A CONTINUIDADE DOS TECIDOS PRIMÁRIOS NAS PLANTAS

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64º Congresso Nacional de Botânica Belo Horizonte, 10-15 de Novembro de 2013 A CONTINUIDADE DOS TECIDOS PRIMÁRIOS NAS PLANTAS Nanuza Luiza de Menezes* Universidade de São Paulo. *[email protected] Introdução É profundamente importante a noção de que todos os tecidos primários que estão na raiz também estão presentes no caule e na folha, em perfeita continuidade. A epiderme é o tecido que reveste o corpo primário de todos os órgãos. O parênquima cortical da raiz é o mesmo do caule e, na folha, é o mesofilo. Metodologia As análises aqui apresentadas são feitas pela observação de secções transversais obtidas a mão livre ou com material incluído em Paraplast®, submetidos à dupla coloração com safranina e azul de Astra [1] ou a Orange G e Violeta Cristal [2]. Os órgãos utilizados na presente demonstração do contínuo vegetal são raízes de Laelia sp., caules de Ricinus communis e folhas de Zea mays. Resultados e Discussão A continuidade dos tecidos é percebida em todas as camadas de tecidos, sendo especialmente evidenciada na endoderme e no periciclo. A camada mais interna do córtex (e do mesofilo) é a endoderme como se vê na raiz de Laelia. Nesta, podemos evidenciar células de passagem com estrias de Caspary (Fig. 1). No caule de Ricinus communis (Fig. 2-4) e na folha de Zea mays (Fig. 5-6), pode-se ver que a endoderme está localizada externamente ao periciclo, envolvendo os feixes vasculares. É extremamente importante perceber que o periciclo, que é o tecido mais externo do sistema vascular, na raiz forma o câmbio em frente aos polos do protoxilema e conecta os câmbios de origem de procâmbio (entre floema e xilema primários), portanto, o câmbio vascular é um câmbio misto. No caule, o procâmbio origina o câmbio fascicular e o periciclo origina o câmbio interfascicular, sempre adjacente à endoderme, como se vê em R. communis (Fig. 4). Nas folhas, o periciclo forma as fibras. É importante saber que a endoderme pode apresentar atividade meristemática na raiz, no caule e na folha; que o periciclo forma raízes laterais na raiz e raízes adventícias no caule e na folha. A diferenciação do xilema é exarca na raiz, com os pólos de protoxilema voltados para a periferia do órgão, e endarca no caule e na folha, com os polos de protoxilema voltados para o centro do órgão ou para a face adaxial, respectivamente. Uma diferença importante entre raiz e caule (e folha) é que os tecidos vasculares na raiz não formam feixes. Além disso, todas as raízes adventícias possuem medula e como as raízes laterais têm origem endógena. A única raiz de origem exógena é a radícula. A raiz primária, cujo meristema é o mesmo da radícula, apresenta os tecidos vasculares constituindo um protostelo (geralmente, actinostelo) e, se houver parênquima na região central, é um parênquima potencialmente vascular. Figura 1-6. Aspectos gerais dos tecidos vegetais em raíz de Laelia sp. (1), caule de Ricinus communis (2-4) e folhas de Zea mays (5-6). Em (1) notar endoderme com estrias de Caspary e as células de passagem (setas). No caule de R. communis, observar a localização do periciclo (Pr) e da endoderme (En) (2- 3), a primeira divisão do periciclo na região interfascicular, formando o câmbio pericíclico (4). A endoderme está localizada ao redor dos feixes vasculares das folhas, como observado em Zea mays (5-6). Conclusão A planta é uma unidade. Todos os tecidos primários que estão na raiz estão no caule e na folha. Agradecimentos A autora agradece ao CNPq e a FAPESP pelo auxílio financeiro, e a Rosy M. S. Isaias e Fernando H. A. Vale pela revisão do texto. Referências Bibliográficas [1] Bukatsch, F. 1972. Bermerkungen zur Doppelfärbung Astrablau-Safranin. Mikrokosmos, 61: 255. [2] Johansen, D. A. 1940. Plant Microtechnique. McGraw Hill Pub.New York

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64º Congresso Nacional de Botânica Belo Horizonte, 10-15 de Novembro de 2013

A CONTINUIDADE DOS TECIDOS PRIMÁRIOS NAS PLANTAS Nanuza Luiza de Menezes*

Universidade de São Paulo. *[email protected]

Introdução

É profundamente importante a noção de que todos os tecidos primários que estão na raiz também estão presentes no caule e na folha, em perfeita continuidade. A epiderme é o tecido que reveste o corpo primário de todos os órgãos. O parênquima cortical da raiz é o mesmo do caule e, na folha, é o mesofilo.

Metodologia

As análises aqui apresentadas são feitas pela observação de secções transversais obtidas a mão livre ou com material incluído em Paraplast®, submetidos à dupla coloração com safranina e azul de Astra [1] ou a Orange G e Violeta Cristal [2]. Os órgãos utilizados na presente demonstração do contínuo vegetal são raízes de Laelia sp., caules de Ricinus communis e folhas de Zea mays.

Resultados e Discussão

A continuidade dos tecidos é percebida em todas as camadas de tecidos, sendo especialmente evidenciada na endoderme e no periciclo. A camada mais interna do córtex (e do mesofilo) é a endoderme como se vê na raiz de Laelia. Nesta, podemos evidenciar células de passagem com estrias de Caspary (Fig. 1). No caule de Ricinus communis (Fig. 2-4) e na folha de Zea mays (Fig. 5-6), pode-se ver que a endoderme está localizada externamente ao periciclo, envolvendo os feixes vasculares. É extremamente importante perceber que o periciclo, que é o tecido mais externo do sistema vascular, na raiz forma o câmbio em frente aos polos do protoxilema e conecta os câmbios de origem de procâmbio (entre floema e xilema primários), portanto, o câmbio vascular é um câmbio misto. No caule, o procâmbio origina o câmbio fascicular e o periciclo origina o câmbio interfascicular, sempre adjacente à endoderme, como se vê em R.

communis (Fig. 4). Nas folhas, o periciclo forma as fibras. É importante saber que a endoderme pode apresentar atividade meristemática na raiz, no caule e na folha; que o periciclo forma raízes laterais na raiz e raízes adventícias no caule e na folha. A diferenciação do xilema é exarca na raiz, com os pólos de protoxilema voltados para a periferia do órgão, e endarca no caule e na folha, com os polos de protoxilema voltados para o centro do órgão ou para a face adaxial, respectivamente. Uma diferença importante entre raiz e caule (e folha) é que os tecidos vasculares na raiz não formam feixes. Além disso, todas as raízes adventícias possuem medula e como as raízes laterais têm origem endógena. A única raiz de origem exógena é a radícula. A raiz primária, cujo meristema é o mesmo da radícula, apresenta os tecidos vasculares constituindo um

protostelo (geralmente, actinostelo) e, se houver parênquima na região central, é um parênquima potencialmente vascular. Figura 1-6. Aspectos gerais dos tecidos vegetais em raíz de Laelia sp. (1), caule de Ricinus communis (2-4) e folhas de Zea mays (5-6). Em (1) notar endoderme com estrias de Caspary e as células de passagem (setas). No caule de R. communis, observar a localização do periciclo (Pr) e da endoderme (En) (2-3), a primeira divisão do periciclo na região interfascicular, formando o câmbio pericíclico (4). A endoderme está localizada ao redor dos feixes vasculares das folhas, como observado em Zea mays (5-6).

Conclusão

A planta é uma unidade. Todos os tecidos primários que estão na raiz estão no caule e na folha.

Agradecimentos

A autora agradece ao CNPq e a FAPESP pelo auxílio financeiro, e a Rosy M. S. Isaias e Fernando H. A. Vale pela revisão do texto.

Referências Bibliográficas

[1] Bukatsch, F. 1972. Bermerkungen zur Doppelfärbung Astrablau-Safranin. Mikrokosmos, 61: 255. [2] Johansen, D. A. 1940. Plant Microtechnique. McGraw Hill Pub.New York