A CONTRIBUIÇÃO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO DO CURSO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E SOCIEDADE. LICENCIATURA EM GEOGRAFIA ELIELTON DE SOUZA LUIZ EDUARDO BUSTAMANTE DE OLIVEIRA MIGUEL ANTONIO NOVAIS NETO SILVANA MARIA DE FARIAS OLIVEIRA A CONTRIBUIÇÃO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO DO CURSO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO VITÓRIA 2015

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TCC Licenciatura

Transcript of A CONTRIBUIÇÃO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO DO CURSO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO...

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E SOCIEDADE.

LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

ELIELTON DE SOUZA

LUIZ EDUARDO BUSTAMANTE DE OLIVEIRA

MIGUEL ANTONIO NOVAIS NETO

SILVANA MARIA DE FARIAS OLIVEIRA

A CONTRIBUIÇÃO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO DO

CAMPO DO CURSO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO

SANTO

VITÓRIA

2015

ELIELTON DE SOUZA

LUIZ EDUARDO BUSTAMANTE DE OLIVEIRA

MIGUEL ANTONIO NOVAIS NETO SILVANA MARIA DE FARIAS OLIVEIRA

A CONTRIBUIÇÃO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO DO

CAMPO DO CURSO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO

SANTO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Departamento de Educação, Política e Sociedade do

Centro de Educação da Universidade Federal do

Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção

do grau de licenciado em Geografia.

Orientadora: Profª. Drª. Patrícia Gomes Rufino

Andrade.

VITÓRIA

2015

ELIELTON DE SOUZA

LUIZ EDUARDO BUSTAMANTE DE OLIVEIRA

MIGUEL ANTONIO NOVAIS NETO SILVANA MARIA DE FARIAS OLIVEIRA

A CONTRIBUIÇÃO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO DO

CAMPO DO CURSO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO

SANTO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Departamento de Educação, Política e Sociedade do

Centro de Educação da Universidade Federal do

Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção

do grau de licenciado em Geografia.

Aprovado em ______ de ________ de _____.

COMISSÃO AVALIADORA:

___________________________________________

Profª Dra. Patrícia Gomes Rufino Andrade

__________________________________________

Profª Dra. Dulcinea Campos Silva

Profº Dr. Júlio de Souza Santos

Este TCC é dedicado primeiramente a Deus, à Família e aos

verdadeiros Amigos.

AGRADECIMENTOS Aos professores que deram suporte no caminhar do curso pela dedicação e compreensão das ideias aqui propostas e por ter contribuído para a compilação deste trabalho, promovendo o estudo e a reflexão sobre o tema proposto.

A todas as fontes pesquisadas, principalmente as pessoas ligadas ao ensino do/no campo e aos estudantes do curso de licenciatura da UFES.

E principalmente aos amigos e familiares que sempre nos deram suporte nos momentos mais felizes e sombrios pelo quais passamos.

“No esforço para compreender a realidade, somos como um homem tentando entender o mecanismo de um relógio fechado. Ele vê o mostrador e os ponteiros, ouve o seu tique-taque mas não tem meios para abrir a caixa. Se esse homem for habilidoso, poderá imaginar um mecanismo responsável pelos fatos que observa, mas nunca poderá ficar completamente seguro de que sua hipótese seja a única possível.

Albert Einstein

RESUMO

Caracteriza uma pesquisa de cunho exploratório do curso de Educação do Campo da UFES sobre

a contribuição do ensino de geografia na compreensão do espaço do campo em escolas rurais.

Realiza uma análise histórica e teórica do assunto e analisa dados de um questionário aplicado

aos alunos do curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal do Espírito

Santo, juntamente com uma visita a campo em uma escola rural. Além disso, esta pesquisa

compara o Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Educação do Campo da UFES com o

PPC da Universidade Federal do Tocantins. Os resultados demonstram a importância da ciência

geográfica nas salas de aula do campo e a premência de uma política voltada para o ensino no

campo. O início da pesquisa foi dado, mas há outras possibilidades a serem destacadas devido a

abrangência do assunto estudado, pois o presente trabalho merece estudos mais aprofundados.

Palavras-chave: Educação do campo. Ensino de geografia. Escola rural. Projeto Pedagógico de

Curso.

ABSTRACT This paper is characterised by an exploratory research of the Rural Education course of UFES around the contribution of Geography teaching in the understanding of the space of the country in rural schools. It carries out a historical and theoretical analysis of the subject and interpret the data of a questionnaire applied to the students of the graduation course in Rural Education of the Federal University of Espírito Santo, jointly with a field visit of a rural school. Furthermore, this research attempts to compare the Pedagogical Project of the graduation course in Rural Education of UFES with the Projeto Pedagogico de Curso (Pedagogical Project of Course), also known as PPC, of the Federal University of Tocantins. The results have shown the importance of Geography in the classroom of the field and the urge of a policy on Rural Education. In spite of the beginning of the research, there are other possibilities that could be highlighted due to the coverage of the subject in the view of this the present work deserves more detailed studies. Key words: Rural Education. Geography teaching. Rural School. Projeto Pedagogico de Curso (Pedagogical Project of Course)

LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1 - Escola Rural em Nova Guarapari/Guarapari-ES......................................... 39

Fotografia 2 - Entrada principal da escola e pátio de recreio dos alunos.......................... 40

Fotografia 3 - Alunos na sala de aula da Escola Lúcio Rocha de Almeida....................... 41

Fotografia 4 - Entrada de Olivânia.................................................................................... 43

Fotografia 5 - Escola da Família Agrícola em Olivânia-Anchieta/ES................................. 44

Fotografia 6 - Pátio da Escola de Olivãnia-ES................................................................... 44

Fotografia 7 - Caderno de realidade das atividades do campo.......................................... 45

Fotografia 8 - Caderno de realidade das atividades do campo.......................................... 46

Fotografia 9 - Atividades práticas dos alunos..................................................................... 46

Fotografia 10 - Casas de instrumentos para manutenção do lugar ................................... 48 Fotografia 11 - Sala grande para aulas e eventos. Grupo de professores do ensino do campo................................................................................................................................. 48

Fotografia 12 - Grupo de professores do ensino do campo.............................................. 49

LISTA DE FIGURAS Figura 1 - MST contra o fechamento de escolas rurais no ES ............................................ 28 Figura 2 - Municípios onde os alunos entrevistados residem ............................................... 50

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – População Urbana e Rural ...................................................................................... 26

Gráfico 2 – Percentual de residentes em zonas urbanas e rurais ......................................... 50 Gráfico 3 – Representação do motivo de escolha do curso ................................................... 51

Gráfico 4 – Uma escola do campo deve ter? .............................................................................52

Gráfico 5 – Questões necessárias para a Educação do/no Campo ..................................... 53

Gráfico 6 – Visualização da Geografia em relação a Educação do Campo ........................ 54

Gráfico 7 – Relevância Geografia-escola do campo-comunidade (relevância) ...................55

Gráfico 8 – Geografia ensinada na sala de aula está contextualizada ..................................56

Gráfico 9 – Aulas dos professores ajudam na prática do campo .......................................... 56

Gráfico 10 – Existem desafios em estudar/ensinar Educação do/no Campo .......................57

Gráfico 11 – Quais são os desafios em ensinar/estudar Educação do Campo ...................57

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Percentual de pessoas que não frequentavam a escola por faixa etária ................................................................................................................................................ 19

Tabela 2 - Percentual de pessoas que não frequentavam a escola, na zona rural, por faixa etária ................................................................................................................................................ 34

LISTA DE SIGLAS

EFAS- Escolas Famílias Agrícolas

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MEPES - Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo

MST- Movimento sem Terra

PPGE- Programa de Pós-Graduação em Educação

PPC- Projeto Pedagógico de Curso

SEDU- Secretaria Estadual de Educação

UFES - Universidade Federal do Espírito Santo

UFT – Universidade Federal do Tocantins

SUMÁRIO

I INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 15

II UM BREVE OLHAR HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO NO CAMPO ...................................................... 16

III EDUCAÇÃO RURAL X EDUCAÇÃO DO CAMPO .............................................................................. 22

3.1 TENSÕES SOBRE A NECESSIDADE DE UMA EDUCAÇÃO DO CAMPO ............................ 26

3.2 INSTABILIDADE DA ESCOLA DO CAMPO, TENSÕES PELO FECHAMENTO .................... 27

IV METODOLOGIA ....................................................................................................................................... 31

4.1 COMPARATIVOS DOS PROJETOS PEDAGÓGICOS DE CURSOS ....................................... 32

4.1.1 Organização do PPC .................................................................................................................. 35

4.2 VISITA A ESCOLA LÚCIO ROCHA DE ALMEIDA – GUARAPARI-ES E A ESCOLA

OLIVÂNIA/ANCHIETA – ES. ................................................................................................................... 39

4.2.1 Visita a campo dia 21/10/15 ....................................................................................................... 39

V - ESCUTAS DOS ALUNOS EM CURSO NA EDUCAÇÃO DO CAMPO .......................................... 50

VI CONTRIBUIÇÕES DA GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO: PERSPECTIVAS E

POSSIBILIDADES ......................................................................................................................................... 60

VII CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................... 61

VIII REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 63

APÊNDICES ................................................................................................................................................... 67

APÊNDICE A .............................................................................................................................................. 68

APÊNDICE B .............................................................................................................................................. 70

I INTRODUÇÃO

A recente inserção do curso de Educação do Campo na Universidade Federal do Espírito

Santo tem sido alvo de inúmeras discussões, pois o processo está em permanente

avaliação quanto aos possíveis caminhos institucionais. Da mesma maneira observamos

que a recente implementação da Educação do Campo em outras realidades tem seguido

o mesmo caminho sendo bastante discutida, pois esta muitas vezes apresenta um relato

da nossa história, ou seja, da história de muitas famílias eu vieram do campo.

No contexto da história do Brasil, observamos que nossa organização econômica inicia-se

no campo. Hoje os dados do IBGE nos mostram uma população urbana como mais de

80% de pessoas vivendo nas cidades brasileiras, que antes sobreviviam e produziam nas

chamadas zonas rurais deste país (ver gráfico 1, pág. 26).Este agravante incita a

pensarmos em nossa própria sobrevivência, nas relações de interdependência

campo/cidade, mas também nas relações de sustentabilidade, do uso comum das terras e

de sobrevivência do campesino.

Diante dessa situação em que o campo passou a ser deixado de lado, a proposta de uma

educação no/do campo se faz necessária e urgente. Baseando - se nesse pensamento,

de que a Educação do Campo deve ser pensada para o homem do campo (CALDART,

2004), nesse trabalho se tem como objetivo apresentar uma possibilidade de contribuição

da Geografia para a Educação do Campo.

A investigação se deu primeiramente fazendo um breve retrospecto histórico sobre a

educação voltada para as comunidades campesinas, baseando-se para isso no trabalho

de JESUS (2014), os conflitos teóricos entre o “rural” e “campo”, baseando-se no

pensamento de CALDART (2004) sobre a valorização das questões campesinas frente a

uma noção de atraso do “rural”, lembrando também que a Educação do Campo é pela e

para a luta das pessoas que nele vivem (PEZZIN 2007). Pensando nesse sentido foi

realizada uma análise das lutas e tensões enfrentadas pela educação voltada para os

camponeses no Espírito Santo.

Sobre a noção de atraso do rural, existem alguns mitos expostos pelas mídias sobre

diversas questões, dentre eles os mais relevantes o mito do vazio demográfico, atraso do

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campo, da homogeneização e da paz no campo sendo que no campo existem muitas

tensões e diversos movimentos de luta que será melhor abordado no texto. Pensamos em

uma educação construída para o homem do campo, ou seja, os sujeitos do campo.

Para pensarmos a organização do ensino de Geografia no Curso de Educação do campo

realizamos uma análise comparativa entre os Projetos Pedagógicos de Curso das

Licenciaturas em Educação do Campo da Universidade Federal de Tocantins (UFT) e da

Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), de modo a pensarmos inserção da

Geografia em ambos os cursos, seja diretamente como disciplina, ou indiretamente,

através da transversalidade em outras disciplinas.

Como exemplo de possibilidade para a Educação do Campo foram escolhidas as escolas

do Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo (MEPES). Segundo nos conta

JESUS (2014) o MEPES Surgiu em 1969, no município de Anchieta, se baseando nos

princípios de educação, saúde e ação comunitária. Tendo como base estudos pautados

no pensamento freiriano, o MEPES, vem desenvolvendo, desde a sua criação uma linha

de trabalho com a intenção de fazer com que as Escolas Famílias Agrícolas, proponham,

auxiliem e desenvolvam uma educação do/no campo, utilizando para isso a Pedagogia da

Alternância. Também foi aplicado um questionário para os alunos da Licenciatura em

Educação do Campo da UFES para conhecer suas ideias sobre a importância desta e

relação com a Geografia.

De posse das informações obtidas através da Análise dos PPCs, a experiência de campo

na Escola Família Agrícola de Olivânia, Anchieta, Espírito Santo, e a análise das opiniões

dos alunos/professores do campo, foi proposto uma possibilidade de contribuição da

Geografia para a Educação do Campo.

A contribuição da Geografia deve seguir sua visão da realidade, que nesse trabalho é a

visão crítica baseada na ideia de VESENTINI (1994), que demonstra a importância de

uma reflexão crítica para a prática de um “antipoder”.

II UM BREVE OLHAR HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO NO CAMPO

A escola tal como se conhece hoje, é algo relativamente recente na história da

humanidade. O sistema escolar foi construído a partir do século XVIII, no contexto de

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desenvolvimento do capitalismo com a industrialização e urbanização e de ascensão da

burguesia como classe dominante (VESENTINI, 1989).

No Brasil, em seus primórdios e em linhas gerais, a educação foi disseminada pelos

Jesuítas,

Foi a família patriarcal que favoreceu, pela natural receptividade, a importação de formas de pensamento ideias dominantes na cultura medieval europeia, feita através da obra dos jesuítas [...] As condições objetivas que portanto favoreceram essa ação educativa foram de um lado, a organização social e de outro, o conteúdo cultural que foi transportado para a colônia, através da formação mesma dos Padres da Companhia de Jesus (ROMANELLI, 1978, p.33).

O fato da educação, no Brasil, ter se instaurado através dos jesuítas, possui relevância na

forma como a docência era e, em alguns casos ainda é vista como um sacerdócio, em

que a pessoa deva ter vocação para ensinar.

Essa visão com relação à educação é fundamental para se entender, não apenas a

desvalorização do professor em si, mas também a da própria educação, inclusive a

educação do campo, pois se a educação era vista como um sacerdócio, o talento é que

ditará quem irá se tornar professor, não existe necessidade de um aperfeiçoamento

técnico – científico da educação.

Somente no século XIX é que ocorre o surgimento de leis que transformam essa situação,

[...] a função docente que antes era exercida como uma ocupação secundária, próxima ao sacerdócio, sem formação especializada sofre uma importante transformação, sobretudo, com a Lei Geral do Ensino de 15 de outubro de 1827 que traz o mérito de prescrever a obrigatoriedade do ensino das primeiras letras a todos os cidadãos brasileiros, institui o método mútuo e a preparação dos professores no respectivo método como uma prerrogativa para o exercício da docência (JESUS, 2014, p. 97)

Assim a partir do início do século XIX tem-se o marco inicial da profissionalização do

professor e, consequentemente, de uma série de transformações que visam uma melhora

no ensino, que ao longo do tempo, e ainda hoje continua sendo o desejo e a busca

fundamental de toda a educação.

Segundo JESUS (2014), as Escolas Normais são um marco na formação do professor e

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na sua profissionalização. A Escola Normal surge na França, mas se baseia na formação

dos professores alemães que no século XIX via como necessária à formação dos

professores o estabelecimento de certas “normas”, origem, portanto do nome Escola Normal.

No Brasil as Escolas Normais surgem em 1835, tendo como um dos objetivos uma

normatização das práticas de formação de educação e uma busca pela homogeneização

desta prática (JESUS, 2014). Tal fato é ainda hoje sentido na educação e é um dos

principais motivos da busca pela educação do campo, pois assim como as Escolas

Normais buscavam um único viés de pensamento e de ensino sem levar em conta o

cotidiano dos alunos, a educação para as pessoas que viviam em áreas rurais também

seguia essa visão, que perdura até hoje.

As primeiras escolas desse tipo surgiram no Brasil em 1928, mas especificamente no Ceará, e tinham por base a ideia de buscar “valorizar” o homem do campo para assim

conseguir impedir ou diminuir o êxodo rural (JESUS, 2014). Essa noção estava baseada

na ideia do ruralismo pedagógico,

[...] o “ruralismo pedagógico” contrapunha-se à escola literária, de orientação urbana, que parecia contribuir para o desenraizamento do camponês. E, com isso, acompanhava as críticas do escolanovismo dirigidas à transmissão e à memorização de conhecimentos dissociados da realidade brasileira. Aqueles que propunham uma pedagogia diferenciada para as populações rurais, identificados com o “ruralismo pedagógico”, defendiam a existência de uma escola que preparasse os filhos dos agricultores para se manterem na terra e que, por isso mesmo, estivesse associada ao trabalho agrícola e adaptada às demandas das populações rurais. Porém, essa concepção, como outras carregadas de “boas intenções”, permaneceu apenas no discurso (RIBEIRO, 2012 p.298).

Dentro desta visão as Escolas Normais Rurais serviram apenas como um meio de impedir

o êxodo rural, pois elas não ofereciam um grande nível de ensino e, de acordo com

(JESUS, 2014), elas se diferenciavam das Escolas Normais urbanas, não apenas por

apresentarem algum conteúdo ligado à área rural, mas por não terem uma educação

pedagógica pautada em um embasamento mais científico, e, portanto ensinavam apenas

o que era necessário para a permanência das pessoas nas áreas agrícolas,

demonstrando assim um total descaso com a educação da população do campo.

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Essa característica das Escolas Normais Rurais e de toda a educação voltada para as

zonas rurais desde então demonstra uma despreocupação para com a identidade do

homem do campo. “A escola procurou formar grupos sociais semelhantes aos que vivem

nas cidades, distanciados de valores culturais próprios...” (Petty, Tombim e Vera,1981,

apud RIBEIRO, 2012, p.295), desta forma a educação rural não possuía uma

intencionalidade de ressaltar a “cultura do campo”, mas sim marginalizá-la e buscar

apenas ensinar o que era necessário para a produção agrícola, ou seja, buscava um

ensino que se pautava no que não servia aos interesses e desejos do povo do campo “[...]

a política de Educação Rural desvinculava-se dos propósitos da população campesina

[...]” (SANTOS, 2010, p.4).

Apesar do ensino nas Escolas Normais Rurais ter algum conhecimento sobre o campo

este permanecia apenas no nível técnico, pois segundo RIBEIRO (2012), tal ensino

objetivava o conhecimento técnico, visando o desenvolvimento da produção agrícola, e

não se preocupava com as questões culturais e de cotidiano do campo. Tudo

relacionado ao rural era visto como inferior e atrasado do ponto de vista cultural

(CALDART, 2004). Deste modo o espaço rural era visto como inferior ao espaço urbano

e a busca pela assimilação por parte do campo dos aspectos culturais urbanos se

tornava necessária.

A noção de inferioridade e atraso que se pensava sobre o campo era perpetuada nas

escolas rurais onde o ensino era visto como inferior ao da cidade e contribuiu também

para a situação de precariedade em que muitas escolas em zonas rurais se encontram

(PEZZIN, 2007), o que contribui para a defasagem de escolarização que o campo

enfrenta (tabela1).

Tabela 1 - Percentual de pessoas que não frequentavam a escola por faixa etária

Faixa etária Brasil Urbano Rural (anos)

6-14 3,3 2,9 5

15-17 16,7 15,6 21,7 Fonte: IBGE, censo demográfico 2010.

Como pode ser observado o percentual de não frequência nas zonas urbanas é menor

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que a média nacional e o das zonas rurais são superiores a essa média, o que reflete a

ideia do pensamento de superioridade do urbano frente ao rural, traduzindo assim que

esse pensamento ainda continua vigorando, se não nos discursos, pelo menos nas

práticas e programas com relação à educação no campo.

A partir das lutas dos movimentos sociais e da luta pela reforma agrária (PEZZIN, 2007),

pelo reconhecimento e busca da valorização do campo (CALDART, 2004) esta situação

começa a mudar.

A busca da quebra do paradigma da educação rural para a educação do campo começa a

partir dos movimentos sociais que se relacionam com a terra. No Espírito Santo existem

dois marcos, segundo JESUS (2014), que sinalizam esse momento: o primeiro foi a

fundação do Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo (MEPES), no

município de Anchieta, na década de 60, o segundo foi a realização do Primeiro Encontro

Nacional de Educadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais em São Mateus, na

década de 80.

O primeiro está relacionado ao movimento das Escolas Famílias Agrícola (EFAs), e o

segundo ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, em ambos os casos estes

movimentos foram criados para procurar mudar a situação do trabalhador do campo

(PEZZIN, 2007), frente à situação em que este vivia, ao abandono e marginalização

sofrida, e como consequência, ambos tiveram papel de importância na formação da

Educação do Campo no Espírito Santo (JESUS, 2014).

A partir desta mudança de visão da Educação Rural para a Educação do Campo, tem-se

uma nova perspectiva, pois a primeira vê a educação em zonas rurais meramente como

um instrumento produtivo (RIBEIRO, 2012) que não leva em conta a vivência das pessoas

que vivem no campo. A segunda, porém vê que a educação “[...] contribui com a

construção de uma memória coletiva, do resgate da identidade do homem do campo por

meio da educação junto às crianças, jovens e adultos, criando o sentimento de pertença

ao grupo social ao qual a educação do/no campo está inserida [...]” (FERREIRA,

BRANDÂO, 2010, p.12).

Junto da mudança de visão promovida pelos movimentos sociais pela terra, também

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ocorreram mudanças nas leis, promovidas pelas pressões que esses movimentos

geraram, como, por exemplo, a Lei 9394/96 (LDB) que estabelece:

Art. 28 – Na oferta da educação básica para a população rural, os sistemas de ensino

promoverão as adaptações necessárias à sua adequação, às peculiaridades da vida rural

e de cada região, especificamente.

I – conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e

interesses dos alunos da zona rural; II – organização escolar própria, incluindo a adequação do calendário escolar às fases do

ciclo agrícola e às condições climáticas; III – adequação à natureza do trabalho na zona rural. (LDB, Lei nº. 9394, 1996). Como pode ser visto, a partir da LDB, a Educação do Campo passa a ser, não mais um

discurso ou uma possibilidade pedagógica, mas uma realidade. É preciso salientar que

ela em si, possui uma visão ainda voltada para a produção, e, portanto, não consoante

com os ideais dos movimentos sociais, mas permite legalmente um ensino que vise o

respeito e a valorização do campo (FERREIRA; BRANDÂO,2010).

Outro marco jurídico importante para a Educação do Campo é a criação das Diretrizes

Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, em 2002, que já possuem

uma visão mais próxima da proposta defendida pelos movimentos sociais, como pode ser

visto no seu segundo artigo:

Art. 2º Parágrafo único. A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade social da vida coletiva no país.

Essa relativa diferença apontada na legislação, observa a necessidade de uma discussão

mais ampla no sentido da compreensão das questões que envolvem a Educação Rural e

a Educação do Campo, em diferentes perspectivas.

As mudanças ocorridas entre as duas legislações demonstram a necessidade do debate

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sobre a Educação do Campo e seus paradigmas, buscando a superação da visão da

Educação Rural, cujas diferenças serão abordadas a seguir.

III EDUCAÇÃO RURAL X EDUCAÇÃO DO CAMPO

A Educação do Campo visa alterar a visão que se tem com relação ao espaço rural,

superando a ideia do rural como algo atrasado e buscando valorizar o conhecimento, a

cultura e as relações desse espaço (CALDART, 2004).

Para isso os movimentos sociais e os docentes que compartilham esses ideais, com

relação à valorização de suas relações sociais, culturais e pedagógicas utilizam o

paradigma da Educação do Campo colocando-se em contraponto ao paradigma da

Educação Rural, buscando a sua superação (CALDART, 2012).

O paradigma da Educação Rural fundamentava-se na ideia de que o rural é inferior ao

urbano (CALDART, 2004), e, portanto, a educação em áreas rurais deve ser igual a das

áreas urbanas, gerando uma visão mais voltada para a produção do que no

reconhecimento dos valores e das relações que existem no campo. A conceituação do “para quem” a educação rural se destina mostra muito bem isso: “[...] o destinatário da

educação rural é a população agrícola constituída por todas aquelas pessoas para as

quais a agricultura representa o principal meio de sustento [...]” (Petty; Tombim;

Vera,1981, apud RIBEIRO 2012, p. 295).

Como pode ser visto a ideia de educação para a população agrícola a define apenas pelo

que ela produz, sem levar em conta as relações sociais e culturais que possui. A

educação como algo que serve à produção capitalista, é algo que ocorre há muito tempo

não apenas no campo, mas em toda a sociedade. Em nossa “era” a industrialização ditou

as novas exigências educacionais na escola e a revolução capitalista expandiu o ensino

no Brasil. Com isso houve uma marginalização da educação no Brasil, pois ela se tornou

ao mesmo tempo ampliada, porém desqualificada do ponto de vista da qualidade, ou seja,

em alguns lugares de qualidade inferior, além de seletiva, segundo a visão de Romanelli,

Um dos aspectos que mais evidenciam a falta de coerência interna do sistema educacional brasileiro é o seu baixo rendimento, o qual se mede por sua capacidade de assegurar o acesso da população escolar do nível elementar de ensino aos níveis médio e superior. O alto grau de seletividade do sistema “peneirando” a maior parte

23

da população que nele ingresse, no decorrer da vida escolar, faz com que exista enorme descompasso entre os diferentes níveis e, sob alguns aspectos, num mesmo nível, entre as várias séries que o compõem. É assim, pois, que vivemos um grande paradoxo: ao mesmo tempo em que o crescimento da demanda efetiva de educação pressiona o sistema, para que este abra amplamente suas portas a uma massa, dia a dia mais numerosa, ele se fecha em si mesmo, acolhendo apenas parte da população e, depois, selecionando ainda mais essa parte privilegiada, através de um mecanismo que faz com que, de cada 1000 alunos admitidos à 1. Série primária, em 1960, apenas 56 tenham conseguido ingresso no ensino superior, em 1971, conforme dados do Ministério da Educação e Cultura (ROMANELLI, 1978, p.88).

Pelo tempo que enfatiza a autora a educação rural não apenas perdeu em qualidade, mas

também em identidade, pois tendo que servir de base para as relações produtivas,

permitindo assim que uma cultura, que valoriza as relações econômicas se sobrepusesse

às questões sociais e culturais. Essa situação gerou a diminuição de todos os aspectos

que pudessem valorizar a educação como um todo, em especial a educação em áreas

rurais, criando assim uma educação que não se preocupa em manter a identidade do

povo do campo e que contribui com a desvalorização desses. “Essa precariedade está

relacionada ao modelo de desenvolvimento econômico de base capitalista destinado aos

trabalhadores do campo brasileiro que por meio da Educação Rural tem visado manter

sua hegemonia [...]” (SANTOS, 2010, p.9).

Essa é uma das maiores diferenças entre o paradigma da Educação Rural e o da

Educação do Campo, enquanto o primeiro tem como base a desvalorização do campo,

através da Idea de atraso deste em relação ao urbano (CALDART, 2004) o segundo

busca a valorização através da identidade, das relações culturais e sociais que se fazem

presente no campo (CALDART, 2004).

A visão da Educação Rural sobre o campo é antiga. “Historicamente, o conceito educação

rural esteve associado a uma educação precária, atrasada, com pouca qualidade e

poucos recursos [...] Tinha como pano de fundo um espaço rural visto como inferior

arcaico [...]” (CALDART, 2004, p. 36). Embora o conceito de Educação do Campo seja

mais recente, ele não deixa de ter uma grande relevância histórica, pois nasceu das lutas

daqueles que vivem “o campo”, seja através das Escolas Famílias Agrícolas, seja do MST, ou de outros movimentos sociais pela terra, ele foi criado pelo campo e para o

campo (CALDART, 2004). O fortalecimento desses movimentos ao longo do tempo

24

permitiu uma pressão sobre o Estado para que a educação se tornasse mais voltada para

seus objetivos. E aqui nesse texto a Educação do Campo é entendida como uma proposta

de reconhecimento das identidades e das necessidades e subjetividades daqueles que

lutam por uma educação no/do campo.

Na década de 1980 com a abrangência e fortificação dos movimentos ligados ao

campesinato, começaram a ser discutidos temas ligados à educação do campo,

Nos anos de 1980, com a ampliação do número de ocupações e assentamentos organizados no MST, as questões educacionais dos camponeses e trabalhadores rurais ficaram mais visíveis. A existência de um número reduzido de escolas e o trabalho com conteúdos caracterizados pela ideologia do Brasil urbano fizeram com que o movimento social iniciasse novas experiências e produzisse documentos mostrando as necessidades e as possibilidades na construção de uma política pública de educação do campo. O movimento social questiona o paradigma da educação rural e propõe a educação do campo como um novo paradigma para orientar as políticas e práticas pedagógicas ligadas aos trabalhadores do campo. Questiona, em essência, os interesses da classe dominante expressos no paradigma da educação rural e as contradições do modo de produção capitalista. (SOUZA, 2008, p. 1094).

A partir deste momento a “educação para o rural”, ganha novos contornos e passa a ser

pensada uma “educação para o campo”. O paradigma da Educação Rural passa a ser

confrontado pelo paradigma da Educação do Campo, o que gera uma nova visão de

pensar e ensinar, não mais para servir a produção capitalista, mas sim pensando

criticamente o seu papel no mundo, o que se torna fundamental para o desenvolvimento

de um ensino crítico, permitindo pensar em diversas escalas, entendendo e buscando

mudar o mundo onde se vive pois,

O ensino crítico está pautado na significação dos conteúdos, no contexto local, regional, nacional e global. Está na forma de abordagem deste por parte do professor, que decide ao escolher sua postura, se vai ou não fazer a diferença. Mostrar aos alunos mundo percebido pelos sentidos, porém, não abarcado pela visão. Mostra aos seus alunos, que eles fazem parte do mundo, e, que este, o mundo faz parte de suas vidas intrinsecamente, os encaminhando a revelação de um ser que deve ser estimulado pelo educador, o ser pensante capaz de raciocinar a sociedade em que vive, e, que é dialética, bem como, as relações que o permeiam, num movimento constante de mudanças e transformações. Neste contexto deve se situar o professor, como agente capaz de formar

25

alunos cidadãos conscientes da sociedade em que vivem e que são capazes de transformar. (RÖHNELT; RÖHNELT, 2009, p.4).

Dentro desse novo contexto, a ciência geográfica tem muito a contribuir para a educação

do campo. Desde os tempos mais remotos a geografia ajuda o homem a compreender o

espaço e ambiente que vive. Rodrigo S. Camacho revela,

A capacidade de transformação da geografia se deve ao fato da mesma possuir uma relação intrínseca com a realidade. A partir da realidade, a geografia pode desenvolver no Estudante-Camponês a capacidade de interpretar criticamente a realidade com o objetivo de fomentar uma ação transformadora sobre essa realidade. Assim, a geografia tem que propiciar aos educandos pensarem as relações socioespaciais e as suas contradições de classe, inerentes a sua realidade. Neste sentido, estabelecendo uma relação entre a Geografia e a Educação do Campo, os movimentos sociais camponeses, não produzem apenas uma luta pela melhor distribuição de terra e renda, mas produzem, também, uma luta pela construção de uma pedagogia condizente com a luta e com o processo de produção e reprodução material e simbólica da classe camponesa. (CAMACHO, 2011, p. 25).

Vesentini aprimora este pensamento expondo,

E a parcela que prossegue pela última vereda, a da reflexão crítica, logo percebe que, ao estar inserida numa sociedade dividida por interesses antagônicos, a escola é um campo de luta de classes: serve para a reprodução das relações de dominação, para a preparação de forma de trabalho dócil ao capital, e como inculcadora da ideologia dominante; e, como todo lugar onde há poder, pode tornar-se numa prática de antipoder! (VESENTINI, 1994, P.110).

A Geografia, portanto, possui um papel grande a desempenhar com relação a Educação

do Campo, porém esta deve se basear em uma visão pedagógica, que tenha como

princípio o entendimento do cotidiano e da realidade do campo, que dialogue com ele, e

que parta deste conhecimento para a construção do saber dos alunos do campo, e não

apenas em depositar conhecimento como uma educação bancária (FREIRE, 1996).

Desse modo a Geografia busca a valorização das características sociais e culturais dos

povos do campo revelando o reconhecimento desses sujeitos e das discussões que

trazem para nós alunos e professores, pois essas diferenças devem ser grifadas no

26

sentido da apropriação curricular, de pertencimento e reconhecimento desses sujeitos e

das discussões abordadas.

3.1 TENSÕES SOBRE A NECESSIDADE DE UMA EDUCAÇÃO DO

CAMPO

As escolas que estão nas zonas rurais tiveram que enfrentar grandes dificuldades neste

percurso de implantação das estruturas das escolas e até os dias de hoje. Podemos

afirmar que as políticas públicas não atenderam as questões do campo, uma vez que

ainda se torna necessário uma ampla discussão para trabalharmos esses

enfrentamentos: da falta de escolas ou do fechamento delas, da necessidade de uma

educação específica para as realidades campesinas, além de outras políticas, como da

saúde, da mulher entre outras. Ou seja, os nossos modelos educacionais sempre

estiveram voltados para uma educação urbana ou voltadas para questões que estão

supostamente nas zonas urbanas impressas como modelo para as zonas rurais. É nesse

sentido que entendemos que é necessária uma ampla discussão e criação de políticas

públicas que atendam às necessidades da população campesina, a partir de suas

próprias concepções, pois essas populações devem ser ouvidas no contexto em que se

encontram, assim, serem atendidos ao que realmente serviria para as comunidades.

O gráfico a baixo retrata os números da população das áreas urbanas e rurais segundo o

censo realizado em 2010, trazendo consigo formas de se pensar o por que dos currículos

serem voltados para as zonas urbanas e ignorando a zona rural e as pessoas do campo.

Gráfico 1:

População Brasileira 2010

16%

População Urbana 2010

População Rural 2010

84%

Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010.(1) População recenseada. (2) População residente

27

Como podemos observar no gráfico, a maior parte da população brasileira é recenseada

ou reside em zonas urbanas, o que nos leva a pensar a lógica das novas mudanças na

educação brasileira e modernização tem como justificativa o mercado capitalista. Esse é o

principal objetivo dos interesses de governos sobre o currículo da escola. Não é

preocupar-se com o ensino em si. Por este motivo aponta Pezzin quando cita um trecho

que reflete este sentimento,

“[...] a escola reflete a estagnação do campo; apenas quando este se modernizar poderemos pensar em políticas, currículos, escolas modernas e professores melhor qualificados” (CALDART, 2004, p. 8).

Assim como o ensino regular, o ensino do/no campo tem enfrentado problemas com o

abandono da máquina pública e as disputas ou lutas dos camponeses do movimento sem

terra mostram que os campesinos vêm reivindicar os direitos do homem do campo e o

respeito as suas culturas e o saber campesino. Em contrapartida a questão dos

interesses de governos e agronegócios está transformando cada vez mais as terras em

superprodução, sempre mais com pouca gente. Esta é a lógica dos grandes projetos

fomentarem um grande negócio com o mínimo de mão de obra e exaurir as terras ao

máximo das suas possibilidades de produção para atender aos empreendimentos. Mas o

que o movimento do campo vem dizer é que, não se pode fazer isso sem considerar as

questões de cultura da terra, os saberes dos campesinos, sua capacidade cultural para

manter-se no campo protegendo o patrimônio que é a terra.

3.2 INSTABILIDADE DA ESCOLA DO CAMPO, TENSÕES PELO

FECHAMENTO

Movimento Sem Terra MST vem trazer essa discussão justamente no momento de tensão

do campo. As escolas rurais no estado do Espírito Santo sofrem o fechamento, e essa

luta dos campesinos defendida por todos, principalmente pelo MST é discutida no blog do

comitê da Educação no Campo na Universidade Federal do Espírito Santo em 20121. Os

movimentos sociais saem as ruas para pedir pelo direito à educação e dizer, que é crime

fechar escolas. Para o Movimento Sem Terra a educação é algo muito importante dentro

das suas organizações, ela abre caminhos para ideias, ações e continua o pensamento

cultural dando valor aos saberes do povo especialmente, falando do campesino. Neste

sentido Pezzin cita o significado da escola para o MST,

28

[...] a escola é o espaço de construção de valores de uma determinada sociedade, no caso do MST não é diferente; a escola tem um papel fundamental na difusão dos ideais do Movimento e na sua forma de conceber e de transformar a realidade (PEZZIN, p.11).

Os movimentos campesinos, juntamente com o movimento sem terra na luta contra o

fechamento de escolas rurais no Estado do Espírito Santo em 2011. Segundo manifesto

no blog.comitê da educação no campo, a manifestação critica o modelo político de

fechamento de escolas - Publicação crítica do comitê da Educação no Campo na luta

contra o fechamento de escolas no campo no Espírito Santo.

1 COMITÊ DE EDUCAÇÃO DO CAMPO – ES. Seminário o contexto da Educação do campo.

www.http://comitedeedu.blogspot.com.br

29

Figura 1 – MST contra o fechamento de escolas rurais no ES, 2011.

Fonte:blog.comitê da educação no campo, 2011.

Momentos de tensões definidos por Pezzin como a força e organização dos movimentos

sociais e MST na luta por educação são importantes para a vida campesina na formação

de seus membros do campo. Diante destas questões nos remete Pezzin,

[...] O que gostaríamos de salientar é que, se hoje o MST é a principal forma de organização social na luta pela terra e reforma agrária em quase todo o Brasil, isto foi se consubstanciando a partir das experiências, construídas no cotidiano de ocupações de terra, que definiram e ainda definem o caráter reivindicatório do Movimento, ou seja, o Movimento reestrutura-se Concomitantemente.(PEZZIN, 2007, p. 48).

Constantemente as escolas do campo são tomadas pelas estruturas de governo que

questionam o quantitativo de crianças/alunos em comparação com escolas da cidade,

sem considerar as diferentes realidades, inclusive considerando a relação

aluno/investimento.

A canção abaixo retrata toda a força do povo campesino que luta pela sua terra e pela

gente deste lugar. É importante a percepção política que este apresenta, requerendo

educação e não fechamento. O grito crime é uma forte crítica ao próprio governo

responsável por este acontecimento, nos faz pensar nos projetos que surgiram ao logo

dos anos para atender as demandas de alfabetização para todo o país, de combate ao

30

analfabetismo. São movimentos contraditórios de interesse, em um momento a educação

é importante, deseja-se que todos tenham oportunidade de frequentar a escola.

Canção

Quando se fecha uma escola

O conhecimento chora

Ignorância fica em primeiro lugar

Vai se alastrando como praga em plantação

Vai separando a arte da educação

Fechar escola é crime

Vamos gritar

É do Estado essa responsabilidade

É uma conquista

é um direito adquirido

A sociedade tá alerta

E vai cobrar

Lá vai Joãozinho

Lá vai Maria

Felicidade é ter escola todo dia

Tem brincadeira tem alegria

Aprendizado vira flor de poesia

Zé Pinto

É importante destacar, que nas condições colocadas pelo atual momento histórico, ou

seja, a globalização, em que os interesses econômicos vindos de diferentes pontos,

acabam se sobrepondo aos interesses do lugar, impõem-se ao ensino de Geografia a

necessidade de formar nos educandos a consciência espacial, ou seja, a compreensão da

espacialidade e de suas existências na perspectiva do espaço vivido e incorporado as

sensações.

31

IV METODOLOGIA

No percurso inicial de nosso trabalho buscamos analisar o Plano de Curso da Geografia

na Educação do Campo da UFES comparando a proposta iniciada na Universidade

Federal do Tocantins. Abordamos os programas de cursos das Universidades estudadas,

onde apontamos algumas questões do currículo de geografia. Além disso, aplicamos um

questionário aos cursistas da Educação do Campo da UFES e fizemos uma visita técnica

a Escola de Campo da família agrícola de Olivânia.

Para compreendermos melhor os aspectos propostos no trabalho e como lidamos com

uma realidade social pouco compreendida por nós, buscamos aplicar um questionário aos

sujeitos desse estudo – Estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo do Curso

de Educação do Campo -, além, é claro, de um levantamento bibliográfico sobre o tema

proposto.

Esta pesquisa relaciona-se com uma Pesquisa Exploratória, em que de acordo com Gil

(1999) “[...] O produto final desse processo passa a ser um problema mais esclarecido [...]”. Por isso aproxima-se de um Estudo de Caso, porém não é nosso objetivo específico

estabelecer procedimentos mais sistematizados desta metodologia, apenas considerar a

aplicação de métodos discretos, ou seja, dos subsídios que essas metodologias

proporcionam inclusive apontando meios técnicos para a investigação.

O presente estudo foi incentivado pela observação de estudantes de Educação do Campo

oriundos, em sua maioria, do interior do Espírito Santo. A questão fundamental abordada

pelo TCC, o Ensino de Geografia na Educação do Campo, surgiu justamente da

observação e análise referente a fatores como: motivo da escolha do curso de Educação

do Campo, qualidade da escola do campo, questões necessárias a Educação do Campo,

importância e representação da Educação do Campo, desafios da Educação do Campo e

questões mais específicas ligadas à ciência geográfica como o enquadramento da

disciplina de geografia em relação com a Educação do Campo, a relevância da disciplina

na relação “Geografia - Escola do Campo – Comunidade”, contextualização da geografia

ensinada em sala de aula com a atualidade das questões campesinas e, além disso, a

satisfação dos professores de geografia em sala de aula bem como as aulas ministradas

na prática do/no campo.

32

Assuntos relacionados diretamente com estes estudantes então, foram levantados a fim

de mensurar a importância da Educação e, principalmente, o nível de interesse e inserção

de práticas geográficas no/do campo. Foram aplicados questionários a 72 ingressantes

das segundas e terceiras turmas do curso de Educação do Campo da UFES, no ano de

2015, em sua maioria já professores e professoras que contribuíram respondendo ao

questionário previamente organizado em que optamos por verificar basicamente as

seguintes categorias:

Motivação para a escolha do curso de Educação do Campo;

O que deve ter uma Escola do Campo;

Questões necessárias a Educação do Campo (matérias ministradas);

Importância da Educação do Campo;

Desafios da Educação do Campo;

Visualização da geografia como disciplina;

Relevância geográfica na comunidade campesina;

Contextualização da geografia com a atualidade do campo;

Prática da geografia com o campo;

Nível de satisfação dos professores de geografia com o trabalho (ensino) sobre o campo.

Para essa pesquisa, nós comparamos o Projeto Pedagógico do Curso de Educação do

Campo da UFES e da Universidade Federal do Tocantins, como embasamento para o

entendimento do próprio curso da UFES, permitindo uma visão mais ampla da proposta

para o Ensino de Geografia presente no PPC de curso da Educação do Campo.

4.1 COMPARATIVOS DOS PROJETOS PEDAGÓGICOS DE CURSOS

Primeiramente comparamos os PPCs dos cursos acima citados buscando diferenças e

similaridades entre ambos, seja na metodologia, na organização curricular bem como nas

características regionais em que ambas as universidades se inserem.

A escolha do projeto de Tocantins deu-se aleatoriamente, mas considerando um tempo

anterior ao curso da UFES e as diferenças regionais apresentadas para o ensino de

Geografia que contemplam entre outros: ribeirinhos, povos da floresta, indígenas,

quilombolas. Além disso, a escolha do projeto do Tocantins deu-se devido ao fato do

33

curso de Licenciatura em Educação do Campo da UFT (Tocantins), apresentar-se mais

voltado para as questões quilombolas, enquanto na UFES, as pesquisas estão mais

direcionadas para uma perspectiva de Educação do Campo voltada para o pensamento

do MEPES e do MST, além do que, pelo currículo apresentado no PPC de curso da UFT,

a formação é mais voltada para a questão artística e cultural enquanto a UFES apresenta

um currículo mais voltado para a identidade cultural e políticas.

O Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura do Campo (PPC) da Universidade

Federal do Espírito Santo (UFES), e o da Universidade Federal do Tocantins (UFT), assim

como os cursos em si, foram criados a partir da necessidade de se realizar uma educação

voltada para as comunidades que vivem nas comunidades campesinas, respeitando as

características e as necessidades de cada grupo, característica fundamental nessa

proposta de educação (CALDART, 2012) como pode ser observada nos objetivos de cada

curso.

No caso do Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura do Campo da Universidade

Federal do Tocantins:

Objetivo Geral: Realizar uma formação contextualizada na área de Artes e Música que possibilite ao discente de Licenciatura uma identidade na área de formação de educadores/as politicamente comprometida com a cultura, as lutas sociais e com o campo brasileiro. (grifo nosso)

Objetivos Específicos: • Formar professores para o exercício da docência na área de conhecimento Códigos e Linguagens nos anos finais do ensino Fundamental e Ensino Médio com foco em Artes-Música e Artes Visuais em consonância com a realidade social e cultural específica das populações que trabalham e vivem no e do campo;(grifo nosso) • Formar sujeitos humanos autônomos e criativos capazes de inventar soluções para questões inerentes à sua realidade, vinculadas à construção de um projeto de desenvolvimento sustentável;(grifo nosso) • Garantir uma reflexão/elaboração político/pedagógica específica sobre a educação para o trabalho, a educação técnica, tecnológica e científica a ser desenvolvida especialmente na Educação Básica de nível médio e nos anos finais da educação fundamental; • Contribuir na construção de alternativas de organização do trabalho escolar e pedagógico que permitam a expansão da educação básica no e do campo, com a necessidade e a qualidade exigida pela dinâmica social em que seus sujeitos se inserem e pela histórica desigualdade que sofrem;

34

Nos objetivos apresentados, o estudo da Geografia não aparece diretamente, mas

através da interdisciplinaridade e da transversalidade, existentes em questões vinculadas

a proposta de desenvolvimento de pessoas capazes de alterar a realidade social onde

vivem e desenvolvem um projeto sustentável para essas necessidades, o que segundo

CAMACHO (2011), é um dos papéis da Geografia. O que se reproduz na matriz curricular

do curso onde a disciplina Geografia, especificamente, não é tratada, mas, existem outras

que dada a ementa delas necessitam fazer um diálogo com as questões geográficas, que

serão tratadas posteriormente.

No Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura do Campo (PPC) da Universidade

Federal do Espírito Santo temos como objetivos,

Gerais Formar e habilitar educadores para atuar nos anos finais do ensino fundamental e ensino médio nas escolas do campo com as competência e habilidades necessárias para atuar de forma inter e multidisciplinar junto às populações que trabalham e vivem no e do campo.

Específicos a. Formar e habilitar profissionais em exercício na educação fundamental e média que ainda não possuam a titulação mínima exigida pela legislação educacional em vigor;

b. Formar educadores capazes de fazer a gestão de processos educativos e a desenvolver estratégias pedagógicas que visem a formação de sujeitos humanos autônomos e criativos capazes de produzir soluções para questões inerentes à sua realidade e historicidade, vinculadas à construção de um projeto de vida sustentável de campo e de país;

c. Formar educadores capazes de atuar em outros espaços formativos no Campo, além da escola;

d. Garantir uma práxis pedagógica que privilegie a reflexão e reelaboração pedagógica do trabalho como princípio educativo envolvendo a educação humana, técnica, tecnológica e científica a ser desenvolvida especialmente na Educação Básica de nível médio e nos anos finais da educação fundamental.

Assim como no PPC da UFT (Tocantins), a relação entre a Geografia e os objetivos do

Curso de Educação do Campo está vinculada ao objetivo do desenvolvimento de sujeitos

capazes de alterar sua realidade de maneira sustentável.

35

Dentro dos objetivos de ambos os cursos nota-se a importância de se considerar as

questões relativas à cultura e as lutas referentes às populações do campo, o que denota a

intervenção e a luta desses grupos em relação a uma educação que fosse do campo e

não sobre o campo (PEZZIN, 2007). Outro fator que deve ser lembrado é de que o

enfoque nos dois PPC’s é para a formação de professores nos anos finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio. Tal preocupação com o ensino para essa faixa

representa tanto o que foi dito anteriormente, sobre a consonância entre os cursos e as

necessidades da população que atendem como também revelam a realidade da

educação no campo em que faltam professores habilitados para atenderem a demanda

aliando-se a faixa etária da população que corresponde que possui maior índice de

exclusão da educação – Ensino Fundamental e Médio (tabela 2).

Tabela 2 - Percentual de pessoas que não frequentavam a escola, na zona rural, por faixa etária.

Faixa etária (anos) Brasil Região Sudeste Região Norte

6-14 5 3,6 10,6

15-17 21,7 22,3 25,8 Fonte: IBGE, censo demográfico 2010.

Como pode ser visto acima, tanto na Região Sudeste como na Região Norte, os índices

estão acima da média na faixa dos quinze aos dezessete anos, porém na Região

Sudeste, na faixa entre seis e quatorze anos, o índice é menor que a média nacional e

no Norte em que este é o dobro, relevando assim que em ambas as regiões existem

semelhanças em relação à demanda quanto a questão da problemática é a Educação do

Campo.

4.1.1 Organização do PPC

A Organização curricular do PPC da UFES se baseia no princípio de que não se pode

desassociar a teoria da prática, possuindo como base e fundamentos as ideias de povos,

territórios¹, saberes da terra, movimentos sociais e sustentabilidade. A formação em

educação do campo desenvolve com os alunos sete propostas que são: uma introdução à

educação do Campo, sua Interculturalidade, sua Interdisciplinaridade, a Inclusão e

Diversidade nela existentes, o Projeto Político e Pedagógico próprio, Tópicos Especiais de

Ensino relativos à Educação do Campo e Seminários Temáticos.

36

As temáticas de pesquisa se desdobram nos seguintes eixos: Povos Territórios e

Educação do Campo, Movimentos Sociais e Educação do Campo, Sustentabilidade e

Educação do Campo, saberes da Terra e Educação do Campo, Inclusão e Diversidade na

Educação do Campo, Práticas Pedagógicas na Educação do Campo, Interculturalidade

na Educação no Campo, Interdisciplinaridade na Educação do Campo, Projeto Político e

Pedagógico da Educação do Campo.

No curso da UFT ( Tocantins) os princípios pedagógicos da sua organização curricular

visam uma formação contextualizada, compreendendo a realidade e as experiências das

comunidades do campo como objeto de estudo e fonte de conhecimentos, entendendo a

pesquisa como princípio educativo, a indissociabilidade teoria-prática, o planejamento e

ação formativa integrada entre as áreas de conhecimento (interdisciplinaridade),

visualizando os alunos como sujeitos do conhecimento e a produção acadêmica para a

transformação da realidade.

Na UFT o curso de Licenciatura em Educação do Campo tem como habilitação a área de

Códigos e Linguagens com enfoque principal nas Artes e Música. Retomamos que um

dos motivos que levam a esta escolha por parte do curso, segundo o seu próprio PPC,

deve-se a que as principais iniciativas e trabalhos feitos pela universidade acontecem em

comunidades quilombolas, e por sua vez estudam os territórios campesinos a partir

desses processos de identificação.

O curso oferece 120 vagas anuais realizadas em uma única entrada através de processo

seletivo, possui ao todo 8 períodos com uma carga horária de 3.300 horas, 2.505 horas

de disciplinas obrigatórias, 180 horas de optativas, 405 horas de Estagio Supervisionado e

200 horas de Atividades Complementares. Embora não exista nenhuma matéria

específica na área e o enfoque geral do curso ser as questões de Artes e Música, em

algumas disciplinas obrigatórias o ensino da Geografia pode ser relacionado de maneira

transversal ao conteúdo dado, principalmente relacionando-se as questões culturais e

políticas, as disciplinas optativas se referem todas à aprendizagem musical de alguns

instrumentos.

37

Identificamos no curso ao menos sete matérias com carga horária de 60 horas cada que

tratam de assuntos transversais à Geografia em suas ementas: Estado, Sociedade e

Questões Agrárias; Introdução à Sociologia; História, Identidade e Memória dos povos do

Campo; Movimentos Sociais; Teoria Política; Educação para Relações Étnico-Raciais,

Gênero e Diversidade; Educação e Meio Ambiente, totalizando ao todo 420 horas.

Na UFES, o curso de Licenciatura em Educação do Campo se desdobra em duas

vertentes: uma especialização em Ciências Humanas e Sociais e outra em Ciências da

Natureza e em Linguagens. Tem como público alvo os professores que trabalham nas

escolas do campo e as lideranças de movimentos sociais como comunidades indígenas,

comunidades quilombolas comunidades pomeranas, acampamentos e assentamentos de

reforma agrária, entre outros. O curso vem atender a uma demanda oprimida, a ser

atendida com condições expecificas para que estes alunos frenquentem o curso de

formação.

No campus da UFES em Vitória, possui entrada anual de duas turmas de 60 alunos cada

totalizando 120 alunos por ano. O curso possui ao todo 3190 horas, tanto o de habilitação

em Ciências Humanas e Sociais, como habilitação em Linguagens. Ele está dividido em

um Núcleo de Estudos Básicos (540h), comum as duas habilitações. Núcleos de Estudos

Específicos (1500), onde cada habilitação possui um conjunto de disciplinas especificas,

disciplinas optativas para ambas e disciplinas da área de Gestão Educacional. Núcleo de

atividades integradoras (1150h), correspondendo as atividades de Pesquisa, Prática como

Componente Curricular, Estágio e Atividades e Atividades acadêmico-científico- culturais.

A habilitação em Ciências Humanas e Sociais possui em seu currículo a Geografia como

disciplina num total de 60 horas, além de contar com uma série de disciplinas que de

maneira transversal permitem o diálogo com a Ciência Geográfica: Antropologia; Cultura,

Diversidade e educação; Economia e modos de produção; História da terra; História do

Espírito Santo; Sociologia; cada uma com carga horária de 60 horas.

A habilitação em Ciências da Natureza, oferecida no Campus de São Mateus, por sua

vez, não possui uma disciplina específica de Geografia, mas também possui uma série de

disciplinas cujos conteúdos estão transversalmente ligados ao ensino de Geografia:

Ciências naturais: conteúdos e seu ensino II; Ciências naturais: conteúdos e seu ensino

38

III; Ciências naturais: conteúdos e seu ensino V; Instrumentação para o desenvolvimento

rural; Práticas Agrícolas; Sistemas de Produção, cada uma com uma carga horária de 60

horas.

Na área de Gestão Educacional, comum as três habilitações, identificamos como

disciplinas transversais a Geografia: Movimentos sociais e educação; Pensamento

Político Brasileiro; Políticas públicas e educação no campo, todas com uma carga horária

de 60 horas cada. O PPC prevê, tanto para a formação em Ciências Sociais, quanto em

Linguagens, uma organização da carga horária de todas as disciplinas em dois tempos:

Tempo Universitário e Tempo Comunidade. No tempo Universidade os alunos cursam as

disciplinas com atividades presenciais na universidade. Já no tempo comunidade os

alunos realizam atividades junto a suas próprias comunidades, complementando assim a

carga horária prevista em cada disciplina.

Ao todo ambas as habilitações, seja de Ciências Humanas e Sociais ou de Ciências da

Natureza possuem 540 horas de disciplinas que tratam de assuntos relacionados com a

Geografia, de maneira direta ou transversal, possuindo assim um certo equilíbrio entre

elas no tocante as questões relativas à Geografia, alterando-se apenas as disciplinas

tratadas de acordo com a perspectiva de cada habilitação.

Em ambos os PCC’s a ideia da Educação do Campo como valorizadora das relações

sociais, políticas e culturais das comunidades e dos saberes do campo (CALDART, 2012)

são visíveis. Ambos valorizam a interdisciplinaridade e a alternância, permitindo assim

que seus alunos possam não apenas aprimorar as habilidades necessárias à formação

docente, mas também buscar interferir e mudar a realidade das comunidades onde vivem.

Com base nessa perspectiva percebe-se que o curso de Licenciatura em Educação do

Campo da UFES e da UFT possuem sincronia com o princípio de valorização dos saberes

das comunidades do campo em suas singularidades. Essa característica de respeito as

individualidades de cada lugar e pessoas é algo que nós consideramos fundamental para

a vida profissional e pessoal de qualquer formardor de opnião.

Ambos os cursos são baseados nas necessidades e desejos tanto das comunidades do

39

campo, como atenção necessária à formação de professores para atenderem a demanda

da falta de professores no Ensino Fundamental II e Médio, buscando atender aos grupos

que apoiam essas comunidades envolvidos na luta pela valorização da educação do

campo, pois essa é uma conquista coletiva, ressaltando que a Educação do Campo se

baseia nas lutas dos homens e mulheres do campo. (PEZZIN, 2007).

4.2 VISITA A ESCOLA LÚCIO ROCHA DE ALMEIDA – GUARAPARI-ES E A

ESCOLA OLIVÂNIA/ANCHIETA – ES.

4.2.1 Visita a campo dia 21/10/15

Entendemos que nossa temática trataria de visualizar as práticas de ensino no/do campo.

Por isso sentimos a necessidade de interagir e compreender de onde são estes

professores e alunos que estão nas EMEPES do estado, e como veem os desafios da

formação de professores para Educação do Campo. . Fomos em direção a rodovia do contorno para chegarmos ao nosso primeiro objetivo:

secretaria de educação da cidade de Guarapari-ES. Lá tivemos a surpresa de poder

conhecer uma escola pequena, dentro do Bairro Nova Guarapari na direção sul da cidade.

Esta escola apesar de estar em território visivelmente urbano surgiu como escola rural, na

época um lugar bem afastado do centro urbano de Guarapari, dentro de um bairro de

balneário, por sinal muito bonito- Enseada Azul. A localização da escola está

especificamente quase em frente a praia, com sua identidade bem marcada no lugar mais

de 40 anos. Antes, nesta localidade residiam pescadores, os quais formavam uma

pequena vila também de trabalhadores rurais, com atividades agrícolas.

40

Entrada principal da escola: Lucio Rocha de Almeida/Guaraparí-ES.

Fotografia 1 - Escola Rural em Nova Guarapari/Guarapari-ES

Fonte:Acevo particular de Silvana Maria de Farias

Lá encontramos os alunos e professores, todos advindos de experiências nas zonas

rurais. Os alunos filhos dos caseiros e de operários flutuantes, pois mudam muito de lugar

por conta dos trabalhos, pois chegam para trabalhar nas empresas próximas a escola.

Porém todo tem suas residências nas áreas campesinas desta região, por esse motivo,

tem o caráter rural, mesmo estando instalada em um bairro urbanizado.

A possibilidade inusitada de conversarmos com aquelas professoras nos levou a

compreensão da problemática que envolve também o reconhecimento não só dos

habitantes, mas também para o suporte necessário da secretaria de educação.

Comentava a coordenadora e professora Mercedes... “É uma trabalho difícil com poucos

recursos e assistências, necessitaríamos de seremos assistidas mais frequentemente”.

Nesta escola estão quatro professoras, uma coordenadora que é também pedagoga e

diretora. Em virtude de algumas escolas do campo muito menores, tem-se ali uma

realidade inusitada, até porque, mesmo com a população flutuante percebemos que a

escola é muito bem frequentada e conceituada pela comunidade. As turmas do

fundamental são multisseriadas. Este processo de multisseriação foi descrito como um

dos problemas a serem enfrentados para equalização dos conteúdos. Observamos essa

questão complexidades de articulação com o currículo, outro ponto negativo é a

41

rotatividade dos professores contratados, cada vez, estão mudando, assim não finalizam

os seus projetos.

Vista frontal da entrada principal da escola: Lucio Rocha de

Almeida/Guarapari-ES.

Fotografia 2 - Entrada principal da escola e pátio de recreio dos alunos

Fonte: Acervo particular de Silvana Maria de Farias

A escola possui uma pequena cozinha com funcionária específica. Estão compreendidos

neste pequeno espaço 60 alunos divididos em três turmas. Contam ainda com uma sala

de informática, uma pequena biblioteca que é também sala de professores e banheiro. O

pátio dá para a entrada da escola, é a parte mais interessante, por ser o de maior

dimensão e de fato, os alunos comentavam que era o lugar que mais gostavam da escola,

quando a professora Patrícia lhes perguntou: Qual seria a parte que mais gostam? Essa

foi a resposta. Por outro lado esse pequeno espaço traz também o aconchego familiar,

que muitas vezes falta na escola. A coordenadora nos falou que muitos alunos tem a

escola como extensão de sua própria casa, incutindo até mesmo uma relação familiar

com os professores, que por sorte, residem próximos.

42

Salas de aula multisseriadas.

Fotografia 3 - Alunos na sala de aula da Escola Lúcio Rocha de Almeida

Fonte: Acervo particular de Silvana Maria de Farias

Visita à EEPEF: Escola Lúcio Rocha de Almeida Endereço: R. Henrique Coutinho, SN - Nova Guarapari, Guarapari - ES, 29200-000 Telefone: (27) 3272-1850.

A constante necessidade de orientação, informação e formação continuada para os

professores, foi à parte mais sentida de toda essa viagem, mas especialmente em visita a

esta escola em particular.

Dentro das narrativas dos professores, percebesse nas falas: A Falta de organização do

currículo para atender aqueles alunos, aquela situação, presente nesta escola. Na

narrativa da professora da classe multisseriadas desta escola aborda a situação

especifica da sua turma, a qual diz que este modo como está colocado o currículo de

salas multisseriadas não está atendendo as seus alunos especificamente, este assunto foi

bastante pautado pela professora Gleyce da Escola Lúcio Rocha de Almeida em

Guarapari-ES.

Entrevista oral com gravação de áudio: Transcrevemos parte destas falas para que se

compreendam melhor como está direcionada a problemática do ensinar na escola do

campo. É importante destacar que a escola é considerada rural e que recebe verbas

correspondentes a sua classificação na secretaria de educação.

43

Alguns trechos da entrevista feita às professoras:

Alguns trechos da entrevista transcrita: Entrevista oral com gravação de áudio:

Transcrevemos parte destas narrativas para que se compreenda melhor, de que forma

está direcionada a problemática do ensinar na escola do campo, especialmente nestes

espaços da nossa visita técnica. A interlocução se deu por profissionais da educação que

manteremos aqui como colaboradoras.

Seguem trechos da entrevista feita as professoras: Nossa primeira colaboradora narra: ____Uma das minhas grandes brigas é a questão da Educação do campo.... A qual

antigamente era considerada Zona rural, depois veio para a zona Urbana. Dona Mercedes tem a percepção da importância da escola dentro da vida do campo. Fala

da importância da escola ter sua identidade enquanto campo, não perder essa função.

Tem que haver essa interação com o povo da zona rural. Continua: __porque lá no campo é gerado todo o sustento da vida urbana. Sempre foi assim

educação urbana em primeiro plano e depois a escola rural, ou era chamado de

escolinha. Fala de relações políticas dentro da sociedade, na questão econômica e ambiental e

cultural. Estes aspectos são importantes para compreensão da realidade da escola rural.

O sentido de “escolhinha” aponta para o mínimo, menor, no sentido de inferioridade. Ainda interage: ____eu sempre senti a escola muito distante da realidade do campo, a escola

deveria ser um ponto de encontro para todos que estão ali no campo, senão, ela

perdeu sua função. A professora Patrícia Rufino. Professora do curso de Educação do Campo da UFES

presente nesta conversa interlocutora comentou para as professoras: ____ a senhora tocou em um ponto fundamental, que está falando agora:a escola e

a comunidade “Abram a escola para a comunidade assumir a escola, assumir o que é dela, escola aberta ao diálogo, pois os pais destes alunos muitos não estudaram

estavam fora da escola, não foram alfabetizados” . Neste contexto a escola está imbuída de traços geográficos em seu cotidiano com essa

44

ênfase nas relações políticas e no uso e apropriação da escola do campo. Objetivando o

ensino em todos os aspectos como relacionado com a Geografia. As turmas são

multisseriadas, porém o ensino é uma constante. Nossa segunda Professora colaboradora da alfabetização responde: ____ estamos em uma área privilegiadas por estar no bairro geograficamente

privilegiado estamos dentro de um território sem conflitos e violência, é um bairro

de classe média, apesar das crianças não serem deste bairro. A professora coloca aspectos do território como um lugar sem conflitos. São apontados

aqui a geografia do espaço e interligando a questão da tranquilidade das relações

espaciais com a comunidade.

Também em outro momento a comunidade também é escola: comentou a professora:

Que pais e comunidade são muito atuantes na vida da escola. Ressalta, talvez porque

eles sendo da zona rural entendem o papel importante que tem a escola enquanto

construção deste espaço e da cidade.

O contributo desta entrevista interlocutora foi importante para compreendermos nas

narrativas os aspectos geográficos de localização, de relação do ensino com o campo,

compreensão de meio rural e urbano e as problemáticas que isso possa trazer enquanto

políticas públicas.

Visita à escola da família agrícola de Olivânia - Anchieta- ES.

Fotografia 4 - Entrada de Olivânia

Fonte: Acervo particular de Silvana Maria de Farias

45

Visita a escola da família Agrícola em Olivânia - Anchieta-ES .

Fotografia 5 - Escola da Família Agrícola em Olivânia-Anchieta/ES

Fonte: Acervo particular de Silvana Maria de Farias

Interno do edifício com jardim bem conservado e o conjunto dos alojamentos para alunos e professores.

Fotografia 6 - Pátio da Escola de Olivânia-Es

Fonte: Acervo particular de Silvana Maria de Farias

Como seccional do MEPES,, Olivânia é a primeira escola com proposta de uma

pedagogia da Alternância da América Latina. Lá atendem a cursos de agroecologia,

Agricultura, Zootecnia, economia, administração. Localização da escola no sentido mais

46

ao Oeste do estado do Espírito Santo, dentro da zona rural em meio aos campos

agrícolas e apiculturas e agriculturas de todo tipo espalhada e percebidas em todo o

caminho que passamos nas estradas de chão batido que percorremos desde a rodovia

até o local, percorridos por mais de 20 quilômetros, chegando à Olivânia - ES (Escola da

Família Agrícola). Lá desenvolvem-se a metodologia da alternância, onde existe o tempo

escola e tempo comunidade.

Sendo uma escola modelo, das primeiras a serem fundadas no estado com este regime

de Alternância entre tempo escola, e tempo comunidade. Porém, não significa que os

alunos estando nas suas casas eles não estudam. Observamos que a proposta da escola

apresenta alguns materiais didáticos práticos, que auxiliam na compreensão e

organização da alternância. Os professores, por exemplo, tem bem organizados os

cadernos com toda programação de atividades e plano de estudos onde os mesmos

juntamente com a família poderão desenvolver e trazer os resultados quando estiver no

Tempo Escola. Este material é chamado de caderno de acompanhamento. Nas fotos

seguintes:

Materiais didáticos observados na Escola de Olivânia: Cadernos de

Atividades do Campo e tempo Comunidade

Fotografia 7 - Caderno de realidade das atividades do campo

Fonte: Acervo particular de Silvana Maria de Farias

47

Fotografia 8 - Caderno de realidade das atividades do campo

Fonte: Acervo particular de Silvana Maria de Farias

Alunos no horário das atividades práticas no campo sobre orientação dos professores e engenheiros agrícolas.

Fotografia 9 - Atividades práticas dos alunos

Fonte: Acervo particular de Silvana Maria de Faria

Uma escola bem estruturada e fundada com objetivos claros e formativos. A escola

também é conhecida como escola de promoção humana e social.

Pelo o que contavam os professores que ali encontramos, dizia que essa escola sempre

teve este objetivo de formar pessoas capacitadas na formação agrícola na pedagogia

familiar, um trabalho de parceria com as famílias dos próprios estudantes, sendo que a

permanência deste na escola seria mais frequente e possível.

48

No ritmo de alternância os estudantes durante suas atividades práticas e de aula teórica,

poderiam ficar na escola naqueles dias para obterem estas horas de formação. Neste

caso todos tem alojamentos na própria escola, quartos e áreas propícias para o estudo e

a prática dos educando. Uma experiência de vivencia em todos os sentidos, formação

humana e organização.

Os alunos apreendem a ter responsabilidade com seu próprio programa de estudo, pois

eles mesmos o fazem juntos com os professores, apreendem ali que todos devem

contribuir para que as coisas aconteçam na escola, cuidam do jardim, da merenda, da

limpeza do local, lavam suas roupas, trazem de suas casas as roupas de cama, seus

pertences pessoais, tudo é tarefa prática que faz parte da educação na formação destes

alunos, eles seguem também o currículo do ensino médio e profissional técnico nas

atividades agrícolas do programa do campo.

O governo fornece verba para alimentação, paga os funcionários e outras necessidades

de manutenção da propriedade através dos programas e organização dos MEPES do

estado, já que se trata de edificações grandes com abundância de terras para serem

usadas e que tenham produtividade.

Observamos que eles mesmos cuidam dos seus alojamentos, do refeitório e também da

manutenção do lugar. Em outras atividades como aquelas agrícolas com o manuseio de

máquinas e coleta de frutas e o cuidado com as plantações, são conhecimentos que os

professores e monitores vão passando aos alunos dia a dia, de acordo com as práticas

escolhidas como projetos a serem desenvolvidos no tempo escola e comunidade.

49

Fotografia 10 - Casas de instrumentos para manutenção do lugar

Fonte: Acervo particular de Silvana Maria de Farias

Formação de professores e dos estudantes do curso de Educação no

Campo da UFES em Olivânia - ES.

Fotografia 11 - Sala grande para aulas e eventos. Grupo de professores do ensino do campo

Fonte: Acervo particular de Silvana Maria de Faria

50

Reunião no refeitório da escola com grupo de professores na formação. Os alunos da UFES estão desenvolvendo seus programas de estudos e práticas de ensino no campo.

Fotografia 12 - Grupo de professores do ensino do campo

Fonte: Acervo particular de Silvana Maria de Farias

V - ESCUTAS DOS ALUNOS EM CURSO NA EDUCAÇÃO DO CAMPO

O questionário aplicado aos 72 estudantes do campo incluiu dados de município em que

reside e zona em que vive (rural ou urbana) e constou com cerca de 10 perguntas com

múltiplas escolhas de respostas – algumas com desdobramentos – referentes às

categorias acima mencionadas. Os estudantes, em sua maioria, moram no interior do

Estado do Espírito Santo, alguns em zonas rurais e outros em zonas urbanas e estão no

1º (primeiro) ao 3º (terceiro) período do curso, divididos em módulos.

Logo no início do questionário referente ao logradouro foi constatado que o percentual de

residentes em zonas urbanas e zonas rurais é quase equiparado, com uma parcela um

pouco maior dos estudantes moradores da cidade, sendo 51,38 % residentes em zonas

urbanas e 48,61 % dos estudantes oriundos de zonas rurais.

51

Gráfico 2.

Percentual de residentes em zonas urbanas e rurais

49%

Zona Urbana

51%

Zona Rural

Os municípios de onde os estudantes da educação do campo são provenientes abrangem

as 4 (quatro) macro regiões do Espírito Santo, como no norte do Estado: Aracruz, Águia

Branca, Alto Rio Novo, Colatina, Pancas e Pinheiros. No sul do Estado: Presidente

Kenedy, Rio novo do Sul, Jerônimo Monteiro, Castelo, Anchieta, Piúma, Afonso Cláudio e

Alegre. Na Região de Montanhas (Serrana): Alfredo Chaves, Domingos Martins,

Marechal Floriano, Santa Tereza. E na Grande Vitória, com a Capital Vitória, Vila Velha,

Cariacica, Serra e Guarapari.

Figura

52

Na primeira parte do questionário que diz respeito ao que levou o estudante de Educação

do Campo a escolher este curso, foram oferecidas 5 (cinco) alternativas de múltipla

escolha (Curiosidade, Interesse pelo assunto, família oriunda do campo, necessidade de

qualificação profissional e busca por ambiente de trabalho mais tranquilo), os estudantes

responderam da seguinte forma: O quesito Necessidade de maior qualificação

profissional liderou o percentual com 33% das respostas, seguindo pela família oriunda do

campo com 30% e o interesse pelo assunto foi destacado por 28% dos respondentes. Os

menos marcados foram a busca por um ambiente de trabalho mais tranquilo com 6% das

marcações e curiosidade pelo assunto com apenas 3% dos motivos que levaram o

estudante a optar pelo curso da UFES.

Gráfico 3

Percebemos que a oferta do curso pela Universidade Federal do Espírito Santo veio ao

encontro da expectativa da maior parcela dos estudantes e também é possível observar

que uma família oriunda do campo, influencia na escolha do curso e o próprio interesse

pelas questões campesinas marcou esta opção do estudo o que faz com que o perfil do

estudante do curso seja de alguém que se insere no princípio de uma educação do/no

campo, que respeite as relações campesinas e que seja feito ,não apenas para eles, mas

por eles (CALDART, 2012).

No que tange a opinião do aluno sobre o que uma escola do campo deve possuir para

melhores práticas com os alunos as respostas foram bem variadas. A primeira opção de

resposta foi a seguinte (em ordem da maior para menor respectivamente): diálogo,

53

respeito e compreensão pela realidade do aluno (31% das respostas); a segunda opção

foi promoção de debates que busquem valorizar as lutas camponesas e a diversidade

cultural (27% das opções); a terceira opção se caracterizou pela promoção e valorização

do trabalho do campo (24% das respostas); a quarta opção de respostas foi

contextualização conforme a realidade da comunidade (13% das respostas) e por último a

opção impulsionadora de políticas regionais com o menor percentual (5% dos

respondentes).

Gráfico 4

A maior parcela das respostas confirmou que o diálogo, respeito e compreensão pela

realidade do aluno são vistos nos tempos atuais como a prática que mais é enaltecida

pelas pessoas de modo geral, pois uma Educação do Campo deve servir para valorização

dos conhecimentos das comunidades onde se inserem (CALDART, 2012).

A promoção de debates que busquem valorizar as lutas camponesas e a diversidade

cultural seguida pela promoção da valorização do trabalho do campo, também se

concretizou como as opções mais lembradas na realidade atual do campo o que

demonstra como disse PEZZIN (2007) que a Educação do Campo foi feita a partir das

lutas das pessoas do campo.

Outro questionamento que estava em nossa pesquisa foram algumas matérias e

disciplinas que a nosso ver, são necessárias a Educação do Campo. As mais lembrada

pelos alunos, de acordo com as alternativas dadas foram as seguintes: História do

54

Campo, Políticas do/no Campo, Biodiversidade e Educação Ambiental, sendo a primeira

opção com 28% das respostas, seguidas pela segunda e quarta opções, ambas com 27%

das escolhas. As menos marcadas foram a terceira (Geografia física, humana e

cartografia) e a quinta (Territórios e processos de territorialização), ambas com 9% das

respostas.

Gráfico 5

Essa questão marcou a necessidade de dar maior ênfase nas questões relacionadas

diretamente ao campo, como a história e a política do campo, bem como ao entendimento

do meio ambiente e a biodiversidade da região campestre. Logo, podemos relacionar a

geografia a essas questões, pois a ciência geográfica trabalha com o território, com a

prática Ambiental e também com processos de políticas que beneficiem o cidadão do

campo, pois os problemas ambientais rurais são resultado da ação da sociedade sobre a

natureza no espaço ao longo da história e que ocorreu de modo desigual em praticamente

todas as regiões e a Geografia “[...] Tem como objeto de estudo o espaço, sendo este

construído pela sociedade, por meio de suas relações sociais [...]” (FERRARI; LINDINO,

2014, p.1).

Assim, as condições socioeconômicas, os aspectos físicos e ambientais, os diferentes

hábitos alimentares, o nível de desenvolvimento tecnológico, a estrutura legal, o destino

da produção, o modelo de política agrária, os índices de produtividade, entre outros

fatores, determinam a configuração socioespacial e a sustentabilidade ambiental nas

atividades rurais.

Outra questão, esta mais específica da geografia, colocada para debate na pesquisa, foi à

visualização da disciplina de Geografia como disciplina em relação à Educação do

55

Campo. As marcações se definiram da seguinte forma: cerca da metade das respostas

foram o conhecimento das relações urbano-rurais (50%), seguida por compreensão e

mudança da realidade (30%), conhecimento de aspectos naturais da paisagem (18%) e

por último, quase inexpressiva, a geografia como uma disciplina como outra qualquer

(apenas 2%).

Gráfico 6

Essa questão mostra bem a importância da Geografia como matéria que ajuda no

entendimento das relações urbano-rurais e, além disso, compreensão e possibilidade de

mudança da realidade, o que reforça a busca pelos envolvidos na Educação do Campo

pela superação do Paradigma da Educação Rural, que vê o Campo como inferior ao

urbano (RIBEIRO, 2012) pelo Paradigma da Educação do Campo, que vê essa relação

como uma interdependência (CALDART, 2004).

O conhecimento dos aspectos naturais enfatiza também a essência da ciência geográfica

em analisar a natureza, como por exemplo, o estudo da paisagem para conhecimento das

relações do homem com o meio que vive e, é claro, com a sociedade.

Em uma das alternativas do questionário aplicado a relação “Geografia-Escola do Campo-

Comunidade” foi analisada a relevância desse trinômio, onde os respondentes em sua

grande maioria apontaram para a importância dessa relação. 87% marcaram que sim,

10% marcaram às vezes possuem relevância a relação e 3% marcaram que não há

relevância nesta relação.

56

Gráfico 7

Este estudo é muito importante pois traz a disciplina de Geografia mais próxima da Escola

do Campo e por sua vez da Comunidade campesina. Ou seja, a ciência geográfica por

ser uma matéria muito prática, participa também das atividades da comunidade, na sua

cultura local, nas aulas de campo da Escola e até mesmo pode contribuir nas atividades

agrícolas da comunidade.

A Geografia ensinada em sala de aula está contextualizada com a atualidade do campo?

Essa foi uma das perguntas lançadas no questionário proposto e os percentuais ficaram

da seguinte forma: para a maior parcela dos respondentes 65% somente às vezes, para

7% nunca está contextualizada, apenas 15% consideraram que a Geografia está no

contexto da atualidade do campo e 15% não souberam responder.

Gráfico 8

Geografia ensinada em sala de aula está contextualizada

15% 13% Sempre

7%

Às vezes

Nunca

65%

Não sabe

57

Verificamos aí certo problema na didática geográfica enxergada pelos questionados, pois

a natureza da Geografia, ou pelo menos uma de suas essências é a contextualização das

matérias lecionadas com a realidade da região ou lugar dos viventes, essas, por sua vez,

são categorias analíticas da Geografia e não podem deixar de ser contextualizadas.

Pudemos também verificar neste estudo se as aulas dos professores de geografia ajudam

os alunos na prática do campo. 50% dos alunos responderam que sim, 41 % disseram

que ajudam às vezes e apenas 9% apontaram que não ajudam o que implica que a

didática do ensino da Geografia ainda deve ser aprimorada de modo que se possa

relacionar o conhecimento do aluno com o conhecimento cientifico de modo que ele

possa compreender as relações que ocorrem no espaço (TEIXEIRA; LINDINO, 2014).

Gráfico 9

Aulas dos professores ajudam na prática do campo

41% Sim

50% Não

9%

Às vezes

Aqui observamos a importância do professor de Geografia, mesmo tendo quase a metade

dos respondentes dita que os docentes ajudam somente às vezes, percebemos e

podemos tirar a conclusão que em algum momento o professor de Geografia proporciona

algum tipo de “ajuda” no entendimento das práticas e vivências do campo.

Quanto aos desafios em estudar/ensinar Educação do/no Campo, outra questão proposta,

os estudantes do campo na esmagadora maioria, 97%, disseram que sim e apenas 3%

disseram que não era desafiador. Mas a questão foi mais além disso, e, caso fosse

afirmativo, abriu opções dos desafios estudar/ensinar Educação do Campo. Quase a

metade (47%) apontou para a desvalorização das escolas em áreas rurais, 18% para a

58

falta de recursos específicos da área, 13% para a falta de verbas, outros 13% para a

desvalorização dos professores e 9% por algum tipo de preconceito.

Gráfico 10

Gráfico 11

58

É nítido e claro que os desafios são grandes para quem leciona em uma escola do campo

e esta pesquisa aponta principalmente para essa desvalorização das escolas rurais.

Podemos dizer que ainda falta muito para a superação do estigma de que o campo é

inferior ao urbano e que é preciso maior incentivo que busque esse direcionamento, o que

denota uma importância urgente para a questão da Educação do Campo, no viés de

superação do Paradigma da Educação Rural pelo da Educação do Campo.

59

Observações:

Duas questões do questionário aplicado foram anuladas de nossa pesquisa pelos motivos

que se seguem:

A questão número quatro que solicitava a enumeração da maior importância para a menor

sobre a representação da melhor ideia a respeito da Educação do Campo, onde as

alternativas eram as seguintes: “resistência”, “possibilidade”, “cultura”, “cotidiano” e

“valorização” foram desconsideradas pelo grupo, pois pela verificação das marcações

colhidas pudemos observar que ocorreram dezenas de erros de interpretação da questão,

falhas de marcação e até mesmo abstinências de respostas.

A título de curiosidade, poucas alternativas foram devidamente marcadas corretamente de

acordo com o enunciado da questão. As alternativas corretamente preenchidas

apontaram para a “valorização” como a mais lembrada pelos alunos do campo, seguida

por resistência, cultura, possibilidade e cotidiano respectivamente, elencado assim da

maior importância para menor. Obs.: Por não haver um quantitativo ideal de

respostas/marcações confiáveis, resolvemos não gerar gráfico e não apresentá-las aqui

em números quantitativos e gráfico percentual.

Já a questão número dez, que relacionava satisfação com o trabalho (ensino dos

professores de geografia em sala de aula sobre o campo, houve uma marcação

expressiva na alternativa positiva, ou seja, SIM, com 75% de satisfação. O não

representou menos de 10% das marcações, onde foi constatado que muitos dos

questionários aplicados os respondentes nem ao menos apontaram sua satisfação ou

insatisfação com o ensino dos professores de geografia sobre as questões do campo e

15% dos alunos não responderam essa questão.

Optamos também em relativizar essa questão, já que a mesma possui uma abordagem

de justificativa logo depois da escolha entre SIM e NÃO. A interpretação do grupo ao ler

as respostas mostrou que algumas escolas reforçam a aulas de Educação do Campo,

como por exemplo, temas voltados para técnicas agrícolas, visitas de campo a famílias

campesinas etc., enfim, valorizam o homem do campo, sua cultura etc. Já as respostas

no “NÃO” apresentaram justificativas muito semelhantes entre si. Apontaram, no geral,

para uma abordagem superficial do tema, sobre a falta de aulas sobre o campo e até

60

mesmo da não justificativa da resposta. A ementa do curso é o ponto de partida para

pensar o curso, currículo. Não, O currículo deve ser construido com os sujeitos do curso.

VI CONTRIBUIÇÕES DA GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO: PERSPECTIVAS E POSSIBILIDADES

A geografia pode contribuir com a educação do campo de diversas formas, no entanto

nosso caminho foi pensado um pouco mais como se deu a construção e a proposta de

ensino da Geografia para a graduação. Um dos caminhos pensados na formação de

professores refere-se a percepção do espaço. Sabemos que o espaço é uma das

categorias analíticas da geografia e sua relação com o meio está intrinsecamente ligada

às questões do território2 do campo e sua paisagem – também constituem categorias

analíticas da ciência geográfica. Logo, podemos apresentar as relações entre a sociedade

do campo, a natureza e as informações que se estruturam dentro da própria sociedade –

e que se estabelecem no espaço geográfico -, estão materializadas e se tornam visíveis

nas paisagens e são apropriadas pelo território.

A análise teórica parte das ementas de curso, este é o início para pensarmos o que é

necessário para que os alunos tenham conhecimento. Essa relação é investigada nesta

pesquisa pelo questionário aplicado para saber o que os professores do campo apontam

como necessário e prioritário no ensino de geografia.

2 A configuração territorial é dada pelo conjunto formado pelos sistemas naturais existentes em um dado

país ou numa dada área e pelos acréscimos que os homens superimpuseram a esses sistemas naturais. A configuração territorial não é o espaço, já que sua realidade vem de sua materialidade, enquanto o espaço reúne a materialidade e a vida que a anima. (Santos, 2006, p 38).

61

Toda essa análise nos remete pensar a partir dos sujeitos que lá estão, de suas

necessidades e para nós alunos e professores de geografia, essas diferenças devem ser

grifadas no sentido da apropriação curricular, de pertencimento e reconhecimento desses

sujeitos e das discussões que trazem.

Essa análise da contribuição da Geografia na Educação do Campo (perspectivas e

possibilidades) traz a partir do questionário aplicado uma visão cuja maioria dos

entrevistados acredita que as aulas ajudam na prática do campo. Porém, a Geografia

ensinada em sala de aula somente “as vezes” (como respondido pela maioria no

questionário) está contextualizada com a atualidade do campo. Isso remete a apropriação

de conteúdos como a percepção do espaço, por exemplo, e como isso é pouco explorado

em um território tão rico em saberes e suas paisagens.

VII CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste presente trabalho abordou-se a Educação do Campo e o ensino de geografia, a

compreensão e análise dos educandos do campo na busca pelo ensino de qualidade no

campo, bem como a inserção da geografia como disciplina essencial na abordagem de

temas relevantes do campo e também da identificação de questões transversais

pertinentes a própria ciência geográfica.

Essa questão torna-se especialmente desafiadora, no momento em que é implantado o

curso de Educação do Campo na Universidade Federal do Espírito Santo aonde, a escola

e a educação como um todo vem sendo pensadas num contexto de lutas do/no campo,

movimentos sociais (sem-terra), agroecologia etc. Assim propusemos como reflexão para

este trabalho, a relação da geografia e a escola do campo, uma visita ao pensamento de

autores (as) cuja análise têm sido dirigida aos desafios no espaço escolar do campo, a

atuação dos seus sujeitos (principalmente, no caso em questão, alunos e professores), os

diferentes saberes produzidos e suas implicações na disseminação do conhecimento

geográfico. Tentamos entender e identificar os significados da abordagem geográfica

do/no campo e suas relações.

62

A Escola do Campo depende da esperança no tipo de educação que os professors

“criam” em seu processo educativo. Uma educação que ensine a buscar respostas da

compreensão na própria prática educativa do educador geográfico do campo e não

recebê-las prontas. As posturas políticas e as próprias práticas educativas dizem muito

respeito a “noção” de mundo dos respondentes e a geografia influencia justamente aí,

onde sua atuação ajuda a formar o cidadão, especialmente o cidadão do campo.

Observamos que a interlocução do curso de Educação do Campo com a área de ensino

de Geografia tem muitas coisas em comuns. Podemos observar isso pela análise dos

PPC’s por exemplo. Ambos procuram estabelecer uma formação contextualizada de

formação de educadores/as politicamente comprometida com a cultura, as lutas sociais e

com o campo brasileiro com a realidade social e cultural específica das populações que

trabalham e vivem no e do campo, além de outras formas e ações que compreendam

melhor o campo social do campesinato brasileiro. Foi possível melhor observar essa

questão do campo nas aulas Geografia Agrária do Espírito Santo, Geografia Rural,

Geografia Política, Geografia Econômica entre outras.

Ao longo do curso foi possível ter contato com diversas situações e realidades que nos

fizeram chegar ao presente momento sempre nos fazendo questionar a geografia, suas

implicações e contextos, nos deixando a refletir e indagar sobre variados assuntos, nem

sempre buscando soluções e sim problematizar as diversas realidades. Com isso,

pudemos refletir sobre o que o tema Educação no/do Campo fez com que entendêssemos

um pouco mais a respeito deste assunto. Durante o curso de geografia, o tema retratado

neste trabalho pouco foi abordado durante o período em que estivemos dentro e fora da

universidade, sendo que este está intimamente interligado a geografia como um todo e

seria de grande interesse e relevância para a grade curricular do curso.

Este trabalho não visou esgotar o assunto, apenas problematizar a questão da Educação

do Campo, tem como base o curso de Educação do Campo da UFES, sem a pretensão

de dar um diagnóstico final e conclusivo sobre a questão, mas apenas delinear (mostrar)

um caminho de entendimento da Educação do Campo e a geografia,

63

VIII REFERÊNCIAS

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a Educação Básica nas Escolas do Campo. Diário oficial [da] República Federativa do

Brasil, Brasilia, 03 abr. 2002. Disponível em: <www.gepec.ufscar.br> Acesso em: 06 out

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117.

67

APÊNDICES

68

APÊNDICE A

QUESTIONÁRIO DE GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO

Nome do município em que você reside: ______________________________________________________ Você reside em área rural ou urbana? ________________________________________________________ 1) Qual das palavras abaixo melhor representa o motivo que o levou a escolher o curso de Educação do

Campo?

( ) curiosidade ( ) você se interessa pelo assunto ( ) você vem de uma família do campo ( ) necessidade de qualificação profissional ( ) busca por ambiente de trabalho mais tranquilo 2) Em sua opinião uma escola do campo deve ter (selecione três): ( ) diálogo, respeito e compreensão pela realidade do aluno ( ) promover debates que busquem valorizar as lutas camponesas e a diversidade cultural ( ) promover a valorização do trabalho do campo ( ) contextualizada conforme a realidade da comunidade ( ) impulsionadora de políticas regionais 3) Quais são, a seu ver, questões necessárias para a Educação do /no campo? (Selecione três) ( ) história do campo ( ) políticas do /no campo ( ) Geografia física, humana e cartográfica ( ) biodiversidade e educação ambiental ( ) territórios e processos de territorialização 4) Enumere, da maior importância para menor, as palavras abaixo, com base em sua opinião sobre qual melhor

representa a ideia de educação do campo. (maior importância =1, menor importância = 5)

( ) resistência ( ) possibilidade ( ) cultura ( ) cotidiano ( ) valorização 5) Como você visualiza a geografia como disciplina em relação à educação do campo?

69

( ) mais uma disciplina como outra

( ) compreensão e mudança da realidade

( ) conhecimento dos aspectos naturais

( ) conhecimento das relações urbano- rural

6) Em sua opinião a relação Geografia-Escola do Campo- Comunidade tem relevância? ( ) sim (

) não ( ) às vezes

( ) não sei

7) A Geografia ensinada em sala de aula está contextualizada com a atualidade do campo?

( ) sempre (

) às vezes (

) nunca ( ) não sei 8) É desafiador estudar/ensinar Educação do/no Campo?

( ) sim ( ) não

Em caso afirmativo por quê? (escolha duas das alternativas abaixo) ( ) preconceito ( ) falta de verbas ( ) desvalorização das escolas em áreas rurais ( ) falta de cursos específicos na área ( ) desvalorização dos professores 9) As aulas ministradas pelos seus professores de geografia lhe ajudam nas práticas no/do campo?

( ) sim (

) não ( ) às vezes 10) Você está satisfeito, de um modo geral, com o trabalho (ensino) dos professores de geografia em sala de

aula sobre o Campo?

( ) sim (

) não

Justifique.

70

APÊNDICE B

ENTREVISTA NA ESCOLA LUCIO ROCHA DE ALMEIDA GUARAPARI, ES _____Dona Mercedes (Diretora e coordenadora da escola)...Assim a chamamos e todos

ali. Enfatizava: Uma das minhas grandes brigas é a questão da Ed do campo é a escola

do campo que antigamente era considerado Zona rural, depois veio para a zona Urbana.

(...) eu entendo que é muito importante o ensino do campo (...) ou até mais, se

considerando o que eu vou colocar aqui: Dona Mercedes (Diretora e coordenadora da

escola)___porque lá no campo é gerado todo o sustento da vida urbana. Sempre foi

assim educação urbana em primeiro plano e depois a escola rural, ou era chamado de

escolinha. (...) falar de Educação do campo enquanto relações políticas, na questão social,

econômica e ambiental.( ...) Sempre foi assim é uma questão cultural__eu sempre senti a

escola muito distante da realidade do campo, a escola deveria ser um ponto de encontro

para todos que estão ali no campo, senão, ela perdeu sua função. Estabelecer um vínculo

com a comunidade. ____Professora Patrícia Rufino _____(...) a senhora tocou no ponto fundamental, o que

esta falando agora:____ “Abram a escola para a comunidade assumir a escola, assumir o

que é dela, escola aberta ao dialogo, pois os pais destes alunos muitos ao estudaram

estavam, não foram alfabetizados” . ____Dona Mercedes(Diretora e coordenadora da escola)_____ (...)quando veio uma

pessoa dar formação aos professores fiquei muito feliz, muito bom, a escola estava sendo

reconhecida . Alguém pensou na escola rural. È uma questão cultural: das classes

multiseriadas de professores trabalharem com quatro e cinco turmas. eu mesma cheguei

a ter turmas com 55 alunos em uma sala e reversava quem sentava no chão e quem tinha

que sentar ou não, não tina lugar, era complicado. ___DonaMercedes (Diretora e coordenadora da escola)____(...) eu tinha que andar com

cuidado para não pisar nos dedinhos dos alunos. ..os professores tinham que fazer tudo,

cozinhar, limpar. Hoje tem merendeira, tem quem limpe, tem pessoal que dá assistência. (..)Má isso não foi percebido, não foi conhecido, dado valor, to falando pelo profissional

71

que não conhece sua historia de ta estabelecendo um vínculo com a comunidade. Senão

se perde no seu fazer.

____Professora Patrícia Rufino ___(...).buscar nessas organicidades esse é um

problema dos grandes. Essa proximidade é importante (...) Professora: Patrícia

Rufino...será que tem registro dessa historia toda? ____ Patrícia Rufino. Como é que você professora trabalha as turmas multiseriadas?

Professora Patrícia Rufino:Você trás um elemento que leva a questão da família? Como

você recorre isso para falar com os pais, como você lida com isso?

Resposta____ProfessoraGleyce da alfabetização... estamos em uma área privilegiadas

por estar no bairro geográfico privilegiado estamos dentro de um território sem conflitos e

violência, é um bairro de classe média, apesar das crianças não serem deste bairro...eu

sou da comunidade sou efetiva , amo meu trabalho e a escola, faço com todo o coração

meu trabalho. ..A secretária da escola funciona na SEMED de Guarapari, então quando a

escola tem necessidade eu tenho que solicitar o registro e dados lá na secretária. Nossa comunidade é super atuante, se fizermos uma multidão para pintar a escola

mesmo que seja no fim de semana, eles vem, eles construíram a dispensa da escola. São

bem atuantes com a escola. Os alunos que tem as famílias presentes , esses

desenvolveram mais. Mercedes: Nossa comunidade é flutuante, todo dia chega alguém ou saem, pois vêem

para trabalhar na Samarco ou muitos como caseiros. _____Professora: Patrícia Rufino: Então não tem filhos de pescadores aqui? Existe

ainda um vínculo? _____ Professorada GleycedaAlfabetização (...)sim tem muitos aqui que somos filhos

dos pescadores, moradores antigos do bairro, ou muitos primos. Eu mesma sou neta do

fundador deste bairro, um dos primeiros aqui. Como o seu Manoel Rocha, meu avô que

dou o terreno para a construção da escola. _____Dona Mercedes(Diretora e coordenadora da escola)___(...) gente a Alfabetização é

uma situação seria, temos alunos que chega aqui sem saber nada (...)escola como

vínculo de pertença, foram palavras da dona Mercedes (...) “os alunos tem para com a

escola uma certa cumplicidade”.Eles ajudam, participam de tudo e gostam de vir a escola.

(...) assim concluímos a nossa visita com um breve lanche preparado pela diretora

dizendo que isso é acolhida, é calor humano que não poderá faltar. ..para dizer da

importância da nossa visita para ela e para a escola.