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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” A CONTRIBUIÇÃO DAS DIFERENTES LINGUAGENS NA CONSTRUÇÃO DA LEITURA E ESCRITA POR: DELMA DA SILVA MARTINHO TURMA 38 Rio de Janeiro 2003

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

EM GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A CONTRIBUIÇÃO DAS DIFERENTES LINGUAGENS NA CONSTRUÇÃO DA LEITURA E ESCRITA

POR: DELMA DA SILVA MARTINHO TURMA 38

Rio de Janeiro 2003

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

EM SUPERVISÃO ESCOLAR

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A CONTRIBUIÇÃO DAS DIFERENTES LINGUAGENS NA CONSTRUÇÃO DA LEITURA E ESCRITA

Apresentação de monografia à Universidade

Cândido Mendes como condição prévia para

a conclusão do Curso de Pós-Graduação

“Lato-Sensu” em Supervisão Escolar

POR: DELMA DA SILVA MARTINHO PROFESSOR ORIENTADOR : FABIANE MUNIZ DA SILVA

Rio de Janeiro 2003

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“Falar, conversar e escutar histórias, gesticular, desenhar, rabiscar e pintar, brincar, escrever e ler, atribuir sentidos são sistemas simbólicos instituídos pela sociedade para a comunicação e expressão e aprendidos pelas crianças nas suas diversas interações sociais. Por essas vias criam-se leitores, escritores com várias possibilidades de expressão”. Anete Abramowicz e Gisela Waiskop

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A Deus por estar sempre

guardando a minha vida,

iluminando meu

caminho.

À minha mãe pelo

esforço, dedicação,

incentivo para que eu

chegasse até aqui.

Aos meus irmãos e

sobrinhos pelo carinho,

satisfação e apoio

demonstrados

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RESUMO

A educação infantil teve seu surgimento relacionado ao aspecto social

devido às mudanças ocorridas com a introdução da mulher ao mercado de trabalho.

Inicialmente seu objetivo era primordialmente assistencialista,onde preocupava-se

apenas com o cuidado físico da criança. Porém, com o decorrer do tempo atentou-se

para a necessidade do trabalho pedagógico e seu aspecto cognitivo. Com isso, hoje

a Educação Infantil (0 a 6 anos) já está incluída ao sistema através da Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Infantil (Lei 9394/96).

No entanto, o trabalho realizado na Pré-Escola se dá de formas

diversificadas apesar de estarem direcionadas ao desenvolvimento pedagógico.

Porém, a referente pesquisa atenta-se para a necessidade da criança em estar

voltada a ludicidade, pois este fator contribui para que a mesma descubra o prazer

de aprender através da brincadeira. Para isso, o ambiente precisa ser interativo e

tranqüilo.

Já na Pré-Escola observa-se a preocupação com a aquisição da leitura

e escrita formais. Com isso, acabam sendo “esquecidos” fatores importantes de

descoberta e desenvolvimento do aluno tais como as linguagens musical, gestual,

pictória, plástica ... que contribuem para a comunicação humana e que auxiliam na

percepção da criança com o mundo.

Portanto, não basta transmitir ao aluno da Educação Infantil os códigos

mecânicos da língua sem que o mesmo tenha a oportunidade de experimentar a

função social da comunicação humana.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 6

2. CAPÍTULO I - A Educação Infantil: o histórico e a função 8

3. CAPÍTULO II - A importância do brincar na Educação

Infantil: o prazer de aprender brincando

13

4. CAPÍTULO III - As diferentes linguagens e a construção da

leitura e escrita

17

5. CAPÍTULO IV - A função social da alfabetização 28

6. CONCLUSÃO 31

7. BIBLIOGRAFIA 32

INTRODUÇÃO

O interesse dessa pesquisadora em abordar a contribuição das

linguagens na Educação Infantil, ocorreu devido à preocupação com observações

informais a respeito de profissionais que alfabetizam de maneira sistemática com os

tradicionais exercícios de memorização. Por esse motivo, alguns aspectos

importantes, acredito, acabam sendo esquecidos, e assim os alunos deixam de

vivenciar muitas questões apresentadas na Educação Infantil.

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Alguns dos aspectos mais esquecidos creio, por esse tipo de prática

pedagógica, é a ludicidade, a troca de conhecimento através da interação, a função

social da escrita e o desenvolvimento das diferentes linguagens utilizadas como

forma de comunicação.

Na Educação Infantil existe uma ansiedade muito grande no que se

refere à aquisição da leitura e escrita. Com isso, busca-se diferentes formas de

desenvolve-las. Uma delas é o procedimento mecânico e repetitivo dos códigos

linguïsticos. O que se percebe é a necessidade da criança construir o mundo letrado

que a cerca e o significado que a comunicação lhe revela para a organização de

conceitos. Por isso, a colaboração das diferentes linguagens tem grande função na

elaboração da alfabetização como leitura de mundo. Gomes (1993) é um dos

autores que compartilha dessa preocupação com a seguinte citação:

“A escola precisa ser um espaço de acesso a todas as

linguagens(escrita, musical, corporal, plástica, dramática, etc),

mas não necessariamente um espaço de formação de atores,

escritores, gravadores, músicos, etc. Ela é um espaço de

experiência totalizadoras onde a criança poderia ampliar seus

referenciais de mundo”.(p.127)

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A criança é essencialmente lúdica, por isso as práticas pedagógicas não

podem esquecer desse fator tão importante para ela como fonte de prazer e

conhecimento. A atividade escolar não precisa esquecer desse recurso para que se

torne mais séria. O jogo, por fazer parte da vida da criança, possibilita um trabalho

enriquecedor, pois promove atividades agradáveis, que são realizadas com satisfação e

envolvimento.

Sendo assim, é preciso que haja um ambiente descontraído, criativo e com

propostas direcionadas às descobertas cognitivas de forma prazerosa, para que a

criança interaja com as informações, internalizando-as. Daí, ser importante a construção

do conhecimento, através da ludicidade e nas relações interpessoais que a mesma

garante.

A preocupação com esse assunto vem sendo apontada pelos autores como

Jean Piaget, Vygotsky, Freud e Emília Ferreiro, entre outros.

O primeiro preocupando-se com as diferentes fases desenvolvimento

cognitivo do indivíduo, esclarecendo os processos de formação do conhecimento na

criança. Sua contribuição teórica se deu às pesquisas realizadas por Emília Ferreiro,

que numa perspectiva pedagógica a relaciona ao conceito de alfabetização.

A colaboração de Freud refere-se à teoria psicanalítica, relativa ao

funcionamento mental do ser humano. Já para Vygotsky, a aprendizagem se dá a partir

da relação com o outro permitindo o desenvolvimento mental e assim construindo o

conhecimento.

O pensamento de Vygotsky é direcionado a uma tendência

socioconstrutivista que nos leva a pensar sobre a importância da relação social para o

aprendizado.

Esse trabalho tem como objetivo levar, docentes, a refletirem sobre a

importância da relação da criança com o mundo de forma a envolver e desenvolver as

linguagens corporais, musicais, plásticas, textuais, gestuais e emocionais. É preciso

repensar sobre as práticas pedagógicas, analisando a importância da linguagem para a

efetiva construção da leitura e da escrita.

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CAPÍTULO I - A Educação Infantil: o histórico e a função

A história da Educação Infantil está relacionada à mudança da

organização social, em especial ao papel da mulher que devido a fatores culturais,

econômicos e políticos, foi absorvida pelo mercado de trabalho e então, necessitou

buscar outras alternativas em relação à educação dos seus filhos. Assim, a creche,

primeiro momento da Educação Infantil, passa ajudar no cuidado e educação das

crianças, recebendo uma maior atenção na nossa sociedade.

Inicialmente preocupou-se somente com o entendimento assistencial das

crianças, enquanto seus pais trabalhavam, não atentando-se para o pedagógico. A

história nos mostra um contexto social onde o papel da mulher destinava-se somente

aos cuidados do ambiente domésticos e familiares (filhos e marido). Hoje, após muitos

movimentos de luta pela igualdade de oportunidade, cada vez mais as mulheres vêm

conquistando seu espaço, assumindo diferentes atividades fora de casa, não só pela

necessidade econômica como também pela realização pessoal. Essa modificação

histórica do papel da mulher, levou a reflexão da real função do trabalho realizado nas

instituições de Creches e Pré-Escolas.

Até o início do século XX, o trabalho desenvolvido nas creches era

semelhante aos internatos, pois destinava-se, principalmente, a filhos de mãe solteiras

que devido ao fato, tomavam o atendimento como um favor prestado. Sendo assim,

essas mães não tinham consciência da função pedagógica que as instituições que

atendiam crianças de faixa etária de zero a seis anos poderiam oferecer.

Com a expansão das indústrias, em meados do século XIX, uma grande

quantidade de mulheres fundiu-se ao trabalho nas fábricas, somando-se aí as casadas.

Iniciou-se então, a preocupação com o atendimento a seus filhos, questão que passou a

apresentar um novo enfoque com a chegada dos imigrantes europeus ao Brasil, que

também foram atraídos pelo trabalho industrial. Com eles surgiram movimentos de

reivindicações dentre os quais estavam a organização de creches para filhos das

operárias, instituições que atendiam crianças de zero a seis anos. Preocupados, os

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industriais, montaram creche e escolas maternais. Oliveira (1992) relata esse momento

quando cita:

“Os donos das indústrias, por seu lado, procurando diminuir a

força dos movimentos operários, foram concedendo certos

benefícios sociais e propondo novas formas de disciplinar seus

trabalhadores. Eles buscavam o controle do comportamento dos

operários, dentro e fora da fábrica. Para tanto vão sendo criadas

vilas operárias, clubes esportivos e também algumas creches e

escolas maternais para os filhos dos operários.” (p.18)

Paralelas as creches atendidas pelas fábricas, surgiram as instituições

escolares filantrópicas, assistidas pelo governo e pela classe rica. O trabalho das

creches neste período era basicamente assistencial, predominando fatores como

alimentação, higiene e segurança. O desenvolvimento cognitivo e emocional ainda não

eram valorizados.

Muitos questionamentos colocaram o papel das creches e pré-escolas em

pauta, como a miséria e a marginalidade que era relacionada a classe popular. Para

explica-las, surge a teoria da “privação cultural” nas décadas de 60 e 70, buscando na

creche uma alternativa como forma de superar a pobreza apresentada por essas

famílias. Assim iniciaram-se as propostas de trabalho em algumas creches e pré-

escolas públicas, voltadas para o aspecto cognitivo e preparação para alfabetização.

Nesta época, as instituições particulares que atendiam crianças de zero a

seis anos, cuja clientela era formada pela classe privilegiada socialmente, já voltavam

seus

para estimulação da criatividade, sociabilidade e desenvolvimento infantil,

baseados na Psicologia.

Após grandes reivindicações populares, as creches passaram a ser um

direito do trabalhador. Como resultado houve um aumento na participação das mães

diante do trabalho das creches e o surgimento de novas creches públicas. Hoje,

algumas empresas concedem verbas aos seus funcionários para que estes paguem

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uma creche a sua escolha. Há também, em todo país, as creches comunitárias e muitas

vezes assistidas por ONGs (Organizações não governamentais).

O aumento da procura pela Educação Infantil se deu não só pela

participação gradativa da mulher no mercado de trabalho, como também pela

conscientização da sociedade sobre a importância dos cuidados desenvolvidos nessa

fase de zero a seis anos. Com isso, a partir da Constituição de 1988, a Educação

Infantil foi incorporada ao sistema de ensino e o atendimento a essas crianças passou a

ser reconhecido legalmente, sendo incluído na Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Infantil (Lei 9394/96), onde é citado no Referencial Curricular:

“A Educação Infantil é considerada a primeira etapa da educação

básica (título V, capítulo II, seção II, art.29), tendo como finalidade

o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade”

(p.11)

A finalidade do atendimento nas instituições de Educação Infantil, ao

longo da história teve idéias diversificadas, porém pode-se dar destaque ao educador

Friedrich Froebel (Alemanha, 1837), que contribuiu para o funcionamento do primeiro

Jardim de Infância. Para ele a criança não deveria ser vista como um adulto em

miniatura e a partir dessa idéia desenvolveu teorias sobre a educação na fase pré-

escolar, onde se acreditava que o gesto, o canto, a linguagem e a brincadeira eram

contribuintes significativos para o desenvolvimento da aprendizagem.

Portanto, observa-se que na Alemanha, a Educação Infantil já iniciou-se

com caráter pedagógico. O pensamento de Froebel se difundiu entre vários países,

inclusive no Brasil, onde no século XIX em São Paulo, foi organizado o primeiro Jardim

de Infância com modelos baseados nas idéias de Froebel, e o primeiro Curso de

Formação de Professores para essa faixa etária. Após esse período, muitas outras

instituições voltadas para educação pré-escolar começaram a surgir.

No decorrer do tempo observou-se diferentes práticas pedagógicas, sofrendo

influências da Psicanálise e das teorias de desenvolvimento da criança. Houve a

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preocupação com o aspecto emocional,tomando como base as teorias de Piaget e

Vygostsky.

Hoje, a Educação Infantil conta com uma política mais direcionada ao trabalho de

senvolvido com crianças de zero a seis anos. Como resultado o Ministério de Educação

e do Desporto elaborou a Referencial Infantil, já citado anteriormente. O referente

documento foi publicado pelo Governo Federal, sendo resultado de debates com

profissionais que atuam na Educação Infantil e tem com objetivo servir de “guia de

reflexão” para o trabalho pedagógico.

De acordo com esse Referencial Curricular essas instituições devem integrar as

funções de educar e cuidar como é citado.

“As novas funções para a Educação Infantil devem estar

associadas a padrões de qualidade. Essa qualidade advém de

concepção de desenvolvimento que consideram as crianças nos

seus contextos sociais, ambientais, culturais e, mais

concretamente, nas interações e práticas sociais que lhes

fornecem elementos relacionados as mais diversas linguagens e

aos contato com mais variados conhecimentos para a construção

de uma identidade autônoma” (p.23)

Portanto, pode-se dizer que hoje há a preocupação não só com os cuidados

físicos, como também com o emocional e cognitivo, porém de forma integrada,

buscando um trabalho de qualidade, voltado para o desenvolvimento infantil

desfragmentado. Embora o Referencial proponha um trabalho de qualidade, não se

pode esquecer que é um documento elaborado para servir de guia de reflexão e por isso

deve se adequar a cada realidade e haver também a análise crítica de cada equipe

pedagógica ao basear-se nele visando uma efetiva prática com qualidade.

Conforme foi citado anteriormente, vários paradigmas sobre o atendimento a

criança foram construídos ao longo do tempo, principalmente no que se refere à criança

pobre, onde a ela estava associada, entre outros fatores, o abandono. Esse fator leva

seus pais a perderem sua guarda, sendo a mesma enviada a internatos, muitas vezes.

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Preocupando-se com isso, em 13 de julho de 1990, foi promulgado o Estatuto da

Criança e do Adolescente, que sugere em seus artigos o direito à vida, à saúde, à

alimentação, à educação, ao lazer... enfim, as condições de viver com dignidade para o

bom desenvolvimento integral do Homem.

Percebe-se com isso que a criança tem seus direitos assegurados por lei e dentre

eles está a Educação como é mencionado no art.54 (IV) do Estatuto: “É dever do Estado

assegurar a criança: o atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis

anos de idade”. (p.28)

Portanto, é notório que ao longo dos anos as crianças têm sido foco de debates

políticos e educacionais visando estabelece-las no contexto de cidadania. Kramer é uma

das autoras que tem demonstrado preocupação com o universo infantil, engajando-se

em estudos e propostas pedagógicas voltadas para a infância, por acreditar na

necessidade e importância que este trabalho requer como cita a mesma autora (1996):

“Vale dizer que nesses quase 20 anos, estive mobilizada pela

dimensão política dos temas relativos à criança, pela prática de

pesquisa e pela intervenção e educacional, âmbitos nos quais se

manifesta sempre uma dada concepção de infância”. (p.17)

Daí ser importante refletirmos sempre sobre as questões que garantam o

melhor atendimento às crianças na fase escolar inicial, já que acredita-se na importância

da mesma para seu desenvolvimento e formação. A Educação Infantil hoje, tem a

função de promover a aprendizagem em integração com as estruturas do pensamento

infantil, propondo um trabalho criativo e instigante.

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CAPÍTULO II - A importância do brincar na Educação Infantil: o prazer

de aprender brincando

A criança é essencialmente lúdica, por isso é preciso ter consciência da

necessidade que ela possui em utilizar a linguagem simbólica como forma de refletir,

explorar e adquirir conhecimentos, assim com transformar conceitos anteriores em

novas aprendizagens. A criança aprende brincando, sendo assim seu desenvolvimento

cognitivo, emocional e motor podem e devem ser estimulados através dos jogos e

brincadeiras, tornando o ambiente prazeroso, tão importante no processo de

aprendizagem. Segundo Lima (1999):

“A criança, diferentemente do adulto, só deve brincar. Seu

desenvolvimento depende do lúdico, ela precisa brincar para

crescer, precisa de jogo como forma de equilibração com o

mundo. Sua maneira de assimila r(transformar o meio para que se

adapte às suas necessidades) e de acomodação (mudar a si

mesma para adaptar-se ao meio que ofereceu resistência) deverá

ser sempre através do jogo”. (p.33)

A brincadeira contribui para a auto-estima das crianças e com isso cria-se

também uma autoconfiança para que eles exponham seus pensamentos, explorem suas

capacidades e formulem idéias sem medo do desconhecido, favorecendo o seu

desenvolvimento nos diversos aspectos. É fundamental que a criança sinta-se segura,

para que seu processo de aprendizagem transcorra tranqüilamente, passando pelas

etapas de forma organizada, assimilando-as. Como cita Machado (1999): “Brincar é

também raciocinar, descobrir, persistir e perseverar, aprender a perder percebendo que

haverá novas oportunidades para ganhar, esforçar-se, ter paciência, não desistindo

facilmente”. (p.27)

Uma das práticas pedagógicas utilizada com crianças deve ser a

ludicidade, pois ela torna o ambiente interativo, enriquecendo o trabalho de ensino-

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aprendizagem. A troca de experiência é um auxílio indispensável nesse processo,

apresentando momentos em que questões são apontadas, refletidas, exploradas,

explicadas e conseqüentemente internalizadas. A interação proporciona a socialização

das descobertas.

Por isso, os conceitos de leitura e escrita podem ser elaborados através de

um espaço lúdico e criativo, e não por procedimentos mecânicos e sem valor

significativo para a criança, afastando-a do real contexto de alfabetização. Através dos

jogos e brincadeiras a mesma encontra possibilidades de discutir, pensar e repensar

sobre a construção dos seus conhecimentos. Nas palavras de Lima (1999):

“.... a atividade escolar deverá ser uma forma de lazer para a

criança. Considerar a aprendizagem uma tarefa sisuda não

significa que fique mais séria, é, apenas, um preconceito existente

em nossas escolas. A criança aprende melhor brincando, e

TODOS os conteúdos podem ser ensinados através de

brincadeiras e jogos, em atividades predominantemente lúdica”.

(p.33)

O espaço de aprendizagem pode estar plenamente relacionado a

brincadeiras, pois ela faz parte do dia-a-dia das crianças e é o momento em que

organizam suas emoções, constroem e reconstroem seus pensamentos. Sendo assim,

através dos jogos o educador cria todo um ambiente descontraído, necessário para uma

forma efetiva de aprendizagem. O ambiente alfabetizador precisa ser, entre outros

aspectos, sedutor e nada seduz mais a criança do que a brincadeira, tão presente na

vida dela. Fundação Roberto Marinho (1991) cita:

“Brincar é uma realidade cotidiana na vida das crianças, e para

que elas brinquem é suficiente que não sejam impedidas de

exercitar sua imaginação...

A brincadeira expressa a forma como uma criança reflete, ordena,

desorganiza, destrói e reconstrói o mundo a sua maneira.” (p.86)

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O processo de alfabetização deve estar interligado com sua

funcionalidade, para que isso ocorra de maneira coesa, deve haver uma prática

pedagógica direcionada a dar sentido a mesma, de maneira que os alunos percebam o

prazer da leitura e escrita. Para que aconteça , é necessário que haja todo um

desenvolvimento entre o aluno e o que lhe é “ensinado”, e o lúdico, entre outros fatores,

pode contribuir muito para isso. Além disso, a brincadeira garante à criança

experimentar possibilidades, criar hipóteses, errar, acertar,livres de receios. O brincar

também é uma forma de linguagem. Fundação Roberto Marinho (1991) cita Piaget,

compartilhando dessa idéia. Assim ela a expõe:

“... a verdadeira linguagem social das crianças, quer dizer, a

linguagem utilizada na atividade fundamental das crianças – o

jogo – é uma linguagem de gestos, movimentos e mímica, tanto

quanto uma linguagem de palavras”. (p.56)

Quando se fala em brincadeira, deve-se ter em mente o seu sentido mais

específico, que é o divertimento. No entanto, observa-se diferentes maneiras de brincar

e cabe ao educador adequá-las ao seu trabalho e às necessidades dos seus alunos,

sejam nas brincadeiras livres ou dirigidas. Durante os jogos livres, o professor tem

oportunidade de observar as linguagens que as brincadeiras dirigidas há um maior

contato com o processo de desenvolvimento em que o aluno se encontra.

Froebel, precursor dos Jardins de Infância, já privilegiava o trabalhava o

trabalho lúdico por acreditar na função do jogo para o desenvolvimento infantil e deste

ser o caminho mais satisfatório e tranqüilo para a ampliação da aprendizagem pela

criança. Para efetivar este trabalho, criou materiais e jogos pedagógicos para serem

trabalhados com a criança como forma de aguçar a criatividade e o crescimento

intelectual. Essas idéias foram difundidas e aceitas por diferentes correntes

pedagógicas, percorrendo até os dias de hoje.

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A criança precisa estar segura no aspecto sociopsicomotor para um melhor

resultado cognitivo. Deixar que as crianças se expressem é fundamental, pois a

expressão, a comunicação são o que dão funcionalidade a alfabetização e não só o

conhecimento dos códigos lingüísticos. A atividade lúdica proporciona um ambiente de

conhecimento sobre o mundo através da participação e reorganização de idéias.

Por isso, a ludicidade e Educação Infantil não podem estar separadas, pois uma

está inserida na outra para que haja o desenvolvimento pleno e real da aprendizagem.

Por dar prazer, o brincar deve se a principal atividade infantil. É importante

reconhecermos o lúdico como uma necessidade para a vida da criança. Contudo, propor

a ludicidade não requer descaracterizar a importância do trabalho desenvolvido na Pré-

Escola, tanto quanto as outras etapas da vida escolar do aluno.

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CAPÍTULO III - As diferentes linguagens e a construção da leitura e

escrita

Desde muito pequenas, as crianças buscam formas de entender o mundo em que

vivem. É através da interação que elas constroem conceitos e (ou) hipóteses sobre seus

questionamentos. Durante esse processo de construção, recorrem a diferentes

linguagens como forma de garantir a comunicação. Elas possibilitam o seu contato com

o mundo, pensando e repensando sobre ele e assim compreendendo melhor.

A comunicação pode ser manifestada através do corpo, da música, da emoção,

dos textos, dos gestos, do grafismo e as artes plásticas. Na medida em que as crianças

podem valer-se das linguagens, seu universo comunicativo se amplia e

conseqüentemente seus conhecimentos também. Sendo assim, a criança necessita

vivenciar esses aspectos para um melhor desenvolvimento. Sampaio (1993) é um dos

autores que compartilha dessa idéia citando:

“Embora seja indispensável que a criança tenha acesso à

linguagem escrita, a escola tem de pensar que a criança vive num

universo de linguagem. Ter acesso na escola às diferentes

linguagens- gráfica, gestual, plástica, cinestésica, musical,

corporal, televisiva, informática, etc, é fundamental. A Pré-Escola

e o espaço , por excelência, de iniciação nessas linguagens”.

(p.61)

Outro fator importante a ser lembrado é que o desenvolvimento da criança

acontece de forma integrada entre ela e os seu meio social. Daí ser importante o

desenvolvimento das diferentes linguagens como forma de comunicação e também de

descobertas, tornando o aprendizado prazeroso. Porém, percebe-se que na angústia de

um resultado imediato para a alfabetização formal, alguns docentes recorrem a

procedimentos mecânicos e repetitivos dos códigos lingüísticos, esquecendo-se que o

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processo de alfabetização faz parte de um conjunto e não de algo isolado da vida

cotidiana do aluno.

Tanto as linguagens verbais como as não verbais promovem a expressão,

por isso as propostas pedagógicas devem estar atentas quanto a isso, valorizando tais

atividades no dia-a-dia das crianças e assim ampliando a alfabetização.

Muitos questionamentos sem vendo apontados sobre a alfabetização na

Pré-Escola, porém hoje sabemos que a mesma faz parte do processo de representação

do pensamento e da fala. Portanto, concluímos que o ser humano alfabetiza-se desde

quando nasce, pois busca formas amplas de expressão que são passadas culturalmente

através do choro, dos gestos, da fala, da percepção auditiva ou visual e do grafismo.

Assim, a Pré-Escola precisa colaborar com a evolução do processo de

alfabetização favorecendo o seu desenvolvimento. Esse favorecimento se dá com a

criação do ambiente alfabetizador tão íntimo das crianças, dentro ou fora da escola. Tal

ambiente possibilita as mais variadas experiências de comunicação.

Quando falamos na importância das diversas linguagens é preciso

compreendermos que elas fazem parte do processo do desenvolvimento do ser

humano, especificamente da criança.Assim como o bebê utiliza-se de vários recursos

para expressar-se, passando por um processo evolutivo natural, ele também dispõe de

estímulos externos do seu meio social. A medida que vai crescendo vai encontrando

outros meios de comunicação, fazendo sua leitura do mundo, e a leitura e escrita

formais também fazem parte deste processo.

É preciso entender que o aspecto emocional é a linguagem não-verbal,

que impulsiona todo o processo do desenvolvimento humano, intelectual e psicológico.

A criança necessita estar bem emocionalmente para que os obstáculos sejam sanados

com segurança. A escola deve propiciar um espaço afetivo, desprovido de preconceitos,

que com relação interpessoal a criança aprenda a lidar com situações-problema, sem

traumas e que perceba o ambiente escolar sendo o seu. Essa segurança é um fator

contribuinte para que o aluno externalize seus sentimentos, lidando com os possíveis

”erros” com naturalidade, ajudando-o também a elaborar suas hipóteses sobre leitura e

a escrita com autonomia. Lima (1999) confirma esse pensamento citando:

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É necessário que a criança se aproprie cognitiva e afetivamente

de SUA escola, e a escola é a principal responsável por este

processo que se deve iniciar simplesmente por recebe-las com

carinho.” ( p. 40)

A criança precisa estar bem emocionalmente para que o processo de

aprendizagem flua gradativamente e o professor precisa estar atento quanto a possíveis

problemas emocionais apresentados pela criança. O equilíbrio emocional propõe auto

confiança necessária para estimulação das descobertas e o educador deve ter um olhar

especial em relação a este aspecto para que possa compreender e respeitar melhor

seus alunos. O aspecto emocional, como já foi dito anteriormente, é um dos fatores que

garantem a possibilidade do bom desempenho do processo de aprendizagem.

O período de adaptação da criança na escola, é um momento que precisa

de uma atenção especial, pois a criança está saindo do meio familiar para ingressar

num meio social, até então desconhecido. Ela necessita sentir segurança tanto de quem

a leva à escola, quanto de quem a recebe, para a partir daí criar uma relação de

confiança. O professor deve respeita as individualidades dos alunos, acolhendo objetos

pessoais que algumas crianças, no período de adaptação, necessitam utilizar como

forma de buscar segurança e equilíbrio emocional. A má condução do processo de

adaptação pode originar em reações de medo posteriormente.

A escola precisa transmitir para a criança ambiente de prazer, com

situações adequadas de aprendizagem, propiciando relações afetivas entre professor e

aluno. Por isso, antes de preocupar-se com a alfabetização sistematizada dos alunos, o

docente deve voltar-se para os aspectos que contribuem para o melhor desempenho de

assimillação da aprendizagem, e o emocional está entre estes aspectos.

Outras formas de expressar o pensamento e a fala devem ser tão

valorizadas quanto a escrita decodificada. É essa valorização que torna para a criança a

comunicação significativa e conseqüentemente a alfabetização formalizada. A mesma

deve aguçar a curiosidade e desejo de descoberta e isso só ocorrerá se a criança

perceber a necessidade e o prazer que a leitura e a escrita nos proporcionam. Por isso,

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é preciso que o educador crie todo um ambiente amistoso e agradável para favorecer o

desenvolvimento da criança.

Através da música podemos criar formas de estimular interesse pelos

conceitos de leitura de escrita, sem dizer o quanto a música oferece uma vasta

sensibilidade. A música é um meio de expressão que se desenvolve em diferentes

povos e culturas que não há barreiras sociais que distanciem as pessoas da mesma.

Desde muito pequenas as crianças têm contato com o universo sonoro na

comunidade em que está inserida. Por isso, desde cedo ela aprende a construir seu

repertório musical, selecionando-o de acordo com seu gosto pessoal, que deve ser

respeitado. Porém, é importante que ela tenha oportunidade de expandir seu

conhecimento sobre diferentes tipos musicais.

Associado a música está a dança, que também é uma forma de expressão

através do corpo. O bebê, ao ouvir um ritmo musical já utiliza-se de movimentos para

acompanhá-lo, seja através de palmas ou outras variações do corpo. A Fundação

Roberto Marinho (1991) expressa essa idéia fazendo a seguinte citação:

“As crianças sabem que dançar é uma atividade associada à

música, isto é , que dançar é produzir com o corpo movimentos

que acompanham determinado ritmo musical. Podemos observar

que, desde muito pequenas, elas já acompanham as músicas que

ouvem com palmas, sapateados, volteios de cabeça ou de

quadris.” (p.7)

Com isso, percebe-se o quanto a música contribui para a comunicação,

podendo citar também quanto ela promove integração das pessoas e dos povos.

Variadas propostas de trabalho com música vem sendo desenvolvidas

na Educação Infantil. A maioria das vezes elas estão relacionadas com a educação da

rotina da escola, outras para desenvolver a parte psicomotora da criança. Com isso

esquece-se de que através da música, a escola pode promover atividades de produção

e contentamento.

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A música é uma linguagem que possibilita uma rica oportunidade de

desenvolver o aprendizado, pois expressa sentimentos e pensamentos e propõe o

trabalho com outras áreas de conhecimento, entre eles pode-se citar os conceitos de

leitura e escrita. A música pode despertar na criança um interesse por esses conceitos

de maneira agradável e mais, a música por promover a ampliação sonora auxilia na

percepção da relação entre a linguagem oral e escrita. Como é citado no Referencial

Curricular da Educação Infantil (1998):

“Deve ser considerado o aspecto da integração do trabalho

musical ás outras áreas já que, por um lado, a música mantém

contato estreito e direto com as demais linguagens expressivas

(movimento, expressão cênica, artes visuais,etc) e, por outro,

torna possível a realização de projetos integrados.” (p.49)

A música deve propor o trabalho com os sentidos, contribuindo para que

as crianças vejam o mundo poeticamente, de forma integrada.

É por meio da dança e da música, que a criança pode conhecer e

aumentar sua capacidade expressiva, exteriorizar seu pensamento e também identificar

a expressividade das outras pessoas.

Mais uma forma de expressão a ser citada é a linguagem artística através

do desenho, pintura e da escultura, expressão estas, utilizadas ao longo dos tempos

como primeira forma de comunicação escrita.

Por meio das artes visuais a criança expõe seu jeito de ver o mundo, seu modo de

pensar. Observamos que os desenhos das crianças tem características semelhantes de

acordo com a faixa etária e passam por etapas evolutivas no decorrer do tempo e que

iniciam pelas chamadas garatujas ou rabiscações e que aos poucos as crianças vão

dando significados nomeando seus desenhos. Por volta dos três anos de idade, as

representações começam apresentar formas fechadas, havendo aí uma progressiva

organização dos traços. Outro caminho é a utilização de linhas a essas formas

fechadas, para representarem a figura humana. Mais tarde os desenhos passam a ter

formas mais organizadas e com mais clarezas.

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Com isso, podemos perceber que a criança vai “aprimorando” seu

desenho para buscar a maior semelhança entre o seu pensamento é a forma de

representa-lo. Através dessa linguagem gráfica-plástica onde o desenho é a sua

representação, a criança pode notar que há várias formas de se comunicar a partir do

momento que dá significado a sua idéia. A Fundação Roberto Marinho (1991) exprime

esse pensamento e assim cita:

“Qualquer que seja o caminho tomado, a conquista é imensa – as

crianças ficam eufóricas. Não sendo tolidas pelos adultos ou pela

escola, as crianças terão enorme prazer em desenhar,

representando a partir de então, por estudos e conquistas

sucessivas, tudo que existe no mundo.” (p.134)

As atividades de Artes não podem ser desenvolvidas mecanicamente,

como são desenvolvidas na maioria das instituições que desenvolvem um trabalho de

Educação Infantil. O docente precisa estimular a exploração de diferentes materiais,

precisar possibilitar aos alunos a ousarem, criarem e se desenvolverem.

O ser humano conta também com a linguagem falada para comunicar-se.

Os bebês iniciam sua linguagem oral com choros e balbucios e posteriormente palavras

que significam para eles e para as pessoas do seu meio social, uma forma de

comunicação. Essas palavras são resultados das informações que recebem do seu

ambiente de convívio com outras pessoas e dos meios de comunicação.

A criança desde muito cedo já apresenta uma capacidade narrativa. Ela

gosta de relatar fatos do cotidiano pessoal e perguntar sobre assuntos até então

desconhecido, construindo seu aprendizado sobre o mundo. Para que sua capacidade

oral se amplie, é importante que dêem a ela oportunidade de falar, que tenha contato

com diferentes tipos de textos e histórias.

Por estarem sempre interessadas a ouvirem histórias, esse tipo de

atividade apresenta grande significado no trabalho dos docentes na questão da

alfabetização. Ouvirem histórias, também é uma maneira de perceber como um texto

pode ser constituído, como as situações são apresentadas, é portanto uma forma de

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leitura. A história desperta, entre outros fatores, curiosidades como: quem a fez, como

se fez, como terminará, aguçando o processo intelectual e criativo da criança. Porém é

preciso que haja emoção por parte de quem está contando a história para que a

sedução seja completa. Compartilhando dessa idéia Zaccur (1993) cita:

“..As crianças estão sempre predispostas a ouvir histórias.

Sobretudo se quem conta cria uma atmosfera mágica em que a

voz assume diversos papéis e se colore de emoção.

Como a aguda intuição de quem tem pressa em alcançar o trem

da história, as crianças buscam se apropriar da matéria

necessária ao processo de sua constituição como sujeitos

produtores de linguagem”. (p.42)

A narrativa pode estar também relacionada a linguagem teatral, uma vez

que a criança pode perceber a representação de textos através dos movimentos

corporais e da dinâmica da voz. É importante que a criança perceba essa possibilidade

como mais uma forma de expressão, onde as idéias e sentimentos são externalizados e

conceitos são elaborados.

Sendo assim, através da narrativa a criança pode notar que uma mesma

história pode ser contada de várias maneiras e entonação mostrando-a que é possível

recriar. É essa interação entre criar e recriar que ampliará o potencial de produção da

criança, pela internalização e transformação.

As linguagens, sejam elas verbais ou não –verbais, não são meros

passatempos ou preparação para uma posterior aprendizagem. Elas são formas de

expressão que precisam ter seus espaços na escola desfragmentado, pois o indivíduo

não executa seus sentidos de forma isolada. Ao utilizarem-se da pintura, por exemplo,

as crianças estão valendo-se de diferentes sentidos ao mesmo tempo. É necessário que

a criança tenha acesso aos diferentes tipos de linguagens para que possam perceber

suas habilidades e construir uma identidade.

Todas as formas de expressão são tão importantes quanto a comunicação

escrita, pois uma possibilita o enriquecimento da outra.

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Vejamos agora a linguagem escrita, forma de comunicação muito utilizada

no contexto social. Mas para que a criança tome esse tipo de linguagem como tal, é

preciso que dê significado a leitura e escrita, que assim como seus desenhos, esses

conceitos são construídos através de um processo.

Ao ter contato com diferentes linguagens como foram de expressão, o

significado de leitura e escrita é facilmente percebido por ela. Esses conceitos serão

buscados para que a criança torne sua comunicação mais ampla, uma vez que a

sociedade que vivemos é provida de recursos escritos. Gomes (1993) expõe essa idéia

com o seguinte relato:

“Para acompanhar o processo de aquisição da linguagem escrita,

seria interessante traçar um paralelo entre traçar essa linguagem

e outras. Uma criança que estivesse familiarizada com outras

linguagens compreenderia a escrita como mais um processo,

enquanto construção.” (p.138)

Com isso, percebe-se o quanto é importante para a construção da leitura e

escrita a percepção de que a mesma não se dá de forma isolada, e a criança e os

docentes devem ter clareza disso para que todas as formas de expressão sejam

valorizadas.

Portanto, a elaboração dos conceitos de leitura e escrita está relacionada,

entre outros aspectos, ao seu valor significativo, que pode ser explorado através dos

recursos comunicativos que a sociedade dispõe, proporcionando um trabalho

pedagógico criativo, interativo e enriquecedor.

Sabemos que na vida cotidiana, a criança desde cedo tem contato com a

linguagem escrita. Tão presente em nossa sociedade, seja nas embalagens, jornais,

revistas, outdoors, letreiros das casas comerciais..., elas formam fontes de informações

sobre a escrita. Dependendo do meio em que vivem, será maior ou menor o acesso das

crianças a essas informações.

As crianças ao depararem com este mundo letrado, começam a estimular

sua curiosidade sobre este sistema de representação. Questionamentos são levantados

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e ao longo de um processo, hipóteses são elaboradas por elas, até chegarem ao

conceito de leitura e escrita.

Apesar de cotidianamente, as crianças terem um contato natural com a

linguagem escrita, a escola é um espaço onde deve promover todo um ambiente

alfabetizador, estimulando o desenvolvimento e descobertas sobre a linguagem escrita.

Criando um ambiente alfabetizador, a escola estará possibilitando que todas as crianças

se encontrem mais amplamente com o universo letrado, dando igualdade de

oportunidade para vivenciarem as experiências do contexto de leitura e escrita.

Mas é importante que não se deixe de lado o desenvolvimento das outras

linguagens, que podem facilmente ser interagidas ao sistem de escrita convencional,

dando mais dinamismo e prazer ao aprendizado e a prática pedagógica dos docentes.

As crianças, de um modo geral, passam por etapas de construção do

conhecimento, até que se apropriem da escrita convencional. É preciso que os docentes

percebam esse conhecimento como parte de um processo, para que assim valorize o

desenvolvimento do aluno.

A cada etapa do processo, hipóteses sobre a leitura e a escrita são levantadas e

experimentadas pelas crianças, de acordo com as fontes de informações que recebem

no seu dia-a-dia, dentro ou fora da escola. Uma fonte muito significativa é o seu próprio

nome, tão importante para ela, pois está relacionada a sua identidade. Ao terem a

escrita dos seus nomes expostas na turma, discussões sobre semelhanças e diferenças

dos mesmos são levantadas, apontando-se aí uma grande possibilidade para a

elaboração desses conceitos.

Outras atividades pedagógicas onde ocorram a leitura e a escrita com a

interação dos alunos, também auxiliam na construção do conhecimento . Ao transcrever

um texto, ao elaborar histórias coletivas, enfim ao utilizar-se da leitura e escrita junto às

crianças, o professor dá oportunidades a elas de pensarem e perceberem não só a

escrita das palavras, como a estrutura dos diferentes tipos de textos. Assim, as

palavras aparecem dentro de um contexto, o que dá sentido a linguagem. Ferreiro

(1993) expressa essa idéia da seguinte forma:

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“Os adultos fazem anotações, lêem cartas, comentam os

periódicos, procuram um número de telefone etc. Isto é, produzem

e interpretam a escrita no mais variados contextos. É evidente

que, por si só, a presença isolada do objeto e das ações sociais

pertinentes não transmitem conhecimento, mas ambas exercem

uma influência, criando as condições dentro das quais isto é

possível” (p.43)

Durante o processo de construção de escrita e leitura, as crianças fazem

análises diversas sobre essa linguagem como: quantas e quais letras precisam para

escrever determinada palavra. Na maioria das vezes atribulam em muitas letras para

representarem nomes de coisas grandes ou poucas para algo pequeno. Este é,

portanto, uma fase pela qual a criança passa durante o processo. E assim, vão sendo

testadas as hipóteses sobre a escrita, utilizando sua lógica que muitas vezes não são

interpretadas pelo adulto.

No avanço desse processo, a criança testa outras hipóteses mais

elaboradas, onde percebem que se escreve de acordo com o som da sílaba. Nesta fase

ela cria a hipótese silábica, em que para cada som ela utiliza uma letra ou caractere.

Porém em análise a essas hipóteses, algumas teorias não mais a satisfaz quando

comparada a escrita convencional. Então passa a reestruturá-la.

Posteriormente a criança chega a fase denominada silábico-alfabético,

caracterizado por uma escrita em que a criança ora utiliza uma letra para determinada

sílaba e ora usa duas como representação da sílaba. Surge assim, novos conflitos, pois

a criança busca escrever de acordo com a escrita convencional, observada no seu

cotidiano. Mas a medida que lhe é dada a oportunidade de construção desta forma de

expressão, esses conflitos vão sendo sanados, tornando então, alfabetizado. Ainda da

mesma autora:

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“Imersa em um mundo onde há a presença de sistemas

simbólicos socialmente elaborados, a criança procura

compreender a natureza destas marcas especiais. Para tanto,

não exercita uma técnica específica de aprendizagem. Como

já fez antes com outros tipos de objeto, vai descobrindo as

propriedades dos sistemas simbólicos através de um

prolongado processo construtivo... Utilizamos o marco

conceitual da teoria psicogenética de Piaget para compreender

os processos de construção do conhecimento no caso

particular da linguagem escrita.” (p.43-44)

Até aqui, observamos o sistema de construção do conhecimento de

leitura e escrita passa por um processo gradativo. Porém, isto não ocorre sozinho, é

importante que a criança tenha acesso a determinadas informações sobre o

letramento. Por isso se faz importante o papel da escola, pois ela oferece ou deve

oferecer aos alunos atividades que possibilitem a reflexão sobre as linguagens e

neste caso a linguagem escrita.

É importante que as crianças tenham como já foi dito anteriormente

contato com diferentes tipos de textos e histórias e que o professor deixe claro que

está lendo o que está escrito ou que está apenas contando a história, assim como

propor atividades em que as crianças possam perceber a sonoridade das palavras e

suas semelhanças. A elaboração de histórias coletivas onde a língua aparece como

um todo e não isoladamente, promovem o interesse pela escrita.

Mesmo que as crianças ainda não escrevam alfabeticamente, elas já

na Pré- Escola precisam ser estimuladas a fazê-la, para que reflitam sobre esse

conceito, desenvolvendo a chamada escrita espontânea. Neste momento o

professor terá oportunidade de observar a fase em que a criança se encontra,

participando como mediador do processo.

Portanto, será através da relação de interação entre adultos e crianças,

que elas irão elaborar e reelaborar os conceitos convencionais da leitura e da

escrita, e a Pré-Escola precisa dar oportunidade para que a criança desvende esse

mistério que é para ela, de ler e escrever.

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CAPÍTULO IV - A função social da alfabetização

Mais do que aprender os códigos lingüísticos,alfabetizar-se é tornar-se

um leitor e um escritor, capaz de compreender a função dessa aprendizagem,

fundamental desse mundo letrado em que vivemos.

As crianças, mesmo antes de ingressarem na escola, percebem a

vastidão de palavras e textos que estão a sua volta. Com isso, ela cria uma

curiosidade natural sobre esta forma de expressão, percebendo o seu mundo.

Portanto, nota-se que a leitura e a escrita possuem uma função social

e assim devem ser desenvolvidas, dentro de um contexto. É uma forma de levar o

aluno a compreender o mundo, a refletir e reescrever sobre o que é lido.

Muitos docentes em sua prática pedagógica do trabalho com

alfabetização, ainda não têm consciência dessa função social que a alfabetização

possui, com isso acabam por desenvolverem trabalhos em que a mesma acontecem

por meio de palavras isoladas e cópias, mas isso não basta, é preciso contribuir para

o letramento, que é a base da alfabetização, isto é, a alfabetização efetiva.

Alfabetizar-se não é apenas decodificar a língua, é uma questão que vai muito mais

além, é fomentar o desejo infindável de conhecer as possibilidades que ela nos traz.

Fundação Roberto Marinho (1991) faz a seguinte referência para compartilhar dessa

idéia:

“A Pré-Escola não deve se preocupar em alfabetizar crianças

ensinando a elas os mecanismos do código alfabético. Deve,

sim, fazer com que as crianças descubram todo o prazer que a

escrita e a leitura podem oferecer a seus usuários.” ( p.75)

Esse prazer que a leitura e a escrita podem promover, está

relacionada, entre outros aspectos, em tornar a criança ou o alfabetizando, um ser

ativo, que possam agir e interagir com o mundo.

Porém, muitas vezes o que ocorre é um trabalho de absorção de

memorização, o que está longe de ter significado real para a criança, que busca tão

logo chegar a esse universo lingüístico que a fascina, mas que diante desta prática

pode acabar por distanciá-la. Tal fato ocorre, por que a medida em que não

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dominam a escrita convencional no momento esperado pelo professor, sua auto-

estima e confiança são desestruturadas. Oswald (1996) cita Kramer, o que reafirma

essa idéia:

“Será justo exigir que as crianças permaneçam na aridez da

linguagem mecânica –instrumento -, distanciando-as, ao invés

de aproxima-las, do significado da escrita como arma e

sonho? E o retirar prazer do lido? E o expressar idéia,

sentimentos, desejos? E o penetrar no mundo do simbólico e

também assim conhecer outros povos, outras letras, outras

gentes, o meu Brasil?” (p.28)

Para que a escola cumpra seu papel social, é importante que realize

atividades de modo que desenvolvam tal papel, e a alfabetização é uma delas. Ler e

escrever, como já foi dito, significa compreender o mundo letrado, de forma crítica. O

universo lingüístico é rico e não pode ser empobrecido com textos sem conteúdos,

sem valor significativo, somente para que a criança decore os códigos da língua.

A criança, desde pequena precisa ser estimulada ao hábito da leitura

de maneira reflexiva, pois isso é que lhe promoverá o letramento referido

anteriormente. Por ter a função de informar ou entreter, a linguagem escrita precisa

ser vista como algo de prazer, transformação e conhecimento. O aluno precisa

perceber a utilidade que o poder de leitura escrita têm no seu cotidiano seja para

estar inserido à sua sociedade, seja para interagir na mesma.

Devido a isso, o processo de alfabetização necessita estar em

harmonia com a relidade do educando, para que este sinta o desejo pela mesma

como forma de buscar nela suas potencialidades para refletir, expressar ou

concretizar suas aspirações. Freire (1985) cita:

“...este movimento do mundo à palavra e da palavra do mundo

está sempre presente. Movimento em que a palavra dita do

mundo mesmo através da leitura que ele fazemos. De alguma

maneira, porém, podemos ir mais longe e dizer que a leitura

não é apenas precedida pela leitura do mundo mas por uma

certa forma de “escreve-lo” ou de “reescreve-la”, quer dizer, de

transformá-lo através de nossa prática consciente.” (p.22)

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Levando o aluno a compreender a função social dessa linguagem, a

escola estará colaborando para que este aluno torne-se de fato um leitor – escritor.

Para isso é preciso que lhe ofereçam oportunidades de criar e refletir desde cedo,

mesmo que ainda não saibam ler. Elas necessitam interargir com a leitura, e o

professor pode auxilia-la quanto a isso, trabalhando e explorando junto a elas, bons

textos. São essas experiências desde a primeira infância que irão formar um bom

leitor e sê-lo significa, entre outros fatores, saber do poder que a linguagem

apresenta em nossa sociedade.

A partir do momento que o indivíduo domina a leitura na sua totalidade,

ele possui mais entendimento do seu contexto social de cidadania, com isso

questionamentos são levantados, refletidos e reivindicados, tornando a ter um

percepção crítica do mundo. Perez (2001) expõe essa idéia com o seguinte trecho:

“Aprender a ler, a escrever é, antes de mais nada, aprender a

ler o mundo; compreender seu contexto, localizar-se no

espaço social mais amplo, a partir da relação linguagem –

realidade. O processo de alfabetização se realiza no

movimento dinâmico entre a palavra e mundo: a palavra dita

flui no mundo carregada de significação existencial:

“palavramundo” – a mais perfeita tradução do acontecer

humano”.

Por isso, a questão da alfabetização é um tema que está em foco

constantemente em nosso país, pois a cada ano o índice de analfabetismo aumenta

e os iletrados passam por muitas conseqüências sociais. Embora a escola não

garanta uma condição de vida melhor, esta estará contribuindo para sua

participação cidadã de forma autônoma, possibilitando a luta de uma sociedade

mais democrática.

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CONCLUSÃO

A reflexão sobre as práticas pedagógicas dos docentes é o que conduz

essa pesquisa, para que a Educação Infantil desenvolva um trabalho de qualidade, e

seja visto não como uma preparação para a aprendizagem e sim como a realização

desta aprendizagem. Para que isso ocorra é necessário que alguns aspectos sejam

discutidos e as idéias sobre a função da alfabetização sejam repensadas.

A Educação Infantil possibilita a utilização das diversas linguagens,

com isto o professor tem um vasto recurso para desenvolver um trabalho

significativo e criativo, com a mesma seriedade do caminho sistemático que algumas

práticas oferecem.

Refletir sobre a construção dos conceitos de leitura e escrita na

Educação Infantil, leva a repensar sobre a função da alfabetização e a inter-relação

entre ela e as outras formas de linguagens, seja oral, gestual, musical, plástica,

gráfica..., pois todas são formas de expressão utilizada na relação humana.

O docente precisa ter consciência que a alfabetização é um processo,

e que ocorre dentro e fora da escola, pois o aluno está inserido numa sociedade

letrada e seu contato com a linguagem escrita ocorre a todo momento. Com isso,

não cabe ao professor determinar o tempo que se pode iniciar a criança nesse

processo. A alfabetização não é a repetição insignificante dos códigos da língua e

sim uma forma de expressar-se e ler o mundo.

As linguagens não devem ser desenvolvidas mecanicamente,

formando meros reprodutores. A escola deve propiciar as crianças a possibilidade de

atuarem ativamente diante das situações e conteúdos apresentados. Assim, os

alunos estarão vivendo seus papéis de cidadãos que agem e interagem na

sociedade.

A Educação Infantil precisa ser um espaço acolhedor afetivamente; um

espaço onde a criança possa demonstrar e conhecer seu potencial; onde através da

relação aluno – aluno e aluno – professor, ela tenha oportunidade de construir um

conhecimento; um espaço onde ela possa desenvolver atividade com satisfação.

Enfim, precisa ser um lugar de construção real da aprendizagem.

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