A Construção Da Imagem Do Policial Militar No Cenário Cultural Brasileiro Contemporâneo -...

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A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DO POLICIAL MILITAR NO CENÁRIO CULTURAL BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO ARUAN BACCARO DE FREITAS 1 RESUMO A opinião pública é uma das mais fascinantes dimensões que a sociedade moderna possui. Através dela, a legitimidade das instituições democráticas é auferida rotineiramente por meio da construção de imagens públicas destas, de modo a auxiliar o Estado na compreensão e enfrentamento dos seus desafios, seus problemas. Este artigo pretende analisar, sob uma perspectiva social, a construção cultural, ideológica e coletiva da opinião pública, bem como alguns dos problemas à própria construção social, jornalística, artística, literária, televisiva e midiática da imagem do policial militar, tendo-se como background a cultura nacional brasileira contemporânea. Abordando exemplos e explorando o conceito de paradoxo da exposição midiática, mostrar-se-á nesse diagnóstico como estamos imersos em um contexto cuja compreensão é fundamental para se refletir e intervir eficazmente na construção da credibilidade institucional, modificando assim a imagem do policial militar perante a sociedade brasileira. 1 1 Aluno Oficial do 4º Ano do Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública da Academia de Polícia Militar do Barro Branco. E-Mail: [email protected] . Orientador: Nilson de Oliveira Rodrigues, Capitão PM, CSM/M Int.

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Artigo sobre a construção cultural da figura policial militar no imaginário da sociedade brasileira do final do século XX e início do século XXI

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A CONSTRUO DA IMAGEM DO POLICIAL MILITAR

NO CENRIO CULTURAL BRASILEIRO CONTEMPORNEOARUAN BACCARO DE FREITAS

RESUMO

A opinio pblica uma das mais fascinantes dimenses que a sociedade moderna possui. Atravs dela, a legitimidade das instituies democrticas auferida rotineiramente por meio da construo de imagens pblicas destas, de modo a auxiliar o Estado na compreenso e enfrentamento dos seus desafios, seus problemas. Este artigo pretende analisar, sob uma perspectiva social, a construo cultural, ideolgica e coletiva da opinio pblica, bem como alguns dos problemas prpria construo social, jornalstica, artstica, literria, televisiva e miditica da imagem do policial militar, tendo-se como background a cultura nacional brasileira contempornea. Abordando exemplos e explorando o conceito de paradoxo da exposio miditica, mostrar-se- nesse diagnstico como estamos imersos em um contexto cuja compreenso fundamental para se refletir e intervir eficazmente na construo da credibilidade institucional, modificando assim a imagem do policial militar perante a sociedade brasileira.PALAVRAS CHAVEAnlise Cultural. Imagem Institucional. Publicidade Policial. Gramscismo. Paradoxo da Exposio Miditica. Imagem Policial. Opinio Pblica.Opinio Pblica: dimenso estratgica de legitimao institucionalA opinio pblica , sem dvida, uma das mais relevantes dimenses que colabora para a construo da imagem social da Polcia Militar do Estado de So Paulo - enquanto instituio pblica - e do policial militar - enquanto agente dessa instituio e brao armado do Estado para a manuteno e preservao da Tranquilidade, da Salubridade, da Paz; da Ordem Pblica, enfim. Por meio daquela, os indivduos adquirem uma expresso denotadora de uma determinada (porm impessoal) convico comum acerca de certos temas, problemas, questes sociais, entidades, pessoas, grupos, sociedades ou controvrsias. A importncia da opinio pblica, cabalmente demonstrada na histria mais recente (considerando o perodo que vai desde a Revoluo Francesa at hoje), sem dvida, amplifica-se, abrangindo e inaugurando um perodo novo na atualidade: um perodo cuja aceitabilidade de quaisquer instituies recebe da opinio das massas a sua validade, num ambiente scio-cultural no qual a credibilidade e a legitimidade das opinies precisam da chancela de "democrtica" para se sustentarem como eticamente aceitveis.

Por meio desse artigo, cuja pretenso no se limita seno a abordar de maneira bastante ligeira a importncia certos aspectos scio-culturais da sociedade brasileira na formao da imagem pblica referente Polcia (com nfase na Polcia Militar), procurar-se- fazer apenas uma introduo ao tema, sem a pretenso de esgotar o assunto; porm, mesmo assim, uma apresentao necessria, que recoloca em evidncia alguns aspectos pouco lembrados como edificadores de tal imagem.Para tanto, necessrio esclarecer antes de tudo de qual realidade tratamos ao lidar com o conceito "opinio pblica". A palavra opinio, etimologicamente, alm de sua clara conotao de subjetividade e mobilidade (do grego "doxa", contraposta ao conhecimento rigorosamente elaborado, conhecimento verdadeiro - "episteme"), enuncia uma realidade prpria daquilo que varivel. Da Vi conceituar opinio da seguinte forma: Opinio conjunto de crenas a respeito de temas controvertidos ou relacionados com interpretao valorativa ou o significado moral de certos fatos. J a palavra pblico refere-se a algo de mbito universalista, ou seja, no uma coisa restrita aos ditames de uma existncia privada, particular, secreta ou socialmente irrelevante: o pertinente a todos os membros de um determinado corpo social.Opinio pblica , portanto, o posicionamento subjetivo dos membros dum determinado corpo social em relao a uma realidade, pessoa, ideia, problema ou questo (usualmente controversa ou relevante para o aferidor da opinio pblica).De acordo com Speier, o conceito genrico de opinio pblica mais prximo daquele que possumos hoje data de pouco mais de 300 anos atrs, quando no sculo XVIII - perodo de desenvolvimento da ideologia iluminista no Ocidente - o pensador Jean Jacques Rousseau expor o tema como poucos em sua poca o fizeram. Com perspectiva semelhante, afirma Childs:

"Rousseau(...) fez uma das mais claras anlises do conceito de opinio pblica em sua poca. Aplicou sua teoria da infalibilidade popular ao estado, proclamando que "o desejo mais generalizado tambm o mais justo". Este ponto de vista tem sido freqentemente repetido desde ento. Rousseau acreditava que mesmo o despotismo se apoia na opinio pblica porque dizia ele, "o governo desptico servil, mesmo quando fundamentado na opinio; pois voc depende do preconceito daqueles a quem voc governa pelo preconceito."

Segundo Childs, h motivos se crer que teria sido Rousseau o primeiro a usar a expresso "Opinio Pblica" ("lopinion publique"), contribuindo tambm com valiosas consideraes sobre a influncia entre essa e o Direito (o mbito por excelncia da legitimao scio-normativa de um valor). "Afirmou que "quem quer que se dedique tarefa de legislar para um povo deve saber como manejar as opinies, e atravs delas governar as paixes dos homens".

No obstante diferentes consideraes historicamente documentadas sobre a existncia e a importncia do consenso popular como fator poltico digno de nota (o ditado popular medieval "vox populi vox Dei" um exemplo) existiram antes, s mais recentemente com advento da Revoluo Francesa tivemos claramente entronizada a opinio pblica como um dos fatores de primeiro escalo em termos de relevncia para a legitimao social e poltica, preparando as bases da democracia moderna. Le Bon confirmar esse diagnstico em seu "A Psicologia das Multides", afirmando - por volta de um sculo aps a Revoluo Francesa:

"H apenas um sculo, a poltica tradicional dos Estados e as rivalidades dos prncipes constituam os principais fatores dos acontecimentos. Na maioria dos casos, a opinio das multides nada contava. Hoje, so as tradies polticas, as tendncias pessoais dos soberanos e as suas rivalidades que pouca importncia tm. A voz das multides tornou-se preponderante. ela que dita aos reis a sua conduta. Os destinos das naes no se jogam j nos conselhos dos prncipes, mas sim na alma das multides."

Expondo outra perspectiva, o filsofo das cincias polticas John Locke argumenta na esteira dos ideais iluministas, ilustrando a mudana de paradigma poltico em favor da relevncia crescente da opinio pblica, mas matiza-a considerando ser essa relevncia subordinada a outros interesses e foras que no a mera coao moral produzida pela imagem pblica existente de um indivduo ou grupo social. Para ele, a opinio pblica no nada mais do que a "lei da censura privada" (uma das trs leis que Locke considera regerem as aes humanas, juntamente com a lei divina e a lei positiva), a qual no seria nada seno o consenso dos homens privados os quais no possuiriam autoridade o suficiente para promulgarem uma lei.

Mais contemporaneamente, porm, a percepo da importncia dessa varivel aumenta consideravelmente aps fatos que demonstram haver uma lgica distinta por detrs da explicao destes: o fim dos estados coloniais na Amrica Latina, a queda das Monarquias e Imprios tradicionalmente estabelecidos, o vertiginoso crescimento de revolues sociais (unificaes territoriais, a criao dos estados-nao modernos) com destaque para a revoluo socialista na Rssia, a Propaganda de Guerra (tanto na 1 Guerra Mundial quanto na 2 Guerra Mundial) e outros eventos nos quais a fora dos agentes histricos envolvidos eram calcados no respaldo da opinio pblica impulsionaram consideravelmente o interesse para os estudos dessa temtica.

Os estudos de Walter Lippmann sobre a opinio pblica so um marco desse impulso renovado para a compreenso da opinio pblica, exatamente por estabelecer uma relao inovadora desse conceito com os meios de comunicao em massa.

Segundo o autor, no podemos dissociar a formao da opinio pblica daquilo que so os principais instrumentos de informao apreensveis pela percepo coletiva: os grandes meios de comunicao em massa. Jornais, revistas, cartazes, panfletos, livros, peas de teatro, peras, musicais, performances artsticas, pinturas, rdio e televiso: todas esses meios de comunicao influenciam de tal maneira na criao das notcias ofertadas aos cidados que o conjunto dessas mesmas informaes apresenta uma verdadeira cosmoviso, a qual muitas vezes (seno quase sempre) capaz de suplantar a realidade enquanto tal, gerando um simulacro - uma terceira instncia entre o sujeito e objeto do conhecimento, que favorece a insero de distores frente realidade apresentada.

Em suma, no seria diretamente o fato objetivo e concreto que seria apresentado aos cidados atravs das notcias: antes, seria um ambiente construdo por meio dos recortes realizados pela parte informante, um pseudo-ambiente, apenas mediatamente correspondente aos fatos noticiados, o qual acabaria por manifestar, acidentalmente, mais o posicionamento e os valores de quem noticia do que a realidade prpria ao fato noticiado. Os tons e coloraes com os quais se pintam uma cena, enfim, seriam mais a expresso da identidade do pintor - no da paisagem retratada artisticamente.

Embora tal anlise seja inovadora quando explicita o papel importantssimo da mdia na formao da opinio pblica, peca-se nesta pela radicalidade de uma considerao excessivamente relativista, psicologizante ou subjetivista. No admissvel que o fato enunciado - mesmo sob matiz ideologicamente expressa - carea sempre de um cerne de objetividade, ressalvadas as circunstncias nas quais a inteno do emissor da informao de enganar. Caso contrrio, reinaria tal arbitrariedade na mdia informativa que nenhuma credibilidade poderia ser dada aos rgos de difuso de notcias, disseminando um ambiente que tornaria invivel qualquer confiana nas informaes circundantes nos meios de comunicao de massa, comprometendo-se a sociabilidade humana quase ao nvel da experincia direta - situao esta que tornaria nosso convvio social to invivel, catico e desinformado que pouco diferiramos dos ajuntamentos de feras selvagens - onde a nica fonte de coeso estaria em nveis infra-racionais, ou seja, nos sentimentos e nos instintos. Portanto, no se pode ignorar que a mdia possui um papel de peso na formao da massa e da opinio pblica - mas no determina essa pauta de maneira absoluta. Como afirma McCombs:

"(...) o pblico no um autmato coletivo que passivamente espera ser programado pela mdia. O padro da cobertura da mdia para alguns temas ressoa no pblico. Para outros temas, no h ressonncia".

Isso implica uma srie de consequncias - as quais, por sua vez, demandam novas atitudes - pertinentes ao relacionamento com os grandes meios de comunicao de massa. Se imagem pblica que da Polcia construda incessantemente por meio da circulao das informaes merece ser conhecida, igualmente necessrio desvelar outros fatores (pertinentes s informaes) usualmente ignorados, que implicam numa maior ressonncia do que objeto de notcia na opinio pblica com as determinantes da formao da imagem pblica dos policiais. Esses outros fatores se revelam ao entendermos ser a opinio pblica um fruto do ambiente cultural no qual estamos imersos, de uma cosmoviso cultural prpria ao povo brasileiro, sendo ela mesma (a opinio pblica) parte dessa superestrutura complexa. Nesse sentido, ensina Doob:

"Public Opinion (...) is affected by culture because it is a part of culture. Only the background of public opinion can be explained by culture. A more complete explanation is possible when culture is viewed specificaly through socialization, leaders and events. Public Opinion, moreover, is simply one kind of social behavior whose over-all relation to culture is no different from other behavior called criminal, insane, esthetic, religious, political or economic. Behavior cannot be ripped out of the fabric of social life and examined in isolation."

Complementando a necessidade de se entender como a cultura brasileira tem um papel fundamental na formao da viso que a opinio pblica possui sobre as instituies, entende-se porm que no seria a finalidade deste trabalho oferecer uma retrospectiva intensiva da identidade cultural histrica de nosso pas (diferentemente dos estudos que apresentam oportunas introdues compreenso de nosso pas sob uma perspectiva cultural, mas retrocedendo aos perodos do Brasil Colnia, como faz Gomes), modestamente limitando o interesse analtico deste artigo s manifestaes scio-culturais mais contemporneas ilustrativas desses componentes construtores do imaginrio coletivo sobre a Polcia.Mais ainda: o posicionamento deste artigo claramente divergente de uma perspectiva anti-sociolgica ou individualista, tal como aquela preconizada por Childs que afirmar ser a opinio pblica uma ideia sempre referente a um grupo de opinies individuais e, portanto, tambm defensora do dever de colecionar opinies de indivduos. Longe disso, entendemos que h dimenses transcendentes aos nveis meramente pessoais de opinio, formando exatamente aquela realidade justificada pelo axioma psico-sociolgico da Escola de Berlim, materializada pela Psicologia Gestalt: O todo outro que no a mera soma das partes.A Cultura Brasileira: do Jeitinho Crise da AutoridadeCulturalmente, porm, como se v a ordem pblica, como se constri a figura do policial no imaginrio dos cidados brasileiros? Especialmente, como os seres sociais inseridos na cultura brasileira enxergam a Polcia? No dia-a-dia, a maioria das pessoas no se apercebe conscientemente da influncia desta cultura; se o fazem, tal se d muito remotamente; mesmo assim, ela promove impresses profundas, sentimentos, ideias e hbitos. E uma das caractersticas marcantes e mais facilmente observveis de nossa cultura nacional uma constante sensao de orfandade, um sentimento grupal de que a coisa pblica res publica est entregue ao abandono, despreocupao das autoridades. Inclusive, tal caracterstica est consagrada no famoso jeitinho brasileiro, isto , a capacidade do sujeito de se virar (por meio da informalidade, do improviso, da esperteza e da ao supletria frente omisso das autoridades) para suprir as demandas que, teoricamente, j deveriam estar sanadas por meio da interveno de quem competente para tal.

Frente incompetncia prtica na prestao de servios essenciais ao povo, frente aos graves deslizes ticos e as gravosas demonstraes de improbidade, corrupo e parcialidade, o Estado brasileiro mngua em credibilidade quando o assunto manuteno e preservao da ordem pblica. E as foras policiais, sendo as principais responsveis (na estrutura estatal) pela promoo da segurana e defesa social nas unidades da federao brasileira contra a desordem e a criminalidade, recebe do povo a mesma dose de desconfiana, quando no explcito desprezo. Identificados legalmente como sendo a mais visvel e aguda das instituies pblicas que exerce sua influncia diretamente na populao, cobe e restringe direitos em favor do interesse social (concretizando assim a mxima que preconiza a supremacia do interesse social e pblico frente ao interesse individual e privado), a imagem da Polcia sofre os efeitos dessa realidade, tornando-nos herdeiros da omisso estatal.Lembremo-nos ainda que na ltima metade do sculo XX, movimentos contestatrios assumiram uma relevncia muito grande, colocando em xeque as tradicionais instituies de exerccio de autoridade, atacando desde o ptrio poder do pai at o exerccio da coero por parte do Estado, alienando-o gradativamente da capacidade ordinria de promover a ordem e a coeso social. O questionamento da autoridade termina por atingir nveis quase patolgicos dentre os idelogos libertrios e esquerdistas mais extremados, alterando o quadro de percepo e legitimao que antes os governantes dispunham pelo mero fato de estarem investidos do cargo governamental. Na viso de Mucchielli, quando se afirma que toda a autoridade uma ordem externa que se impe (promovendo uma coisificao dos cidados, transformando o ser humano num objeto), quando se ouve que toda a autoridade baseada na fora (sendo, por conseguinte, ilegtima porque heternoma e violadora da liberdade individual), quando se diz que toda a autoridade impe a gradual dependncia dos seres, quando se ensina enfim que toda a autoridade s obedecida em razo de um arbitrrio reflexo condicionado aprendido desde a infncia, o eco de tal enfraquecimento da figura da autoridade no imaginrio do homem moderno apresenta-se com toda fora, tornando a ideia de sensao de segurana advinda de uma autoridade (a saber, a legtima autoridade policial) algo menos presente, diminudo ou pouco palpvel e a imagem pblica do policial militar como agente estatal partcipe dessa omisso, desse abandono.O Paradoxo da Exposio Miditica e a imagem do PolicialPara alm da crise dos valores e das figuras de autoridade fenmeno que verdadeiramente j lugar comum nas crticas sobre a sociedade contempornea outro elemento marcantes se desenvolve no ambiente das novas relaes tecnolgi-cas de produo da informao: o paradoxo da exposio miditica.

O paradoxo da exposio miditica traz em seu bojo um problema para a percepo do brasileiro acerca do que (ou no) normal em relao ao policial, afetando diretamente nossa percepo sobre a segurana. Graas a tal paradoxo, a imagem ordinria que as pessoas comuns cultivam do policial , essencialmente, uma caricatura bem construda durante dcadas de uma sociedade educada pelos grandes meios de comunicao em massa, que possuem uma lgica prpria de exposio da realidade quase incapaz de no distorcer os fatos.Entende-se esse paradoxo da seguinte maneira: enquanto seres humanos, nossos sentidos so feitos para captar tanto a semelhana quanto a diferena; porm, nossa ateno com muito maior facilidade presa graas a uma nota de diferena. Exemplificando: se vemos 100 pontos pretos enfileirados e ordenados, no damos muita ateno ou relevncia a cada um deles, seno uma genrica visualizao, sem foco particular. Porm, vendo dentre 99 pontos pretos um s ponto vermelho disposto aleatoriamente, dificilmente uma pessoa poder esquivar-se de focar a ateno nesse nico ponto diferente, exatamente pelo fato dele ser diferente.A batalha por nossa ateno rdua; centenas de milhares de mdias procuram reter para elas nossos olhares, dado isso dar audincia, tornando-as influentes, dando-lhes poder de barganha por sobre empresas que almejam tambm desfrutar (mesmo que acidentalmente) dessa exposio ao cliente em potencial - o consumidor da sociedade de informao, tornando-se esse ltimo, tambm, um potencial consumidor de outros produtos a serem propagandeados. o advento do marketing que no vende apenas um produto: vende a nossa ateno lateralizada, incidental.

Sabendo da propenso a notar sensorialmente aquilo que diferente, extico ou escandaloso, os responsveis dos meios de comunicao tendem seguindo essa estratgia de busca da reteno de nossa ateno, bem como os benefcios que da podem advir aos referidos meios de comunicao em massa ao enfoque nos pontos vermelhos, apresentando-os com uma incomum e insistente constncia nos seus principais espaos de publicidade, enquanto relegam o fato quotidiano, as atividades corriqueiras e normais, a um segundo plano desinteressante ou pouco merecedor dos nossos olhares.Mas, fazendo isso, o critrio de normalidade no indivduo comum que no poucas vezes confia sua rgua de anlise e compreenso da realidade s informaes dos grandes veculos de informao alterado gradativamente conforme a agenda da exposio miditica, passando a enxergar cada vez mais pontos vermelhos e cada vez menos os pontos pretos, chegando-se em casos extremos ao nvel absurdo de presumir que existam na verdade 99 pontos vermelhos e, na realidade, apenas um s preto. O expectador, aturdido por tantas referncias distorcidas, termina por inverter aos poucos seu senso de propores, enxergando a realidade num sentido divergente daquele que concretamente existe. O anormal torna-se, aos poucos, normal; o extico se torna comum e habitual; o absurdo se torna corriqueiro; o escandaloso torna-se, enfim, rotineiro. A mente mediana, que adota (por meio dos grandes instrumentos de comunicao em massa) tal criteriologia de anlise da realidade, moldando-se em razo das prprias limitaes que a competio miditica impe, passa assim a enxergar os escndalos, os crimes hediondos, as intrigas de homens corruptos e o achincalhamento geral como sendo a regra do comportamento humano no a exceo. Como isso no poderia afetar, pelo menos a mdio e longo prazo, a percepo de segurana que as pessoas possuem, se so bombardeadas constantemente com notcias escandalosas, cuja volpia por desgraa no cessa seno quando dessensibilizar totalmente a capacidade de indignao do cidado comum, acostumando-o com aquilo que jamais deveria ser acostumado?

Esse , em poucas palavras, o paradoxo da exposio miditica, alimentado segundo a lgica mercadolgica da competio. Aplicar tal paradoxo Polcia muito oportuno, dado que facilitar e complementar o entendimento da argumentao c desenvolvida.

A facilidade com a qual produz-se uma inverso na percepo da imagem pblica da Polcia e por conseguinte, na formao de valores decorrente do paradoxo da exposio miditica pode no ser a nica fora a limitar a credibilidade e, por conseguinte, a desestruturar a autoridade moral da instituio Policial Militar, mas sem dvida encontra a papel crucial. A imagem constantemente apresentada da autoridade de Polcia como sendo uma entidade ignorante, estpida, sem moral ou de moral distorcida, excessivamente violenta e praticante de todo gnero de arbitrariedade legal distoro resultante da forma de apresentao ordinria dos agentes policiais em diversos veculos de informao evidencia isso.Desmerecer e desmoralizar o policial uma norma e no a exceo em diferentes frentes culturais, especialmente aquelas com determinado alinhamento poltico formal ou informalmente comprometidos com a estratgia gramsciana para a tomada do poder (conquista da hegemonia primeiro e, depois, do poder poltico, como decorrncia lgica). Alis, basta olhar-se rapidamente para diversas manifestaes representantes dessa tendncia cultural a fim de notarmos como o policial sobremaneira mal representado.Em jornais, especialmente considerando as de maior circulao e vendagem no pas (Super Notcia, Folha do So Paulo, O Estado de So Paulo, O Globo e Extra, respectivamente), o enfoque crtico e contrrio construo de uma imagem positiva da Polcia Militar notvel: uma das instituies prediletas a serem alvo de crticas negativas por meio de cartoons e charges. Tal tendncia crtica chega a exceder 90% do contedo das publicaes referentes aos policiais, que lhes apresentam como sendo animais (sunos e ces so os mais comuns), corruptos, violentos, ignorantes, imbecis, etc.Em msicas, especialmente as do gnero rap e funk, h apologias descaradas ao crime e crticas cruentas Polcia: No confio na Polcia, raa do caralho dizem os Racionais MC's, na msica Homem na Estrada, que igualmente reserva aos policiais outros eptetos como filhos da puta e comedores de carnia. Matar os Polcia a nossa meta fala pra ns quem o poder(sic) dizia o funk Apologia, do MC DaLeste (que emplacava adjetivos como verme aos policiais, enquanto noutra msica com louvores ao PCC intercalados a sons de metralhadoras atirando diz aguardar autorizao do chefe para colecionar cabea de Polcia; o PSTU, partido militante de esquerda, afirmou em propaganda poltica televisionada que nunca se esqueceria da morte desse apologista da criminalidade, intercalando com essa declarao uma exigncia pelo fim da Polcia Militar). Marcelo D2, na cano Numa Cidade Muito Longe, retrata que a populao Na brincadeira sinistra / De Polcia e ladro / No sabe ao certo quem / Quem heri ou vilo. Mas essas manifestaes no se resumem a esses gneros musicais: a MPB e o rock nacional tambm trazem, consigo, exemplares de claro desmerecimento ao dos policiais e consequente humanizao do criminoso, como a cano Acorda Amor (Chame o ladro), de Chico Buarque de Holanda, e as msicas Polcia e Fardado, do grupo Tits, que abusam da cacofonia, insinuaes e por vezes de expresses ofensivas para criticar a Polcia.

Na cultura dita popular, novamente os militares e os policiais so muito mais apresentados como indivduos asquerosos (quando no francamente estpidos, cruis ou maus) do que como cidados de bem, comuns, cumpridores de seus deveres. Expresso deveras interessante dessa cultura est notavelmente bem representada em telenovelas e seriados televisivos, nos quais esses esteretipos negativos se revelam. Observem-se apenas trs exemplos paradigmticos desses lugares-comuns nas telenovelas, para fins de ilustrao: a personagem Sargento Xavier, da novela Morde e Assopra (Rede Globo) um sujeito moleiro, abobalhado, incapaz de discernir entre uma mulher e um travesti o Delegado Picasso, da novela Pecado Mortal (Rede Record) uma autoridade corrupta que tem como hbito perseguir injustificadamente o mocinho: um professor hippie de esprito esquerdista e, por fim, o Policial Aranha, da novela Amor e Revoluo (Rede SBT) um indivduo cruel, torturador, membro de grupos de extermnio e cuja nica ambio matar os seus opositores polticos. Os trs so expressos como seres humanos dignos de pena, seja pela imaturidade idiota ou pueril, seja pela vileza. Os trs mostram-se como exemplos de conduta a no serem seguidos, so tipos humanos que no inspiram nenhuma admirao. Os trs, novamente, instigam claramente o despertar de um sentimento de resistncia e desprezo pela figura do policial.

J em shows teatrais e performances artsticas, a figura da autoridade policial rotineiramente apresentada de maneira caricata: seja o fetiche de policial fardado em uma msica tida como smbolo de homossexuais (a cano YMCA, do grupo musical Village People, apresenta o policial como sendo uma figura risvel e hoje, nas pardica, faz-se questo de atualizar a farda da autoridade representada para assemelhar-se figura do policial contemporneo); seja o oficial burro, que no consegue sequer ter o domnio da lngua portuguesa ou porque facilmente corruptvel por dinheiro, mesmo se isso comprometa sua integridade fsica (Show Notcias Populares e Melhores do Mundo Futebol Clube grupo Os Melhores do Mundo). No h, praticamente, nenhuma apresentao razovel do policial como sendo um trabalhador mediano, honesto e comum. O efeito acumulado dessa farsa constantemente repetida avassalador para nossa credibilidade institucional, prejudicando mais ainda a moral coletiva de nossa corporao incrementando o descrdito da autoridade policial na mente de nossas pessoas e fortalecendo uma imagem institucional negativa, fazendo mesmo os prprios policiais, por vezes, aceitarem essa carapua moldada inconvenientemente.O Gramscismo e a Glamourizao da Criminalidade Como se no bastasse essa apresentar o policial de tal modo distorcido, no se pode deixar de considerar como a construo da imagem do criminoso, do fora-da-lei ou infrator penal, tambm passou por transformaes culturais profundas nos ltimos tempos, servindo como contraponto para a imagem do policial. H um verdadeiro processo de propaganda ideolgica e cultural, travestida nas mais diversas formas de difuso possveis: literatura, poesia, teatro, cinema, rdio, televiso, jornais, apostilas escolares, msicas, palestras, panfletos, comcios, etc.

Carvalho explica como essa tendncia tem mudado a imagem do criminoso:

Entre as causas do banditismo (...), h uma que todo o mundo conhece mas que jamais mencionada, porque se tornou tabu: h sessenta anos os nossos escritores e artistas produzem uma cultura de idealizao da malandragem, do vcio e do crime. Como isto poderia deixar de contribuir, ao menos a longo prazo, para criar uma atmosfera favorvel propagao do banditismo?

De Capites da Areia at a novela Guerra sem Fim, passando pelas obras de Amando Fontes, Marques Rebelo, Joo Antnio, Ldo Ivo, pelo teatro de Nelson Rodrigues e Chico Buarque, pelos filmes de Roberto Farias, Nelson Pereira dos Santos, Carlos Diegues, Rogrio Sganzerla e no-sei-mais-quantos, a palavra-de-ordem uma s, repetida em coro de gerao em gerao: ladres e assassinos so essencialmente bons ou pelo menos neutros, a Polcia e as classes superiores a que ela serve so essencialmente ms.

De igual modo, encontra essa anlise eco na explicao do pesquisador e militar General de Brigada Coutinho sobre o processo de revoluo cultural gramsciana ao qual nosso pas tm sido submetido nas ltimas dcadas. Segundo o autor, um dos enfoques dessa estratgia desmerecer as instituies sociais bem estabelecidas, no intuito de promover o descrdito e a relativizao delas para com isso fortalecer os que almejam a utilizao do poder visando objetivos polticos. Para tanto, usam-se idias-chave: no caso das instituies policiais, afirmado de que a Polcia sempre ineficiente, truculenta, improba. Sugerindo-se o fim do militarismo nas instituies policiais, enfatizando-se a ocorrncia de escndalos, focando em excessos nas aes repressivas (generalizando-as todas como violncia policial), insistindo que ela corrupta, envolvida com o crime, pretende-se atingir a desmoralizao necessria ao referido processo revolucionrio.

Ao analisar a Literatura Brasileira, a opinio de Carvalho confirma esse diagnstico, chegando a concluses semelhantes quelas teorizadas por Coutinho:

No conheo um nico bom livro brasileiro no qual a Polcia tenha razo, no qual se exaltem as virtudes da classe mdia ordeira e pacata, no qual ladres e assassinos sejam apresentados como homens piores do que os outros, sob qualquer aspecto que seja.(...) Humanizar a imagem do delinqente, deformar, caricaturar at os limites do grotesco e da animalidade o cidado de classe mdia e alta, ou mesmo o homem pobre quando religioso e cumpridor dos seus deveres que neste caso aparece como conformista desprezvel e virtual traidor da classe , eis o mandamento que uma parcela significativa dos nossos artistas tem seguido fielmente, e a que um exrcito de socilogos, psiclogos e cientistas polticos d discretamente, na retaguarda, um simulacro de respaldo "cientfico". luz da "tica" da resultante, no existe mal no mundo seno a "moral conservadora". Que um assalto, um estupro, um homicdio, perto da maldade satnica que se oculta no corao de um pai de famlia que, educando seus filhos no respeito lei e ordem, ajuda a manter o status quo? O banditismo em suma, nessa cultura, ou o reflexo passivo e inocente de uma sociedade injusta, ou a expresso ativa de uma revolta popular fundamentalmente justa. Pouco importa que o homicdio e o assalto sejam atos intencionais, que a manuteno da ordem injusta no esteja nem de longe nos clculos do pai de famlia e s resulte como somatria indesejada de milhes de aes e omisses automatizadas da massa annima. A conexo universalmente admitida entre inteno e culpa est revogada entre ns por um atavismo marxista erigido em lei: pelo critrio "tico" da nossa intelectualidade, um homem menos culpado pelos seus atos pessoais que pelos da classe a que pertence. Isso falseia toda a escala de valores no julgamento dos crimes. Quando um habitante da favela comete um crime de morte, deve ser tratado com clemncia, porque pertence classe dos inocentes. Quando um diretor de empresa sonega impostos, deve ser punido com rigor, porque pertence classe culpada. Os mesmos que pedem cadeia para deputados corruptos fazem campanha pela libertao do chefe do Comando Vermelho.

Segundo ainda o mesmo autor, essa tendncia no uma mera trivialidade ocasional, mas o produto deliberado de uma estratgia de subverso cultural segundo o modelo de Antonio Gramsci, que ataca diretamente as estruturas que preservam a Ordem Pblica e o Estado, desmoralizando-as e desmobilizando-as em credibilidade, abrindo-se espao para a conquista da hegemonia.

Gramsci estabeleceu uma distino, das mais importantes, entre "poder" (ou, como ele prefere cham-lo, "controle") e "hegemonia". O poder o domnio sobre o aparelho de Estado, sobre a administrao, o exrcito e a Polcia. A hegemonia o domnio psicolgico sobre a multido. A revoluo leninista tomava o poder para estabelecer a hegemonia. O gramscismo conquista a hegemonia para ser levado ao poder suavemente, imperceptivelmente. No preciso dizer que o poder, fundado numa hegemonia prvia, poder absoluto e incontestvel: domina ao mesmo tempo pela fora bruta e pelo consentimento popular aquela forma profunda e irrevogvel de consentimento que se assenta na fora do hbito, principalmente dos automatismos mentais adquiridos que uma longa repetio torna inconscientes e coloca fora do alcance da discusso e da crtica.

Na esteira dessa percepo, o ex-oficial de informao (especialista em subverso social) Yuri Bezmenov afirma que o mesmo gnero de crticas cidas, contrrias s instituies policiais, parte da estratgia gramsciana (j aplicada desde muito tempo antes porm sem essa designao referente ao terico comunista italiano pelo servio secreto sovitico, a KGB) para a desmoralizao das instituies estabelecidas, com a finalidade de criar desrespeito e desconsiderao para com a autoridade. Isso aconteceria independentemente dos resultados obtidos objetivamente atravs do esforo dos policiais, visando sempre minimizar os sucessos deles, enquanto se maximizam escndalos e desvios, capitalizando politicamente cada ao feita, potencializando o efeito deletrio das intervenes policiais com crticas exacerbadas violncia, truculncia, ao despreparo das autoridades; ao mesmo tempo em que tudo isso acontece, so feitas vistas grossas aos delitos de criminosos convictos, ampliando-lhes os direitos e garantias, alm de concederem diversos tipos de consideraes benvolas.

Essa gradativa estratgia tambm incorporada pelos legisladores, juzes, promotores, ONG's e outros setores da sociedade organizada, que terminam por favorecer e humanizar criminosos, enquanto desproporcionalmente as restries, deveres e limitaes so lanados quase exclusivamente aos agentes da Lei. Inegavelmente, dois pesos e duas medidas esto sendo aplicados, e a populao brasileira torna-se assim refm, vitimado por sua prpria simplicidade e ignorncia perante um projeto deliberado de mudana da cosmoviso coletiva. A formao da imagem do policial militar e a construo da sensao de [in]segurana da decorrente acaba sendo ideologicamente enviesada.

Realidade Cultural e Poltica Relacionada Segurana PblicaComo se tudo isso no bastasse, nossa realidade histrica deveras mais semelhante ao oposto da segurana do que com sua condio ideal.

Segundo os dados disponibilizados pela Agncia sobre Drogas e Crime da ONU, que so congruentes com relatrios federais do Ministrio da Defesa sobre violncia, mortalidade e criminalidade, os brasileiros matavam em 2012 em torno de 40 mil pessoas por ano no trnsito; mas mais ainda morriam em razo de crimes violentos: segundo recentes pesquisas, mais de 50 mil pessoas morrem, por ano, em nosso pas, vtimas de homicdios dolosos isso se deliberadamente ignorarmos outros dados sobre os homicdios no-oficialmente registrados, o que faria os dados subirem bastante. Levando-se em considerao que nosso pas possui pouco mais de 203 milhes de pessoas, a alta taxa de homicdios dolosos nos torna quase 6 vezes mais violentos do que o segundo pas colocado neste macabro ranking, a ndia. Seria inteligente, ou mesmo honesto, esperar uma sensao de segurana mediana ou elevada numa nao aonde h a maior taxa absoluta de assassinato dolosos por ano? Comparado com o mundo todo? Seria razovel imaginar que a imagem dos responsveis pela segurana pblica de um pas com tais ndices lhes fosse favorvel? No a toa, mais de 70% da populao brasileira teme intensamente ser morta por criminosos.

H ainda a complicada condio de nossa educao pblica. Nossas escolas pblicas de ensino fundamental e mdio so verdadeiros fracassos. Nosso sistema escolar age no poucas vezes promovendo indevidamente uma grande quantidade de analfabetos funcionais para sries superiores, quando no acaba servindo de incubadora para criminosos. J as nossas universidades tm tido um desempenho menos do que medocre, quando comparadas com as 200 melhores universidades do mundo (dentre as quais no h, lamentavelmente, nenhuma brasileira). Boa parte de nossa produo acadmica especialmente na rea de cincias humanas de uma irrelevncia supina, coisa comprovada pela exgua quantidade de citaes internacionais de nossos intelectuais e pelos desastrosos dados sobre a situao educacional de nosso pas: mais de 75% da populao incapaz de ler ou escrever de modo minimamente satisfatrio, enquanto 50% dos nossos estudantes universitrios, tambm, infelizmente so analfabetos funcionais. Salvo raras, isoladas e honorveis excees, os intelectuais brasileiros ignoram as principais discusses e questes relevantes ao progresso cultural do pas, transmitindo seu desconhecimento para a massa dos brasileiros, ensinando-os a preocuparem-se com irrelevncias em detrimento dos saberes relevantes.

Mais ainda: nossa relao cultural com a Lei problemtica o legislador no Brasil muitas vezes no algum consciente do modo como deve gerir, planejar e propor leis nas Assemblias Legislativas. O legislador nacional usualmente um indivduo com duvidosa capacidade de intervir positivamente no quadro da alterao legal e alguns exemplares vistosos dessa nossa inaptido nacional podem ser vistos no peculiar show de horrores presente a cada dois anos dentre nas propagandas polticas dos candidatos a cargos eletivos do poder Legislativo. Nosso ordenamento jurdico muito desestimulante: excessivas leis, burocracia farta, imobilismo e lentido do Estado tornam nossa relao com os agentes da lei um penoso, complicado e pesado fardo aliviado por mecanismos como o j citado jeitinho brasileiro. Para acrescentar mais dificuldades a esse diagnstico pouco positivo, temos ainda de conviver com recentes linhas de interpretao e hermenutica jurdica, tal como a que preza pelo Direito achado nas ruas e outras vertentes menos importantes, cujo resultado uma elasticidade interpretativa tamanha que, sem muita dificuldade, pode-se fazer a letra da lei significar qualquer outra coisa para alm do seu significado objetivo; com isso, se vai instalando progressivamente a insegurana jurdica, transformando o sentimento comum do popular perante a criminalidade em desnimo, medo e incerteza, promovendo a impunidade. Sente-se que crime compensa no na exceo, mas na regra, deformando progressivamente a moralidade pblica, afetando gravemente a construo de uma imagem positiva do policial militar.

Concluso: vale a pena preocupar-se com a Imagem do Policial Militar?De posse dessas informaes, poderamos nos questionar se realmente a opinio de uma populao com tal background [in]cultural com uma imagem to enviesada, pessimista, caricatural e negativa da Polcia; com uma educao enfraquecida em todos os nveis, incapaz libertar seus usufruidores dos inmeros preconceitos histricos contra a Polcia Militar apta a ser uma fonte credvel de informaes acerca da realidade securitria nacional. Se um fator de relevncia (como o a opinio pblica referente ao policial) brota de um to parcial fundamento, ainda podemos seguramente nos valer desses dados para melhorar nossos servios, enquanto policiais?

Responde-se a isso positivamente. Apesar de todas as distores estruturais, culturais, ideolgicas, miditicas e histricas que enfraquecem o valor dessa opinio, a promoo da sensao e da percepo de segurana atravs da valorizao da imagem do policial militar na populao um objetivo a ser atingido pelas nossa instituio, mesmo que para tanto seja necessrio ainda rever-se tal varivel social de maneira crtica, com menos imediatismo. Seria oportuno trat-la como um dado bruto, ainda em depurao, a ser burilado atravs de pesquisas mais adequadas que harmonizem a misso das instituies policiais com os legtimos anseios de bem comum da sociedade, minimizando os atos que representam excees negativas ao mximo. Atravs desse indicador, as foras policiais possuem condies de avaliar melhor o grau de confiabilidade concreta existente nos servios prestados, e com isso pode-se planejar o incremento da sensao de segurana e tranquilidade, aumentando a probabilidade de encontrarem-se agremiaes simpticas aos projetos envolvendo a segurana pblica de nossos estados, dispostas inclusive a auxiliar as Polcias a atingirem bons resultados.

Promover um trabalho de desmistificao da imagem pblica do policial importante, especialmente em razo de existirem incongruncias entre a segurana realmente oferecida pelo trabalho da Polcia e a sensao subjetiva que a populao tm da segurana pblica (que proveniente em boa parte da imagem da Polcia que construda). Essa deve ser uma atividade habitual. Acompanhando a produo estratgica dos dados, sejam eles os divulgados pela Secretaria de Segurana Pblica do Estado de So Paulo (SSP-SP), bem como os produzidos por entidades pblicas de pesquisa (tais como os do Instituto de Pesquisas Econmicas Aplicadas IPEA), se constata com facilidade que nas regies com maiores ndices de criminalidade a sensao de segurana menor; mas, ao mesmo tempo, tal correlao demonstra-se no ser determinante quando se observa que mesmo em regies de baixo ndice de criminalidade, a diferena na sensao de segurana e da imagem da Polcia pequena o que aponta para outros fatores determinantes. E esses outros fatores relevantes so, fundamentalmente, tal como apresentamos no presente artigo, a idiossincrasia cultural, miditica e ideolgica dos cidados brasileiros perante a Polcia, em grande parte educada segundo uma cartilha miditica escandalosa ou ideologicamente comprometida na apresentao de uma imagem distorcida da Polcia Militar.Procurar primeiro obter resultados em matria de promoo objetiva da segurana pblica, sem dvida, mais importante do que dar ouvidos aos reclames da opinio que diz ser a Polcia pouco confivel, truculenta, abusiva de sua autoridade. Mas o segundo dever imediatamente posterior, aps a reduo de indicadores criminais, indubitavelmente obter a confiana da populao, fazendo-os sentirem-se amparados por uma fora policial presente, atenta, amiga do cidado de bem e aliada deles contra toda sorte de irregularidades e da criminalidade. At porque com um reconhecimento positivo por parte da populao relativamente s instituies Policial-Militares, pode-se traar uma estratgia conjunta muito mais oportuna na soluo das dificuldades e desafios que as nossas instituies de segurana e ordem pblica tm quanto conquista de resultados na diminuio de ndices criminais, de ilegalidades, da perturbao da ordem afinal.

Desenvolver e incentivar uma cultura que valorize a segurana pblica, que mostre o policial sem exageros, sem farsas nem floreios, dando azo a um olhar mais realista, favorecer a gerao de uma percepo de segurana bem mais conforme os fatos, auxiliando assim a Polcia Militar no cumprimento de sua funo legal, calcada na Constituio: tal deve ser o enfoque estratgico dos que constroem todos os dias a imagem do policial militar com seus atos e decises. Com isso, a imagem institucional tender a aproximar-se no de uma construo inapropriadamente caricatural, mas da realidade mesma da corporao: uma sociedade clere, comprometida com os cidados, composta de homens e mulheres consagrados ao exerccio do poder de Polcia com a responsabilidade de manter, preservar e salvaguardar os direitos humanos, a tranquilidade, a salubridade e a ordem pblica de nosso Estado, na maior fidelidade Lei, Ordem e Justia.REFERNCIAS BIBLIOGRFICASBARBOSA, Lvia; O jeitinho brasileiro: a arte de ser mais igual do que os outros. Edies Campus Elservier. 2006.

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