A cultura caipira no município de Jaú (SP)

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GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 17, pp. 43 - 59, 2005 HERDEIROS DA RUSTICIDADE A CULTURA CAIPIRA NO MUNICÍPIO DE JAÚ (SP) Neusa de Fátima Mariano* * Atuação Acadêmica: Doutoranda em Geografia Humana sob orientação da Profa. Dra. Margarida Maria de Andrade – DG/USP. E-mails: [email protected] / [email protected] RESUMO: A rusticidade dos meios de vida presente na cultura caipira paulista tradicional, nos convida a refletir sobre a modernidade. No encontro do rústico com o moderno, dois tempos, duas temporalidades: o tempo cíclico e o linear; o tempo da natureza e o da produção. Ritmos diferentes que se contrapõem e convivem numa sociedade cada vez mais capitalista. No centro da pesquisa está a preocupação com as transformações do modo de vida entendido como caipira, com a finalidade de investigar traços culturais que permanecem nos dias atuais. Para tanto, buscou-se o entendimento do processo de modernização a partir do caso do município de Jaú/SP. Em outras palavras, buscou-se compreender como o avanço do capitalismo interfere no modo de vida do homem rural. PALAVRAS-CHAVE: Caipira, Jaú, modernização, capital. cultura. ABSTRACT: The rusticity of the means of life present in paulista’ s tradicional yokel culture, invites us to think of modernity. In the meeting of the rustic with the modern, two different times: the ciclic and the linear one; time of the nature and the production one. Different rhythms that coexist in a society more and more capitalist. In the center of the research it is the worries about the changes of the mean of life understood as yokel to investigate cultural characteristics that are kept nowadays. To do that, the unsderstanding of the modernization process from the case of Jaú/SP was necessary. In other words, it was necessary the understood how the capitalism increase intervenes in the mean of life of the rural man. KEY WORDS: Yokel, Jaú, modernization, capital, culture. I - Introdução Em muitos momentos vivenciamos determinados comportamentos, determinadas atitudes sem nos questionamos o porquê. A sociedade regida pela lógica de mercado se configura de forma a extinguir determinadas formas de ser, pensar e agir que possuem raízes profundas, cujas matrizes culturais encontram- se no colonizador português e no índio nativo. Estamos falando da cultura caipira. Embora a rusticidade do modo de vida caipira seja superável, há algo que permanece,

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HERDEIROS DA RUSTICIDADEA CULTURA CAIPIRA NO MUNICÍPIO DE JAÚ (SP)

Neusa de Fátima Mariano*

* Atuação Acadêmica: Doutoranda em Geografia Humana sob orientação da Profa. Dra. Margarida Maria de Andrade – DG/USP. E-mails: [email protected] / [email protected]

RESUMO:A rusticidade dos meios de vida presente na cultura caipira paulista tradicional, nos convida arefletir sobre a modernidade. No encontro do rústico com o moderno, dois tempos, duastemporalidades: o tempo cíclico e o linear; o tempo da natureza e o da produção. Ritmos diferentesque se contrapõem e convivem numa sociedade cada vez mais capitalista.No centro da pesquisa está a preocupação com as transformações do modo de vida entendidocomo caipira, com a finalidade de investigar traços culturais que permanecem nos dias atuais. Paratanto, buscou-se o entendimento do processo de modernização a partir do caso do município deJaú/SP. Em outras palavras, buscou-se compreender como o avanço do capitalismo interfere nomodo de vida do homem rural.PALAVRAS-CHAVE:Caipira, Jaú, modernização, capital. cultura.ABSTRACT:The rusticity of the means of life present in paulista’s tradicional yokel culture, invites us to think ofmodernity. In the meeting of the rustic with the modern, two different times: the ciclic and the linearone; time of the nature and the production one. Different rhythms that coexist in a society moreand more capitalist.In the center of the research it is the worries about the changes of the mean of life understood asyokel to investigate cultural characteristics that are kept nowadays. To do that, the unsderstandingof the modernization process from the case of Jaú/SP was necessary. In other words, it wasnecessary the understood how the capitalism increase intervenes in the mean of life of the ruralman.KEY WORDS:Yokel, Jaú, modernization, capital, culture.

I - IntroduçãoEm muitos momentos vivenciamos

determinados comportamentos, determinadasatitudes sem nos questionamos o porquê.

A sociedade regida pela lógica de mercadose configura de forma a extinguir determinadas

formas de ser, pensar e agir que possuem raízesprofundas, cujas matrizes culturais encontram-se no colonizador português e no índio nativo.Estamos falando da cultura caipira.

Embora a rusticidade do modo de vidacaipira seja superável, há algo que permanece,

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talvez modificado, ajustado à sociedade que semoderniza sempre e caminha junto com ela.Podemos falar da fé, manifestada em festasreligiosas, podemos falar da culinária, podemosfalar da música e da dança. Poderíamos aindanos referir a códigos, a linguagens, à moral.

São resíduos culturais fortes que nosauxiliam na compreensão da sociedade, que nosfazem buscar na sua origem elementos queexplicam determinados comportamentos,atitudes e crenças de hoje.

II - O caipiraO caipira pode ser entendido como o

resultado do encontro cultural entre o portuguêscolonizador e o índio nativo; esse ajustamentoentre ambos foi um processo que durou cercade três séculos (XVI, XVII e XVIII), oferecendoao caipira um modo singular de ser, pensar eagir (Candido, 1987).

Para Câmara Cascudo (Dicionário doFolclore Brasileiro, s/d) há, dentre as origensdiversas da palavra “caipira”, duas que sedestacam: caapora e curupira, ambas do tupi.Caapora quer dizer habitante do mato: caá =mato / pora = morador. Curupira é um entefantástico, representado por um anão (corpo demenino) de cabelos vermelhos, uma espécie dedemônio que tem os pés voltados para trás evive nas matas. Curu ou curumi = menino / pira= corpo. Segundo Câmara Cascudo, a palavracurupira se aplicaria aos camponeses somentecomo ofensa, como “alcunha injuriosa”.

Monteiro Lobato, um dos nossos maioresescritores, reconhecido nacional einternacionalmente, já por volta de 1914, emVelha Praga1 , divulga o seu entendimento sobreo caipira, considerando-o uma praga da terra eo descreve sempre como preguiçoso eindolente, o que justificaria seus atos e seucomportamento em geral. Ou seja, as suascasas, as suas vestes, as suas mobílias, a coletade seus alimentos, tudo muito rústico, segundoo autor, deve-se à preguiça e à indolência queestão nas veias destes “caboclos”. ParaMonteiro Lobato, que vivia um nacionalismo

exacerbado, o caipira representava e contribuíapara a lentidão do desenvolvimento do país. Asua visão de progresso o impedia de ver nocaipira um outro tempo, um outro raciocínio, umoutro modo de vida, diferentes daqueles queganhavam evidência com o avanço damodernidade propugnada pelo autor.

Cornélio Pires, por sua vez, assim escreve:

“Por mais que rebusque o ‘étimo’ de‘caipira’, nada tenho deduzido com firmeza.Caipira seria o aldeão; neste casoencontramos o tupi-guarani ‘capiâbiguâra’.Caipirismo é acanhamento, gesto de ocultaro rosto: neste caso temos a raiz ‘cai’ que querdizer: ‘gesto de macaco ocultando o rosto’.‘Capipiara’, que quer dizer o que é do mato.Capiã, de dentro do mato: faz lembrar o‘capiau’ mineiro. ‘Caapi’ – trabalhar na terra,lavrar a terra – ‘caapiára’, lavrador. E o caipiraé sempre lavrador. Creio ser este último casoo mais aceitável, pois ‘caipira’ quer dizer‘roceiro’, isto é, lavrador...” (Pires, 1985, pg.144)

Cornélio Pires (1929), através daconvivência com agrupamentos caipiras,procurou entendê-los nas suas diferenciaçõese identificou grupos étnicos, os quais subdividiuem tipos puros – o branco e o negro - e osmestiços – os caboclos e os mulatos. Dessaforma temos:

·Caipira Branco: descendente deestrangeiros brancos, geralmente europeus,tem em média 8 filhos e os cria todos;preocupado com os seus estudos, anda sempremuito limpo, vaidoso, gosta de sair arrumado,bem apresentado. Gosta de animais domésticose criações, pomares, hortas e plantasmedicinais; é hospitaleiro. A mulher é limpa,amorosa e aos 7 ou 8 anos já usa saia comprida,usa pericote (birote) no cabelo, ou tranças. Seussantos prediletos são São João e Santo Antonio.

·Caipira Caboclo: descendente direto debugres catequizados pelos primeirospovoadores do sertão. É forte. Cabelos grossose espetados, barba rala, pele bronzeada. Àsvezes tem sangue espanhol ou português. É

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inteligente, preguiçoso, velhaco, barganhador,desleixado, sujo e esmulambado, valente eladrão de cavalo, é mulherengo e galante.

·Caipira preto: descendente dos africanos,vítima da escravidão. Roto e esfarrapado, épobre.

·Negro velho: é doente, gentil e amoroso; anegra velha é a miséria aliada à bondade,tristeza e carinho.

·Caipira preto (novo): limpo, tem lavoura, éreligioso, mas gosta da aguardente. Étrabalhador, gosta de samba, fandango e dança.

·Caipira Mulato: descendente de africanos oubrasileiros pretos com portugueses oubrasileiros brancos. Vigoroso, altivo,independente e patriota. Galanteador, nãoabaixa a cabeça para o patrão. Gosta de sambase bailes, não se mistura com os pretos. Étrabalhador.

Em todos os tipos, considera-se amiscigenação, havendo trocas de crenças ecostumes entre os povos, ora influenciando orasendo influenciado pela cultura estrangeira.

Salientamos, então que quando tratamosde “caipira” estamos nos referindo a um modode vida singular, independentemente da etniaque dela participa.

Cornélio Pires preocupa-se não somentecom a descrição da realidade, mas também como momento histórico em que o caipira estáinserido, com as condições e meios de vida quefazem o caipira ser do jeito que é, ou seja, elenão o vê isolado do mundo, mas participantede esferas mais amplas da vida social.

Antonio Cândido (1987), em seu livro OsParceiros do Rio Bonito, faz uma investigaçãosobre o modo de vida de um agrupamentocaipira, buscando a compreensão deajustamentos culturais, com base na culturacaipira tradicional paulista, e verifica aspermanências e os desaparecimentos de algunsaspectos.

Partindo das condições mínimas de vidae de sociabilidade do caipira tradicional, oreferido autor encontrou variações culturaisresultantes do avanço da agricultura comercial.

Tais condições mínimas de vida dizemrespeito ao necessário básico para a reproduçãodo agrupamento caipira, voltado para umaeconomia de subsistência.

Neste contexto, os agrupamentos queantes eram auto-suficientes, reproduzindo seumodo de vida específico com base na economiafechada, sofrem mudanças estudadas porAntonio Candido na década de 1950, quandotais mínimos de sobrevivência já estavamrelacionados à economia de mercado, em que,genericamente falando, sua única fonte dealimento não era mais a agricultura desubsistência, mas também o mercado mediadopelo dinheiro e pelo trabalho.

Dessa forma, podemos dizer que houvea passagem de uma economia fechada commínimos de subsistência para uma capitalistaacompanhada pelos sintomas da crise culturale social.

“... a economia de subsistência,dominante a princípio na área estudada,[Bofete] coexistiu em seguida com aagricultura comercial, que não se arraigoude maneira a excluí-la, nem destruir ovelho cerne da cultura caipira. (Candido,1987, pg. 164)

Candido (1987) analisa então, trêscomportamentos diferentes do caipira frente àexpansão capitalista: a aceitação dos traçosimpostos e propostos, a aceitação só de traçosimpostos e a rejeição de ambos os traços.

No primeiro comportamento, o caipirarevela o desaparecimento da sua culturaindividual e familiar, seja pela desintegração(mobilidade, dispersão), seja pela aceitação denovos padrões, comportamentos, crenças etc...

A aceitação só de traços impostos dizrespeito aos

“... pequenos lavradores, sitiantesou parceiros, que, embora arrastadoscada vez mais para o âmbito da economiacapitalista, e para a esfera de influênciadas cidades, procuram ajustar-se ao quese poderia chamar de mínimo inevitávelde civilização, procurando doutro lado

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preservar o máximo possível das formastradicionais de equilíbrio. Daí qualificá-loscomo grupos que aceitam, da culturaurbana, os padrões impostos – aquilo quenão poderiam recusar sem comprometera sua sobrevivência -, mas rejeitam ospropostos, os que se apresentam comforça incoercível, deixando margem maislarga à opção.” (Candido, 1987, pg. 218)

A rejeição de ambos os traços leva ocaipira a um certo isolamento sem que haja suareprodução, pois, isolado do mundo que o cerca,ele não encontra estrutura para manter-se.

Diante de tais reflexões, o autor faz umaprojeção sobre o futuro do caipira paulista,considerando fatores econômicos, sociais eculturais previstos e vividos também, naquelemomento.

Parece que Antonio Candido previu queo cerco se fecharia e a saída do caipira, para asua sobrevivência seria a sua integração àsociedade moderna, à economia de mercado. Areprodução da cultura caipira vê-se ameaçada.

Tal obra instiga a investigar sobre aatualidade. Quem é o caipira tradicional e quemé o caipira de hoje? Teria ele perdido a suaessência no processo de modernização marcadopela racionalidade do capital? O que sobreviveda cultura caipira nisso tudo? Que sementesse têm plantadas para que possamos dizer quealgo ainda resta, ainda que transformado?

A nossa pesquisa procura respostas(talvez, na verdade, sejam mais perguntas) nomunicípio de Jaú (SP), considerando-osignificativo, seja como área de expansãoocupada pelos bandeirantes, seja como áreamarcada pela grande produção cafeeira emfinais do século XIX e início do XX e, com o seudeclínio, como área de produção de cana-deaçúcar até os dias atuais.

III - Jaú e sua históriaFoi no início do século XVIII que

começaram a se estabelecer pelas redondezasdo atual município de Jaú/SP (Figura 1), os

primeiros habitantes brancos, na sua maioriaprovenientes do estado de Minas Gerais.

O Rio Tietê, que corta a região, era a viade acesso mais segura para os “desbravadoresdos sertões febris por ouro” chegarem aoeldorado, em Cuiabá (MT). Por conta disso,muitos bandeirantes apenas passaram pelarecém formada colônia de Potunduva, outros,entretanto, descobriram ali outro tipo de riquezanatural, qual seja a própria terra fértil, irrigadapelos caudalosos rios navegáveis repletos depeixes (Claro, 1998) e resolveram ali se fixarfundando o Povoado de Potunduva. Cabecomentar que o contato entre índios e brancosfoi conflituoso, sendo travados muitos combatesem nome de conquistas e defesas de territórios.

Estamos caminhando em busca doentendimento do processo de formaçãoterritorial de Jaú; e para tanto, dividimos a suahistória em períodos, conforme o fez Perides(1980): a frente de expansão, as frentes pré epioneira, a fase cafeeira e o seu fim (Figura 2).

Frente de expansão, conforme José deSouza Martins (1975) significa a incorporaçãode novas localidades na economia de mercado.Trata-se de uma economia de excedente, comprodução de subsistência prioritária ecomercialização secundária.

“O que caracteriza a frente deexpansão é justamente esse uso privadodas terras devolutas, em que estas nãoassumem a equivalência de mercadoria.Por isso, a figura central da frente deexpansão é a do ocupante ou posseiro”.(Martins, 1975, pg. 46)

Jaú configura-se como frente de expansãono período de 1830 até fins de 1860, quandohouve a fixação de bandeirantes nas terras dosíndios Kaingangues (nativos da região).

Neste período foi fundado o povoado deJaú, cuja história acusa datas diferentes. No dia15 de agosto de 1853 teria ocorrido, naresidência de Lúcio de Arruda Leme, umareunião para organizar um núcleo colonial.Nesta, o Tenente Manoel Joaquim Lopes eFrancisco Gomes Botão teriam doado cerca de

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40 alqueires ou 96,80 hectares de terras. O atéentão povoado de Potunduva recebeu maistarde o nome de Jaú devido à sua localidade ajusante do Ribeirão Jaú.

A outra data foi registrada por Tito LívioFerreira, que após pesquisar em váriosdocumentos, dentre eles o almanaque de JorgeSeckler, conclui que o povoado de Jaú foifundado em 1848 (Claro, 1998, pg. 14).

De qualquer forma, podemos apontarduas correntes de povoamento em Jaú. Uma deSão Paulo, de antigos municípios canavieiros e/ou cafeeiros e a outra de Minas Gerais, daszonas de mineração.

O fumo e a cana-de-açúcar tiveram papelimportante no mercado jauense, sendocultivados em muitas fazendas. No entanto, asdificuldades com a mão-de-obra e meios detransporte fizeram com que tais produtosfossem consumidos apenas na região, sendoexportada para a Europa somente a aguardentede cana. O café começou a ser conhecido emJaú em meados do século XIX, datando a suaprimeira cultura de 1846, de propriedade deVicente da Costa Machado, que plantou 5.000mudas na fazenda Baranhão (Perides, 1980).

Cabe assinalar que enquanto Jaú seconstituía em frente de expansão, a Lei de Terrasfoi instituída – Lei nº 601 de 1850. Com esta

FIGURA 1 - Localização no Município de Jaú no Estado de São Paulo

Sem escala.Org.: Enio Riberio Salles

Fonte: IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, 2000.Relatório Final. São Paulo. V. 3 (IPT. Relatório, 40.674).

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FIGURA 2 - Evolução Territorial de Jaú

Fonte: Perides, Paulo Pedro (1980)Org.: Paulo Pedro Perides; Desenho: Hélio (1866) Data da criação do município.

* Conforme Perides, o município de Jaú foi criado em 1866, porém, nesta data Jaú foi elevada à categoria devila, passando a ser considerada cidade pela Lei Provincial nº 6 de 06/02/1889, sem alterações na suaconfiguração territorial

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Lei, as terras brasileiras poderiam seradquiridas somente mediante pagamento. Aterra passava a ter valor comercial, atraindodesta forma pessoas com maior poder aquisitivoe que poderiam investir na produção agrícola,principalmente no café. Outros, porém, semdinheiro, se apossavam de pequenas áreasrurais praticando a agricultura de subsistênciaaté serem expropriados por não terem a posselegal da terra. Já se percebe nesse período o“processo de separação entre os detentores eos desprovidos de capital e dos meios deprodução” (Perides, 1980).

Para José de Souza Martins (1975), a Leide Terras representa o marco da passagem dafrente de expansão para a frente pioneira,devido mesmo ao fato de as terras possuíremvalor comercial, participando do mercadoeconômico. Em Jaú, a frente pioneira começoua se definir mais ou menos trinta anos depoisda referida lei, pois conforme Perides (1980), alocalidade apresentou ainda uma fase pré-pioneira no período de 1860 até 1886/7. Em 6de fevereiro 1889, após a abolição daescravatura e às vésperas da proclamação daRepública, Jaú, com 15 mil habitantes, foielevada à categoria de cidade (Claro, 1998).

A frente pioneira 2 em Jaú estende-se,conforme Perides (1980), de 1886/7 atéaproximadamente 1905, e marca o período emque a produção cafeeira começou a ter maiorvisibilidade na economia paulista.

Contribuiu para essa grande expansão aconstrução da via férrea em 1887, pois atéentão, o transporte de mercadorias erarealizado por tropas de burros que levavam até50 dias para chegar ao Porto de Santos.Quando a ferrovia chegou em Rio Claro (1876),as tropas de burros foram substituídas porcarros de bois. Em 1882, iniciou-se a construçãodo ramal Rio Claro-Jaú pela Estrada de FerroRio Claro comprada, mais tarde (1892) pelaCompanhia Paulista de Estrada de Ferro, poisesta empresa, conforme Monbeig:

“... compraria, pouco a pouco,pequenas companhias menos sólidas e mais

ousadas e reagruparia sob sua égideelementos disparatados de uma rede que iriaservir aos centros do café. Ela iria começarassegurando para si a ligação Jundiaí-SãoCarlos, depois levaria os trilhos atéAraraquara e Jaboticabal (1892),estabelecendo, ao mesmo tempo, umaramificação até Jaú. A ponta de trilhospermaneceria sete anos em Jaboticabal,embora as plantações novas jáultrapassassem largamente esta cidade.”(Monbeig, 1998, pg. 175)

As seguintes estações ferroviárias foraminauguradas na região de Jaú: Brotas (1885),Torrinha e Dois Córregos (1886), Mineiros doTietê e Jaú (1887).

O traçado das ferrovias respondeu,portanto, a interesses dos grandes produtores,administradores e comerciantes de café, sendoeconomicamente viável não só para a região,mas para o estado de São Paulo como um todo.

A fase cafeeira exportadora, uma vezconsolidada em 1905 no município de Jaú,irremediavelmente em 1930 chega ao fim com aqueda do preço do café no mercadointernacional. Com o intuito de estabilizar aeconomia, queimaram-se, no período de 1931a 1940, cerca de 80 milhões de sacas de caféque, conforme Araújo (1956) eqüivaleriam a trêsanos de consumo mundial. Neste meio tempo,outros países latino-americanos entraram nomercado do café, concorrendo com preços maisbaixos e com melhor qualidade.

Nesse período encontrava-se também,apesar da grande produção de café em SãoPaulo, ocupando as terras mais férteis, a cana-de-açúcar já em algumas propriedades; noentanto sua produção ainda não era tãosignificativa para a economia paulista. Essequadro começaria a mudar em meados do séculoXX em São Paulo3 , com o declínio do café e osprojetos do governo em relação ao açúcar e aoálcool.

“... com a Segunda Guerra Mundial,desorganizou-se a exportação do açúcar etornou-se difícil a circulação do produto pelo

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território nacional através da navegação decabotagem. O governo passou a ser maisliberal quanto à instalação de novas usinas edestilarias, fazendo com que o Centro-Sul, porser uma área de maior povoamento e nívelde renda, fosse o grande beneficiado. Houve,em conseqüência um desequilíbrio naprodução, tornando-se São Paulo, na décadade 1950, o maior produtor nacional”.(Andrade, 1994, pg. 21)

III - O colonatoEntre 1898 e 1902, dentre os imigrantes

europeus 4 , foram para Jaú principalmenteitalianos, que somavam 6.191 (Monbeig, 1998,pg. 172), encaminhados pela Hospedaria dosImigrantes. Desembarcavam no Porto de Santosimigrantes de várias nacionalidades e, naHospedaria dos Imigrantes, eram recrutadospara o trabalho nas fazendas cafeeiras dointerior do Estado onde, recebidos comotrabalhadores livres, eram alimentados pelosonho de possuir suas próprias terras.

A Hospedaria dos Imigrantes, inauguradaem 1887 (com apenas 30% das suasinstalações concluídas) foi projetada paraabrigar 3.000 imigrantes (Memorial doImigrante/Museu da Imigração, 2001) efuncionava como um verdadeiro mercado detrabalhadores na substituição da mão-de-obraescrava nas fazendas cafeeiras (Monbeig,1998).

O novo trabalhador livre5 , personificadopelo imigrante europeu, era passível de vendera sua força de trabalho para o fazendeiro,diferentemente do escravo cuja força detrabalho a ele não pertencia. A nova relação detrabalho, envolvendo imigrantes europeus,constituiu-se para que se pudesse manter aestrutura agrária com grandes latifúndios efazendeiros exportadores de café, o principalproduto econômico para São Paulo, já queoutros produtos como os gêneros alimentícios,eram secundários para a economia.

Em Jaú, no sistema de colonato, cadafamília contratada pelo fazendeiro cuidava deuma certa quantia de pés de café, cujo número

poderia variar. As famílias moravam nasdependências da fazenda do patrão (Figura 3).Geralmente suas casas tinham de quatro a cincocômodos com cozinha, dois quartos e uma sala;as paredes eram de tijolo e o chão, ora de tijolo,ora de terra batida. A latrina, quando havia,ficava do lado de fora da casa. Não havia a luzelétrica, tampouco a água encanada. Alamparina e a vela eram objetos fundamentaise a água tinha que ser buscada na fonte, noriacho ou no poço6 .

O cálculo do pagamento era feito pelovalor anual referente ao trato de umdeterminado número de pés de café, semprecom base em 1.000 pés. Multiplicando-se o valorcombinado por 1.000 pés (ou mais), tem-se ovalor anual que é dividido em quatropagamentos trimestrais (Leanza, 1941). Ocolono tinha que assinar um contrato ao assumiro trabalho na fazenda.

“Além desse salário, recebe o colono, apaga oriunda do chamado ‘serviço por dia’ eda colheita do café. O dinheiro destestrabalhos é recebido no fim do ano agrícola(este vai de 1 de outubro a 30 de setembro,juntamente com a última parcela da referidaanualidade). Eis porque o colono, em regra,faz suas compras mais importantes (...) emoutubro...” (Leanza, 1941, pg. 14)

O contrato garantia espaço de plantiopara subsistência da família do colono, noentanto, em algumas fazendas o plantio entreos pés de café era inviável devido, às vezes, àpouca fertilidade do solo, outras porque opatrão não queria, alegando que tal práticacausaria baixa na qualidade do café. Por issoeram reservados terrenos à parte para o plantiode subsistência; o colono, depois do seu dia detrabalho, tinha ainda que cuidar dessa pequenaprodução. Perante este fato, os colonosprocuravam trabalho em fazendas onde erampermitidas as culturas intercalares cujo cuidadoacontecia durante o seu trabalho diário, e ondea remuneração era melhor.

Diante da necessidade de cuidar demuitos pés de café e também dos alimentos, afamília, quando numerosa, tinha maiores

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condições de se manter, porém não se podiaesperar a fase adulta dos filhos para quecomeçassem a trabalhar. As crianças então,muito cedo, deixavam a escola, pois poucasconseguiam conciliar trabalho e estudo.

Representando uma espécie de transiçãoentre relações de trabalho – da escravista paraa capitalista-, o sistema de colonato nos remetea reflexões relevantes para o entendimento doseu significado na economia cafeeira, pois omesmo consistiu-se em uma relação de trabalhoque se diferenciava da escravista pelo fato deseu trabalho ser remunerado, e tambémdiferenciava-se do tipicamente capitalista pelamanutenção de relações não capitalistas deprodução de capital (Martins, 1996).

A fase cafeeira exportadora, juntamentecom o sistema de colonato, proporcionou areprodução de uma cultura singular, modificada/enriquecida por novos elementos trazidos pelosimigrantes europeus7 .

O colonato e o sistema de parceriapermaneceram até a década de 1960, quandofoi instituído o Estatuto do Trabalhador Rural (Lein. 4.214 de 02/03/1963). No governo de JoãoGoulart, o Estatuto acrescentou aos direitos dotrabalhador rural, já adquiridos em tese com aConsolidação das Leis do Trabalho (Decreto-Lein. 5.452 de 01/05/1943), além do saláriomínimo, férias anuais remuneradas, avisoprévio, a indenização por demissão sem justacausa e a estabilidade no trabalho. O Estatutoexigia também a regulamentação pela CLT dotrabalho feminino e infantil (Silva, 1999).

Dessa forma, foram estendidos aostrabalhadores rurais os mesmos direitosadquiridos pelos urbanos, sob o sistema desalários mensais, alterando portanto, asrelações de trabalho que passariam a sertipicamente capitalistas.

O Estatuto do Trabalhador Rural nãomexeu com a propriedade privada da terra,

FIGURA 3

Antiga colônia da Fazenda do Lajeado, cuja produção passou do café para a cana-de-açúcar. Atualmente os funcionários da Fazenda residem nessas casas.

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contribuindo desta maneira para a reproduçãodo capital nas mãos da burguesia agrária.

Com o Estatuto do Trabalhador Rural, oEstado limitou a organização dos trabalhadoresno campo, visto que a legislação contemplavaos seus direitos -assim como os dostrabalhadores urbanos, operários das fábricas-, e ofereceu à elite agrária a dominação aindamaior sobre os meios de produção, semameaças ao seu poder político e econômico.

Cabe lembrar que a cana-de-açúcarcomeçou a tomar o espaço da paisagemcafeeira, havendo a transição quase quesimultânea das relações de trabalho e destasmonoculturas.

A monocultura canavieira, acompanhadapela vigência das leis trabalhistas no campo queinstituíram o salário como única forma deremuneração, individualizou o trabalho. Ex-colonos foram morar na cidade onde passarama ter maior intimidade com o dinheiro. No sistemade colonato, praticamente não havia anecessidade da mediação da moeda para asobrevivência e reprodução do homem do campopor conta mesmo da cultura intercalar, do cultivode horta e criação de animais. Quando o colono,o parceiro enfim, é expropriado, sua reproduçãoé desligada da terra e, na cidade, ele tem quese ajustar social e economicamente. Sem a terrapara cultivar e com salário pequeno, o seuconsumo é escasso em relação à fartura da roça.Seu alimento passa a ter rótulos e formatos; étrocado por dinheiro.

O diarista desvincula o seu trabalho dasua vida. A terra que cultiva para o patrão sóserve para o seu sustento na medida em quevende sua força de trabalho e não como antes,na colônia, em que praticava a cultura desubsistência.

Toda a vida passou a ser mediada pelomercado, por relações de compra e venda, e adependência a esse comércio foi, aos poucos,se ampliando, facilitada pelas prestações efinanciamentos. A prática da indústria doméstica,neste processo foi se acabando, ritmada a vidaem função da racionalidade capitalista

estendida à produção agrícola. Os trabalhadoresdo campo tornaram-se assalariadosgradativamente, e em Jaú e região os canaviaisformaram a paisagem dominante sustentados,junto com as usinas, pela política nacional doProálcool.

Os moradores dos bairros rurais 8

acabaram submetendo-se aos interesses dasgrandes usinas, pois diante da dificuldade definanciamento para a pequena produçãoagrícola, os sitiantes9 eram alvos fáceis frenteàs propostas atraentes de compra ouarrendamento da sua propriedade.

Todo esse processo provocou alteraçõesno modo de ser, pensar e agir do homem docampo, na sociabilidade singular da culturacaipira tradicional.

IV - A vida na roça

A organização da família para o trabalhona lavoura se dava, conforme D. Inez10 , daseguinte forma: um membro da família,geralmente a mãe ou a filha cuidava da casa,da criação (porco, galinha, vaca...), da comidapara os outros que estavam trabalhando e, àsvezes, dos irmãos mais novos. Às cinco horasda manhã começava o dia para essa gente que,após tomar um rápido café preto, seguia ocaminho para a roça. O horário de trabalho eradas seis da manhã às seis da tarde, ou “de sola sol”, como costumavam falar. Às oito da manhãera hora do almoço, este por sua vez eracomposto por pão ou polenta com leite, àsvezes, arroz, sardinha, batatinha, ovo.Geralmente o almoço era levado para a roçapelo próprio trabalhador, o que não aconteciacom a refeição ao meio-dia, ou seja, a janta;nesta, a mãe ou filha que havia ficado em casaseguia até a roça para levar o alimentocomposto basicamente por arroz e feijão.

O preparo do alimento contava compoucos recursos, aqueles obtidos no plantio desubsistência, pois o dinheiro pouco mediava aculinária da roça. Para conservar algunsalimentos como a carne, os moradores do

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campo, conforme o Sr. Sidney11 , ex-morador dascolônias jauenses, a cozinhavam e a guardavamem latas de vinte litros com gordura natural debanha de porco. A inexistência da geladeiraproporcionava alternativas para a conservaçãodos alimentos perecíveis.

O pão caseiro era um dos alimentoselaborados em casa, para ser consumidodurante a semana repleta de trabalho nalavoura, não havendo, portanto o costume decomprá-lo pronto na venda, na vila.

“Macarrão, farinha de trigo pra fazer pão,fazia pão lá no forno. Cada casa tinha um forno,de barro, de tijolo pra fazer o pão. Então a própriafamília fazia pão pra ela.” (Sr. Sidney, 50 anosde idade)

Da mesma forma que a alimentação, asroupas eram feitas em casa, sendo somente otecido – matéria prima - comprado nas lojas.Havia a roupa de trabalhar e a de ser usada nodia santo, ou seja, a roupa melhor era reservadapara as missas, festas e passeios.

Participam desse universo culturalentendido como caipira, as lendas e crenças,os remédios caseiros acompanhados pelosbenzimentos. As ervas eram colhidas no matoou cultivadas em casa; cada tipo de chá possuíadeterminadas propriedades de cura para aenfermidade. O conhecimento dessas ervas eraízes era comum entre as pessoas do campo,que se auto medicavam ao se sentiremenfraquecidas ou com dores que indicassem oaparecimento de alguma doença.

D. Catarina12 , moradora de Dois Córregos,município vizinho de Jaú, fala sobre a folha delima e o juá:

“Pra tudo! Diabete, pra pele... É, e ascascas dela [da lima] diz que é um remediãotambém... Diz que limpa o sangue, deixa osangue limpo, limpo. Não deixa dar pereba, nãodeixa dar nada... E febre que dava, minha mãefalava: ‘Vai no mato, cata juá bravo’.” (Sra.Catarina, 81 anos de idade)

Sobre as lendas, falaram o Sr. LuísRogatto 13 , e o Sr. Sidney, moradores quandoentrevistados, da cidade de Jaú:

“[Mula sem cabeça] eu também já ouvifalar, mas eu não sei. Dizem que existe mas eununca vi. (...) Isso daí eu escutei muita gentefalar, mas também eu não sei se é verdade oué mentira, eu nunca vi.” (Sr. Luís Rogatto, 69anos de idade)

“Cheguei a ver... e quantas noites assimna colônia, aqueles cavalos corriam na frenteda colônia, subia e descia... Quando eu chegava,nós falávamos que era o saci-pererê, chegavacedo você via aquela crina de cavalo assim, todaamarrada, trançada; ele que fazia esse serviço.Lá ele subia várias vezes, ele subia e descia demadrugada. Eu geralmente cheguei a ver muitaassombração!” (Sr. Sidney, 50 anos de idade)

Todo o trabalho doméstico realizado naroça não conhecia outra prática que nãoenvolvesse a transmissão de um saber fazer.Os costumes foram passados de pais para filhoscomo um ensinamento para toda a vida, paraum dia estes últimos ensinarem também a seusfilhos e, dessa forma, reproduzir os costumesda família.

As festas pertencem também ao universodo trabalho, à comemoração da colheita farta esua associação com a religiosidade dapopulação. Assim estavam sempre presentesSanta Luzia, protetora dos olhos, São Gonçalodo Amarante, beato cuja paga de promessa é ooferecimento de uma dança, as Folias de Reispara preparar a chegada do Menino Jesus noNatal e a Festa do Divino Espírito Santo, festade Pentecostes onde uma pomba brancarepresenta o Espírito Santo.

“Eles faziam um altar, aí punha umsantinho de São Gonçalo assim. Aí faziam duasfilas. Aí beijava o santo aqui, o santo ficava nomeio do altar. Aí um saía aqui, beijava aqui esaía pra cá, para pegar a fila de novo. O outroque estava aqui, beijava aqui e saía para lá. Eassim ia a noite toda. Sei que cruzava. Eraengraçado. Aí todo mundo admirou, todo mundo

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gostou. Era homem, mulher... Cantavam,tocavam viola, brincavam, faziam fila, beijavamo santo... era diversão. Comia, bebia, era festa...Mas eu não lembro como cantava a música, seique era bonita a festa de São Gonçalo”. (Sra.Inez, 71 anos de idade)

E para divertimento, ou seja, a prática dasociabilidade fora do trabalho, fortalecendo asrelações de compadrio e parentesco, podemosfalar das festas tidas como profanas, ou seja,não religiosas. O catira, por exemplo, era só afesta do catira, a dança não era dependentede outra festa, embora estivesse bastantepresente nas Festas Juninas. Era uma dançapraticada somente por homens, e acontecia nascolônias e sítios. Essa é uma herança indígenaintegrada à cultura caipira uma vez que, noperíodo colonial, os jesuítas ao introduzirem ocatolicismo aproveitaram a dança e a músicasempre presentes na cultura indígena.

“Eles tocavam viola, batiam palma,batiam o pé. E conforme a moda de viola elesdançavam batendo palma, batendo o pé,pulando. Era festa do catira, ficavam a noiteinteira pulando. Aí fazia uma carreira pra lá eoutra pra cá, era par: se tinha seis pra lá, eramseis pra cá... tocando viola e dançando, cantandoe pulando. Eles faziam mais era na Festa deSanto Antonio. Faziam aquela festa, suspendiamo mastro, era Santo Antonio, São Pedro e SãoJoão. Cada um tinha um jeito de comemorar odia do santo. Uns faziam a fogueira, rezavam oterço, faziam catira e suspendiam o mastro”.(Sra. Inez)

Havia também, além das missas e dasfestas (religiosas ou não), os campeonatos defutebol que promoviam o encontro e a troca deinformações, inclusive sobre a necessidade detrabalhadores em determinadas lavouras e ostermos do contrato.

A mobilidade que era até então somenteno meio rural, por entre as fazendas, em buscade melhores condições de trabalho, intensificou-se atingindo a área urbana. Foram vários osfatores que contribuíram para isso: a queda docafé, a economia voltada para a cana-de-açúcare principalmente a vigência das leis trabalhistas

no campo. Reza a lei que todo trabalhador ruraltem direito ao registro na Carteira de Trabalho,às férias remuneradas, ao 13º salário, ao Fundode Garantia por Tempo de Serviço, assim comoos trabalhadores urbanos. Desta forma nãocabia mais o trabalho familiar nas fazendas, como sistema de colonato, mas sim oindividualizado, com carteira assinada.

O Sr. Pedro14 lembra da época em que issoocorreu no governo de João Goulart, por meiodo Estatuto do Trabalhador Rural (Lei n. 4.214de 02/03/1963).

“Quem foi que acabou com as colôniasfoi o João Goulart! (...) Ele deu, precisava todomundo ter um salário mínimo, ganhar um saláriomínimo.(...) Então os fazendeiros se viramobrigados a mandar os colonos embora. Nãodava pra eles dar um salário mínimo pra todomundo, e dar a casa para morar, dar a lenha...então não tinha condição. (...) Então acabou!Acabou colônia, ficou alguma fazenda lá, ficoualgum pra tomar conta e os outros foi mandadoembora, e onde foram pra cidade. E agora opatrão pega da cidade quando é tempo decolheita e leva pra colher, que é o bóia-fria, queeles falam, não é? Então, piorou, em vez demelhorar.”

As pessoas passaram a morar na cidadeou foram para São Paulo e região, comoaconteceu com a família do Sr. Pedro que em1957, antes mesmo de acabar o sistema decolonato, foi para Santo André (SP) com a esposae filhos, sendo aguardado pelos sogros. Aospoucos seus irmãos foram ao seu encontro.

A reprodução do ex-colono estava sendoagora mediada pelo salário; seu alimento nãoera mais cultivado, mas comprado no mercado,na venda. A manutenção de sua famíliadependia do trabalho assalariado e individualde cada membro da mesma. Não havia maiscontrato que pudesse envolver o trabalhofamiliar, possível somente nos sítios, com ospequenos produtores rurais.

A cana-de-açúcar invadiu também asterras jauenses, ocupando os espaços do caféde outrora no interior do estado de São Paulo.

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As usinas açucareiras começaram a crescer, aarrendar terras de sitiantes e fazendeiros paraa produção de cana-de-açúcar, tendo destaquea Usina da Barra, cuja sede está situada emBarra Bonita, município vizinho de Jaú.

Atualmente há um grande número deusinas na região de Jaú, conforme João André,Presidente da Casa de Agricultura de Jaú. Nadécada de 1990, o município registrou 650Unidades de Produção Agrícola15 voltadas paraa cana, ocupando 42.815,3 ha da área total16 .

“Tem muitas usinas aqui na região. Sóna Regional de Jaú que é a região aqui de Jaú,tem a Usina da Barra, que é a maior, que é emBarra Bonita, tem a Usina Barra Grande, que éem Lençóis Paulistas, município vizinho aqui,tem a Usina São José, em Macatuba. Essas duassão do mesmo grupo, o Grupo Zilo Lorenzetti.Tem a Usina Diamante que é em Jaú [Figura4], tem a Usina Central Paulista, que é do GrupoAtalla que é em Jaú, tem a Destilaria Rizzo, queé em Jaú também, tem o Coleta, que é em Bariri.Tem a Paraíso em Brotas, tem a Sete Lagoasem Mineiros, tem a Santa Adelaide em DoisCórregos, tem a Santa Cândida em Bocaina, achoque são essas. Tem várias. (...) Então temmuitas na região, porque o forte da região é acana.” (João André17 )

Os sitiantes também passaram a produzircana, ou então a arrendar suas terras para asusinas. O Sr. Manoel Rizzioli18 , cujo sítio tem 7,5ha nos fala das dificuldades na produção da canaque é vendida para uma usina em Dois Córregos:

“É Dois Córrego, só que a gente moraaqui, é município de Jaú e essa cana vai praUsina Dois Córregos. (...) Hoje o preço da canaé doze reais, a tonelada. (...) Hoje, se analisarno preço que ela está, não compensa... dá poucolucro, muito pouco, o mínimo.” (Sr. ManoelRizzioli, 59 anos de idade)

A monocultura do café foi trocada poroutra, a da cana-de-açúcar, fato este acontecidonão só em Jaú, mas em boa parte do Estado deSão Paulo. A mobilidade do trabalho e da forçade trabalho se intensificou com astransformações nas relações de trabalho. Talfato mudou completamente o modo de vida não

só do colono como também dos pequenosproprietários, sitiantes.

Apesar dessa ruptura encontramos aindahoje traços de uma cultura caipira, porém deuma forma dispersa e diluída na cidade. O quehá são permanências que se justapõem ou seutilizam de elementos trazidos pelamodernidade para existirem.

V - Considerações FinaisTraços de uma cultura tradicional

persistem no mundo moderno, o que nãosignifica, no entanto, opor tradição emodernidade.

Segundo Martins (2000, pgs. 19/20) amodernidade

“É constituída, ainda, pelos ritmosdesiguais do desenvolvimento econômico esocial, pelo acelerado avanço tecnológico,pela acelerada e desproporcional acumulaçãode capital, pela imensa e crescente misériaglobalizada, dos que têm fome e sede nãosó do que é essencial à reprodução humana,mas também fome e sede de justiça, detrabalho, de sonho, de alegria. Fome e sedede realização democrática das promessas damodernidade, do que ela é para alguns e, aomesmo tempo, apenas parece ser para todos.A modernidade anuncia o possível, emboranão o realize”.

A modernidade traz as possibilidades detransformação humana e social (possibilidadecriada pelo capitalismo) mas não as realiza,caracterizada que é pelos desencontros edescompassos de tempo. Daí a impossibilidadeda realização do possível (Martins, 2000).

É a própria contradição da modernidadeque anuncia o conforto e o bem estar, tudoem nome dos direitos do trabalhador e docidadão, mas principalmente em nome docapital. Anuncia, mas não realiza. Por isso, ageração de desigualdades: desigualdades detempo, desigualdades sociais, desigualdadesde acesso ao moderno.

Em Jaú, as festas por exemplo, foramcada vez mais rareando, sendo quase impossível

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encontrar Folias de Santo Reis ou do DivinoEspírito Santo. Porém permanecem as festas depadroeiros dos bairros. A Festa de Santa Luzia,por exemplo, se utiliza da modernidade para sereproduzir. E se reproduz de forma diferente daoriginal, antiga, pois é mediada pelo mercado:leilão, quermesse, pechinchão, sem perder a suaessência: a religiosidade, a fé e a sociabilidade.Dona Neide 19 , moradora do bairro de PousoAlegre de Baixo nos fala sobre a festa:

“Em dezembro tem... Dia 13 dedezembro é festa de Santa Luzia, começo dedezembro. E tem quermesse, depois temleilão. Sai pelas fazendas pedindo bezerro,sabe, porco, essas coisas... Depois eles fazemo leilão, depois com o dinheiro eles ajudam aigreja, com o dinheiro que eles arrecadam daquermesse, das coisas que eles vendem,depois ajudam a igreja. (...). Tem gastotambém, pra reformar [a igreja]. Então odinheiro da quermesse, o dinheiro do bispotambém, porque o dinheiro do bispo vem daIgreja, pra pagar o padre, que o padre vempra missa de táxi, então tem que pagar o táxipro padre vim pra missa.

Vem [gente] de Jaú, vem... é porque elesfazem muita promessa por causa da Santaprotetora da vista, Santa Luzia é protetora doolho. Então eles fazem muita promessa. Temmuita gente que já conseguiu alcançar a graça,então vêm pagar a promessa, vêm na missa...Vem bastante gente! Nossa!! Enche a igreja!Tem vez que tem até duas missa e tem aprocissão com a santa. (...) É, depois tem a festa.(...) É, tem guaraná, tem cerveja, tem frangoassado, tem churrasco, tem frango...” (D. Neide,40 anos de idade)

No processo de transformação do mundo,mas que mantém viva a essência da culturacaipira, encontram-se convivendo o tradicionale o moderno, o que possibilita o entendimentodo mundo rústico como o (in)moderno, o nãomoderno (Martins, 2000).

“Aquilo que ficou residualmente àmargem da racionalidade limitada do lucro nomundo colonial e no processo de constituiçãodo mercado interno. Aquilo que parece

exterior à nova ordem, que parece não fazerparte dela”. (Martins, 2000, pg. 28)

Mas, faz parte da nova ordem justamenteporque alimenta o seu contrário, reafirma-o. Asociedade moderna existe tendo comoreferência a sociedade rústica, com ares desuperação diante da proposta de conforto e bemestar. Existe em função dela também como formade alimento. É ali que está a fonte, a inspiraçãopara a música sertaneja romântica, para os fast-foods de “comida da fazenda”, entre outrascoisas.

“Mesmo quando o nacionalismodeclinou, nesta era da globalização, aexpressão mais viva do tradicionalismo, acultura popular, não teve dificuldades para seajustar na aparência à modernidade,sobretudo à modernidade cultural. Diferentedo que pensam outros autores, entendo quehá aí uma contradição a ser explicada. Acultura popular carrega consigo o seu tempohistórico, que só lentamente se dilui para darlugar a formas culturais desenraizadas e,portanto, desprovidas dos liames deautenticidade que lhes davam sentido emoutros tempos e situações, isto é, formaspuras e intercambiáveis. Sem dúvida amodernidade pode fazer do tradicional e docostumeiro realidades descartáveis, dos quaisnecessita como puras formas. Mesmo aí arecuperação da cultura popular e dotradicionalismo que ela expressa e contémnão pode se integrar na modernidade senãocomo anomalia e problema. Sobretudo porqueesse tradicionalismo encerra o persistente, opassado, ainda que atualizado, e ocostumeiro. Uma anomalia, portanto, nasituação social própria da modernidadedominada pela moda, pelo moderno e pelopassageiro”. (Martins, 2000, pgs. 33/34)

Traços subjetivos e sutis dessa“anomalia” são percebidos em Jaú. Seguindo ospassos de Geertz (1987) no que diz respeito àsinterpretações e descrição densa, só é possívelo entendimento e a diferenciação de algunscomportamentos, classificando-os comosingulares, por meio das entrevistas que trazem

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à tona a história do indivíduo, revelando a suaorigem rural, permeada pela rusticidade dosmeios de vida.

São os herdeiros da rusticidade, cujolegado se manifesta no jeito de falar, de contaro tempo. Uma benzedura aqui e outra ali, sejacom arruda, carvão ou com alecrim, está nacidade, convivendo com o médico, com amedicina oficial. Não há substituições de umapela outra, mas a convivência de ambas,embora a primeira prática seja residualtendendo a diminuir ainda mais por conta danova geração que não herdou dos pais asabedoria das plantas e das rezas, cujos

interesses são outros, os do mundo moderno.A cultura caipira construiu, com o passar

dos anos, uma identidade que perpetua nos diasde hoje. Porém, diante da sociedade demercadorias, o capital mais uma vez se apropriade seus costumes e os comercializa, pois é hoje,o diferente, o desconhecido, além de significara retomada de um passado que os atuaisconsumidores não viveram.

Visão romântica? Folclore? Talvez para osde fora, os citadinos. Mas para os herdeiros darusticidade, cada manifestação contém aessência da sua vida, parte que é, do seu modode ser, ver e viver o mundo.

Notas

1 O texto Velha Praga foi publicado na seção Queixase Reclamações no Jornal O Estado de São Pauloem 12/11/1914. Mais tarde, em 1918 foi incluídona segunda edição de Urupês, de Monteiro Lobato.

2 A frente pioneira, segundo Martins “... formula oseu antagonismo com a frente de expansão emtorno de um valor: a propriedade privada da terra,isto é, a renda capitalizada. Esse antagonismose apresenta no âmbito das relações sociais peladescontinuidade de significações em torno dofator terra, sobretudo no que respeita ao modode obter a propriedade (compra/ocupação)”.(Martins, 1975, pg. 47)

3 Até então, o nordeste do Brasil era conhecido pelatradição de ser grande produtor de cana-de-açúcar, principalmente o estado de Pernambuco.

4 No período de 1887 a 1900, entraram em São Paulo,cerca de 863.000 imigrantes europeus, na suamaioria de origem italiana e espanhola, seguidapela portuguesa. (Monbeig, 1998)

5 Conforme Gaudemar (1977), o trabalhador livre éo possuidor de sua força de trabalho, ou seja,ator de sua própria liberdade, a liberdadepositiva. Porém há também a liberdade negativa,quando não há nada a ser feito senão vender asua força de trabalho para poder sobreviver,submetendo-se às exigências do capital.

6 As informações referentes ao sistema de colonatodatam da década de 1930, sendo muitas delaslembranças da infância dos entrevistados.

7 Cabe lembrar que já tínhamos aqui, o encontro doíndio com o português. Agora, junta-se a essacultura caipira, a do imigrante europeu.

8 Segundo Maria Isaura P. Queiroz: “Era o bairrorural um grupo de vizinhança de ‘habitat’ disperso,mas de contornos suficientemente consistentespara dar aos habitantes a noção de lhe pertencer,levando-os a distingui-lo dos demais bairros dazona. O ‘sentimento de localidade’ constituíraelemento básico para delimitar a configuração deum bairro, tanto no espaço geográfico quanto noespaço social. Tradicionalmente uma capelamarcava o núcleo central e a festa do padroeiroconstituía um dos momentos importantes dereunião para os componentes dispersos pelascercanias, - momento em que se afirmava apersonalidade do bairro, em relação aos bairrosvizinhos. Cada bairro se compunha de famíliasconjugais autônomas, autárquicas, lavrandoindependentemente suas roças quando e comoqueriam. Não podiam, porém, prescindir doauxílio dos vizinhos sem grave diminuição de seusrecursos, pois suas técnicas eram as maisrudimentares”. (Queiroz, 1967, pg. 65)

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9 Como exemplo temos o Bairro Revisão Agrária,cuja origem remete-se ao Plano de Ação doGoverno Carvalho Pinto (Lei de Revisão Agrárian. 5994 de 31/12/1960). Três fazendas foramdesapropriadas – Farinheira, São João e PousoAlegre – e, uma vez divididas em 103 lotes,configuraram-se em pequenos sítios.

10 Entrevista realizada em 27/07/2001. D. Ineznasceu na década de 30 em Jaú, onde morou emcolônias de fazendas cafeeiras até por volta de20 anos de idade, quando passou a residir nomunicípio de Santo André (Região Metropolitanade São Paulo).

11 Entrevista realizada em 21/10/1999.12 Em entrevista realizada em 22/10/1999.13 Em entrevista realizada em 23/10/1999. (In

Memorian)14 Entrevista realizada em 27/07/2001.15 “Uma Unidade de Produção Agrícola – UPA

caracteriza-se, a partir das seguintespossibilidades: a) Propriedade rural, entendidacomo a área contínua registrada em cartório como

unidade de propriedade; b) Imóvel rural,entendido como o conjunto de propriedadescontíguas do(s) mesmo(s) proprietário(s); c)Estabelecimento agropecuário, entendido como“todo terreno de área contínua, independente dotamanho ou situação (urbana ou rural), formadode uma ou mais parcelas, subordinado a umúnico produtor, onde se processe uma exploraçãoagropecuária”; d) Agricultor ou produtor rural,entendido como o responsável (proprietário ounão) por um ou mais estabelecimentos rurais”.Levantamento Censitário das Unidades deProdução Agropecuária de 1995-1996. SAA/Instituto de Economia Agrícola - IEA/FundaçãoSistema Estadual de Análise de Dados – Seade.

16 Somente para comparar, na década de 1990 háno município apenas 39 UPAs voltadas para aprodução de café, totalizando uma área de635,7ha.

17 Entrevista realizada em 11/09/2001.18 Entrevista realizada em 16/10/1999.19 Entrevista realizada em 25/10/1999.

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Page 18: A cultura caipira no município de Jaú (SP)