A Confissao de Guanabara

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A Confisso de Guanabara e seus confessores

A Confisso de Guanabara e seus confessores

DARIO OLIVEIRA DE MATOS

INTRODUO

Conforme HODGE (1999:22), o objetivo da elaborao de uma confisso de f ou de um credo, o de preservao e instruo popular no que se refere doutrina crist. No entanto, a pouco conhecida Confisso de f de Guanabara, elaborada quando do episdio da Frana Antrtica, foi escrita em resposta aos quesitos elaborados por Nicolas Durand de Villegaignon, ento representante do rei da Frana.

Os autores dela no eram telogos, tampouco ministros da palavra; antes, eram pessoas comuns, instrudos nos principais pontos da f e que contaram apenas com um exemplar das Sagradas Letras para redigir tal documento. CRESPIN (1917:28) comenta sobre a confisso:

Si no to extensa quanto fra para desejar, pedimo-vos considereis o logar onde se achavam os seus pobres autores, a sua perplexidade, as suas afflices, assim do esprito como do corpo, o seu desamparo, a sua falta de auxilio de pessoas e de livros, de tudo, emfim que lhes pudesse facilitar uma comprehenso mais vasta dos ensinos escripturisticos.

Ora, em que pese tenha sido elaborada como resposta a outro documento, a Confisso de Guanabara a afirmao das convices dos seus quatro subscritores. Assim, tal qual os diversos credos e confisses da cristandade, esse documento teve como escopo realizar a defesa fundamentada da religio crist que seus autores professavam.

Analisando este documento podemos compreender melhor quem eram seus confessores, qual o seu nvel cultural, sua viso quanto f, e o zelo deles pelo que criam, mesmo sabendo que suas vidas corriam perigo. So homens abnegados, protomrtires da f no Brasil, e exemplos que continuamente so citados na igreja protestante, influenciando as geraes posteriores. Da a relevncia do presente estudo.

Para o presente trabalho, tomar-se- por referencial terico SILVA (1998), que faz uma anlise minunciosa da Confessio Fluminensis; tendo por fontes LRY (1980) e CRESPIN (1917), por trazerem relatos in loco ou narrados por terceiros que vivenciaram aquela situao. Foram utilizados tambm outros materiais, devidamente enumerados na bibliografia.

HISTRICO

a. Protestantismo de invaso.

Convm antes de qualquer coisa saber a natureza da expedio que ser estudada, para melhor compreenso dos propsitos da mesma.

Classicamente, a presena dos protestantes no Brasil classificada em duas categorias, a saber, protestantismo de imigrao e protestantismo de converso ou misso. Esta classificao, proposta por Cndido Procpio Ferreira de Camargo, a que se tornou consenso entre os historiadores, nos ltimos trinta anos.

MENDONA (2004:49) prope uma terceira categoria a essas duas: o protestantismo de invaso. O autor caracteriza esta forma de protestantismo como presena temporria, efmera mesmo, do protestantismo no Brasil Colnia, marca das incurses francesas e neerlandesas no ento territrio ultramarino americano de Portugal. E complementa:

Os huguenotes franceses (1555-1567) e os reformados holandeses (1630-1654) constituram o protestantismo de invaso. Depois dos holandeses no houve protestantismo no Brasil, a no ser pela presena espordica de um ou outro viajante ou aventureiro europeu de origem protestante. MENDONA (2004:52).

Dessa forma, o episdio investigado est localizado nesse contexto de protestantismo de invaso, em verdade tentativas de colonizao protestante mal sucedidas ou destrudas pelas guerras com os portugueses catlicos.

b. A Frana Antrtica.

Nicolas Durand de Villegagnon, nobre francs, cavaleiro da Ordem de So Joo de Jerusalm, foi o mentor da primeira tentativa de colonizao francesa nas Amricas a Frana Antrtica.

CRESPIN (1917:8) relata que Villegagnon, desgostoso das disputas polticas na Frana e na Bretanha, buscava atrair as simpatias de quem lhe pudesse dar apoio ao projeto, aos quaes affirmava que seu vehemente desejo e mais forte empenho era procurar um sitio de repouso e tranqullidade, onde pudesse estabelecer os perseguidos em Frana por causa do Evangelho.

Assim, ele convenceu o Almirante Gaspard de Coligny a ajud-lo. Este ltimo, usando de sua influncia junto ao rei da Frana, Henrique II, conseguiu para Villegagnon dois navios armados, suprimentos, e dez mil francos para empreender a viagem.

Aps vrios contratempos, Villegagnon aporta no rio de Janeiro a 10 de novembro de 1555, com sua expedio, recrutada com as maiores dificuldades, e formada quase exclusivamente de aventureiros que visavam o lucro fcil.

SALVADOR (1889:69) relata sinteticamente a chegada de Villegagnon:

...Nicolau Villaganhon, homem nobre de Frana, e cavalleiro do Habito de So Joo, informado dos Francezes, que por ali [no Brasil] vinho commerciar com o gentio Tapuya, determinou de vir a povoal-a; pera o que fez huma armada em que veio com muitos soldados, e entrando no rio (...), lhe fortificou a entrada, solicitou os Gentios, e fez liga e amizade com elles, e para maior defensa comeou em huma das ilhas da enseada a levantar huma fortaleza de pedra, tijolo, e gesso, em cuja obra trabalhavo os Indios com muita vontade.Aps ter debelado um motim feito pelos construtores franceses do forte (Fort Coligny), que reclamavam da falta de vveres, Villegagnon remeteu um emissrio a Genebra, portando carta sua em que pedia igreja de l para que lhe mandassem um ou dois pregadores, mais alguns artesos para trabalhar, e colonos para habitar a terra.

c. A Misso de Lry.

A Igreja de Genebra foi extremamente solcita requisio de pessoal, engajada que estava com o trabalho missionrio, ento. Rapidamente selecionou um grupo de pessoas a ser enviado a fim de juntar-se a Villegagnon para anunciarem o evangelho na Amrica, encabeado por Philippe de Corguilleray doravante referido por seu ttulo, Senhor du Pont e pelos pastores Pierre Richier e Guillaume Chartier.

Aps uma travessia tumultuada do Atlntico, a misso chegou aos 7 de maro de 1557 ao Fort Coligny, recebendo uma recepo calorosa por Villegagnon, que escreve carta repleta de entusiasmo e agradecimento a Calvino.

No obstante este entusiasmo inicial, as divergncias comeam a aparecer j na pscoa. Quer por influncia das correspondncias que recebia do cardeal de Lorena (irmo de Francisco de Guise, grande inquisitor francs), quer por ter sido este seu plano desde o incio, o fato que Villegagnon endureceu sua relao com os protestantes, especialmente aps ter mandado Chartier de volta para a Europa, com carta endereada a Calvino onde pede esclarecimentos sobre certos pontos doutrinrios.

Sem Chartier, Villegagnon comea a perseguir os huguenotes. E aps oito meses de perseguies, eles deixam o Fort Coligny, passando a viver na terra, mais precisamente, na briqueterie (Olaria). Ento travam contatos com os nativos, e tentaram evangeliz-los.

BILER (1991:246, 247) sintetiza bem o fim da expedio protestante na Frana Antrtica, em que, aps meses de vida aventureira e de provaes heroicamente suportadas, embarcam em um batel-sepulcro que fazia gua por toda parte e chegam milagrosamente poupados diante das costas da Bretanha no dia 24 de maio de 1559.

Por insistncia de du Pont e de Richier, o comandante do navio cedeu um bote para quem quisesse ceder lugar para aumentar as chances dos demais, vez que os vveres no eram suficientes para todos, a que respondeu um grupo de cinco pessoas, que retornou ao continente.

No navio Jacques, os huguenotes sofrem com uma viagem mais longa que o esperado e com a falta de alimentos. Chegando na Frana, ainda tm uma ltima surpresa: Villegaignon havia entregue uma caixinha ao mestre do navio onde, entre correspondncias a pessoas da Frana, havia um processo organizado contra os huguenotes egressos, com ordem expressa ao primeiro juiz a quem se apresentasse em Frana de prend-los e de queima-los como hereges. Deste ltimo apuro foram livres graas interveno de algumas pessoas da justia, afeioadas religio reformada, conhecidos de Du Pont. (LRY, 1980:249-250,268).

Quanto aos cinco huguenotes que voltaram ao continente, quatro so presos por Villegagnon, sendo trs estrangulados e lanados ao mar por heresia, e um deles, poupado, por ser o nico alfaiate da colnia.

O quinto huguenote que havia voltado, Jacques le Balleur, havia ficado entre os nativos, por isso escapou de Villegagnon. No entanto, foi preso posteriormente pelos portugueses, ficando aprisionado por vrios anos (1559-1567) em Salvador.

Em 1567, ele foi levado por Mem de S para a recm-fundada cidade de So Sebastio do Rio de Janeiro; le Balleur terminou ali seus dias, onde comeou sua aventura na Amrica, enforcado pelo jesuta Jos de Anchieta.

d. O fim da Frana Antrtica.

Em 1559, a rainha de Portugal D. Catarina, av de D. Sebastio (ento com 5 anos) escreve ao Governador Geral do Brasil, Mem de S, encarregando-o de expulsar de vez os franceses da baa da Guanabara com a armada que haveria de mandar.

SALVADOR (1889:69) relata que Mem de S,

(...) em o anno do Senhor de mil quinhentos e sessenta se partio para o Rio de Janeiro, onde rompendo as foras, que impedio a entrada, entrou na enseada, e tomou huma nau Franceza, da qual soube no estar ahi j o Villaganhon, que fora chamado a Malta, mas ter deixado hum sobriho seu por Capito na fortaleza (...).

A 15 de maro de 1560, Mem de S deu o comando para as tropas compostas de portugueses e ndios desembarcarem. A luta foi difcil, tendo durado dois dias e duas noites. A batalha s se encerrou pela audcia de alguns portugueses, que escalaram as muralhas e tomaram o paiol de plvora.

Mem de S limitou-se, ento, a apreender os armamentos, a destruir a fortificao, e a levar presas as cerca de 40 pessoas que haviam se entregado, tendo os demais colonos buscado abrigo entre seus aliados indgenas.

Desses colonos fugitivos, boa parte se dirigiu para o nordeste, no litoral, aguardando que passasse um navio francs para poder voltar para casa; quanto aos demais, no h registros do que lhes sucedeu.

Assim terminou a primeira incurso francesa no territrio ultramarino portugus. Os franceses tentariam se estabelecer no Brasil mais duas vezes: em Ibiapaba, no Cear (1590 a 1604), e em Saint Louis du Maragnon (So Lus do Maranho 1612 a 1615). Contudo, estas duas ltimas experincias no tiveram carter religioso.

CIRCUNSTNCIAS DA ELABORAO DA CONFISSO DE GUANABARA.

Aps voltarem a Terra, os cinco huguenotes procuraram refgio com Villegagnon, e explicaram tudo o que lhes sucedera. Este se lhes mostrou a princpio afvel, porm, semelhana do que fizera com a misso genebrina, veio a endurecer contra eles.

De acordo com CRESPIN (1917:28), Villegagnon via nos cinco regressos uma conspirao contra si, que teria sido tramada por du Pont e Richier. Os artesos seriam espies, e era-lhe necessrio livrar-se deles. No dispondo de provas de tal traio, ele lana mo de outro recurso.

...lembrou-se elle [Villegagnon] que os cinco eram da opinio de Luthero e Calvino e que, como logar-tenente do rei em Coligny, poderia, em face das ordens emanadas de Francisco e Henrique II, exigr-lhes a razo da sua f, confessada em publico, em que sabia estarem maravilhosamente firmes e que nunca a renegariam embora lhes custasse a vida.

Achra, portanto, o meio de eliminal-os, e at com grande honra para elle, segundo pensava ; porque sabia que a maioria da Crte teria grande prazer no sacrificio dos Reformados.

Contraditoriamente Villegagnon, que fora para a Amrica buscando fazer um reino seu, lana mo da autoridade do rei da Frana para executar seu plano, e se ver livre da ameaa que os reformados representavam, segundo pensava.

Assim, Villegagnon convocou-os ao forte (momento em que Jacques le Balleur se separa dos seus companheiros) e deu-lhes doze horas para responder, por escrito, um questionrio que havia preparado, sobre matrias de f. Relata CRESPIN (1917:29) que os franceses que l estavam tentaram convencer os huguenotes a no responder o questionrio e a fugir para os indgenas, ou mesmo que se entregares para os portugueses.

Porm, os confessores no aceitaram este conselho, e deram incio tarefa. Elegeram como redator Jean du Bourdel, no s porque era o mais velho de entre elles, como em razo de ser o mais letrado e de possuir conhecimentos da lngua latina. CRESPIN (1917:29).

Assim, munidos apenas de um exemplar das Sagradas Letras para se recordarem das passagens mais apropriadas e dos ensinamentos que aprenderam em Genebra, deram os confessores incio tarefa. CRESPIN (1917:29) acrescenta:

Jean du Bourdel, concluida a redaco da resposta aos artigos do almirante, procedeu repetidas vezes sua leitura perante os seus companheiros, interrogando-os a proposito de cada ponto.

Todos acharam catholica a Confisso e fundada na Palavra da Verdade, declarando-se, mesmo, dispostos a morrer, caso fosse esta a vontade de Deus. Cada um a assignou de seu proprio punho, para significar que a recebiam como propria.

Terminada a confisso, foi esta entregue a Villegagnon, que a considerou hertica, especialmente nos trechos que tratam dos sacramentos e dos votos.

A partir daqui, os eventos ocorrem muito rapidamente: os confessores foram convocados por Villegagnon para serem interrogados sobre a confisso, so presos, instados a negarem aquilo que escreveram e a rejeitarem a f que professavam, e ento estrangulados e lanados ao mar. Andr La-Fon, o nico alfaiate do Forte, foi poupado, com a condio de no declarar publicamente sua f.

ASPECTOS DA CONFISSO DE GUANABARA E DE SEUS SUBSCRITORES

A Confisso de F de Guanabara estruturada em 17 artigos. No se sabe se tais artigos refletem diretamente as perguntas de Villegagnon ou no, vez que estas no mais existem; no entanto, j foram feitas tentativas de reconstru-las.

Em uma primeira leitura, a impresso que se tem que se trata de um texto sem coordenao, feito s pressas, com repetio de alguns assuntos e com outros assuntos sendo tratados fora de seu contexto.

Essa aparente desorganizao, bem como a limitao de que sofre a confisso, de acordo com SILVA (1998:83), decorre tanto da desorganizao das perguntas ou da m formulao das mesmas, tendo corroborado tambm as condies em que o documento foi escrito.

Uma anlise dos assuntos tratados, no entanto, nos mostra que estes se encontram encadeados, construindo uma estrutura linear. SILVA (1998:50) diz que [u]m assunto no chama, necessariamente, outro. Entretanto, possvel achar grupos de assuntos que estejam ligados entre si de modo interno ou que se referem externamente uns aos outros.

Ademais, salvo a apresentao e a concluso da confisso, que se referem ao contexto histrico, est o documento redigido de forma a tentar melhor responder s questes teolgicas apresentadas, conciliando tais tenses intelectuais com a f confessada pelos confessores. Segue abaixo esquema de assuntos proposto por SILVA (1998:49):

Interessante notar que, dos seis pontos em que classicamente se divide a Teologia sistemtica (a saber, doutrina de Deus, doutrina do homem, doutrina de Cristo, doutrina da salvao, doutrina da Igreja, e doutrina das ltimas coisas), cinco esto presentes.

Disto se infere que os confessores no eram sujeitos ordinrios, como se poderia sugerir; pelo contrrio, instrudos em Genebra - pressionados que estavam pelo prazo, por saberem que suas vidas dependiam do que escreveriam, pela f que professavam e no queriam abandonar.

Alm disso, por terem conseguido resolver os problemas que Villegagnon lhes propora, dentro do sistema teolgico em que criam, verifica-se um certo carter apologtico da confisso, na medida que este documento declara e defende a f de seus subscritores.

SILVA (1998:27-29) traz, acerca da Confessio Fluminensis:

Na realidade a Confisso de F da Guanabara no pode, a rigor, ser chamada de uma Confisso de F Brasileira. Ela no tem qualquer preocupao com assuntos relacionados ao Brasil. Ela foi escrita aqui, e, segundo Lry, com tinta de pau-brasil; entretanto, retrata as controvrsias europias da poca. (...) Como documento ela mpar, e, alm do contedo, seus aspectos mais interessantes so:

1. um dos primeiros documentos confessionais escritos pela Igreja Reformada. Antes, alm das Institutas, s havia sido escrito o Consensus Tigurinus (com o comentrio adicionado por Calvino) e o Consenso de Genebra.

2. Obviamente ela reflete as controvrsias e o ensino da poca (pelo menos o ensino dado na Igreja de Genebra).

3. Seu contedo no indefinido ou vago, como se esperaria de um documento poltico que visasse a salvao de alguns homens. Ela extremamente clara e definida..

4. escrita por leigos (uso esta palavra por falta de uma melhor, querendo com isto referir-me a pessoas no ordenadas ao ministrio da palavra). Ainda que creiamos que Joo du Bourdel a tenha redigido sozinho, no podemos esquecer que ele era leigo, e, levando em conta que tratava-se da elaborao de um documento cujo teor teria como conseqncia a liberdade ou priso, a vida ou a morte, dificilmente deixaria de atrair a ateno de seus companheiros. Devemos nos lembrar que todos eram artesos e que possuam apenas slidos conhecimentos das doutrinas bsicas, como nos diz Lry.

5. Ela revela uma estrutura interior coesa. Ainda que seja constituda por diversas respostas a perguntas feitas por Villegagnon ela escrita de forma ordenada.

CONCLUSO

Como visto, os subscritores da Confisso de F de Guanabara no eram meros indivduos ordinrios, como se poderia julgar numa primeira lida.

preciso lembrar que todos eles eram artesos, e que, naquela poca, s podia exercer este tipo de atividade quem estivesse filiado a uma corporao de ofcio, o que leva a uma elitizao da atividade e de seus membros.

Convm lembrar que o prprio Lry fora para a expedio como arteso-sapateiro. Alm disso, mesmo com a ameaa de Villegaignon pairando sobre eles, e dispondo apenas de doze horas e um nico exemplar da Bblia, os confessores citaram de memria Tertuliano, Agostinho e Cipriano.

S este fato corrobora com a hiptese de que eles no eram ignorantes de sua f, como tambm no o eram os seus companheiros de viagem. Pelo contrrio, eram homens instrudos, com conhecimentos tanto da Bblia quanto de autores da Patrstica (pelo menos dos trs citados na confisso).

Conforme MATOS (2001:3), a colonizao da Frana Antrtica foi um empreendimento fracassado tanto em termos ideolgicos como em termos polticos, vez que seus propsitos, seculares ou religiosos, no foram adequadamente concebidos. Acrescenta que, no tendo os conflitos religiosos findado na Europa, no era no Brasil que iriam ser resolvidos.

MENDONA (1995:24) traa a seguinte ponderao:

Embora no se deva esquecer de que fatores de ordem no religiosa tenham colaborado para a runa da Frana Antrtica, entre eles a resistncia portuguesa naturalmente, bastante interessante o fato de que se tenha reproduzido sob cus da Amrica, ainda no sculo XVI, uma das controvrsias centrais da Reforma, isto , sobre o significado dos elementos da eucaristia e a manuteno dos elementos catlicos, o sal e a gua, junto com a gua do batismo.(...) reproduzidas as lutas da Reforma no seu interior, o pequeno grupo no pde persistir nos seus intentos religiosos de unidade e tranqilidade.

SILVA (1998:83,84) conclui: luz do material usado possvel afirmar que Villegaignon j havia deliberado a morte deles. As respostas ao questionrio apenas fornecem-lhe o pretexto para faz-lo. Acima da disputa teolgica, ento, est uma disputa poltica e a F foi usada para ratificar uma deciso.

No entanto, a Frana Antrtica tem o valor do pioneirismo, pois foi a primeira tentativa de se implantar uma igreja aos moldes da Reforma e um trabalho missionrio calvinista sob os cus da Amrica, alm de terem aqui realizado o primeiro culto protestante, em 10 de maro de 1557.

Ademais, o exemplo de abnegao e de f destes verdadeiros mrtires da f tem inspirado e incentivado vrias geraes de crentes, tanto na Europa quanto na Amrica, e em especial no Brasil, a seguir sua firmeza no temor a Deus e determinao em construir um local livre de perseguies religiosas (MATOS, 2001:3).

Eis o legado daqueles huguenotes: um exemplo de f e de disposio diante da morte que seguramente influenciou os demais reformados a partir da publicao do livro Histoire des Martyrs, de Jean Crespin; e um dos primeiros documentos da igreja reformada, que embora seja bem limitada e tenha uma apresentao algo catica, exemplificava as disputas daquela poca. BIBLIOGRAFIA

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MENDONA, Antonio Gouva. O Celeste Porvir a insero do protestantismo no Brasil. 2 Edio. So Paulo: Aste, 1995.

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ANEXO

O TEXTO DA CONFISSO DE GUANABARA (CONFESSIO FLUMINENSIS)

Abaixo segue a traduo da Confisso de Guanabara feita por Erasmo Braga em 1907, conforme publicado em CRESPIN (1917:30-34), seguindo a grafia da poca:

Segundo a doutrina de S. Pedro Apostolo, em sua primeira epistola, todos os Christos devem estar sempre promptos para dar razo da esperana que nelles ha, e isso com toda a doura e benignidade, ns, abaixo assignados, Senhor de Villegaignon, unanimemente (segundo a medida de graa que o Senhor nos ha concedido) damos razo, a cada ponto, como nos haveis apontado e ordenado, e comeando no primeiro artigo :

I. Cremos em um s Deus, immortal e invisivel, creador do co e da terra, e de todas as coisas, tanto visiveis como invisiveis, o qual distinto em tres pessoas : o Pae, o Filho e o Santo Espirito, que no fazem sino uma mesma substancia em essencia eterna e uma mesma vontade ; o Pae fonte e comeo de todo o bem ; o Filho eternamente gerado do Pae, o qual, cumprida a plenitude do tempo; se manifestou em carne ao mundo, sendo concebido do Santo Espirito, nascido da Virgem Maria, feito sob a Lei para resgatar os que sob ella estavam, afim de que recebessemos a adopo de proprios filhos; o Santo Espirito, procedente do Pae e do Filho, mestre de toda a verdade, falando pela boca dos Prophetas, suggerindo todas as coisas que foram ditas por nosso Senhor Jesus Christo aos Apstolos. Este o unico consolador em afflico, dando constancia e perseverana em todo bem.

Cremos que mistr smente adorar e perfeitamente amar, rogar e invocar a magestade de Deus em f ou particularmente.

II. Adorando nosso Senhor Jesus Christo, no separamos uma natureza da outra, confessando as duas naturezas, a saber, divina e humana n'Elle inseparaveis.

III. Cremos, quanto ao Filho de Deus e ao Santo Espirito, o que a Palavra de Deus e a doutrina apostolica, e o symbolo, nos ensinam.

IV. Cremos que nosso Senhor Jesus Christo vir julgar os vivos e os mortos, em frma visivel e humana como subiu ao Co, executando tal juizo na forma em que, nos predisse em S. Matheus, vigesimo quinto capitulo, tendo todo o poder de julgar, a Elle dado pelo Pae, em tanto que homem.

E, quanto ao que dizemos em nossas oraes, que o Pae apparecer enfim na pessoa do Filho, entendemos por isso que o poder do Pae, dado ao Filho, ser manifestado no dito juizo, no todavia que queiramos confundir as pessoas, sabendo que ellas so realmente distintas uma da outra.

V. Cremos que no Santssimo Sacramento da Ceia, com as figuras corporaes do po e do vinho, as almas fieis so realmente e de facto alimentadas com a propria substancia de nosso Senhor Jesus como nossos corpos so alimentados de viandas, e assim no entendemos dizer que o po e o vinho sejam transformados ou transubstanciados no corpo e sangue d'elle, porque o po continua em sua natureza e substancia, similhantemente o vinho, e no ha mudana ou alterao.

Distinguimos todavia este po e vinho do outro po que dedicado ao uso commum, sendo que este nos um signal sacramental, sob o qual a verdade infallivelmente recebida.

Ora esta recepo no se faz sino pormeio da f e nella no convem imaginar nada de carnal, quem preparar os dentes para o comer, como santo Agostinho nos ensina, dizendo : Porque preparas tu os dentes e o ventre ? Cr, e tu o comeste

O signal, pois, nem nos d a verdade, nem a coisa significada ; mas nosso Senhor Jesus Christo, por seu poder, virtude e bondade, alimenta e preserva nossas almas, e as faz participantes de sua carne, e de seu sangue, e de todos os seus benefcios.

Vejamos a interpretao das palavras de Jesus Christo:

Este po o meu corpo. Tertuliano, no livro quarto contra Marcion, explica estas palavras assim : Este o signal e a figura do meu corpo .

S. Agostinho diz : O Senhor no evitou dizer :- Este o meu corpo, quando dava apenas o signal de seu corpo .

Portanto (como ordenado no primeiro Canon do concilio de Nica), neste santo Sacramento no devemos imaginar nada de carnal e nem nos distrahir no po e no vinho, que nos so nelles propostos por signaes, mas levantar nossos espiritos ao Co para contemplar pela f o Filho de Deus, nosso Senhor Jesus, sentado dextra de Deus, seu Pae.

Neste sentido podiamos juntar o artigo da Asceno, com muitas outras sentenas de santo Agostinho, que omittimos, temendo ser longas.

VI. Cremos que, si fosse necessario pr agua no vinho, os evangelistas e So Paulo no teriam omttido uma coisa de to grande conseqncia.

E quanto a que os doutores antigos o tm observado (fundamentando-se sobre o sangue misturado com agua que sahio do lado de Jesus Christo, desde que tal observancia no tem nenhum fundamento na Palavra de Deus, visto mesmo que depois da instituio da Santa Ceia isso aconteceu ), ns a no podemos hoje admittir necessariamente.

VII. Cremos que no ha outra consagrao que a que se faz pelo ministro, quando se celebra a Ceia, recitando o ministro ao povo, em linguagem conhecida, a instituio desta Ceia litteralmente, segundo a frma que nosso Senhor Jesus Christo nos prescreveu, admoestando o povo da morte e paixo de nosso Senhor. E mesmo, como diz santo Agostinho, a consagrao e a palavra de f que pregada e recebida em f. Pelo que, segue-se que as palavras secretamente pronunciadas sobre os signaes no podem ser a consagrao como apparece da instituio que nosso Senhor Jesus Christo deixou aos seus Apstolos, dirigindo suas palavras aos seus discipulos presentes, aos quaes ordenou tomar e comer.

Vlll. O Santo Sacramento da Ceia no vianda para o corpo como para as almas (porque ns no imaginamos nada de carnal, como declaramos no artigo quinto) recebendo-o por f, a qual no carnal.

IX. Cremos que o baptismo Sacramento de penitencia, e como uma entrada na Egreja de Deus, para sermos incorporados em Jesus Christo. Representa-nos a remisso de nossos peccados passados e futuros, a qual adquirida plenamente s pela morte de nosso Senhor Jesus.

De mais, a mortificao de nossa carne ahi nos representada, e a lavagem, representada pela agua lanada sobre a creana, signal e sello do sangue de nosso Senhor Jesus, que a verdadeira purificao de nossas almas. A sua instituio nos ensinada na Palavra de Deus, a qual os santos Apostolos observaram usando de agua em nome do Pae, do Filho e do Santo Espirito.

Quanto aos exorcismos, abjuraes de satan, chrisma, saliva e sal, ns os registramos como tradies dos homens, contentando-nos s com a frma e instituio deixada por nosso Senhor Jesus.

X. Quanto ao livre-arbitrio, cremos que, si o primeiro homem, creado imagem de Deus, teve liberdade e vontade, tanto para bem como para mal, s elle conheceu o que era o livre arbitrio, estando em sua integridade. Ora, elle nem apenas guardou este dom de Deus, assim delle foi privado por seu peccado, e todos os que descendem delle, de sorte que nenhum da semente de Ado tem uma scentelha do bem.

Por esta causa, diz So Paulo, que o homem sensual no entende as coisas que so de Deus. E Oseas clama aos filhos de lsrael : Tua perdio de ti, lsrael.

Ora isto entendemos do homem que no regenerado pelo Santo Espirito.

Quanto ao homem christo, baptizado no sangue de Jesus Christo, o qual caminha em novidade de vida, nosso Senhor Jesus Christo restitue nelle o livre arbitrio, e reforma a vontade para todas as boas obras, no todavia em perfeio, porque a execuo de boa vontade no est em seu poder, mas vem de Deus, como amplamente este Santo Apostolo declara, no setimo capitulo aos Romanos, dizendo : Tenho o querer, mas em mim no acho o perfazer .

O homem predestinado para a vida eterna, embora peque por fragilidade humana, todavia no pode cahir em impenitencia.

A este proposito, S. Joo diz que elle no pecca, porque a eleio permanece nelle.

XI. Cremos que pertence s Palavra de Deus perdoar os peccados, da qual, como diz Santo Ambrosio, o homem apenas o ministro; portanto, si elle condemna ou absolve, no elle, mas a Palavra de Deus que elle annuncia.

Santo Agostinho neste logar diz que no pelo merito dos homens que os peccados so perdoados, mas pela virtude do Santo Espirito. Porque o Senhor dissera a seus apostolos : Recebei o Santo Espirito ; depois accrescenta : Si perdoardes a algum, seus peccados , etc.

Cypriano diz que o servidor no pode perdoar a offensa contra o Senhor.

XII. Quanto imposio das mos, essa servio em seu tempo, e no ha necessidade de conserval-a agora, porque pela imposio das mos no se pode dar o Santo Espirito, porquanto isto s a Deus pertence.

Tocante ordem ecclesiastica, cremos no que So Paulo della escreveu na Primeira Epistola a Timotheo, e em outros logares.

XIII. A separao entre o homem e a mulher legitimamente unidos por casamento no se pde fazer sino por causa de adulterio, como nosso Senhor ensina. Matheus, capitulo XIX: ver. 5. E no smente se pode fazer a separao por essa causa, mas, tambem, bem examinada a causa perante o magistrado, a parte no culpada, se no podendo conter, pde casar-se, como So Ambrosio diz sobre o capitulo VII da Primeira Epistola aos Corinthios. O magistrado, todavia, deve nisso proceder com madureza de conselho.

XIV. So Paulo, ensinando que o bispo deve ser marido de uma s mulher, no diz que lhe seja licito tornar-se a casar, mas o Santo Apostolo condemna a bigamia a que os homens daquelles tempos eram muito affeitos ; todavia, nisso deixamos o julgamento aos mais versados nas Santas Escripturas, no se fundando a nossa f sobre esse ponto.

XV. No licito votar a Deus, sino o que elle approva. Ora, assim que os votos monasticos s tendem corrupo do verdadeiro servio de Deus. E' tambem grande temeridade e presumpo do homem fazer votos alm da medida de sua vocao, visto que a Santa Escriptura nos ensina que a continencia um dom especial. Matheus XV e I Epist. de S. Paulo aos Corinthios, VII. Portanto, segue-se que os que se impem esta necessidade, renunciando ao matrimonio toda a sua vida, no pdem ser desculpados de extrema temeridade e confiana excessiva e insolente em si mesmos.

E por este meio tentam a Deus, visto que o dom da continencia em alguns apenas temporal, e o que o teve por algum tempo no o ter pelo resto da vida. Por isso, pois, os monges, padres e outros taes que se obrigam e promettem viver em castidade, tentam contra Deus, por isso que no est nelles cumprir o que promettem. So Cypriano, no capitulo onze, diz assim : Si as virgens se dedicam de boa vontade a Christo, perseverem em castidade sem defeito ; sendo assim fortes e constantes, esperem o galardo preparado para a sua virgindade; si no querem ou no pdem perserverar nos votos, melhor que se casem do que serem precipitadas no fogo da lascivia por seus prazeres e delicias. Quanto passagem do apostolo S. Paulo, verdade que as viuvas, tomadas para servir Egreja, se submettiam a no mais casar, emquanto estivessem sujeitas ao dito cargo, no que por isso se lhes reputasse ou attribuisse alguma santidade, mas porque no se podiam bem desempenhar de seus deveres, sendo casadas ; e, querendo casar, renunciassem a vocao para que Deus. as tinha chamado, comtudo que cumprissem as promessas feitas na Egreja, sem violar a promessa feita no baptismo, na qual est contido este ponto : Que cada um deve servir a Deus na vocao em que foi chamado . As viuvas, pois, no faziam voto de continencia, sino no que o casamento no convinha ao officio para que se apresentavam, e no tinham outra considerao que cumpril-o. No eram to constrangidas que no lhes fosse antes permittido casar-se que abrazar-se e cahir em alguma infamia ou deshonestidade.

Mais, para evitar tal inconveniente, o Apostolo So Paulo, no capitulo citado, prohibe, que sejam recebidas para fazer taes votos sem que tenham a edade de sessenta, annos, que uma edade commumente fra da incontinencia. Accrescenta que os eleitos s devem ter sido casados uma vez, afim de que por essa frma, tenham j uma approvao de continencia.

XVI. Cremos que Jesus Christo o nosso unico Mediador, Intercessor e Advogado, pelo qual temos accesso ao Pae, e que, justificados no seu sangue, seremos livres da morte, e por elle j reconciliados teremos plena victoria contra a morte.

Quanto aos santos defuntos, dizemos que desejam a nossa salvao e o cumprimento do Reino de Deus, e que o numero dos eleitos se complete ; todavia no nos devemos dirigir a elles como intercessores para obterem alguma coisa, porque desobedeceriamos o mandamento de Deus. Quanto a ns, ainda vivos, emquanto estamos unidos como membros de um corpo, devemos orar uns pelos outros, como nos ensinam muitas passagens das Santas Escripturas.

XVll. Quanto aos mortos, So Paulo na 1 Epistola aos Thessalonicenses, lV capitulo, nos prohibe entristecer-nos por elles, porque isto convm aos pagos, que no tm esperana alguma de resuscitar. O Apostolo no mand e nem ensina orar por elles, o que no teria esquecido, si fosse conveniente. S. Agostinho, sobre o Psalmo XLVlll, diz que os espiritos dos mortos recebem conforme o que tiverem feito durante a vida ; que, si nada fizeram, estando vivos, nada recebem, estando mortos.

Esta a resposta que damos aos artigos por vs enviados, segundo a medida e poro da f, que Deus nos deu, supplicando que lhe praza fazer que em ns no seja morta, antes produza fructos dignos de seus filhos, e assim, fazendo-nos crescer e perseverar n'ella, lhe rendamos graas e louvores para sempre jamais.

Assim seja.

Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon, Andr la Fon.* Confisso escrita por Jean du Bourdel entre 04/01/1558 e 09/02/1558 Advogado, bacharel em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, aluno do Programa de Ps-Graduao em Cincias da Religio, Mestrado.

LRY (1980:56).

CRESPIN (1917:29).

A Ordem dos cavaleiros de So Joo do hospital de Jerusalm se dividiu entre a Bailia de Brandenburgo, que aderiu Reforma (e passou a se intitular Johanniter Orden), e os remanescentes catlicos, que deram origem Ordem Militar de Malta.

Paul Gafarel afirma em Lry (1980:20), nota 4, que referida carta se encontraria na Biblioteca de Genebra, e que um anotador annimo marcou o nome de Villegaignon com as seguintes palavras: Rex Americ. Por sua vez, R. Pierce Beaver, apud SILVA (1998:13), afirma que hoje no se encontra mais a primeira carta de Villegagnon a Calvino, embora os Registros da Companhia de Pastores de Genebra relatem o recebimento de uma carta que pedia para que enviassem ministros para as novas terras conquistadas pela Frana.

David B. Calhoun, apud SILVA (1998:19), informa que no ano de 1555 a Igreja de Genebra mantinha oitenta e oito pastores missionrios, tendo esse nmero aumentado para cento e quarenta e dois em 1561. Da a definio da Igreja de Genebra, naquele momento, como centro missionrio.

LRY (1980:56).

Includa no Corpus Reformatorum, Vol XVI, como carta 2612 Villegagnon a Calvino. LRY (1578) a incluiu na ntegra no prefcio do seu livro, e SILVA (1998), como seu anexo 1.

Hiptese levantada por LRY (1980:99).

Hiptese levantada por CRESPIN (1917).

Seus nomes: Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon e Andr La-Fon

SALVADOR (1889:80) nos traz: Entre os primeiros Francezes, que viero ao Rio de Janeiro em companhia de Nicolu Vilaganhon, de que tratamos no captulo oitavo deste livro, vinha hum hereje calvinista chamado Joo Bouller, o qual fugio pera a Capitania de S. Vicente (...) Comtudo no faltou quem o conhecesse (...) e o foro denunciar ao Bispo, o qual o condemnou como seus erros merecio, e sua obstinao, que nunca quis retractar-se; pelo que o remetteo ao Governador, o qual o mandou que vista dos outros, que tinho captivos na ultima Victoria, morresse a mos de hum algoz. Achou-se ali pera o ajudar a bem morrer o padre Joseph de Anchieta.... Alvaro Reis, em seu O Martyr Le Balleur (Rio de Janeiro: 1917) traa a identidade de Joo Bouller como sendo Jacques Le Balleur.

Este sobrinho se chama Bois Le Comte.

CRESPIN (1917:29), chaves nossas.

CRESPIN (1917:29).

CRESPIN (1917:38) relata que La-Fon condescendeu em declarar que no desejava ser pertinaz e obstinado em suas idas calvinistas e, emphaticamente, se compromettia a retractar-se, quando lhe provassem os seus erros pela Palavra de Deus. SILVA (1998:39), em nota 59, diz que a esse respeito [mile G.] Leonard [em La Confession de foi Brsilienne de 1557, Archiv fr Reformationsgeschichte, 40, NR 1/2 (1958)] v nas palavras de La-Fon uma promessa de abjurao e Domingos Ribeiro [em Origens do evangelismo Brasileiro, Rio de Janeiro: Apollo, 1937], contrariamente, demonstra crer em sua convico com a frase:tal a sua certeza de impossibilidade da prova (chaves nossas).

GILLIES (1979:189), antes de reproduzir a Confisso de Guanabara em seu romance, diz: La Confesin de los Mrtires, apareci en el libro de Jean Crespin. Domingos Ribeiro la tradujo al portugus en una versin que apareci en Ro de Janeiro en el ao 1917, de la cual se ha hecho la siguiente traduccin. Las preguntas del almirante Villegaignon, han sido reconstruidas e insertas dentro de la confesin; estas preguntas no aparecen en la versin pblica. Esta declaracin de fe, enteramente redactada y escrita por laicos, fue la primera Confesin formulada en las Amricas.

SPROUL, et al (1984:13) diz que Apologetics is the reasoned defense of the Christian religion.

RAMM (1953:15) coloca que ... apologetics mediates intellectual tensions. Intellectual mediation is the relieving of mental pressures, the resolving of apparent discrepancies, the harmonization of all the elements of mental life. (...) With the rise of modern mentality and modern knowledge has come a large brood of tensions for the Christian apologist to mediate.

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