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A CONSTRUÇÃO DE UM
INSTRUMENTO DE ANÁLISE DA
PERCEPÇÃO DE MATURIDADE
ORGANIZACIONAL EM GESTÃO POR
PROCESSOS: UM ESTUDO DE CASO
LEONARDO CONDEIXA DE ARAUJO
(UFF)
MARTIUS VICENTE RODRIGUEZ Y RODRIGUEZ
(UFF)
Resumo As empresas estão se estruturando ao longo de seus processos
organizacionais e, nessa transformação, diversas práticas de gestão
por processos são adotadas. Este trabalho destaca a importância da
visão compartilhada, através da habilidade dde descobrir “imagens de
futuro” compartilhadas que estimulem o compromisso genuíno e o
envolvimento dos colaboradores de diferentes níveis hierárquicos, na
implantação da gestão por processos em uma organização.
Fundamentado no modelo de maturidade em gestão por processos de
Rosemann e Bruin, trabalhou-se na construção de um questionário
baseado na metodologia proposta por Malhotra (2006) e no postulado
teórico de McDaniel e Gates (2004), com o objetivo de permitir a
análise da percepção dos colaboradores de diferentes níveis
hierárquicos de uma organização sobre as práticas de gestão por
processos. Em seguida, o questionário foi aplicado em um estudo de
caso, em uma holding do setor elétrico brasileiro. Os resultados
apresentados pelos diferentes níveis hierárquicos da empresa foram
bastante convergentes em relação à situação almejada, enquanto a
percepção das práticas atuais apresentou maior divergência.
Palavras-chaves: gestão por processos, maturidade, visão
compartilhada, níveis hierárquicos
12 e 13 de agosto de 2011
ISSN 1984-9354
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011
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1 INTRODUÇÃO
A orientação e a gestão por processos vêm cada vez mais se contrapondo à abordagem
funcional, uma vez que alinham as atividades interdepartamentais, permitindo uma visão mais
clara e uma gestão mais eficaz dos processos de geração de valor para o cliente. Porém, o
alinhamento estratégico e a coordenação das iniciativas devem assegurar que a execução dos
processos represente, de forma efetiva, a operacionalização da estratégia da organização.
Hammer (2007) reflete a impressão de sua experiência com inúmeras empresas na última
década:
“Na maioria das empresas que examinei, os executivos patinavam. Entendiam que
tinham que mudar muita coisa para explorar o poder dos processos, mas não sabiam
ao certo o que deviam mudar, em que grau, quando. (...) Entre as perguntas que as
pessoas viviam se fazendo estavam: Começamos com a coisa certa? Como saber se
estamos fazendo progresso? Que aspecto terá a organização quando terminarmos?
Além disso, executivos, sobretudo se atuam em atividades distintas, costumam
divergir sobre os fatores que contribuem para a transformação baseada em
processos”.
Devido à crescente complexidade e abrangência dos processos nas organizações, é cada vez
maior a necessidade das empresas e instituições se estruturarem para gerenciar seus processos
(PAIM et al, 2009). E, para a estruturação necessária à implantação da gestão por processos
nas organizações, deve haver consenso sobre os parâmetros que devem ser atingidos para que
a visão de futuro seja alcançada.
Em praticamente todo setor, empresas de todo porte registraram extraordinários avanços em
custo, qualidade, velocidade, rentabilidade e outras áreas vitais ao focar, medir e reformular
processos internos e de interação com o cliente. Infelizmente, muitas se perderam no caminho
(HAMMER, 2007). Segundo Senge (1998), a prática da visão compartilhada envolve as
habilidades de descobrir “imagens de futuro” compartilhadas que estimulem o compromisso
genuíno e o envolvimento, em lugar da mera aceitação. Para o autor, quando realmente
compartilham uma visão, as pessoas sentem-se conectadas, ligadas por uma aspiração
comum.
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2 FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA
Segundo Rodriguez (2007), transformar uma visão em uma força no coração das pessoas é um
grande desafio para os líderes. Senge (1998) exprime o conceito e os benefícios de uma visão
compartilhada pela organização:
“No nível mais simples, uma visão compartilhada é a resposta à pergunta: „O que
queremos criar?‟ Assim como as visões pessoais são retratos ou imagens que as
pessoas têm na mente e no coração, as visões compartilhadas são imagens que
pertencem a pessoas que fazem parte de uma organização. Essas pessoas
desenvolvem um senso de comunidade que permeia a organização e dá coerência a
diversas atividades (...) Hoje, „visão‟ é um conceito familiar em liderança na
empresa. Mas ao se analisar detalhadamente, descobre-se que a maioria das „visões‟
é, na verdade, a visão de uma pessoa (ou de um grupo) imposta a uma organização.
Tais visões têm, na melhor das hipóteses, aceitação – não comprometimento. Uma
visão compartilhada conta com o verdadeiro comprometimento de muitas pessoas,
pois reflete a visão pessoal de cada uma delas”.
Paralelamente, Rosemann, Bruin e Power (2006) afirmam não haver um conjunto de melhores
práticas de gestão por processos que sejam igualmente válidas para todas as organizações. Os
autores declaram como lidaram com este importante aspecto ao trabalhar com o modelo de
maturidade de gestão por processos (em inglês, BPM – Business Process Management):
“Nós definimos o nível mais alto de maturidade (Nível 5), como o nível mais
sofisticado de condução de BPM, o qual não é necessariamente igual em todas as
organizações. Identificar o modelo de BPM mais apropriado para cada organização
é um desafio caso a caso, sendo baseado no contexto, objetivos subjacentes,
restrições relacionadas, possíveis estudos de caso etc”.
Baseado no exposto, é recomendável que na implantação da gestão por processos em cada
empresa, todos os envolvidos tenham em mente qual o grau de desenvolvimento (ou
maturidade) em que cada uma das práticas de gestão por processos pode dar sua melhor
contribuição para o sucesso da organização.
O presente estudo pretende responder às seguintes questões: Qual a maturidade almejada
da gestão por processos, nos diferentes níveis hierárquicos da holding do setor elétrico
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brasileiro? E qual a maturidade percebida atualmente? A partir do estudo de caso em
uma holding do setor elétrico brasileiro, foi investigada a percepção dos especialistas de
diferentes níveis hierárquicos da empresa quanto à maturidade almejada da gestão por
processos (à luz da estratégia), que contribuirá para a empresa alcançar sua visão de futuro,
bem como quanto à maturidade percebida atualmente.
O resultado do estudo de caso permitirá que estudiosos da área, analistas e executivos das
empresas analisem a percepção dos especialistas de uma organização bem posicionada no
cenário brasileiro de energia elétrica quanto ao grau de desenvolvimento ambicionado para a
gestão por processos, a partir dos estágios de maturidade fornecidos pelo modelo teórico
referenciado, bem como a percepção do grau de desenvolvimento atual e das lacunas
existentes. Tais resultados poderão contribuir para o planejamento das empresas que não
definiram ou estão definindo o papel e as metas de implantação da gestão por processos na
estrutura de seus negócios.
3 OBJETIVOS
Este trabalho tem como seu primeiro objetivo desenvolver a construção de um questionário
fundamentado no modelo de maturidade em gestão por processos de Rosemann e Bruin, com
base na metodologia de elaboração de questionários proposta por Malhotra (2006) e, ainda, no
postulado teórico de McDaniel e Gates (2004). Espera-se, com isso, produzir um instrumento
que permita a análise da percepção dos colaboradores de diferentes níveis hierárquicos de
uma organização sobre as práticas de gestão por processos. E, considerando que a presente
pesquisa tenciona dar início a tal levantamento com um estudo de caso, seu segundo objetivo
é aplicar o referido questionário em uma empresa brasileira, no caso, a holding do setor
elétrico brasileiro.
4 O MODELO DE ROSEMANN E BRUIN
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Modelos de maturidade foram desenhados para avaliar a maturidade (por exemplo,
competência, capacidade, nível de sofisticação) de um universo selecionado, baseado em um
conjunto de critérios mais ou menos compreensivos. No entanto, o modelo de maturidade de
BPM é uma ferramenta que pode auxiliar as organizações a se tornarem mais bem sucedidas
com a utilização de BPM, resultando na ativação de melhores benefícios tanto operacionais
quanto de negócio (ROSEMANN, BRUIN e POWER, 2006). Além disso, os autores afirmam
que o aumento do sucesso da adoção de BPM contribuirá para posicioná-lo como uma prática
duradoura de gestão e que, em particular, modelos de maturidade podem ser usados para três
propósitos:
1. Como uma ferramenta que habilite a descrição do “AS IS” avaliando pontos fortes e
fraquezas atuais;
2. Como uma ferramenta que habilite prescrever o desenvolvimento de um roteiro para
melhorias;
3. Como ferramenta que habilite a execução de benchmarking para avaliar padrões
industriais e outras organizações.
A maioria dos modelos de maturidade é baseada no Capability Maturity Model – CMM,
desenvolvido pelo Software Engineering Institute – SEI da Carnegie Mellon University, como
modelo de avaliação de fornecedores de software para o Departamento de Defesa norte-
americano. Segundo Humpfrey (1988), a estrutura de maturidade desenvolvida no SEI aborda
cinco etapas, caracterizando um processo de software em um dos cinco níveis de maturidade.
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Figura 01 – Comparação entre baixa e alta maturidade e os cinco estágios.
Fonte: Rosemann, Bruin e Power (2006).
Rosemann e Bruin (2005) empenharam-se em uma extensa pesquisa para o desenvolvimento
de seu modelo de maturidade de BPM, em busca de um padrão global altamente aceito, em
vez de prover apenas outro modelo de maturidade. Os autores realizaram uma série de estudos
Delphi para incorporar o conhecimento dos líderes reconhecidos de BPM, incluindo a
contribuição de mais de 20 especialistas. Tal esforço resultou, segundo na identificação de 06
fatores-chave para a implementação da gestão por processos, e, ainda, para cada fator, 05
áreas de capacitação, onde a maturidade é avaliada mais profundamente.
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Quadro 01 – Áreas de capacitação do Modelo de Rosemann e Bruin.
Fonte: Adaptado de Bruin e Rosemann (2007).
5 O MÉTODO DA PESQUISA
A pesquisa concentrou-se em aplicar uma metodologia de levantamento dos dados que
envolveu a construção de um questionário estruturado para elucidar informações específicas
(MALHOTRA, 2006). Neste caso, o grau de desenvolvimento (ou maturidade) das práticas de
gestão por processos de uma organização, de acordo com os critérios definidos no modelo
teórico de Rosemann e Bruin.
O questionário exerce um papel central na pesquisa, pois está posicionado entre os objetivos
da pesquisa (extraídos dos problemas gerenciais) e as informações dos respondentes
(MCDANIEL e GATES, 2004). Segundo os autores, o pesquisador precisa traduzir os
objetivos da pesquisa em perguntas compreensíveis aos respondentes, para extrair deles as
informações necessárias.
ALINHAMENTO
ESTRATÉGICO GOVERNANÇA MÉTODOS
TECNOLOGIA DA
INFORMAÇÃO PESSOAS CULTURA
Plano de melhorias
de processos
Tomada de decisão
em gestão por
processos
Desenho e
modelagem de
processos
Desenho e
modelagem de
processos
Habilidades e
experiência em
processos
Capacidade de
reação à mudança
nos processos
Capacidade de
articulação entre
estratégia e
processos
Papéis e
responsabilidades nos
processos
Implantação e
execução de
processos
Implantação e
execução de
processos
Conhecimento
em gestão por
processos
Valores e crenças
dos processos
Arquitetura de
processos
Articulação entre
métricas e
performance dos
processos
Controle e
medição de
processos
Controle e
medição de
processos
Educação e
aprendizado em
processos
Atitudes e
comportamentos em
processos
Medição dos
outputs de
processos
Padrões para gestão
por processos
Melhoria e
inovação em
processos
Melhoria e
inovação em
processos
Colaboração e
comunicação nos
processos
Atenção da
liderança aos
processos
Clientes e partes
interessadas nos
processos
Controles da gestão
por processos
Gerenciamento de
programas e
projetos de
processos
Gerenciamento de
programas e
projetos de
processos
Líderes de gestão
de processos
Redes sociais de
gestão por
processos
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Figura 02 – O papel do questionário no processo de pesquisa.
Fonte: Adaptado de McDaniel e Gates (2004).
A chave para uma boa pesquisa descritiva é saber exatamente o que você deseja medir e
escolher um método de levantamento em que cada entrevistado esteja desejoso de cooperar e
seja capaz de fornecer informações completas e precisas de forma eficiente (Joe Ottaviani,
gerente geral da Burke, Inc. apud Malhotra, 2006, p.180).
Segundo McDaniel e Gates (2004), o questionário também precisa ser formulado para que as
respostas possam ser facilmente tabuladas e traduzidas em resultados e recomendações que
satisfaçam os requisitos de informação do gerente.
Para Malhotra (2006), qualquer questionário tem três objetivos específicos: a) transformar a
informação desejada em um conjunto de perguntas específicas que os entrevistados tenham
condições de responder; b) motivar e incentivar os entrevistados a cooperar e a completar a
entrevista; e c) sempre minimizar o erro de resposta.
Informações dos Respondentes
Objetivos da Pesquisa
Questionário
Análise de Dados
Resultados
Recomendações
Ação Gerencial
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No projeto de um bom questionário, uma série de considerações precisa ser levada em conta.
Uma das tarefas mais importantes no projeto de questionários é adaptar as perguntas aos
entrevistados em potencial (MCDANIEL e GATES, 2004). A figura abaixo demonstra o
processo de elaboração de um questionário em dez etapas (MALHOTRA, 2006).
1. Especifique a informação necessária
2. Especifique o tipo de método de entrevista
3. Determine o conteúdo de perguntas individuais
4. Planeje as perguntas de forma a superar a incapacidade e a falta de
vontade dos entrevistados em respondê-las
5. Decida sobre a estrutura da pergunta
6. Determine o enunciado da pergunta
7. Organize as perguntas em uma ordem adequada
8. Identifique o formato e o leiaute
9. Reproduza o questionário
10. Faça um pré-teste do questionário
Figura 03 – Processo de elaboração de um questionário.
Fonte: Adaptado de Malhotra (2006).
A seguir, é apresentado como foi realizado todo o trabalho de construção do questionário,
utilizando a metodologia de dez etapas, proposta por Malhotra (2006).
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Figura 04 – Construção de um questionário de percepção de maturidade em gestão por processos.
Fonte: Elaborado pelo próprio autor, adaptado de Malhotra (2006).
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Figura 04 (cont.) – Construção de um questionário de percepção de maturidade em gestão por processos.
Fonte: Elaborado pelo próprio autor, adaptado de Malhotra (2006).
Trabalhou-se na elaboração de um questionário auto-aplicado com perguntas do tipo de
alternativa fixa, o que requer que os respondentes façam suas escolhas em um conjunto de
respostas predeterminadas (MALHOTRA, 2006). O método adotado apresenta as seguintes
vantagens: sua aplicação é simples; os dados obtidos são confiáveis, porque as respostas se
limitam às alternativas mencionadas, o que reduz a variabilidade nos resultados, que poderia
ser causada pelas diferenças entre os respondentes; e, por fim, a codificação, a análise e a
interpretação dos dados são relativamente simples. A principal desvantagem consiste no fato
de que os respondentes podem ser incapazes de dar a informação requerida ou ficar relutantes
(MALHOTRA, 2006). Para evitar esta situação, havia a opção 0 - Não se aplica/Não sei
responder, e foi incluído, ainda, um espaço para comentários ao final do questionário, para
que os respondentes pudessem exprimir eventuais dificuldades.
Foram utilizadas escalas itemizadas do tipo Likert, com seis pontos. Segundo Malhotra
(2006), a escala Likert possui várias vantagens: facilidade de construção e aplicação, rapidez
de entendimento pelos entrevistados, adequação tanto para entrevistas remotas quanto
pessoais. Como principal desvantagem, tem-se que ela toma mais tempo dos respondentes,
que necessitam mais cuidado ao ler cada afirmação. Pelo fato do instrumento basear-se em um
modelo teórico de cinco estágios, as demais decisões relativas ao melhor uso das escalas
(McDaniel e Gates, 2004; Malhotra, 2006) foram facilitadas:
• Quanto ao número de categorias: foram utilizadas sempre seis gradações para a
resposta, sendo o 0 correspondente às práticas não aplicadas e, do 1 ao 5,
correspondentes aos cinco estágios de maturidade do modelo teórico em que se baseia
este trabalho.
• Se balanceadas ou não-balanceadas: uma escala balanceada é aquela com o mesmo
número de categorias favoráveis e desfavoráveis. Neste trabalho, foi proposta uma
escala não-balanceada, relativa ao número de categorias correspondentes aos estágios
propostos no modelo teórico referenciado, mais a opção 0 - Não se aplica/Não sei
responder.
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• Com número par ou ímpar de categorias: adotaram-se seis categorias para
corresponder aos cinco estágios propostos no modelo teórico referenciado, mais o 0
para os casos de não-aplicação ou desconhecimento do tema.
• Com respostas forçadas ou não-forçadas: em situações onde os respondentes possam
não ter uma opinião formada, pode ser dada a opção de resposta “sem opinião”
(resposta não-forçada), o que pode vir a aumentar a exatidão dos dados. Neste
trabalho, foi dada a opção 0 com o rótulo “Não se aplica/Não sei responder”,
englobando tanto a inexistência da prática indicada pela questão, quanto o
desconhecimento por parte do respondente.
• Quanto à descrição verbal: rotular todas as categorias pode reduzir a ambigüidade da
escala, mas foram tomados cuidados quanto à força dos adjetivos utilizados para
garantir uma ancoragem de respostas o mais consistente possível. Para as categorias de
0 a 5, foram utilizados, respectivamente, os seguintes rótulos, relativos à intensidade
atual de aplicação das práticas questionadas: Não se aplica/Não sei responder,
Iniciativas pontuais, Baixa aplicação, Média aplicação, Alta aplicação, Aplica-se
totalmente.
• Quanto ao formato ou configuração da escala: foram pesquisadas algumas opções
para que pudesse ser escolhida uma opção adequada, aproveitando-se da experiência
prévia de outros pesquisadores.
5.1 ANÁLISE DOS DADOS
A escolha de uma estratégia de análise de dados deve se basear nas etapas preliminares do
processo de pesquisa (definição do problema, escolha da abordagem conceitual), em
características conhecidas dos dados, em propriedades de técnicas estatísticas e na formação e
filosofia do pesquisador. A análise de dados não é um fim em si mesma, mas uma ferramenta
para que sejam atingidos os objetivos da pesquisa (MALHOTRA, 2006). O tratamento dos
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dados obtidos na fase de coleta de dados, considerando as cinco áreas de capacitação para
cada um dos seis fatores-chave foi assim executado:
- Inicialmente, a partir dos dados obtidos, foi calculada a média, a moda e o desvio-
padrão das respostas de cada uma das 95 (noventa e cinco) questões relativas às trinta
áreas de capacitação do modelo.
- Em segundo lugar, as médias das 95 (noventa e cinco) questões foram agrupadas
pelas 30 (trinta) áreas de capacitação.
- Foram, então, consolidados os seis fatores-chave, apresentando a média das situações
atual e desejada, fazendo a referida análise.
5.2 O UNIVERSO E A AMOSTRA
Posteriormente, o instrumento desenvolvido foi aplicado em um estudo de caso. O universo
estudado foi uma holding do setor elétrico brasileiro. Como amostra, buscou-se selecionar o
público específico que tem relação direta com a implantação da gestão por processos na a
organização, tanto executivos da alta administração, como gerentes e analistas engajados nas
iniciativas de implantação da gestão por processos, principalmente concentrados nas áreas de
Processos, Normas, Gestão Documental, Riscos e Controles, Desenvolvimento de Pessoas e
Tecnologia da Informação.
Dedicaram-se excessiva atenção e cuidado na consideração e definição da população de
interesse (por exemplo, eliminando-se os profissionais sem relação direta ou conhecimento da
implantação da gestão por processos na empresa). As questões sensíveis foram minimizadas e
foi garantida a confidencialidade das respostas, ainda que os respondentes não precisassem
identificar-se. Um dos pré-requisitos para participar da pesquisa era a leitura prévia da
estratégia organizacional, sendo condição indispensável porque o documento relativo à
estratégia contém, além da missão e dos valores, a visão de futuro da organização,
especificada em metas e objetivos organizacionais tangíveis, sendo seu conhecimento
imprescindível para avaliar a maturidade almejada (indispensável para o atendimento de tais
metas e objetivos organizacionais).
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Os convites para participar da pesquisa foram anexados aos questionários, dentro dos
envelopes da pesquisa, que foram entregues pessoalmente, pelo próprio pesquisador.
Considerando o reduzido número de respondentes potenciais – 27 (vinte e sete), optou-se por
entregar pessoalmente questionários em papel. Esta decisão levou em conta que a entrega
pessoal dos questionários aumentaria a sensação do compromisso com a devolução, em
relação aos questionários por e-mail ou webpage.
Malhotra (2006) definiu o índice de respostas como a percentagem das entrevistas
completadas dentre o total de entrevistas que se tentou realizar. Com o objetivo de garantir
um bom índice de respostas, a idéia inicial era de que o questionário não ficasse muito
extenso e, por sua vez, cansativo para os respondentes. Entretanto, outra questão a ser
observada era que, para cada variável a ser operacionalizada, correspondesse ao menos uma
pergunta do questionário, sendo que, eventualmente, foram necessárias mais de uma pergunta
para obter a informação desejada de forma não-ambígua (MALHOTRA, 2006). Nesse
sentido, buscando extenuar a investigação do tema na profundidade do modelo teórico
referenciado, o constructo resultou em um questionário bastante extenso, com 95 (noventa e
cinco) questões.
Por outro lado, levando-se em conta que a seleção da amostra por tipicidade exigiu do
pesquisador considerável conhecimento da população e do subgrupo selecionado
(VERGARA, 2004; GIL, 1999), considerou-se a facilidade de fazer uso de reforços
periódicos, via e-mail ou telefone para o público alvo, como um elemento aliado na tentativa
de garantir um bom índice de respostas. Para isso, foi consolidada uma lista de telefone e
endereço eletrônico dos potenciais respondentes. A elaboração do questionário seguiu os
passos propostos por Malhotra (2006).
6 RESULTADOS
O índice de respostas foi de 77,8% (equivalente a 21 colaboradores). Apesar dos reforços
periódicos, 22,2% dos colaboradores não responderam: 11,1% não responderam a qualquer
contato, e outros 11,1% declararam-se inabilitados ao deparar-se com inúmeros temas
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desconhecidos. Responderam à pesquisa 21 (vinte e um) colaboradores, que foram
considerados como 100% dos respondentes na análise do perfil da amostra, sendo 81%
homens e 19,0% mulheres. Pode-se considerar boa formação acadêmica geral, com 33,3%
graduados e 61,9% com algum curso de pós-graduação, sendo 23,8% em mestrado. Observa-
se que a maioria dos respondentes (66,6%) tem relativamente pouco tempo de empresa, até 5
(cinco) anos, sendo 33,3% até 1 (um) ano. Quanto ao nível hierárquico de atuação, percebe-se
uma distribuição adequada da amostra, sendo 9,5% da alta administração, 23,8% em nível
gerencial e 66,7% no nível operacional.
Gráfico 01 – Perfil da amostra: nível de atuação.
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
Quanto à área de atuação, houve distribuição da amostra em 6 (seis) diferentes áreas, com
destaque para Processos (47,6%), Normas (19,1%) e Desenvolvimento de Pessoas (14,3%). E,
por último, a pesquisa do tempo na área de atuação revelou que, apesar de não haver
empregados com mais de 10 (dez) anos na empresa, 9,5% deles já trabalhava na mesma área
antes de ingressar na empresa. A análise dos dados retrata a percepção da amostra pesquisada
na fase de coleta de dados. Foram analisadas as situações atual e desejada para cada fator-
chave investigado, com base nos escores obtidos de área de capacitação incluídos no
questionário e nas medidas descritivas obtidas em decorrência (média, moda e desvio-padrão).
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As médias obtidas nas áreas de capacitação foram consolidadas nos respectivos fatores-chave.
Posteriormente, as médias obtidas em cada fator-chave foram consolidadas como posição
atual e desejada da empresa, expressas em números inteiros, que equivalem aos estágios de
maturidade propostos no modelo teórico utilizado. Buscou-se investigar a diferença da
percepção entre os níveis hierárquicos da empresa, no intento de desvendar se a posição
hierárquica seria determinante para a dispersão das respostas obtidas da amostra. Tal
pressuposto não se confirmou verdadeiro, como demonstram a tabela e o gráfico a seguir, e
serão necessários outros testes, futuramente, para averiguar a discordância entre os
respondentes.
Tabela 01 – Comparação da percepção entre os níveis hierárquicos.
VISÃO ATUAL Alta Administração Nível Gerencial Nível Operacional
ALINHAMENTO ESTRATÉGICO 1,2 1,0 1,2
GOVERNANÇA 1,0 0,8 0,7
MÉTODOS 0,7 1,6 1,3
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO 0,3 0,7 0,6
PESSOAS 1,2 1,6 1,7
CULTURA 1,1 1,1 1,3
VISÃO FUTURA Alta Administração Nível Gerencial Nível Operacional
ALINHAMENTO ESTRATÉGICO 4,0 4,0 4,0
GOVERNANÇA 4,0 4,1 4,1
MÉTODOS 4,0 4,0 4,0
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO 3,1 3,5 3,2
PESSOAS 3,8 4,3 4,2
CULTURA 4,0 4,0 3,9
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
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Gráfico 2 – Comparação da percepção entre os níveis hierárquicos.
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
Ao final da análise dos seis fatores-chave, tem-se que os números que expressam a percepção
de maturidade na holding estudada são: 3,96 para a situação desejada e 1,10 para a situação
atual, com uma lacuna de 2,86 entre o cenário atual e o futuro. Os resultados insinuam que os
respondentes, de uma forma geral, esperam menos das contribuições oferecidas pela
tecnologia da informação do que pelas demais áreas de capacitação, que ficaram bem
equilibradas entre si. Quanto à situação atual, os resultados acenam com progressos maiores
em pessoas e métodos, sendo os menores resultados percebidos em tecnologia da informação.
Tabela 02 – Percepção ampla da maturidade na holding estudada.
FATOR-CHAVE SITUAÇÃO
ATUAL
SITUAÇÃO
DESEJADA LACUNA
ALINHAMENTO ESTRATÉGICO 1,19 4,19 3,00
GOVERNANÇA 0,79 4,11 3,32
MÉTODOS 1,40 4,03 2,63
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO 0,55 3,31 2,76
PESSOAS 1,49 4,17 2,68
CULTURA 1,19 3,96 2,77
MÉDIA 1,10 3,96 2,86
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Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
Ao final da análise dos seis fatores-chave, é possível supor que os números que expressam a
percepção de maturidade da situação atual e da situação desejada na holding estudada
permitem posicioná-la, respectivamente, nos Estágios 1-Inicial e 4-Gerenciado, do modelo
teórico referenciado, existindo entre eles, os Estágios 2-Repetitivo e 3-Definido, a serem
alcançados e posteriormente superados. Tal cenário pressupõe o esforço inicial de começar a
construir a capacidade da gestão por processos na empresa, aumentando o número de pessoas
que avaliam a organização sob a perspectiva de processos.
7 CONCLUSÕES
Os resultados da pesquisa sugerem que há ampla concordância da equipe no anseio por um
elevado desenvolvimento das capacidades organizacionais pesquisadas, o que, possivelmente,
reflete mérito da liderança em conceber um objetivo comum onde os envolvidos se vêem
trabalhando juntos para superar os obstáculos necessários à construção da situação desejada.
Os resultados da pesquisa revelam a percepção de uma empresa em estágio inicial de
implantação, com características presentes no princípio de um projeto organizacional. No
entanto, a dispersão das respostas relativas à situação atual permite supor que a empresa
carece de um entendimento comum e compartilhado sobre as iniciativas de gestão por
processos em andamento.
Acredita-se que este trabalho traz contribuições para o grupo de profissionais e pesquisadores
interessados no tema. Em especial, a elaboração do instrumento de coleta de dados, no âmbito
desta pesquisa, originou uma ferramenta para análise de percepção baseada em referenciais
teóricos sólidos, e que apresentou resultados satisfatórios, ao permitir uma análise profunda e
detalhada da percepção do público-alvo sobre a maturidade organizacional em gestão por
processos.
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É possível supor que a empresa estudada detém uma visão comum da situação desejada da
gestão por processos, entre os envolvidos em sua implantação. Tal perspectiva foi pesquisada
neste trabalho e traduzida numa “imagem de futuro” que pode vir a estimular o envolvimento
e o compromisso genuíno das pessoas. Embora os resultados tenham revelado a percepção de
uma empresa ainda em estágio inicial de implantação, e pesquisas futuras ainda possam
depurar a compreensão da realidade pesquisada, já podem ser avistadas a meta, a lacuna a ser
preenchida e os desafios a enfrentar. Como afirmou Hammer (2007), na transformação de
processos, assim como na vida, saber em que ponto se está e ter um bom mapa a seguir é
melhor do que avançar às cegas.
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