A Crise Dos Paradigmas

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RESENHAS Eduardo Henrique de Matos Lima UFVJM Diamantina/MG ______________________________________________________________________ A Crise dos Paradigmas e a Educação Zaia Brandão - org. A Crise de Paradigmas e o surgimento da Modernidade Danilo Marcondes Os paradigmas podem ser vistos então como 'realizações passadas dotadas de caráter exemplar' (KUHN, 1962, p. 218). E, mais adiante, temos que 'um paradigma é aquilo que os membros de uma comunidade científica partilham e, inversamente, uma comunidade científica consiste em homens que partilham um paradigma' (id., p. 219)." (pag. 17) "Uma crise de paradigmas caracteríza-se assim como uma mudança conceitual, ou uma mudança de visão de mundo, consequência de uma insatisfação com os modelos anteriores predominantes de explicação". (pag. 17) Descartes = subjetividade - cógito; Kant = sujeito transcendental (estrutura universal da subjetivdade - relação cognitiva com a realidade: sensibilidade pura, intuição pura, entendimento, capacidade de formular juízos; Iluminismo = consciência individual, autônoma em sua capacidade de conhecer o real: conhecimento, ciência e educação; Romantismo = sentimento e intuição como formas da relação entre o homem e a realidade - subjetividade em outro sentido; Hegel = intersubjetividade - linguagem (sistema simbólico), trabalho (interação com o mundo) e ação recíproca (interação entre consciências); Marx = transformação da sociedade, eliminar o domínio de uma classe sobre as outras, não apenas pela Educação e pela Ciência; Nietzschen e Kierkegaard = angústia e desespero no questionamento do sentido da existência humana; A Crise dos Paradigmas e a Crise do Conceito de Paradigma Carlos Alberto Plastino Platão - paradigma é um modelo, idéia. Tb ver, visão, como aspectos da coisa vista. Thomas Kuhn - paradigma é o próprio conhecimento. "(...) parece-me necessário discutir não apenas a questão da crise de determinado paradigma, mas a crise do conceito mesmo de paradigma, o que significa questionar a especialização das disciplinas científicas e sua produção, isto é, as problemáticas social, econômica, política e cultural das sociedades nas quais esta produção se realiza. A questão central que atravessa a crise do paradigma da Ciência moderna é a das relações entre o ser e o advir ou, pode-se dizer, entre a permanência e a mudança." (pag. 35) "Esta perspectiva iluminista foi hoje abandonada pela Física e pelas Ciências da natureza em geral. Liberados da fascinação de uma racionalidade fechada, esses saberes não mais sustentam a necessidade de negar a possibilidade do novo e do diverso, em nome de uma lei universal e

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RESENHAS Eduardo Henrique de Matos Lima

UFVJM – Diamantina/MG

______________________________________________________________________

A Crise dos Paradigmas e a Educação

Zaia Brandão - org.

A Crise de Paradigmas e o surgimento da Modernidade

Danilo Marcondes

Os paradigmas podem ser vistos então como 'realizações passadas dotadas de caráter exemplar'

(KUHN, 1962, p. 218). E, mais adiante, temos que 'um paradigma é aquilo que os membros de

uma comunidade científica partilham e, inversamente, uma comunidade científica consiste em

homens que partilham um paradigma' (id., p. 219)." (pag. 17)

"Uma crise de paradigmas caracteríza-se assim como uma mudança conceitual, ou uma

mudança de visão de mundo, consequência de uma insatisfação com os modelos anteriores

predominantes de explicação". (pag. 17)

Descartes = subjetividade - cógito;

Kant = sujeito transcendental (estrutura universal da subjetivdade - relação cognitiva com a

realidade: sensibilidade pura, intuição pura, entendimento, capacidade de formular juízos;

Iluminismo = consciência individual, autônoma em sua capacidade de conhecer o real:

conhecimento, ciência e educação;

Romantismo = sentimento e intuição como formas da relação entre o homem e a realidade -

subjetividade em outro sentido;

Hegel = intersubjetividade - linguagem (sistema simbólico), trabalho (interação com o mundo) e

ação recíproca (interação entre consciências);

Marx = transformação da sociedade, eliminar o domínio de uma classe sobre as outras, não

apenas pela Educação e pela Ciência;

Nietzschen e Kierkegaard = angústia e desespero no questionamento do sentido da existência

humana;

A Crise dos Paradigmas e a Crise do Conceito de Paradigma

Carlos Alberto Plastino

Platão - paradigma é um modelo, idéia. Tb ver, visão, como aspectos da coisa vista.

Thomas Kuhn - paradigma é o próprio conhecimento.

"(...) parece-me necessário discutir não apenas a questão da crise de determinado paradigma, mas

a crise do conceito mesmo de paradigma, o que significa questionar a especialização das

disciplinas científicas e sua produção, isto é, as problemáticas social, econômica, política e

cultural das sociedades nas quais esta produção se realiza.

A questão central que atravessa a crise do paradigma da Ciência moderna é a das relações entre o

ser e o advir ou, pode-se dizer, entre a permanência e a mudança." (pag. 35)

"Esta perspectiva iluminista foi hoje abandonada pela Física e pelas Ciências da natureza em

geral. Liberados da fascinação de uma racionalidade fechada, esses saberes não mais sustentam a

necessidade de negar a possibilidade do novo e do diverso, em nome de uma lei universal e

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imutável. O conhecimento da ordem necessária, dada desde sempre e capaz de exprimir-se em um

sistema fechado, deixa lugar à possibilidade de um conhecimento parcial de um mundo aberto, de

cuja construção o homem participa (Prigogine & Stengers, 1990, p. 302 e ss.). Assim o tempo, o

sujeito e a história se transformam em fatores imprescindíveis para a compreensão do ser e da

transformação, parâmetros iniludíveis para a construção do conhecimento." (pag. 36)

"(...) não é de uma crise dos paradigmas que devemos falar, porque não se trata de substituir um

modelo que se verifica incapaz de refletir uma realidade dada. O que enfrentamos é a crise do

conceito mesmo de paradigma, na medida em que, não existindo uma realidade dada - entendida

como sistema fechado - já não se trata de discutir a maior ou menor pertinência de um modelo

(paradigmas) que a reflita, mas é preciso criticar a pertinência do próprio conceito de paradigma.

Esta segunda perspectiva inclui a crítica do conceito de crise dos paradigmas, já que, ao contrário

do modelo positivista, essa crise não deriva da inadequação dos paradigmas a uma realidade, mas

de sua incompatibilidade com nossas escolhas éticas. Afirmar que não existe uma verdade

necessária que cabe à Ciência conhecer, não significa negar a possibilidade ou a necessidade de

uma racionalidade que cabe construir. Esta, entretanto, não se define por uma relação a

determinada ordem dada desde sempre, mas deve ser construída em íntima relação com os

objetivos em torno dos quais se desenvolvem as relações dos homens entre si e com o mundo

natural. Assim sendo, a racionalidade a ser construída passa necessariamente pelo crivo de nossas

opções éticas." (pag. 48-49)

A Crise dos Paradigmas em Educação na Ótica da Psicologia

Maria A. C. Mamede Neves

Pag. 59 - sobre um novo ser...

"(...) um ser de uma afetividade intensa e instável, que sorri, ri, chora, um ser ansioso e

angustiado, um ser gozador, ébrio. Estático, violento, furioso amante, um ser inadido pelo

imaginário, um ser que conhece a morte mas que não pode acreditar nela, um ser que segrega o

mito e a magia, um ser possuído pelos espíritos e pelos deuses, um ser que se alimenta de ilusões

e de quimeras, um ser subjetivo, cujas relações com o mundo objetivo são sempre incertas, um

ser sujeito ao erro a à vagabundagem, um ser úbrico que produz desordem. (...) Sendo assim, é

necessário pensar que o desfraldamento do imaginário, que as derivações mitológicas e mágicas,

que as confusões da subjetividade, que a multiplicação dos erros e a ploriferação da desordem,

longe de terem constituído desvantagens para o Homo Sapiens, estão, muito pelo contrário,

ligadas aos seus prodigiosos desenvolvimentos (...) (apud Morin, 1991, pp. 108-9, grifo do

original)

MORIN, E. O Paradigma Perdido - a Natureza Humana. Sintra, Publicações Europa-América,

1991.

Paradigmas em Crise e a Educação

Pedro Benjamim Garcia

"Os acontecimentos se precipitam e as nossas categorias se tornaram pobres para entendê-los.

Queda do muro de Berlim, fracasso do socialismo real, fundamentalismo iraniano, AIDS,

neonazismo, intolerância étnica... Implosão dos grandes sistemas, dos modelos, dos blocos.

Fragmentação a que se deu o nome de pós-moderno." (pag. 61)

"Terá chegado o momento de nos assumirmos, sem pai nem mãe ideológicos, com todos os riscos

que isto implica. E talvez seja este o nosso temor, o nosso desalento." (pag. 63)

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"(...) a Educação tem um papel a desempenhar. (...)

Trata-se de 'remar contra a maré', vale dizer, contra o modelo de sociedade que temos, com a sua

ética excludente, competitiva e predatória. Porém, mais do que buscar se opor, perspectiva em

que o outro dá as cartas, e nós estamos sempre correndo atrás, trata-se de CONSTRUIR através

de processos educativos, e neles mesmos, formas solidárias, igualitárias e plurais de convivência

entre os homens." (pag. 67)

(...) a "crise de paradigmas" é uma questão limitada a um pequeno círculo intelectual.

Provavelmente, 95% da população nem sabe o que significa paradigma e faz do seu dia-a-dia

uma luta cotidiana pela sobrevivência. Sem nenhum populismo, há muito a aprender neste

contato. E aprender se juntando, somando forças, buscando juntos soluções coletivas. Sem elas,

não há saída." (pag. 68)

CASTORIADIS, C. O Mundo Fragmentado - As Encruzilhadas do Labirinto/3. Paz e Terra, Rio

de Janeiro.

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Um Discurso Sobre as Ciências

Boaventura de Sousa Santos

O Paradigma Dominante

"O modelo de racionalidade que preside à ciência moderna constitui-se a partir da revolução

científica do século XVI e foi desenvolvido nos séculos seguintes basicamente no domínio das

ciências naturais.

(...)

Sendo um modelo global, a nova racionalidade científica é também um modelo totalitário, na

medida em que nega o caráter racional a todas as formas de conhecimento que se não pautarem

pelos seus peincípios epistemológicos e pelas suas regras metodológicas. (...) Está

consubstanciada, com crescente definição, na teoria heliocêntrica do movimento dos planetas de

Copérnico, nas leis de Kepler sobre as órbitas dos planetas, nas leis de Galileu sobre a queda dos

corpos, na grande síntese da ordem cósmica de Newton e finalmente na consciência filosófica que

lhe conferem Bacon e sobretudo Descartes." (pag. 21-22)

(...)

A natureza é tão só extensão e movimento; é passiva, eterna e reversível, mecanismo cujos

elementos se podem desmontar e depois relacionar sob a forma de lei; não tem qualquer outra

qualidade ou dignidade que nos impeça de desvendar os seus mistérios, desvendamento que não é

contemplativo, mas antes activo, já que visa conhecer a natureza para a dominar e controlar. (pag.

22)

(...)

A matemática fornece à ciência moderna, não só o instrumento privilegiado de análise, como

também a lógica da investigação, como ainda o modelo de representação da própria estrutura da

matéria. (...) Deste lugar central da matemática na ciência moderna derivam duas consequências

principais. Em primeiro lugar, conhecer significa quantificar. O rigor científico afere-se pelo rigor

das medições. (...) O que não é quantificável é cientificamente irrelevante. Em segundo lugar, o

método científico assenta na redução da complexidade. (...) Conhecer significa dividir e

classificar para depois poder determinar relações sistemáticas entre o que se separou. (pag. 27-28)

(...)

As leis da ciência moderna são um tipo de causa formal que privilegia o como funciona das coisas

em detrimento de qual o agente ou qual o fim das coisas. É por esta via que o conhecimento

científico rompe com o conhecimento do senso comum. (pag. 30)

(...)

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No século XVIII este espírito precursor é ampliado e aprofundado e o fermento intelectual que

daí resulta, as luzes, vai criar as condições para a emergência das ciências sociais no século XIX.

A consciência fillsófica da ciênca moderna, que tivera no racionalismo cartesiano e no empirismo

baconiano as suas primeiras formilações, veio a condensar-se no positivismo oitocentista. (pag;

33)

(...)

- as ciências sociais surgem com base no modelo mecanicista, mas de duas formas distintas: a)

tendo as as ciências naturais como referência e desenvolvimento metodológico, sujeita ao

positivismo (física social); b) reinvindica um estatuto epistemológico e metodológico próprio,

com base na especificidade do ser humano e sua distinção polar em relação à natureza.

A segunda vertente argumenta que a ação humana é radicalmente subjetiva, não pode ser descrito

e explicado simplesmente com base em características exteriores e objetiváveis.

(...) tem de compreender os fenômenos sociais a partir das aitudes mentais e do sentido que os

agentes conferem às suas ações, para o que é necessário utilizar métodos de investigação e

mesmo critérios epiistemológicos deferentes dos correntes nas ciências naturais, métodos

qualitativos em vez de quantitativos, com vista à obtenção de um conhecimento intersubjetivo,

descritivo e compreensível, em vez de um conhecimento objetivo, explicativo nomotético.

Esta concepção de ciência social reconhece-se numa postura antipositivista e assenta na tradição

filosófica da fenomenologia e nela convergem diferentes variantes (...) Contudo, numa reflexão

mais aprofundada, esta concepção,(...) revela-se mais subsidiária do modelo de racionalidade das

ciências naturais do que parece. Partilha com este modelo a distinção natureza/ser humano e tal

como ele tem da natureza uma visão mecanicista à qual contrapõe, com evidência esperada, a

especificidade do ser humano.(...) ambas as concepções de coência social pertencem ao

paradigma da ciência moderna, ainda que a concepção mencionada em segundo lugar represente,

dentro deste paradigma, um sinal de crise e contenha alguns dos componentes da transição para

um outro paradigma científico." (pag. 38-39)

A Crise do Paradigma Dominante

"A crise do paradigma dominante é o resultado interactivo de uma pluralidade de condições.

Distingo entre condições sociais e condições teóricas." (pag. 41)

Condição teórica:

1) o aprofundamento do conhecimento permitiu ver a fragilidade dos pilares em que se funda - a

relatvidade de Einstein é um exemplo;

2) a mecânica quantica - Heisenberg e Bohr demonstram que não é possível observar ou medir

um objeto sem interferir nele, sem o alterar; não conhecemos do real senão a nossa intervenção

nele - princípio da incerteza de Heisenberg;

3) o teorema da incompletude e os teoremas sobre a impossibilidade de encontrar dentro de um

dado sistema formal a prova da sua consistência - as investigações de Gödel vêm demonstrar que

o rigor da matemática carece ele próprio de fundamento;

4) os avaços do conhecimento nos domínios da microfísica, da química e da biologia a partir da

década de 1960 - a lógica de auto-organização numa situação de não-equilíbrio de Prigogine; Em

vez da eternidade, a história; em vez do determinismo, a imprevisibilidade; em vez do

mecanicismo, a interpenetração, a esponraneidads e a auto-organização; em vez da

reversibilidade, a irreversibilidade e a evolução; em vez da ordem, a desordem; em vez da

necessidade, a criatividade e o acidente;

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"Mas a importância maior dessa teoria está em que ela não é um fenômeno isolado. Faz parte de

um movimento convergente, pujante sobretudo a partir da última década, que atravessa as várias

ciências da natureza e até as ciências sociais, um movimento de vocação transdisciplinar que

Jantsch designa por paradigma da auto-organização e que tem aflorações, entre outras, na teoria

de Prigogine, na sinergética de Haken, no conceito de hiperciclo e na teoria da origem da vida dd

Eigen, no conceito de autopoiesis de Maturana e Varela, na teoria das catástrofes dd Thom, na

teoria da evolução de Jantsch, na teoria da 'ordem implicada' de David Bohm ou na teoria da

matriz-S de Geoffrey Chew e na filosofia do 'bootstrap' que lhe subjaz." (pag. 48-49)

Reflexões epistemológicas:

1) são questionados o conceito de lei e o conceito de causalidade que lhe está associado. As leis

têm um caráter probabilístico, aproximativo e provisório, bem expresso no princípio da

falsificabilidade de Popper. Mas principalmente, a simplicidade das leis constitui uma

simplificação arbitrária da realidade.

A noção de lei tem vindo a ser parcial e sucessivamente substituída pelas noções de sistema, de

estrutura, de modelo e, por último, pela noção de processo.

O conceito de causalidade adequa-se bem a uma ciência que visa intervir no real e que mede o

seu êxito pelo âmbito dessa intervenção. É reconhecido que a causalidade é apenas uma das

formas do determinimo e que por isso tem um lugar limitado, ainda que insubstituível, no

conhecimento científico. Na biologia e na microfísica o causalismo vem perdendo terreno em

favor do finalismo.

2) o conhecimento científico moderno é um conhecimento desencantado e triste que transforma a

natureza num autómato, ou, como diz Prigogine, num interlocutor terrivelmente estúpido. O

conhecimento ganha em rigor o que perde em riqueza e a retumbância dos êxitos da intervenção

tecnológica esconde os limites da nossa compreensão do mundo e reprime a pergunta pelo valor

humano do afã científico assim concebido. Qualitativos e não somente quantitativos (limitados).

Condições sociais:

A ciência ganhou em rigor nos últimos anos mas perdeu em capacidade de auto-regulação.

"As idéias da autonomia da ciência e do desinteresse do conhecimento científico, que durante

muito tempo constituíram a ideologia espontânea dos cientistas colapsaram perante o fenômemo

global da industrialização da ciência a partir sobretudo das décadas de trinta e quarenta." (pag.

56-57)

O poder econômico, social e político passaram a ter um papel decisivo na definição das

prioridades científicas.

A comunidade científica estratificou-se, as relações de poder entre cientistas tornaram-se mais

autoritárias e desiguais; e a proletarização de grande parte dos cientistas. A investigação capital-

intensiva tornou impossível o livre acesso aos equipamentos, resultando na desiqualdade no

desenvolvimento científico e tecnológico entre os países centrais e os países periféricos.

A crise do paradigma possibilita uma "busca de uma vida melhor a caminho de outras paragens

onde o otimismo seja mais fecundo e a racionalidade mais plural e onde finalmente o

conhecimento volte a ser uma aventura encantada." (pag. 58)

O Paradigma Emergente

Especulações a partir dos sinais que a crise do paradigma atual emite;

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Pontos de convergência e diferenças nas sínteses sobre o novo paradigma:

Ilya Prigogine – “nova aliança” e metamorfose da ciência;

Fritjof Capra – “nova física” e o Taoismo da física;

Eugene Wigner – “mudança do segundo tipo”;

Erich Jantesch – o paradigma da auto-organização;

Daniel Bell – da sociedade pós-idustrial;

Habermas – da sociedade comunicativa;

Boaventura – conhecimento prudente para uma vida decente.

“... o paradigma a emergir dela (revolução científica) não pode ser apenas um paradigma

científico (o paradigma de um conhecimento prudente), tem de ser também um paradigma social

(o paradigma de uma vida decente)”. (p. 60)

1. Todo o conhecimento científico-natural é científico-social

"A distinção dicotômica entre ciências naturais e ciências sociais deixou de ter sentido e

utilidade." (pag. 61)

Os avanços recentes da física e da biologia põem em causa a distinção entre o orgânico e

inorgânico, seres vivos e matéria inerte, humano e não humano.

Reconhecer os conceitos de historicidade e de processo, de liberdade, de auto-determinação e de

consciência;

Conhecimento não dualista, um conhecimento que se funda na superação das distinções

familiares e obvias – natureza / cultura, natural / artificial, vivo / inanimado, mente / matéria,

observador / observado, subjetivo / objetivo, coletivo / individual, animal / pessoa – ciências

naturais / ciências sociais;

“... a medida que as ciências naturais se aproximam das ciências sociais estas aproximam-se das

humanidades. O sujeito, que a ciência moderna lançara na diáspora do conhecimento irracional,

regressa investido da tarefa de fazer erguer sobre si uma nova ordem científica”. (p. 69)

"(...) Não virá longe o dia em que a física das partículas nos fale do jogo entre as partículas, ou a biologia nos fale do teatro molecular ou a astrofísica do texto celestial, ou ainda a química da biografia das reações químicas. Cada uma destas analogias desvela uma ponta do mundo. (...) Jogo, palco, texto ou biografia, o mundo é comunicação e

por isso a lógica existencial da ciência pós-moderna é promover a „situação comunicativa‟ tal

como Habermas a concebe. Nessa situação confluem sentidos e constelações de sentidos vindos,

tal qual rios, das nascentes das nossas práticas locais e arrastando consigo as areias dos nossos

percursos moleculares, individuais, comunitários, sociais e planetários. Não se trata de uma

amálgama de sentido (que não seria sentido mas ruído), mas antes de interações e de

intertextualidades organizadas em torno de projetos locais de conhecimento indiviso”. (p. 72-73)

2. Todo o conhecimento é local e total

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Dilema básico da ciência moderna: seu rigor aumenta na proporção direta da arbitrariedade com

que espalha o real – conhecimento disciplinar e disciplinado (ignorante especializado);

No paradigma emergente o conhecimento é total, mas é também local;

“A fragmentação pós-moderna não é disciplinar e sim temática. Os temas são galerias por onde os

conhecimentos progridem ao encontro uns dos outros‟. (p. 76)

Essa nova ciência é tradutora, incentiva os conceitos e as teorias locais a emigrarem para outros

lugares – conhecimento sobre as condições de possibilidade (pluralidade metodológica).

"O conhecimento pós-moderno, sendo total, não é determinítico, sendo local, não é

descritivista. É um conhecimento sobre as condições de possibilidades. As condições de

ppssibilidades da ação humana projetada no mundo a partir de um espaço-tempo local.

Um conhecimento desse tipo é relativamente imetódico, consritui-se a partir de uma

pluralidade metodológica. Cada método é uma linguagem e a realidade responde na

língua em que é perguntada." (pag. 77)

"A ciência pós-moderna não segue um estilo unidimensional, facilmente identificável; o

seu estilo é uma configuração de estilos construída segundo o critério e a imaginação pessoal

do cientista." (pag. 78-79) – fusão de estilos, composição transdisciplinar e individualizada na

realização de estudos e pesquisas.

3. Todo o conhecimento é autoconhecimento

Na ciência moderna o homem é epistémico, mas não sujeito empírico.

“Um conhecimento objetivo, factual e rigoroso não tolerava a e interferência dos valores

humanos ou religiosos”. (p. 80)

Distinção dicotômica sujeito / objeto – enorme distinção na antropologia: antropólogo (sujeito) e

povo primitivo ou selvagem (objeto), sendo reduzida com metodologias (trabalho de campo

etnográfico, observação participante) ; menor distinção na sociologia: cientistas estudando seus

concidadãos, sendo aumentada com a metodologia (análise documental, estrevistas estruturadas).

– manutenção da separação;

O ato de conhecimento e produto do conhecimento passam a ser inseparáveis, sujeito passa a ser

novamente objeto;

Nova gnose em gestação – desejo de harmonia e comunhão com tudo o que nos rodeia;

“... podemos afirmar hoje que o objeto é a continuação do sujeito por outros meios. Por isso, todo

o conhecimento científico é autoconhecimento. A ciência não descobre, cria, e o ato criativo

protagonizado por cada cientista e pela comunidade científica no seu conjunto tem de se conhecer

intimamente antes que conheça o que com ele se conhece do real." (p. 83)

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Alternativas da metafísica, da astrologia, da religião, da arte, da poesia também são explicações

possíveis da realidade.

"A ciência do Paradigma Emergente é mais contemplativa do que ativa. A qualidade do

conhecimento afere-se menos pelo que ele controla ou faz funcionar no mundo exterior

do que pela satisfação pessoal que dá a quem a ele acede e o partilha." (p. 86)

Ciência auto-biográfica e auto-referenciável. Ciência mais contemplativa que ativa, não só

controla ou faz funcionar;

A dimensão estética da ciência passa a ser reconhecida. A criação científica como uma criação

artística (preocupação estética).

4. Todo o conhecimento científico visa constituir-se em senso comum

A ciência moderna nos ensina pouco sobre a nossa maneira de estar no mundo, produz

conhecimentos e desconhecimentos – cientista é um ignorante especializado, o cidadão comum

um ignorante generalizado;

Na ciência pós-moderna, o conhecimento do senso comum é o mais importante, conhecimento

vulgar e prático que nos orienta nas ações e dá sentido à nossa vida – fundamental para

enriquecer nossas relações;

Apesar de ser conservador, o senso comum tem uma dimensão utópica e libertadora que pode ser

ampliada dialogando com o conhecimento científico;

O senso comum – criatividade e responsabilidade individual, prático e pragmático, fiável e

securizante, transparente e evidente, é exímio em captar a profundidade das relações, indisciplinar

e imetódico, reproduz-se expontaneamente, aceita o que existe tal como existe, privilegia a ação,

é retórica e metafórica, não ensina, persuade.

Na ciência pós-moderna o salto mais importante é o que é dado do conhecimento científico para o

conhecimento do senso comum, devemos exercer a insegurança em vez de a sofrer;

Sabemos o caminho, mas não exatamente onde estamos na jornada;

Criatividade

“Criatividade é o olhar diferente para o mundo e para si mesmo” (Quézia Bombonatto -

Psicopedagoga)

“Imaginação é mais importante do que conhecimento” (Albert Einstein)

Pessoas Criativas:

- Gostam do que fazem;

- Confiam em si próprias, mas não se sentem “donas do mundo”;

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- Sabem assumir riscos;

- Não têm medo de errar;

- Aprender com os próprios erros;

- Experimentam ousar;

- Buscam autonomia e liberdade de pensamento;

- Desejam romper limites e regras;

- Têm vontade de fazer as coisas de maneira diferente.

(Revista Nova Escola, junho/julho de 2002)

MULTICULTURALISMO E INTERDISCIPLINARIDADE

(Ivone Mendes Richter)

“Interdisciplinaridade” - está sujeito a diferentes denominações, principalmente a partir dos

prefixos utilizados. Indica inter-relação entre duas ou mais disciplinas, sem que se sobressaiam.

Estabelecimento de relação de reciprocidade e colaboração, com o desaparecimento de fronteiras

entre as áreas. É muitas vezes desenvolvida em forma de projeto. Em Arte essa forma de trabalhar

se mostra muito importante.

“Multidisciplinar” – indica a existência de um trabalho entre muitas disciplinas, sem a perda de

características ou fronteiras.

“Transdisciplinaridade” – busca um movimento de perpassar as diferentes áreas do

conhecimento. É também chamado de “transversalidade”, utilizado nos PCN´s como “temas

transversais”, com temas a serem objeto de estudo em todas as disciplinas.

“Pluralidade Cultural” e “Multiculturalidade” – são vistos como sinônimos, utilizados para

indicar às múltiplas culturas presentes hoje nas sociedades complexas. O temo “Multicultural” é

consagrado na área de Educação e Arte-Educação, é a forma que a questão da diversidade vem

sendo estudada e discutida.

“Interculturalidade” – é um termo utilizado atualmente, que implica na inter-relação de

reciprocidade entre culturas. Muito adequado ao ensino-aprendizagem em Artes.

Difinição de Sistema - A. Uyemov

Sistema é um agregado de elementos sobre os quais atua um conjunto de relações, de tal maneira

que estes possam partilhar uma ou alguma propriedades.

Características e objetivos da Teoria dos Sistemas - Fritjof Capra

- Entendimento dos complexos e altamente integrativos sistemas da vida;

- Compor um arcabouço filosófico amplo que reúne teorias sobre os sistemas vivos que

pretendem oferecer uma visão unificada de mente, matéria e vida;

- Clarificar a mudança de paradigma:

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visão de mundo mecanicista ===>>> visão de mundo ecológico

Paradigma Mecanicista Paradigma Ecológico Visão de mundo mecanicista (Descartes, Newton,

Darwin..);

Visão de mundo holística/ecológica (Pensamento

Sistêmico) Um universo relacional, não

fragmetário, em movimento;

Universo como sistema mecânico; Universo como sistema vivo;

Corpo como máquina; Corpo como sistema vivo;

Homem / dualidade espírito/matéria “penso logo

existo”;

Homem / unidade integrada de corpo mente e

espírito;

A vida em sociedade é uma luta competitiva. A vida em sociedade é cooperação.

PARADIGMAS

Você, eu, todos nós precisamos de uma nova visão de mundo e de ciência mais abrangente para

nos apoiar. Há uma teoria surgindo agora que coloca todas as idéias ecológicas de que falamos

numa estrutura científica coesa e coerente. Nós a chamamos de teoria dos sistemas, dos sistemas

vivos.

Como pode falar de uma árvore sem falar nas folhas ou raízes?

Eu conseguiria, sem nem mencionar essas partes. Um cartesiano olhara para a árvore e a

dissecaria, mas aí, ele jamais entenderia a natureza da árvore...

Um pensador de sistemas veria as trocas sazonais entre a árvore e a terra, entre a terra e o céu. Ele

veria o ciclo anual que é como uma grande respiração que a terra realiza com suas florestas,

dando-os o oxigênio. O sopro da vida, ligando a terra ao céu e nós ao universo.

Um pensador de sistemas veria a vida da árvore somente em relação à vida de toda a floresta. Ele

veria a árvore como o hábitat de pássaros, o lar de insetos. Já, se você tentar entender a árvore

isolada, ficaria intrigado com os milhões de frutos que produz na vida, pois, só uma ou duas

árvores resultarão deles. Mas, se você vir a árvore como um membro de um sistema vivo maior,

tal abundância de frutos fará sentido, pois, centenas de animais e aves sobreviverão graças a eles.

Interdependência.

A árvore também não sobreviveria sozinha.

Para tirar água do solo, precisa dos fungos que crescem na raiz. O fundo precisa da raiz e a raiz

precisa do fungo. Se um morrer, o outro morre também. Há milhões de relações como esta no

mundo, cada uma envolvendo uma interdependência.

A teoria dos sistemas reconhece esta teria de relações como a essência de todas as coisas vivas.

Só um desinformado chamaria tal noção de ingênua ou romântica porque a dependência comum a

todos nós é um fato científico.

Page 11: A Crise Dos Paradigmas

Uma teia de relações...

Sim, mas desta vez é a própria teia da vida.

A teoria dos sistemas realmente dá o perfil de uma resposta àquela questão eterna:

O que é a vida?

(Texto extraído do filme “O Ponto de Mutação” - baseado no livro de mesmo nome de Fritjof

Capra)