A crônica

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A CRÔNICA PROFESSORA: MÁRCIA OLIVEIRA

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A CRÔNICA

PROFESSORA: MÁRCIA OLIVEIRA

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Porque todo mundo gosta de histórias e de poesias. Não há sociedade sem narrativa. O homem é um animal narrativo. Homo narrador. Todo mundo quer ouvir histórias. Contamos histórias desde o amanhecer até a hora de dormir. Senta num ônibus, história; briga com o namorado, história; chega na escola, mais histórias. Todas as situações da vida propiciam acontecimentos narráveis e vivemos desse entrelaçamento de narrativas.

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Assim como a fábula, o conto, a notícia, a reportagem e o enigma, a crônica é um gênero narrativo que tem por base fatos que acontecem em nosso cotidiano. Por este motivo, é uma leitura agradável, pois o leitor interage com os acontecimentos e por muitas vezes se identifica com as ações tomadas pelas personagens. A crônica é um gênero textual bastante evidenciado em jornais, escritos ou televisionados, e em revistas. Sua origem deriva-se do latim Chronica e do grego Khrónos (tempo). Exatamente por este fator é que se deve o seu surgimento, pautado por um relato de acontecimentos históricos e registrados em ordem cronológica.

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Uma de suas relevantes características se deve à ótica de como os detalhes são observados, pois o fato possibilita ao cronista relatar de forma individual e original os fatos sob diferentes ângulos. A temática pela qual perpassa o gênero em questão costuma estar ligada a questões circunstanciais ligada ao cotidiano, como por exemplo, um flagrante na esquina, o comportamento de uma criança ou de um adulto, um incidente doméstico, dentre outros. Trata-se de um texto curto, geralmente com poucos personagens, no qual o tempo e o espaço são limitados. Uma das mais famosas crônicas da história da literatura luso-brasileira corresponde à definição de crônica como "narração histórica". É a "Carta de Achamento do Brasil", de Pero Vaz de Caminha", na qual são narrados ao rei português, D. Manuel, o descobrimento do Brasil e como foram os primeiros dias que os marinheiros portugueses passaram aqui.

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Como a crônica é um gênero textual em que se apresentam fatos do cotidiano a partir da ótica particular do cronista, nela encontramos poucos personagens, linguagem quase sempre informal, simples, direta e , às vezes, poética. Pode ser elaborada com a intenção de divertir, de emocionar, ou de fazer o leitor refletir.A crônica pode receber diferentes classificações:- a lírica, em uma linguagem poética e metafórica

o autor extravasa sua alma lírica diante de episódios sentimentais, nostálgicos ou de simples beleza da vida urbana,

- - a humorística, em que o autor faz graça com o cotidiano;

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- a crônica-ensaio, em que o cronista, ironicamente, tece uma crítica ao que acontece nas relações sociais e de poder. Um grande representante desse tipo de crônica é o jornalista Arnaldo Jabor;- a filosófica ou reflexiva, Reflexões filosóficas sobre vários assuntos. Apresenta uma reflexão de alcance mais geral a partir de um fato particular.;- e jornalística, que apresenta aspectos particulares de notícias ou fatos, pode ser policial, esportiva, política etc.

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Além da crônica narrativa, há uma modalidade mais moderna, a argumentativa, na qual o objetivo maior do cronista é relatar um ponto de vista diferente do que a maioria consegue enxergar.

Ele, usufruindo-se do bom humor mesclado a toque sutil de ironia, aposta no intento de fazer com que as pessoas vejam por outra “face” aquilo que parece óbvio demais para ser observado.

Seu caráter discursivo gira em tono de uma realidade social, política ou cultural, onde esta realidade é verbalizada em forma de protesto ou de argumentação, quase sempre envolta por um tom até mesmo sarcástico, no intento de criticar as mazelas advindas da esfera social.

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Características da Crônica

É publicada geralmente em jornais e revistas; Relata de forma artística e pessoas fatos

colhidos no noticiário jornalístico e no cotidiano; Consiste em um texto curto e leve; Tem por objetivo divertir e/ou refletir

criticamente sobre a vida e os comportamentos humanos;

Pode apresentar os elementos básicos da narrativa: fatos, personagens, tempo e lugar;

O tempo e o lugar são normalmente limitados; Pode apresentar narrador-personagem ou

narrador-observador; Não há a conclusão do desfecho; Geralmente a linguagem é a informal.

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Você já deve ter lido algumas crônicas, pois estão presentes em jornais, revistas e livros. Além do mais, é uma leitura que nos envolve, uma vez que utiliza a primeira pessoa e aproxima o autor de quem lê. Como se estivessem em uma conversa informal, o cronista tende a dialogar sobre fatos até mesmo íntimos com o leitor.Portanto, se você não gosta ou sente dificuldades de ler, a crônica é uma dica interessante, pois possui todos os requisitos necessários para tornar a leitura um hábito agradável!Algumas crônicas: A cobrança O Motel A sexa O estranho comportamento de Dona Leonor A estranha passageira

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Alguns cronistas:

- José de Alencar- Machado de Assis- Olavo Bilac- Graciliano Ramos- Rachel de Queiroz- Clarice Lispector- Rubem Braga - Mario Prata - Carlos Heitor Cony- Moacyr Scliar- Luís Fernando Veríssimo

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Ladrão de livros de 85 anos é proibido de entrar em bibliotecas da Califórnia. Folha Online, 14 nov.2002.

Ninguém compreende minha paixão por livros, suspirava ele. E era uma grande paixão: o pequeno apartamento em que vivia estava literalmente atualhado de romances, livros de contos, obras de autoajuda, textos médicos, até. Não que ele os lesse. Ler era secundário. O importante era possuir os livros, saber que toda aquela riqueza cultural do passado estava ali, ao alcance de sua mão. A mão que acariciava as lombadas, que folheava amorosamente as páginas. O problema é que livros custam dinheiro. E dinheiro lhe faltava. Aos 85 anos, vivendo de uma modesta aposentadoria, o ancião não podia despender muito em livrarias. Por isso roubava. ‘Roubo’, aliás, era uma expressão que lhe desagradava; preferia falar em algo como ‘redistribuição da riqueza intelectual’. Mas o eufemismo não o ajudava muito. Nem as mãos trêmulas, nem a lentidão

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Cada vez que ia roubar um livro, deixava cair uma pilha inteira no chão. Mais do que isso, não sabia disfarçar: os bibliotecários sabiam quando ele estava roubando. Pediam-lhe as obras furtadas de volta e, justiça seja feita, ele nunca se negou a fazê-lo. Era parte de um jogo, um jogo que ele adorava, e cujas sempre respeitou. Infelizmente, porém, os bibliotecários cansaram deste jogo. E um acordo entre eles resultou em uma decisão: o homem agora está proibido de entrar nas bibliotecas. Não adianta ele dizer que quer apenas consultar jornais. Não adianta, também, dispor-se a ser revistado. A paciência dos responsáveis simplesmente terminou. Resta-lhe refugiar-se em seu sonho. E que sonho é este? Ele sonha que um dia vai ganhar muito dinheiro - num cassino, ou numa loteria. E aí comprará uma grande e antiga biblioteca - que será só dele. Ninguém mais poderá frequentá-la. Só ele. Ali irá todos os dias.

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Para roubar livros, claro. E os bibliotecários, seus empregados, não poderão dizer nada. Mais: terão de fingir que não percebem o furto. E ele roubará o quer quiser. Belo sonho, consolador sonho. O único inimigo deste sonho é o tempo. Com 85 anos, quanto mais ele poderá esperar pelo cassino ou pela loteria? O tempo é um grande e implacável ladrão. E não tem nenhuma paixão por livros.

Folha de S. Paulo, 25 nov. 2002

Como você observou, o escritor baseou-se em um fato cotidiano para escrever seu texto. O que há de inusitado na notícia em que ele se inspirou?

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A estranha passageira

- O senhor sabe? É a primeira vez que eu viajo de avião. Estou com zero hora de voo - e riu nervosinha, coitada. Depois me pediu que eu me sentasse ao seu lado, pois me achava muito calmo e isto iria fazer-lhe bem. Lá se ia a oportunidade de ler o romance policial que eu comprara no aeroporto, para me distrair na viagem. Suspirei e fiz o bacano respondendo que estava às suas ordens. Madama entrou no avião sobraçando um monte de embrulhos, que segurava desajeitadamente. Gorda como era, custou a se encaixar na poltrona e arrumar todos aqueles pacotes. Depois não sabia como amarrar o cinto e eu tive que realizar essa operação em sua farta cintura.

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Afinal estava ali pronta para viajar. Os outros passageiros estavam já se divertindo às minhas custas, a zombar do meu embaraço ante as perguntas que aquela senhora me fazia aos berros, como se estivesse em sua casa, entre pessoas íntimas. A coisa foi ficando ridícula: - Para que esse saquinho aí? - foi a pergunta que fez, num tom de voz que parecia que ela estava no Rio e eu em São Paulo. - É para a senhora usar em caso de necessidade - respondi baixinho. Tenho certeza de que ninguém ouviu minha resposta, mas todos adivinharam qual foi, porque ela arregalou os olhos e exclamou: - Uai... as necessidades neste saquinho? No avião não tem banheiro?

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Alguns passageiros riram, outros - por fineza - fingiram ignorar o lamentável equívoco da incômoda passageira de primeira viagem. Mas ela era um azougue (embora com tantas carnes parecesse mais um açougue) e não parava de badalar. Olhava para trás, olhava para cima, mexia na poltrona e quase levou um tombo, quando puxou a alavanca e empurrou o encosto com força, caindo para trás e esparramando embrulhos para todos os lados. O comandante já esquentara os motores e a aeronave estava parada, esperando ordens para ganhar a pista de decolagem. Percebi que minha vizinha de banco apertava os olhos e lia qualquer coisa. Logo veio a pergunta: - Quem é essa tal de emergência que tem uma porta só pra ela? Expliquei que emergência não era ninguém, a porta é que era de emergência, isto é, em caso de necessidade, saía-se por ela..

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Madama sossegou e os outros passageiros já estavam conformados com o término do "show". Mesmo os que mais de divertiam com ele resolveram abrir os jornais, revistas ou se acomodarem para tirar uma pestana durante a viagem. Foi quando madama deu o último vexame. Olhou pela janela (ela pedira para ficar do lado da janela para ver a paisagem) e gritou: - Puxa vida!!! Todos olharam para ela, inclusive eu. Madama apontou para a janela e disse: - Olha lá embaixo. Eu olhei. E ela acrescentou: - Como nós estamos voando alto, moço. Olha só... o pessoal lá embaixo até parece formiga.  Suspirei e lasquei: - Minha senhora, aquilo são formigas mesmo. O avião ainda não levantou voo.

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Exercícios

1. “ É a primeira vez que viajo de avião.” Esta afirmação iria se comprovar durante toda a crônica, tais os “vexames” dados pela senhora. Assinale a frase que não demonstre um deles:

a) “Para que esse saquinho aí?”b) “No avião não tem banheiro?”c) “Quem é essa tal de emergência que tem uma porta só pra ela?”d) “Gorda como era, custou a se encaixar na poltrona...”e) “...mexia na poltrona e quase levou um tombo, quando puxou a alavanca e empurrou o encosto com força, caindo para trás...”

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2. “ Suspirei e fiz de educado respondendo que estava às suas ordens.”( linhas 5 e 6). Os suspiros demonstram nesta passagem:

a) resignação;b) contrariedade;c) arrependimento;d) aborrecimento;e) raiva.

3. No título da crônica, a passageira é chamada de “estranha”. Outras qualificações podem ser dadas a ela depois que lemos integralmente a crônica. Assinale a que não lhe corresponde:

a) inexperiente;b) envergonhado;c) incômoda;d) embaraçante;e) ridícula.

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4. “Madama entrou no avião sobraçando um monte de embrulhos... “(linha 7). Com o verbo “sobraçar” o autor- narrador quer dizer que a madama:

a) levava mais embrulhos do que era possível;b) levava embrulhos de baixo do braço;c) carregava um monte de embrulhos que eram abraçados por ela;d) trazia um monte de embrulhos que eram abraçados por ela;e) trazia a quantidade de embrulhos que era possível levar nas mãos.

5. “...minha vizinha apertava os olhos e lia qualquer coisa. ”(linhas 28 e 29). Com a expressão “apertar os olhos” o narrador quer dizer-nos que a senhora:

a) não enxergava direito;b) não sabia ler;c) estava com sono;d) que a porta de emergência estava longe de onde estavam sentados;e) que sentia dores nos olhos.