A Conversão de Paulo - John R. W

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A Conversão de Paulo Comentário sobre Atos 9:1-25 por John R. W. Stott 1 – Saulo em Jerusalém, antes da conversão (9:1-2). Saulo, porém, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote, e pediu- lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, caso encontrasse alguns do Caminho, quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém. (Atos 9:1-2) Se perguntarmos o que causou a conversão de Saulo, só existe uma resposta possível. O que sobressai na narrativa é a graça soberana de Deus através de Jesus Cristo. Saulo não se “decide por Cristo”, como poderíamos dizer. Pelo contrário, ele estava perseguindo Cristo. É melhor dizer que Cristo se decidiu por ele e interveio em sua vida. A evidência disso é inquestionável. Consideremos primeiro o estado mental de Saulo na época. Lucas já o mencionou três vezes, sempre como feroz adversário de Cristo e sua igreja. Ele nos conta que, no martírio de Estevão, “as testemunhas deixaram suas vestes ao pés de um jovem chamado Saulo” (7:58), que “Saulo consentia na sua morte” (8:1), e que, em seguida, “Saulo assolava a igreja” (8:3), procurando cristãos casa por casa, arrastando homens e mulheres para a prisão. Agora, Lucas resume a história dizendo que ele estava respirando ainda ameaças de morte contra os discípulos do Senhor (9:1). Ele não tinha mudado desde a morte de Estevão; ele ainda estava na mesma condição mental de ódio e hostilidade. E pior do que isso. É evidente que Saulo esperava segurar os seguidores de Jesus em Jerusalém, a fim de destruí-los ali (8:3). Mas alguns tinham escapado da sua rede, fugindo para Damasco, onde várias sinagogas serviam uma grande colônia judaica. Determinado a perseguir esses discípulos fugitivos em cidades estranhas, Saulo elaborou uma trama para liquidá-los e persuadiu o sumo sacerdote a sancioná-la (9:1b-2). Então, esse inquisidor auto-nomeado deixou Jerusalém armado com a autorização escrita às sinagogas de Damasco para que, caso achasse alguns que eram do Caminho (uma descrição muito interessante dos seguidores de Jesus, que vamos considerar mais parte), assim homens como mulheres os levassem presos para Jerusalém (v. 2). Em linguagem moderna, o sumo-

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A história da conversão do apóstolo Paulo.

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  • A Converso de PauloComentrio sobre Atos 9:1-25

    por

    John R. W. Stott

    1 Saulo em Jerusalm, antes da converso (9:1-2).

    Saulo, porm, respirando ainda ameaas e mortes contra osdiscpulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote, e pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, casoencontrasse alguns do Caminho, quer homens quer mulheres,os conduzisse presos a Jerusalm. (Atos 9:1-2)

    Se perguntarmos o que causou a converso de Saulo, s existeuma resposta possvel. O que sobressai na narrativa a graasoberana de Deus atravs de Jesus Cristo. Saulo no sedecide por Cristo, como poderamos dizer. Pelo contrrio, eleestava perseguindo Cristo. melhor dizer que Cristo se decidiupor ele e interveio em sua vida. A evidncia disso inquestionvel.

    Consideremos primeiro o estado mental de Saulo na poca.Lucas j o mencionou trs vezes, sempre como feroz adversriode Cristo e sua igreja. Ele nos conta que, no martrio deEstevo, as testemunhas deixaram suas vestes ao ps de umjovem chamado Saulo (7:58), que Saulo consentia na suamorte (8:1), e que, em seguida, Saulo assolava a igreja (8:3),procurando cristos casa por casa, arrastando homens emulheres para a priso. Agora, Lucas resume a histriadizendo que ele estava respirando ainda ameaas de mortecontra os discpulos do Senhor (9:1). Ele no tinha mudadodesde a morte de Estevo; ele ainda estava na mesma condiomental de dio e hostilidade.

    E pior do que isso. evidente que Saulo esperava segurar osseguidores de Jesus em Jerusalm, a fim de destru-los ali(8:3). Mas alguns tinham escapado da sua rede, fugindo paraDamasco, onde vrias sinagogas serviam uma grande colniajudaica. Determinado a perseguir esses discpulos fugitivos emcidades estranhas, Saulo elaborou uma trama para liquid-lose persuadiu o sumo sacerdote a sancion-la (9:1b-2). Ento,esse inquisidor auto-nomeado deixou Jerusalm armado com aautorizao escrita s sinagogas de Damasco para que, casoachasse alguns que eram do Caminho (uma descrio muitointeressante dos seguidores de Jesus, que vamos considerarmais parte), assim homens como mulheres os levassem presospara Jerusalm (v. 2). Em linguagem moderna, o sumo-

  • sacerdote lhe concedeu uma ordem de extradio.

    Alguns dos termos que Lucas usa para descrever Saulo antesda sua converso parecem ser deliberadamente escolhido pararetrat-lo como um animal selvagem e feroz. O verbolymainomai, cuja nica ocorrncia no Novo Testamento seencontra em 8:3, em referncia destruio que Saulocausou a Igreja, empregada no Salmo 8:13 (LXX), em relaoa animais selvagens destruindo uma vinha; o seu sentidoespecfico destruio de um corpo por um animal selvagem.Um pouco mais tarde, os cristos de Damasco o descreveramcomo aquele que tinha causado um extermnio em Jerusalm(v. 21), onde o verbo empregado portheo (como em Glatas1:13.23), que C.S.C. Williams, traduz espancar. Continuandoa mesma imagem, J.A. Alexander sugere que a meno deSaulo respirando ameaas e morte (v. 1) era uma aluso aoarfar e ao bufar dos animais selvagens, enquanto que maistarde, de acordo com Calvino a graa de Deus vista noapenas em um lobo to cruel sendo transformado numaovelha, mas tambm em ele assumir o carter de um pastor.

    Esse, portanto, era o homem (mais animal selvagem do que serhumano) que em poucos dias seria um cristo convertido ebatizado. Mas ele no estava propenso a considerar asreivindicaes de Cristo. Seu corao estava cheio de dio esua mente estava envenenada por preconceitos. Em suasprprias palavras, estava demasiadamente enfurecido(26:11). Se o tivssemos encontrado quando saia de Jerusalme (podendo prever o futuro) lhe dissssemos que antes dechegar a Damasco ele se tornaria cristo, ele teria consideradoridcula a idia. Mas foi o que aconteceu. Ele tinha deixado agraa soberana de Deus fora de seus clculos.

    2 Saulo e Jesus: sua converso na estrada deDamasco (9:3-9).

    Mas, seguindo ele viagem e aproximando-se de Damasco,subitamente o cercou um resplendor de luz do cu; e, caindopor terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por queme persegues? Ele perguntou: Quem s tu, Senhor?Respondeu o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues; maslevanta-te e entra na cidade, e l te ser dito o que te cumprefazer. Os homens que viajavam com ele quedaram-seemudecidos, ouvindo, na verdade, a voz, mas no vendoningum. Saulo levantou-se da terra e, abrindo os olhos, novia coisa alguma; e, guiando-o pela mo, conduziram-no aDamasco. E esteve trs dias sem ver, e no comeu nem bebeu.(Atos 9:3-9)

    A segunda evidncia de que a converso se devia apenas agraa de Deus a narrativa de Lucas sobre o que aconteceu.

  • Vamos coletar dados de todos os trs relatos em Atos, numcaptulo posterior vamos compar-los e contrast-los. Saulo esua escolta (no sabemos quem eram) tinham quasecompletado sua viagem de cerca de 240 quilmetros, que deveter levado por volta de uma semana. Quando se aproximaramde Damasco, um lindo osis cercado pelo deserto, perto domeio-dia, de repente, uma luz do cu brilhou ao seu redor (v.3), mais clara do que o sol (26:13). Foi uma experincia togloriosa que ele ficou cegado (v. 8,9) e caiu por terra (v. 4),prostrado aos ps de seu conquistador. Ento uma vozdirigiu-se a ele (em aramaico, 26:14), de forma pessoal e direta:Saulo, Saulo [Lucas mantm o original aramaico, Saoul ],porque me persegues? E, respondendo a pergunta de Saulosobre a identidade daquele que falava, a voz continuou: Eu souJesus, a quem tu persegues (v. 5). Imediatamente, Saulo deveter entendido, pela forma extraordinrio como Jesus seidentificou com os seus seguidores, que persegui-los eraperseguir a Ele, que Jesus estava vivo e que suas afirmaeseram verdadeiras. Assim obedeceu prontamente a ordem delevantar-se e entrar na cidade (v. 6), onde lhe seriam dadasoutras instrues. Enquanto isso, os seus companheiros deviagem, pararam emudecidos, ouvindo a voz, no vendo,contudo, ningum (v. 7). Eles tambm no entenderam aspalavras do orador invisvel (22:9). Mesmo assim, guiando-opela mo, levaram-no para Damasco (v. 8). Ele, que esperavaentrar em Damasco na plenitude do seu orgulho e bravura,como um auto-confiante adversrio de Cristo, estava sendoguiado por outros, humilhado e cego, capturado pelo Cristo aquem se opunha. No podia haver dvidas sobre o queacontecera. O Senhor ressurreto aparecera a Saulo. No eraum sonho ou uma viso subjetiva; era uma apario objetivade Jesus Cristo ressurreto exaltado. A luz que viu era a glriade Cristo, e a voz que ouviu era a voz de Cristo. Cristointerrompeu a sua impetuosa carreira de perseguidor e fez comque se voltasse em direo contrria.

    A terceira evidncia que atribui a converso graa de Deusso as prprias referncias de Paulo. Ele nunca mencionousua converso sem deixar isso bem claro. Aprouve a Deus,escreveu, revelar Seu Filho a mim. Deus tomou a iniciativade acordo com a Sua prpria vontade. E Paulo ilustrou essaverdade com pelo menos trs imagens dramticas. Emprimeiro lugar, Cristo o conquistou, o verbo katalambanotalvez at seja uma sugesto de que Cristo o capturou antesque tivesse a oportunidade de capturar algum cristo emDamasco. Em segundo lugar, ele comparou sua iluminaointerior com a ordem criadora Haja luz ou De trevasresplandecer a luz. E em terceiro lugar, ele escreveu que amisericrdia de Deus transbordou sobre ele, como um rio empoca de cheia, inundando seu corao com f e amor. Assim,a graa de Deus o capturou, iluminou seu corao e o inundou

  • como uma enchente. Essa variedade de imagens lembra-seoutra srie de metforas usada por C.S. Lewis nos ltimoscaptulos de sua autobiografia. Sentindo que Deus o buscavaimplacavelmente, ele O compara com o grande Pescadorfisgando seu peixe, a um gato caando um rato, a um bandode ces de caa encurralando uma raposa e, finalmente, a umenxadrista divino colocando-o na posio mais desvantajosaat que, enfim, reconhece o xeque-mate.

    Entretanto, creditar a converso de Saulo a iniciativa de Deuspode, facilmente, causar mal entendidos, e precisa receber doisesclarecimentos: a graa soberana que conquistou Saulo nofoi repentina (no sentido de que no teria havido preparaoanterior) nem compulsiva (no sentido de que ele no tinhaopo).

    Em primeiro lugar, a converso de Saulo no foi, de maneiraalguma, uma converso repentina, como se diz muitas vezes. certo que a interveno final de Deus foi repentina:Subitamente uma luz do cu brilhou ao seu redor (v. 3), euma voz se dirigiu a ele. Mas essa no foi a primeira vez queJesus Cristo falou com ele. De acordo com a prpria narrativade Paulo, Jesus lhe disse: Dura coisa recalcitrares contra osaguilhes (26:14). Com esse provrbio (que parece ter sidobastante popular na literatura grega e latina) Jesus comparouSaulo a um touro jovem, forte e obstinado, e ele mesmo a umfazendeiro que usa aguilhes para dom-lo. A implicao disso que Jesus estava perseguindo Saulo, usando esporas echicotes, e era duro (doloroso, at mesmo ftil) resistir. Quaiseram esses aguilhes, contra os quais Saulo estava lutando?No sabemos exatamente, mas o Novo Testamento d umasrie de indicaes.

    Com certeza, um aguilho eram as suas dvidas. Seuconsciente rejeitou Jesus como impostor, aquele que forarejeitado por seu prprio povo e que tinha morrido sob amaldio de Deus. Mas, no inconsciente, ele no conseguiadeixar de pensar em Jesus. Ser que j o tinha visto ou sehavia encontrado com ele? Existem aqueles quecategoricamente....negam essa possibilidade, escreve DonaldCoggan, mas eu no posso pertencer a este grupo. Por queno? Porque mais provvel que eles fossem contemporneos,com idades muitos prximas um do outro. Portanto, provvel que ambos tenham visitado Jerusalm e o templo aomesmo tempo, nesse caso sendo no s possvel, como bemprovvel, que o jovem professor da Galilia e o jovem fariseu deTarso tenham olhado nos olhos um do outro, e que Saulotenha ouvido os ensinos de Jesus.

    Outro aguilho deve ter sido Estevo. No era de ouvir falar,pois Saulo estava presente no seu julgamento e execuo. Elehavia visto com os seus prprios olhos o rosto resplandecente

  • de Estevo, como o de um anjo (6:15), e sua corajosa no-resistncia enquanto era apedrejado at a morte (7:58-60). Elehavia ouvido, com seus prprios ouvidos, a defesa eloqente deEstevo diante do Sindrio, talvez a sua sabedoria na sinagoga(6:9-10), sua orao pedindo o perdo para os seus executores,e sua afirmao extraordinria de Jesus como Filho doHomem, em p a destra de Deus (7:56). desse modoEstrevo e no Gamaliel foi o verdadeiro mestre de S. Paulo.Pois Saulo no podia esquecer o testemunho de Estevo. Haviaalgo inexplicvel naqueles cristos algo sobrenatural, algoque falava do poder divino de Jesus. O prprio fanatismo daperseguio de Saulo traa a sua crescente perturbaointerior, pois o fanatismo s encontrado, escreve Jung, emindivduos que esto compensando dvidas secretas.

    Mas os aguilhes de Jesus eram morais e intelectuais. A mconscincia de Saulo provavelmente lhe causou mais confusointerna do que as suas dvidas, pois apesar de poder afirmarter sido impecvel em retido interior, ele sabia que seuspensamentos, suas motivaes e seus desejos no eram purosaos olhos de Deus. O dcimo mandamento, contra a cobia,condenava-o especialmente. Aos outros mandamentos, elepodia obedecer em palavra ou ao, mas a cobia no era noera palavra nem ao, mas uma atitude de corao que nopodia controlar. Assim, ele no tinha poder nem paz. Mas eleno admitiria isso. Ele estava brigando violentamente contra osaguilhes de Jesus e isso o machucava. Sua converso naestrada de Damasco era, portanto, o clmax repentino de umlongo processo em que o Caador dos cus tinha estado emseu encalo. Curvou-se a dura cerviz auto-suficiente. O touroestava domado.

    Se a graa de Deus no era repentina, ela tambm no eracompulsiva. Ou seja, o Cristo que lhe apareceu e falou com eleno o esmagou. Ele o humilhou, fazendo-o cair ao cho, masEle no violentou sua personalidade. Ele no o reduziu a umrob nem o forou a realizar algumas coisas por meio de umtipo de transe hipntico. Pelo contrrio, Jesus lhe fez umapergunta penetrante: Por que me persegues?, apelando,assim, sua razo e conscincia, a fim de conscientiz-lo datolice do mal que estava fazendo. Jesus ento lhe ordenou quelevantasse e que fosse cidade, onde receberia instrues. ESaulo no estava dominado pela viso e pela voz a ponto deperder a fala, ficando incapaz de responder. No, ele respondeua pergunta de Cristo com duas perguntas: primeira, Quem stu, Senhor? (v. 5) e segunda, Que devo fazer, Senhor?(22:10). Sua resposta foi racional, consciente e livre. A palavraKyrios (Senhor) pode ter significado no mais do quesenhor. Mas, uma vez que estava consciente de que estavafalando com Jesus, e que Ele tinha ressurgido dentre osmortos, a palavra j deveria ter comeado a adquirir o sentido

  • teolgico que teria mais tarde nas cartas de Paulo.

    Resumindo, a causa da converso de Saulo foi graa, a graasoberana de Deus. Mas a graa soberana uma graa graduale suave. Gradualmente, e sem violncia. Jesus picou a mente ea conscincia de Saulo com os Seus aguilhes. Ento Ele serevelou atravs da luz e da voz, no para esmag-lo, mas deum modo que Saulo pudesse responder livremente. A graadivina no atropela a personalidade humana. Pelo contrrio,faz com que os seres humanos sejam verdadeiramentehumanos. o pecado que encarcera; a graa liberta. Portanto,a graa de Deus nos liberta da escravido do nosso orgulho,preconceito e egocentrismo, fazendo-nos capaz de nosarrepender e crer. No podemos fazer outra coisa, senoengrandecer a graa de Deus que teve misericrdia de umfantico enfurecido como Saulo de Tarso, e de criaturas toorgulhosas, rebeldes e obstinadas como ns.

    C.S. Lewis, cuja conscincia de ser perseguidor por Deus j foimencionada, tambm expressou seu sentimento de liberdadeem sua resposta a Deus. Conscientizei-me de que estava emapuros, segurando ou barrando alguma coisa. Ou, se vocquiser, que eu estava vestindo alguma roupa rgida, como umespartilho, ou talvez uma armadura, como se fosse umalagosta. Eu senti, naquele exato momento, que eu tinhaganhado uma liberdade de escolha. Eu poderia abrir a porta oumant-la fechada; poderia tirar aquela armadura oupermanecer com ela. Nenhuma escolha era obrigatria;nenhuma ameaa ou promessa estava ligada a ela; apesardisso, sabia que abrir a porta ou sair da armadura significariao incalculvel. A escolha parecia solene mas ela tambmparecia estranhamente no-emocional. Eu no era movido pordesejos nem medos. Em certo sentido, no era movido porcoisa alguma. Decidi abrir, tirar, soltar as rdeas. Disse euescolho, mas ao mesmo tempo que no parecia ser, mesmo,possvel fazer o contrrio. Por outro lado, eu no via nenhumestmulo. Voc poderia argumentar que no era um agentelivre, mas estou mais inclinado a pensar que foi um dos atosmais livres que realizei. Necessidade no precisa ser ocontrrio de liberdade, e talvez o homem seja mais livrequando, em vez de procurar motivos, ele pode dizer, eu sou oque fao.

    3 Paulo e Ananias: Sua recepo na igreja deDamasco (9:10-25).

    Ora, havia em Damasco certo discpulo chamado Ananias; edisse-lhe o Senhor em viso: Ananias! Respondeu ele: Eis-meaqui, Senhor. Ordenou-lhe o Senhor: Levanta-te, vai rua

  • chamada Direita e procura em casa de Judas um homem deTarso chamado Saulo; pois eis que ele est orando; e viu umhomem chamado Ananias entrar e impor-lhe as mos, paraque recuperasse a vista. Respondeu Ananias: Senhor, a muitosouvi acerca desse homem, quantos males tem feito aos teussantos em Jerusalm; e aqui tem poder dos principaissacerdotes para prender a todos os que invocam o teu nome.Disse-lhe, porm, o Senhor: Vai, porque este para mim umvaso escolhido, para levar o meu nome perante os gentios, e osreis, e os filhos de Israel; pois eu lhe mostrarei quanto lhecumpre padecer pelo meu nome. Partiu Ananias e entrou nacasa e, impondo-lhe as mos, disse: Irmo Saulo, o SenhorJesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, enviou-me para que tornes a ver e sejas cheio do Esprito Santo. Logolhe caram dos olhos como que umas escamas, e recuperou avista: ento, levantando-se, foi batizado. E, tendo tomadoalimento, ficou fortalecido. Depois demorou- se alguns diascom os disc!pulos que estavam em Damasco; e logo nassinagogas pregava a Jesus, que este era o filho de Deus. Todosos seus ouvintes pasmavam e diziam: No este o que emJerusalm perseguia os que invocavam esse nome, e para issoveio aqui, para os levar presos aos principais sacerdotes?Saulo, porm, se fortalecia cada vez mais e confundia osjudeus que habitavam em Damasco, provando que Jesus era oCristo. Decorridos muitos dias, os judeus deliberaram entre simat- lo. Mas as suas ciladas vieram ao conhecimento deSaulo. E como eles guardavam as portas de dia e de noite paratirar-lhe a vida, os discpulos, tomando-o de noite, desceram-no pelo muro, dentro de um cesto. (Atos 9:10-25)

    Segundo a histria com Lucas a conta, passamos sconseqncias da converso de Saulo. maravilho ver atransformao que comeou a aparecer imediatamente emsuas atitudes, em seu carter e, de modo especial, em seurelacionamento com Deus, com a igreja crist e com o mundoincrdulo.

    Em primeiro lugar, Saulo tinha uma nova referncia para comDeus. Ananias, instrudo a ir e ministrar ao novo convertido,foi informado de que ele estava orando (v. 11). Trs diashaviam passado desde o seu encontro com o Senhorressurreto, durante os quais nada comeu nem bebeu (v. 9).Supe-se, ento, que passou aqueles dias em jejum e orao,ou seja, abstendo-se de alimentos a fim de dedicar-se orao.No que ele no tivesse jejuado ou orado antes. Como o fariseuda parbola de Jesus, ele deve ter subido ao tempo para orar e,como ele, pode ter clamado jejuo duas vezes por semana.Mas agora, atravs de Jesus e de Sua cruz, Saulo frareconciliado com Deus e, conseqentemente, gozava de umnovo acesso direto ao Pai, desde que o Esprito haviatestificado com o seu esprito de que ele era filho de Deus. Qual

  • era o contedo de suas oraes? Podemos supor que ele oroupelo perdo de todos os seus pecados, especialmente o de serauto-suficiente e o de perseguir cruelmente Jesus e seusseguidores; pediu sabedoria para discernir o que Deus queriaque ele fizesse agora; e poder para exercer o ministrio querecebesse, qualquer que fosse. Sem dvida alguma, suasoraes tambm incluam adorao, ao derramar sua alma emlouvor, por Deus ter sido misericordioso com ele. A mesmaboca, que havia respirado ameaas de morte contra osdiscpulos do Senhor (v. 1), agora respirava louvores e preces aDeus. O rugido do leo foi transformado no balido de umcordeiro.

    Ainda hoje, o primeiro fruto da converso sempre uma novaconscincia da paternidade de Deus. Quando o Esprito noscapacita a clamar Aba, Pai, juntamente com a gratido pelasua misericrdia e o desejo de conhec-lo, agrad-lo e servi-lomelhor. Isso piedade, e nenhuma converso genuna se noresultar em uma vida que agrade a Deus. Em segundo lugar Saulo passou a ter um novo relacionamentocom a igreja, a qual foi apresentado por Ananias. No nossurpreende que William Barclay chame Ananias de um dosheris esquecidos da igreja crist. princpio, porm, quandoordenado ir at Saulo, Ananias vacilou. Ele estava muitorelutante em fazer o trabalho de follow-up (para usar umjargo atual), e sua hesitao era compreensvel. Ir at Sauloseria o mesmo que se entrega polcia. Seria suicdio. Pois jtinha ouvido falar a respeito dele e dos males que havia feito aopovo de Jesus em Jerusalm (v. 13). Ananias tambm sabiaque Saulo viera a Damasco com autorizao dos principaissacerdotes para prender todos os crentes (v. 14). Mas Jesusrepetiu Sua ordem, dizendo Vai!; e acrescentou que Saulo eraum instrumento escolhido para levar o Seu nome perante osgentios e reis, bem como perante os filhos de Israel (v.15) umministrio que lhe traria muito sofrimento por amor a essemesmo nome (v. 16).

    Assim, Ananias foi at a rua Direita (v. 11), que ainda aprincipal rua que vai de leste a oeste de Damasco, e entrou nacasa de Judas, no quarto em que estava Saulo. L ele lheimps as mos (v. 17), talvez para identificar-se com Sauloenquanto orava pela cura de sua vista e pela plenitude doEsprito Santo para dar-lhe poder para exercer seu ministrio.E mais, desconfio que essa imposio de mos foi um gesto deamor por um homem cego, que no podia ver o sorriso do rostode Ananias, mas podia sentir a presso de suas mos. Aomesmo tempo, Ananias chamou-o de Saulo, irmo, ouSaulo, meu irmo. Sempre sou tocado por essas palavras.Podem muito bem ter sido as primeiras palavras que Sauloouviu de lbios cristos aps a sua converso, e eram palavrasde boas-vindas fraternais. Devem ter sido msica para os seus

  • ouvidos. O qu? Ser que o arquiinimigo estava sendo recebidocomo irmo? Ser que o terrvel fantico estava sendo recebidocomo membro da famlia? isso mesmo. Ananias explicoucomo o mesmo Jesus que lhe apareceu na estrada, o tinhaenviado a ele para que pudesse recuperar sua vista e ficarcheio do Esprito Santo (v. 17). Imediatamente lhe caram dosolhos como que umas escamas, e tornou a ver (aqui o DoutorLucas emprega uma terminologia mdica). Depois disso, ele foibatizado (v. 18), provavelmente por Ananias, que assim orecebeu de forma visvel e pblica na comunidade de Jesus. Sdepois, Saulo se alimentou, ento, aps trs dias de jejum,sentiu-se fortalecido (v. 19a). Ser que Ananias lhe preparou eserviu uma refeio, da mesma forma como batizou? Nessecaso, ele reconheceu que o recm-convertido tinhanecessidades fsicas, alm das espirituais.

    A prxima coisa que ficamos sabendo que Saulo permaneceuem Damasco alguns dias com os discpulos (v. 19b). Ele sabiaque agora pertencia quele grupo que havia tentado destruiranteriormente, e mostrou isso claramente, ao pregar nassinagogas a Jesus, afirmando que era o Filho de Deus (v. 20). incrvel o fato de ele ter sido aceito. Tanto que o povo o ouviue ficou atnito, perguntando se ele no era o que exterminavaem Jerusalm aos que invocavam o nome de Jesus e que vieraa Damasco com o fim de os levar amarrados aos principaissacerdotes (v. 21). Lucas no nos conta como essas perguntascheias de preocupao foram respondidas, mas talvez Ananiastenha ajudado a tranquiliz-los. Enquanto isso, Saulo mais emais se fortalecia como testemunha e apologista, a ponto deconfundir os judeus...em Damasco demonstrando que Jesusera o Cristo (v. 22).

    Entretanto, Saulo no ficou entre os cristos de Damasco.Lucas descreve como ele deixou a cidade decorridos muitosdias (v. 23a). Essa referncia ao tempo intencionalmentevaga, mas sabemos por Glatas 1:17-18 que esses ltimosdias somaram trs anos e que durante esse perodo Pauloesteve na Arbia. Ele no precisou viajar muito, pois, naquelapoca, o extremo noroeste da Arbia ficava perto de Damasco.Mas porque ele foi para a Arbia? Alguns acham que ele foipregar, mas outros so convincentes que ele precisava de umtempo para meditar, e que Jesus teria revelado a ele aquelasverdades caractersticas da solidariedade judaco-gentia nocorpo de Cristo que ele depois chamaria de o mistrio dado aconhecer atravs de revelao, meu evangelho e oevangelho...(que) recebi...mediante revelao de Jesus Cristo.Alguns chegam a conjecturar que aqueles trs anos na Arbiaforam uma compensao pelos trs anos que os outrosapstolos haviam passado com Jesus, mas ele no. Em todo ocaso, depois desse perodo, ele voltou para Damasco; porm,no por muito tempo: pois os judeus deliberaram entre si a

  • tirar-lhe a vida (v. 23b) e dia e noite guardavam...as portas,para o matarem (v. 24). De alguma forma o plano deles chegouao conhecimento de Saulo, e ento seus seguidores umainteressante indicao que sua liderana j era reconhecida eque tinha atrado seguidores, colocando-o num cesto,desceram-no pela muralha (v. 25), e ele fugiu para Jerusalm.

    Fonte: STOTT, John. A Mensagem de Atos. Trad. MarkusAndr Hediger Lucy Yamakami. 1ed. So Paulo: ABU Ed.,1994. 464p.; pp. 188-198

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