral. O alto número de surdos portadores da mutação c.35delG (ou de outra

mutação patogênica) em heterozigose (sem a segunda mutação detectada) sugere

que a heterozigose no gene GJB2 possa interagir com outras mutações no mesmo

gene ou em outros genes, resultando em surdez. Diversos estudos têm sido

realizados com o objetivo de identificar uma segunda mutação patogênica nesse

23

gene ou em um gene diferente, que em associação à mutação no gene GJB2 levaria à

perda auditiva.

O gene vizinho ao GJB2 é o GJB6, que codifica a conexina 30, uma proteína

com 261 aminoácidos e massa molecular aproximada de 30Kda. Os genes GJB2 e

GJB6 estão na mesma região cromossômica, 13q11-12, a cerca de 35 kb um do

outro e expressam proteínas com 77% de identidade de sequência de aminoácidos

entre elas (Pallares-Ruiz e col., 2002).

Figura 1.5. Representação esquemática dos genes GJB2 e GJB6. Em A) representação do gene GJB2 (Genbank BC017048). Na figura podemos observar os dois exons, a região 5’ UTR que inclui o exon 1, a região codificadora, o intron 1 e a região 3’ UTR. Em B), representação esquemática do gene GJB6 (Genbank BC038934). Na figura podemos observar a região 5’UTR que contém os dois exons não codificantes, a região codificadora e a região 3’UTR.

O gene GJB6 apresenta uma organização mais complexa, com 6 exons,

sendo apenas o último exon codificador. Esse gene apresenta diferentes transcritos

com diferentes números de exons incluídos. A inclusão dos outros 5 exons não

codificadores irá depender do tipo de transcrito (Essenfelder e col., 2005). De

acordo os bancos de dados (Genbank e Ensembl), o transcrito de maior prevalência

do gene GJB6, nos diferentes tecidos incluindo a orelha interna, tem 3 exons, sendo

o último exon codificador (Figura 1.5.B). Ao contrário do gene GJB2, até o

24

momento, nenhuma mutação de ponto no gene GJB6 foi associada à surdez

recessiva não-sindrômica, apenas a formas de surdez sindrômica (In: Connexin

deafness homepage; OMIM 604418).

Em um estudo realizado com 33 indivíduos surdos previamente

caracterizados como portadores de uma única mutação patogênica no gene GJB2,

del Castillo e col. (2002) identificaram em 22 deles uma deleção de 309Kb no gene

GJB6, a 5’ do gene GJB2. Esta deleção, denominada del(GJB6-D13S1830), revelou-

se, depois da mutação c.35delG, como a mutação mais frequente entre afetados por

surdez pré-lingual na população espanhola. Posteriormente, del Castillo e col. (2005)

caracterizaram outra grande deleção de 232kb no gene GJB6 que foi nomeada

del(GJB6-D13S1854). Foi verificado que essas deleções removem todo ou parte do

gene GJB6 e acarretam surdez quando presentes em homozigose ou em

heterozigose composta com uma mutação recessiva no gene GJB2 (del Castillo e

col., 2002; del Castillo e col., 2005). Existe ainda um caso descrito de um paciente

com surdez portador de uma mutação no gene GJB2 (p.V84M) e de uma deleção de

pelo menos 920 kb que remove os genes GJB2 e GJB6 no cromossomo homólogo

(Feldmann e col., 2009). Mais recentemente, Wilch e col. (2010) descreveram uma

nova deleção no lócus DFNB1 que evidencia a existência de uma região regulatória

que controla a expressão dos genes GJB2 e GJB6. Essa deleção de 131,4 kb, cujo

ponto de quebra proximal dista mais de 100kb de GJB2 e GJB6, foi encontrada em

quatro indivíduos não aparentados heterozigotos com a mutação c.35delG e que

apresentavam níveis reduzidos de expressão do RNAm em ambos os alelos. Outra

deleção com tamanho estimado em 200kb em DFNB1, que não inclui as regiões de

código dos genes GJB2 e GJB6, foi encontrada em indivíduos heterozigotos com a

mutação c.35delG em GJB2, sugerindo que essa deleção deve eliminar um elemento

regulatório essencial à expressão de GJB2 na orelha interna (Del Castillo e col.,

2009). Na figura 1.6, está a representação esquemática das cinco deleções

identificadas no lócus DFNB1, responsáveis por surdez recessiva não-sindrômica

descritas na literatura até o momento.

25

Figura 1.6. Representação esquemática da região do lócus DFNB1, 13q12-11, onde estão

presentes os genes GJB2 e GJB6 e das deleções descritas nessa região e associadas a surdez não-sindrômica de herança autossômica recessiva. Sendo (1) del(GJB6-D13S1830), (2) del(GJB6-D13S1854), (3) deleção de 131,4 kb descrita por Wilch e col. (2010), (4) deleção de 200 kb descrita por del Castillo e col. (2009) e (5) deleção de >920kb descrita por Feldman e col. (2009). As extensões das deleções estão identificadas pelas barras horizontais em vermelho. A barra horizontal verde indica a região em comum as cinco deleções (Figura modificada de Feldmann e col., 2009).

Esses resultados mostram que o DFNB1 é um lócus complexo, já que

contêm dois genes, o GJB2 e o GJB6, ambos associados à deficiência auditiva. A

presença de duas mutações em genes diferentes leva à evidência de que a surdez

nesses indivíduos pode estar associada a uma mutação em um segmento regulatório

ou em uma região de controle de lócus regulando a co-expressão desses dois genes,

GJB2 e GJB6 (Common e col., 2005; Wilch e col., 2006 e 2010).

A pesquisa por mutações em outras regiões do gene GJB2, GJB6 ou fora da

sua região de código levou à identificação de duas mutações diferentes associadas à

surdez não-sindrômica de herança autossômica recessiva, a mutação IVS 1 +

1G>A, localizada no primeiro intron do gene GJB2, entre o exon 1 não codificador

e o exon 2, no sítio doador de splicing e a mutação -3438C>T na região promotora

do gene GJB2 (Denoyelle e col., 1999; Mattos e col, 2007).

26

1.6. As proteínas conexinas

1.6.1. Expressão e estrutura das conexinas

No genoma humano estão presentes os genes para 20 tipos de conexinas

diferentes e 21 tipos diferentes ocorrem no genoma dos camundongos

(Krutovskikh e Yamasaki, 2000; Marziano e col., 2003). O mesmo tipo de conexina

pode ser expresso em diferentes tipos celulares e um mesmo tipo celular pode

expressar conexinas diferentes (Tabela 1.1). Diversos estudos evidenciaram a

presença das proteínas Cx26 (gene GJB2) e Cx30 (gene GJB6) na orelha interna,

mais especificamente na cóclea (Kelsell e col., 1997; Grifa e col., 1999, Lautermann

e col., 1999). Na cóclea, as conexinas 26 e 30 se co-localizam nas células de suporte

do órgão de Corti, na região basal da estria vascular e nos fibrócitos do tipo 1 do

ligamento em espiral, sendo que nenhuma outra conexina foi detectada nesses tipos

celulares (Forge e col., 2003).

Além das conexinas 26 (gene GJB2) e 30 (gene GJB6), outras conexinas que

também são expressas na cóclea são as conexinas 31 (gene GJB3) e a conexina 43

(gene GJA1). Entretanto, somente os genes correspondentes às conexinas 26, 30 e

31 estão associados à surdez de herança autossômica recessiva e/ou dominante

(Van Camp e Smith, 2011).

As proteínas conexinas são divididas em três subfamílias α, β e γ, de acordo

com a similaridade da sequência de seus aminoácidos, sendo nomeadas pela sigla

“Cx”, seguida de sua massa molecular em kilodaltons (kDa), como por exemplo,

Cx26 e Cx30.

Todas as conexinas possuem uma estrutura em comum: quatro domínios

transmembrânicos ligados entre si por duas alças extracelulares e uma alça

citoplasmática, com os grupos amino (N-terminal) e carbóxi-terminais (C-terminal)

também citoplasmáticos. Variações nas sequências entre as diferentes proteínas

conexinas ocorrem principalmente no grupo carbóxi-terminal e na alça

citoplasmática, sendo os domínios transmembrânicos e as alças extracelulares

altamente conservados (Figura 1.7) (Bruzzone e col., 1996; Liu e col. 2000).

27

Tabela 1.1. Distribuição tecidual das conexinas (RNAm) em humanos (Cx hs) e camundongos (Cx mus) . (Modificado de Rackauskas, 2010)

Cx hs Cx mus Local de expressão

Cx23 Cx23 -

Cx25 -

Cx26 Cx26 cóclea, pele, glândula mamária, glândula salivar, fígado, útero, testículo, células da glia, pâncreas, pulmão, estômago, tireóide,

paratireóide, cérebro

Cx30 Cx30 cóclea, pele, cérebro, pulmão, útero, cristalino

Cx31.3 Cx29 oligodentrócitos, músculo esquelético, fígado, pâncreas, rins

Cx30.3 Cx30.3 pele, rins, blastócito

Cx31 Cx31 pele, cóclea, epitélio das vias aéreas, placenta, blastócito, rins, testículos, olhos

Cx31.1 Cx31.1 pele, testículos

Cx31.9 Cx30.2 coração e cérebro

Cx32 Cx32 Fígado, pele, células de Schwann, rins, baço, oligodentrócitos, pulmão, cérebro, glândula mamária, pâncreas, glândula salivar, testículos

Cx33 testículos

Cx36 Cx36 retina, pâncreas, cérebro

Cx37 Cx37 rins, pulmão, pele, endotélio, células musculares cardíacas, ovários,

Cx40 Cx40 endotélio, blastócitos, ovários, útero, pulmão, coração, fibras de Purkinje

Cx40.1 Cx39 -

Cx43 Cx43 34 tecidos e 86 tipos celulares (Laird, 2006)

Cx45 Cx45 células musculares cardíacas, blastócitos, pulmão, pele, coração, cérebro

Cx46 Cx46 pulmão, cristalino, células musculares cardíacas, células de Schwann

Cx47 Cx47 cérebro, oligodentrócitos

Cx50 Cx50 cristalino e células epiteliais da córnea

Cx59 -

Cx62 Cx57 retina, oócitos de camundongos

As conexinas são proteínas integrantes da membrana plasmática que se

hexamerizam para formar canais chamados conexons. Cada conexon pode conter

28

um único tipo de conexina se for homomérico, ou vários tipos de conexinas, se for

heteromérico. A união de dois conexons idênticos, um de cada célula, forma um

canal de junção celular homotípico. Um canal de junção celular heterotípico é

formado por conexons diferentes (Figura 1.7) (Spray e col., 2006). Cada conexon de

uma célula se alinha no espaço extracelular ao da célula adjacente, formando um

canal de junção do tipo fenda (gap junction). Esta é uma região especializada da

membrana plasmática de duas células vizinhas que as aproximam, sem se fundirem,

delimitando um espaço entre as membranas ou um intevalo, “gap”, de 2 - 3 nm. As

junções do tipo fenda são responsáveis pela regulação da passagem de íons

orgânicos e pequenas moléculas entre células epiteliais, o que facilita o fluxo de

sinais intercelulares específicos e consequentemente a cooperação metabólica entre

as células vizinhas de um mesmo tecido (Figura 1.7). Os diferentes tipos de

conexinas que irão formar o canal de junção comunicante proporcionam

características de permeabilidade únicas, o que é refletido nos tipos de metabólitos e

na sinalização celular que fluem através dele, assim como nas propriedades de

abertura e fechamento desses canais (gating) (Cottrell e Burt, 2005).

1.6.2. Funções das conexinas

Muito do que conhecemos sobre as conexinas na homeostasia dos diferentes

órgãos foi revelado por estudos de mutações em genes para as conexinas humanas

causando perda de função em uma variedade de doenças genéticas. Esse tipo de

estudo para o gene GJB2 nas diferentes formas de surdez tem associado à Cx26 a

vários aspectos da transmissão do som (Rabionet e col., 2000; Bruzzone e col, 2003).

Recentemente, por meio de análises de cristalografia da estrutura da Cx26, dois

trabalhos diferentes demonstraram pela primeira vez que os resíduos de

aminoácidos mais cruciais ao desenvolvimento da surdez hereditária sindrômica e

não-sindrômica estão localizados em regiões envolvidas em interações intra ou

intermoleculares ou em sítios de modificações pós-traducionais (Locke e col., 2009 e

Maeda e col., 2009).

29

Figura 1.7. Representação esquemática da estrutura das conexinas, dos conexons e dos canais de junção do tipo fenda. Em A) temos a representação da estrutura da conexina com seus quatro domínios transmembrânicos, duas alças extracelulares, uma alça citoplasmática, um domínio N-terminal e um C-terminal. Em B) organização dos conexons pela hexamerização das conexinas, que podem ser homoméricos quando formado pelo mesmo tipo de conexina ou heteroméricos se formado por conexinas diferentes. E em C) organização do canais de junção do tipo fenda, que quando for formado por dois conexons idênticos é chamado homotípico e quando for formado por dois conexons diferentes é heterotípico (Figura modificada das páginas http://www.nature.com, 2011 e http://commons.wikimedia.org , 2011).

Uma das funções dos canais de junção do tipo fenda na cóclea é regular o

transporte dos íons, principalmente os íons potássio na endolinfa. Os canais de

30

junção do tipo fenda fornecem um sistema único de separação, transferência e

reciclagem dos íons, sendo responsáveis pela manutenção dos altos níveis de

potássio na endolinfa, e, por conseguinte, do seu potencial endococlear, necessário

para a transdução de impulsos sonoros em impulsos elétricos. Hipóteses mais

antigas que relacionam as mutações do gene GJB2 às disfunções do seu produto, a

Cx26, incluem a perda de capacidade de formação dos conexons, com interrupção

da reciclagem do potássio nas células ciliadas e sua concentração elevada na

endolinfa dos dutos cocleares, o que resultaria na intoxicação do órgão de Corti pelo

potássio e consequente morte celular e perda da audição (Figura 1.8) (Lefebvre e

Van de Water, 2000; Rabionet e col., 2000; Bruzzone e col, 2003). No entanto,

algumas mutações na Cx26 que causam surdez em humanos (p.V84L, p.V95M e

p.A88S) alteram apenas a permeabilidade a moléculas grandes in vitro, como IP3

(inositol trifosfato), mas mantêm a permeabilidade iônica normal do potássio nos

canais de junção do tipo fenda (Beltramello e col., 2005; Zhang e col., 2005). Além

disso, trabalhos com camundongos nocautes nulos e condicionais para o gene da

Cx26 têm demonstrado que a surdez nesses animais ocorre antes do

estabelecimento do potencial endococlear e que outras estruturas como o túnel de

Corti (Figuras 1.2., 1.3. e 1.8), já estariam comprometidas mesmo antes do início da

morte das células de suporte e células ciliadas (Cohen-Salmon e col., 2002; Kudo e

col., 2003; Sun e col., 2009; Wang e col., 2009). Esses trabalhos sugerem que a Cx26

possa ter outras funções no órgão de Corti, além da reciclagem dos íons potássio.

De qualquer modo, apesar da teoria da reciclagem dos íons potássio ser a mais

aceita entre os pesquisadores como causa de surdez, o papel exato dos canais de

junção do tipo fenda na reciclagem dos íons potássio e na geração do potencial

endococlear ainda não foi demonstrado diretamente.

1.6.3. Biossíntese das conexinas

Assim como a maioria das proteínas de membrana, as conexinas são

sintetizadas pela via clássica das proteínas secretoras. Desse modo, as conexinas são

sintetizadas no retículo endoplasmático rugoso (RER) e transportadas à membrana

plasmática por meio do complexo de Golgi e vesículas secretoras. Durante sua

31

tradução, as cadeias polipeptídicas das conexinas em alongamento adquirem sua

estrutura secundária e são integradas as membranas do RE co-traducionalmente,

onde adotam sua topologia final. Algumas conexinas, no entanto, passam pelo

compartimento intermediário e atingem sua topologia final na porção distal no

complexo de Golgi (Laird, 2005, 2006 e 2009).

Figura 1.8. Representação esquemática da reciclagem dos íons potássio na cóclea. O movimento da membrana basilar promove a abertura dos canais de junção do tipo fenda. Os íons de potássio saem das células ciliadas em direção ao espaço extracelular no interior do órgão de Corti, circulando pelas células de suporte e da estria vascular, para serem liberados nos espaços onde estejam com seus níveis diminuídos (Figura modificada da página http://www.ncbi.nlm.nih.gov, 2011).

Segundo Koval (2006), as conexinas não devem seguir a via clássica de

oligomerização das proteínas integrantes ao formarem os hexâmeros e o local de

oligomerização das conexinas em conexons não é precisamente definido. Embora,

aparentemente, seja no complexo de Golgi que a maioria das conexinas se

oligomerizem para formar os conexons, alguns estudos têm revelado, sobretudo

para as Cx26 e Cx32, que esse processo pode ser realizado no interior do RE (Falk e

col., 1997; Falk e Gilula, 1998; Laird, 2005).

32

Como os conexons alcançam à membrana plasmática e como eles se

reagrupam para formar as placas juncionais ainda não está totalmente esclarecido.

Acredita-se que os conexons sejam inseridos na membrana plasmática, onde

permanecem como hemicanais, por meio de vesículas transportadoras ou através de

extensões tubulares e reencontram ao acaso os conexons das células vizinhas,

formando as junções do tipo fenda, para então se deslocarem até o local da placa

juncional por meio de movimentos laterais da bicamada lipídica da membrana

(Koval 2006; Laird, 2006 e 2009). Moléculas de adesão, como as caderinas E e N,

poderiam facilitar a interação entre os hemicanais (Fujimoto e col., 1997) (Figura

1.9).

Figura 1.9. Representação esquemática da síntese, montagem e degradação dos canais comunicantes do tipo fenda. As conexinas são sintetizadas no RE onde adquirem sua estrutura secundária ou passam pelo compartimento intermediário e atingem sua topologia final no complexo de Golgi. Os conexons são formados no complexo de Golgi e inseridos na membrana plasmática por vesículas transportadoras ou por extensões tubulares e reencontram ao acaso os conexons das células vizinhas para formar as junções do tipo fenda e se deslocarem até o local da placa juncional. Toda a placa juncional ou parte dela é internalizada em uma das células adjacentes para formar a junção anular, que será degradada pela via lisossômica ou proteassômica. (Figura modificada de Laird, 2006).

33

As conexinas são proteínas que apresentam uma meia vida curta, de apenas

poucas horas (Fallon e col., 1981, Laird e col., 1991; Laing e col., 1995; Beardslee e

col., 1998). Desse modo, elas são proteínas programadas para serem biossintetizadas

e degradadas constantemente. Devido a forte interação conexon-conexon no espaço

intercelular que os impede de se dissociar, toda a placa juncional ou parte dela é

internalizada em uma das células adjacentes, formando uma estrutura de dupla-

membrana chamada de junção anular. Essas junções anulares são degradadas pela

via lisossômica ou proteassômica dependente de ubiquitina (Laird, 2006 e 2009).

Estudos com inibidores de proteassomas e linhagens celulares que não apresentam a

enzima E1, necessária para a ubiquitinação, têm demonstrado que os proteassomas

possuem papel crítico na degradação tanto das conexinas tipo-selvagem quanto das

mutantes (Berthoud e col., 2004).

1.6.4.Interação entre conexinas e outras proteínas

O transporte intracelular das conexinas à membrana plasmática, a formação

dos canais de junção do tipo fenda entre as células adjacentes, a estabilidade, a

modulação da atividade e a degradação dos canais de junção do tipo fenda são

propriedades determinadas pelas proteínas conexinas constituintes dos conexons e

pela interação dessas proteínas conexinas com outras proteínas (Cascio, 2005; Laird ,

2005, 2006 e 2009).

Diversos estudos têm demonstrado interação entre as conexinas e outras

proteínas, como as da zônula de oclusão-1 (ZO-1), as calmodulinas, as caderinas,

algumas quinases e proteínas do citoesqueleto (Hervé e col., 2004). No entanto, são

poucas as proteínas identificadas por interagirem física e funcionalmente a conexina

26.

Henzl e col. (2004) verificaram que a Cx26 interage com as proteínas Fbx2 e

Skp1 na cóclea. A Fbx2 é uma ubiquitina ligase que atua como sinalizadora das

proteínas que serão degradadas via ERAD (degradação associada ao RE), sendo a

Skp1 uma proteína ligante a Fbx2 (Meusser e col., 2005). Esses estudos sugerem que

essas proteínas são substrato para a ubiquitinação e degradação em um conjunto que

34

inclui a Cx26, por meio do proteassomo 26S. A Fbx2 e Skp1 foram identificadas

pela primeira vez por Thalmann e col., (1997) no órgão de Corti de cobaias (Cavea

porcellus) e foram denominadas de OCP1 e OCP2, respectivamente. Entretanto, em

um trabalho recente de Nelson e col., (2007), a co-imuoprecipitação in vitro direta da

Cx26 com essas duas proteínas não foi observada. Nesse mesmo trabalho, foi

observado que células de suporte do órgão de Corti de camundongos com o gene

Fbx2 deletado apresentavam uma concentração elevada de Cx26, associada com

degeneração dessas células e com alteração da integridade da membrana celular. Em

resumo, a OCP1/Fbx2 deve estar relacionada à degradação da Cx26.

Recentemente, del Castillo e col. (2010) identificaram uma proteína ligante

comum às conexinas 26 e 30, por meio da técnica do duplo-híbrido da levedura. De

acordo com os autores, essa proteína, denominada consortina, atua como receptora

das conexinas 26 e 30 na porção distal do complexo do Golgi e atua no

direcionamento das conexinas para a membrana plasmática e na sua reciclagem na

superfície celular.

A identificação de novas proteínas que interagem com a Cx26 pode ampliar

o conhecimento funcional das conexinas na audição, indicar novos genes candidatos

à surdez sindrômica e não-sindrômica, além de poder explicar os casos de surdez

decorrentes de mutação isolada no gene GJB2.

35

CAPÍTULO 2

35

CAPÍTULO 2 Objetivos

2.1. Objetivo Geral

Identificar novos alelos patogênicos, novas proteínas e novos genes

relacionados com o lócus DFNB1 (genes das conexinas 26 e 30), do ponto de vista

molecular e celular, e que possam ser responsáveis por surdez de herança

autossômica recessiva.

2.2. Objetivos Específicos

� Identificar novos alelos patogênicos no lócus DFNB1 que possam ser

responsáveis por surdez, quando presentes em heterozigose composta com outros

alelos patogênicos no gene da Cx26 ou Cx30.

� Padronizar protocolos de cultivo e diferenciação in vitro de células epiteliais

do órgão de Corti, para desenvolver condições experimentais fundamentais a

estudos funcionais relacionados às proteínas conexinas e suas “parceiras” a médio

prazo e, a longo prazo, ao desenvolvimento de estratégias de terapia celular e gênica

na deficiência auditiva.

� Identificar proteínas que interagem com a Cx26 para contribuir com a

identificação de novas vias funcionais ou mecanismos moleculares que possam

resultar na descoberta de novos genes de surdez.

Pretendemos contribuir, com esse estudo, para o esclarecimento da

patogênese da surdez de herança autossômica recessiva.

Os métodos, os resultados e as discussões relacionados aos três objetivos

descritos acima serão apresentados, a seguir, sob a forma de três capítulos,

numerados de 3, 4 e 5, respectivamente.

36

CAPÍTULO 3

36

CAPÍTULO 3 Pesquisa de novos alelos patogênicos no lócus DFNB1 relacionados

à surdez não-sindrômica de herança autossômica recessiva

3.1. Introdução

Dentre os indivíduos com deficiência auditiva associada ao lócus DFNB1,

10% a 50% apresentam uma única mutação recessiva no gene GJB2, frequência

muito superior à esperada em função da frequência de heterozigotos na população

geral. Apesar de alguns casos de indivíduos com distúrbios de audição que

apresentam uma única mutação recessiva no gene GJB2 terem sido elucidados após

a identificação de cinco diferentes deleções no gene GJB6 ou nas suas proximidades

(del Castillo e col., 2003, 2005 e 2009; Feldmann e col., 2009; Wilsh e col., 2010) a

existência de muitos indivíduos com uma única mutação patogênica nesse gene

sugere que mutações em outras regiões do lócus DFNB1, como por exemplo em

outras regiões do gene GJB2, GJB6, fora da sua região de código, possam estar

presentes de forma a causar a surdez desses indivíduos. Diversos estudos têm

procurado identificar mutações nas regiões 5´UTR (no exon 1 e no sítio doador de

splicing) e nas regiões promotoras do gene GJB2. Um exemplo é a mutação IVS 1 +

1G>A, localizada no primeiro intron do gene GJB2, entre o exon 1 não codificador

e o exon 2, no sítio doador de splicing. A troca de uma guanina por uma adenina

nessa posição afeta o splicing e leva, aparentemente, à falta do RNA mensageiro

(Denoyelle e col., 1999; Shahin, 2002). O estudo dessa mutação, por Seeman e col.

(2006), possibilitou o diagnóstico molecular de 45% de uma amostra de pacientes

tchecos com uma única mutação patogênica na região codificadora do gene GJB2. Já

na Holanda, onde ela também foi estudada, a mutação IVS 1 + 1G>A foi apontada

como a terceira mutação mais frequente em indivíduos surdos, após a c.35delG e a

del(GJB6-D13S1830) (Santos e col., 2005). Outros estudos descreveram essa

mutação em diversos países (Áustria, China, EUA, Egito, Itália, Irã, Hungria e

Turquia) (Najmabadi e col., 2005; Snoeckx e col., 2005; Sirmaci e col., 2006;

Chaleshtori e col., 2007; Putcha e col, 2007; Ramsebner e col., 2007; Tóth e col.,

2007; Cama e col., 2009; Yuan e col., 2010). No Brasil, Silva-Costa e col. (2009)

37

identificaram a mutação IVS 1 + 1G>A em 2 dos 43 (4,6%) pacientes surdos já

previamente caracterizados como portadores de uma única mutação recessiva na

região codificadora do gene GJB2.

Mattos e col. (2007) identificaram pela primeira vez uma mutação patogênica

na região promotora do gene GJB2 associada à surdez não-sindrômica de herança

autossômica recessiva em uma família portuguesa. Essa mutação, -3438C>T, foi

identificada em trans com a mutação patogênica p.V84M.

A existência do alto número de indivíduos com uma única mutação

patogênica recessiva nos genes GJB2 e GJB6 sugere que outras mutações não

identificadas no lócus DFNB1 possam estar presentes de forma a causar surdez

nesses indivíduos. A triagem de variantes patogênicas no gene GJB2, fora de sua

região codificadora, bem como o estudo de grandes deleções ou inserções, a

exemplo das que ocorrem com o gene GJB6, podem nos auxiliar a revelar os

mecanismos moleculares que relacionam os produtos dos genes GJB2 e GJB6, além

de poder explicar os casos de pacientes surdos com uma única mutação detectada

no gene GJB2.

3.2. Objetivo

Identificar novos alelos patogênicos no lócus DFNB1 que possam ser

responsáveis por surdez, quando presentes em heterozigose composta com outros

alelos patogênicos nos genes da Cx26 ou Cx30.

Para atingir esse objetivo, foram executadas as seguintes etapas:

� Pesquisa de mutações por meio do sequenciamento das regiões

codificadora, promotora e doadora de splicing (intron 1) do gene GJB2 nos pacientes

previamente caracterizados como portadores de uma única mutação patogênica e

recessiva nos genes GJB2 ou GJB6.

� Pesquisa da deleção de 200kb descrita por del Castillo e col., (2009),

localizada a 130kb da proximidade distal da região 5’ do gene GJB6 em pacientes

38

previamente caracterizados como portadores de uma única mutação patogênica e

recessiva nos genes GJB2 ou GJB6, por meio da PCR específica para amplificar essa

deleção.

� Pesquisa de variações no número de cópias de um ou mais exons dos

genes GJB2, GJB6, GJB3 e WFS1 nos pacientes previamente caracterizados como

portadores de uma única mutação patogênica e recessiva no gene GJB2, por meio da

técnica MLPA (Multiplex Ligation-dependent Probe Amplification).

3.3. Casuística e Métodos

3.3.1. Pacientes

Nossa casuística é formada por portadores de distúrbios auditivos que

procuram aconselhamento genético no Laboratório de Genética Humana do

Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da

Universidade de São Paulo (LGH – IBUSP). Os pacientes foram encaminhados

pelas instituições DERDIC – Divisão de Educação e Reabilitação de Distúrbios da

Comunicação da Pontifica Universidade Católica de São Paulo, pelo Hospital das

Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, pelo CEPRO -

Centro de Ensino Profissionalizante Rotary do Colégio Rio Branco, pelo

Departamento de Biologia Celular e Genética da Universidade Estadual de Maringá,

pelo Departamento de Genética da Universidade Federal do Paraná e outras

instituições.

Todas as pessoas portadoras de distúrbios de audição que comparecem ao

serviço de aconselhamento genético são entrevistadas e assinam o termo de

consentimento para o exame e a utilização dos dados para pesquisa. O protocolo

para trabalho com esses pacientes foi submetido à Comissão de Ética em Pesquisa -

Seres Humanos do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo e

aprovado (Protocolo de pesquisa Nº062/2007).

Na casuística de cerca de 700 propósitos com distúrbios de audição, não-

sindrômicos e sindrômicos, foram triadas como rotina do nosso laboratório as

39

mutações c.35delG e c.167delT no gene GJB2 e del(GJB6-D13S1830) e del(GJB6-

D13S1854) no gene GJB6 por meio de técnicas específicas. Em alguns propósitos já

havia sido realizado previamente o sequenciamento da região de código do gene

GJB2 (Batissoco, 2006).

Foram selecionados para o nosso estudo 16 indivíduos com uma única

mutação, sem que fosse identificada uma segunda mutação nos genes GJB2 ou GJB6,

ou seja, portadores de uma única mutação recessiva em um desses dois genes. Para a

identificação de novos alelos patogênicos no lócus DFNB1, utilizamos o DNA

purificado a partir de sangue periférico desses 16 indivíduos com deficiência auditiva.

3.3.2. Amostra Controle

Estudamos também uma amostra controle formada por indivíduos ouvintes

que trabalham no Instituto de Biociências, moradores do Conjunto Residencial da

Universidade de São Paulo – CRUSP, doadores de sangue da Fundação Pró-Sangue

Hemocentro de São Paulo e por trabalhadores de empresas metalúrgicas e

condutores de ônibus da cidade de São Paulo-SP. Todos os que concordaram em

participar do estudo foram entrevistados quanto à existência de deficientes auditivos

na família e também assinaram o termo de esclarecimento livre e esclarecido. Os

indivíduos foram classificados como brancos, pardos ou negros em função da

origem dos seus ancestrais declarada em entrevista, o que permitiu a divisão

posterior da amostra em um grupo constituído por 50 indivíduos classificados como

brancos e um grupo constituído por 50 indivíduos classificados como pardos ou

negros.

3.3.3. Métodos

As amostras de sangue periférico de cada indivíduo tiveram o DNA extraído

com fenol e clorofórmio, segundo protocolo de rotina do Laboratório de Genética

Humana. Parte das amostras foi extraída no aparelho Autopure LS (Gentra Systems,

Minneapolis, Minnesota, USA). Posteriormente, cada amostra de DNA foi

40

quantificada pelo espectrofotômetro NanoDrop ND-1000 (NanoDrop Technologies,

Rockland, Delaware, USA).

O DNA extraído dos indivíduos surdos, identificados como heterozigotos

com única mutação recessiva nos genes GJB2 ou GJB6, foi estudado por meio das

seguintes técnicas:

i) Sequenciamento das regiões de código, promotora e doadora de splicing do

intron 1 do gene GJB2.

ii) Triagem da deleção de 200kb localizada nas proximidades do gene GJB6.

iii) Pesquisa de variações do número de cópias por MLPA (Multiplex Ligation-

dependent Probe Amplification).

3.3.3.1. Sequenciamento das regiões de código, promotora e de

splicing do gene GJB2

Sequenciamento da região de código do gene GJB2

Para o sequenciamento, a região de código do gene GJB2 (exon2) foi dividida

em dois fragmentos. Desse modo, foram utilizados dois pares de iniciadores: um

deles 1F (5’ GTG TTG TGT GCA TTC GTC TTT TC- 3’) e 3R (5’ ACC TTC

TGG GTT TTG ATC TCC TC 3’) para amplificar um fragmento de 425pb e o par

de iniciadores 4F (5’ GGA AGT TCA TCA AGG GGG AGA TA 3’) e 2R (5’ CCT

CAT CCC TCT CAT GCT GTC TA 3’) para amplificar um segundo fragmento de

422pb.

Para a realização da PCR, em um volume final de reação de 50uL, contendo

100ng de DNA total, foram utilizados 10 pmoles de cada iniciador, 1U de Taq

polimerase, 1,5mM de MgCl2, 20mM TRIS pH = 8.4, 50mM KCl e 0,2mM de cada

dNTP As condições da amplificação para os dois fragmentos foram as seguintes:

um ciclo de desnaturação a 95ºC por 5 min, 9 ciclos touchdown de desnaturação a

96ºC por 15s, hibridação a 69ºC por 15s para o primeiro ciclo com redução de 1ºC

por ciclo e extensão a 72ºC por 30s, 25 ciclos de desnaturação a 96ºC por 15s,

41

hibridação a 60ºC por 15s, extensão a 72ºC por 30s e extensão final a 72ºC por 10

min.

Os produtos da amplificação foram purificados pelo Illustra GFX PCR DNA

and gel purification Kit (GE Healthcare, Little Chalfont, Buckinghamshire, UK),

segundo instruções do fabricante. Os produtos purificados foram então submetidos

à reação de sequenciamento, na qual a cada produto foi adicionada uma solução de

reação contendo um dos respectivos primers e o BigDye Terminator v3.1 Cycle Sequencing

(Applied Biosystems, Foster City, California, USA). Por fim, o sequenciamento

automático foi realizado pelo aparelho ABI 3730xl DNA Analyzer (Applied

Biosystems, Foster City, California, USA).

Sequenciamento das regiões promotora e de splicing do gene GJB2

Para o sequenciamento das regiões promotora e de splicing do gene GJB2

foram utilizados os iniciadores PromCX26F 5’ – GGG GCT CAA AGG AAC

TAG GA – 3’ e PromCX26R 5’ AAG GAC GTG TGT TGG TCC AG - 3’ para

amplificar um fragmento de 499pb. Esses iniciadores amplificam a região

promotora, parte da região 5’ UTR que inclui o exon 1 e o sítio doador de splicing do

intron 1. Essa reação permite identificar as mutações IVS 1 + 1G>A (-3170G>A)

no exon 1 não codificador que afeta o splicing e a mutação -3438C>T, localizada na

região promotora do gene (Figura 3.1).

Para a realização da PCR, em um volume final de reação de 25µL, contendo

100ng de DNA total, foram utilizados 10 pmoles de cada iniciador, 1U de Taq

polimerase, 1,5mM de MgCl2, 20mM TRIS pH = 8.4, 50mM KCl e 0,2mM de cada

dNTP. As condições da amplificação foram as seguintes: um ciclo de desnaturação a

95ºC por 5 min, 5 ciclos touchdown de desnaturação a 96ºC por 15s, hibridação a

67ºC por 15s para o primeiro ciclo com redução de 1ºC por ciclo e extensão a 72ºC

por 30s, 25 ciclos de desnaturação a 96ºC por 15s, hibridação a 57ºC por 15s,

extensão a 72ºC por 30s e extensão final a 72ºC por 10 min.

Os produtos da amplificação foram purificados pelo Illustra GFX PCR DNA

and gel purification Kit (GE Healthcare, Little Chalfont, Buckinghamshire, UK),

42

segundo instruções do fabricante. Os produtos purificados foram então submetidos

à reação de sequenciamento, na qual a cada produto foi adicionada uma solução de

reação contendo um dos respectivos primers e o BigDye Terminator v3.1 Cycle Sequencing

(Applied Biosystems, Foster City, California, USA). Por fim, o sequenciamento

automático foi realizado pelo aparelho ABI 3730xl DNA Analyzer (Applied

Biosystems, Foster City, California, USA).

Na figura 3.1 apresentamos a representação esquemática das regiões sequenciadas no gene GJB2.

Figura 3.1. Representação esquemática do gene GJB2 e das suas regiões de código, promotora e doadora de splicing do intron 1 e da extensão das regiões sequenciadas nesse trabalho.

Triagem da nova mutação detectada no sequenciamento da região de código

do gene GJB2 na amostra controle

A nova mutação p.L76P (c.227C<T), detectada por meio de sequenciamento

em uma família com dois pacientes surdos heterozigotos quanto a c.35delG, foi

rastreada por meio da técnica de genotipagem automatizada de SNPs, com a

utilização do MegaBace SNuPe Genotyping Kit (Amersham Biosciences,

Buckinghamshire, UK) e do analisador genético MegaBACETM1000 (Amersham

Biosciences, Buckinghamshire, UK), disponível no Centro de Estudos do Genoma

Humano, na amostra controle constituída por 100 indivíduos ouvintes.

43

A reação de PCR foi feita sob as seguintes condições: 50µL, contendo 100ng

de DNA total, foram utilizados 10 pmoles de cada iniciador (1F - 5’ GTG TTG

TGT GCA TTC GTC TTT TC- 3’ e 3R - 5’ ACC TTC TGG GTT TTG ATC TCC

TC 3’), 1U de Taq polimerase, 1,5mM de MgCl2, 20mM TRIS pH = 8.4, 50mM KCl

e 0,2mM de cada dNTP. As condições da amplificação foram as seguintes: um ciclo

de desnaturação a 95ºC por 5 min, 9 ciclos touchdown de desnaturação a 96ºC por

15s, hibridação a 69ºC por 15s para o primeiro ciclo com redução de 1ºC por ciclo e

extensão a 72ºC por 30s, 25 ciclos de desnaturação a 96ºC por 15s, hibridação a

60ºC por 15s, extensão a 72ºC por 30s e extensão final a 72ºC por 10 min.

O produto da PCR (8µL) foi purificado com 2,5U da enzima Exonuclease I

(Amersham Biosciences, Buckinghamshire, UK) e 0,5U da enzima Shrimp Alkaline

Phosphatase (Amersham Biosciences, Buckinghamshire, UK), incubados a 37ºC por

1h e posteriormente submetidos a uma temperatura de 80ºC por 15 min para a

inativação das enzimas. Para a reação de SNuPe (volume final de 10µL) foram

utilizados 4µL de SNuPe premix (Amersham Biosciences, Buckinghamshire, UK ),

0,2µM do iniciador SNuPe, 3µL do produto da PCR já purificado e 2µL de água

estéril. Após a reação de SNuPe, os produtos foram novamente purificados com

AutoSeq96 Dye Terminator Clean-up, segundo instruções do fabricante 5µL do produto

da reação de SNuPe purificado foram misturados a 0,02µL de Multi Injection Marker e

4,98µL de Loading Solution (Amersham Biosciences, Buckinghamshire, UK), sendo

então carregados no analisador genético MegaBACETM1000 (Amersham

Biosciences, Buckinghamshire, UK).

3.3.3.2. Triagem da deleção de 200kb localizada nas proximidades do

gene GJB6

Para a detecção da deleção de 200kb próxima ao gene GJB6 foi utilizado um

protocolo sugerido pelo Dr. Ignácio del Castillo, que coordena a equipe que

descreveu esta deleção (del Castillo e col., 2009).

A pesquisa da deleção de 200kb foi feita por meio de uma PCR multiplex,

que permite o estudo de outras duas deleções, del(GJB6-D13S1830) de 309kb e

44

del(GJB6-D13S1854) de 232kb. Para a PCR, foram utilizados quatro pares de

iniciadores, um par que amplifica a região que corresponde ao exon 4 do gene GJB6

(como banda controle para verificar se a PCR está funcionando) e que origina um

fragmento de 333pb (sense 5’ – CGT CTT TGG GGG TGT TGC TT – 3’ e anti-

sense 5’ – CAT GAA GAG GGC GTA CAA GTT AGA A - 3’) e três pares de

iniciadores que amplificam o DNA na região de junção dos pontos de quebra de

cada uma das deleções. Del(GJB6-D13S1830) iniciadores: sense 5’ – TTT AGG GCA

TGA TTG GGG TGA TTT – 3’ e anti-sense 5’ – CAC CAT GCG TAG GCT TAA

CCA TTT T– 3’) que amplificam um fragmento de 460pb no caso de deleção.

Del(GJB6-D13S1854) iniciadores: sense 5’ – TCA TAG TGA AGA ACT CGA

TGC TGT TT– 3’ e anti-sense 5’ –CAG CGG CTA CCC TAG TTG TGG T– 3’)

que amplificam um fragmento de 564pb no caso de deleção. Deleção de 200kb

iniciadores: sense 5’ – GCC AGG GCT TGA GCA TAG AAC – 3’ e anti-sense 5’ –

GAA TTC TGG CAC TCT GAA TTA GAA AAC – 3’) que irá amplificar um

fragmento de 857pb se houver deleção. Para um volume final de reação de 20µL,

contendo 75ng de DNA total, foram utilizados 0,5 pmol dos pares de iniciadores

referentes às deleções del(GJB6-D13S1830) e del(GJB6-D13S1854), 0,375 pmol do

par de iniciadores referente ao exon 4 do gene GJB6 (controle) e 1,25 pmol do par

de iniciadores referente à deleção de 200kb nas proximidades do gene GJB6, 0,5U

de Taq polimerase platinum Pfx (Invitrogen, Carlsbad, CA, USA), 1,5mM de MgSO4,

20mM TRIS pH = 8.4, 50mM KCl e 0,2mM de cada dNTP. As condições da

amplificação foram as seguintes: um ciclo de desnaturação a 94ºC por 6 min, 5

ciclos touchdown de desnaturação a 94ºC por 40s, hibridação a 62ºC por 40s para o

primeiro ciclo com redução de 1ºC por ciclo e extensão a 72ºC por 30s, 25 ciclos de

desnaturação a 94ºC por 40s, hibridação a 58ºC por 40s, extensão a 72ºC por 60s e

extensão final a 72ºC por 7 min. Os produtos da PCR obtidos foram visualizados

em gel de agarose a 2% após coloração com brometo de etídeo. Foi utilizada como

controle uma amostra de DNA de um indivíduo já previamente identificado com a

deleção de 200kb em heterozigose. Essa amostra foi fornecida pelo Dr. Ignácio del

Castillo (Hospital Ramón Y Cajal, Madri, Espanha). Heterozigotos quanto à deleção

de 200kb terão duas bandas amplificadas, uma delas é a controle (333pb) e a outra é

referente à amplificação da região de junção dos pontos de quebra da deleção

45

(857pb); indivíduos homozigotos quanto à deleção terão apenas a banda de 857pb e

indivíduos homozigotos sem a deleção apresentam apenas a banda de 333pb. Os

indivíduos com a del(GJB6-D13S1830) em heterozigose terão as bandas de 333pb

(controle) e de 460pb (ponto de quebra) e em homozigose somente a banda de

460pb. Já os indivíduos com a del(GJB6-D13S1854) em heterozigose terão as

bandas de 333pb (controle) e de 564pb (ponto de quebra) e em homozigose

somente a banda de 564pb.

3.3.3.3. Pesquisa de variações no número de cópias nos exons dos

genes GJB2, GJB6, GJB3 e WFS1 por MLPA (Multiplex Ligation-dependent

Probe Amplification)

A técnica de MLPA permite detectar alterações no número de cópias em até

50 sequências diferentes de DNA em uma única reação de amplificação. Em outras

palavras, essa técnica possibilita a identificação de duplicações e deleções em um

grande número de sequências simultaneamente. A identificação do número de

cópias de uma dada sequência de DNA é efetuada pela hibridação de pares de

sondas específicas a essa sequência. Essas sondas apresentam sequências nas

extremidades que hibridam a um único par de iniciadores permitindo a amplificação

de todas as sequências, se houver hibridação das sondas. A peculiaridade desta

técnica está no fato de que não é o DNA genômico que é alvo da amplificação por

PCR, e sim as sondas que se hibridam ao DNA genômico. Quando existem

patologias onde o gene ou parte dele encontra-se duplicado ou deletado, as técnicas

laboratoriais de PCR e sequenciamento apresentam limitações na detecção devido à

amplificação exclusiva do alelo normal na amostra. Nesse caso, a análise pela técnica

de MLPA é uma alternativa apropriada para contornar as limitações dessas técnicas.

A empresa que desenvolveu a técnica de MLPA, MRC-Holland

(http://www.mrc-holland.com), disponibiliza centenas de kits de sondas para o

estudo de diversas doenças genéticas ou síndromes conhecidas, entre eles um kit

contendo sondas para os genes GJB2, GJB6, WFS1 e POU3F4 (kit SALSA MLPA

KIT P163-C1 Hearing loss).

46

O protocolo para a execução da reação de MLPA encontra-se disponível na

página da empresa MRC-Holland (http://www.mlpa.com). Para identificação de

novos alelos patogênicos nos nossos pacientes, utilizamos o kit SALSA MLPA KIT

P163-C1 Hearing loss, que contêm todos os reagentes necessários ao experimento. A

relação das sondas presentes nesse kit esta apresentada na Tabela 3.1.

Tabela 3.1. Relação das sondas que compõe o Kit SALSA MLPA P163 C1 (MRC - Holland) e as regiões cromossômicas abrangidas por elas.

Sonda SALSA MLPA

Localização Cromossômica

Distância da próxima sonda ou

exon (Kb) Sítio de ligação

1p34.3 gene GJB3 NM_024009.2 14206-L16410 exon 1 0.8 335-336 05367-L04758 exon 2* 2.8* 39-40* 05368-L04759 exon 3 1.0 1028-1029 05369-L04760 exon 3 - 2044-2045

* exon 2 do gene GJB3 esta presente somente na isoforma variante 2 (NM_001005752.1). O exon 1 esta presente somente na isoforma variante 1 (NM_024009.2) O exon 3 esta presente em ambas

isoformas. 4p16.1 gene WFS1 NM_006005.3

05375-L04766 exon 1 7.7 21-22 05376-L04767 exon 2 9.6 260-261 05377-L11414 exon 3 1.9 425-426 05378-L04769 exon 4 2.3 537-538 05379-L04770 exon 5 0.6 720-721 06702-L09985 exon 6 3.2 811-812 06699-L04772 exon 7 8.0 977-978 13540-L15424 exon 8 - 3561-3562

13q12 Centrômero -13q12

02399-L06768 gene PSPC1 10.0 221.2

05730-L06767 gene ZMYM2 (ZNF198)

- 33.7

05170-L06282 gene ZMYM2 (ZNF198)

- 160.6

13q11-12 gene GJB2 NM_004004.3

05365-L04756 exon 2 1.3 1875-1876 09118-L15423 exon 2 (313del14) 0.1 532-533 13127-L15168 exon 2 (235delC) 0.1 450-449 (anti-sense) 13126-L15167 exon 2 (167delT) 0.1 382-383) 13150-L14407 exon 2 (M34T) 0.1 316-315 (anti-sense) 09862-L09256 exon 2 (35delG) 3.2 245-246

09861-L15421 intron 1

(IVS1+1G>A) 0.1

1 nt após exon 1

06700-L04754 exon 1 0.1 118-119

05362-L40753 Upstream GJB2 0.3 45nt antes do inicio

NM_004004.5

47

Sonda SALSA MLPA

Localização Cromossômica

Distância da próxima sonda ou

exon (Kb) Sítio de ligação

06698-L04752 Upstream GJB2 28.7 377nt antes do inicio

NM_004004.5

13q11-12 gene GJB6 NM_006783.4 05374-L04765 exon 3 1.5 2029-2030 05373-L15422 exon 3 6.2 578-579 06701-L04763 exon 2 1.2 424-425 05371-L04762 exon 1 0.3 313-314

05370-L04761 Upstream GJB6 743.8 332nt antes do inicio

NM_006783.4

13q12 13q12 06704-L03639 gene LATS2 - -

Xq21.1 gene POU3F4 NM_000307.3

13141-L14398 upstream 0.1 - 13143-L14400 upstream 52 - 13140-L14397 upstream 0.3 - 13139-L14396 upstream 137.3 - 13142-L14399 upstream 0.2 - 13144-L14401 upstream 783.7 - 12771-L13887 exon 1 1 92-93 12773-L13889 exon 1 - 1141-1142

sonda controle 11q23.3 - 11q23.3 sonda controle Cromossomo X - Cromossomo X sonda controle Cromossomo Y - Cromossomo Y sonda controle 18q23 - 18q23 sonda controle 2q24 - 2q24 sonda controle 13q14.3 - 13q14.3 sonda controle 3q21 - 3q21

A reação de MLPA foi iniciada pela desnaturação de 8µL de DNA (200ng) a

98°C por 5 min. Em seguida, foram adicionados a cada amostra 3µL de mix

contendo as sondas e realizou-se a desnaturação por 1 min a 95°C e incubação para

hibridação a 60°C por 16h. Após incubação, a ligação das sondas proximais e distais

foi feita com a adição da enzima ligase. Somente os pares de sondas que são ligados

pela ligase serão amplificados pela PCR. Para ligação, as amostras foram incubadas

por 15 min a 54°C, seguidos de 5 min a 98°C para inativação térmica da enzima.

Posteriormente, as amostras foram submetidas a amplificação por PCR, com as

seguintes condições: 35 ciclos de 30s a 95°C, 30s a 60°C e 60s a 72°C, e por fim 20

min de incubação a 72°C.

48

Após a amplificação pela PCR, os produtos obtidos foram separados

juntamente com um padrão de peso molecular por eletroforese em capilar no

equipamento ABI 3730xl DNA Analyzer (Applied Biosystems, Foster City,

California, USA). A análise da quantidade das sondas fluorescentes amplificadas foi

realizada pelo software GeneMarker (SoftGenetics, State College, Pennsylvania, USA),

que lê os picos de fluorescência e já fornece os resultados analisados. Na análise dos

resultados, as alturas dos picos de fluorescência de cada sonda e de cada indivíduo

são normalizadas entre si, de modo a indicar um valor que permite estimar o

número de cópias de cada sequência de um indivíduo. Valores abaixo de 0,7 indicam

deleção e valores acima de 1,3 indicam duplicação da região. Espera-se que

indivíduos com número normal de cópias para uma determinada sequência tenham

o valor correspondente próximo de 1,0.

Uma vez que é o conjunto da altura dos picos que irá ao final fornecer

informações acerca do número de cópias das sequências, são necessários cuidados

para a obtenção de resultados confiáveis. A comparação dos dados (isto é, das

alturas dos picos de fluorescência) deve ser feita sempre entre as amostras da mesma

corrida, ou seja, amostras que foram submetidas simultaneamente à mesma reação

de MLPA, o que significa que uma única amostra de DNA de baixa qualidade

compromete os resultados. A intensidade da fluorescência de cada sonda também

deve se aproximar das condições ideais. Além disso, cada corrida de MLPA requer a

análise de pelo menos três amostras de indivíduos normais como controle.

Confirmação da presença de duplicação por PCR em tempo real quantitativa

As reações de PCR quantitativo em tempo real foram feitas no sistema de

detecção Light Cycler 480 (Roche Applied Science, Indianapolis, IN, USA). A reação

de PCR em tempo real teve volume final de 15µL, cerca de 2ng de DNA, 0,1µM de

cada iniciador e 7,5µL de SYBR®Green PCR Master Mix 2X (Applied Biosystems

Foster City, CA, USA). As condições de amplificação estão descritas na Tabela 3.2.

Todas as reações de amplificação das amostras foram feitas em triplicata, utilizando-

se a média do três resultados entre elas para os cálculos das quantificações relativas.

49

As sequências dos iniciadores foram desenhadas usando o programa Primer-

Blast (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/tools/primer-blast/) ou Primer3

(www.frodo.wi.mit.edu) e estão descritas na Tabela 3.3. Os iniciadores foram

testados por meio de uma análise de curva de dissociação, realizada após uma reação

de PCR em tempo real, para avaliar a formação de dímeros de iniciadores ou a

amplificação de produtos inespecíficos, o que interfere na quantificação real da

sequência alvo. Dessa forma, só foram utilizados iniciadores cuja curva de

dissociação indicava especificidade (Figura 3.2).

Tabela 3.2. Programa de amplificação utilizado nos experimentos de PCR em tempo real.

Tempo Temperatura Rampa Etapa 2min 50ºC 4,4ºC/s Ativação

10min 95ºC 4,4ºC/s Ativação 15s 95ºC 2,2ºC/s PCR - 60 ciclos - modo de análise: quantificação

1min 60ºC 2,2ºC/s PCR - 60 ciclos - modo de análise: quantificação 15s 95ºC 4,4ºC/s Dissociação - curvas de desnaturação

1min 60ºC 2,2ºC/s Dissociação - curvas de desnaturação aquisição 95ºC 0,11ºC/s Dissociação - curvas de desnaturação

Tabela 3.3. Sequência dos iniciadores de regiões diferentes do gene GJB2 utilizados nos experimentos de PCR em tempo real.

Sequências-alvo Iniciador sense Iniciador anti-sense GJB2_35 (c.-35 a c.77) CGTCTTTTCCAGAGCAAACCG GTGAGCCAGATCTTTCCAATGC

GJB2_167 (c.52 a c.199) ACCAGCATTGGAAAGATCTGG GATCGTAGCACACGTTCTTGC

GJB2_235 (c.177 a c.306) CTGCAAGAACGTGTGCTACGA TCTTCTCATGTCTCCGGTAGG

GJB2_UTR (c.746 a c.845) GCTGTCAAGGCTCAGTCGCTA GCATCTGGAGTTTCACCTGAG

GJB2_intron (c.-519 a c.-622) CACTGCTACATGCCACGTCTG GGCCAAGTACAGGAGAACCGT

Figura 3.2. Exemplo de curva de dissociação específica mostrando um único pico máximo entre 80-84oC.

Três amostras controles de ouvintes que apresentaram resultados normais

quanto ao gene GJB2 na técnica de MLPA foram utilizadas como amostras de

referência nas reações de PCR em tempo real. Uma dessas amostras foi também

50

utilizada para a construção de curvas padrão da amplificação das sequências alvo do

gene GJB2, com o objetivo de calcular as eficiências de amplificação de cada

iniciador. Foram feitas quatro diluições seriadas a partir da amostra controle original

(20ng, 2ng, 0,2ng e 0,02ng), para avaliar se existia amplificação proporcional à

quantidade inicial do DNA genômico na amostra. Dessa forma, quanto maior a

diluição, mais tardiamente a amplificação é detectada pelo termociclador e maior é o

Ct (Figura 3.3.). Os gráficos de dispersão log da quantidade X Ct das amostras

geraram curvas padrão lineares para todas as sequências alvo (valores de R2 entre

0,98 e 1), mostrando uma amplificação proporcional dessas sequências. O

coeficiente da reta (R) foi utilizado para calcular o valor de eficiência do iniciador,

segundo a fórmula: E=-1/coeficiente da reta. Um valor de E=2 representa uma

amplificação de 100% da quantidade inicial de DNA a cada ciclo do PCR. Assim,

para considerarmos que o iniciador tem uma boa eficiência, este valor deve estar

entre 1,7 e 2,3. Os valores de eficiência de cada iniciador são utilizados nos cálculos

da quantificação relativa das sequências alvo conforme descrito a seguir. Em relação

ao experimento para realizar a quantificação relativa do número de cópias das

sequências alvo do gene GJB2 na paciente com a duplicação, amplificamos três

amostras controle ou “referência” e a média dos valores de Ct (vide definição

abaixo) das três foi utilizada como o valor de referência. Também realizamos a

quantificação relativa de amostra escolhida para ser controle, selecionada, pois

pertencia a um indivíduo surdo com resultados normais quanto ao número de

cópias do GJB2 após MLPA. Também como controle, foi estudada a amplificação

por PCR em tempo real de uma sequência exônica do gene CCDC88A, localizado

na região cromossômica 2q16.1.

O modelo matemático utilizado para determinar a quantificação relativa de

cada sequência alvo (sequências possivelmente duplicadas do gene GJB2) em

comparação a uma sequência de referência (sequência exônica do gene CCDC88A,

localizado na região cromossômica 2q16.1) foi o descrito por Pfaffl (2001). Esse

modelo está apresentado na fórmula abaixo.

51

� QR: Quantificação relativa ou razão que corresponde ao número de cópias

da sequência alvo por genoma. Foi calculado um valor de QR para cada sequência

alvo em cada um dos três experimentos realizados. Dessa forma, quando estamos

estudando sequências ou genes de cópia única, são esperados valores ao redor de 1

para sequências não duplicadas e valores ao redor de 1,5 para sequências duplicadas.

O experimento de amplificação em tempo real com o objetivo de realizar a

quantificação relativa das sequências alvo do gene GJB2 foi realizado três vezes.

Dessa forma, obtivemos médias e desvios padrão do valor estimado para o número

de cópias de cada sequência alvo.

� Ct (ou Cp): O Ct (cycle threshold) ou Cp (crossing point) é o número decimal

de ciclos da PCR no qual a fluorescência cruza a linha do limiar, o que ocorre

quando a reação de PCR entra em sua fase exponencial. A linha do limiar (threshold)

é o ponto ou nível no qual a reação alcança uma intensidade de fluorescência acima

da fluorescência basal.

� Cálculo do ∆Ct: Este valor é obtido subtraindo-se o valor de Ct obtido

para a amostra experimental do valor do Ct de uma amostra referência. Utilizamos

como amostra de referência as três amostras controle cujo resultado foi normal

quanto ao número de cópias do gene GJB2 pela técnica de MLPA e obtivemos a

média entre elas.

� Cálculo do numerador e do denominador da equação: No numerador,

teremos o valor resultante da eficiência dos iniciadores da sequência alvo (calculada

por meio da curva padrão) elevada ao valor do seu ∆Ct, calculado conforme descrito

no parágrafo acima. No denominador, teremos o valor resultante da eficiência dos

iniciadores da sequência de referência elevada ao valor do seu ∆Ct.

As análises por meio da técnica de PCR em tempo real quantitativa foram

realizadas com a ajuda da Dra. Karina Lezirovitz, do Laboratório de

52

Otorrinolaringologia/LIM32 do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo.

Figura 3.3. Exemplo das curvas de amplificação das diluições seriadas utilizadas para a construção das curvas padrão e cálculo da eficiência dos pares de iniciadores quanto a sequência alvo.

3.4. Resultados

Selecionamos para esse estudo 16 pacientes não aparentados que foram

previamente caracterizados como portadores de uma única mutação recessiva e

patogênica na região de código do gene GJB2 ou como portadores de uma das duas

deleções do gene GJB6 em heterozigose. Dez apresentavam a mutação c.35delG,

dois a mutação c.167delT, dois a mutação p.R127H e em dois deles estava presente

a deleção del(GJB6-D13S1854) no gene GJB6, todas em heterozigose. A Tabela 3.4.

relaciona todos os pacientes estudados, assim como todos os testes realizados e o

resultados encontrados.

3.4.1. Sequenciamento das regiões de código, promotora e doadora de

splicing do intron 1 do gene GJB2

Em nenhum dos 16 pacientes analisados foi detectada mutação nas regiões

promotora ou doadora de splicing do intron 1 do gene GJB2. Essa região sequenciada

53

inclui as mutações -3438C>T na região promotora e a IVS 1 + 1G>A na região

doadora de splicing do intron 1. No entanto, por meio do sequenciamento da região

de código do gene GJB2 do DNA dos indivíduos de uma família com surdez,

identificamos uma nova mutação, a p.L76P ou c.C227T associada à mutação

c.35delG (paciente 1, Tabela 3.4).

A nova mutação p.L76P foi identificada nos dois indivíduos afetados por

surdez na irmandade, associada à mutação c.35delG (Figura 3.4). A análise

molecular dos pais normais evidenciou que essas mutações estão em trans. A

mutação não foi identificada em nenhum de 100 indivíduos ouvintes analisados por

meio da técnica de genotipagem automatizada de SNPs (MegaBace SNuPe Genotyping

Kit) (Figura 3.5).

Figura 3.4. Nova mutação p.L76P no gene GJB2. a) Heredograma da família onde foi identificada a mutação p.L76P (c.C227T). O pai (I-1) é portador da mutação p.L76P em heterozigose e a mãe (I-2) é portadora da mutação c.35delG em heterozigose. Os irmãos (II-1 e II-2) apresentam ambas as mutações p.L76P e c.35delG. Sequenciamento da região codificadora do gene GJB2, que corresponde aos nucleotídeos 222 – 231, do pai heterozigoto (b) e do controle (c).

3.4.2. Triagem da deleção de 200kb localizada a 130kb da região 5’ do

gene GJB6

Em nenhum dos 16 pacientes analisados foi detectada a deleção de 200kb

próxima ao gene GJB6. Na figura 3.6. podem ser observadas as 2 bandas, uma de

54

333pb referente à banda controle e outra de 857pb referente a deleção de 200Kb,

obtidas após amplificação do DNA de um indivíduo heterozigoto com a deleção de

200kb, cuja amostra foi cedida pelo Dr. Ignácio del Castillo.

Figura 3.5. Resultados da genotipagem de SNPs com o MegaBace SNuPe Genotyping

Kit da nova mutação p.L76P (c.C227T). a) Pai heterozigoto com a mutação p.L76P mostrando o alelo C, patogênico, em heterozigose. b) Controle ouvinte, homozigoto para o alelo normal T.

Figura 3.6. Triagem da deleção de 200kb localizada a 130kb da região 5’ do gene GJB6. Gel de agarose a 2% com os produtos da PCR. No poço 1 temos o padrão de massa molecular de 100pb (Invitrogen, Carlsbad, CA). No poço 2 temos 2 bandas, uma de 333pb referente a banda controle e outra de 857pb referente a deleção de 200Kb de um indivíduo heterozigoto e nos poços 3 a 6 pode ser visualizada apenas a banda controle de amplificação (333pb) de indivíduos que não são portadores da deleção.

55

Tabela 3.4. Caracterização dos dezesseis pacientes com mutações monoalélicas nos genes GJB2 ou GJB6 e resultados das análises moleculares. Abreviações: Pac: paciente, nl: normal, dup: duplicação, del200Kb: deleção de 200kb localizada a 130kb da região 5’ do gene GJB6 e A: ausente. Cód: região de código, P: região promotora, S: região doadora de splicing. Seq: sequenciamento.

Pac Mutações em heterozigose

MLPA

Seq GJB2 del 200kb

Classificação Clínica de Surdez

Observações e/ou outros sinais clínicos

Cód P/S

1 c.35delG (GJB2) nl c.35delG/ p.L76P

nl A sensórioneural, familial, pré-lingual, moderada e estacionária

História familial compatível com herança autossômica recessiva

2 c.35delG (GJB2) nl c.35delG/nl nl A sensórioneural, isolada, pré-lingual, profunda e estacionária

História familial compatível com herança autossômica recessiva

3 c.35delG (GJB2) nl c.35delG/nl nl A sensórioneural, isolada, pós-lingual, e profunda História familial compatível com herança autossômica recessiva

4 c.35delG (GJB2) nl c.35delG/nl nl A sensórioneural, familial, pré-lingual, grave e estacionária História familial compatível com herança autossômica recessiva

5 c.35delG (GJB2) nl c.35delG/nl nl A sensórioneural, familial, pré-lingual, profunda e estacionária

História familial compatível com herança autossômica recessiva

6 c.35delG (GJB2) nl c.35delG/nl nl A sensórioneural, familial, pós-lingual, grave e estacionária História familial compatível com herança autossômica recessiva

7 c.35delG (GJB2) nl c.35delG/nl nl A isolada (paciente não apresentou exames audiológicos) Face triangular, clinodactilia e osso frontal amplo: sindrômico

8 c.35delG (GJB2) nl c.35delG/nl nl A sensórioneural, isolada, moderada e progressiva Retinose pigmentar e deficiência visual: Síndrome de Usher

9 c.35delG (GJB2) nl c.35delG/nl nl A pré-lingual e familial (paciente não apresentou exames audiológicos)

Consanguinidade parental. Hérnia inguinal e coarctação da aorta: sindrômico

10 c.35delG (GJB2) nl c.35delG/nl nl A sensórioneural, familial, pós-lingual, moderada e estacionária

Surdez familial compatível com herança autossômica dominante

11 c.167delT(GJB2) Dup GJB2

c.167delT/nl nl A sensórioneural, isolada, pré-lingual, grave e estacionária Consanguinidade parental. Hérnia inguinal e estrabismo.

12 c.167delT(GJB2) nl c.167delT/nl nl A sensórioneural, familial, pós-lingual, grave e progressiva Surdez familial compatível com herança autossômica dominante

13 p.R127H(GJB2) nl p.R127H/nl nl A sensórioneural, isolada, pré-lingual, grave e progressiva -

14 p.R127H(GJB2) nl p.R127H/nl nl A sensórioneural, isolada, pós-lingual, profunda e progressiva

-

15 del(GJB6-D13S1854) (GJB6)

nl nl/nl nl A familial e pré-lingual (paciente não apresentou exames audiológicos)

História familial compatível com Síndrome de Waardenburg

16 del(GJB6-D13S1854) (GJB6)

nl nl/nl nl A sensórioneural, isolada, pré-lingual, profunda e progressiva

Atraso neuropsicomotor: sindrômico Retardo mental?

56

3.4.3. Pesquisa de variações no número de cópias por MLPA (Multiplex

Ligation-dependent Probe Amplification) e por PCR em tempo real quantitativa

Por meio da análise com o kit SALSA MLPA KIT P163-C1 Hearing loss (MRC

Holland), identificamos em um dos nossos pacientes (paciente 11, Tabela 3.4.), portador

da mutação c.167delT (gene GJB2) em heterozigose, uma duplicação de uma região do

gene GJB2. A análise dos resultados obtidos pelo MLPA com esse kit revelou que cinco

dentre um total de dez sondas para o gene GJB2 estavam duplicadas, sendo que todas se

encontram na região codificadora do gene GJB2, ou seja no exon 2, 09862-L09256

(GJB2_ex2_35delG), 13150-L14407 (GJB2_ex2_M34T), 13126-L15167

(GJB2_ex2_167delT), 13127-L15168 (GJB2_ex2_ 235delC) e 09118-L15423

(GJB2_ex2_313del14) (Tabela 3.1 e Figura 3.7.). Para confirmar a variação no número

de cópias e mapear melhor a duplicação detectada por MLPA no DNA genômico desse

paciente, realizamos a técnica de PCR em tempo real quantitativa. Na Figura 3.8

observa-se que três segmentos estão duplicados. O cálculo do número de cópias por

meio da quantificação relativa (QR) revelou valores ao redor de 1,5 quanto as três

sequências alvo da região codificadora do gene GJB2 nas amostras do paciente 11,

indicando que ele possuía duplicação dessas três sequências (Tabela 3.5.). Como

esperado, foram obtidos valores ao redor de 1,0 para o número de cópias das sequências

alvo da região codificadora do gene GJB2 nas amostras do paciente controle, cujos

resultados haviam sido normais quanto ao gene GJB2 na técnica de MLPA, indicando o

número normal de 1 cópia da sequência por genoma. Em relação às sequências alvo do

gene GJB2 localizadas nas regiões intrônica e 3’ UTR, tanto as amostras do paciente 11

quanto a do paciente controle revelaram valores ao redor de 1,0, portanto, número

normal de cópias (Tabela 3.5. e Figura 3.8.). Dessa forma os dados obtidos por meio da

técnica de PCR em tempo real corroboraram os achados da técnica de MLPA.

57

Figura 3.7. Perfil das sondas de MLPA do kit SALSA P163-C1 Hearing loss no paciente 11

em que foi detectada a duplicação do gene GJB2 associada à mutação 167delT. As sondas controle e as sondas referentes ao gene POU4F3 não estão incluídas nessa representação. As setas vermelhas indicam as sondas que revelaram duplicação do alvo.

Figura 3.8. Gráficos mostrando a quantificação relativa (QR) realizada a partir dos resultados da PCR em tempo real quantitativa no paciente controle sem duplicação e no paciente com a duplicação (paciente 11). Os resultados dos indivíduos controles ouvintes foram utilizados como normalizadores (vide 3.3.3.iii, Métodos). Verificamos que as sequências-alvo GJB2-35, GJB2_167 e GJB2_235 estão duplicadas no paciente 11 (valores de QR ao redor de 1,5), enquanto as demais sequências alvo apresentam número normal de cópias nesse indivíduo (valores de QR ao redor de 1,0). Todas as sequências-alvo apresentaram número normal de cópias no controle.

58

Tabela 3.5. Resultados das quantificações relativas (QR) das sequências alvo do gene GJB2, que indicam o seu número de cópias, e seus valores de P adotando-se intervalo de confiança de 95%. São consideradas normais as QR iguais a 1 correspondendo a duas cópias da sequência alvo. Valores de razão ao redor de 1.5 correspondem a três cópias da sequência alvo.

Lócus Amostras Média ± dp (QR)

GJB2_35 Paciente 11 1.90 ± 0.19 Paciente Controle 1.04 ± 0.06

Referência 1.00 ± 0.00 Comparação das médias Paciente 11/ Paciente Controle Paciente 11 / Referência Paciente Controle / Referência

GJB2_167 Paciente 11 1.64 ± 0.24 Paciente Controle 1.03 ± 0.12

Referência 1.00 ± 0.00 Comparação das médias Paciente 11/ Paciente Controle Paciente 11 / Referência Paciente Controle / Referência

GJB2_235 Paciente 11 1.46 ± 0.15 Paciente Controle 1.00 ± 0.08

Referência 1.00 ± 0.00 Comparação das médias Paciente 11/ Paciente Controle Paciente 11 / Referência Paciente Controle / Referência

GJB2_intron Paciente 11 0.93 ± 0.12 Paciente Controle 0.97 ± 0.05

Referência 1.00 ± 0.00 Comparação das médias Paciente 11/ Paciente Controle Paciente 11 / Referência Paciente Controle / Referência

GJB2_3’UTR Paciente 11 0.90 ± 0.04 Paciente Controle 0.96 ± 0.05

Referência 1.00 ± 0.00 Comparação das médias Paciente 11/ Paciente Controle Paciente 11 / Referência

Paciente Controle / Referência

Após a realização da PCR em Tempo Real concluímos que a região duplicada no

DNA genômico desse paciente pode apresentar uma extensão mínima de 427pb e

máxima de 1,2Kb (figura 3.9.).

A paciente 11 é filha de consanguíneos (Figura 3.10.) e a sua surdez se caracteriza

por ser sensórioneural, grave, pré-lingual e isolada. Os únicos sinais clínicos adicionais

são hérnia inguinal corrigida logo após o nascimento e estrabismo, o que sugere um

quadro de surdez não-sindrômica de herança autossômica recessiva. Além disso, a

paciente tem origem judaica, como esperado para portadores da mutação c.167delT.

59

Figura 3.9. Representação esquemática do gene GJB2 e da região duplicada detectada no DNA genômico do paciente portador da mutação c.167delT (paciente 11, Tabela 3.4.).

Figura 3.10. Heredograma da família da paciente portadora da mutação c.167delT no gene

GJB2 em heterozigose e na qual foi detectada a duplicação na região de código do gene

GJB2 (paciente 11, Tabela 3.4.).

3.5. Discussão

3.5.1. Sequenciamento das regiões de código, promotora e doadora de

splicing do intron 1 do gene GJB2

A investigação de outras mutações patogênicas que possam estar associadas com

as mutações já caracterizadas em nossos pacientes por meio do sequenciamento do

60

DNA genômico das regiões de código, promotora e doadora de splicing do gene GJB2

identificou em um dos pacientes a nova mutação p.L76P (c.C227T), na região de código,

que até a ocasião não havia sido descrita (Batissoco e col. , 2009, Anexo A).

Análises de bioinformática (world wide web PolyPhen - Polymorphism Phenotyping

(Ramensky e col., 2002; http://genetics.bwh.harvard.edu/pph/, 2011) que levam em

consideração a estrutura da proteína e o tipo dos aminoácidos substituídos indicaram

essa mutação como provavelmente patogênica. Além disso, foi observado que o

aminoácido códon 76, na conexina 26, é conservado tanto entre as diferentes espécies

animais (Figura 3.11) quanto em relação aos vários tipos de conexinas humanas

expressas (dados não mostrados).

Figura 3.11. Análise do alinhamento do resíduo 76 na conexina 26, do gene GJB2, em diferentes espécies. O resíduo do aminoácido 76 está identificado em vermelho.

As conexinas possuem uma estrutura em comum: quatro domínios

transmembrânicos, ligados entre si por duas alças extracelulares e uma alça

citoplasmática, com os grupos amino e carboxi-terminais citoplasmáticos. A mutação

p.L76P ocorre no segundo domínio transmembrânico da proteína e leva à substituição

de uma leucina por uma prolina no códon 76. Algumas mutações patogênicas, tanto

dominantes que levam à surdez sindrômica e não-sindrômica (p.R75W e p.R75Q),

quanto recessivas que levam à surdez não sindrômica (p.W77X, p.W77R) já foram

descritas nessa região. Essas mutações foram associadas com alterações de abertura e

fechamento dos canais de junção do tipo fenda formados pelas conexinas e também

com modificações no ancoramento entre os conexons. Esses fatos indicam ser essa uma

região crítica da proteína conexina 26.

61

A segregação da nova mutação c.C227T (p.L76P) em trans com a c.35delG nessa

família indica o modo de herança provavelmente autossômico recessivo, uma vez que a

mãe é heterozigota com a c.35delG e o pai heterozigoto com a p.L76P e ambos

apresentam audição normal (dados não mostrados). Além disso, a associação entre a

mutação p.L76P e a deficiência auditiva é sustentada pela ausência dessa mutação na

amostra controle de 100 indivíduos e pela análise com o programa Polyphen que indica

essa mutação como provavelmente patogênica.

Por meio do sequenciamento do DNA genômico das regiões promotora e

doadora de splicing do gene GJB2 não identificamos as mutações IVS 1 + 1G>A (-

3170G>A) no exon 1 não codificador que afeta o splicing e a mutação -3438C>T,

localizada na região promotora do gene. A mutação -3438C>T, localizada na região

promotora do gene GJB2 nunca foi descrita na nossa população e apesar da mutação

IVS 1 + 1G>A já ter sido descrita no Brasil, com uma frequência de 4,6% entre os

pacientes surdos já previamente caracterizados como portadores de uma mutação

recessiva na região codificadora do gene GJB2 (Silva-Costa e col., 2009), os nossos

resultados indicam que essas duas mutações devem ser raras em nossa população.

3.5.2 Triagem da deleção de 200kb localizada a 130kb da região 5’ do gene

GJB6

A deleção de 200kb localizada a 130kb da região 5’ do gene GJB6 não foi

identificada em nenhum dos 16 pacientes que foram previamente caracterizados como

portadores de uma única mutação recessiva e patogênica na região de código do gene

GJB2 ou como portadores de uma das duas deleções do gene GJB6 em heterozigose.

Nossos resultados sugerem que essa deleção é rara no Brasil.

Essa deleção de 200kb foi identificada nos indivíduos surdos de uma família

espanhola, associada à mutação c.35delG (del Castillo e col.,2009). Posteriormente, em

um estudo realizado por meio da técnica de MLPA para triar regiões consideradas

“quentes” para conter as deleções no gene GJB6 ou nas suas proximidades, em 236

pacientes surdos e portadores de uma única mutação patogênica no gene GJB2 da

Espanha, do Brasil, da Polônia e da Holanda, a deleção de 200kb localizada a 130kb da

62

região 5’ do gene GJB6 não foi identificada em nenhum dos pacientes analisados (del

Castillo e col., 2011). Essa amostra inclui seis pacientes da amostra aqui descrita. Uma

vez que nenhum outro caso foi descrito, esses resultados demonstram que de fato a

deleção de 200kb localizada nas proximidades do gene GJB6 é muito rara.

É importante lembrar que a prevalência das mutações no gene GJB2 e das

deleções localizadas no gene GJB6 ou nas suas proximidades estão relacionadas com a

origem da população estudada e que os propósitos aqui avaliados resultam de uma

amostra heterogênea etnicamente, fato comum na população brasileira. Porém, há

predomínio de indivíduos com origem européia na nossa casuística.

3.5.3. Pesquisa de variações no número de cópias por MLPA (Multiplex

Ligation-dependent Probe Amplification) e por PCR em tempo real quantitativa.

Por meio da análise de MLPA com o kit SALSA MLPA P163 GJB-WFS1 (MRC-

Holland) identificamos uma região duplicada no gene GJB2, associada à mutação

c.167delT, em um dos nossos pacientes (paciente 11, Tabela 3.4). Para confirmar a

variação no número de cópias no DNA genômico e mapear melhor a região do gene

GJB2 que contém a duplicação detectada realizamos a técnica de PCR em tempo real

quantitativa. A análise dos dados obtidos por meio dessas duas técnicas revelou que a

duplicação presente no DNA genômico desse paciente tem entre 0,4kb e 1,2Kb e

abrange principalmente a região codificadora do gene GJB2. No entanto, não foi ainda

possível localizar o ponto de quebra dessa duplicação e, aparentemente, parte da regiões

5’UTR do exon 2 e 3’UTR podem estar incluídas na região duplicada (Figura 3.9). A

porção da 5’ UTR contida no exon 1 não esta duplicada de acordo com os resultados de

MLPA e PCR em tempo real.

Por meio de análises in silico em bancos de dados de CNVs (copy number variants)

verificamos que essa duplicação não esta catalogada no DGV (Database of Genomic

Variants) que compila as CNVs presentes na população geral e nem há variantes

catalogadas que incluam a região de código do GJB2 (DECIPHER (Database of

Chromosomal Imbalance and Phenotype in Humans using Ensembl Resources ).

63

Resultados preliminares obtidos por meio de tentativa do sequenciamento do

DNA genômico desse paciente utilizando-se diferentes combinações de iniciadores para

amplificar a região duplicada, sugerem que essa duplicação não está em tandem (dados

não mostrados). Trabalhos adicionais serão em breve conduzidos para tentar localizar o

exato ponto de quebra.

Mais de 100 mutações patogênicas (recessivas e dominantes) no gene GJB2 e

cinco diferentes deleções localizadas no gene GJB6 ou nas suas proximidades já foram

descritas e associadas à surdez (del Castillo e col., 2003, 2005 e 2009; Feldmann e col.,

2009; Wilsh e col., 2010; In: Connexin deafness homepage). No entanto, essa é a primeira

duplicação descrita no gene GJB2 associada à surdez de herança autossômica recessiva

(Mingroni-Netto e col., 2011a). Esses resultados foram apresentados no 8th Molecular

Biology of Hearing and Deafness Conference.

Na literatura, são poucas as duplicações descritas associadas à surdez. A maioria

dos casos de variações de número de cópias são deleções de grandes extensões

localizadas em outras regiões cromossômicas, distintas da região 13q11-12 (locús

DFNB1), com exceção das cinco deleções localizadas no gene GJB6 ou nas suas

proximidades. Além disso, nesses casos a surdez é frequentemente acompanhada de

sinais clínicos adicionais (Aller e col., 2010; Bernardini e col., 2008 e 2009; Chen e col.,

2008; Lehman e e col., 2009; Lundin e col., 2010; Mathijssen e col., 2005). Somente três

casos de duplicação genômica são descritos na literatura onde a surdez aparece como

sinal clínico isolado: um caso no gene POU3F4 (Xq21.1.), outro no gene TPJ2 (6q22) e

um terceiro que engloba parte de dois genes, IMMP2L e DOCK4 (7q31.1) (de Kok e col.,

1995; Walsh e col., 2010; Uehara, 2010; Mingroni-Netto e col., 2011b). O primeiro caso

é uma duplicação de 150kb, localizada a 170kb da região proximal ao gene POU3F4

(lócus DFN2) (de Kok e col., 1995). A surdez associada a mutações nesse gene é de

herança ligada ao X, do tipo mista e associada à fixação do estribo. Já a duplicação

descrita no gene TJP2 (lócus DFNA51) possui 270kb e foi identificada em uma família

israelense, cuja surdez se caracterizava por ser sensórioneural, pós-lingual, progressiva e

de herança autossômica dominante (Walsh e col., 2010). Nesses dois casos as

duplicações foram identificadas em tandem. Já o terceiro caso é uma duplicação de no

mínimo 438kb e que engloba os exons 1, 2 e 3 do gene IMMP2L e pelos menos os

64

exons 45 a 52 do gene DOCK4. Essa duplicação foi identificada em uma família com

surdez não-sindrômica de herança autossômica dominante. O gene DOCK4 possui uma

isoforma que se localiza nos estereocílios das células ciliadas e interage com uma

importante proteína relacionada à audição, a harmonina. Essa informação é suficiente

para fazer suspeitar que DOCK4 seja um novo gene responsável por surdez. A

associação de IMMP2L com surdez é menos provável, devido ao grande número de

CNVs (Copy Number Variations) não patogênicas que incluem partes desse gene (Uehara,

2010; Mingroni-Netto e col., 2011b).

Por meio da técnica de MLPA, além da análise por nós realizada com o kit

SALSA MLPA KIT P163-C1 Hearing loss, foram feitas análises adicionais em amostras

de DNA de seis dos nossos 16 pacientes (pacientes 2 a 6 e 11, Tabela 3.4.). Essas

análises foram realizadas no laboratório do Dr. Ignácio del Castillo (Hospital Ramón Y

Cajal, Madri, Espanha) em estudo colaborativo com um kit especificamente desenhado

pela sua equipe para estudar as regiões consideradas “quentes” para conter as deleções

no gene GJB6 ou em regiões vizinhas a ele. Em nenhum desses seis pacientes foi

identificada qualquer alteração (del Castillo e col., 2011). Esse kit de MLPA, desenhado

pela equipe do Dr. Del Castillo, contém sondas que estão localizadas nas regiões

abrangidas pelas deleções de 131,4Kb descrita por Wilch e col., (2010) e de <920Kb

descrita por Feldmann e col., (2009). Desse modo, podemos excluir também a presença

dessas duas deleções nesses seis pacientes (pacientes 2 a 6 e 11, Tabela 3.4.). Quanto aos

outros 10 pacientes restantes, por meio do uso do kit SALSA MLPA KIT P163-C1

Hearing loss, foi possível excluir apenas a presença da deleção de <920Kb.

Entre os 16 pacientes selecionados para o nosso estudo por serem portadores de

uma única mutação recessiva e patogênica na região de código do gene GJB2 ou como

portadores de uma das duas deleções do gene GJB6, delGJB6(D13S1830) e

delGJB6(D13S1854), em heterozigose, cinco (pacientes 7, 8, 9, 15 e 16, Tabela 3.4.)

apresentam outros sinais clínicos além de surdez que os caracterizam como sindrômicos.

Em dois desses pacientes considerados sindrômicos, 8 e 15 (Tabela 3.4.), foram

confirmados os diagnósticos de Síndrome de Usher e de Síndrome de Waardenburg,

respectivamente. Já em dois dos 16 pacientes (pacientes 10 e 12, Tabela 3.4.), o quadro

clínico de surdez não-sindrômica familial apresentado é compatível com o de herança

65

autossômica dominante. Em um desses pacientes (paciente 10, Tabela 3.4.) foi

posteriormente detectada uma mutação patogênica não descrita no gene TECTA,

responsável por surdez não-sindrômica de herança autossômica dominante

(DFNA8/12) que segrega na família (Lezirovitz e col., 2011). Desse modo, concluímos

que as mutações c.35delG e c.167delT no gene GJB2 e a delGJB6(D13S1854) no gene

GJB6 nesses sete pacientes (7 a 10, 12, 15 e 16) ocorreram ao acaso e não explicam o

quadro clínico apresentado por esses indivíduos. Entre esses sete pacientes, quatro

(pacientes 7 a 10) apresentam a mutação c.35delG em heterozigose. Dado que a

frequência de heterozigotos para a mutação c.35delG na nossa população foi estimada

em 1/100 (Sartorato e col., 2000), e que o tamanho da casuística do laboratório é de

cerca de 700 pacientes, em teoria sua ocorrência está de acordo com o esperado para

nossa população.

3.6. Conclusão

Detectamos a segunda mutação provavelmente patogênica apenas em dois dos

nossos 16 pacientes heterozigotos quanto a mutações patogênicas e recessivas nos genes

GJB2 ou GJB6: a mutação p.L76P, localizada na região de código do gene GJB2 descrita

por nós pela primeira vez e uma duplicação que inclui a região de código do gene GJB2,

também inédita na literatura. Em sete dos 16 pacientes, concluímos que as mutações

únicas nos genes GJB2 ou GJB6 provavelmente não estão relacionadas diretamente à

causa de surdez, permanecendo sete casos com etiologia a esclarecer.

.

66

CAPÍTULO 4

66

CAPÍTULO 4 Estabelecimento de culturas primárias de células neuro-epiteliais do

órgão de Corti de cobaias e camundongos

4.1. Introdução

Diversas mutações que causam surdez em humanos já foram identificadas

tanto em genes expressos nas células ciliadas (MYO7A, KCNQ4) quanto em genes

expressos nas células de suporte (GJB2 e GJB6) do órgão de Corti (Van Camp e

Smith, 2011).

Embora a função das células ciliadas sensoriais e de seus neurônios

associados já estejam estabelecidas, as funções das células de suporte emergiram de

estudos mais recentes. Diversos estudos têm demonstrado que essas células não

sensoriais apresentam papel importante no desenvolvimento, na função e na

manutenção da homeostasia da orelha interna (Cotanche e Kaiser, 2010, Gomes-

Casati e col., 2010; Warchol e col., 2010). Além disso, as células de suporte parecem

ser importantes reguladores da atividade sináptica no órgão de Corti (Stankovic e

col., 2004; Sugawara e col., 2005; Glowatzki e col., 2006; Tritsch e col., 2007).

A expressão do inibidor do ciclo celular p27kip1 nas células de suporte do

órgão de Corti maduro está relacionado com o seu estado de quiescência mitótica.

Estudos com camundongos nocautes para o p27kip1 têm demonstrado que a sua

deleção resulta na proliferação contínua das células de suporte do órgão de Corti

(Chen e Segil,1999; Lowenheim e col., 1999, Ono e col., 2009). White e col., (2006),

após dissociação e purificação das células de suporte de camundongos por FACS

(Fluorescence-activated cell sorting) verificaram que essas células são capazes de se

proliferarem e de se transdiferenciarem em células ciliadas e que esse fenômeno é

acompanhado pela redução da expressão do p27kip1. Esses estudos sugerem que há

uma correlação entre os níveis de expressão do p27kip1 e a capacidade das células de

suporte dos mamíferos de re-entrarem no ciclo celular, e que embora as células de

suporte dos mamíferos apresentem in vitro potencial de regeneração semelhante ao

observado em aves, esse potencial deve ser suprimido quando no interior tecido.

67

As células menos diferenciadas encontradas na cóclea dos mamíferos são

progenitoras das células ciliadas e das de suporte. No órgão de Corti, as células com

características de progenitoras localizam-se em regiões onde residem as células de

suporte mais próximas às células ciliadas, como por exemplo, as células Deiters

vizinhas das células ciliadas externas e as inner phalengeals junto às células ciliadas

internas (Figura 1.3, pág. 13, Capítulo 1) (Smeti e col., 2010). Com base nos ensaios

para o isolamento de células-tronco do sistema nervoso central de mamíferos

(Reynolds e Rieze, 2005), em diversos estudos foi possível purificar e isolar uma

população de células progenitoras na cóclea de camundongos recém-nascidos

(Malgrange e col., 2002; Li e col., 2003; Oshima e col., 2007; Savary e col., 2007;

Senn e col., 2007). Essas células, quando mantidas em condições de cultivo não

aderentes, são capazes de formar colônias de células flutuantes, denominadas

“otoesferas”. As células das otoesferas, quando dissociadas, são capazes de formar

novas esferas, ou seja, são capazes de se auto-renovar, expressam marcadores que

são produtos de genes importantes para o desenvolvimento tanto da orelha interna

(ex.: Pax2, BMP-4, BMP-7) quanto do sistema nervoso (ex.: nestina) e podem se

diferenciar nos seguintes tipos celulares: células que expressam marcadores de

células de suporte (ex.: p27kip1, Jagged 1) ou marcadores de células ciliadas do

órgão de Corti (Miosina VIIa, Jagged 2) (Li e col., 2003; Oshima e col., 2007; Savary

e col., 2007; Senn e col., 2007). No entanto, os fatores moleculares responsáveis pela

promoção da auto-renovação e da formação dessas esferas celulares ainda não

foram completamente caracterizados (Doetzlhofer e col., 2004; Zhai e col., 2005;

White e col., 2006; Savary e col., 2008).

Em virtude da irreversibilidade da maior parte dos casos de surdez, pesquisas

recentes buscam desvendar os mecanismos moleculares e celulares relacionados à

fisiologia da audição e, consequentemente, à sua perda, por meio de diversas

estratégias. Modelos animais, culturas de células e estudos funcionais sobre

mutações que causam surdez têm auxiliado a revelar o papel de várias moléculas na

fisiologia da audição. Dado que as proteínas conexinas 26 e 30 se co-localizam nas

células de suporte do órgão de Corti, onde possuem papel importante em vários

processos de transdução auditiva, o cultivo de células epiteliais do órgão de Corti em

68

laboratório e o estudo da sua diferenciação in vitro representam passo fundamental

para estudos básicos de identificação e localização de proteínas relacionadas à

função auditiva.

4.2. Objetivo

Padronizar protocolos para cultivo e diferenciação in vitro de células epiteliais

do órgão de Corti, para criarmos, a médio prazo, condições experimentais

fundamentais para estudos relacionados ao papel das conexinas e suas “parceiras”

na audição e, a longo prazo, para o desenvolvimento de estratégias de terapia celular

e gênica na deficiência auditiva.

4.3. Animais e Métodos

4.3.1. Animais

Cobaias (Cavia porcellus)

As cobaias foram fornecidas pelo CEDEME - UNIFESP (Centro de

Desenvolvimento de Modelos Experimentais para Medicina e Biologia da

Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, Brasil), que foi responsável pela sua

manutenção e manejo. O protocolo para trabalho com esses animais foi submetido

à Comissão de Ética para Análise de Projetos de Pesquisa – CAPPesq da Diretoria

Clínica do Hospital das Clínicas e da Faculdade de Medicina da Universidade de São

Paulo e aprovado (Protocolo de pesquisa No 1221/06).

Na fase de pré-experimento, os animais foram mantidos em gaiolas grandes

de polipropileno, com maravalha esterilizada no forro do piso, ração específica e

água acrescida de vitamina C (20 gotas – 200 mg/litro), renovadas diariamente. Os

animais foram transportados em gaiolas do biotério ao Instituto de Biociências da

USP, onde foram realizados os experimentos. Foram utilizados somente animais

recém-nascidos (3 – 4 dias), machos e/ou fêmeas, saudáveis, pesando entre 100 -

300 gramas. Os animais foram tratados de acordo com os princípios éticos e

69

práticos do uso de animais de experimentação. Este estudo experimental envolveu

sacrifício de todos os animais para remoção do material de interesse, sendo realizado

em câmara de dióxido de carbono por cinco minutos. Esse método, recomendado

para pequenos roedores, é de baixo custo, seguro e tem rápida ação letal ao

provocar depressão do sistema nervoso central, minimizando o sofrimento do

animal.

Foi utilizado um total de 92 animais, sendo quatro animais por experimento,

totalizando 23 experimentos.

Camundongos Balb/c (Mus musculus)

Os animais foram fornecidos pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da

USP - Biotério de Criação de Camundongos Isogênicos (São Paulo, Brasil), que foi

responsável pela sua manutenção e manejo. O protocolo para trabalho com

camundongos foi submetido à Comissão de Ética para Análise de Projetos de

Pesquisa – CAPPesq da Diretoria Clínica do Hospital das Clínicas e da Faculdade de

Medicina da Universidade de São Paulo e aprovado (Protocolo de pesquisa No

0466/08).

Foram utilizados somente animais recém-nascidos (1-3 dias), machos e/ou

fêmeas, saudáveis. O procedimento para a sua manipulação foram os mesmos

utilizados para as cobaias.

Foi utilizado um total de 256 animais, sendo que cada cultura foi realizada

com órgão de Corti de oito camundongos, totalizando 32 experimentos.

4.3.2. Métodos

Os procedimentos foram realizados no Laboratório de Genômica Funcional

(IB-USP), sob co-orientação da Profa. Dra. Luciana Amaral Haddad. Experimentos

iniciais também foram realizados no laboratório de Genética Humana, da Profa. Dra.

Angela Vianna Morgante.

70

4.3.2.1. Dissecção do órgão de Corti de cobaias e camundongos

neonatos

A antissepsia do animal sacrificado era feita em banho de álcool absoluto,

seguida da decapitação com tesoura Metzenbaum e incisão longitudinal do arco

mandibular bilateral. Esta abordagem permitiu acesso inferior à bula timpânica e

retirada integral do osso temporal após o afastamento das fáscias e músculos

adjacentes. O material era colocado em placa de Petri contendo meio Leibovitz

(Sigma-Aldrich, St Louis, MO, EUA), aberto para exposição da cóclea e submetido

à dissecção micro-cirúrgica sob visão de um estéreo-microscópio (lupa Tecnival,

SQF-F), com magnificação de 20 vezes. A cápsula coclear era removida usando

micro-pinças e micro-estiletes para exposição dos giros apical, médio e basal. Os

tecidos, contendo o órgão de Corti eram coletados em placa de Petri contendo meio

Dulbecco's Phosphate Buffered Saline (DPBS) (Sigma-Aldrich, St Louis, MO, EUA)

acrescido de glicose 6g/L (Sigma-Aldrich, St Louis, MO, EUA) a 4ºC.

Todo o processo de dissecção foi realizado pelos médicos

otorrinolaringologistas Dra. Jeanne Oiticica e doutorando Luiz Carlos de Melo

Barbosa Júnior do Departamento de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina

da Universidade de São Paulo, nossos colaboradores nessa pesquisa.

4.3.2.2. Cultura em suspensão de células progenitoras do órgão de

Corti

Cultura primária

A cada experimento, o tecido obtido de todas as cócleas dissecadas à lupa

era submetido à dissociação enzimática e mecânica para obtenção de células

isoladas. Na dissociação enzimática, o tecido era incubado a 37ºC, por 15 min, em

meio HBSS (Hank’s Balanced Salt Solution, NaCl a 137mM, KCl a 5,4mM, Na2HPO4 a

0,3mM, KH2PO4 a 0,4mM, NaHCO3 a 4,2mM, glicose a 5,6mM, HEPES a 300

mM, pH 7,4) contendo elastase (Sigma-Aldrich, St Louis, MO, EUA) a 0,05 U/mL.

Após incubação, era adicionado CaCl2 para uma concentração final de 3mM e

colagenase tipo II (Invitrogen, Carslbad, CA, EUA) com concentração entre 600 a

71

1200 U/mL. Após 15 min de incubação a 37ºC, era adicionado Tryple Express

(Invitrogen, Carslbad, CA, EUA) para uma concentração final de 0,05% e o tecido

era incubado por 15 min, a 37ºC. Após esperar o tecido depositar no fundo do tubo

devido à ação da gravidade e sob gelo, o sobrenadante era descartado e o tecido

lavado duas vezes com HBSS, sendo o sobrenadante novamente descartado. O

tecido obtido era então ressuspendido em 1mL de HBSS, dissociado mecanicamente

com três pipetas Pasteur de calibres decrescentes para obtenção das células e

posteriormente filtrado para remover debris celulares (filtro de 100 µm, BD

FalconTM). Eram utilizados 20 µL do sobrenadante para observar a morfologia e

realizar a contagem das células no microscópio Axiovert 40C (Zeiss, Alemanha). As

células eram plaqueadas em placas de culturas de 24 poços, previamente revestidas

com poli-HEME (Poli -2-hidroxietil metacrilato, Sigma-Aldrich, St Louis, MO,

EUA) para evitar adesão celular (Savary e col, 2007). Para o revestimento, poli-

HEME foi solubilizado em metanol à concentração de 50mg/mL e diluído em

etanol para concentração final de 10 mg/mL. Para preparar o revestimento, eram

adicionados 100µL da solução de poli-HEME para cada poço utilizado da placa de

24 poços, deixado secar ao fluxo laminar, seguido de três lavagens em HBSS. Em

cada poço da placa de 24 poços, eram semeadas 104 células em DMEM:F12 (1:1,

Invitrogen, Carslbad, CA, EUA), glutamina a 2mM (Invitrogen, Carslbad, CA,

EUA), N2 1X (Invitrogen, Carslbad, CA, EUA), 50 µL/mL de ampicilina (TEUTO,

Brasil), suplementado com 20ng/mL do fator de crescimento epidérmico (EGF,

Invitrogen, Carslbad, CA, EUA). Os fatores de crescimento transformante de

crescimento alfa (TGFα, Invitrogen, Carslbad, CA, EUA) (Savary e col., 2007) ou

básico de fibroblastos (bFGF, Invitrogen, Carslbad, CA, EUA) foram adicionados

respectivamente para as concentrações de 20ng/mL e 10ng/ml. O número de

células viáveis era determinado pela exclusão do corante azul de tripan em câmara

de Neubauer. As placas eram mantidas a 37ºC, em incubadora com CO2 a 5% e a

troca de 50% do meio de cultura era realizada a cada dois dias (Lou e col., 2007).

Expansão

As culturas primárias eram mantidas por sete dias in vitro (7DIV), enquanto

que os repiques referentes às passagens P1 e P2 eram realizados entre o terceiro e o

72

quarto DIV. Para os repiques, otoesferas e meio de cultura eram transferidos para

um microtubo de capacidade de 2mL e centrifugados a 200 x g, por cinco min, a

4ºC. O sobrenadante era removido e Tryple Express (Invitrogen, Carslbad, CA, EUA)

era adicionado na proporção 1:1 para dissociação das otoesferas. Esta suspensão era

incubada por 10 min, a 37ºC, seguida de nova centrifugação a 400 x g, por cinco

minutos a 4ºC. O sobrenadante era removido e as células eram ressuspendidas em

500µL de meio de cultura completo e dissociadas com pipeta Pasteur, repetidas vezes.

Como alternativa, a dissociação foi feita também com o kit NeuroCult Chemical

Dissociation (Stem Cell Technologies, Vancouver, Canadá), de acordo as instruções

do fabricante.

O número de células viáveis era determinado em câmara de Neubauer e as

células dissociadas eram plaqueadas (104 células/poço) nas mesmas condições

descritas acima. Este protocolo permitiu a análise da auto-renovação de células

provenientes de otoesferas primárias, secundárias e terciárias.

Diferenciação das otoesferas

Para o ensaio de diferenciação, as otoesferas e todo o meio de cultura eram

transferidos para câmaras (BD FalconTM) de oito poços previamente revestidas por

16 horas, com poli-D-ornitina (Sigma-Aldrich, St Louis, MO, EUA) a 0.1mg/mL e

fibronectina (Sigma-Aldrich, St Louis, MO, EUA) a 5 µg/mL por duas a quatro

horas, a 37ºC e mantidas em condições para adesão celular, usando o mesmo meio

de cultura em suspensão, embora desprovido dos fatores tróficos. A cultura era

mantida a 37ºC, em incubadora com CO2 a 5% e após a adesão celular, era realizada

a troca de 80% do meio, sendo que esse procedimento era repetido no terceiro ou

quarto DIV. Após sete dias de cultivo, as células diferenciadas eram fixadas e

analisadas por imunofluorescência indireta.

Fixação

Antes de realizar a imunofluorescência indireta, tanto as otoesferas quanto as

células diferenciadas eram fixadas com PFA (paraformaldeído).

73

Para fixação das otoesferas presentes na cultura em suspensão, todas as

otoesferas formadas e todo o meio de cultura eram transferidos para câmaras de

oito poços previamente revestidas por 16 horas, com poli-D-ornitina (Sigma-

Aldrich, St Louis, MO, EUA) a 0,1 µg/mL e fibronectina (Sigma-Aldrich, St Louis,

MO, EUA) a 5 µg/mL por duas a quatro horas, a 37ºC. As câmaras eram mantidas

por duas horas 37ºC e 5% de CO2 e eram centrifugadas a 4ºC, por dois minutos a

200 x g para depósito das células (Widera e col., 2006). Todo o meio de cultura era

removido gentilmente e as células eram fixadas em paraformaldeído a 4%, por 60

minutos, a 37ºC e 5% de CO2. O paraformaldeído era retirado e as otoesferas eram

lavadas duas vezes com HBSS.

Para fixação das células resultantes do ensaio de diferenciação todo o meio

de cultura era removido e as células eram fixadas em paraformaldeído a 4%, por 60

minutos, a 37ºC. O paraformaldeído era retirado e as células eram lavadas duas

vezes com HBSS.

4.3.2.3. Caracterização fenotípica das células em cultura

A caracterização fenotípica das células fixadas (em suspensão ou

diferenciadas) era feita por imunofluorescência indireta, com anticorpos específicos

para diversos tipos de marcadores celulares, esperados nesse tipo de cultura. O

protocolo de imunofluorescência foi adaptado de Pranchevicius e col., 2008. Na

tabela 4.1. temos a relação de todos os anticorpos primários utilizados e suas

respectivas diluições de uso. Todos esses anticorpos primários foram utilizados

diluídos em HBSS contendo BSA (Bovine Serum Albumin, Invitrogen, Carslbad, CA,

EUA) a 0,3%.

Após a fixação, as células eram permeabilizadas em triton X-100 a 0,3%, por

20 minutos, à temperatura ambiente. A seguir, as células eram bloqueadas por uma

hora, à temperatura ambiente, com IgG não imune (Santa Cruz Biothnologies,

Santa Cruz, CA, EUA), específica para a espécie que da origem ao anticorpo

secundário a 5% em HBSS, e BSA (Bovine Serum Albumine, Invitrogen, Carslbad, CA,

EUA) a 0,3%, e incubadas com o anticorpo primário diluído em HBSS e BSA a

74

0,3% por 16 horas à temperatura ambiente. Após incubação, as células eram lavadas

em HBSS e incubadas novamente, por uma hora, à temperatura ambiente com os

anticorpos secundários conjugados aos fluorocromos e diluídos em HBSS na

proporção 1:500 (Cy3, ALEXA 546 ou ALEXA 488 IgG de anti-camundongo,

FITC, ALEXA 546 ou ALEXA 488 IgG de anti-coelho e ALEXA 546 ou

ALEXA 488 IgG de anti-cabra) (Invitrogen, Carslbad, CA, EUA). As lamínulas

eram montadas em lâminas contendo ProLong Gold Antifade (Invitrogen,

Carslbad, CA, EUA) contendo DAPI (4’, 4-diamidina-fenil indol) para identificação

do núcleo e seladas com esmalte. As imagens eram observadas em microscópio de

imunofluorescência Axioplan (Carl Zeiss, Alemanha) e capturadas com software Isis

Fish Imaging Meta System ou em microscópio confocal (LSM 410 ou LSM 510,Carl

Zeiss, Alemanha) e capturadas com o software Zeiss LSM Image Browser.

Tabela 4.1. Relação dos anticorpos primários utilizados na caracterização fenotípica das culturas de células progenitoras do órgão de Corti de cobaias e camundongos (cultura de células em suspensão e diferenciadas).

Anticorpo primário

Tipo/Animal de origem

Empresa Tipo celular/localização Diluição de uso

Anti-nestina (clone rat-401)

Monoclonal/ camundongo

Chemicon Filamento intermediário expresso em de células-tronco

neuroepiteliais durante o desenvolvimento embrionário.

Marcador de neurônios imaturos e neuroblastos(Lopez e col., 2004; Wiese e col., 2004)

1:200

Anti-Sox2 (clone S-15)

Policlonal/ cabra

Santa Cruz Fator de transcrição que participa do desenvolvimento sensorial da orelha interna, da

determinação do fenótipo celular e da manutenção do

estado de células-tronco. (Yerukhimovich e col., 2007).

1:100

Anti-Miosina VIIa (clone PA1-

936)

Policlonal/ coelho

Affinity Bioreagentes

Proteína motora específica das células ciliadas do órgão de

Corti

1:100

Anti-p27kip1 (clone Y236)

Monoclonal/ coelho

Abcan Inibidor de cinase dependente de ciclina. Marcador molecular do órgão de corti rudimentar e das células de suporte maduras.

1:100

Anti- Jagged1 (clone C-20)

Policlonal/ cabra

Santa Cruz Proteína de membrana tipo I das células de suporte do órgão

de Corti

1:100

Anti-Jagged2 (clone C-17)

Policlonal/ cabra

Santa Cruz Proteína de membrana tipo I das células ciliadas do órgão de

Corti

1:100

75

4.3.2.4. Contagem celular

A contagem direta do número de esferas ou células foi realizada em 20

campos consecutivos do microscópio com objetiva de 40x para cada lâmina. Em

cada campo era contado o número de núcleos marcados com DAPI refletindo o

número total de células e/ou o número de células marcadas com o(s) anticorpo(s)

primário(s) utilizado(s). Os seguintes parâmetros foram analisados: (i) número total

de células ou de otoesferas para cada campo; (ii) número total de células marcadas

com o anticorpo primário; (iii) número de células em otoesferas presentes e (iv)

número de células marcadas com o anti-corpo primário em cada esfera.

4.3.2.5. Análises Estatísticas

Os resultados foram expressos como média ± desvio padrão da porcentagem

de células marcadas, para cada condição analisada. As variáveis contínuas foram

comparadas pelo teste t de Student. O nível de significância estatística foi

estabelecido em p<0,05. As análises estatísticas foram realizadas com o sofware

GraphPad Instant.

4.4. Resultados

Para a padronização das culturas de células em suspensão do órgão de Corti,

utilizamos cobaias e camundongos. Iniciamos os trabalhos com cobaias porque a

técnica de dissecção já estava padronizada pelo grupo de pesquisa do Departamento

de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Durante o curso do trabalho, a escolha de se utilizar também camundongos foi

reforçada pela disponibilidade de protocolos para o cultivo bem estabelecidos na

literatura. Além disso, o genoma do camundongo é mais conhecido e há maior

número de anticorpos específicos a esta espécie disponíveis comercialmente.

Realizamos um total de 55 experimentos (23 com cobaias e 32 com

camundongos) para padronização da cultura de células do órgão de Corti de cobaias

e camundongos. Nesse período, padronizamos: (i) a técnica de dissecção (Figura

76

4.1.); (ii) o tipo de frasco de cultivo que viabilizasse boa densidade celular a partir do

baixo número inicial de células em cada cóclea; (iii) o número de cócleas por

experimento prevendo o descarte de algumas destas antes do experimento pela

sugestão de infecção e (iv) a escolha do antibiótico evitando-se os aminoglicosídeos

por sua conhecida ototoxicidade.

Figura 4.1. Dissecção da orelha interna de cobaias. Em (A) temos a orelha interna e a cóclea e em (B) a cóclea exposta pela pinça. Imagem obtida em estéreo-microscópio (lupa, Tecnival). Aumento de 20 vezes.

A padronização do cultivo das células do órgão de Corti de cobaias e

camundongos propiciaram a formação de agregados celulares em suspensão e a

proliferação de suas células (otoesferas) morfologicamente semelhantes às

anteriormente publicadas pelos grupos de pesquisa do Prof. Stefan Heller

(Department of Otolaryngology Head and Neck Surgery and Department of Molecular and

Cellular Physiology, Stanford University School of Medicine, Stanford, Califórnia, USA) e do

Prof. Azel Zine (Institute for Neurosciences of Montpellier and Institute for Research in

Biotherapy, University of Montpellier I, Montpellier, France) (Li e col., 2003, Savary e col.

2007, Diensthuber e col., 2009) (Figura 4.2.). De acordo o grupo de pesquisa do

Prof. Stefan Heller, que conseguiu isolar e analisar a morfologia das diferentes

esferas derivadas de culturas em suspensão do órgão de Corti de camundongos, as

primeiras esferas a surgir são redondas e sólidas e são, por isso, chamadas de sólidas.

Essas esferas passam por uma mudança morfológica e, após 7-8 dias in vitro, se

transformam em esferas ocas. Neste intervalo de transição surgem esferas

intermediárias que aparecem após 3-4 dias in vitro e são chamadas de transitórias. Os

77

autores sugerem que cada esfera observada é proveniente de uma única célula

progenitora que se divide para formar uma esfera sólida. Do seu desenvolvimento,

surgem os demais tipos de esferas, transitória e oca (Diensthuber e col., 2009).

Figura 4.2. Morfologia dos diferentes tipos de esferas obtidas de culturas de células em suspensão do órgão de Corti de camundongos. Em A observamos esfera sólida, B transitória e C esfera oca. Barra: 100 µm (modificado de Diensthuber e col. 2009). Em D, observamos as esferas obtidas em nossas culturas no 4DIV. É possível ver várias esferas com morfologia semelhante à sólida e uma esfera com morfologia semelhante à oca (seta pontilhada). No canto superior esquerdo, observamos uma neuroesfera (seta contínua). As imagens resultam de análise feita em microscópio invertido Axiovert 40C e Axiocamera MRC5 (Zeiss, Alemanha). Barra: 100 µm

Embora o cultivo das otoesferas de cobaias e, posteriormente, de

camundongos, tenha se tornado reprodutivo após a padronização, testamos duas

composições de meio para buscar por esferas mais robustas antes da diferenciação

in vitro, sabendo-se que o tamanho das esferas é um parâmetro importante para o

sucesso deste procedimento. Desse modo, testamos em culturas duas combinações

78

diferentes de fatores de crescimento para enriquecer o meio de cultura e produção

de esferas, baseando-se em resultados do grupo de pesquisa do Prof. Azel Zine

(University of Montpellier, France) (Savary e col., 2008) com o fator de crescimento

epidérmico (EGF) associado ao transformador de crescimento alfa (TGFα).

Denominamos esse primeiro grupo de cultivo de TGFα e comparamos os

resultados obtidos em cultura com esse grupo com os resultados obtidos das

culturas tratadas com o fator de crescimento epidérmico (EGF) associado ao fator

de crescimento básico de fibroblastos (bFGF) denominado grupo bFGF. Os

resultados obtidos com as culturas de segunda passagem (P2) com esses dois grupos

de fatores de crescimento e sua comparação foram publicados no periódico Journal

of Translation Medicine (Oiticica e col., 2010 - Anexo B) e serão resumidamente

descritos a seguir.

A partir do cultivo em suspensão de células do órgão de Corti de cobaias e

camundongos, verificamos que as otoesferas obtidas em ambas as culturas

apresentaram potencial de proliferação. Não padronizamos um ensaio mensurável

da proliferação celular para esse sistema. Mesmo assim, evidenciamos facilmente

aumento do número das células e tamanho das esferas na cultura primária após

alguns dias in vitro (Figura 4.3). A auto-renovação foi evidenciada pelo surgimento de

novas esferas após repique da cultura primária, ou seja, subcultivo de esferas

dissociadas (Figura 4.4). No primeiro dia de subcultivo as células apareceram

isoladas ou formando colônias de duas a três células. Após três dias in vitro, elas

formaram colônias multicelulares flutuantes, ou seja, otoesferas (Figura 4.3.).

Observamos ainda o aumento no tamanho das esferas em cultura, ao longo do

tempo, sugerindo que, após o repique, as células obtidas a partir de esferas

dissociadas são capazes de proliferar e formar novas esferas (Figura 4.4.). Esses

resultados foram observados utilizando-se os dois grupos de fatores de crescimento.

Estas são evidências da capacidade de proliferação e auto-renovação de células do

órgão de Corti de camundongos e cobaias, mantidas em cultura de suspensão.

Comparando os dois grupos de fatores de crescimento (TGFα e bFGF)

utilizados no meio de cultura para o cultivo em suspensão de células do órgão de

Corti de cobaias e camundongos, verificamos que houve uma diferença significativa

79

em relação ao número de otoesferas obtidas em ambas as espécies, com maior

número de otoesferas observadas no grupo TGFα (23.3 ± 8.5) em relação ao grupo

bFGF (9 ± 1, p=0.044, teste-t de Student) (Tabela 4.2 e Figura 4.5.).

Figura 4.3. Análise do potencial de proliferação das células do órgão de Corti de cobaias e camundongos em suspensão. As imagens representam a análise feita em microscópio invertido Axiovert 40C e Axiocamera MRC5 (Zeiss, Alemanha) de otoesferas observadas em contraste de fase durante cultura em suspensão do órgão de Corti de cócleas de

cobaias e de camundongos, cujos meios foram enriquecidos com TGFα. Do mesmo modo, as otoesferas cultivadas em meio enriquecido com bFGF apresentaram o mesmo padrão de proliferação celular (dados não mostrados). Todas as imagens são de células cultivadas após primeira passagem no primeiro (1DIV) ou quarto (4DIV) dias in vitro . As setas indicam as

otoesferas secundárias. Barra 50µm.

Quando analisamos o número de otoesferas obtidas, comparando cobaias

(11.5 ± 4.9) e camundongos (18.5 ± 11), não foi observada nenhuma diferença

significativa (p=0.458, teste-t de Student). Por outro lado, verificamos que o número

de células presentes em otoesferas das culturas de camundongos (32.6 ± 30.5) foi

maior quando comparado com o número de células em otoesferas de cobaias (12.5

± 5.8, p=0.041, test-t de Student). Deste modo, concluímos que; (i) TGFα em

presença do EGF resulta em maior número de otoesferas a partir do cultivo em

suspensão de células do órgão de Corti de cobaias e camundongos, quando

comparado ao número de otoesferas obtidas no grupo bFGF; e que (ii) cócleas de

80

camundongos produzem maior número de células por otoesfera in vitro quando

comparadas com cócleas de cobaia.

Figura 4.4. Resultado do ensaio de auto-renovação das células do órgão de Corti em suspensão. As imagens representam a análise feita em microscópio invertido Axiovert 40C e Axiocamera MRC5 (Zeiss, Alemanha) de otoesferas observadas em contraste de fase durante cultura em suspensão do órgão de Corti de cócleas de cobaias e de camundongos, cujos meios

foram enriquecidos com bFGF ou com TGFα como indicado. As setas indicam as otoesferas obtidas de cobaias e de camundongos. As imagens evidenciam a capacidade de auto-renovação

das otoesferas. Análises obtidas com culturas após uma passagem (P1). Barra 50µm.

Durante a caracterização das esferas por imunofluorescência indireta,

analisamos a expressão de marcadores específicos para o fenótipo de células-tronco

em geral e do sistema nervoso, incluindo os anticorpos anti-nestina e anti-Sox2. A

nestina é um filamento intermediário expresso em células-tronco neuroepiteliais

durante a embriogênese e é usada como marcador de neurônios imaturos e

neuroblastos. O Sox2 é um fator de transcrição que participa do desenvolvimento

sensorial da orelha interna, da determinação do fenótipo celular e da manutenção do

estado de células-tronco. Culturas de ambas as espécies, cobaias e camundongos,

apresentaram otoesferas com marcação positiva para os anticorpos anti-nestina e

81

anti-Sox2, com distribuição citoplasmática em aproximadamente 40% das células

(Figura 4.6.). Portanto, o material da cóclea de ambos os animais, camundongos e

cobaias, originou esferas que expressam marcadores de pluripotência. Por outro

lado, não observamos marcação nuclear para Sox2, o que poderia ser esperado uma

vez que esse fator transcricional transita entre o núcleo e o citoplasma (Hume e col.,

2007).

Tabela 4.2. Análise dos parâmetros obtidos quanto ao número de otoesferas e o número de células por otoesferas presentes no cultivo em suspensão de células do órgão de Corti de cobaias e camundongos, cujo meio de cultura foi enriquecido com TGFα ou bFGF.

Grupos bFGF TGFα p camundongo* cobaia* p

nº de otoesferas

9±1 23.3±8.5 0.044 18.5±11 11.5±4.9 0.458

nº de células por otoesfera

16.3±4.1 37.6±23.5 0.098 32.6±30.5 12.5±5.8 0.041

Esses valores representam o desvio padrão da média ±1, onde p foi obtido por meio do test- t de Student. * foram considerados ambos os grupos de fatores de crescimento. As análises foram realizadas em culturas após duas passagens (P2).

As condições para a diferenciação in vitro das otoesferas em células ciliadas e

células de suporte já foram descritas por Li e col. em 2003. Com base nesse estudo,

cultivamos otoesferas de camundongos após uma ou duas passagens (P1 ou P2) sob

condições aderentes e em meio de cultura que favorece a diferenciação em células

de suporte e células ciliadas. Nesse caso, foi utilizado o mesmo meio de cultura para

o cultivo em suspensão, mas desprovido dos fatores de crescimento. Após

diferenciação, observamos nas culturas de camundongos otoesferas que

apresentaram células que expressam marcadores para células de suporte (p27kip1 e

jagged1) e otoesferas que apresentaram células que expressam marcadores para

células ciliadas (miosina VIIa e jagged2), indicando o direcionamento destas células

progenitoras do órgão de Corti à expressão de fenótipos de células de suporte ou

células ciliadas (Figuras 4.7. e 4.8.). Esta conclusão é reforçada pela observação da

distribuição subcelular esperada para esses marcadores. Anticorpo anti-miosina VIIa

marcou finos processos da membrana plasmática (Figuras 4.8A e 4.8C). Jagged 1 foi

observado na membrana plasmática (Figura 4.7B), assim como Jagged 2 (Figura

82

4.8B). Marcação nuclear foi visualizada em células incubadas com o anticorpo

p27kip1 (Figura 4.7A). Quanto às otoesferas obtidas de cobaias, não conseguimos

mantê-las sob condições de cultivo aderente, pois as células morreram. Desse modo,

não foi possível conseguir a diferenciação celular. Este resultado pode ser devido ao

baixo número de células observado nas otoesferas de cobaias, quando comparado

com as otoesferas de camundongos. Estas evidências, em conjunto, confirmaram

que a espécie Mus musculus é útil como modelo experimental para o cultivo de

otoesferas e sua diferenciação

Figura 4.5. Análise do número de células presentes nas otoesferas obtidas com o cultivo em suspensão das células do órgão de Corti de cobaias e camundongos em meio enriquecido com TGFα ou bFGF. As imagens resultam de análise feita em microscópio invertido Axiovert 40C e Axiocamera MRC5 (Zeiss, Alemanha) de otoesferas observadas em contraste de fase durante cultura em suspensão do órgão de Corti de cócleas de cobaias e de

camundongos, cujos meios foram enriquecidos tanto com bFGF como com TGFα. Barra

50µm.

83

Figura 4.6. Imunofluorescência indireta com os anticorpos anti-nestina e anti-Sox2 nas otoesferas de cobaias e camundongos, após uma

ou duas passagens, cultivadas na presença de bFGF or TGFαααα. Os marcadores de células-tronco sox2 e nestina, foram testados para

caracterização fenotípica das otoesferas e o DAPI foi usado na marcação do núcleo celular. Barra 10µm. Análise realizada em microscópio confocal (LSM 410, Carl Zeiss, Alemanha).

83

84

Figura 4.7.: Imunofluorescência indireta com os anticorpos p27kip1 e Jagged 1 nas otoesferas de camundongos, após duas passagens, cultivadas na presença de TGF e submetidas a diferenciação celular. Em A) C observamos o p27kip1 e sua marcação vermelha (Alexa 546) no núcleo das células de suporte. Em B) Jagged 1, outro marcador para células de suporte e sua marcação peculiar em verde (Alexa 488) corando a membrana plasmática. O DAPI marca em azul o DNA nuclear. Barra 10µm (LSM 410 Carl Zeiss, Germany).

Figura 4.8: Imunofluorescência indireta com os anticorpos miosina VIIa e Jagged 2, nas otoesferas de camundongos, após duas passagens, cultivadas na presença de TGF e submetidas a diferenciação celular. Em A e C podemos observar miosina VIIa (MyoVIIA), marcador de células ciliadas, corado por Alexa 488. As setas indicam os processos da membrana plasmática, onde há um acúmulo maior de miosina VIIa. Em B) podemos observar a marcação com Jagged2, outro marcador de células ciliadas, corado por Alexa 546. As setas indicam maiores concentrações da marcação próxima à membrana plasmática. O DAPI identifica os núcleos celulares marcados em azul Barra 10µm (LSM 410 Carl Zeiss, Alemanha).

85

4.5. Discussão

A alta prevalência de surdez em humanos combinada à perda da capacidade

de regeneração das células ciliadas em mamíferos tem alimentado o interesse na

identificação de células-tronco ou células progenitoras que possam vir a ser

utilizadas em terapias para regeneração celular da orelha interna e restauração da

audição (Parker e Cotanche, 2004; Edge e Chen, 2008). Em mamíferos, as células

ciliadas auditivas são produzidas apenas durante o desenvolvimento embrionário e

não são capazes de se regenerarem ao longo da vida (Stone e col., 1998). Desse

modo, a perda das células ciliadas é permanente e resulta em disfunção do órgão.

São várias as evidências da presença das células progenitoras no epitélio

sensorial da orelha interna. Em primeiro lugar, a formação de colônias de células

flutuantes ou otoesferas a partir do epitélio sensorial de aves (Corwin e Cotanche,

1988; Ryals e Rubel, 1988) e peixes (Hernandez e col., 2007), do vestíbulo e da

cóclea neonatal de camundongos (Li e col., 2003; Oshima e col., 2007) e do gânglio

espiral de humanos e cobaias (Rask-Andersen e col., 2005). O segundo ponto é que

as células dessas otoesferas são capazes de proliferar e se auto-renovar (Li e col.,

2003; Oshima e col., 2007). Além disso, as células presentes nas otoesferas

provenientes do vestíbulo e da cóclea são capazes de se diferenciar em células

ciliadas e células com fenótipo neuronal (Oshima e col., 2007; Martinez-Monedero e

col., 2008). Finalmente, já foi demonstrado que as otoesferas obtidas do vestíbulo

são capazes de se diferenciar em células das linhagens ectodérmica, mesodérmica e

endodérmica (Oshima e col., 2007).

O processo de regeneração das células ciliadas ocorre por meio da re-entrada

das células de suporte no ciclo celular e subsequente divisão assimétrica, gerando

novas células ciliadas e novas células de suporte. No entanto, em alguns casos se

observa a conversão fenotípica, também conhecida como transdiferenciação, na

qual células de suporte são convertidas em células ciliadas sem que haja mitose.

Apesar desse mecanismo ser potencialmente mais rápido na geração de novas

células ciliadas, ele também requer subsequentes divisões para reabastecimento das

células de suporte (Brigande e Heller, 2009).

86

Estudos in vivo em aves têm demonstrado que a capacidade de regeneração

das células ciliadas frente a lesões após exposição por aminoglicosídeos é muito

rápida. O início da regeneração das células ciliadas ocorre a partir da reentrada no

ciclo celular das células de suporte que as circundam e ocorre dentro de um período

de 16 horas, sendo que dentre dois a três dias já é possível observar que todas as

células ciliadas lesadas foram substituídas. Aparentemente o processo de

regeneração em aves envolve ambas as vias, transdiferenciação das células de

suporte em células ciliadas seguida da proliferação das células de suporte. No

entanto, a alteração fenotípica das células de suporte em células ciliadas ainda não

foi totalmente caracterizada (Walchol e Corwin, 1996; Roberson e col., 2004;

Duncan e col., 2006; Edge e Chen, 2008; Groves, 2010; Warchol, 2010).

Em mamíferos, apenas o epitélio vestibular apresenta potencial de

regeneração, ainda que limitado, sendo necessário quatro a doze semanas para total

regeneração das células ciliadas (Forge e col., 1998). Estudos com ratos

demonstraram que as células de suporte do vestíbulo mantêm a habilidade de se

proliferar até o quinto dia pós natal (P5) e que essa proliferação pode ser induzida

até P12. A partir desse ponto, a capacidade de proliferação dessas células é perdida

(Gu e col., 2007). No órgão de Corti, a capacidade de proliferação das células de

suporte é aparentemente perdida durante o desenvolvimento embrionário. No

entanto, já foi demonstrado in vivo que as células de suporte do órgão de Corti de

cobaias adultas têm capacidade de proliferação frente à lesão nas células ciliadas,

porém esse potencial é limitado (Yamasoba e Kondo, 2006). Aparentemente o

estabelecimento da quiescência nas células de suporte relaciona-se com o aumento

de expressão de inibidores de cinases dependentes de ciclinas e com alterações na

configuração das proteínas do citoesqueleto (Groves e col., 2010; Warchol, 2010).

Estudos sobre a regeneração das células ciliadas do vestíbulo e do órgão de

Corti de aves e mamíferos sugerem que as células de suporte atuam como

precursores das células ciliadas e que essas células apresentam características de

células-tronco. No entanto, essas propriedades variam entre os diferentes tipos de

células de suporte, que apresentam morfologias e perfis de expressão gênica

diferentes (Malgrange e col., 2002; Savary e col., 2007; Doetzlhofer e col., 2006;

87

White e col., 2006; Ismati e col., 2011). A expressão de diversos marcadores de

células-tronco como Sox2, Nestina, Musashi, Notch, Prox1 e Islet1 já foi

demonstrada nas células de suporte de camundongos pós-natal (P3)(Lanford e col.,

1999; Li e col., 2004; Lopez e col., 2004; Sakaguchi e col., 2004; Stone e col., 2004;

Hume e col., 2007).

Essas evidências têm despertado o interesse em estudos sobre as células de

suporte do órgão de Corti para utilização tanto em novas abordagens para

regeneração das células ciliadas quanto para identificação de genes e/ou vias de

sinalização responsáveis pela sua reentrada no ciclo de divisão celular e/ou pelo seu

fenótipo ou estado de quiescência. Além disso, o cultivo dessas células pode revelar

mais sobre sua biologia e auxiliar na identificação de moléculas na fisiologia auditiva.

Apesar de o cultivo in vitro de células do órgão de Corti permitir a

sobrevivência de células epiteliais e neurogliais em meio de cultura completo, as

células provenientes do órgão de Corti têm demonstrado baixa viabilidade in vitro e

metodologias diferentes têm sido testadas para aumentar o rendimento dessas

culturas (Zheng e col., 1997; Zhao e col., 2001;Malgrange e col., 2002; Li e col.,

2003a;Li e col., 2003b; Doetzlhofer e col., 2004.

Estudos anteriores do nosso grupo, em condições de cultivo aderentes com a

espécie Cavia porcellus, haviam mostrado que no 13DIV algumas células

apresentaram marcação positiva para nestina, marcador de células progenitoras

neurais. No entanto, esse tipo de cultivo leva a franca proliferação dos fibroblastos

(Oiticica e col., 2007). A partir desses resultados e com base em estudos prévios que

demonstraram que o cultivo de células dissociadas do órgão de Corti em condições

não aderentes forma colônias de células flutuantes (otoesferas) com características

de células progenitoras (Li e col., 2003a; Oshima e col., 2007, Savary e col., 2007 e

2008), iniciamos a padronização do cultivo de células progenitoras do órgão de

Corti de cobaias e camundongos em condições não aderentes.

O cultivo de células progenitoras do órgão de Corti em condições não

aderentes é um desafio uma vez que in vitro a densidade e a proliferação celular são

muito baixas. De acordo com a literatura, são vários os fatores de crescimento que

88

podem promover a proliferação in vivo do epitélio vestibular após lesão induzida por

aminoglicosídeos, incluindo os fatores EGF, bFGF, TGFα e IGF1 (insulin like growth

factor 1) entre outros (Li e col., 2003b; Kopke e col., 2001; Kuntz e col., 1998). Em

geral, a cultura em condições não aderentes de células dissociadas do órgão de Corti

a partir de 20 cócleas de camundongos (P3) e com cerca de 104 células semeadas irá

produzir 4 ± 2,08 otoesferas após 6DIV na ausência de qualquer fator de

crescimento (Zine e Ribaupierre, 1998). Na presença dos fatores de crescimento

EGF e TGFα, esse mesmo experimento apresenta um número de otoesferas

significativamente maior (41,25 ± 3,50, p < 0.05). Além disso, esses autores

observaram que 50% dessas otoesferas apresentam expressão do marcador universal

de células-tronco, Abcg2 (Savary e col., 2008). Os efeitos desses dois fatores de

crescimento sobre a formação das otoesferas são confirmados pelos resultados dos

nossos experimentos e de estudos prévios que relacionam a presença de EGF e de

TGFα com a proliferação in vitro em culturas organotípicas do vestíbulo e do órgão

de Corti (Yamashita e col., 1995; Kuntz e Oesterle, 1998; Zine e Ribaupierre, 1998).

Nossos experimentos demonstram que o TGFα tem um efeito adicional

sobre o número de otoesferas formadas, resultando em número 2,5 vezes maior

quando comparado com o grupo bFGF, o que está de acordo com a literatura.

Nenhuma diferença significativa foi observada no número de células presentes em

cada otoesfera. No entanto, houve uma tendência para valores mais elevados no

grupo TGFα. Não foi possível demonstrarmos a atividade proliferativa direta das

células das otoesferas, por meio do ensaio com BrdU (Bromodeoxiuridina) devido à

marcação inespecífica na imunofluorescência (dados não mostrados). Embora esse

protocolo precise ser padronizado para essas condições in vitro, conseguimos

registrar durante o período de cultivo a expansão do tamanho das otoesferas de

ambas as espécies (cobaias e camundongos), o que é indiretamente sugestivo de

proliferação celular (Figura 4.4.).

Observamos que as otoesferas de cobaias e camundongos apresentaram, por

meio de reação de imunofluorescência indireta, marcação positiva para os

anticorpos anti-Sox2 e anti-nestina. A presença de células que expressam esses dois

marcadores corrobora as evidências da presença de células progenitoras na orelha

89

interna de camundongos e cobaias no período pós-natal, que retêm um fenótipo

indiferenciado. É importante salientar que, em cobaias, essa foi a primeira

demonstração da presença de células com características de progenitoras no órgão

de Corti em condições de cultivo não aderentes (Oiticica e col., 2010 – Anexo B).

Nossos resultados mostram claramente marcação positiva com os anticorpos anti-

miosina VIIa e anti-jagged2, característica de células ciliadas, e anti-p27kip1 e anti-

jagged1, característica de células de suporte, evidenciando a diferenciação das

otoesferas em condições adequadas de cultivo (Figuras 4.7. e 4.8.). Em todos os

marcadores utilizados foi possível observar a distribuição subcelular esperada, ou

seja, miosina VIIa em processos celulares, jagged1 e 2 na membrana plasmática e

localização nuclear para p27kip1. Esses resultados confirmam o fenótipo

indiferenciado das otoesferas e seu comprometimento para a diferenciação dos

diferentes tipos celulares presentes na orelha interna.

Acreditamos que o fato de não conseguirmos demonstrar a diferenciação das

otoesferas de cobaias em células de suporte e ciliadas é devido, provavelmente, ao

número limitado de células obtidas durante o seu cultivo (Tabela 4.2. e Figura 4.5.)

Tal evento também pode estar relacionado à maturação relativamente precoce da

cóclea em cobaias. Nessa espécie, já foi demonstrado que o potencial endococlear é

estabelecido ainda no período pré-natal, cerca de 12 a 15 dias antes do nascimento

(período gestacional 69-72 dias), enquanto que em camundongos, isso ocorre entre

P12 e P14 (período gestacional 19-21 dias)(Pujol, 1985). O potencial endococlear é

estabelecido somente após maturação completa do órgão de Corti e sinaliza o início

do processo auditivo. Em um estudo realizado pelo grupo de pesquisa do Prof.

Stephan Heller (Stanford University School of Medicine, Stanford, USA) foi relatada a

formação de um número reduzido de otoesferas a partir do cultivo de células do

órgão de Corti de camundongos P21, que corresponde a aproximadamente nove

dias após a completa maturação do órgão de Corti (Oshima e col., 2007).

Considerando que utilizamos cobaias com três dias de vida e que a maturação do

órgão de Corti se dá cerca de 15 dias antes do nascimento, a obtenção de células

com características de progenitoras nessa espécie deve ser mesmo dificultada. O

limitado número de otoesferas produzidas in vitro e o restrito potencial de

90

diferenciação observados nas culturas do órgão de Corti de cobaias são também

evidências da maturação precoce da cóclea nessas espécies quando comparada a dos

camundongos.

4.6. Conclusão

Durante o período referente ao doutorado, conseguimos padronizar o cultivo

de células dissociadas do órgão de Corti de cobaias e camundongos, caracterizar as

células presentes nas otoesferas formadas nessas culturas por imunofluorescência

indireta e avaliar o seu potencial de renovação e de diferenciação em células ciliadas

e de suporte, atingindo o nosso objetivo. Nossos resultados indicam que o

enriquecimento do meio de cultura com os fatores de crescimento EGF e TGFα é

uma boa alternativa para obtenção de maior número otoesferas. A espécie Mus

musculus se mostrou ser a mais adequada ao estabelecimento de culturas em

suspensão de otoesferas quando analisadas entre P2 e P3.

Em experimentos futuros, pretendemos selecionar as células de suporte

obtidas após diferenciação e avaliarmos sua capacidade de cultivo in vitro, para

futuramente podermos utilizar essas células em nossos estudos sobre proteínas

parceiras da conexina 26.

91

CAPÍTULO 5

91

CAPÍTULO 5 Pesquisa e identificação de proteínas que interagem com a Cx26

5.1. Introdução

Regiões de interação entre células ou entre célula e substrato são

especializações da membrana plasmática formadas por complexos protéicos que se

associam à membrana plasmática, às moléculas do citoesqueleto e da matriz

extracelular. Tais complexos incluem as junções ocludentes (tight junction), as junções

de ancoramento (junções aderentes, desmossomas e hemidesmossomas) e as

junções do tipo fenda (Duffy e col., 2002).

Nos vertebrados, as conexinas são as proteínas estruturais constituintes dos

canais de junção do tipo fenda. No desenvolvimento, crescimento e diferenciação

celular, esses canais e desempenham importante função na regulação da homeostasia

tecidual, por meio da manutenção do pH e de concentrações iônicas. Além disso,

promovem rápido transporte de pequenas moléculas entre células respondendo pelo

fluxo direto de moléculas com massa molecular inferior a 2000 dáltons, como íons

(K+, Cl-), mensageiros secundários (IP3, AMPc e Ca+2), nucleotídeos (ADP, ATP e

CTP), compostos do metabolismo intermediário (aminoácidos) e RNAs curtos. Os

canais de junções do tipo fenda estão localizados em pontos específicos da

membrana plasmática de duas células adjacentes formando estruturas altamente

organizadas denominadas placas juncionais (Alberts e col., 2007, Dbouk e col.,

2009). Nesses locais, tem-se demonstrado que as conexinas interagem com diversos

outros componentes celulares que incluem elementos do citoesqueleto, enzimas

(cinases e fosfatases), moléculas de adesão e moléculas sinalizadoras (Duffy e col.,

2002; Hervé e col., 2007; Derangeon e col., 2008; Dbouk e col., 2009; Dror e

Avraham, 2009; Laird e col., 2009).

Na região apical das células polarizadas, tem se observado frequentemente

que as placas juncionais do tipo fenda mostram co-localização em relação às placas

juncionais ocludentes, formando um complexo juncional. Vários estudos mostraram

interação entre as conexinas e as proteínas das zônulas ocludentes ZO-1, ZO-2 e

92

ZO-3 (sinônimo atualmente das Tight Junction Protein: TJP1, TJP2 e TJP3,

respectivamente) (Hervé e col., 2004; Hervé e col., 2007; Derangeon e col., 2008;

Dbouk e col., 2009; Dror e Avraham, 2009; Laird e col., 2009). As proteínas ZO das

junções ocludentes de células epiteliais e endoteliais apresentam vários domínios

PDZ (densidade pós-sináptica 95, grandes discos, zônula-ocludentes-1),

responsáveis por ancorar proteínas integrantes de membrana às do citoesqueleto,

que apresentam o motivo de ligação a PDZ ou PDZbm (Hervé e col., 2004; Brône e

Eggermont, 2005). Esses estudos sugeriram que essas interações entre as proteínas

ZO e as conexinas podem ter um papel regulatório na organização das placas de

junções do tipo fenda (Kausalya e col., 2001; Hervé e col., 2004; Laird, 2005). O

motivo PDZbm já foi funcionalmente demonstrado na região C-terminal das

conexinas Cx30, Cx31.9, Cx32, Cx36, Cx40, Cx43, Cx45, Cx46, Cx47 e Cx50

(Tabela 5.1.). Interações entre domínios PDZ e PDZbm são um modelo recorrente

para explicar o ancoramento de proteínas integrantes da membrana plasmática.

Observa-se pela tabela 5.1. que, apesar da divergência em geral dos últimos dez

resíduos C-terminais dessas conexinas, há algumas posições conservadas, como a

última em que se observa serina (S), isoleucina (I), cisteína (C) ou valina (V) e três

resíduos anteriores a última com a presença de serina (S), aspartato (D), cisteína (C)

ou treonina (T) (marcados com asterisco).

Por outro lado, são poucas as proteínas conhecidas por interagirem física e

funcionalmente com a Cx26. Em linhagem celular do intestino humano, foi descrita

interação entre a Cx26 e um domínio específico da ocludina, que por sua vez

interage com o domínio PDZ da ZO-1 (Nusrat e col., 2000). São conhecidas as

proteínas OCP1/Fbox2 e OCP2/Skip1 que parecem relacionar-se à degradação da

Cx26 e a consortina, proteína relacionada com o trânsito das Cx26 e Cx30 do

complexo de Golgi à membrana plasmática (Nusrat e col., 2000; Nelson e col., 2007;

Del Castillo e col., 2010).

A identificação de novas proteínas que interagem com a Cx26 pode ampliar

o conhecimento funcional sobre as conexinas, indicar novos genes candidatos à

surdez sindrômica e não-sindrômica, além de poder explicar os casos de surdez

decorrentes de mutação isolada no gene GJB2. Estes casos poderiam ser atribuídos à

93

herança digênica, ou seja, interação gênica entre o lócus da Cx26 e outros

codificadores de proteínas distintas, porém associadas física e funcionalmente a ela.

Alterações na sequência de aminoácidos ou nos níveis de expressão dessas proteínas

poderiam perturbar sua interação com a Cx26 e levar à disfunção coclear e perda

auditiva. Se essas alterações forem determinadas por alterações nos genes que

codificam essas proteínas, novos genes e novas mutações potencialmente

causadoras de surdez poderão ser identificados.

Tabela 5.1. Relação das conexinas descritas por interagir com os domínios PDZs das proteínas ZO-1 e a sequência dos últimos dez resíduos da região C-terminal de cada para a espécie (Mus musculus).

Cx ID NCBI Ligante Domínio 10 últimos resíduos

do CT (mus) Referência

* * Cx30 NP_001010937.1

ZO-1 PDZ-2 G G N A I T S F P S Penes e col., 2005

Cx31.9CAC93843.1 ZO-1 PDZs L A T V R G D L A I Kojima e col., 2001

Cx32 NP_032150.2 ZO-1 PDZ-1 A E K S D R C S A C Flores e col., 2008 Cx36 AD13684.1 ZO-1 PDZ-1 R T Q S S D S A Y V Li e col., 2004ª

Cx40 AA43850.1 ZO-1 PDZ-1 S K A R S D D L S V Nagasawa e col, 2006

Cx43 NP_034418.1 ZO-1 PDZ-2 S R P R P D D L E I

Toyofuku e col., 1998 Barker e col., 2002 Duffy e col., 2004 Sorgen e col., 2004 Jin e col., 2004 Hunter e col., 2005 Girao e col., 2007

Cx45 NP_032148.1 ZO-1 PDZs S G D G K T S V W I Kausalya e col., 2001 Laing e col., 2005

Cx46 NP_058671.2 ZO-1 PDZ-2 G R A R P G D L A I Nielsen e col, 2001

Cx47 NP_780661.2 ZO-1 PDZ-2 S R D G K A T V W I Li e col., 2004b

Cx50 AAG42241.1 ZO-1 PDZ-2 S R A R S D D L T I Nielsen e col, 2003

5.2. Objetivo

O objetivo desta etapa do trabalho foi identificar proteínas que interagem

com a Cx26 e, desta forma, procurar compreender melhor as vias funcionais que

atuam nessas células. Esses estudos podem culminar com a descoberta de novos

genes candidatos para surdez, que possam interagir com o gene GJB2. Pretendemos

94

contribuir, com esse estudo, para o esclarecimento de aspectos da fisiologia da

audição e da patogênese da surdez de herança autossômica recessiva.

Para atingir esses objetivos, foram executadas as seguintes etapas:

� Construção de um clone recombinante contendo a sequência codificadora

da região C-terminal da Cx26 em fusão com a da proteína GST (glutationa-S-

transferase) e produção de uma proteína de fusão Cx26/C-term-GST ou GST-Cx26

em fração solúvel.

� Realização de ensaios de precipitação por afinidade entre as proteínas GST-

Cx26 ou GST (GST sozinha) e as proteínas extraídas de tecido de camundongo que

expressa a Cx26.

� Identificação e análise das proteínas que interagem com a região C-terminal

da Cx26, por meio de análise por espectrometria de massas das proteínas presentes

em bandas de SDS-PAGE, obtidas no ensaio de precipitação com a proteína de

fusão GST-Cx26, mas não obtidas no ensaio com a GST.

5.3. Animais e Métodos

5.3.1. Animais

Utilizamos animais da espécie Mus musculus (camundongos C57BL/6) para

obtenção de tecidos que expressam a Cx26. A escolha dos tecidos com expressão

para a Cx26 foi feita com base na análise in silico realizada no banco de dados

UniGene e em literatura específica (NCBI; Nagy e col., 2001; Rash e col., 2001;

Altevogt e Paul, 2004). Os tecidos, cérebro e fígado, foram utilizados para obtenção

de DNA genômico para a amplificação pela PCR do fragmento que contém a

sequência codificadora terminal do gene Gjb2, a partir da primeira base do primeiro

códon após o quarto domínio transmembrânico até o códon de parada (região C-

terminal da Cx26). Esse fragmento foi utilizado para construção de uma proteína de

fusão. Além disso, com esses tecidos foram preparados os lisados celulares

utilizados no ensaio de precipitação por afinidade de proteínas.

95

Os animais vieram de outro estudo do Laboratório de Genômica Funcional

(CEP 109/2010). Todos os protocolos de manipulação realizados com esses animais

foram os mesmos que estão descritos na página 70, item 4.3.1., do capítulo 4.

Amostras de fígado e cérebro, após dissecção, foram imediatamente congeladas a -

80ºC.

5.3.2. Métodos

5.3.2.1. Clonagem e expressão de uma proteína com a sequência

codificadora para a região C-terminal da Cx26 em fusão com a GST

O vetor pGEX-4T-1 (GE Healthcare, Little Chalfont, Buckinghamshire,

UK) contém a sequência de cDNA codificadora para a Glutationa-S-Transferase de

Shistosoma japonicum seguida pelo sítio múltiplo de clonagem e códons de parada da

tradução, ou seja, é um vetor de expressão.

Utilizamos DNA genômico de camundongos para a clonagem neste vetor de

um segmento codificador para a região C-terminal da Cx26, que está contido no

único exon codificador do gene Gjb2. O DNA genômico foi procedente de fígado

total de camundongos (machos e fêmeas). Para extração do DNA genômico foi

utilizado o primeiro sobrenadante obtido da lise celular em LiCl 3M e uréia 6M

(20mg/mL de tecido) que foi homogenizado com o auxílio de uma seringa (10ml) e

agulha 8 mm em jato. Em seguida, o tecido foi incubado por 16 horas a 4ºC e

centrifugado por uma hora a 10.000 x g 4ºC. O DNA foi precipitado em álcool

isopropílico, ressuspendido em 200µL de água ultrapura, quantificado por

espectrofotômetro NanoDrop ND-1000 (NanoDrop Technologies, Rockland,

Delaware, USA) e conservado a -20ºC.

Para amplificar o segmento que contém a sequência codificadora para a

região C-terminal da Cx26, foi utilizado o par de iniciadores: CX26MOUSE – 1S 5’

CGA GGC CCG GGT TAT TGC TCA GGA AAG TCC A 3’ e MOUSECX26 –

1AS 5’ CGA GGG CGG CCG CTG GGT TCC TCT CTC CTG TC 3’ que

definem um segmento de 414pb. Para a realização da PCR, em um volume final de

96

10μL, contendo 30ng de DNA genômico, foram utilizados 0,5 pmoles de cada

iniciador, 1U de Taq polimerase, MgCl2 1,5mM, Tris 20mM pH8.4, KCl 50mM e

30μM de cada dNTP. As condições de amplificação foram as seguintes:

desnaturação inicial 95ºC por cinco min, 30 ciclos de desnaturação a 95ºC por 45

seg, hibridação a 58ºC por 45 seg, extensão a 72ºC por cinco min.

Após purificação do produto de PCR em gel agarose com o Kit in Concert

(Invitrogen, Carlsbad, CA, USA), de acordo com os procedimentos recomendados

pelo fabricante, ele foi inicialmente clonado com o sistema TOPO TA no vetor

pCR2.1-TOPO (Invitrogen, Carlsbad, CA, USA) em bactérias E.coli DH5α

transformadas por choque térmico. Colônias isoladas, crescidas em placas com meio

LB (Luria Broth) (Bacto-Triptona 10g/L, Bacto-Yeast 5g/L e NaCl 10g/L, pH 7.0)

com ágar 1% e 50µg/mL de ampicilina (TEUTO, Brasil) foram triadas pela PCR

com os iniciadores M13F (5’ GTA AAA CGA CGG CCA G 3’ ) e M13R (5’ CAG

GAA ACA GCT ATG AC 3’ em volume final de 10µL. O produto obtido da PCR

de clones que se revelaram recombinantes (fragmento de 615pb) foi então

purificado pelo Illustra GFX PCR DNA and gel purification Kit (GE Healthcare, Little

Chalfont, Buckinghamshire, UK), segundo instruções do fabricante e submetido à

reação de sequenciamento automático no ABI 3730xl DNA Analyzer (Applied

Biosystems, Foster City, California, USA), para confirmação de que o produto

inserido no vetor correspondia à sequência correta do fragmento de 414pb clonado,

que incluía a região C-terminal da Cx26.

A extração dos plasmídios recombinantes foi realizada pelo método de lise

alcalina de acordo com procedimentos já bem estabelecidos (Sambrook e col., 1989).

A sequência dos iniciadores SMACX26-1S e NOTCX26-1A utilizados para

amplificação do DNA genômico de camundongo (414pb) incluem sítios para as

enzimas de restrição SmaI e NotI. Assim, após extração do DNA dos plasmídeos

recombinantes por lise alcalina foi realizada a digestão com as enzimas SmaI e NotI

(Invitrogen, Carlsbad, CA, USA), de acordo com as instruções do fabricante, para a

liberação do inserto e posterior subclonagem em DNA do vetor pGEX-4T-1, em

seu sítio de clonagem múltipla, digerido com as mesmas enzimas e desfosforilado

97

pela Calf Intestinal Alkaline Phosphatase (CIAP) (Invitrogen, Carlsbad, CA, USA),

seguindo as recomendações do fabricante.

O DNA plasmidial dos vetores pGEX-4T-1 contendo GST ou GST-Cx26

foi usado para transformar E. coli BL21, linhagem celular que apresenta alto

potencial de expressão de proteínas. Para expressão proteica, foram semeadas

células E.coli BL21 recombinantes, a partir do estoque a -80°C, em placa de Petri

contendo meio LB ágar com 50µg/mL ampicilina (TEUTO, Brasil). As placas

foram mantidas em estufa a 37°C por 16 horas. Colônias frescas foram transferidas

da placa para um tubo plástico de 15mL contendo 6 mL de meio LB líquido com

50µg/mL ampicilina (TEUTO, Brasil) e crescidas sob agitação a 37°C por 16 horas.

Um mililitro do meio foi utilizado para quantificação no espectrofotômetro à luz

visível (600nM) usando meio LB estéril como referência para medir a D.O.

(densidade óptica). Após verificação da D.O., as culturas contidas em meio LB

líquido foram diluídas para obtenção de solução com uma D.O. de 0,2 e crescidas

sob agitação a 37°C por duas horas para atingir D.O. entre 0,4 e 0,6. Quatro

alíquotas de 1mL de cada cultura, GST-Cx26 e GST, foram separadas e a três de

cada quatro foi adicionado IPTG (Isopropyl β-D-1-thiogalactopyranoside) (Invitrogen,

Carlsbad, CA, USA) para obtenção das concentrações finais de 0,05mM, 0,2mM e

0,5mM, respectivamente. Em uma das alíquotas não foi adicionado IPTG. As

amostras foram incubadas sob agitação a 37ºC por duas horas. Após indução com

IPTG, as suspensões de bactérias foram centrifugadas a 10.000 x g por cinco min

para obtenção de pellet que continha a proteína expressa. O pellet foi ressuspendido

em tampão de amostra, GSD 3X (glicerol 34%, SDS 20%, DTT 1M, azul de

bromofenol) e metade da amostra foi submetida a eletroforese em NuPAGE®

Novex® Bis-Tris 12% (Invitrogen, Carlsbad, CA, USA) ou em gel SDS-PAGE

(dodecil sultato de sódio) 10% e corados com azul de Coomassie (Sigma-Aldrich, St

Louis, MO, USA) para análise das proteínas. A outra metade da amostra foi utilizada

para realização do Western blotting.

Para confirmação da presença das bandas referentes às proteínas GST-Cx26

e GST após indução de expressão por IPTG foi realizado o Western blotting com o

anticorpo primário Anti-GST (Invitrogen, Carlsbad, CA, USA). As amostras

98

contendo as proteínas GST-Cx26 e GST foram submetidas à eletroforese em gel

SDS-PAGE (dodecil sultato de sódio) 12% e transferidas para membranas de

nitrocelulose (Nitrocellulose Membrane - BioRad, Hercules, CA, USA). Para o

bloqueio da membrana de nitrocelulose foram utilizados 1% de caseína (Sigma-

Aldrich, St Louis, MO, USA) em TBST (TBS: Tris 50mM, NaCl 250mM, pH 7,6

com 0,05% de Tween 20/Sigma-Aldrich, St Louis, MO, USA) e a membrana foi

incubada sob agitação por uma hora à temperatura ambiente. Após o bloqueio, a

membrana foi lavada em TBST três vezes e foi adicionado o anticorpo primário

anti-GST (Invitrogen, Carlsbad, CA, USA) na proporção de 1:5000, seguido de

incubação por uma hora à temperatura ambiente. O segundo anticorpo, conjugado a

anti-IgG (camundongo), foi adicionado na diluição de 1:20000 (Amersham

Biosciences, Buckinghamshire, UK) e incubado por uma hora, seguido de três

lavagens com TBS e em seguida incubado por uma hora com ECL plusTM para a

peroxidase (Amersham Biosciences, Buckinghamshire, UK). Após este

procedimento a membrana de nylon foi revelada em filme Kodak X-Omat K XK-1 13

X 18 cm.

5.3.2.2. Obtenção de proteínas recombinantes em condições solúveis

ou insolúveis

Uma vez determinada a melhor condição para expressão das proteínas GST-

Cx26 e GST, clones GST-Cx26 e GST foram crescidos em meio LB líquido com

ampicilina 50 µg/mL (TEUTO, Brasil) e IPTG (Invitrogen, Carlsbad, CA, USA)

com concentração final de 0.5mM para indução das culturas, até atingir densidade

óptica entre 0.4 e 0.6 a 600nm ao espectrofotômetro. Foram separadas duas

alíquotas de 1,5ml de cultura que foram centrifugadas por 1min a 10.000 x g. As

duas alíquotas foram submetidas a processos diferentes para que fosse verificada a

solubilidade da proteína de fusão.

Para isolamento de ambas as proteínas na fração solúvel, após centrifugação,

o pellet de uma das alíquotas foi ressuspendido em PBS (NaCl 137mM, KCl 2,7mM,

Na2HPO4 10.0mM e KH2PO4 1,76mM, pH 7.4) contendo inibidor de protease

99

(Pefabloc- Roche Applied Science, Indianapolis, IN, USA) 100ng/µL e lisozima

(Sigma-Aldrich, St Louis, MO, USA) a 10mg/mL, e incubado em gelo por 15

minutos. A amostra foi submetida a dois ciclos rápidos de congelamento e fusão,

seguido de centrifugação por 15 min, 10.000 x g a 4ºC para a separação do

sobrenadante que contém as proteínas solúveis. Ao sobrenadante foi adicionado

GSD 3X na proporção 1:3.

Para isolamento de cada proteína GST-Cx26 e GST na fração insolúvel, após

centrifugação, o pellet da outra alíquota foi ressuspendido em 100µL de TNE (NaCl

100mM, EDTA 1mM, Tris 50mM pH 8.0) contendo lisozima a 10mg/mL (Sigma-

Aldrich, St Louis, MO, EUA), incubado à temperatura ambiente por 20 minutos e

centrifugado por 10min, 10.000 x g a 4ºC. O sobrenadante foi descartado e o pellet

foi ressuspendido em TNE gelado contendo 0,1% de DOC (Ácido Desoxicólico -

Sigma-Aldrich, St Louis, MO, USA), seguido de nova incubação em gelo por dez

min com agitação ocasional. Foi adicionado MgCl2 para uma concentração final de

8mM e 10U/µL de DNase (Invitrogen, Carlsbad, CA, USA), a amostra foi

centrifugada por 15 min, 10.000 x g a 4ºC e o pellet foi lavado com TNE gelado

adicionado de 1% de Igepal 30 (Sigma-Aldrich, St Louis, MO, USA) e centrifugado

por dez min, 10.000 x g a 4ºC, seguido de 2 lavagens com TNE gelado. O pellet foi

então ressuspendido em 30µL de GSD 3X.

Ambas as alíquotas, fração solúvel e insolúvel, após adição de GSD 3X,

foram incubadas a 95ºc por 10 min e submetidas à eletroforese em mini-géis

NuPAGE® Novex® Bis-Tris 12% (Invitrogen, Carlsbad, CA, USA) ou em gel SDS-

PAGE (dodecil sultato de sódio) 10% e coradas com azul de Coomassie (Sigma-

Aldrich, St Louis, MO, USA) para identificação da proteína de fusão nas duas

frações (solúvel e/ou insolúvel).

Após confirmar a solubilidade da proteína de fusão, ensaios de expressão em

grande quantidade foram realizados para obtenção de grande volume de ambas

proteínas, GST-Cx26 e GST. Essas proteínas foram quantificadas e alíquotas de

600pmoles para o ensaio de precipitação por afinidade foram preparadas como

descrito abaixo.

100

Para quantificação, 100µL do sobrenadante da fração solúvel das proteínas

GST-Cx26 ou GST e 40 µL de sefarose GST Bind Resin ligada à glutationa (GSH)

em 50% de PBS (Novagen, Darmstadt, Germany) foram incubadas, sob agitação, a

temperatura ambiente por 30 min. Após incubação as amostras foram lavadas três

vezes com tampão PBS e foi adicionado 20µL de GSD 3X. As amostras foram

incubadas a 95ºc por 10 min e submetidas à eletroforese em mini-géis NuPAGE®

Novex® Bis-Tris 12% (Invitrogen, Carlsbad, CA, USA) ou em gel SDS-PAGE 10%

junto com BSA (Invitrogen, Carlsbad, CA, USA) em concentrações diferentes e

crescentes para quantificação das proteínas por comparação de intensidade de

bandas com o BSA e submetidas à eletroforese. Os geis foram corados com azul de

Coomassie (Sigma-Aldrich, St Louis, MO, USA).

Após quantificação, alíquotas de 600pmoles das proteínas GST-Cx26 e GST

foram preparadas e armazenadas a -80ºC. Essas alíquotas foram utilizadas para o

ensaio de precipitação por afinidade.

5.3.2.3. Ensaios de precipitação por afinidade entre a proteína de fusão

recombinante (GST-Cx26) e proteínas do lisado celular

Para o preparo do lisado celular foram utilizados três tampões diferentes de

lise para se tentar obter os melhores resultados da extração de proteínas do

complexo da Cx26, maximizando-se as chances de resultados reprodutíveis e

ligações específicas. As composições desses tampões estão descritas na Tabela 5.2.

Cerca de 100mg de tecidos obtidos de fígado e cérebro foram

homogeneizados em 5mL dos tampões de lise EGTA e/ou EDTA, lisados no gelo

por 30 min e centrifugados por 30 min, por 14.000 x g a 4°C. Os sobrenadantes

foram transferidos para tubo plástico de 15mL e foram utilizados para ensaio de

precipitação por afinidade.

Cerca de 50mg de tecidos obtidos de fígado e cérebro foram

homogeneizados em 10mL de tampão PHEM e incubados por dois min a 37ºC.

Procedeu-se a centrifugação por 5 min, 14.000 x g a 4ºC. O sobrenadante, que

101

contém as proteínas solúveis, foi separado para ensaio de precipitação por afinidade

e o pellet, que contém a fração proteica insolúvel, foi ressuspendido em 200µL de

tampão PHEM, desprovido de EGTA e MgCl2, mas adicionado incluindo EDTA

0,5mM. As amostras oriundas do pellet foram centrifugadas por 20 min, 14.000 x g a

4ºC e os sobrenadantes foram transferidos para tubo plástico de 15mL e utilizados

para ensaio de precipitação por afinidade.

Tabela 5.2. Composição dos três diferentes tampões de lise utilizados para o ensaio de precipitação por afinidade.

Tampão EGTA Tampão EDTA Tampão PHEM

Tris-HCl pH 7,4 50mM Tris-HCl pH 7,4 50mM PIPES pH 6,9 60mM

NaCl 150mM NaCl 150mM HEPES 25mM

EGTA 10mM EDTA 1 mM EGTA 10mM

MgCl2 2mM MgCl2 2mM

Inibidor de protease 1 1:50 Inibidor de protease1 1:50 Inibidor de protease 1 1:50

Na3VO4 2 2mM Na3VO4 2 2mM

NaF 3 10mM NaF 3 10mM

Falacidina 4 5µM

Triton X-100 0,75% Triton X-100 0,75% Triton X-100 0,75%

1 inibidor de protease de mamífero (Sigma-Aldrich, St Louis, MO, EUA). Na3VO42 : inibidor de fosfatase de resíduo de tirosina fosforilada: (Sigma-Aldrich, St Louis, MO, EUA ). NaF 3: inibidor de fosfatase de resíduo de serina ou treonina fosforilada: (Sigma-Aldrich, St Louis, MO, EUA). inibidor de fosfatase de resíduo de tirosina fosforilada: (Sigma-Aldrich, St Louis, MO, EUA ). 4 Falacidina (Sigma-Aldrich, St Louis, MO, EUA)

Para o ensaio de precipitação por afinidade, a proteína de fusão expressa

deve ter afinidade por outra molécula já conhecida, ligada de modo covalente a

contas de sefarose. O sistema utilizado neste estudo foi o da ligação da proteína de

fusão com glutationa-S-transferase (GST), a qual se liga com avidez à glutationa

(GSH) das contas de sefarose. Para ligação das proteínas GST-Cx26 ou GST, as

alíquotas de 600pmoles de ambas as proteínas e 200µL de sefarose GST Bind Resin

ligada à glutationa (GSH) em 50% de PBS (Novagen, Darmstadt, Germany) foram

incubadas, sob agitação, à temperatura ambiente por 30 min. Após incubação as

amostras foram lavadas três vezes com tampão PBS (Invitrogen, Carlsbad, CA,

102

USA) contendo inibidor de protease (Pefabloc, Roche Applied Science, Indianapolis,

IN, EUA) e utilizadas para ensaio de precipitação por afinidade.

Após a ligação das alíquotas de 600pmoles das proteínas GST-Cx26 ou GST

às contas de sefarose com GSH, foram adicionados 1mL dos lisados celulares

obtidos de fígado ou cérebro (tampões EGTA, EDTA e PHEM) e as amostras

foram mantidas sob agitação por 16h a 4ºC. Como controle negativo, foram

utilizadas alíquotas de 600pmoles da proteína de fusão recombinante ligadas

somente às contas de sefarose (sem lisado) e 200µL de contas de sefarose com GSH

ligadas aos lisados celulares (sem GST ou GST-Cx26). Alíquotas de 200µl contendo

somente as contas de sefarose também foram utilizadas como controle.

Após incubação, as amostras foram lavadas 4 vezes em seus respectivos

tampões de lise, desprovidos do detergente, e ressuspendidas em 100µL de PBS

(Invitrogen, Carlsbad, CA) e 30 µL de GSD 3X. As amostras foram incubadas a

95ºc por 10 min e submetidas à eletroforese em geis SDS-PAGE (dodecil sultato de

sódio) de diferentes concentrações (6%, 8%, 10%, 12% e 14%) e coradas com azul

de Coomassie.

5.3.2.4. Identificação proteica por espectrometria de massas

Após análise dos geis de SDS-PAGE para verificar as bandas presentes no

ensaio de precipitação com a proteína GST-Cx26 e ausentes no ensaio com a GST,

as bandas identificadas foram recortadas e enviadas para análise por espectrometria

de massa para o CHUQ, Centre Hospitalier Universitarie Quebéc, no Canadá. Para evitar

resultados falso-positivos, como experimento controle, também foram recortadas as

fatias dos geis da pista referente ao ensaio de precipitação com a proteína GST

(sozinha), cuja posição era correspondente às das fatias de geis recortadas que

continham as bandas presentes apenas no ensaio com a proteína GST-Cx26.

A identificação das proteínas precipitadas e presentes nas bandas isoladas de

geis para as canaletas GST ou GST-Cx26 foi realizada por prestação de serviço em

Quebéc, Canadá, no CHUQ Centre Hospitalier Universitarie Quebéc. Basicamente, as

103

fatias recortadas dos geis de SDS-PAGE foram digeridas com tripsina, como

descrito previamente por Jeronimo e col., (2004) e os peptídeos trípticos resultantes

foram purificados e identificados por espectrometria de massas (LC-MS/MS) com a

seguinte configuração: microcapilares com colunas de fase reversa e sob alta pressão,

acoplados a espectrômetro de massas com analisador do tipo íon quadrupolo

DecaXP LCQ (ThermoFinnigan) ou LTQ-LTQ Orbitrap (ThermoElectron) e ionizador do

tipo nanospray. Os resultados foram recebidos por correio eletrônico e analisados

com o Scaffold 3 proteomic software (Searle, 2010)

As análises das proteínas identificadas por meio do Scaffold 3 proteomic software

foram realizadas de acordo com as instruções recebidas pelo CHUQ Centre

Hospitalier Universitarie Quebéc. Esse software permitiu o acesso à lista de todas as

proteínas identificadas tanto nas bandas recortadas dos geis de SDS-PAGE do

ensaio de precipitação por afinidade com a proteína GST-Cx26, quanto nas bandas

correspondentes ao ensaio da proteína GST (grupo controle). Para facilitar as

análises, os resultados foram agrupados em duplas, listando as proteínas

identificadas e o número de peptídeos com similaridade para cada uma em cada

ensaio, GST ou GST-Cx26. O programa permite localizar os peptídeos na sequência

da proteína identificada (exemplo no Anexo D) e a porcentagem de resíduos da

proteína identificados por peptídeos trípticos.

A probabilidade de identificação correta de uma proteína pelo Scaffold 3

proteomic software é calculada separadamente para cada amostra, com base no número

de peptídeos identificados com similaridade à sua sequência de aminoácidos e no

percentual de similaridade entre a sequência do peptídeo identificado e da proteína,

de acordo com o banco de dados utilizado. Consideramos como resultado positivo

toda proteína com pelo menos duas sequências peptídicas identificadas com

similaridade de pelo menos 95%, o que resulta em uma probabilidade de

identificação da proteína maior que 95% (Figura 5.1.).

Para seleção das proteínas candidatas que interagem com a região C-terminal

da Cx26 para análise foram utilizados os seguintes critérios:

104

� proteínas presentes nas bandas recortadas dos géis de SDS-PAGE do

ensaio de precipitação por afinidade com a proteína GST-Cx26 com dois ou mais

peptídeos identificados em sua sequência de aminoácidos e probabilidade de

peptídeos maior que 95%, e:

� proteínas ausentes nas bandas recortadas dos géis de SDS-PAGE do ensaio

de precipitação por afinidade com a proteína GST ou com apenas um peptídeo

identificado em sua sequência de aminoácidos e probabilidade de peptídeos menor

que 50% (Figura 5.1. e Anexo C).

5.3.2.5. Análises in silico

Todas as análises in silico se sequências de DNA ou proteínas seguiram as

recomendações dos sites consultados, citados no indice .

Figura 5.1. Gráfico mostrando a variação da probabilidade de identificação correta de uma proteína (eixo Y) pelo Scaffold 3 proteomic software, em função ao número de peptídeos identificados e probabilidade de identificação correta (eixo X) que reflete a porcentagem de similaridade Este cálculo é feito separadamente para cada amostra analisada e mostra que a probabilidade de identificação da proteína é maior quando dois ou mais peptídeos únicos são identificados em sua sequência com alta similaridade.

105

5.4. Resultados

5.4.1. Clonagem e expressão de uma proteína com a sequência

codificadora para a região C-terminal da Cx26 em fusão com a GST

As análises in silico da sequência da Cx26 de Mus musculus nos bancos de

dados PSORT WWW server, ExPASy Proteomics server, KYTE DOOLITTLE

HYDROPATHY PLOT e NCBI mostraram que a extensão do domínio C-terminal

da conexina 26 após o último domínio transmembrânico corresponde a 10

aminoácidos, sendo que essa região difere em apenas um único aminoácido entre as

espécies Mus musculus e Homo sapiens (Tabela 5.3.). Observamos que esta região C-

terminal da Cx26 é divergente da de outras dez conexinas da Tabela 5.1. (página 93),

com similaridade apenas com a valina (V) C-terminal das conexinas 36 e 40.

A partir do conhecimento da extensão da região C-terminal citosólica da

Cx26, de Mus musculus um par de iniciadores foi desenhado que definia um

fragmento de 414pb a ser amplificado a partir de DNA genômico, uma vez que está

contido inteiramente no único exon codificador do gene Gjb2. O segmento inclui a

região codificadora terminal do gene Gjb2 de camundongos, desde a primeira base

do primeiro códon após o quarto domínio transmembrânico até o códon de parada

e parte da região 3’UTR. Sítios de restrição estavam presentes na extremidade 5’ de

cada iniciador, respectivamente, para as enzimas SmaI (iniciador sense) e NotI

(iniciador antisense) para permitir a clonagem direcional no vetor pGEX-4T-1. A

sequência do sítio de restrição para SmaI (CCCGGG) está contida nas trincas de

bases 225 (TTC), 226 (CCG) e 227 (GGT) que contêm os códons para os

aminoácidos fenilalanina (F), prolina (P) e glicina (G), respectivamente. Esses

códons fazem parte da sequência codificadora para uma região C-terminal

adicionada a Glutationa S-Transferase (GST) e se encontram no sítio múltiplo de

clonagem do vetor pGEX-4T-1 (Schistosoma japonicum). O vetor pGEX-4T-1 é

próprio para a expressão de proteínas em bactérias a partir da ativação do promotor

lac. As células portadoras do vetor de expressão contendo o gene de interesse devem

expressá-lo após a adição do indutor IPTG ao meio de cultura, o qual vai ativar a

região operadora (lac o) do promotor lac, permitindo que o gene alvo seja expresso

(http://www.gelifesciences.com; Handbook GST Gene Fusion System).

106

Tabela 5.3. Sequência dos dez aminoácidos que compõem a região C-terminal da Cx26 nas espécies Mus musculus e Homo sapiens.

Sequência de aminoácidos da região C-terminal da Cx 26

Organismo (ID NCBI)

YCSGKSKRPV Mus musculus (NM_008125.3 ) YCSGKSKKPV Homo sapiens (NP_003995.2 )

Para expressar em bactérias a proteína de fusão (ou proteína GST-Cx26) que

foi utilizada como “isca” para identificação de proteínas que interagem com a Cx26,

o amplicon de 414pb que contém a sequência codificadora para a região C-terminal

da Cx26 foi purificado e clonado primeiramente no sistema TOPO e,

posteriormente, foi feita a subclonagem no vetor pGEX-4T-1. A escolha da

clonagem por meio do sistema TOPO seguida da subclonagem no vetor pGEX-4T-

1 ocorreu pela melhor eficiência observada em laboratório da clonagem no TOPO.

Após clonagem do fragmento de 414pb no sistema TOPO, os clones

recombinantes contendo a sequência codificadora para a região C-terminal da Cx26

foram digeridos com as enzimas de restrição SmaI e NotI e subclonados no vetor

pGEX-4T-1. Sequenciamos os DNAs plasmidiais obtidos dos clones pGEX-4T-1

recombinantes com a sequência de DNA da GST em fusão à região C-terminal da

Cx26 (ou clones GST-Cx26) para confirmar a fase de leitura para tradução. Os

clones GST-Cx26 confirmados como apresentando a sequência inteiramente correta

e em fase foram utilizados para transformar linhagens de E. coli BL21 (Figura 5.2). A

linhagem de E. coli BL21 foi escolhida por apresentar características importantes

para o processo de expressão como a deleção de genes que codificam proteases (ton

e ompT) e uma mutação no gene rne131 (RnaseE) responsável pela degradação de

RNAm, o que aumenta a estabilidade do RNAm transcrito e consequentemente a

síntese protéica. Além destas deleções, esta linhagem apresenta no genoma o gene

lacI e uma cópia do gene T7 RNA polimerase, importantes para a indução da

expressão da proteína de interesse (http://www.promega.com; Technical Bulletin:

E. coli Competent Cells).

Para a indução de expressão das proteínas, foram testadas concentrações

crescentes de IPTG (0,01mM, 0,25mM e 0,5mM) e duas diferentes temperaturas,

30ºC e 37ºC. A melhor condição para expressão foi a que utilizou IPTG a 0,5mM e

107

a temperatura de 37ºC (Figura 5.3.). Como explicado, o sistema de expressão do

vetor é induzido por IPTG e se busca por uma expressão específica para ambos os

clones: um deles expressando a GST sozinha (GST) e o recombinante para a Cx26,

expressando a proteína de fusão (GST-Cx26) (Figuras 5.2. B e C). A proteína GST

possui massa molecular de 26kDa. Já a proteína GST-Cx26, ou seja, a proteína GST

em fusão com a região C-terminal da Cx26 tem massa molecular de 26,71kDa. O

amplicon de 414pb clonado no vetor pGEX-4T-1, contém a sequência

correspondente aos 10 códons para a região C-terminal da Cx26 e a seguir ocorre

um códon de parada. Ao ser inserido no vetor pGEX-4T-1 ele remove oito códons

da sequência da GST recombinante (GST-Cx26). Desse modo, a diferença de

massa molecular entre as duas proteínas expressas, GST e GST-Cx26, corresponde

apenas dois aminoácidos. Uma vez que ambas as proteínas apresentam massas

moleculares praticamente idênticas, não é possível discriminar em SDS-PAGE as

bandas referentes às duas proteínas. Para confirmar a expressão das proteínas GST-

Cx26 e GST e sua localização, realizamos Western blotting com o anticorpo primário

Anti-GST a partir de uma alíquota do lisado contendo as proteínas expressas (Figura

5.4.).

Uma vez determinadas as melhores condições para expressão da proteína de

fusão, fizemos extração das frações proteicas solúveis e insolúveis em detergente a

0,75% (Figura 5.5.). Saber se a proteína expressa está na fração solúvel e/ou

insolúvel é um passo importante, pois as análises por precipitação por afinidade são

de preferência realizadas com proteínas solúveis. Ensaios realizados com proteínas

insolúveis podem causar resultados falso-positivos. Observamos a GST-Cx26 em

ambas as frações, solúvel e insolúvel (Figura 5.5.), o que pode ser frequentemente

observado neste sistema de expressão em bactérias induzido por IPTG, dado o

excesso de proteína de fusão produzida. Na situação de excesso, uma proteína pode

perder sua forma nativa, ou seja, uma proteína solúvel pode se apresentar como

insolúvel em corpúsculos de inclusão. Uma vez verificada a solubilidade das

proteínas, adotamos o protocolo de extração de proteínas solúveis e obtivemos após

quantificação, alíquotas de 600pmoles de ambas as proteínas, GST-Cx26 e GST

(Figura 5.6.).

108

Figura 5.2. Triagem das colônias recombinantes com o vetor pGEX-4T-1. Em A) exemplo de sequenciamento parcial de um clone contendo o segmento genômico para expressão da região C-terminal da Cx26 ligado ao vetor pGEX-4T-1. O eletroferograma mostra o resultado da sequenciamento realizado com iniciador sense específico para o vetor. A sequência na linha superior é a esperada do vetor, em preto, a do inserto, em vermelho. O sítio de restrição para SmaI encontra-se sublinhado, demonstrando assim que o fragmento foi inserido na fase correta. Em B) sequência do vetor pGEX-4T-1 (ou GST) com seus códons em fase de leitura até o códon de parada. As setas vermelhas indicam a região de corte das enzimas de restrição SmaI e NotI, indicando o local onde o amplicon de 414pb contendo a sequência para a região C-terminal da Cx26 foi inserido. Em C) sequência da proteína de fusão recombinante GST-Cx26. Em azul está representada a sequência do segmento de nucleotídeos inserido, incluindo o sítio de restrição da enzima SmaI (CCCGGG), seguido de uma T, para não alterar a fase de leitura e os dez códons da região C-terminal da Cx26, incluindo seu códon de parada.

O ensaio de precipitação por afinidade prevê a interação de uma matriz

sólida e inerte (sefarose) modificada para apresentar um componente com alta

afinidade (GSH) a uma molécula que servirá como isca (GST-Cx26). No nosso caso,

a matriz sólida foi composta por sefarose ligada de forma covalente à glutationa

(GSH) (GST-Bind Resin - Novagen, Darmstadt, Germany), aqui denominada GSH-

beads. GSH tem alta afinidade por GST, a qual corresponde à maior parte da

proteína de fusão.

109

Figura 5.3. Padronização das condições de expressão das proteínas GST-Cx26 e GST. Eletroforese em SDS-PAGE a 14% dos lisados celulares de bactérias crescidas e induzidas em meio líquido. Diferentes concentrações de IPTG para padronização da expressão das proteínas GST-Cx26 e GST estão mostradas. Esse ensaio foi realizado à temperatura de 37ºC.

Figura 5.4. Western blotting para confirmação da expressão das proteínas GST-Cx26 e GST. À esquerda, eletroforese em SDS-PAGE a 14% com as proteínas GST-Cx26 e GST não induzidas e induzidas à expressão com IPTG a 0,05mM. À direita, resultado do Western blotting com o anticorpo primário anti-GST.

110

Para um ensaio de precipitação por afinidade a mistura deve conter além das

GSH-beads e da proteína de fusão, um lisado de tecido com relevância funcional

para o alvo, em razoável volume. Sabendo que o órgão de Corti possui um número

pequeno de células ciliadas (cerca de 20.000 ao nascimento) e um número de 3 a 5

vezes maior de células de suporte (Morris e col., 2005; Smeti e col., 2011), onde a

Cx26 é expressa, um número muito alto de animais seria necessário (pelo menos 20

animais para cada ensaio) para obtermos resultados reprodutíveis. Dessa forma,

decidimos escolher outros tecidos que expressam a Cx26 para nosso ensaio. Por isso,

desenvolvemos os ensaios com cérebro total e fígado de camundongos.

Figura 5.5. Solubilidade das proteínas GST-Cx26 e GST. Eletroforese em SDS-PAGE a 12% contendo as bandas das proteínas GST-Cx26 e GST expressas por indução com IPTG e isoladas da fração solúvel (S) e insolúvel (I). A seta indica a banda referente às proteínas GST-Cx26 e GST. T:lisado total.

Buscando possibilitar interações protéicas em condições iônicas distintas,

utilizamos nos ensaios de precipitação por afinidade três tampões diferentes para

lise de cérebro ou fígado (Tabela 5.2., página 101). Dois dos tampões de lise

utilizados apresentam praticamente a mesma composição, sendo a única diferença

entre eles, os quelantes, EDTA e EGTA, e no segundo caso houve a inclusão de

MgCl2 . O terceiro tampão de lise celular utilizado, “PHEM”, apresenta reagentes

específicos para estabilização dos elementos do citoesqueleto (falacidina) com alta

111

afinidade por actina filamentosa, além de triton X-100 que não desnatura esses

filamentos. Neste caso, nós temos duas frações, solúvel e insolúvel, sendo que a

fração insolúvel contém os componentes do citoesqueleto, enquanto que a fração

solúvel contêm as demais proteínas. Em todos os tampões utilizamos como

detergente o triton X-100 na concentração de 0,75%.

Figura 5.6. Quantificação e purificação das proteínas GST-Cx26 e GST. Eletroforese em SDS-PAGE a 12% em que houve eletroforese de lisados de bactérias após expressão por indução com IPTG isoladamente da fração solúvel que foi posteriormente ligada às contas de sefarose GSH. O BSA (Bovine Serun Albumin - Sigma-Aldrich, St Louis, MO, USA) foi utilizado para quantificação T: lisado total. S: lisado solúvel.

5.4.2. Ensaios de precipitação por afinidade entre as proteínas

recombinantes e proteínas do lisado celular

Os ensaios de precipitação por afinidade foram repetidos várias vezes com o

objetivo de se buscar reprodutibilidade. Os resultados foram analisados em geis de

poliacrilamida de concentrações diferentes para separar a banda de interesse de

outras vizinhas e para identificar de modo reprodutível bandas presentes

unicamente na amostra teste (GST-Cx26). Os experimentos controles constituíam:

(i) ensaio sem a proteína recombinante GST-Cx26, (ii) ensaio com o lisado

substituído por tampão, (iii) ensaios com os sobrenadantes restantes de cada ensaio,

112

(iv) ensaio com lisado total e/ou suas frações solúvel e insolúvel (sem GST-Cx26,

sem GSH-beads) e (v) ensaios com GSH-beads (sem GST-Cx26 e sem lisado).

Após o ensaio de precipitação por afinidade e análise dos géis de SDS-PAGE

contendo as amostras de experimentos com diferentes condições de reações

(tampões de lise celular: EGTA, EDTA e PHEM), onze fatias de gel contendo as

bandas presentes somente no ensaio de precipitação com a proteína de fusão GST-

Cx26 de forma reprodutível foram isoladas do restante do gel. Como controle,

isolamos as bandas obtidas no controle (GST) e localizadas na mesma posição em

canaleta vizinha. Na Tabela 5.4., temos a relação dos onze pares de fatias de gel dos

ensaios GST-Cx26 e GST que foram enviadas para o CHUQ Centre Hospitalier

Universitarie Quebéc e analisadas pela técnica de espectrotometria de massas. Entre as

11 bandas recortadas do ensaio com a proteína GST-Cx26, seis foram obtidas a

partir do ensaio de precipitação por afinidade com o tecido do cérebro, sendo três

identificadas na fração solúvel do lisado celular obtido com o tampão PHEM (com

massas moleculares observadas de 50kDa, 75kDa e 110kDa) (Figura 5.7.), duas com

o tampão EGTA (com massas moleculares observadas de 50kDa e 60kDa) (Figura

5.8.) e uma com o tampão de lise EDTA (com massa molecular observada de

40kDa (Figura 5.8).

As demais cinco bandas foram obtidas a partir do ensaio de precipitação por

afinidade com tecido do fígado, sendo todas identificadas a partir do lisado celular

obtido com o tampão de lise EGTA. Uma banda possui massa molecular

observada de 25 kDa e as outras quatro com massas moleculares entre 140-150kDa

(Figura 5.9). Essas quatro bandas foram cortadas a partir de géis de SDS-PAGE de

concentrações diferentes 8% e 14% (Figura 5.10.).

5.4.3. Análises das proteínas identificadas por espectrometria de

massas

As análises por espectrometria de massas dos produtos da digestão tríptica de

proteínas presentes nas 22 fatias de gel foram feitas aos pares, comparando a banda

do ensaio da GST-Cx26 e a equivalente do ensaio GST. Essas análises geraram uma

113

tabela para cada um dos onze pares de bandas, contendo as proteínas identificadas

(exemplo no Anexo C). Foi considerado como resultado positivo de detecção de

proteína para o ensaio da GST-Cx26 cada identificação no banco SWISSPROT que

apresentasse pelo menos dois peptídeos, com probabilidade maior que 95% de

identificação da proteína correta. Nas onze tabelas (exemplo no Anexo C), estão

listadas 447 proteínas. Dessas, identificamos 83 proteínas presentes no ensaio com

GST-Cx26 e não no GST correspondente, sendo 31 proteínas obtidas no ensaio

com o tecido cerebral e 52 no ensaio com fígado (Tabela 5.4.). No entanto, quando

comparamos as proteínas presentes no conjunto dos controles GST verificamos que

entre as 83 proteínas, 34 também estavam presentes em algum outro controle GST,

indicando interação com a porção GST ou precipitação inespecífica. Desse modo,

essas 34 proteínas foram excluídas (Tabela 5.5.)

Tabela 5.4. Relação dos 11 pares de fatias recortadas em geis de SDS-PAGE de concentrações diferentes referentes às bandas presentes no ensaio de interação por afinidade com a proteína de fusão GST-Cx26 (2, 4, 6, 8, 10, 12, 14, 16, 18, 20 e 22) e ausentes no ensaio com a GST (1, 3, 5, 7, 9, 11, 13, 15, 17, 19 e 21).

Nº da fatia/ensaio

Tecido Tampão de lise Massa observada (kDa)

Concentração do gel (SDS-

PAGE)

Figura

1 - GST cérebro fração solúvel PHEM

75 10% 5.7.

2 - GST-Cx26 3 - GST cérebro fração solúvel

PHEM 110 10% 5.7.

4 - GST-Cx26 5 - GST cérebro fração solúvel

PHEM 50 10% 5.7.

6 - GST-Cx26 7 - GST cérebro EGTA 50 12% 5.8.

8 - GST-Cx26 9 - GST cérebro EDTA 40 12% 5.8.

10 - GST-Cx26 11 - GST cérebro EGTA 60 12% 5.8.

12 - GST-Cx26 13 - GST fígado EGTA 140-150 8% 5.9.

14 - GST-Cx26 15 - GST fígado EGTA 140-150 14% 5.10.

16 - GST-Cx26 17 - GST fígado EGTA 140-150 14% 5.10.

18 - GST-Cx26 19 - GST fígado EGTA 25 14% 5.10.

20 - GST-Cx26 21 - GST fígado EGTA 140-150 8% 5.9.

22 - GST-Cx26

114

Figura 5.7. Eletroforese em SDS-PAGE a 10% dos precipitados ou sobrenadantes de ensaios de precipitação por afinidade com GST ou GST-Cx26, tendo sido usada a extração de cérebro com o tampão PHEM. As setas seguidas dos números indicam as bandas recortadas tanto na pista GST-NR (fração solúvel) quanto na posição correspondente na pista GST-Cx26 (fração solúvel). T: lisado total, S: fração solúvel e I: fração insolúvel.

Figura 5.8. Eletroforese em SDS-PAGE a 12% dos precipitados ou sobrenadantes de ensaios de precipitação por afinidade com GST ou GST-Cx26 tendo sido usada a extração de cérebro com os tampões EGTA e EDTA. As setas seguidas dos números indicam as bandas recortadas tanto na pista GST-Cx26 quanto na posição correspondente na pista GST. g: lisado obtido com o tampão EGTA e D: lisado obtido com o tampão EDTA.

115

Figura 5.9. Eletroforese em SDS-PAGE a 8 % dos precipitados ou sobrenadantes de ensaios de precipitação por afinidade com GST ou GST-Cx26 tendo sido usada a extração de fígado com o tampão EGTA. As setas seguidas dos números indicam as bandas recortadas tanto na pista GST-Cx26 quanto na posição correspondente na pista GST. g: lisado obtido com o tampão EGTA.

Figura 5.10. Eletroforese em SDS-PAGE a 8 dos precipitados ou sobrenadantes de ensaios de precipitação por afinidade com GST ou GST-Cx26 tendo sido usada a extração de fígado com o tampão EGTA. As setas seguidas dos números em amarelo indicam as bandas recortadas tanto na pista GST-Cx26 quanto na posição correspondente na pista GST. g: lisado obtido com o tampão EGTA.

116

Dentre as 49 proteínas restantes, oito (O88568, P28653, Q02788, Q6S385,

B7ZNJ1, P59242, O08638 e UPI00001954ED) foram identificadas em mais de um

ensaio, sendo cinco identificadas duas vezes e três proteínas identificadas três vezes.

Desse modo, por meio da análise por espectrometria de massas das proteínas

contidas nas bandas dos geis SDS-PAGE presentes apenas no ensaio de

precipitação com a proteína de fusão GST-Cx26 e subtraída a redundância de

representação, identificamos um total de 38 proteínas diferentes candidatas a

interagirem com a região C-terminal da Cx26 (Tabela 5.6.).

Nove das 38 proteínas identificadas apresentavam massa molecular esperada

não correspondente à massa molecular observada no gel de SDS-PAGE do qual a

fatia foi retirada para análise (B2RQQ5, Q80WC3, Q80X90, Q69ZX3, P28653,

Q6S385, B7ZNJ1, O08638 e UPI00001954ED). Entre as nove proteínas, sete

apresentavam massa molecular observada menor do que a esperada, de acordo com

os bancos de dados (B2RQQ5, Q80WC3, Q80X90, Q69ZX3, Q6S385, B7ZNJ1 e

O08638). Grandes reduções de massa molecular entre o esperado e o observado

podem ocorrer por causa da clivagem da proteína ou splicing alternativo do transcrito

correspondente. No entanto, os peptídeos identificados por espectrometria de

massas para quatro dessas sete proteínas estavam distribuídos ao longo de toda a sua

sequência (exemplo no Anexo D). Esta observação invalida essas hipóteses de

clivagem ou splicing, levando-nos a excluir essas quatro proteínas por causa dessa

inconsistência (B2RQQ5, Q80WC3, Q6S385 e O08638, Tabela 5.6.). Duas

proteínas (P28653 e UPI00001954ED) tinham massa molecular observada na banda

recortada do gel de SDS-PAGE maior que a massa molecular esperada e isso

poderia ser justificado por modificações pós-traducionais que poderiam aumentar os

valores de massa em 2kDa, como no caso da fosforilação, ou em 9kDa, como no

caso da ubiquitinação, entre outras modificações. Mesmo na possibilidade de um

extenso conjunto de modificações pós traducionais, excluímos essas proteínas pela

grande diferença entre as massas moleculares observadas e as esperadas, inexplicável

somente por modificações pós-traducionais (Tabela 5.6.). No entanto, a proteína de

número de acesso UPI00001954ED não foi excluída, pois foi identificada em outra

117

banda e com massa molecular correspondente à observada em gel (Tabela 5.6.,

banda 20 - GST-Cx26).

Tabela 5.5. Relação do número de proteínas identificadas por meio da espectrometria de massas das 11 bandas isoladas em SDS-PAGE presentes apenas no ensaio de precipitação por afinidade com a proteína GST-Cx26 e das outras 11 bandas localizadas na mesma posição da canaleta vizinha correspondentes ao ensaio com a GST.

Fatias Ensaio nº total de proteínas

presentes por duplas1

nº proteínas apenas GST-

Cx262

nº proteínas final presentes apenas

GST-Cx263

1 - GST cérebro 59 7 4 2 - GST-Cx26 3 - GST cérebro 89 7 6 4 - GST-Cx26 5 - GST cérebro 42 1 0 6 - GST-Cx26 7 - GST cérebro 32 6 5 8 - GST-Cx26 9 - GST cérebro 41 3 1 10 - GST-Cx26 11 - GST cérebro 41 7 2 12 - GST-Cx26 Nº total de proteínas cérebro

304 31 18

13 - GST fígado 37 12 7 14 - GST-Cx26 15 - GST fígado 27 10 4 16 - GST-Cx26 17 - GST fígado 31 13 8 18 - GST-Cx26 19 - GST fígado 20 8 6 20 - GST-Cx26 21 - GST fígado 28 9 6 22 - GST-Cx26 Nº total de proteínas fígado 143 52 31 Nº total de protéinas 447 83 49

1 número total de proteínas identificadas nas onze duplas de fatias de gel isoladas do ensaio com a GST-Cx26 e GST. 2 número total de proteínas identificadas apenas no ensaio com a GST-Cx26. 3 número total final de proteínas identificadas no ensaio com a GST-Cx26, apos exclusão das proteínas presentes em outros ensaios GST.

Portanto, com base na incompatibilidade entre a massa molecular da proteína identificada e a massa molecular observada na banda de gel recortada, cinco proteínas foram excluídas, restando 33 proteínas candidatas a interagirem com a região C-terminal da Cx26 (Tabela 5.6.).

118

Tabela 5.6. Relação total das 49 proteínas identificadas por meio da espectrometria de massa após análises com o Scaffold 3 proteomic software das 11 bandas recortadas de géis SDS-PAGE presentes no ensaio de precipitação por afinidade com a proteína GST-Cx26.

Fatia/ ensaio

ID* Proteínas presentes no ensaio de

interação por afinidade com a proteína GST-Cx26 e ausente com a GST

MME (kDa)

MMO (kDa)

Ação

2 GST-Cx26

cérebro

Q99KI0 ACON aconitate hydratase mitochondrial 85 75 �

O88568 Heterogeneous nuclear ribonucleoprotein U

88 75 �

Q02257 PLAK_mouse Junction plakoglobin 82 75 �

Q3UHT7 Q3UHT7 Putative uncharacterized protein 113 75 �

4 GST-Cx26

cérebro

Q6ZQ74 MKIAA0666 protein fragment 125 110 � O88735 MAP7 ensconsin 82 110 � Q571M2 MKIAA4025 103 110 � Q3UDE9 Q3UDE9 Putative uncharacterized protein 115 110 � B2RQQ5 Microtubule associated protein 1B 270 110 exc1 Q3TXZ6 Q3TXZ6 Putative uncharacterized protein 106 110 �

8 GST-Cx26

cérebro

Q9QWW1

HOME homer protein homolog 2 41 50 �

Q8R2R9 AP3M2 AP-3 complex subunit mu-2 47 50 � O88712 CTBP1 C-terminal-binding protein 1 48 50 � 8R570 SNP47 Synaptosomal associated protein47 47 50 � Q9JJK2 LANC2 LanC-like protein 2 51 50 �

10 GST-Cx26

cérebro Q8R001

MARE2 microtubule-associated protein RP/ EB family member 2

37 40 �

12 GST-Cx26

cérebro

Q80WC3 TNC18 Trinucleotide repeat-containing gene 18 protein

308 60 exc1

Q9WV31 ARC Activity-regulated cytoskeleton associated protein

45 60 �

14 GST-Cx26 fígado

Q80X90 FLNB Filamin B 278 140-150 � Q69ZX3 MKIAA0866 228 140-150 � P28653 PGS1 Biglycan 42 140-150 exc1 Q02788 CO6A2 Collagen alpha-2(VI) chain 110 140-150 � Q6S385 Plectin 10 518 140-150 exc1 B7ZNJ1 Fn1 Fibronectin1 240 140-150 � P59242 CING Cingulin 136 140-150 �

16 GST-Cx26 fígado

O08638 MYH11 Myosin 11 227 140-150 exc1 Q02788 CO6A2 Collagen alpha-2 (VI) chain 110 140-150 exc2 UPI00001954ED

Preditcted: hypotetical protein isoform 1 36 140-150 exc1

P59242 CING Cingulin 136 140-150 exc2

ID*: número de acesso do banco SWISSPROT. MME: massa molecular esperada. MMO: massa molecular observada em gel de SDS-PAGE. Sombreado: proteínas que aparecem em mais de um ensaio. Em vermelho estão identificadas as massas moleculares das proteínas que não correspondem às massas moleculares observadas nos géis de SDS-PAGE. Exc1: proteínas excluídas por diferença entre a massa molecular esperada e a observada. Exc2: proteínas excluídas por redundância. � proteínas selecionadas.

119

Continuação da Tabela 5.5.

Fatia/ ensaio

ID*

Proteínas presentes no ensaio de interação por afinidade com a

proteína GST-Cx26 e ausente com a GST

MME (kDa)

MMO (kDa)

Ação

18 GST-CX26 fígado

B9EHJ3 Tpj1 Tight protein junction 1 189 140-150 �

O08638 MYH11 Myosin 11 227 140-150 exc1,2 O88568 Heterogeneous nuclear ribonuleoprotein

U 88 140-150 exc2

P59242 CING cingulin 136 140-150 exc2 Q02788 CO6A2 Collagen alpha-2 (VI) chain - 110 140-150 exc2 Q6S385 Q6S385 plectin 10 518 140-150 exc1,2 Q9EP71 RAIA4 Ankycorbin 109 140-150 �

P28653 PGS1 Biglycan 42 140-150 exc1,2

20GST-Cx26 fígado

UPI00001954ED

Preditcted: hypotetical protein isoform 1 36 25 �

Q561M8 Cps1 protein (fragment) 32 25 �

P16460 ASSY Argininosuccinate synhase 47 25 �

P62991 UBIQ ubiquitina 9 25 �

Q8VBW8 TTC36 Tetratricopeptide repeat protein 36

20 25 �

B2RY90 Isoc2a protein 22 25 �

22GST-Cx26 fígado

B7ZNJ Fibronectin1 protein 240 140-150 exc2 Q64727 VINC Vinculin 117 140-150 �

Q6S385 Plectin 10 518 140-150 exc1,2 Q01149 CO1A2 Collagen alpha2(I) chain 130 140-150 �

P08122 CO4A2 Canstatin 167 140-150 �

Q80X36 Myosin IE 127 140-150 �

ID*: numero de acesso do banco SWISSPROT. MME: massa molecular esperada. MMO: massa molecular observada em gel de SDS-PAGE. Sombreado: proteínas que aparecem em mais de um ensaio. Em vermelho estão identificadas as massas moleculares das proteínas que não correspondem às massas moleculares observadas nos géis de SDS-PAGE. Exc1: proteínas excluídas por diferença entre a massa molecular esperada e a observada. Exc2: proteínas excluídas por redundância. � proteínas selecionadas.

As proteínas miosina MKIAA0866 (Q69ZX3) e miosina IE (Q80X36)

tiveram parálogas (miosina 9/Q8VDD5, Miosina heavy/Q5SV64, miosinas

1B/Q9WTI7 e 1C/P46735) observadas em ambas às frações GST e GST-CX26. O

mesmo foi observado para os colágenos CO6A2 (Q02788), CO1A2 (Q01149) e

CO4A2 (P08122), com suas parálogas observadas também no controle negativo

(CO6A1/Q04857, Prócolageno VI/UPI0000F2). Por isso, decidimos excluí-las

também. Fortalecendo esta decisão está o fato de colágenos serem proteínas

secretadas, além de serem fibrosas, o que favorece sua precipitação inespecífica in

vitro. A orientação citosólica da porção C-terminal da Cx26 reduz a probabilidade de

120

ocorrer interação entre essa proteína e a via secretora. Pelo mesmo motivo, o

precursor de fibronectina foi excluído (B7ZNJ1).

Duas proteínas, a sintase de aconitato (Q99KI0), que participa do ciclo de

Krebs na matriz mitocondrial e a ribonucleoproteína U (O88568), concentrada no

nucleoplasma, foram excluídas pela baixa probabilidade de terem a mesma

distribuição subcelular que a Cx26 (PSORT). Duas proteínas identificadas por

espectrometria de massas fazem parte do ciclo da uréia. Uma delas, a sintase de

carbamoil-fosfato (Q561M8), está presente na matriz mitocondrial e foi excluída por

causa da sua localização (PSORT). A segunda, sintase de argininosuccinato (P16460),

é citosólica e já foi descrita por se associar à membrana plasmática, em cavéolas e,

portanto permaneceu como candidata em nosso estudo (Flam e col., 2001).

Prosseguimos as análises in silico das 24 proteínas restantes e observamos que

a proteína identificada P62991 corresponde à ubiquitina nesta proteína, sugerindo

que a interação pode ter ocorrido por causa da digestão tríptica de qualquer proteína

da fração GST-Cx26 que estivesse ubiquitinada. Assim, a proteína com número de

acesso (P62991) foi excluída, deixando a lista com 23 candidatos.

Estas 23 proteínas identificadas estão listadas na Tabela 5.7., onde se

observam os números de peptídeos únicos detectados com similaridade a cada

proteína e a porcentagem de resíduos identificados por espectrometria de massas.

As 22 proteínas foram analisadas por uma ferramenta de antologia gênica (Gene

Ontology), classificando-as de acordo com o que se conhece delas sobre sua função

molecular, os processos biológicos e os componentes celulares (Tabela 5.7.). Desta

análise pudemos discriminá-las em quatro grupos com algumas congruências como

se vê na Figura 5.11.: (i) proteínas do citoesqueleto, (ii) proteínas de junções

celulares, (iii) proteínas da via secretora (retículo endoplasmático e aparelho de

Golgi) e/ou endocítica, e (iv) proteínas envolvidas na sinalização celular. Quatro das

22 proteínas não foram incluídas em nenhum desses grupos baseando-se somente

nos dados de ontologia gênica (Tabela 5.7.) sendo agrupadas como “outros” (Figura

5.11.). Na Tabela 5.7. os termos utilizados para classificar essas 23 proteínas em

cinco grupos funcionais distintos encontram-se em negrito e sublinhados.

121

Figura 5.11. Diagrama de Venn mostrando as 23 proteínas candidatas a interagirem com a Cx-26 classificadas em cinco grupos distintos de acordo com identidade de ontologia genica relacionada a processo biológico, compartimento celular e função molecular (Gene Ontology).

12

2

Tabela 5.7. Relação das 23 proteínas candidatas a interagirem com a região C-terminal da Cx26. Estão mostrados o número de peptídeos únicos detectados com similaridade a cada proteína, a porcentagem de resíduos identificados na sequência protéica por espectrometria de massas e sua classificação de acordo sua identidade de Ontologia Gênica para processo biológico, compartimento celular e função molecular.

Nº Nome da proteína (ID Swissprot)

Nº peptídeos únicos1

% da sequência2

GO processo biológico* GO compartimento celular*

GO função molecular*

1 Anquicorbina (Q9EP71)

3 5% Não há termos GO associados

Citoplasma Citoesqueleto Células do Córtex Mitocôndria

Ligante de proteína

2 Subunidade µµµµ2 da proteína adaptadora 3 (AP3) (Q8R2R9)

2 12% Transporte intracelular de proteínas Transporte mediado por vesículas

Complexo de Golgi Complexo adaptador de clatrina Vesícula citoplasmática Membrana

Não há termos GO associados

3 Proteína associada ao citoesqueleto regulada por atividade (ARCAP) (Q9WV31)

2 5,1% Endocitose Junção celular Endossoma Densidade pós-sináptica Membrana pós-sináptica Espinha dentrítica

Ligante de actina

4 Sintase de argininossuccinato (P16460)

2 6,3% Biossíntese da arginina Ciclo de uréia

Mitocôndria Núcleo Citoplasma Reticulo Endoplasmático Lisossomo Fibra do corpo celular

Atividade de síntese do argininossuccinato Atividade de ligase Ligante de nucleotídeo Ligante de ATP

5 Fosfodiesterase dependente de GMP 3',5'-cíclico (Q3TXZ6)

4 6,7% Sinal de transdução Processo catabólico de nucleotídeo

Citosol Membrana raft

Hidrolase Ligante de íon Metal

Nº de peptídeos únicos1 : Número dede peptídeos únicos identificados . % da sequência 2: Porcentagem da sequência identificada por peptídeos. GO: Identidades de Ontologia Gênica. *Resultados obtidos através da ferramenta Gene Ontology

12

3

Continuação da Tabela 5.7.

Nº Nome da proteína (ID Swissprot)

Nº de peptídeos únicos1

% da sequência2

GO processo biológico* GO compartimento celular*

GO função molecular*

6 Cingulina (P59242)

7 2 4

9,8% 3,9% 5,8%

Não há termos GO associados

Junção celular apical Junções ocludentes Complexo de miosinas

Ligante de proteína Atividade motora Ligante de actina

7 Proteína ligante 1 de região C-terminal (CTB-bp1) (O88712)

2 5,4% Regulação negativa de transcrição dependente de DNA Diferenciação celular

Citosol Complexo repressor transcricional

Ligante de NAD Ligante de domínio Atividade de homodimerização Ligante de fator de Transcrição

8 Ativador da morfogênese associado a disheveled (DAAM1) (Q6ZQ74)

3 5% Organização do citoesqueleto de actina

Citoplasma Membrana plasmática

Ligante de actina Ligante de Rho GTPase

9 Ensconsina (O88735)

3 5,2% Morfogênese celular Proliferação celular Homeostasia do nº de células Formação dos feixes de microtúbulos Organização do núcleo Desenvolvimento de órgãos Localização da proteína na membrana plasmática Resposta ao estresse osmótico

Microtúbulos Membrana plasmática basolateral Região perinuclear do citoplasma

Ligante de receptor

Nº de peptídeos únicos1 : Número dede peptídeos únicos identificados . % da sequência 2: Porcentagem da sequência identificada por peptídeos. GO: Identidades de Ontologia Gênica. *Resultados obtidos através da ferramenta Gene Ontology

12

4

Continuação da Tabela 5.7.

Nº Nome da proteína (ID Swissprot)

Nº de peptídeos únicos1

% da sequência2

GO processo biológico* GO compartimento celular*

GO função molecular*

10

Membro 2 da família de proteínas estruturais associadas à zona ativa na citomatriz (CAST2) (Q3UHT7)

2 3,8% Não há termos GO associados

Junção celular Ligante de domínio PDZ Ligante de complexo de proteínas

11 Filamina B (Q80X90)

2 1,1% Processo de desenvolvimento

Citoplasma Citoesqueleto Núcleo Membrana plasmática Adesão focal Fibra estresse

Ligante de actina Ligante de proteína

12 Homer 2 (Q9QWW1)

3 15% Via de sinalização do receptor de glutamato

Junção celular Citoplasma Densidade pós-sináptica

Atividade de scaffold Ligante de actina

13 Proteína 4 de choque térmico (HSP4) (Q571M2)

2 3% Montagem do complexo proteico mediado por chaperona Ligante de proteína

Citoplasma Citosol

Ligante de ATP Ligante de Nucleotídeo

14 Proteína ligante de proteína de choque térmico (HSPBP21) (Q8VBW8)

2 13% Não há termos GO associados

Não há termos GO associados

Ligante

Nº de peptídeos únicos1 : Número dede peptídeos únicos identificados . % da sequência 2: Porcentagem da sequência identificada por peptídeos. GO: Identidades de Ontologia Gênica. *Resultados obtidos através da ferramenta Gene Ontology

12

5

Continuação da Tabela 5.7.

Nº Nome da proteína (ID Swissprot)

Nº de peptídeos únicos1

% da sequência 2

GO processo biológico* GO compartimento celular*

GO função molecular*

15 Precursor da proteína 2A contendo domínio de isocorismatase (ISOC2A) (B2RY90)

2 24% Processo metabólico Desestabilização de proteínas

Núcleo Mitocôndria Citoplasma

Atividade Catalítica

16 Proteína 2 semelhante ao componente C da sintase de lantionina (LANCL2) (Q9JJK2)

2 4,9% Regulação negativa de transcrição dependente de DNA

Citosol Núcleo Membrana plasmática

Atividade catalítica Ligante de fosfolipídio

17 Placoglobina (Q02257)

2 4,3% Adesão celular Montagem desmossomos Desenvolvimento da pele

Citoesqueleto de actina Junção celular Desmossomos

Ligante alfa catenina Proteína RPTP-like

18 Membro 2 da família RP/EB de proteínas associadas a microtúbulos (Q8R001)

2 11% Ciclo celular Divisão celular Mitose

Citoplasma Citoesqueleto Microtúbulos Microtúbulos

Ligante Microtúbulos Ligante de Proteína

19 Proteína 47 associada a sinaptossomo (SAP47) (8R570)

3 11% Não há termos GO associados Citoplasma Membrana Região perinuclear do citoplasma

Não há termos GO associados

Nº de peptídeos únicos1 : Número dede peptídeos únicos identificados . % da sequência 2: Porcentagem da sequência identificada por peptídeos. GO: Identidades de Ontologia Gênica. *Resultados obtidos através da ferramenta Gene Ontology

12

6

Continuação da Tabela 5.7.

Nº Nome da proteína (ID Swissprot)

Nº de peptídeos únicos1

% da sequência 2

GO processo biológico* GO compartimento celular*

GO função molecular*

20 Proteína de ligação a junção ocludente 1/ZO1 (B9EHJ3)

2 1,1% Formação blastocisto Junções ocludentes Junções aderentes Citoplasma Núcleo Membrana plasmática Aparelho de Golgi Complexos juncionais apicais

Ligante de domínio Ligante da região C-term

21 Proteína cinase de tirosina beta2 (TYKbeta2) (Q3UDE9)

2 2,9% Organização dos filamentos de actina Organização do complexo de sinalização

Citoesqueleto Adesão focal

Ligante de ATP Ligante de Proteína Atividade de tirosina cinase Atividade transdutora de sinal

22 Gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase (GAPDH) (UPI00001954ED)

3 15% Desenvolvimento de organismo multicelular

Citoplasma Mitocôndria

Atividade de Gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase

23 Vinculina (Q64727)

2 3,7% Adesão celular Adesão celular epitelial Formação de lamepódios Morfogênese de epitélio Contração muscular (6936) Localização da proteína na superfície celular Regulação na migração celular

Região extracelular Filamentos de actina Citoesqueleto Junções aderentes Citoplasma Complexo de proteínas Fibra de estresse Fascias aderentes Adesão focal

Ligante de proteína Ligante de Actina Atividade de molécula estrutural Ligante Alfa-catenina Ligante de RhoGTase

Nº de peptídeos únicos1 : Número dede peptídeos únicos identificados . % da sequência 2: Porcentagem da sequência identificada por peptídeos. GO: Identidades de Ontologia Gênica. *Resultados obtidos através da ferramenta Gene Ontology

127

5.5. Discussão

Em virtude da irreversibilidade da maior parte dos casos de surdez, pesquisas

exaustivas buscam desvendar os mecanismos moleculares e celulares relacionados à

fisiologia da audição e, consequentemente, à sua perda, por meio de diversas

estratégias. O mapeamento de genes de surdez em grandes famílias levou ao

conhecimento de mais de uma centena de locos gênicos relacionados à surdez

hereditária. Cerca de 50 produtos gênicos foram identificados desde 1990, o que

contribuiu de maneira fascinante à compreensão da fisiologia da audição. Modelos

animais e estudos funcionais sobre mutações que causam surdez também revelaram

o papel de várias moléculas. No entanto, um grande número de locos mapeados

relacionados à surdez permanece ainda sem ter o seu respectivo gene identificado

(Van Camp e Smith, 2011). Mais recentemente, diversos estudos funcionais têm

sido realizados com o objetivo de identificar proteínas expressas na orelha interna,

que interagem entre si física e funcionalmente, por meio de domínios específicos,

como por exemplo, proteínas das junções celulares, proteínas sinalizadoras, fatores

de transcrição, moléculas do citoesqueleto, enzimas, etc. (Duffy e col., 2002; Hervé e

col., 2007; Derangeon e col., 2008; Dbouk e col., 2009; Dror e Avraham, 2009;

Laird e col., 2009). Esses estudos são ferramentas importantes para a elucidação das

diferentes funções relacionadas a essas interações protéicas e para identificação de

novas via moleculares na orelha interna relacionadas à função auditiva, contribuindo

assim para a descoberta de novos genes candidatos à surdez.

A determinação de interações físicas entre proteínas depende de

metodologias extensas e de alta complexidade. A maioria das abordagens utilizadas é

composta por ensaios in vitro utilizando-se proteínas recombinantes com potencial

de gerar um número elevado de interações falso-positivas, levando à necessidade de

se usar metodogias diferentes para confirmar a interação proteica detectada (Hervé e

col., 2007; Derangeon e col., 2009). O ensaio de precipitação por afinidade é um

método utilizado in vitro para determinar a interação física entre duas proteínas ou

identificar proteínas de um mesmo complexo macromolecular. É útil como teste de

triagem para a primeira identificação de interações proteicas e para confirmar

associações previamente observadas entre proteínas por outros métodos, como por

128

exemplo, co-imunoprecipitação, ensaio do duplo-híbrido da levedura, centrifugação

em gradiente de densidade, etc. (Smith e Johnson, 1988). Tem a vantagem de não

depender de bibliotecas de expressão de cDNA, empregando o conjunto de

proteínas disponível no tecido e obtido nas condições do tampão. Por outro lado,

uma vez que a isca, em nosso caso, foi expressa em bactérias, esta proteína não

apresenta modificações pós-traducionais que podem ser relevantes às interações

moleculares in vivo.

Neste estudo, o nosso objetivo foi buscar por proteínas que interagem com a

região C-terminal da Cx26 citoplasmática que consiste de 10 aminoácidos após o

último domínio transmembrânico da proteína. Esta é uma das regiões mais variáveis

entre as diferentes conexinas na busca por ligantes específicos à Cx26 (Maeda e col.,

2009). Para isso, a porção do gene que contém a região codificadora deste segmento

de camundongo (Mus musculus) foi clonada em fase à sequência codificadora do

peptídeo marcador GST seguida da expressão em bactérias E. coli BL21. A principal

vantagem desse sistema é que o peptídeo GST possui diversos resíduos hidrofílicos,

o que aumenta a solubilidade das proteínas de fusão insolúveis expressas pela E. coli

BL21. No entanto, uma vez que as proteínas são expressas em um vetor

procariótico, interações que exigem dobramento ou modificações pós-traducionais

de uma ou ambas as proteínas não serão identificadas (Phillips-Mason e col., 2006;

Simader e col., 2006). É importante salientar que já foram descritos dois sítios de

metilação na região C-terminal da Cx26 nos resíduos -3 (K) e -7 (G) em humanos.

Porém, a espécie Mus musculus tem no resíduo -3 o aminoácido R (Locke e col.,

2009).

Para facilitar a extração das proteínas nativas e assim criar condições para

interações proteicas utilizamos três tampões de lise celular diferentes. É de

conhecimento que a força iônica (tipo e concentração de sal) e o pH do tampão de

lise utilizado podem afetar significativamente a interação entres proteínas e que a

escolha do detergente para o tampão, assim como sua concentração, deve ter como

parâmetro a quantidade de membrana que será permeabilizada para exposição das

proteínas intracelulares, sem chegar a desnaturá-la. Geralmente concentrações de

0,1% a 1% de detergentes não iônicos comprometem a integridade das membranas

129

celulares, facilitando a lise das células e a extração das proteínas solúveis em

condições nativas. Porém, alguns detergentes não iônicos como o triton-X-100,

apesar de excelentes bloqueadores de interação inespecífica, podem causar grande

perda de ligações específicas e desse modo, levar a resultados falso-negativos.

Interações inespecíficas podem ser minimizadas por meio de pequenos ajustes na

concentração do sal inorgânico ou pela adição de baixas concentrações de

detergentes. Outros componentes críticos são os inibidores de proteases e os

agentes quelantes que evitam a atividade catalítica por meio da degradação de

enzimas ou pelo sequestro dos íons metálicos, respectivamente. Inibidores de

fosfatases permitirão manter interação dependente de resíduos de serina ou treonina

fosforiladas, com o uso de fluoreto de sódio (NaF) ou de tirosinas fosforiladas

como o ortovanadato de sódio (Na3VO4 )(Evans, 1987; Macnname, 1989).

Dentre as 11 fatias dos géis identificadas por conterem as bandas presentes

no ensaio de precipitação com a proteína de fusão GST-Cx26 e ausentes no ensaio

com a GST, sete foram identificadas a partir dos ensaios realizados com o tampão

de lise EGTA, uma com o tampão EDTA e três foram identificadas na fração

solúvel do tampão PHEM. Esses resultados indicam que a maior parte das

interações entre a proteína GST-Cx26 e as proteínas do lisado celular ocorrem na

presença de íons magnésio.

A escolha do tampão PHEM ocorreu porque ele é específico para o

isolamento dos elementos solúveis do citosol em relação aos componentes

insolúveis em triton X-100 do citoesqueleto. O tampão PHEM contém falacidina, a

qual se liga às subunidades dos filamentos de actina estabilizando-os e evitando sua

despolimerização durante a lise celular (Keller e Nigli, 1993). Porém, esse protocolo

não se mostrou eficaz uma vez que observamos que as proteínas das frações

insolúveis de ambos os lisados, cérebro (Figura 5.7.) e fígado (dados não mostrados)

precipitaram-se de forma inespecífica, diminuindo consideravelmente o número de

bandas detectadas à coloração pelo azul de Coomassie.

Devido ao número reduzido de células de suporte onde se expressa a Cx26

no órgão de Corti, utilizamos tecido cerebral e fígado para o ensaio de precipitação

130

por afinidade com a proteína GST-Cx26. No fígado, a expressão da Cx26 é alta,

uma vez que ela está presente nas junções do tipo fenda dos hepatócitos (Zhang e

Nicholson, 1989). Já no cérebro adulto a expressão da Cx26 é restrita a áreas

específicas. Estudos diferentes já demonstraram a presença da Cx26 nas junções do

tipo fenda dos astrócitos, das células da glia e das leptomeninges (Nagy e col., 2001;

Rash e col., 2001, Altevogt e Paul, 2004). A escolha do tecido cerebral também se

deve ao fato de que o proteoma do cérebro é mais diversificado do que o do fígado.

Além disso, um protocolo de lise para esse tecido já estava padronizado no

laboratório de Genômica Funcional.

Como mostrado na Tabela 5.5 (página 117) observamos um número maior

de proteínas identificadas por duplas (GST-Cx26 e GST) nos ensaios com o tecido

cerebral (304 proteínas) em relação ao fígado (143 proteínas), o que provavelmente

deve estar relacionado à maior diversidade de proteínas presentes no cérebro.

Porém, quando observamos as proteínas presentes apenas no ensaio com a GST-

Cx26, verificamos um número maior de proteínas identificadas no ensaio com

fígado (52) em relação ao ensaio com o cérebro (31). No ensaio de precipitação por

afinidade a proteína expressa (GST ou GST-Cx26) ao se prender às contas de

sefarose por afinidade, traz consigo ao precipitado as moléculas que se associam

com qualquer uma de suas partes, C-terminal Cx26, GST ou GSH, nas condições do

ensaio. Desse modo, esses resultados demonstram alta afinidade das proteínas dos

lisados com a GST e a GSH, ou seja, precipitação inespecífica. Isso deve justificar o

grande número de proteínas identificadas com o ensaio controle da GST e ratifica a

importância da utilização dos controles para evitar resultados falso-positivos. Dois

aspectos são importantes lembrar em relação ao fígado: em primeiro lugar, é um

órgão com uma diversidade de tipos celulares bem mais baixa do que o cérebro, por

causa do predomínio de hepatócitos em relação às demais células. A organização

dos hepatócitos em lóbulos e a comunicação entre essas células epiteliais através de

junções do tipo fenda demonstram que, apesar de apresentarem um proteoma

menos rico que neurônios e glia cerebrais, o fígado deve estar enriquecido com

proteínas relevantes para as junções onde ocorrem as conexinas; o segundo aspecto

importante em relação ao fígado é a sua rica matriz extracelular unindo grupos de

131

hepatócitos nos lóbulos hepáticos. Este fato deve justificar a grande representação

de proteínas da matriz extracelular, muitas delas fibrosas como o colágeno, que

devem, por isso, apresentar-se mais propensas à precipitação in vitro inespecífica.

Por meio da espectrometria de massas, identificamos 83 proteínas nos 11

pares de fatias de gel, presentes somente na fração GST-Cx26 nas comparações por

duplas. Porém dentre essas, 34 estavam presentes em outros controles negativos

(GST) e foram excluídas (Tabela 5.5, página 117). Na tabela 5.6 (página 118) temos

a relação das 49 proteínas restantes.

Prosseguimos com as análises para as 49 proteínas identificadas e após

exclusão por (i) redundância de representação no ensaio GST-Cx26, (ii) diferença

entre a massa molecular esperada e a observada, (iii) precipitação inespecífica em

potencial e (iv) localização subcelular incompatível com a Cx26, selecionamos um

total de 23 proteínas candidatas a interagirem com a região C-terminal da Cx26.

Entre essas 23 proteínas, em apenas uma delas (HOMER 2) foi verificado

que o gene que codifica a sua órtologa em humanos está localizado em região

cromossômica com gene de surdez mapeado, porém não identificado. O gene

HOMER2 em humanos está localizado na região cromossômica 15q24.3. Nessa

região cromossômica, está mapeado o lócus DFNB48 (15q23-q25.1) responsável

por surdez hereditária não sindrômica autossômica recessiva (Ahmad e col., 2005;

Van Camp e Smith; 2011). Seria uma interessante hipótese a investigar se o gene

HOMER2 não corresponde ao DFNB48.

Todas as 23 proteínas tiveram confirmação de sua expressão no tecido que

originou o ensaio, fígado ou cérebro, por meio de análises in silico. Porém, não

confirmamos a expressão na orelha interna em três delas (DAAM1, HSPBP21 e

ISOC2A). Para essas análises, levamos em consideração os dados obtidos de quatro

bancos diferentes, Unigene (NCBI), dois bancos específicos a genes expressos na

orelha interna, sendo um de camundongos e outro de humanos (Home e col., 2011

in: Hereditary Hearing Loss Homepage; Morton Cochlear ESTs in

http://brighamandwomens.org, 2011) e em um estudo de análise por microarray de

expressão de genes na orelha interna de camundongos, nas fases embrionária e

132

adulta (Sajan e col., 2007). Com base nessa pesquisa, confirmamos que 20 delas se

expressam na orelha interna. Não podemos afirmar com segurança que as outras

três não o sejam, porque esses bancos de dados são baseados em análises de RNA e

a expressão pode ocorrer em período de desenvolvimento não avaliado.

Por meio de análises in silico realizadas no MGI (Mouse Genome Informatics)

verificamos que dentre os genes dessas 23 proteínas, treze deles (genes que

codificam para as proteínas: CAST2, TYKbeta2, HSPA4, ensconsina, DAAM1,

HOMER2, AP3, CTB-p1, ARCAP, Filamina B, vinculina, placoglobina e

fosfodiesterase) foram explorados em modelos animais de camundongos. No MGI

estão listados os fenótipos que resultam de mutações espontâneas ou induzidas e de

animais geneticamente modificados. Nos modelos animais correspondentes para

esses doze genes, não foi verificado o fenótipo de surdez. Uma vez que esse banco

de dados inclui animais utilizados em pesquisas de consórcios internacionais

associados a diversos grupos de investigação em surdez, acreditamos que a presença

desse sinal clínico também tenha sido um fenótipo avaliado nesses animais.

Os genes de três dentre essas 23 proteínas estão associados a doenças

hereditárias humanas (filamina B, placoglobina e sintase de arginossuccinato).

Dentre as doenças humanas associadas a filamina B (gene FLNB), em duas a surdez

aparece como sinal clínico adicional. São elas a síndrome de Sinostose

Espondilocarpotársica (OMIM#272460), condição rara de herança autossômica

recessiva, cuja principal característica é a fusão dos ossos da coluna, das mãos e dos

pés e a Osteogênese Imperteita do tipo III (OMIM#108721) de herança

autossômica dominante, caracterizada pela fragilidade óssea que leva a fraturas

espontâneas e a articulações hiperflexíveis (Langer e col., 1994; Steiner e Col., 2008).

As doenças humanas associadas aos genes da placoglobina (JUP) e da sintase de

arginossuccinato (ASS1) não têm surdez como sinal clínico. Porém, a placoglobina

esta associada a Doença de Naxos (OMIM#601214), uma genodermatose de

herança autossômica recessiva que se caracteriza pela cardiomiopatia arritmogênica

do ventrículo direito e pela presença de queratoderma palmoplantar (Hammill e col,

1988). No gene Cx26 ja foram descritas mutações dominantes diferentes, associadas

a síndromes que apresentam como sinais clínicos surdez e queratoderma

133

palmoplantar, entre elas, síndrome de Bart-Pumphrey (OMIM#149200),

queratoderma palmoplantar associada a surdez (OMIM#148350), síndrome de

Vohwinkel (OMIM#124500) e a síndrome de KIDS (OMIM#148210) (Richard e

col., 1998, 2002 e 2004, Maestrini e col., 1999; Uyguner e col., 2002;Yotsumoto e

col., 2003).

Um trabalho recente demonstrou que a isoforma da fosfodiesterase

dependente de GMP (Q3TX26) identificada em nossas análises é detectada

exclusivamente na matriz mitocondrial (Acin-Perez e col., 2011). É possível que esta

e outras proteínas de localização na matriz mitocondrial que identificamos façam

parte de um ou mais complexos moleculares que apresentem alguma interação com

uma parceira da Cx26, mas não com a própria. Desta forma, consideramos essa

isoforma da fosfodiesterase dependente de GMP como um resultado falso-positivo

e a excluímos da lista de candidatos a associar com a Cx26, deixando-a com 22

proteínas.

Entre essas 22 proteínas, além da TJP1 que interage com dez diferentes

membros da família das conexinas (Tabela 5.1, página 93), a RB/EB e a vinculina

também já foram descritas por se associarem à Cx43 (Shaw e col., 2007;Xu e col.,

2006). Estudos diferentes demonstraram que interações entre conexinas e proteínas

adaptadoras citosólicas, como os domínios citoplasmáticos das proteínas das

junções oclusivas ZO-1, estão relacionadas à formação, extensão e internalização

das placas juncionais (Hunter e col, 2005; Gilleron e col., 2008; Kieken e col., 2009 ).

A proteína TJP1 contém três domínios PDZ e um domínio SH3 que interagem com

proteínas de membrana, componentes do citoesqueleto e moléculas sinalizadoras. A

TJP1 interage diretamente com a actina filamentosa (actina F) formando uma ponte

entre as proteínas claudinas e ocludinas e o citoesqueleto (Faning e col., 2002). A

tricelulina, codificada pelo gene TRIC, apresenta em sua região C-terminal um

domínio para a ocludina, que media sua interação com a TJP1. Na orelha interna

essa proteína é expressa nas junções ocludentes das células de suporte e ciliadas.

Mutações no gene TRIC que levam à formação de uma proteína truncada e

consequentemente à perda do domínio de interação com a ocludina já foram

identificadas associadas à surdez em humanos (Riazudin e col, 2006). Este cenário

134

reforça a hipótese de que TJP1 possa realmente interagir com a Cx26 e que essa

associação deva ser indireta.

A vinculina é uma proteína adaptadora entre proteínas integrantes da

membrana plasmática nas junções entre células e entre a célula e a matriz

extracelular, com função de ancoramento das suas proteínas ligantes ao

citoesqueleto de actina. Nas placas de adesão focal, essas proteínas são responsáveis

pela interação entre as móleculas de adesão integrinas e os microfilamentos de actina

(Ziegler e col., 2008). A interação da vinculina com a Cx43 já foi demonstrada por

meio de estudos in vitro que incluem co-imunoprecipitação e co-localização (Xu e

col., 2006).

A RB/EB é uma proteína relacionada com a organização e a dinâmica do

microtúbulos. Ela está associada à extremidade plus, citosólica dos microtúbulos,

sendo co-responsável pelo rápido crescimento dessas estruturas distanciando-se de

centros organizadores de microtúbulos como o centrossomo. Além disso, essas

proteínas são responsáveis pelo trânsito de suas proteínas ligantes entre os

compartimentos subcelulares e a membrana plasmática (Schuyler e Pellman, 2001).

A interação da RB/EB com a Cx43 promove o trânsito dos conexons do interior

celular à membrana plasmática até o local onde se encontram junções aderentes

(Shaw e col, 2007). Desta forma, a RB/EB pode ser considerada uma proteína

adaptadora entre o sistema vesicular da via secretora e o sistema de transporte de

organelas pelos microtúbulos.

A seguir temos uma breve revisão sobre a função de cada uma das 19 outras

proteínas selecionadas a interagir com a região C-terminal da Cx26. Onze proteínas

foram associadas ao citoesqueleto pela ferramenta GO. Duas delas interagem

diretamente com microtúbulos, sendo a RB/EB, já citada, e a ensconsina. A

ensconsina é expressa predominantemente nas células epiteliais e está envolvida na

dinâmica dos microtúbulos, tendo papel fundamental na polarização e na

diferenciação celular (Masson e Kreis, 1993; Bulinski e col., 2001). Sua expressão

aumenta no período de estabelecimento de junção intercelular in vitro em

queratinócitos (Fabre-Jonca e col., e col., 1999).

135

Nove proteínas classificadas com distribuição ao citoesqueleto estão direta

ou indiretamente associadas à actina F. Uma delas é a vinculina, já discutida acima.

A anquicorbina (proteína contendo estrutura de coiled-coil e repetições de

anquirina) é uma proteína adaptadora, com função de manutenção e organização do

citoesqueleto e se associa indiretamente aos filamentos de actina em fibras de

estresse e sítios de contato entre células (Peng e col., 2000).

Também conhecida como γ-catenina, a placoglobina é um dos principais

componentes dos desmossomos e das junções aderentes. Essa proteína funciona

como uma proteína intracelular adaptadora, responsável pela associação dos

filamentos intermediários ou microfilamentos de actina às moléculas de adesão,

como as caderinas (Delva e col., 2009). Foi demonstrado que pacientes com o

transtorno cardiocutâneo de Naxos possuem mutações no gene codificador para a

placoglobina e expressão reduzida da Cx43 nas junções intercelulares dos

ventrículos cardíacos, esquerdo e direito (Kaplan e col., 2004), sugerindo que o

remodelamento de junções do tipo fenda seja um evento precoce nessa doença e

decorrente de uma associação anormal entre o citoesqueleto e junções entre células.

A proteína associada ao citoesqueleto e regulada por atividade (ARCAP) é

uma proteína citosólica que interage aos microfilamentos de actina, atuando como

proteína efetora em diversas vias da sinalização neuronal. Essa proteína está

diretamente relacionada à regulação da sinapse e plasticidade neuronal (Shepherd e

Bear, 2011). Foi demonstrado que, nas sinapses, a ARCAP interage com a dinamina

e a endofilina, proteínas envolvidas na endocitose mediada por clatrina, facilitando a

remoção dos receptores de glutamato do tipo AMPA da membrana plasmática

(Chowdhury e col, 2006). Diante disso, pode-se inferir a ARCAP na regulação da

distribuição subcelular dessas proteínas integrantes da membrana plasmática à

atividade sináptica.

A cingulina é uma proteína que ocorre como homodímero em junções

ocludentes de células epiteliais. Essa proteína adaptadora faz intermediação entre as

proteínas ZO, por meio de um motivo conservado de ligação PDZ, e várias outras

proteínas das junções ocludentes, com os microfilamentos de actina e miosinas

136

(Cordenonsi e col., 1999; D'Atri e Citi, 2001). Diferente de outras proteínas

ocludentes, a cingulina não está aparentemente envolvida na organização e

manutenção das placas juncionais. Porém, estudos in vitro já evidenciaram que a

cingulina funciona como uma proteína adaptadora de sinalização que regula a

atividade da RhoA, uma GTPase conhecida por regular o citoesqueleto de actina na

formação das fibras de estresse (Aijaz e col., 2005; Guillemot e Citi, 2006).

A proteína associada a dishevelled e ativadora da morfogênese (DAAM1) é

uma proteína da família das forminas (FH) com papel importante na organização do

citoesqueleto de actina através da profilina e na polaridade celular por meio da

ativação da GTPase Rho. Ela é uma das integrantes da via não canônica de

sinalização Wnt, também conhecida como via de polaridade celular planar, que

regula os movimentos celulares por meio de modificações do citoesqueleto de actina

(Liu e col., 2008).

A CAST2 é uma integrante da família ERC (ELKS-Rab6-interacting protein-

CAST; CAST: Cytomatrix at the active zone-associated structural protein), cujos membros

são conhecidos por se ligarem a proteínas localizadas na zona ativa (ZA)

responsáveis pela regulação de neurotransmissores. A ZA é uma região especializada

da membrana plasmática pré-sináptica onde as vesículas sinápticas se ancoram e se

fundem. As ERCs estão relacionadas à organização e à localização de complexos

protéicos em domínios específicos do citoesqueleto (CZA) responsáveis pela

liberação de neurotransmissores (Ko e col., 2003; Hida e Ohtsuka, 2010). Essas

proteínas também podem ser localizadas no citosol, porém a CAST2 está localizada

exclusivamente nas ZA. Essa proteína apresenta em sua região C-terminal um

motivo de ligação PDZ (PDZbm) (Ko e col., 2003).

A filamina B ou filamina beta é uma proteína citoplasmática associada aos

microfilamentos de actina. Elas são responsáveis pela regulação do citoesqueleto,

pois ancoram os microfilamentos de actina à membrana plasmática, permitindo a

comunicação e a sinalização intracelular entre o citoesqueleto e a célula. Além disso,

as filaminas são responsáveis pela regulação das vias de sinalização responsáveis

pelo desenvolvimento esquelético (Stossel e col., 2001; Lu e col., 2007b)

137

A proteína 2 semelhante ao componente C da sintase de lantionina

(LANCL2) é uma proteína associada ao citoesqueleto de actina, embora também

possa ser encontrada no núcleo celular. A miristolação da região N-terminal da

LANCL2 foi demonstrada. Esta reação de transferência de uma cadeia do lípide

miristato pela enzima coA-miristoil parece promover a associação de proteínas

específicas entre si, como também a domínios na membrana plasmática, no caso da

LANCL2. Este tipo de modificação pós-traducional parece induzir uma variedade

de cascatas de transdução de sinal (Farazi e col., 2001; Landlinger e col., 2006).

Desta forma, além de se associar ao citoesqueleto, essa é uma proteína que deve

estar envolvida na sinalização celular. Da mesma forma, HOMER-2 é uma proteína

associada ao citoesqueleto de actina pela pequena GTPase CDC42 e drebrina, além

de ser uma efetora na sinalização por cálcio (Shiraishi-Yamaguchi e Furuichi, 2009).

Ainda, como será visto abaixo, a enzima gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase

(GAPDH) está associada ao citoesqueleto (Trisdale c col., 2009; Tristan e col., 2011).

Pelas informações apresentadas acima, pudemos compor um grupo funcional

relacionado ao citoesqueleto, formado por 13 proteínas, candidatas em potencial a

participar de complexos macromoleculares contendo a Cx26, como listado na

Tabela 5.8. No entanto, esta lista não indica que todas elas façam parte de um ou

mais complexos funcionais com a Cx26. Neste aspecto, é importante discutir que,

mesmo dentro de um possível complexo funcional que inclui a Cx26, as proteínas a

ele pertencentes podem não apresentar interação física direta com a Cx26, mas

somente uma interação funcional. Por outro lado, uma vez que algumas dessas

proteínas, como a cingulina, interagem com outras desse grupo do citoesquelto e

também com proteínas que identificamos como resultados falso-positivos (ex.

miosinas), um cenário possível é que, neste exemplo, a cingulina interaja com a

Cx26 e tenha trazido consigo ao precipitado proteínas parceiras como a

placoglobina e TJP1, mas que podem não ser funcionalmente associados à Cx26.

A subunidade (µ2) da proteína AP3 é parte do complexo adaptador de

clatrina relacionada à endocitose de vesículas sinápticas e ao transporte intracelular

de proteínas mediado por vesículas. A formação de vesículas para o transporte entre

organelas na via secretora requer a montagem de um complexo de proteínas

138

envoltórias, recrutadas a partir do citosol. As proteínas da família AP são

responsáveis pelo sequestro e concentração das proteínas-cargo que serão

transportadas e pela invaginação da membrana para formação das vesículas

transportadoras (Stepp e col., 1997; Rous e col., 2002).

A proteína AP3, juntamente com a proteína RP/EB, agrupam-se em uma

segunda classe funcional, desta vez relacionada ao direcionamento de proteínas à

membrana plasmática, fazendo parte da via secretora celular que inclui a síntese

protéica no retículo endoplasmático rugoso, sua modificação pós-traducional no

complexo de Golgi e o transporte vesicular à membrana plasmática.

A proteína 4 de choque térmico (HSP4) e a proteína 21 ligante de chaperona

de choque térmico (HSPB21) são proteínas de choque térmico da família das

chaperonas, cuja função é auxiliar ao dobramento correto da proteína ou a sua

degradação quando não atinge sua conformação correta. A HSP4 é uma das

isoformas da HSP70. Ela auxilia no dobramento das proteínas que são sintetizadas

nos ribossomos que se encontram livres no citosol ou das proteínas que estão

presentes no retículo endoplasmático. Além disso, ela está relacionada com o

transporte de proteínas para o interior das mitocôndrias e dos cloroplastos (Mayer e

Bukau, 2007; Kriechbaumer e col., 2011). Já a HSPB21 faz parte de um grupo de

proteínas que apresentam um número elevado de repetições tetratricopeptídicas

(TPR), cuja interação com a HSP70 já foi demonstrada (Liu e col., 2008). Podemos

considerar ambas as proteínas, HSP4 e HSPBP21, como integrantes do sistema de

direcionamento de proteínas à membrana plasmática no segundo grupo funcional

nessa classificação (Tabela 5.8). O gene da proteína HSP70 já foi relacionado a

susceptibilidade a perda auditiva induzida por ruído (PAIR) e a proteção à

ototoxicidade por aminoglicosídeos (Konings e col., 2009)

A gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase (GAPDH) converte gliceraldeído-3-

fosfato em 1,3 D-gliceroil bisfosfato na presença de NAD+ (dinucleotídeo de

nicotinamida e adenina) e de fosfato inorgânico e media a formação de NADH e

trifosfato de adenosina (ATP). É uma enzima da via glicolítica, conhecida por

interagir com a tubulina e a actina, facilitando a agregação dos microtúbulos e a

polimerização da actina, respectivamente. Ela também é conhecida como proteína

139

adaptadora, responsável por intermediar o trânsito vesicular de proteínas nos

compartimentos celulares como o aparelho de Golgi e o retículo endoplasmático

(Tisdale e col., 2009, Tristan e col., 2011).

A Proteína ligante 1 de região C-terminal (CTB-bp1) faz parte de uma família

de proteínas nucleares que atuam como co-repressores de transcrição. Essas

proteínas também apresentam funções citoplasmáticas diferentes, relacionadas à

manutenção do Complexo de Golgi, que inclui a cisão da membrana para o

transporte intracelular e processo de fragmentação durante a mitose (Corda e col.,

2006). Além disso, a CTB-bp1 possui homologia estrutural com a família das

desidrogenases e já foi demonstrado que ela possui capacidade de se ligar a NAD+

(Fjeld e col., 2003; Zhang e col., 2002). Dada a participação das proteínas GAPDH

e CTB-bp1 no transporte vesicular, elas foram agrupadas na classe das proteínas

envolvidas no direcionamento de proteínas à membrana plasmática (Tabela 5.8). A

CTB-bp1 também esta associada a com a organização das fitas sinápticas. A

otoferlina, produto do gene OTOF também está relacionada à organização das fitas

sinapticas (ribbon sinaptic) das células auditivas ciliadas internas. Em humanos,

mutações nesse gene já foram associadas a neuropatia auditiva (Roux e col., 2007;

Rodrigues-Ballesteros e col., 2008).

O precursor da proteína 2A contendo domínio de isocorismatase (ISOC2A)

é uma proteína citoplasmática cuja única função conhecida é a atividade catalítica na

conversão do isocorismato em 2,3 di-hidrobenzoato e glutamato. Essa é uma

proteína conservada entre as diferentes espécies e já foi vista por interagir com a

proteína inibidora de cinase dependente de ciclina p16INK4a, uma supressora de

tumor. Foi demonstrado que a super expressão da ISOC2A inibe a expressão da

p16INK4a, sugerindo que o gene que codifica a proteína ISOC2A possa ter um papel

importante no desenvolvimento de tumores (Huang e col., 2007).

A sintase de arginossuccinato é citosólica e participa do ciclo da uréia,

catalizando a reação a produção de succinato de arginina, a partir de citrulina e

aspartato. Além disso, a citrulina e o óxido nítrico são produtos da catálise pela

sintase de óxido nítrico a partir de arginina. O óxido nítrico (NO) é uma molécula

140

gasosa na sinalização celular, fundamental em diversos processos celulares (Zhao e

col., 2008). Já foi descrito que enzimas envolvidas na reciclagem de citrulina em

arginina, como as sintases de argininossuccinato e de óxido nitrico podem ser

redistribuídas a domínios específicos da membrana plasmática denominados

caveólas, o que leva à hipótese de que o processo de regeneração da citrulina em

arginina possa ocorrer nesses locais (Flam e col., 2001).

Tabela 5.8.: Classificação funcional baseada na literatura científica das 22 proteínas candidatas em potencial a participarem do complexo molecular da Cx26.

Grupo funcional Proteínas

Relacionado ao citoesqueleto, com ênfase na manutenção e ancoramento de proteínas integrantes da membrana plasmática

1. Anquicorbina 2. Ativador da morfogênese associado a disheveled (DAAM1) 3. Cingulina 4. Ensconsina 5. Filamina B 6. Gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase (GAPDH)* 7. Homer 2* 8. Membro 2 da família de proteínas estruturais associadas à zona

ativa na citomatriz (CAST2) 9. Placoglobina 10. Proteína 2 semelhante ao componente C da sintase de lantionina

(LANCL2)* 11. Proteína associada ao citoesqueleto regulada por atividade

(ARCAP) 12. Proteína de ligação a junção ocludente 1/ZO1 (TJP1) 13. Vinculina

Transporte na via secretora

1. Gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase (GAPDH)* 2. Membro 2 da família RP/EB de proteínas associadas a

microtúbulos 3. Proteína 4 de choque térmico (HSP4) 4. Proteína ligante 1 de região C-terminal (CTB-bp1) 5. Proteína ligante de proteína de choque térmico (HSPBP21) 6. Subunidade µ2 da proteína adaptadora 3 (AP3)

Sinalização celular 1. Homer2* 2. Precursor da proteína 2A contendo domínio de

isocorismatase (ISOC2A) 3. Proteína 2 semelhante ao componente C da sintase de

lantionina (LANCL2)* 4. Proteína 47 associada a sinaptossomo (SAP47) 5. Proteína cinase de tirosina beta2 (TYKbeta2) 6. Sintase de argininossuccinato

*Proteínas classificadas em mais de um grupo funcional.

A proteína cinase de tirosina beta2 (TYKbeta2) é uma proteína da família das

cinases de adesão focal, cuja atividade é induzida pela interação com as integrinas e

141

os fatores de crescimento. Sua função está associada com a regulação e a

organização do citoesqueleto de actina, com a migração celular e com a reabsorção

óssea. Além disso, essa cinase de tirosina citoplasmática está envolvida na regulação

induzida por Ca2+ dos canais iônicos e na ativação da via de sinalização MAPK. (Du

e col., 2001, Xiong e Feng, 2003).

A HOMER2, assim como outras isoformas, HOMER1 e HOMER3, são

proteínas adaptadoras, presentes nas junções celulares relacionadas à via de

sinalização do Ca2+. Essas proteínas estão envolvidas no direcionamento e na

localização de proteínas sinalizadoras de Ca2+ em domínios específicos da

membrana plasmática e na regulação da atividade dessas proteínas no interior do

complexo proteico de sinalização do Ca2+ (Worley e col., 2007). Como dito, a

LANCL2 também está envolvida na sinalização celular.

O gene que codifica para a proteína 47 associada ao sinaptossomo (SAP47) é

membro de uma família de genes filogeneticamente conservados cuja função é

desconhecida até o momento. Em Drosophila, a SAP47 é expressa em todas as

regiões sinápticas do cérebro larval do tipo selvagem. Drosofilas mutadas com

mutações em que o gene que codifica para essa proteína se encontra parcialmente

deletado, se mostraram viáveis e férteis. No entanto, a curto prazo, foi observada

alteração da plasticidade neuronal (Saumweber e col., 2011).

Basendo-nos nas análises da literatura, revimos a Figura 5.11. e propomos

aqui, uma nova classificação funcional para este grupo das 22 proteínas com

potencial de participar de complexos macromoleculares com a Cx26 (Tabela 5.7.). O

terceiro grupo funcional é composto por seis proteínas relacionadas diretamente às

vias de sinalização na célula.

É fundamental, em experimentos futuros, confirmar a interação desssas 22

proteínas por meio de ensaios in vivo como a co-imunoprecipitação e demonstrar a

co-imunolocalização da Cx26 e sua(s) parceira(s) no órgão de Corti de

camundongos, confirmando a relevância da associação. Esta relevância deve ser

demonstrada funcionalmente in vitro, por meio da análise de processos biológicos

que ocorrem quando a expressão de um dos dois genes é inibida, por exemplo, por

142

meio de interferência por RNA. Os processos biológicos que se mostraram mais

interessantes tendo em vista nossos objetivos são o transporte da Cx26 à membrana

plasmática pela via secretora, a regulação da sua distribuição subcelular, a

manutenção das junções do tipo fenda e o controle de sua atividade a partir da

sinalização inter e intracelular.

5.6. Conclusões

Por meio do ensaio de precipitação por afinidade com a proteína de fusão

GST-Cx26 e análise por espectrometria de massas das proteínas presentes em

bandas de SDS-PAGE, obtidas no ensaio com a GST-Cx26 e ausentes no ensaio

com a GST, identificamos um total de 49 proteínas candidatas a interagirem com a

região C-terminal da Cx26.

Dessas 49 proteínas, dezesseis foram excluídas por redundância de

representação no ensaio GST-Cx26 ou por diferença entre a massa molecular

esperada e a observada. Seis proteínas foram excluídas por precipitação inespecífica.

Das 27 proteínas restantes, após análises in silico em diferentes bancos de dados,

quatro foram exlcuídas por localização subcelular incompatível com a Cx26 e uma

protéina foi excluída por ter sido identificada por similaridade do peptídio à

ubiquitina, sugerindo se tratar de alguma proteína ubiquitinada.

Vinte duas proteínas candidatas em potencial a interagir com a Cx26 foram

analisadas e classificadas de acordo com a ferramenta de ontologia gênica, definindo

a priori quatro grupos funcionais e um quinto grupo misto. Análises da literatura

científica reagruparam essas 22 proteínas em três classes principais: proteínas

responsáveis pela manutenção e ancoramento de proteínas integrantes da membrana

plasmática ao citoesqueleto; proteínas envolvidas no transporte vesicular de

moléculas na via secretora; e proteínas envolvidas na sinalização celular.

Dezenove das 22 proteínas são produtos de genes, cujos transcritos já foram

demonstrados na orelha interna. A confimação da interação entre essas 22 proteínas

143

e a conexina 26, será realizada em experimentos futuros por meio de estudos de co-

localização e imuno-coprecipitação.

144

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

144

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ANEXOS

165

ANEXOS

Anexo A - Artigo publicado no periódico Brazilian Brazilian Journal of Medical and

Biological Research, 2009.

Anexo B - Artigo publicado no periódico Journal Translation Medicine , 2010.

Anexo C - Exemplo de uma tabela gerada pelo programa Scaffold com as

proteínas identificadas por espectrometria de massas nas fatias isoladas de géis

SDS-PAGE referente a canaleta da GST-Cx26 ou GST, contendo as bandas

identificadas apenas no ensaio com a GST-Cx26

Anexo D - Exemplo de uma análise realizada para exclusão ou inclusão das

proteínas identificadas somente no ensaio com a GST-Cx26 devido à

diferença entre a massa molecular observada e a esperada

180

Anexo C - Exemplo de uma tabela gerada pelo programa Scaffold com as proteínas identificadas por espectrometria de massas nas fatias isoladas em SDS-PAGE referente a canaleta da GST-Cx26 ou GST, contendo as bandas identificadas apenas no ensaio com a GST-Cx26.

181

Anexo D - Exemplo de uma análise realizada para exclusão ou inclusão das proteínas identificadas somente no ensaio com a GST-Cx26 devido à diferença entre a massa molecular observada e a esperada. Nesse exemplo, temos a sequência da proteína Q69ZX3, cuja massa molecular observada foi menor que a esperada de acordo com os bancos de dados. Uma vez que os peptídeos identificados por espectrometria de massas estavam distribuídos ao longo de toda sua sequncia, essa proteína foi excluída do nosso estudo.

Q69ZX3 (99%), 228.274,0 Da

Q69ZX3_MOUSE MKIAA0866 protein (Fragment) [Mus musculus (Mouse) [10090]]

2 unique peptides, 2 unique spectra, 2 total spectra, 114/1984 amino acids (6% coverage)

S T P G V D L G P P D I M A Q K G Q L S D D E K F L F V D K N F M N S P M A Q A D W V A K K L V W V P S E K Q G F E A A

S I K E E K G D E V V V E L V E N G K K V T V G K D D I Q K M N P P K F S K V E D M A E L T C L N E A S V L H N L R E R

Y F S G L I Y T Y S G L F C V V V N P Y K Y L P I Y S E K I V D M Y K G K K R H E M P P H I Y A I A D T A Y R S M L Q D

R E D Q S I L C T G E S G A G K T E N T K K V I Q Y L A V V A S S H K G K K D S S I T G E L E K Q L L Q A N P I L E A F

G N A K T V K N D N S S R F G K F I R I N F D V T G Y I V G A N I E T Y L L E K S R A I R Q A R D E R T F H I F Y Y L L

A G A K E K M K S D L L L E S F N S Y T F L S N G F V P I P A A Q D D E M F Q E T L E A M S I M G F N E E E Q L A I L K

V V S S V L Q L G N I V F K K E R N T D Q A S M P D N T A A Q K V C H L V G I N V T D F T R A I L T P R I K V G R D V V

Q K A Q T K E Q A D F A I E A L A K A T Y E R L F R W I L S R V N K A L D K T H R Q G A S F L G I L D I A G F E I F E V

N S F E Q L C I N Y T N E K L Q Q L F N H T M F I L E Q E E Y Q R E G I E W N F I D F G L D L Q P C I E L I E R P N N P

P G V L A L L D E E C W F P K A T D K S F V E K L C S E Q G N H P K F Q K P K Q L K D K T E F S I I H Y A G K V D Y N A

S A W L T K N M D P L N D N V T S L L N A S S D K F V A D L W K D V D R I V G L D Q M A K M T E S S L P S A S K T K K G

M F R T V G Q L Y K E Q L G K L M T T L R N T T P N F V R C I I P N H E K R S G K L D A F L V L E Q L R C N G V L E G I

R I C R Q G F P N R I V F Q E F R Q R Y E I L A A N A I P K G F M D G K Q A C I L M I K A L E L D P N L Y R I G Q S K I

F F R T G V L A H L E E E R D L K I T D V I M A F Q A M C R G Y L A R K A F T K R Q Q Q L T A M K V I Q R N C A A Y L K

L R N W Q W W R L F T K V K P L L Q V T R Q E E E M Q A K E E E M Q K I K E R Q Q K A E T E L K E L E Q K H T Q L A E E

K T L L Q E Q L Q A E T E L Y A E A E E M R V R L A A K K Q E L E E I L H E M E A R L E E E E D R G Q Q L Q A E R K K M

A Q Q M L D L E E Q L E E E E A A R Q K L Q L E K V T A E A K I K K L E D D I L V M D D Q N S K L S K E R K L L E E R V

S D L T T N L A E E E E K A K N L T K L K S K H E S M I S E L E V R L K K E E K S R Q E L E K L K R K L E G D A S D F H

E Q I A D L Q A Q I A E L K M Q L A K K E E E L Q A A L A R L D E E I A Q K N N A L K K I R E L E G H I S D L Q E D L D

S E R A A R N K A E K Q K R D L G E E L E A L K T E L E D T L D S T A T Q Q E L R A K R E Q E V T V L K K A L D E E T R

S H E A Q V Q E M R Q K H T Q A V E E L T E Q L E Q F K R A K A N L D K S K Q T L E K E N A D L A G E L R V L G Q A K Q

E V E H K K K K L E V Q L Q D L Q S K C S D G E R A R A E L S D K V H K L Q N E V E S V T G M L N E A E G K A I K L A K

D V A S L G S Q L Q D T Q E L L Q E E T R Q K L N V S T K L R Q L E D E R N S L Q D Q L D E E M E A K Q N L E R H V S T

L N I Q L S D S K K K L Q D F A S T I E V M E E G K K R L Q K E M E G L S Q Q Y E E K A A A Y D K L E K T K N R L Q Q E

L D D L V V D L D N Q R Q L V S N L E K K Q K K F D Q L L A E E K N I S S K Y A D E R D R A E A E A R E K E T K A L S L

A R A L E E A L E A K E E L E R T N K M L K A E M E D L V S S K D D V G K N V H E L E K S K R A L E T Q M E E M K T Q L

E E L E D E L Q A T E D A K L R L E V N M Q A L K G Q F E R D L Q A R D E Q N E E K R R Q L Q R Q L H E Y E T E L E D E

R K Q R A L A A A A K K K L E G D L K D L E L Q A D S A I K G R E E A I K Q L R K L Q A Q M K D F Q R E L D D A R A S R

D E I F A T S K E N E K K A K S L E A D L M Q L Q E D L A A A E R A R K Q A D L E K E E L A E E L A S S L S G R N T L Q

D E K R R L E A R I A Q L E E E L E E E Q G N M E A M S D R V R K A T L Q A E Q L S N E L A T E R S T A Q K N E S A R Q

Q L E R Q N K E L R S K L Q E V E G A V K A K L K S T V A A L E A K I A Q L E E Q V E Q E A R E K Q A A T K S L K Q K D

K K L K E V L L Q V E D E R K M A E Q Y K E Q A E K G N T K V K Q L K R Q L E E A E E E S Q R I N A N R R K L Q R E L D

E A T E S N E A M G R E V N A L K S K L R R G N E A S F V P S R R A G G R R V I E N T D G S E E E M D A R D S D F N G T

K A S E