A Crítica à Utopia Do Século XXI

3
A crítica à “utopia do século XXI” Bruno Nogueira Di Pierro Edegar Bernardes Silva João Neves Neto título deste artigo faz referência ao livro de José Eli da Veiga intitulado Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI’, o qual, diante de todas as ambigüidades e insuficiências referentes à expressão, é anunciada a utopia protagonista do século XXI (leia-se desenvolvimento sustentável ou suas variantes) em detrimento da utopia socialista do século XX. A sustentabilidade, palavra amplamente adotada atualmente, ganhou diversas definições ao longo dos anos, sendo muitas vezes utilizada de forma indiscriminada dentro de corporações, na mídia e pela população em geral. No entanto, este termo é utilizado alternadamente com o conceito de desenvolvimento sustentável, o qual surge no Relatório de Brundtland elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1987. A propósito, sustentabilidade é um conceito mais antigo e restrito à Ecologia, no qual processos ecológicos apresentam-se em equilíbrio de tal forma que há sustentabilidade entre as formas de vida e os outros componentes do sistema. Por outro lado, desenvolvimento sustentável, de acordo com o Relatório de Brundtland, seria o processo que “satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. É possível notar em diversos artigos e sites a falta acuidade conceitual quanto ao uso dos termos citados acima, sobretudo se a eles adicionarmos o conceito do tripé econômico, social e ambiental (Triple Bottom Line), formulado por John Elkington em 1994. Divulgado e amplamente aceito durante a Conferência do Meio Ambiente em Johanesburgo em 2002 (Rio+10), o desenvolvimento econômico, social e ambiental em equilíbrio uniu-se ao conceito de sustentabilidade como uma alternativa salvadora do meio ambiente que não comprometesse os fatores econômicos e sociais. Assim, desenvolvimento sustentável e sustentabilidade tornaram-se sinônimos e sua aplicação é encontrada em diversos setores, implícita ou explicitamente, inclusive em documentos oficiais como, por exemplo, na Política Estadual do Meio Ambiente de São Paulo, na qual é dito: “...compatibilização do desenvolvimento econômico e social com a preservação da qualidade do meio ambiente e O

description

Breve artigo sobre a sustentabilidade e sua crítifca

Transcript of A Crítica à Utopia Do Século XXI

  • A crtica utopia do sculo XXI

    Bruno Nogueira Di Pierro Edegar Bernardes Silva

    Joo Neves Neto

    ttulo deste artigo faz referncia ao

    livro de Jos Eli da Veiga intitulado

    Desenvolvimento sustentvel: o desafio do

    sculo XXI, o qual, diante de todas as

    ambigidades e insuficincias referentes

    expresso, anunciada a utopia protagonista do

    sculo XXI (leia-se desenvolvimento sustentvel

    ou suas variantes) em detrimento da utopia

    socialista do sculo XX.

    A sustentabilidade, palavra amplamente

    adotada atualmente, ganhou diversas

    definies ao longo dos anos, sendo muitas

    vezes utilizada de forma indiscriminada dentro

    de corporaes, na mdia e pela populao em

    geral. No entanto, este termo utilizado

    alternadamente com o conceito de

    desenvolvimento sustentvel, o qual surge no

    Relatrio de Brundtland elaborado pela

    Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e

    Desenvolvimento, em 1987. A propsito,

    sustentabilidade um conceito mais antigo e

    restrito Ecologia, no qual processos

    ecolgicos apresentam-se em equilbrio de tal

    forma que h sustentabilidade entre as formas

    de vida e os outros componentes do sistema.

    Por outro lado, desenvolvimento sustentvel,

    de acordo com o Relatrio de Brundtland, seria

    o processo que satisfaz as necessidades

    presentes, sem comprometer a capacidade das

    geraes futuras de suprir suas prprias

    necessidades.

    possvel notar em diversos artigos e

    sites a falta acuidade conceitual quanto ao uso

    dos termos citados acima, sobretudo se a eles

    adicionarmos o conceito do trip econmico,

    social e ambiental (Triple Bottom Line),

    formulado por John Elkington em 1994.

    Divulgado e amplamente aceito durante a

    Conferncia do Meio Ambiente em

    Johanesburgo em 2002 (Rio+10), o

    desenvolvimento econmico, social e

    ambiental em equilbrio uniu-se ao conceito de

    sustentabilidade como uma alternativa

    salvadora do meio ambiente que no

    comprometesse os fatores econmicos e sociais.

    Assim, desenvolvimento sustentvel e

    sustentabilidade tornaram-se sinnimos e sua

    aplicao encontrada em diversos setores,

    implcita ou explicitamente, inclusive em

    documentos oficiais como, por exemplo, na

    Poltica Estadual do Meio Ambiente de So

    Paulo, na qual dito: ...compatibilizao do

    desenvolvimento econmico e social com a

    preservao da qualidade do meio ambiente e

    O

  • do equilbrio ecolgico. Ainda, no mesmo

    documento, citado o desenvolvimento

    sustentvel de acordo com o Relatrio de

    Brundtland.

    Quando esses conceitos foram definidos,

    com vistas a dar alternativas crise ambiental

    que se instalara em fins do sculo XX, havia

    uma preocupao em tentar adaptar os

    problemas ambientais ao sistema

    socioeconmico vigente, no caso, o capitalismo

    tardio. Diante dessa perspectiva, diversas

    crticas foram feitas questionando a

    compatibilidade do sistema em si com a

    conservao do meio ambiente. A princpio, o

    economista Georgescu-Roegen no criticou

    diretamente tais conceitos, mas sua elucidao

    sobre os processos econmicos do ponto de

    vista fsico-energtico e a sua

    incompatibilidade com o sistema Terra trouxe

    dvidas sobre a capacidade de um trip social,

    econmico e ambiental se sustentar, uma vez

    que o desenvolvimento econmico (e isso

    traduz-se em crescimento econmico dentro

    da Economia Clssica) no pode ser compatvel

    com a conservao do meio ambiente. Como

    ttulo de curiosidade, Georgescu-Roegen ao

    final de sua vida revelou seu profundo

    ceticismo quanto ao conceito de

    desenvolvimento sustentvel e seu

    oportunismo para justificar a manuteno do

    pensamento econmico vigente.

    Mais recentemente, outros autores

    tambm avaliaram os conceitos de

    desenvolvimento sustentvel e

    sustentabilidade. Fabio Vizeu e colaboradores

    da Fundao Getlio Vargas, por exemplo,

    citam a falsa noo de conciliao entre o

    capitalismo e a questo ecolgica. Para Chris

    Sneddon, o conceito de Desenvolvimento

    Sustentvel possui bases tericas ambguas e

    no considera de forma profunda as foras

    estruturais que esto por trs dos problemas

    ambientais. E entre outros crticos esto Phil

    McManus (polticas, histrias e discursos da

    sustentabilidade), Peter Marcuse

    (sustentabilidade no suficiente),

    Debashish Munshi & Priya Kurian (crticas

    responsabilidade social corporativa e ao

    desenvolvimento sustentvel).

    Diante das crticas e divises de opinies,

    estabeleceram-se os atuais conceitos de

    Sustentabilidade Forte (Economia Ecolgica) e

    Sustentabilidade Fraca (Economia Ambiental).

    Esta, mais relacionada aos economistas

    tradicionais, prev a compatibilidade ou

    equilbrio de processos produtivos da economia

    e do meio ambiente com o auxlio do progresso

    cientfico e tecnolgico ilimitados; j aquela,

    defendida por Herman Daly, Robert Constanza

    e outras pessoas com maior apelo

    ambientalista, baseia-se na percepo de

    incompatibilidade entre crescimento

    econmico e conservao dos recursos naturais,

    considerando inclusive a possibilidade de um

    decrescimento ou estagnao econmica, algo

    que Georgescu-Roegen tambm sugeriu nos

    anos 70.

    Independente das novas percepes que

    surgem, torna-se claro de aqui em diante a

    adequao do sistema econmico s

    necessidades ambientais e sociais e no o

    oposto, como fora sugerido pelos conceitos

    anteriormente discutidos. Esse um dos

    prximos desafios para as organizaes,

    sociedade e governos para estabelecer novos

    tipos de relaes econmicas, menos

    agressivas ambientalmente e mais inclusivas

    socialmente. A Economia, de uma teoria mais

    abrangente, passou prtica como uma teoria

    mais tecnicista, na qual recursos, mo-de-obra

    (com termos abominveis tais quais Recursos

    Humanos e Mercado de trabalho) e capital

    so substituveis. Assim, provvel que este

    o momento de ampliar os horizontes tericos

    do campo econmico e pr em prtica solues

    de economia alternativas em pequena escala

    que considerem os campos no somente

    ambientais e sociais, mas tambm culturais,

    espirituais e outros aspectos humanos.

  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA LUIZ DE QUEIROZ

    CURSO DE ESPECIALIZAO EM GERENCIAMENTO AMBIENTAL

    Disciplina: Educao Ambiental

    Artigo sobre Sustentabilidade - A crtica utopia do sculo XXI

    Bruno Nogueira Di Pierro

    Edegar Bernardes Silva

    Joo Neves Neto

    Piracicaba

    2015