A contribuição da filosofia para a educação

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A contribuição da A contribuição da filosofia para a filosofia para a educação educação Antônio Joaquim Severino Antônio Joaquim Severino

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A contribuição da A contribuição da filosofia para a filosofia para a

educaçãoeducação

Antônio Joaquim SeverinoAntônio Joaquim Severino

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► Na última metade do séc. XX a filosofia Na última metade do séc. XX a filosofia desvinculou-se de qualquer atividade pedagógica. desvinculou-se de qualquer atividade pedagógica. Adquiriu condição de subalternidade frente ao Adquiriu condição de subalternidade frente ao conhecimento científico. Desde então qualquer conhecimento científico. Desde então qualquer critério do agir humano só pode ser técnico, critério do agir humano só pode ser técnico, nunca mais ético ou político. No entanto, é preciso nunca mais ético ou político. No entanto, é preciso dar-se conta de que por mais imprescindível e dar-se conta de que por mais imprescindível e valiosa que seja a contribuição da ciência para o valiosa que seja a contribuição da ciência para o entendimento e para a condução da educação, entendimento e para a condução da educação, ela não dispensa a contribuição da filosofia.ela não dispensa a contribuição da filosofia.

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O sujeito da Educação:O sujeito da Educação:

Assim, de um ponto de vista mais Assim, de um ponto de vista mais fundante, pode-se dizer que a filosofia da fundante, pode-se dizer que a filosofia da educação se constitui como “antropologia educação se constitui como “antropologia filosófica”: Tentativa de integração dos conteúdos filosófica”: Tentativa de integração dos conteúdos das ciências humanas, na busca de uma visão das ciências humanas, na busca de uma visão integrada do homem. integrada do homem.

As dificuldades para se tratar da educação As dificuldades para se tratar da educação estão justamente na construção da imagem do estão justamente na construção da imagem do homem em sociedade. A tradicional filosofia homem em sociedade. A tradicional filosofia ocidental não conseguiu dar conta das ocidental não conseguiu dar conta das especificidades do existir humano e acabou por especificidades do existir humano e acabou por construir de uma lado uma antropologia construir de uma lado uma antropologia metafísica, fundamentalmente idealista, como metafísica, fundamentalmente idealista, como uma imagem universal e abstrata da natureza uma imagem universal e abstrata da natureza humana, incapaz de dar conta da imergência do humana, incapaz de dar conta da imergência do homem do mundo natural e social. homem do mundo natural e social.

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Nesse sentido os homens envolvidos na Nesse sentido os homens envolvidos na esfera educacional, não podem ser concebidos esfera educacional, não podem ser concebidos de modelos abstratamente concebidos de uma de modelos abstratamente concebidos de uma “natureza humana” como também não se “natureza humana” como também não se reduzem a uma “máquina natural”. A reduzem a uma “máquina natural”. A perspectiva filosófica integra ao totalizar, ao perspectiva filosófica integra ao totalizar, ao unir, ao relacionar. Em sua tarefa antropológica, unir, ao relacionar. Em sua tarefa antropológica, a filosofia da educação trabalha em íntima a filosofia da educação trabalha em íntima colaboração coma as ciências humanas no colaboração coma as ciências humanas no campo da teoria educacional.campo da teoria educacional.

Para ilustrar este sub item do texto de Para ilustrar este sub item do texto de SEVERINO, tomamos como ilustração plástica-SEVERINO, tomamos como ilustração plástica-musical o “Rap do Silva” - Mc Bob Rum:musical o “Rap do Silva” - Mc Bob Rum:

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O agir, os fins, e os valores:O agir, os fins, e os valores:

► Para quê educar?Para quê educar? A tradição filosófica no campo A tradição filosófica no campo

educacional, no mais das vezes, deixou-se levar educacional, no mais das vezes, deixou-se levar pela tendência de estipular valores, fins e normas, pela tendência de estipular valores, fins e normas, fundando-os apressadamente numa determinação fundando-os apressadamente numa determinação da natureza ideal do indivíduo e da sociedade. A da natureza ideal do indivíduo e da sociedade. A ética se tornava então uma ética essencialista, ética se tornava então uma ética essencialista, desvinculada de qualquer referência sócio-desvinculada de qualquer referência sócio-histórica. histórica.

Por outro lado, ao tentar superar esta Por outro lado, ao tentar superar esta visão essencialista, a tradição científica ocidental visão essencialista, a tradição científica ocidental vai vincular o agir a valores, agora, relacionados vai vincular o agir a valores, agora, relacionados apenas com a determinação natural do existir do apenas com a determinação natural do existir do homem. homem.

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O objetivo maior da existência do O objetivo maior da existência do homem é por sinal viver mais e viver bem. Esta homem é por sinal viver mais e viver bem. Esta finalidade passa a ser o critério básico na finalidade passa a ser o critério básico na delimitação de todos os valores que presidem o delimitação de todos os valores que presidem o agir. A ciência tende a perseguir o ideal de agir. A ciência tende a perseguir o ideal de naturalização do homem e como forma de torná-naturalização do homem e como forma de torná-lo objeto facilmente manipulável, enxergando os lo objeto facilmente manipulável, enxergando os homens por critérios puramente técnicos.homens por critérios puramente técnicos.

Agora a filosofia da educação procura Agora a filosofia da educação procura desenvolver sua reflexão levando em conta os desenvolver sua reflexão levando em conta os fundamentos antropológicos da existência fundamentos antropológicos da existência humana. Tal perspectiva nega, retoma e supera humana. Tal perspectiva nega, retoma e supera aqueles aspectos enfatizados pelas abordagem aqueles aspectos enfatizados pelas abordagem essencialista e naturalista, buscando dar a essencialista e naturalista, buscando dar a filosofia da educação uma configuração mais filosofia da educação uma configuração mais assente às condições reais da existência dos assente às condições reais da existência dos sujeitos humanos. sujeitos humanos.

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A força e a fraqueza da consciência:A força e a fraqueza da consciência:

A educação pressupõe mediações A educação pressupõe mediações subjetivas, ou seja, a intervenção da subjetividade subjetivas, ou seja, a intervenção da subjetividade de todos aqueles que se encontram envolvidos por de todos aqueles que se encontram envolvidos por ela. Dessa forma, a educação envolve a própria ela. Dessa forma, a educação envolve a própria subjetividade e suas produções, impondo ao subjetividade e suas produções, impondo ao educador uma atenção específica para tal situação. educador uma atenção específica para tal situação.

A questão do sentido de existir dos A questão do sentido de existir dos homens só se coloca graças a experiência. A grande homens só se coloca graças a experiência. A grande dificuldade que surge é que essa experiência da dificuldade que surge é que essa experiência da consciência é também uma riquíssima experiência consciência é também uma riquíssima experiência de ilusões. A consciência é o lugar privilegiado das de ilusões. A consciência é o lugar privilegiado das ilusões, dos erros e do falseamento da realidade, ilusões, dos erros e do falseamento da realidade, ameaçando constantemente comprometer a sua ameaçando constantemente comprometer a sua própria atividade.própria atividade.

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A filosofia da educação investe pois no A filosofia da educação investe pois no esclarecimento das relações de produção do esclarecimento das relações de produção do conhecimento e do processo da educação. Ou seja, o conhecimento e do processo da educação. Ou seja, o sentido essencial do processo da educação, a sua sentido essencial do processo da educação, a sua verdade completa, não decorre dos produtos de uma verdade completa, não decorre dos produtos de uma ciência isolada e nos dos produtos somados de ciência isolada e nos dos produtos somados de várias ciências: ele só se constitui mediante ao várias ciências: ele só se constitui mediante ao esforço de uma concorrência solidária e quantitativa esforço de uma concorrência solidária e quantitativa de várias disciplinas.de várias disciplinas.

Em sua atividade subjetiva a consciência Em sua atividade subjetiva a consciência acaba criando uma objetividade apenas projetada, acaba criando uma objetividade apenas projetada, imaginada, ideada e não real. Ocorre que a imaginada, ideada e não real. Ocorre que a consciência humana é extremamente frágil e consciência humana é extremamente frágil e facilmente dominável pelo poder que atravessa as facilmente dominável pelo poder que atravessa as relações sociais. O próprio conhecimento passa a ser relações sociais. O próprio conhecimento passa a ser apenas um objeto de dominação que alguns homens apenas um objeto de dominação que alguns homens exercem sobre outros. A consciência alienada, em exercem sobre outros. A consciência alienada, em relação a realidade objetiva, constrói conteúdos que relação a realidade objetiva, constrói conteúdos que são apresentados como verdadeiros e válidos são apresentados como verdadeiros e válidos quando, de fato, são puramente ideológicos.quando, de fato, são puramente ideológicos.

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A educação não é mais vista hoje A educação não é mais vista hoje como lugar da neutralidade e da inocência: como lugar da neutralidade e da inocência: ao contrário, ela é um dos lugares mais ao contrário, ela é um dos lugares mais privilegiados da ideologia, refletindo sua privilegiados da ideologia, refletindo sua intima vinculação ao processo social, intima vinculação ao processo social, político e econômico. Deste ponto de vista, político e econômico. Deste ponto de vista, a consciência filosófica é a mediação para a consciência filosófica é a mediação para uma continua e a tenta vigilância contra as uma continua e a tenta vigilância contra as artimanhas do saber e do poder, montadas artimanhas do saber e do poder, montadas no íntimo do processo educacional.no íntimo do processo educacional.

À esta afirmação do autor, como À esta afirmação do autor, como exemplo, selecionamos a seguinte exemplo, selecionamos a seguinte entrevista retirada do Jornal do SBT: entrevista retirada do Jornal do SBT:

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