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1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A cultura como fator de sucesso financeiro nas organizações, baseado no Competing Values Framework. Monografia apresentada ao curso de gradução em Engenharia de Produção Mecânica da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo para obtenção de título de Engenheiro. Gabriel Zamboni Gobbi Orientador: Prof. Dr. Mateus Cecílio Gerolamo SÂO CARLOS – SP Novembro, 2012

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

A cultura como fator de sucesso financeiro nas organizações,

baseado no Competing Values Framework.

Monografia apresentada ao

curso de gradução em

Engenharia de Produção

Mecânica da Escola de

Engenharia de São Carlos da

Universidade de São Paulo

para obtenção de título de

Engenheiro.

Gabriel Zamboni Gobbi

Orientador: Prof. Dr. Mateus Cecílio Gerolamo

SÂO CARLOS – SP

Novembro, 2012

2

3

AUTORIZO A PUBLICAÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE

TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO,

PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

4

Agradecimentos

Dedico o presente trabalho a Flávia Morales Alves e Márcia Valéria Zamboni

Gobbi, que me acompanharam na jornada até o final.

Agradeço ao professor Mateus Cecílio Gerolamo, pelos inúmero encontros

que me guiaram através do trabalho, além de elevarem meu interesse pelo

tema e motivação.

Agradeço também a Diego Fogaça, Herick Moralles e Fernando Almada

Santos pelos refinamentos e idéias adicionais que contribuíram ao resultado

final.

Por fim, agradeço a todos que responderam ao questionário e se

disponibilizaram ao longo do ano para discutir ideias, participando de forma

fundamental do processo.

5

6

Sumário

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 14

1.1 Contexto ...................................................................................................................................... 14

1.2 Justificativa e questão de pesquisa ................................................................................... 15

1.3 Objetivo e hipóteses ................................................................................................................ 19

1.4 Visão geral do método de pesquisa .................................................................................. 20

1.5 Estrutura do trabalho .............................................................................................................. 21

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................................... 22

2.1 Cultura organizacional ............................................................................................................ 22

2.1.1 Definição de cultura ......................................................................................................... 22

2.1.2 Definição de cultura organizacional .......................................................................... 22

2.1.3 Competing Values Framework ..................................................................................... 25

2.1.4 Estratégias de medição de cultura organizacional .............................................. 28

2.1.5 Organizational Culture Assessment Instrument (OCAI) ................................... 29

2.2 Desempenho financeiro das organizações ...................................................................... 34

2.3 A relação entre cultura organizacional e desempenho financeiro observada em

outros estudos ................................................................................................................................... 35

3. MÉTODO DE PESQUISA ................................................................................................................ 42

3.1 Revisão Bibliográfica ............................................................................................................... 42

3.2 Pesquisa de Campo ................................................................................................................. 43

3.2.1 Parâmetros financeiros da organização fictícia de desempenho superior .. 43

3.2.2 Questionário OCAI............................................................................................................ 45

3.2.3 Análise Demográfica ........................................................................................................ 45

3.2.4 Plataforma Surveymonkey ............................................................................................ 46

3.2.5 Amostragem e método de envio da pesquisa ....................................................... 46

3.2.6 Teste-piloto ......................................................................................................................... 47

3.3 Análise e discussão dos resultados ................................................................................... 48

3.3.1 Parâmetro de comparação: o perfil cultural médio das empresas de

manufatura (CAMERON e QUINN, 2006). ........................................................................... 48

3.3.2 Análise estatística dos resultados .............................................................................. 50

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS ...................................................................................................... 53

7

4.1 Análise demográfica ................................................................................................................ 53

4.2 Teste de normalidade ............................................................................................................. 54

4.3 O perfil da organização fictícia de desempenho superior ......................................... 57

4.4 Análise do indicativo das hipóteses do estudo.............................................................. 58

4.5 As dimensões culturais da organização fictícia de desempenho superior .......... 61

4.6 Cálculos de cenários de amostragem ............................................................................... 64

5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................................................................ 65

5.1 Tipo cultural ................................................................................................................................ 65

5.2 Força e congruência culturais .............................................................................................. 66

5.3 A liderança na organização de sucesso financeiro ...................................................... 67

5.4 O ciclo de vida das organizações ....................................................................................... 67

5.5 Limitações do estudo .............................................................................................................. 68

5.6 Estudos futuros ......................................................................................................................... 69

6. CONCLUSÃO DO ESTUDO E CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................... 69

7. Referências Bibliográficas ............................................................................................................ 71

ANEXO A – Questionário do OCAI (adaptado e traduzido) .................................................. 75

8

Lista de Tabelas

Tabela 1 - Resultados das empresas que apresentaram cultura adaptável. 17

Tabela 2 - Coeficientes para os diferentes níveis de confiança. ................. 52

Tabela 3 - Distribuição dos pontos de acordo com sua frequência. ............ 54

Tabela 4 - Teste de normalidade de Shapiro-Wilk ................................... 55

Tabela 5 - Tipo predominante de cultura para cada respondente. ............. 58

Tabela 6 - Quadro ANOVA e sumário. .................................................... 59

Tabela 7 - Força cultural, média e desvio-padrão .................................... 60

Tabela 8 - Congruência cultural ............................................................ 61

Tabela 9 - Valores de média e desvio-padrão amostral ............................ 64

Tabela 10 - Tamanhos de amostra ........................................................ 65

9

Lista de Figuras

Figura 1 - Competing Values Framework. .............................................. 26

Figura 2 - Plotagem de pontos de uma cultura ....................................... 30

Figura 3 - Perfil de cultura traçado.

Figura 4 - Perfil médio de uma organização de manufatura. ..................... 49

Figura 5 - Perfil genérico de uma variável com distribuição normal. .......... 51

Figura 6 - Perfil cultural da organização fictícia de desempenho superior ... 57

10

Glossário

Competing Values Framework (CVF): framework que visa interpretar a cultura de

uma organização, segundo duas principais dimensões. A primeira avalia se a

cultura enfatiza flexibilidade ou estabilidade. A segunda avalia se o enfoque

organizacional é interno ou externo. Através do CVF é possível classificar a cultura

de uma organização em: clã, adhocracia, mercado e hierarquia (CAMERON e

QUINN, 2006).

Cultura organizacional: é o padrão de comportamento básico de um determinado

grupo de indivíduos, que é passado a novos membros como forma de pensamento

e resolução de problemas (SCHEIN, 1984; CAMERON e QUINN, 2006).

Dividendo: parte do lucro líquido de uma organização paga aos acionistas. Por lei,

no Brasil, esse valor deve ser no mínimo 25% em caso de a empresa apresentar

ganhos no final do período contábil (ROSS, WESTERFIELD e JAFFE, 2007).

EBIT (Earnings Before Interest and Taxes): lucros da empresa antes de descontar

impostos e juros sobre capital.

Estrutura de capital: define qual porcentagem do capital de uma empresa foi obtido

através de empréstimos (endividamento) e qual porcentagem através de

patrimônio da própria empresa.

Liquidez: percentual do patrimônio total que se encontra em caixa ou em

investimentos de curto prazo, ou seja, percentual do patrimônio ao qual a empresa

tem acesso imediato (ROSS, WESTERFIELD e JAFFE, 2007).

Market share: porcentagem do mercado que determinada empresa atende, medida

pela divisão das vendas da empresa pelas vendas totais do segmento.

Receita: constitui todas as entradas de caixa da empresa, sejam elas obtidas

através da venda do core de produtos ou serviços (operacionais) ou de operações

financeiras (financeiras) (ROSS, WESTERFIELD e JAFFE, 2007).

Rentabilidade: percentual do capital investido na empresa que retorna ao investidor

ao final de um período.

Rentabilidade Líquida dos Ativos (Return on Assets, ROA): calculado pela divisão

entre o lucro líquido em um período e o capital investido.

Retorno Total (Retorno Total ao Acionista): é a soma de todos os dividendos pagos

pela organização com a valorização do preço da ação em um determinado período.

Pode ser medido por ação ou em valores totais para uma empresa (ROSS,

WESTERFIELD e JAFFE, 2007).

11

Organizational Culture Assessment Instrument (OCAI): instrumento em forma de

questionário utilizado para interpretar a cultura da organização conforme definido

pelo Competing Values Framework (CAMERON e QUINN, 2006).

Valores: conjunto de atitudes ou crenças que guiam os padrões de comportamento

de determinado grupo (SCHEIN, 1984).

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Resumo

GOBBI, G.Z. A cultura como fator de sucesso financeiro nas organizações,

baseado no Competing Values Framework. Trabalho de Conclusão de Curso -

Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2013.

Com o aumento de competitividade e diversidade observado recentemente

no mercado brasileiro e mundial, várias teorias se formaram sobre os fatores

que diferenciam e definem as empresas de desempenho superior. Entre tais

fatores, a cultura organizacional é citada em estudos realizados em

diferentes setores e diferentes países. De qualquer forma, estes estudos não

apresentam uma conclusão definitiva e diferem significativamente na

definição dos parâmetros tanto do desempenho quanto da cultura

organizacional.

Este estudo propõe utilizar o questionário OCAI (Organizational Culture

Assessment Instrument), baseado no Competing Values Framework, para

acessar três parâmetros da cultura de uma organização fictícia: tipo, força e

congruência. Ao mesmo tempo, são selecionados os principais parâmetros

financeiros encontrados como indicadores de desempenho superior em

estudos recentes. É objetivo do estudo, então, explorar, com base nesses

parâmetros, a relação entre a cultura e o desempenho financeiro de uma

organização brasileira, por meio da comparação da cultura de uma

organização média do setor de manufatura com uma organização de

desempenho superior do mesmo setor. O perfil cultural desta última é

traçado a partir dos resultados do questionário citado.

Os resultados do estudo demonstram que a cultura de mercado predomina

no setor em estudo, porém o tipo cultural não diferencia a organização de

desempenho superior da média do setor. Também não foram encontradas

evidências de que a força cultural tem influência no desempenho financeiro.

Entretanto, foi possível observar um indicativo de que a organização de

desempenho superior se diferencia por apresentar uma cultura congruente.

Por fim, é fornecida uma base para estudos futuros.

Palavras-chave: Cultura Organizacional; Desempenho Financeiro

13

Abstract

GOBBI, G.Z. Organizational culture as a factor for superior financial

performance, based on the Competing Values Framework. Escola de

Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2013.

In light of recent increases in market competitiveness and diversity, there

have been various theories about the parameters that differentiate and

define companies with superior performance. Organizational culture is often

found among those parameters in studies conducted in different locations

across different economic segments. However, such studies fail to present a

definitive conclusion and significantly differ in relation to the concepts and

definition of organizational culture and financial performance.

The present study uses the survey OCAI (Organizational Culture Assessment

Instrument), based on the Competing Values Framework, to assess three

cultural parameters of an organization: its type, strength and congruence. At

the same time, the most commonly found financial parameters to measure

organizational performance in recent studies were selected. The objective of

the study is to explore the relation between both topics, using such

parameters, through the comparison of an average organization of the

manufacturing sector to a top performing organization of the same sector.

The cultural profile of the latest is assessed through the results of the

aforementioned survey.

The results of the study show that the market culture is predominant in the

manufacturing sector, however it does not differentiate the top performing

company from the average one. There was also no evidence that cultural

strength impacts the financial performance. However, it was possible to

observe an indicative that the top performing organization differentiates

from the average one by presenting a congruent culture. Finally, insights are

provided as basis for future studies.

Keywords: Organizational Culture; Financial Performance

14

1. INTRODUÇÃO

1.1 Contexto

Com o aumento de competitividade observado nos últimos anos, cada

vez se torna mais difícil para grandes organizações permanecerem no topo

de seus respectivos mercados. Das empresas listadas na primeira edição da

Fortune 500 biggest companies, elaborada em 1955, apenas 13% estão na

última lista divulgada, em 2012. Só na última década 44% das empresas

deixaram a lista (FORTUNE MAGAZINE, 1955-2012).

Tal aumento na dificuldade de atingir excelência operacional e

financeira levou diversos autores a desenvolverem teorias sobre os

principais fatores de sucesso organizacional nos últimos anos. Até então, a

teoria mais aceita era aquele proposta por Porter (1979), que define o

desempenho organizacional como fator resultante de cinco forças: poder de

barganha dos fornecedores; ameaça de produtos substitutos; poder de

barganha dos clientes; ameaça de novos entrantes e a rivalidade entre

concorrentes. Tais forças são definidas para o setor no qual a organização

está inserida.

No estudo de desempenho organizacional e fatores de sucesso, Collins

e Morten (2011) realizaram uma das pesquisas mais abrangentes: contando

com uma lista inicial de 20.400 empresas, identificaram casos em que,

investidos dez mil dólares em determinada empresa por pelo menos quinze

anos, o resultado obtido seria pelo menos dez vezes maior do que o

mercado no geral e do que o setor no qual a empresa está inserida, no

mesmo período. Essas empresas foram chamadas de 10X. O autor destaca

que todas as empresas identificadas apresentaram tais resultados em

ambientes turbulentos e de rápida transformação, cheios de eventos

incontroláveis e incertezas. Além disso, o estudo considera todo o ciclo da

empresa, desde quando era jovem ou pequena, e não apenas períodos de

maior sucesso.

Deste estudo destacam-se pelo menos dois resultados que refutam

teorias vastamente aceitas atualmente como definidoras de alto

desempenho organizacional. O primeiro mostra que as empresas de sucesso

(10X) não são as empresas mais inovadoras. A inovação estava sim

presente em todas essas organizações, porém não foi encontrada evidência

para a premissa de que as empresas que inovam mais tendem a ter maior

sucesso. Pelo contrário, em muitos casos empresas do mesmo setor com

15

maior grau de inovação tiveram resultados muito inferiores àqueles

apresentados pelas empresas 10X. O segundo mostrou que essas empresas

não eram lideradas por gestores com tendências a assumir altos riscos e

tomar decisões importantes de forma acelerada. Pelo contrário, a pesquisa

mostrou que os líderes dessas organizações eram obcecados com aquilo que

pode dar errado, sempre analisando o pior cenário possível, geralmente

adotando posturas conservadoras (COLLINS; MORTEN, 2011).

De forma semelhante, Salomão e Ashley (2008) relacionam alto

desempenho organizacional às práticas e ao alcance da qualidade, outra

relação altamente disseminada. No entanto, análise feita pela consultoria

Rath and Strong mostra que apenas 20% das empresas na lista da Fortune

500 atingiram suas metas de qualidade. Mais ainda, 40% dessas empresas

consideraram suas iniciativas de qualidade um completo fracasso

(CAMERON; QUINN, 2006).

Assim, justifica-se a busca por um fator que ajude a diferenciar

organizações de sucesso daquelas de insucesso. Schein (1984) destaca que

diversos estudos argumentam que a cultura organizacional é o fator chave

para a excelência organizacional, apesar da complexidade dos conceitos. Em

um estudo mais recente, Zehir et al (2011) usam análises de empresas

multinacionais, na Turquia, para afirmar a relação entre cultura e

desempenho financeiro.

Para resumir a motivação de se estudar a cultura como fator de

sucesso nas organizações, Deal e Kennedy (1982) afirmam que “uma cultura

forte tem sido quase sempre a mola propulsora que está atrás das

companhias de sucesso”. Seguindo a mesma linha de pensamento, Zehir et

al (2011) completam que “as organizações devem focar em sua cultura

organizacional para atingir o desempenho desejado”.

1.2 Justificativa e questão de pesquisa

Como citado anteriormente, a busca por fatores que explicam a

excelência organizacional é altamente difundida, apesar de ser também

amplamente aceito que “não há um modelo definitivo a ser adotado para se

alcançar o sucesso financeiro” (SALOMÃO, 2009).

Diversos autores investigaram a influência da cultura organizacional

em resultados operacionais. Cameron e Quinn (2006) fazem referência a um

16

estudo no qual foram identificadas as 5 melhores empresas norte-

americanas em termos de retorno financeiro e compararam as mesmas com

empresas do respectivo setor e que tiveram acesso aos mesmos recursos,

mas que não tiveram o mesmo sucesso. Verificaram então que os fatores

para o sucesso não eram as forças listadas por Porter, já que estas são

definidas para setores e não para empresas específicas. Os autores Cameron

e Quinn (2006, p.4) resumem suas conclusões da seguinte maneira:

O principal ingrediente em cada caso é algo menos tangível,

menos evidente, porém mais poderoso do que qualquer fator

de mercado. O maior aspecto de distinção dessas empresas,

sua vantagem competitiva mais importante, o fator mais

poderoso que todas elas destacam como principal ingrediente

em seu sucesso, é a sua cultura organizacional.

Em estudo realizado no Brasil com 13 empresas do setor têxtil,

localizadas em quatro estados diferentes, verificou-se que as empresas da

amostra com melhores resultados financeiros eram também aquelas

organizações nas quais os funcionários tinham maior percepção da cultura

implementada (SANTOS, 1998).

Em 2001 o Readership Institute conduziu um amplo estudo na

indústria de jornais dos Estados Unidos. Parte do estudo consistiu em dividir

as 90 empresas do setor em três grandes tipos, de acordo com a sua cultura

organizacional: construtiva, passiva e agressiva1. Em entrevistas com

representantes das mesmas organizações foi consenso que, entre os tipos

apresentados, a cultura construtiva era a mais adequada para empresas do

setor. Então, através do método de correlação estatística, verificou-se

relação direta entre presença de uma cultura construtiva e melhores

resultados, medidos em termos de satisfação dos clientes e lucro

(SANDERS; COOKE, 2005).

Kotter e Heskett (1992) realizaram um dos estudos mais respeitados

no tema. Com uma amostra inicial de 207 empresas, identificaram 12

empresas com cultura adaptável2 e 20 que claramente não possuíam tal

1 Cultura construtiva é aquela que valoriza as relações humanas e desenvolvimento pessoal. Passiva é aquela que

valoriza a manutenção do status quo e a burocratização. Agressiva é aquela valoriza a competitividade e possui relações de poder claramente estabelecidas (SANDERS; COOKE, 2005). 2 Cultura adaptável é aquela que incentiva liderança em todos os níveis da organização, além de valorizar

funcionários, clientes e acionistas (KOTTER; HESKETT, 1992).

17

cultura. Compararam, então, resultados financeiros desses dois grupos em

um período de 11 anos. Os principais resultados estão ilustrados a seguir:

Média do grupo que apresentou cultura adaptável

Média do grupo que não apresentou cultura adaptável

Crescimento de receitas 682% 166%

Crescimento de nº de empregos 282% 36%

Crescimento no preço da ação 901% 74%

Crescimento de receita líquida 756% 1% Tabela 1 - Resultados das empresas que apresentaram cultura adaptável. Adaptado de Kotter e Heskett (1992)

Apesar de existirem outros fatores que influenciam os resultados, os

números dos dois grupos indicam forte relação entre a cultura definida como

adaptável e desempenho financeiro superior nas organizações estudadas.

Ainda que se tente isolar os efeitos da cultura, comparando organizações

que estão inseridas no mesmo setor e que são similares em basicamente

qualquer outro fator, como a American Airlines e a Northwest, no setor de

linhas áreas, a cultura ainda se mostra um bom meio de se prever

desempenho financeiro superior (KOTTER; HESKETT, 1992).

Gerry Preece (2013), então diretor global de marketing da

Procter&Gamble, definiu cultura organizacional como o caminho secreto para

o sucesso e disse que esta tem impacto em cada decisão e cada aspecto de

uma organização. Ele cita um estudo realizado por professores de quatro

instituições de ensino superior em 759 empresas de 17 diferentes países que

verificou que o principal fator de sucesso em empresas com alto grau de

inovação é a cultura dessas organizações.

A curiosidade do autor pela relação de cultura organizacional com

sucesso foi despertada pelo trabalho de Kotter e Heskett, citado

anteriormente. Preece, por sua vez, investigou os medalhistas de ouro

olímpicos de 1996 e verificou que os mesmos não treinavam nos principais

centros e com os principais especialistas de seus respectivos esportes, nem

necessariamente treinavam há mais tempo ou por períodos mais longos. O

que havia de comum entre os vencedores era o ambiente inspirador, a

cultura, com os quais estavam envolvidos (PREECE; RUHL, 2012).

Ainda, analisando a cultura de forma mais subjetiva, empresas de

sucesso criam uma cultura no ambiente de trabalho que não só auxilia a

definir metas, manter o foco e atingir tais metas, mas também permite que

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essas organizações sejam imediatamente associadas a determinadas ideias.

Por exemplo, inovação associada a Apple, diversidade associada ao

McDonald’s, comunidade associada ao Facebook, família associada a Target

(rede varejista americana). Essas organizações confiam em suas premissas

de tal forma que acreditam que mantê-las é o fator chave para atingir

sucesso no longo prazo (LLOPIS, 2011). Kotter e Heskett (1992) descrevem,

de maneira semelhante, que em organizações de sucesso normalmente é

possível verificar uma identificação com determinada ideia ou “jeito de agir”

que, muitas vezes, é mais importante do que qualquer estratégia ou tática

empresarial.

Pode-se afirmar então que o interesse em estudar a relação entre

cultura e desempenho financeiro pode ser observado em diversos estudos

feitos em diferentes épocas e locais, com diferentes grupos de empresas ou

instituições. De qualquer forma, ainda não há um consentimento definitivo

sobre a influência da cultura no desempenho e, em alguns casos, como nos

estudos realizados por Yesil e Kaya (2012), os resultados obtidos indicaram

que essa influência não é significativa.

Justifica-se então o intuito do presente estudo, que é explorar a

relação entre cultura organizacional e desempenho financeiro superior.

Torna-se, portanto, a principal preocupação encontrar um meio confiável de

avaliar a cultura de determinada organização, assim como parâmetros para

definir uma empresa de sucesso financeiro.

É possível, através do Competing Values Framework (CVF)3, classificar

a cultura de uma empresa em quatro tipos diferentes: clã, hierarquia,

adhocracia e mercado. Além disso, através do Organizational Culture

Assesment Instrument (OCAI)4, um instrumento em forma de questionário,

é possível analisar outros dois aspectos da cultura: a força, que indica o

quão dominante é um tipo de cultura na organização e a congruência, que

3 O CVF foi desenvolvido para organizar os diversos aspectos da cultura de uma organização e assim poder

classifica-la. Para tal classificação, duas dimensões são usadas como base: flexibilidade versus estabilidade e enfoque interno versus externo. As duas dimensões geram quatro classificações (tipos) possíveis para definir a cultura de uma organização (CAMERON e QUINN, 2006). 4 O OCAI é uma ferramenta em forma de questionário desenvolvida a partir do CVF para acessar a cultura de uma

organização (CAMERON e QUINN, 2006).

19

indica se o mesmo tipo de cultura é consistentemente observado em todos

os aspectos da organização5 (CAMERON; QUINN, 2006).

Já a análise de artigos semelhantes que relacionam cultura com

desempenho organizacional e das principais fontes atuais da literatura que

exploram sucesso das organizações sugere o uso de quatro principais

parâmetros financeiros para se definir o sucesso: crescimento de receitas;

market share; lucratividade e retorno total (total return to shareholders)

(FLAMHOLTZ, 2001; KAY, 2003; KOTTER; HESKETT, 1992; SANDERS;

COOKE, 2005; YESIL; KAYA, 2012; ZEHIR et al, 2011;).

1.3 Objetivo e hipóteses

O objetivo do presente estudo é explorar a relação entre a cultura de

uma organização e o desempenho financeiro da mesma.

Para tal é proposto, a partir da revisão bibliográfica feita com diversas

publicações sobre desempenho financeiro em organizações, criar uma

organização fictícia que tenha desempenho superior em todos os parâmetros

financeiros avaliados. Foi escolhido também que a organização fictícia atua

no segmento de manufatura. Assim, cria-se um caso de sucesso do ponto de

vista financeiro. Em seguida, avalia-se, através de questionário aplicado com

consultores e profissionais da área de manufatura, a cultura ideal dessa

organização fictícia.

Por fim, propõe-se comparar esta cultura ideal com o perfil médio de

uma empresa de manufatura6, conforme estudado por Cameron e Quinn

(2006). Assim, é possível identificar quais fatores diferenciam a cultura de

uma organização de desempenho financeiro superior de uma organização

média do setor.

Tem-se então, como primeira segmentação do objetivo definir a

metodologia de pesquisa que permita explorar a relação citada e identificar

quais os parâmetros culturais que influenciam no desempenho financeiro.

5 Os tipos, assim como a força e a congruência da cultura são melhor explorados no capítulo de revisão

bibliográfica. 6 Cameron e Quinn (2006) realizaram um estudo em mais de 3 mil organizações usando o questionário do OCAI e

puderam traçar perfis médios de organizações de diversos setores industriais, considerando tanto empresas com bom desempenho quanto empresas com desempenho inferior. Em tal estudo encontraram, para o setor de manufatura que a cultura predominante é a de mercado e a força cultural média é 246 de 600 pontos (41%).

20

Em seguida, através de um teste-piloto, busca-se obter indicativos de

rejeição ou aceitação para hipóteses iniciais, elaboradas a partir da revisão

de estudos publicados, a saber:

HA: há um ou mais tipos de cultura organizacional que influenciam o

desempenho financeiro das organizações, verificado através da

organização fictícia criada neste estudo.

HB: a força cultural da organização fictícia será superior à força média

das empresas de manufatura – 246 de 600 pontos.

HC: a empresa fictícia será uma empresa congruente7 do ponto de

vista cultural – apresentará um valor igual ou superior a 5 para

congruência cultural.

Por fim, como última segmentação do objetivo do estudo, propõe-se

estabelecer uma base que permita auxiliar em estudos futuros com, por

exemplo, a criação de diferentes cenários de amostragem.

1.4 Visão geral do método de pesquisa

A primeira etapa do estudo é a revisão bibliográfica, elaborada a partir

de material já publicado, como livros, artigos e periódicos. O foco da revisão

são os dois principais assuntos abordados no estudo, cultura e desempenho

financeiro, assim como a relação entre os mesmos.

A partir do conhecimento adquirido na primeira etapa, elabora-se um

estudo de caso de uma organização fictícia que tenha desempenho superior

nos diversos parâmetros financeiros selecionados. Foi definido também que

a empresa seria brasileira, de grande porte e atuante no setor de

manufatura.

A pesquisa de campo consiste, portanto, na realização de um teste-

piloto para obter indicativos de aceitação ou rejeição das hipóteses iniciais.

Para tal, o questionário do OCAI é aplicado com consultores e profissionais

da área de manufatura, a fim de avaliar a cultura ideal da organização

fictícia de desempenho financeiro superior.

7 Em seu estudo com mais de 3 mil organizações, Cameron e Quinn (2006) definiram que uma organização

congruente é aquela que apresenta uma diferença de 10% ou menos entre a cultura predominante em cada dimensão e a cultura predominante na organização no geral em pelo menos cinco das seis dimensões avaliadas. Os autores destacam que a congruência cultural é o fator que mais apresentou relações com desempenho organizacional em seus estudos.

21

Para analisar os resultados, visa-se comparar o perfil da organização

fictícia com o perfil médio para o setor avaliado por Cameron e Quinn

(2006), principalmente quanto ao tipo predominante de cultura e a força

cultural. Além disso, é proposto avaliar se a organização fictícia é

congruente, a partir da definição dos mesmos autores.

Por fim, os resultados obtidos com o questionário podem ser utilizados

para criar diferentes cenários a fim de estimar a amostragem ideal a ser

utilizada em estudos futuros.

1.5 Estrutura do trabalho

O segundo capítulo deste trabalho apresenta a revisão bibliográfica. O

primeiro conceito explorado no capítulo é a cultura organizacional, tanto

conforme exposto por Cameron e Quinn (2006) - que será usado como base

para o estudo - assim como visões de demais autores sobre o tema. Ainda,

aprofunda a visão sobre o Competing Values Framework, além de apresentar

e justificar o uso do OCAI como instrumento para identificação da cultura de

uma organização. O segundo conceito explorado são os parâmetros

financeiros. Nesta etapa, são expostos quais os principais parâmetros

financeiros que estudos recentes utilizam para identificar desempenho

superior em organizações. Por fim, o capítulo apresenta um resumo dos

principais estudos prévios que relacionam os dois conceitos mencionados

anteriormente e suas devidas conclusões e ressalvas.

O terceiro capítulo define a metodologia de pesquisa e as etapas do

presente estudo, como a pesquisa de campo, a definição do método

amostral utilizado neste estudo e os métodos de envio e coleta de

resultados. É neste também que são descritos a definição do teste-piloto e a

metodologia de análise dos resultados, bem como os testes estatísticos

utilizados para tal.

O quarto capítulo apresenta os resultados obtidos no teste piloto,

principalmente quanto aos indicativos de aceitação ou rejeição das hipóteses

iniciais e o cálculo de diferentes cenários de tamanho de amostra.

O quinto e sexto capítulos retomam os resultados obtidos e

apresentam a discussão sobre os mesmo e as conclusões do estudo, além de

considerarem as limitações deste e implicações para estudos futuros.

22

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A proposta do capítulo de revisão bibliográfica é, através de pesquisa

em livros, artigos, periódicos e publicações, obter conhecimento sobre os

conceitos a serem estudados e verificar estudos anteriores que tem como

proposta estabelecer a relação entre os dois temas tratados, a saber: cultura

organizacional e desempenho financeiro.

2.1 Cultura organizacional

2.1.1 Definição de cultura

A cultura é comum, esta é a primeira e mais simples definição que

deve ser entendida. Cada sociedade humana tem sua própria forma, seus

próprios propósitos, seus próprios significados. E esses conceitos são

expressos por meio de suas instituições, artes e aprendizado. Uma

sociedade se forma através do descobrimento de propósitos e significados

comuns a um grupo de pessoas. Após estabelecida, a cultura é então

dividida em dois aspectos: o primeiro são as direções conhecidas por todos

os membros; o segundo, as novas observações que são oferecidas e testam

esses membros. A cultura é, portanto, comum, em cada sociedade, em cada

mente (WILLIAMS, 1958).

Pelegrini e Funari (2008) definem cultura como o estudo que busca

incorporar o conjunto das representações coletivas de uma sociedade, que

consistem em transmitir valores adquiridos pela experiência de determinado

grupo humano. Segundo os autores, a preocupação com a cultura surge no

início do contato entre povos contemporâneos, quando é criada uma nova

necessidade: definir a cultura do outro.

2.1.2 Definição de cultura organizacional

Quando aplicado o conceito de cultura a uma organização, tem-se

então o conceito de uma cultura organizacional. Assim, pode-se dizer que

este conceito situa-se na intersecção de diversas ciências sociais –

antropologia, sociologia, administração e psicologia.

Conforme definido pelo sociólogo Raymond Williams, citado

anteriormente, entende-se que a cultura de uma organização consiste em

um sistema cujo significado é compartilhado pela empresa e todos os seus

23

membros, composto por propósitos (ou valores) que caracterizam a

personalidade da organização, formam sua cultura dominante.

Ouchi (1981) menciona que tradição e clima formam a cultura de uma

organização. Mais do que isso, a cultura implica os valores de uma empresa,

que estabelecem os padrões para atividades e opiniões. Esse padrão é

incutido pela gerência, através do exemplo, nos funcionários, que o

transmitem às gerações que se sucedem.

Schein (1984, p. 3) define cultura organizacional da seguinte forma.

Cultura organizacional é o padrão de premissas básicas que

determinado grupo inventou, descobriu ou desenvolveu

aprendendo a lidar com seus problemas de adaptação externa e

integração interna, e que funcionam de forma satisfatória o

suficiente para serem considerados válidos e, portanto,

ensinados a novos membros como o jeito correto de assimilar,

pensar e se sentir em relação a tais problemas.

Schein (1984) divide então a cultura em três níveis: o primeiro são os

artefatos visíveis, o ambiente construído da organização, sua arquitetura,

tecnologias, layout do espaço físico, maneira de se vestir, padrões de

comportamento facilmente identificados pela observação ou audição e em

documentos públicos; o segundo são os valores, que definem o porquê dos

membros da organização aderirem determinado comportamento; por último,

para realmente entender sua cultura, é necessário estudar o terceiro nível:

as premissas básicas de uma organização.

Este último nível consiste na relação dos membros com o ambiente,

tempo e espaço, e é baseada na natureza humana e de seus

relacionamentos. As premissas básicas são sempre assumidas como

verdades absolutas. Por exemplo, as noções de que negócios devem

produzir lucro, escolas devem educar e a medicina deve buscar prolongar a

vida são premissas básicas (SCHEIN, 1984).

De forma similar, Kotter e Heskett (1992) dividem a cultura de uma

organização em dois níveis, de acordo com sua visibilidade e resistência a

mudanças: normas de comportamento do grupo e valores compartilhados.

As normas de comportamento são meios visíveis de agir, que são ensinados

a novos membros através de recompensas para os que seguem o padrão e

punição para os que não seguem. Já os valores compartilhados são

24

interesses invisíveis, que moldam o comportamento do grupo e persistem no

tempo, mesmo que mudem os integrantes do grupo.

Schein (1984) ainda relaciona o papel da cultura com o estágio do

ciclo de vida de uma organização. No estágio inicial, quando um grupo está

se formando, a cultura serve como cola – uma fonte de identidade e força –

ou seja, os membros precisam da cultura para permanecer unidos. No

estágio de meia idade, a organização tem duas alternativas: adaptar sua

cultura a um ambiente turbulento e sempre em mudança ou manter a

cultura inicialmente estabelecida para criar uma cultura mais forte. No

estágio de maturidade, a organização pode ser forçada a realizar uma

mudança de cultura, que, sem dúvida, acarretará em perdas, algumas vezes

maiores do que a ela pode suportar.

Segundo Santos (1998), existem dois modos de tratar a cultura

organizacional: o primeiro trata a cultura como variável independente, ou

seja, os aspectos da organização são definidos a partir dela; o segundo trata

a cultura como variável dependente dos aspectos e desempenho

organizacional. De qualquer forma, o primeiro modelo é amplamente mais

aceito na literatura e é usado neste estudo.

Ainda, Jones (2001) define a cultura como um conjunto de valores e

normas compartilhados que controlam as interações entre os membros da

organização e seus fornecedores, clientes e pessoas fora dela. Assim, o

autor argumenta que o principal aspecto da cultura é controlar a forma pela

qual os membros da organização tomam decisões. Além disso, o autor

defende que a cultura é baseada em valores relativamente duradouros e de

difícil mudança.

Portanto, pode-se definir a cultura de uma organização como seus

valores considerados verdades absolutas, suas premissas básicas,

expectativas, memórias coletivas. A cultura reflete a ideologia que as

pessoas carregam em suas mentes. Ela conduz o comportamento de

funcionários; fornece, mesmo que não estejam escritos ou não sejam

falados, padrões de interação na organização e aumenta a estabilidade do

sistema social estabelecido (CAMERON; QUINN, 2006).

Cameron e Quinn (2006) chamam ainda a atenção para o fato de que

a cultura de um país, região ou, por exemplo, a religião predominante

afetam de certa forma a cultura de uma organização inserida em

25

determinado ambiente. Além disso, diferentes subunidades dentro de uma

mesma organização podem apresentar variações nos valores e nas

premissas estabelecidos.

Esta última definição, assim como as ressalvas feitas pelos autores,

serve de base para a elaboração deste estudo, inclusive por concordar com e

considerar as demais definições expostas.

2.1.3 Competing Values Framework

O framework foi desenvolvido por Cameron e Quinn (2006) a fim de

organizar e interpretar uma grande variedade de fenômenos organizacionais,

através da classificação de culturas organizacionais de acordo com duas

dimensões.

A primeira dimensão diferencia culturas que enfatizam flexibilidade e

dinamismo daquelas que enfatizam ordem, controle e estabilidade. Isto é,

algumas organizações valorizam adaptabilidade (como empresas de

inovação), enquanto outras visam atingir altos níveis de previsibilidade e

mecanicidade (como a maioria das agências governamentais).

A segunda dimensão diferencia enfoque interno, integração e

unicidade de enfoque externo, diferenciação e rivalidade. Isto é, diferencia

empresas que valorizam ter seu jeito próprio e reconhecido de agir daquelas

que valorizam pensamento global e interação com entidades fora de suas

fronteiras.

Assim, definindo um eixo que varia de estabilidade a flexibilidade e

outro que varia do enfoque interno e integração ao enfoque externo e

diferenciação, temos a divisão em quatro quadrantes, cada um

representando um tipo de cultura, conforme a Figura 1.

26

Figura 1 - Competing Values Framework. Fonte: Cameron; Quinn, 2006, p.35

O quadrante no qual uma organização está inserida define os seus

valores principais, as premissas pelas quais a organização funciona. Os

autores ressaltam, ainda, que empresas situadas em quadrantes

diagonalmente opostos (Mercado e Clã ou Hierarquia e Adhocracia)

apresentam maior grau de diversidade em seus valores e modo de pensar. É

dessa diferença que se origina a denominação de Competing Values

Framework.

2.1.3.1 Os quatro tipos de cultura organizacional (Cameron e Quinn,

2006)

A partir do diagrama representado na Figura 1, Cameron e Quinn

(2006), definem, então, os quatro tipos de cultura organizacional

identificados pelo framework.

O primeiro, Hierarquia, definido pela estabilidade e enfoque interno, é

caracterizado por um ambiente formal e bem estruturado, governado por

procedimentos bem estabelecidos. Os líderes são coordenadores e

27

organizadores e suas principais preocupações de longo prazo são a

estabilidade, previsibilidade e eficiência. Em uma organização desse tipo,

normas e regras formais definem o comportamento dos empregados. Nela é

possível observar diversos níveis hierárquicos, além de procedimentos

padrão bem estabelecidos e ênfase no cumprimento de regras. Esse tipo de

cultura é mais comumente observado em grandes conglomerados e agências

governamentais.

A cultura de Mercado, definida por estabilidade e enfoque externo, é

caracterizada por um ambiente voltado a resultados, com clientes exigentes

e interessados na criação de valor. A busca por melhorar a posição

competitiva é constante. Os líderes são focados em resultados,

produtividade, lucros e têm espírito competitivo. Sua ênfase em vencer é o

que mantém a organização unida. As principais preocupações de longo prazo

são atingir metas e objetivos, a fim de alcançar a liderança do mercado.

De forma oposta, a cultura de Clã, definida por flexibilidade e enfoque

interno, é caracterizada pelo ambiente familiar, no qual predominam

programas de envolvimento dos funcionários, que, por sua vez, apresentam

alto comprometimento com a firma. O trabalho em equipe é a qualidade

mais valorizada nesse tipo de organização e as recompensas são sempre

para a equipe, não para indivíduos. A ênfase é o desenvolvimento humano.

Os líderes funcionam como mentores e tentam criar um ambiente agradável,

como uma segunda casa para os funcionários. Lealdade e tradição mantêm a

organização unida.

Por último, a cultura de Adhocracia, definida por flexibilidade e

enfoque externo, é caracterizada pelo ambiente empreendedor, criativo,

inovador, que valoriza a visão de futuro. Pode-se definir tal ambiente como

uma anarquia organizada. O termo ad hoc indica uma estrutura de trabalho

temporária, especializada e dinâmica, que é desfeita quando seu objetivo é

alcançado. O poder é totalmente descentralizado na organização. Existe

ênfase na individualidade e assumir riscos é valorizado. Os líderes são

visionários, inovadores e tendem a assumir riscos. Nesse tipo de

organização, objetivos como crescimento rápido e aquisição de novos

negócios são comuns.

Os autores ressaltam que não necessariamente uma empresa se

enquadra em um único tipo de cultura, mas que geralmente um tipo é

predominante e este define os principais valores que guiam a organização.

28

Além disso, uma organização pode alterar seu tipo de cultura ao longo de

seu ciclo de vida, normalmente motivada pela adaptação a novos fatores

externos.

2.1.4 Estratégias de medição de cultura organizacional

Conforme definido por Cameron e Quinn (2006), existem três

diferentes estratégias para avaliar cultura em uma organização.

A primeira consiste na imersão do investigador (ou observador) na

cultura da empresa, a fim de fazer uma análise mais aprofundada na

organização. Basicamente, o observador tentará se tornar um “nativo”

daquela cultura, tomando seus valores como se fossem próprios. Esta

estratégia é denominada holística.

A segunda, chamada metafórica ou de linguagem, consiste na

verificação, pelo investigador, de documentos, relatórios, registros e

conversas da organização para, através da linguagem, desvendar padrões

culturais. O trabalho aqui é comparado ao de um detetive ao investigar

impressões digitais, pegadas ou demais pistas deixadas pelo objeto de

estudo.

A terceira, o enfoque quantitativo, usa questionários ou entrevistas

para determinar dimensões particulares da cultura investigada. Esse enfoque

permite que diferentes pontos de vista sejam considerados, ao contrário das

duas primeiras, nas quais o ponto de vista do investigador é o único

considerado.

Schein (1984) afirma que a melhor maneira de avaliar a cultura de

uma organização é unindo membros selecionados do órgão estudado com

um investigador alheio à organização para que se torne possível desvendar

as premissas inconscientes que formam a essência daquela cultura.

Para tanto, justifica-se o uso de um questionário, pois este pode

abranger uma população bem maior, envolvendo custo e tempo menores,

além de permitir, mais facilmente, comparações entre organizações distintas

(SANTOS, 1998).

Portanto, o enfoque quantitativo apresenta maior compatibilidade com

o presente estudo. Além de diminuir, apesar de não eliminar, a subjetividade

29

da análise, por considerar diferentes pontos de vista, é mais adequado por

não necessitar de uma imersão, sendo possível utiliza-lo para uma

organização fictícia. Ainda, o questionário é o único que permite avaliar a

cultura ideal e não atual da organização, que é o intuito deste estudo.

É necessário, entretanto, garantir que a análise quantitativa verifique

os aspectos realmente culturais da organização, aqueles que muitas vezes

não são explícitos e não somente aspectos superficiais, mais ligados ao clima

organizacional.

2.1.5 Organizational Culture Assessment Instrument (OCAI)

Para tanto, é proposto utilizar o OCAI como instrumento de pesquisa,

conforme desenvolvido por Cameron e Quinn (2006). O instrumento tem

como finalidade diagnosticar a cultura atual de uma organização, assim

como a cultura que os membros acreditam ser a ideal para melhor

desempenho operacional (cultura futura). Para os objetivos deste estudo,

apenas a cultura ideal da organização será avaliada.

O instrumento requer que os respondentes completem um

questionário, que possui seis itens. Cada item tem por objetivo identificar

uma de seis diferentes dimensões da cultura, a saber: características

dominantes, liderança, tipo de gerência, “cola” que mantém a organização

unida, ênfase estratégica e critérios de sucesso.

O respondente deve então atribuir 100 pontos entre as quatro

alternativas propostas dentro de cada dimensão, de acordo com a

adequação do cenário proposto em cada alternativa com a realidade da

organização (para o caso atual) ou com aquilo que ele acha que melhor

representa a organização ideal. Ao completar o questionário, o respondente

fornece uma imagem das premissas fundamentais pelas quais a organização

é ou idealmente seria regida.

Os autores afirmam que o questionário já foi utilizado com sucesso em

mais de 1000 organizações. Para afirmar tal fato, o questionário foi aplicado

com funcionários de determinadas organizações a fim de identificar qual,

entre os quatro tipos de cultura descritos anteriormente, mais se adequava

àquela organização. Uma vez identificado o tipo, os pesquisadores

apresentavam o resultado aos membros da alta gerência da organização

30

que, quase invariavelmente, concordavam com o resultado obtido pela

aplicação do questionário.

O questionário completo se encontra no Anexo A.

2.1.5.1 Plotagem dos resultados do questionário

O processo de plotagem dos resultados do questionário pode ser

dividido em dois passos:

1. Calcular a média de pontos atribuídos em cada alternativa (A, B, C

e D) em todas as seis dimensões propostas, isto é, somar os pontos

atribuídos na mesma alternativa (por exemplo, A) em todos os

itens do questionário e dividir esse resultado por seis. O valor

obtido é então plotado sobre a linha diagonal do respectivo

quadrante, conforme ilustrado na figura 2.

Figura 2 - Plotagem de pontos de uma cultura com médias: A - 20; B - 30; C - 40; D - 10. Adaptado de Cameron e Quinn, 2006

2. Conectar então os pontos de cada quadrante, formando um perfil

quadrilátero, conforme ilustrado na figura 3. Este perfil é uma

representação, uma imagem, da cultura de uma organização, que

permite visualizar de forma simplificada os aspectos dominantes da

cultura.

31

Figura 3 - Perfil de cultura traçado. Fonte: Cameron e Quinn, 2006, p. 70

Além do perfil geral da organização, que é obtido através das médias

dos valores atribuídos em uma mesma alternativa (ou tipo de cultura),

também é possível traçar perfis para cada uma das dimensões. Isto é, em

vez de tomar as médias dos valores e traçar um único perfil, pode-se,

alternativamente, usar os valores parciais para traçar seis perfis diferentes

para uma mesma organização.

2.1.5.2 Interpretação dos resultados

Após traçar o perfil de uma organização e estando em posse dos

valores atribuídos a cada tipo de cultura em cada uma das seis dimensões

estudadas, é possível interpretar os resultados. Os dados permitem que pelo

menos três padrões de comparação sejam definidos: o tipo de cultura

predominante na organização, a força dessa cultura predominante e a

congruência entre os perfis gerados em cada uma das dimensões com

aquele traçado para a organização (CAMERON; QUINN, 2006).

O tipo de cultura, conforme definido pelos autores, é o atributo de

mais simples visualização, pois basta identificar qual quadrante possui o

maior número de pontos (ou a maior média). Este quadrante representa a

cultura predominante na organização estudada. É esta cultura que dita as

premissas básicas, os estilos e os valores pelos quais a organização opera.

32

A força da cultura é definida pela quantidade total de pontos atribuídos

à cultura predominante. Quanto maior o valor, mais forte ou mais dominante

é este tipo de cultura. Esse parâmetro serve para diferenciar empresas que

tem uma cultura claramente dominante em seus setores daquelas que

possuem diferentes tipos de cultura atuando em conjunto. Empresas como

IBM, Procter & Gamble, Johnson & Johnson e Apple são reconhecidas

mundialmente como empresas que possuem uma cultura predominante

muito forte.

A congruência cultural indica que os vários aspectos da cultura da

organização estão alinhados. Esta é obtida verificando quantas das seis

dimensões da cultura possuem, isoladamente, o mesmo tipo predominante

que o conjunto da organização. Este parâmetro indica, por exemplo, se o

estilo de liderança está alinhado com a estratégia ou com o sistema de

recompensas da organização. Uma forma rápida de identificar a congruência

cultural é traçar os perfis das seis dimensões separadamente e então

verificar a semelhança entre os quadriláteros obtidos. Diferenças maiores do

que 10% predominante entre as dimensões isoladas e a cultura da

organização em conjunto definem uma incongruência cultural.

Para resumir as formas de cálculo dos parâmetros: o tipo cultural é

simplesmente o quadrante com o maior número de pontos atribuídos; a

força cultura é a soma de todos os pontos atribuídos a um único tipo de

cultura, em todas as seis dimensões; a congruência cultural é obtida

comparando o tipo predominante de cultura em cada uma das dimensões

isoladamente com o tipo predominante no conjunto da organização.

Portanto, matematicamente, o tipo cultural é uma variável categórica,

já que identifica a organização em um de quatro possíveis grupos, a força

cultural uma variável quantitativa que varia de 0 a 600 pontos e a

congruência cultural uma variável quantitativa que varia de 0 a 6 pontos.

Pode-se ainda comparar, para cada uma das seis dimensões

separadamente ou para a organização no geral, o perfil obtido com modelos

predeterminados para diversos setores, estabelecidos de forma teórica,

através de extensiva pesquisa dos autores.

33

2.1.5.3 Validade e confiabilidade nos resultados do instrumento

Para garantir que o OCAI produza sempre resultados consistentes com

aquilo que é proposto, é preciso assegurar que os resultados medem aquilo

que afirmam medir e que fazem isso todas as vezes que o instrumento é

utilizado.

Para fazer tal afirmação, Cameron e Quinn (2006) citam alguns dos

extensivos estudos conduzidos utilizando o instrumento criado pelos autores.

Inicialmente, para mostrar que a confiabilidade nos resultados é alta,

fazem referência a três estudos: o primeiro, conduzido por Quinn e Spretizer

(1991) com 796 executivos de 86 organizações de utilidade pública; o

segundo conduzido por Yeung, Brockbank e Ulrich (1991) com 10.300

executivos de 1.064 empresas e o último conduzido por Zammuto e

Krakower (1991) realizado em instituições de ensino superior.

Em todos os casos foram entrevistados executivos de alta e média

gerência, além de uma quantidade menor de trabalhadores de linha de

produção ou hierarquia mais baixa. No caso das instituições de ensino

superior, foram entrevistados diretores, administradores e membros do

conselho.

Calculou-se então o coeficiente alfa de Cronbach, que mede a relação

entre as respostas dos vários respondentes de um questionário, a partir da

variância dos resultados. O resultado indicou, em todos os casos, que os

coeficientes encontrados eram significantes e satisfatórios comparados com

padrões normais de confiabilidade.

Por fim, a evidência apresentada para garantir a validade do

instrumento parte de um estudo realizado por Cameron e Freeman (1991)

com 334 instituições de ensino superior. Estes aplicaram o questionário com

3.406 pessoas de áreas como presidência, chefia acadêmica, finanças,

relações estudantis, relações externas e escritórios de pesquisa. Foram

comparadas as respostas dadas ao questionário com evidências encontradas

em investigação mais profunda de cada instituição.

Em nenhuma instituição encontrou-se presença de apenas um tipo de

cultura, mas foi sempre possível encontrar evidências de que a cultura

identificada como predominante (no questionário) estava mesmo presente,

principalmente na tomada de decisão, estrutura e estratégia das instituições.

Por exemplo, organizações com Clã como tipo predominante eram voltadas à

34

comunicação interna e satisfação dos colaboradores, enquanto organizações

com tipo cultural de Adhocracia valorizavam inovação e desenvolvimento de

tecnologias de ponta.

2.2 Desempenho financeiro das organizações

Diversos autores investigaram nos últimos anos as causas de sucesso

de empresas. Porém, muitas vezes os autores usam diferentes parâmetros

para definir o sucesso das organizações que consideram ter desempenho

superior no ambiente estudado.

Collins e Morten (2011) chamaram de empresas 10X aquelas que, em

sua amostra de 20.400 organizações, apresentaram desempenho superior. O

parâmetro utilizado por estes autores foi o retorno obtido, após 15 anos,

investindo 10 mil dólares na empresa. Assim, chamaram de 10X as

empresas que tiveram retorno pelo menos 10 vezes maior do que o mercado

em geral e do que o setor na qual estavam inseridas.

Em um estudo do sucesso das organizações brasileiras, foi feita uma

avaliação mais qualitativa, mas, da mesma forma, usando majoritariamente

índices financeiros como base. Entre eles lucro líquido, exportações,

liderança de mercado e sobrevivência a ambientes turbulentos. Assim,

partindo de uma amostra de mais de 700 empresas, através de entrevistas

com especialistas acadêmicos, executivos seniores, jornalistas e consultores

de gestão, foram definidas 10 empresas brasileiras que se destacaram, de

acordo com os parâmetros anteriormente citados (SULL; ESCOBARI, 2004).

Santos (1998) no estudo que fez comparando cultura organizacional

com desempenho superior para empresas do setor têxtil brasileiro, usou

rentabilidade e liquidez como parâmetros financeiros definidores de sucesso.

Kay (2003) cita que parâmetros mais comuns usados para medir

desempenho organizacional são tamanho da empresa, quantidade de

vendas, receitas, market share, taxas de retorno financeiro e crescimento.

Porém, o autor defende que a forma ideal de avaliar o sucesso de uma

organização é através da sua capacidade de adicionar valor. Isto é, o quanto

a empresa cria menos o quanto a empresa gasta para cria-lo.

35

Segundo Kay (2003), esta criação de valor não se refere apenas a

produtos e matéria-prima, mas também a habilidade da empresa adquirir

um novo negócio ou nova tecnologia e gerar capital através dos mesmos.

Kim e Mauborgne (2005) definem como empresas de sucesso aquelas

que conseguem criar inovação de valor, tornando assim a concorrência

irrelevante. Para os autores, inovação de valor é aquela que, ao mesmo

tempo, reduz os custos de produção e diferencia o produto. Isso permite que

a empresa explore um ramo de mercado até então inexplorado, criando um

sistema alinhado de utilidade do produto, custos de produção e mercado

consumidor. Entre as empresas citadas no livro que atingiram tal parâmetro

estão a Ford, Dell e Cirque du Soleil.

Kotter e Heskket (1992), em sua pesquisa da relação de cultura

organizacional com desempenho superior, usaram três índices financeiros

para definir empresas de sucesso: crescimento anual de receita líquida

(compound annual growth rate), retorno anual sobre capital investido e

crescimento anual no preço das ações.

Em outros estudos que buscaram relacionar cultura organizacional com

desempenho financeiro, os parâmetros utilizados foram lucratividade, return

on assets (ROA) e, principalmente, crescimento de receitas (vendas)

(FLAMHOLTZ, 2001; SANDERS; COOKE, 2005; YESIL; KAYA, 2012; ZEHIR et

al, 2011).

2.3 A relação entre cultura organizacional e desempenho financeiro

observada em outros estudos

Devido à ligação existente entre uma cultura organizacional bem

estabelecida e alto desempenho organizacional, cultura é um conceito

frequentemente encontrado em estudos sobre gerenciamento e

administração (ZEHIR et al, 2011). De qualquer forma, os resultados

encontrados até hoje não são totalmente conclusivos, devido principalmente

a diferenças de definição de cultura, estrutura da pesquisa e forma de

avaliar os resultados (YESIL; KAYA, 2012; WILDEROM et al; 2012).

Neste sentido, um dos estudos pioneiros e mais citados na literatura

foi realizado por Kotter e Heskett (1992) com 207 diferentes empresas. Os

autores definiram cultura adaptável como aquela que incentiva liderança em

todos os níveis e valoriza funcionários, clientes e acionistas. Das empresas

36

estudadas, identificaram 12 que possuíam cultura adaptável e 20 que

claramente não possuíam tal cultura.

Os resultados de Kotter e Heskett (1992) mostraram que as empresas

com cultura adaptável tiveram desempenho muito superior, em um período

de 11 anos nos seguintes parâmetros: crescimento de receita bruta (682%

contra 166%), crescimento na quantidade de empregados (282% contra

36%), valorização da ação (901% contra 74%) e crescimento da receita

líquida (756% contra 1%). Os autores ainda verificaram que mesmo

comparando empresas do mesmo setor e com características muito

semelhantes (como porte e ano de fundação) aquelas que apresentavam

cultura adaptável tinham desempenho superior.

Para seus estudos, Sanders e Cooke (2005) definiram três tipos de

cultura organizacional: construtivo, que valoriza as relações humanas e o

desenvolvimento pessoal; passivo, que valoriza a manutenção do status quo

e a burocratização; e agressivo, que valoriza a competitividade e define

claramente relações de poder na organização.

Os autores conduziram então duas pesquisas. A primeira envolveu 69

empresas de capital aberto dos Estados Unidos. Através de dados

publicamente disponíveis das companhias, classificaram elas em uma das

três categorias apresentadas anteriormente. Além disso, calcularam o

crescimento de receita dessas organizações nos três anos anteriores.

Verificaram que todas as 11 empresas que foram classificadas como de

cultura construtiva tiveram suas receitas crescendo, o que não ocorreu em

nenhum dos dois outros grupos de maneira tão explícita. Além disso, através

de uma regressão, concluíram que 22% do crescimento da receita pode ser

explicado pela presença da cultura construtiva.

Em sua segunda pesquisa, Sanders e Cooke (2005), com auxílio do

Readership Institute8, definiram, através de um questionário, a cultura

presente em 90 jornais dos Estados Unidos, de acordo com as três

categorias apresentadas anteriormente. Contando com ajuda de

especialistas da área, definiram ainda que a cultura construtiva era a mais

adequada para este setor da indústria. Em seguida, avaliaram, através de

análise estatística, a correlação entre o tipo de cultura e alguns parâmetros

de desempenho organizacional. A pesquisa concluiu que: satisfação dos

8 Instituto responsável por estudos relacionados à indústria de jornais da Northwestern University.

37

clientes (57%), qualidade do serviço (46%) e lucratividade (22%) estavam

altamente relacionados com a cultura construtiva (a correlação entre esses

fatores com os outros dois tipos de cultura foi significativamente menor em

todos os casos).

Em estudo realizado no Brasil com 13 empresas nacionais do setor

têxtil, Santos (1998) considerou o conceito de força cultural de forma

semelhante àquele definido por Cameron e Quinn (2006). Através de um

questionário, aplicado com um total de 498 funcionários das 13 empresas,

Santos (1998) classificou as 6 empresas que tiveram um maior número de

pontos, de um total de 30, como empresas de cultura forte. A atribuição de

pontos era feita da seguinte maneira: os respondentes deviam classificar, de

1 a 10, quanto um determinado tipo de cultura era perceptível na

organização. Foram atribuídos os pontos ao logo de 3 anos consecutivos,

totalizando 30 possíveis pontos.

Para parâmetros financeiros, a fórmula usada por Santos (1998)

incluía três principais tópicos: estrutura de capital (endividamento e

patrimônio líquido); rentabilidade e liquidez. Os dois primeiros receberam

peso 0,4 enquanto o último recebeu peso 0,2. Assim foi calculado o

parâmetro financeiro, denominado nota geral da empresa.

Os resultados da pesquisa de Santos (1998) mostraram que das 6

empresas de cultura forte, 5 também apresentaram nota geral acima da

média, segundo os cálculos apresentados. Além disso, a correlação

estatística entre os valores da força cultural e da nota geral foi 0,53,

indicando relação significativa entre as variáveis.

Zehir et al (2011) demonstraram, em estudo realizado com empresas

multinacionais com presença na Turquia, a relação entre desempenho

operacional superior e o tipo de cultura presente na organização. Para isso,

definiram três tipos de cultura: a cultura comunitária, que é baseada no

comprometimento dos membros da organização com um líder forte e voltada

ao trabalho em equipe, consenso e participação; a cultura competitiva que é

baseada na vontade de atingir metas e que mede o sucesso através de sua

vantagem competitiva; e, por fim, a cultura burocrática, que prevê que a

organização deve ser guiada por princípios formais e valoriza estabilidade,

previsibilidade e longevidade.

38

Os pesquisadores elaboraram então um questionário para avaliar o

quanto as pessoas da organização concordavam, usando a escala Likert9,

com afirmações feitas baseadas em conceitos teóricos de cada tipo de

cultura. Assim, a cultura com a qual os entrevistados mostravam maior grau

de concordância era definida como a cultura presente da organização. De

forma semelhante, elaboraram questões para avaliar o desempenho

financeiro da organização, segundo: nível de defeitos dos produtos;

satisfação dos clientes; crescimento de vendas; inovação; liderança de

mercado e market share. Os questionários foram aplicados a 295

funcionários selecionados aleatoriamente entre as empresas estudadas.

Para verificar os resultados, Zehir et al (2011) usaram os métodos de

correlação e regressão. Concluíram então que existe correlação entre todos

os tipos de cultura e o desempenho organizacional (todos os coeficientes de

correlação foram maiores do que 0,65). Através da análise de regressão foi

possível avaliar que a relação da cultura competitiva com o desempenho foi

maior do que o das outras culturas (o coeficiente da equação da reta foi

0,315 contra 0,129 da cultura burocrática e 0,244 da cultura comunitária).

Os autores ressalvam, entretanto, que diferentes tipos de culturas podem

ser mais adequados a diferentes organizações, podendo apenas assumir que

os resultados encontrados são válidos para as organizações especificamente

estudadas por eles.

Yesil e Kaya (2012) também realizaram um estudo com empresas

turcas. Neste, através de questionário adaptado e traduzido do OCAI,

conforme proposto por Cameron e Quinn (2006), definiram o tipo de cultura

organizacional presente na empresa de cada um dos 54 respondentes dos

questionários. Para parâmetros financeiros, foram usados crescimento de

receitas e return on assets (ROA).

As hipóteses dos autores eram que as culturas de clã, adhocracia e

mercado influenciavam positivamente o desempenho financeiro. Já a cultura

de hierarquia influenciava negativamente. Para avaliar os dados, Yesil e

Kaya (2012) utilizaram os métodos estatísticos de correlação e regressão. O

resultado das análises de correlação e regressão rejeitaram todas as

hipóteses. Os autores concluem que a cultura organizacional pode ser

considerada um fator que influencia o desempenho financeiro, não

9 A escala do tipo Likert varia, geralmente, de 1 a 5 pontos. Em vez de pontos, é comum utilizar o grau de

concordância variando, por exemplo, de discordo totalmente a concordo totalmente.

39

diretamente, conforme proposto e rejeitado pelo estudo, mas através de

outros fatores, como gestão do conhecimento, inovação e aprendizado.

Yesil e Kaya (2012) ressalvam que a maioria das empresas estudadas

era de pequeno porte, com menos de 250 funcionários. Comentam ainda

que o mesmo estudo realizado em empresas de maior porte em outras

localidades pode apresentar resultados diferentes.

Flamholtz (2001) desenvolveu um estudo considerado pioneiro pelo

fato de ter relacionado a cultura organizacional com desempenho financeiro

dentro de uma única organização. O autor destaca que a organização

estudada, além de ser de grande porte, havia passado recentemente por

diversas aquisições, o que criou várias divisões diferentes dentro da

empresa.

Inicialmente, Flamholtz (2001), em conjunto com a liderança da

organização, definiu qual era a cultura presente, ou, mais ainda, qual era a

cultura que os líderes da organização pensavam ter implementado. Em

seguida, foi elaborado um questionário com pessoas selecionadas

aleatoriamente das dezoito divisões identificadas da empresa. No

questionário, era apresentado aos respondentes o texto elaborado pela alta

direção descrevendo a cultura que consideravam ter implementado e os

funcionários eram questionados qual o grau de concordância com tal

descrição.

Foi definido então o parâmetro de cultura a ser utilizado no estudo: o

grau de concordância dos membros da organização com a cultura definida

pela alta liderança, medido pelo número de pessoas que responderam que

“concordavam” ou “concordavam fortemente” dividido pelo número total de

entrevistados dentro de cada uma das divisões identificadas. Como

parâmetro financeiro, foi escolhido um valor de lucratividade, medido pelo

EBIT (earnings before interest and taxes), também considerado

separadamente para cada uma das divisões (FLAMHOLTZ, 2001).

Flamholtz (2001) utilizou então o método de regressão estatística para

verificar a relação entre as variáveis. Sua pesquisa constatou que, não só as

divisões mais lucrativas eram também as que apresentavam maior

concordância com a visão de cultura da liderança, mas o coeficiente de

determinação R² encontrado na regressão foi 0,4552. Isso significa que 46%

da lucratividade das divisões pode ser explicada pela cultura, representada

40

pelo grau de concordância da divisão com a visão de cultura da liderança da

organização.

Os resultados encontrados por Flamholtz (2001) fizeram com que a

organização na qual o estudo foi realizado criasse um indicador de

gerenciamento da cultura organizacional dentro de um sistema de controle

do desempenho.

Em estudo subsequente na mesma organização, Flamholtz e Kannan-

Narasimhan (2005) entrevistaram, através de um questionário com 29

questões, 702 funcionários das 18 divisões a fim de estabelecer quais

parâmetros da cultura organizacional mais influenciam no desempenho

financeiro das divisões que, da mesma forma que no estudo anterior, foi

definido como o EBIT (earnings before interest and taxes).

Para tal, Flamholtz e Kannan-Narasimhan (2005) definiram 6

componentes de uma cultura organizacional: relação com clientes, que

verifica como os clientes são vistos e tratados pela organização; as práticas

de recursos humanos, que verifica as políticas da organização quanto a

valorização e tratamento de seus funcionários; a identificação com a firma,

que mede o grau de identificação dos funcionários com os valores e crenças

da organização; os padrões de desempenho e comportamento, que indicam

como é esperado que os funcionários se comportem e como isso é avaliado;

as contribuições para a comunidade, que verifica como a comunidade vê a

organização; e, por último, comunicação, que verifica os meios e práticas

utilizados pela organização quanto a comunicação interna.

A análise de regressão realizada por Flamholtz e Kannan-Narasimhan

(2005) mostrou que os principais componentes da cultura que influenciam o

desempenho financeiro das divisões são (valores entre parêntesis indicam o

coeficiente de determinação): a relação com os clientes (68%), as

contribuições para a sociedade (41%), os padrões de desempenho e

comportamento (38%) e a identificação com a firma (22%). Os outros dois

fatores, práticas de recursos humanos e comunicação, não mostraram

influencia significativa no parâmetro financeiro definido. Os autores

ressalvam que uma análise estatística revelou alta correlação entre os

componentes da cultura organizacional (entre 0,59 e 0,93), o que indica que

os fatores que não influenciam diretamente os parâmetros financeiros

podem influenciar através de outros componentes, além de mostrar uma

41

clara relação de interdependência entre todos os componentes – fator que

pode invalidar os resultados da análise de regressão.

Wilderom et al (2012) fizeram um estudo em 46 agências de um

banco holandês no qual, através de um questionário de 45 questões,

identificaram a presença de quatro tipos de cultura organizacional em cada

uma das divisões, a saber: cultura com orientação externa, na qual os

funcionários são voltados a atender as necessidades e mudanças do

mercado externo; cultura com cooperação interdepartamental, na qual os

funcionários são orientado a cooperar com outros departamentos quando

resolvendo problemas; cultura com orientação de recursos humanos, na qual

a medição do desempenho dos funcionários é o fator mais valorizado; e, por

fim, cultura com orientação à melhoria, na qual os funcionários são

orientados a avaliar e refletir sobre seu desempenho no dia-a-dia.

Como parâmetros financeiros, Wilderom et al (2012) adotaram a

lucratividade de cada uma das agências. Além disso, o desempenho foi

medido em dois anos consecutivos, não apenas no ano da aplicação do

questionário.

Através do método de correlações, Wilderom et al (2012) identificaram

que a relação entre os tipos de cultura identificados e os resultados

financeiros foram muito baixos (todos abaixo de 18% no primeiro ano e

abaixo de 22% do segundo ano). Os autores sugerem então medir os

parâmetros financeiros em um período mais distante e afirmar que os efeitos

da cultura organizacional só podem ser observados em longo prazo. Assim

como observado por Yesil e Kaya (2012), Wilderom et al (2012) afirmam

ainda que a cultura influencia o desempenho financeiro não de forma direta,

mas através de outros fatores, como uma liderança carismática.

Conforme observado na revisão de artigos e publicações contida neste

tópico, a relação entre tipos bem definidos de cultura organizacional e seus

subcomponentes com determinados parâmetros de avaliação de

desempenho financeiro já foi verificada em diversos casos, apesar de não

haver uma resposta definitiva quanto ao grau ou modo de influência

(FLAMHOLTZ, 2001; FLAMHOLTZ e KANNAN-NARASIMHAN, 2005; KOTTER;

HESKETT, 1992; SANDERS; COOKE, 2005; SANTOS, 1998; ZEHIR et al,

2011). Outros estudos não verificaram essa relação e os pesquisadores

afirmaram que a cultura não influencia diretamente o desempenho

financeiro, mas sim através de outros fatores, como o estilo de liderança

42

(WILDEROM et al, 2012; YESIL; KAYA, 2012). De qualquer forma, os

estudos mostram a tendência de analisar a influência de variados tipos de

cultura e suas práticas na organização, porém nenhum propôs verificar a

existência de uma relação entre outros parâmetros da cultura, como a força

e a congruência, conforme conceitos teorizados por Cameron e Quinn (2006)

o que consiste no objetivo principal deste estudo.

3. MÉTODO DE PESQUISA

A pesquisa científica visa criar, desenvolver e compartilhar

conhecimentos que são de interesse da comunidade. Para alcançar tal

objetivo, a pesquisa utiliza determinado método científico, ou seja, um

conjunto de passos sistemáticos.

O presente estudo é definido como uma pesquisa quantitativa de

natureza exploratória. Isto é, as variáveis do estudo são quantificáveis e o

objetivo é obter mais conhecimento sobre um assunto que ainda não se

tenha estudado à exaustão e orientar a formulação de hipóteses quanto a

este tema. Ele foi dividido nas seguintes etapas.

3.1 Revisão Bibliográfica

A primeira etapa do estudo consiste na pesquisa bibliográfica, em

artigos, livros e periódicos, sobre os principais conceitos do estudo e a forma

como se relacionam, além de maneiras de mensurá-los. Inicialmente

buscou-se conceituar cultura organizacional, assim como formas eficientes

de avaliar a cultura de uma organização. Então se verificou quais

parâmetros diferentes autores usam para definir o sucesso de uma

organização. Os principais parâmetros financeiros identificados foram então

definidos como base para definir sucesso neste estudo.

Para verificar a relação já estabelecida entre cultura e desempenho

organizacional (principalmente parâmetros financeiros) na literatura, foi feita

extensa pesquisa de artigos em diversas bases. Na base Science Direct foi

encontrada a maior parte dos artigos relevantes. A pesquisa com os termos

“organizational culture” e “financial performance” produziu 16 resultados,

dos quais 15 eram acessíveis e 8 foram utilizados para a elaboração da

revisão bibliográfica deste estudo. Dois outros artigos foram adicionados, o

primeiro buscando o termo “corporate culture”, sinônimo de organizational

43

culture, porém menos utilizado. O segundo foi encontrado na base Web of

Knowledge realizando pesquisa análoga.

Ainda, foram pesquisadas três bases de dados brasileiras. A RAE –

Revista de Administração de Empresa, publicada pela Fundação Getúlio

Vargas; RAUSP – Revista de Administração da Universidade de São Paulo;

ANPAD – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em

Administração. Apesar de estas apresentarem diversos artigos com cultura

organizacional como tema principal, nenhuma publicação relacionando

cultura com desempenho financeiro nos últimos 10 anos foi encontrada.

Assim, os principais conhecimentos adquiridos durante a pesquisa são

então expostos no capítulo de revisão bibliográfica do estudo. Como este é

um processo cíclico, busca-se sempre preencher as possíveis lacunas

deixadas no conhecimento adquirido.

3.2 Pesquisa de Campo

Inicialmente, através do conhecimento adquirido na revisão

bibliográfica sobre os principais fatores financeiros que definem o sucesso de

uma organização, elabora-se um caso de sucesso de uma organização

fictícia, atuante no setor de manufatura, que apresenta resultados

superiores em todos os fatores selecionados.

Em seguida, avalia-se, através de questionário elaborado a partir do

OCAI, conforme proposto por Cameron e Quinn (2006), a cultura que os

respondentes consideram ideal para essa organização.

Assim, é possível traçar o perfil cultural considerado ideal para que

uma empresa de manufatura obtenha desempenho financeiro superior. Da

mesma forma, é possível avaliar o tipo de cultura predominante, assim como

a intensidade da força e a congruência cultural dessa organização de

sucesso fictícia.

3.2.1 Parâmetros financeiros da organização fictícia de desempenho

superior

O objetivo com a criação da organização fictícia é acessar a cultura

ideal para uma organização que obteve desempenho financeiro superior no

44

setor na qual está inserida. Portanto, faz-se necessário descrever uma

organização fictícia que supere as expectativas médias do mercado em

diversos índices financeiros.

Para isso, foram selecionados quatro principais parâmetros financeiros

que indicam sucesso organizacional, segundo os autores estudados no

capítulo de revisão bibliográfica: crescimento de receitas; market share;

lucratividade (earnings before interest, taxes, depreciation and amortization

– EBITDA) e retorno total (total return to shareholders) (FLAMHOLTZ, 2001;

KAY, 2003; KOTTER; HESKETT, 1992; SANDERS; COOKE, 2005; YESIL;

KAYA, 2012; ZEHIR et al, 2011).

Para o crescimento de receitas, um bom parâmetro de comparação é o

crescimento do PIB do país no qual a empresa está localizada. Em um setor

bem estabelecido, ganhos de market share, mesmo que mínimos, são

difíceis de ser alcançados. Considera-se o retorno total satisfatório quando

este é maior do que o custo de capital de terceiros para a organização. Isto

é, o retorno total é satisfatório quando este é maior do que o retorno teórico

que seria obtido em um investimento de risco semelhante (BERK;

DEMARZO, 2009; KAY, 2003; PADOVEZE; BENEDICTO, 2004).

Além disso, como o objetivo é estudar o sucesso nas organizações

brasileiras, foi traçado o perfil da organização do caso: empresa com 100%

de capital nacional, inserida há mais de 30 anos no mercado de manufatura

e de grande porte – atualmente com mais de dois mil funcionários.

Assim, o perfil da organização fictícia do estudo de caso proposto é

definido da seguinte forma:

A ManufaturaAvançadaCo é uma organização de capital 100%

nacional, fundada há mais de 30 anos, possui atualmente mais de dois mil

funcionários. A empresa atua no segmento de manufatura.

Nos últimos três anos, a empresa apresentou crescimento de receitas

acima de duas vezes o crescimento do PIB10, obteve um ganho de market

share de 3%, alcançou índice de lucratividade, medido pelo EBITDA, 5

pontos percentuais acima dos seus principais concorrentes e teve seu

10

Para calcular duas vezes o crescimento do PIB toma-se a inflação do período e soma-se duas vezes o crescimento real do PIB.

45

retorno total aos acionistas significativamente acima do custo de

oportunidade para os mesmos.

3.2.2 Questionário OCAI

O Organizational Culture Assessment Instrument (OCAI) é uma

ferramenta que visa, com base no Competing Values Framework (CVF) e

através de um questionário, avaliar a cultura de uma organização. Os

autores defendem que o questionário já foi extensivamente validado, tendo

sido aplicado em mais de mil organizações distintas, apresentando sempre

resultados consistentes (CAMERON; QUINN, 2006).

Neste estudo, o questionário foi traduzido e adaptado de forma que o

respondente complete apenas a parte que se refere à organização ideal, não

se fazendo necessário avaliar a cultura atual.

São quatro os resultados obtidos a partir da aplicação do OCAI: o tipo

de cultura organizacional predominante, a força da cultura predominante, a

congruência cultural e o perfil da cultura da empresa, representado por um

quadrilátero inserido em um plano cartesiano (CAMERON; QUINN, 2006).

3.2.3 Análise Demográfica

A fim de se obter o perfil dos respondentes da pesquisa, foram

definidas duas principais questões para a análise demográfica.

O primeiro define o cargo ocupado pelo respondente, a saber: sócio,

fundador ou presidente; diretor; gerente; supervisor; analista; consultor. O

segundo define a quantidade de empresas nas quais o respondente já

trabalhou ou já realizou projetos. Em ambos os casos é visado validar a

experiência e o conhecimento do respondente para que se possa confiar nos

resultados obtidos pelo questionário. Busca-se que os respondentes sejam

pessoas que tiveram contato direto e prolongado com a cultura de pelo

menos duas organizações, além da base teórica necessária sobre o tópico.

Além disso, outras três perguntas opcionais foram definidas: o

segmento industrial de atuação; anos de experiência no mercado e qual a

formação acadêmica do respondente. Nestes casos, busca-se certa

diversificação entre os respondentes.

46

3.2.4 Plataforma Surveymonkey

Surveymonkey é uma ferramenta gratuita para criação de

questionários online, que podem ser enviados via link direto ou via e-mail.

Foi a plataforma selecionada para este estudo devido a sua facilidade de

uso; possibilidade de criação de questionários personalizados, inclusive

garantindo que as respostas ao questionário OCAI somem sempre 100

pontos; confiabilidade na geração de resultados de forma de fácil

visualização e manipulação. Pode ser acessado em

<www.surveymonkey.com>. A ferramenta é altamente difundida,

ultrapassando 15 milhões de utilizações.

3.2.5 Amostragem e método de envio da pesquisa

A determinação do tamanho da amostra é um procedimento complexo,

pois muitos fatores devem ser levados em consideração simultaneamente.

Estes fatores incluem a variabilidade dos elementos da população alvo, o

tipo de amostra exigido, o tempo e orçamento disponíveis, o nível de

precisão desejada e a intenção de generalizar ou não as descobertas. Caso

esse último seja afirmativo, deve-se também considerar o grau de

segurança necessário para fazer tal generalização. É objetivo do pesquisador

obter o melhor equilíbrio entre os fatores apresentados (HAIR JR. et. al,

2003).

Em termos gerais, quanto maior o nível de precisão desejada em uma

pesquisa, maior deve ser o tamanho da amostra em relação à população

estudada. Há dois principais fatores inter-relacionados que devem ser

especificados na seleção do tamanho da amostra: o nível de confiança e o

intervalo de confiança (REA; PARKER, 2000).

Com base no tempo e orçamentos disponíveis e, principalmente, na

magnitude das consequências de um erro na pesquisa, deve-se estabelecer

um nível de confiança entre 95% e 99%. Quanto maiores as consequências

da geração de dados que podem levar a conclusões incorretas, maior o nível

de confiança que o pesquisador deverá estabelecer. Na maior parte dos

casos, um nível de confiança de 95% é satisfatório. O intervalo de confiança

é estabelecido a partir do erro padrão aceitável, geralmente considerado

satisfatório entre 3% e 5% da média amostral. (REA; PARKER, 2000).

47

Há ainda uma terceira dimensão importante, a homogeneidade, ou

variabilidade, da população. Se a população é homogênea, faz-se necessário

uma amostra menor. Já uma população com grande variabilidade cria a

necessidade de uma amostra maior. Por exemplo, uma pesquisa sobre a

idade de estudantes universitários exige menor amostragem do que um

estudo sobre o perfil de pessoas que assistem televisão em determinado

horário (HAIR JR. et. al, 2003).

Hair Jr. et al (2003) defendem ainda que por razões pragmáticas,

como restrições de tempo e orçamento, métodos alternativos ad hoc são

frequentemente empregados. Nestes casos, o tamanho da amostra é

baseado em regras práticas, estudos anteriores semelhantes, na experiência

do pesquisador ou simplesmente pelos dados que se tem a disposição. De

qualquer forma, é necessário se observar a consequência da definição do

tamanho da amostra em termos de confiabilidade dos resultados, além de

precisão e coerência do estudo.

Para este estudo, devido às restrições citadas por Hair Jr. et al (2003)

busca-se obter o maior número de respondentes dentre um grupo

selecionado de consultores e profissionais da área de manufatura e em

seguida estima-se o erro amostral e faz-se as devidas considerações sobre a

influência desse erro nos resultados obtidos. Através do teste-piloto,

explicado no próximo tópico, é calculada a amostra ideal para minimizar o

erro amostral. É ainda possível comparar o número de respostas obtidas no

teste-piloto com cenários ideais de amostragem.

Assim, o questionário será enviado a pessoas previamente

selecionadas, devido a sua experiência e conhecimento sobre cultura, a fim

de se obter inicialmente o maior número de respondentes para a elaboração

de um teste-piloto. O questionário será enviado online, através da

plataforma surveymonkey em três ondas, com intervalo de uma semana

entre elas.

3.2.6 Teste-piloto

A fim de validar o uso do questionário e a análise dos resultados, além

de obter indicativos sobre as hipóteses iniciais e criar uma base para

recomendações para estudos futuros é proposto realizar um teste-piloto.

48

Assim, são propostas duas análises: a primeira é a obtenção de

indicativos de rejeição ou aceitação das hipóteses iniciais, conforme melhor

explicado no tópico 3.1.3. A segunda é o cálculo do desvio padrão amostral

a partir dos valores obtidos no questionário, que podem ser usado para

calcular cenários ideais de tamanhos de amostra para estudos futuros.

3.3 Análise e discussão dos resultados

O questionário do OCAI permite identificar três parâmetros: o tipo da

cultura, a força e a congruência. O tipo identifica os valores predominantes

da cultura e a classifica em um de quatro tipos distintos: clã, hierarquia,

adhocracia ou mercado. No questionário é basicamente o tipo de cultura que

recebeu maior número de pontos, somados em todas as seis dimensões

(CAMERON; QUINN, 2006).

A força mede quão dominante é o tipo de cultura identificado.

Matematicamente é a quantidade de pontos, de um total de 600, que o tipo

predominante acumulou nas seis dimensões. Já a congruência identifica

quantas das seis dimensões apresentam predominância de um mesmo tipo

de cultura (CAMERON; QUINN, 2006).

Além destes três parâmetros, um quarto resultado fornecido pelo OCAI

é o perfil cultural da organização. Este consiste de uma figura geométrica,

mais especificamente um quadrilátero traçado em um plano cartesiano a

partir dos valores médios obtidos para cada um dos quatro tipos de cultura,

cada representado em um dos quadrantes do plano (CAMERON; QUINN,

2006).

A proposta é então comparar os resultados obtidos pela avaliação da

cultura ideal de uma organização de manufatura com desempenho financeiro

superior e a cultura média de uma organização de manufatura conforme

verficado por Cameron e Quinn (2006).

3.3.1 Parâmetro de comparação: o perfil cultural médio das

empresas de manufatura (CAMERON e QUINN, 2006).

Em seus estudos, Cameron e Quinn (2006) aplicaram o questionário

OCAI com mais de 80 mil funcionários de mais de 3 mil organizações,

49

públicas e privadas, presentes nos cinco continentes, apesar de serem

majoritariamente empresas norte-americanas.

A partir destes estudos, foi possível aos autores traçar perfis médios

de diferentes setores industriais, a fim de fornecer um parâmetro de

comparação para organizações que desejam avaliar seu perfil cultural.

Estes ressaltam que o perfil traçado é médio, ou seja, considera tanto

organizações com bom desempenho como aquelas com desempenho

inferior. O segmento de manufatura foi um dos estudados pelos autores,

conforme apresentado a seguir.

Figura 4 - Perfil médio de uma organização de manufatura. Fonte: Cameron; Quinn, 2006, p. 77

A partir do perfil cultural da organização média do setor de manufatura

é ainda possível identificar dois outros parâmetros culturais: o tipo de

cultura predominante, neste caso a cultura de mercado; e a força cultural

média – 246 pontos ou 41% dos 600 possíveis.

Para Cameron e Quinn (2006), o parâmetro cultural que mais tem

relação com desempenho superior é a congruência cultural. Para tanto, os

autores afirmam que, se traçarmos os perfis de cada uma das seis

dimensões do questionário separadamente, uma organização congruente é

aquela que apresenta uma diferença mínima (no máximo 10%) entre a

50

cultura predominante em cada dimensão e a cultura predominante na

organização no geral em pelo menos cinco dimensões.

Assim, uma organização congruente tem valor cinco ou mais para a

congruência cultural, de seis pontos possíveis. Para isso, a seguinte análise é

feita em cada uma das seis dimensões do questionário: um ponto é atribuído

quando o valor para a cultura predominante da dimensão estudada é, no

máximo, 10% maior do que o valor da cultura predominante na organização

dentro daquela dimensão.

Portanto, os parâmetros de comparação teóricos encontrados por

Cameron e Quinn (2006) são: cultura predominante no segmento de

manufatura - mercado; força cultural média no setor de manufatura – 246

de 600 pontos; congruência cultural mínima para que a empresa seja

considerada congruente – 5 de 6 pontos. Além disso, é possível comparar o

perfil cultural obtido pela aplicação do questionário neste estudo com aquele

traçado pelos autores como perfil médio de uma organização de manufatura.

3.3.2 Análise estatística dos resultados

Conforme proposto no objetivo deste estudo são três as hipóteses

iniciais. Para elas, diferentes análises estatísticas serão conduzidas.

Inicialmente, para que os testes expostos subsequentemente neste

tópico possam ser realizados, é necessário validar que as variáveis tratadas

apresentam uma distribuição que se aproxime da distribuição normal.

Conforme proposto por Kachigan (1982) o teste mais simples a se realizar

neste caso é traçar os valores obtidos para as variáveis em um gráfico do

tipo histograma e comparar o perfil obtido com aquele definido para uma

distribuição normal. Além deste, é proposto também realizar o teste de

normalidade conforme proposto por Shapiro e Wilk (1965).

51

Figura 5 - Perfil genérico de uma variável com distribuição normal.

A partir dos testes de normalidade, caso seja validado que as variáveis

do estudo podem ser tratadas como variáveis de distribuição normal, as

fórmulas e conceitos definidos nos testes de hipóteses propostos podem ser

aplicados.

A hipótese HA define que há um ou mais tipos de cultura

predominantes na organização fictícia de desempenho financeiro superior.

Para verificar tal afirmação, elabora-se a hipótese nula e alternativas

referentes à HA.

H0: μm = μc = μa = μh

H1: μm ≠ μc ≠ μa ≠ μh

onde μm representa o valor médio para cultura de mercado; μc para clã; μa

para adhocracia e μh para hierarquia.

Assim, para que HA seja validada, inicialmente deve-se rejeitar a

hipótese nula. Em seguida, procura-se estabelecer qual é o tipo de cultura

predominante. Para tal, define-se as seguintes segmentações da hipótese

alternativa.

H1,1: μm > μc, μa, μh

H1,2: μc > μm, μa, μh

H1,3: μa > μc, μm, μh

H1,4: μh > μc, μa, μm

Portanto, se H1,1 for validada, tem-se que a cultura de mercado é

predominante. Se H1,2 for validada, tem-se que é a de clã. O mesmo é valido

para H1,3 e a cultura de adhocracia e H1,4 e a cultura de hierarquia. Ressalta-

52

se que a hipóteses apresentadas são mutuamente exclusivas, fazendo-se

necessário que apenas uma das quatro seja válida.

Para verificar que existe diferença significativa entre as médias dos

tipos de cultura, ou seja, para rejeitar H0 definiu-se usar um teste One-Way

ANOVA com auxílio da ferramenta Microsoft Excel 2010.

A hipótese HB deste estudo define que o valor da força cultural da

organização fictícia deve ser maior do que aquele definido por Cameron e

Quinn (2006) como valor da força de uma organização média do setor de

manufatura. Para tal, deve-se validar que o valor obtido é significativamente

maior do que o valor da organização média considerando o erro amostral

gerado, em grande parte, pelo tamanho reduzido da amostra.

Kachigan (1982) define que, ao fazer uma generalização para uma

população a partir de uma amostragem, considera-se o intervalo:

μ = x ± erro

onde μ é a média da população e x a média amostral.

Aplicando o erro amostral à fórmula:

μ = x ± k*σ

onde k é uma constante dependente do nível de confiança e σ o desvio

padrão da amostra.

Os valores de k são definidos para casos bilaterais e unilaterais11. Para

os níveis de confiança mais comuns, define-se:

nível de confiança k bilateral k unilateral

90% 1,65 1,28

95% 1,96 1,65

99% 2,58 2,33 Tabela 2 - Coeficientes para os diferentes níveis de confiança. Adaptado de Kachigan, 1982, p. 111.

Para este estudo, é proposto usar nível de confiança 95%. Como a

hipótese visa demonstrar que um valor é maior do que outro, o coeficiente

unilateral é selecionado.

11

Coeficientes bilaterais são usados quando pretende-se verificar uma igualdade ou desigualdade. Já unilaterais são usados em casos nos quais visa-se verificar se uma variável é maior ou menor do que a outra.

53

Portanto, HB será aceita caso o menor valor do intervalo seja maior do

que o valor proposto para a organização média. Ou seja, caso:

x – σ*1,65 > 246

onde x é a média da amostra para a força cultural e σ o desvio padrão desta

mesma amostra.

Por fim, como Cameron e Quinn (2006) definem uma organização com

cultura congruente já considerando uma margem de erro de 10%, conforme

exposto no tópico 3.1.3.1. O mesmo procedimento realizado pelos autores

será adotado neste estudo para verificação de HC.

Desta forma, foram definidos os métodos para avaliar os resultados

obtidos da pesquisa de campo, a fim de validar ou refutar as hipóteses

iniciais considerando as limitações do estudo.

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste tópico são apresentados os resultados obtidos no teste-piloto, a

fim de validar o uso do questionário e obter dados para consolidar

indicativos de aceitação ou rejeição das hipóteses iniciais e para a criação de

cenários de amostragem para estudos futuros, conforme definido na

metodologia de pesquisa.

4.1 Análise demográfica

Para o teste piloto, os resultados obtidos de 12 diferentes

respondentes foram analisados. Os respondentes foram previamente

selecionados, com base em sua experiência de mercado e conhecimento

teórico dos temas explorados, e contatados antes do envio do questionário

online.

Destes, o resultado da análise demográfica demonstra que a maioria –

5 - são consultores. Outras posições que foram citadas mais de uma vez

foram analista e gerente, com duas citações cada. Quanto ao número de

empresas onde já trabalharam ou realizaram projetos, 58% responderam

entre duas e quatro.

54

O setor financeiro foi o mais citado, representando 33% do setor de

atuação dos respondentes. Outros setores que receberam mais de uma

resposta foram automotivo e de bens de consumo, com duas cada.

Percebe-se ainda que os respondentes são em sua maioria

engenheiros de diferentes especializações e apenas um deles possui mais de

5 anos de experiência no mercado de trabalho.

4.2 Teste de normalidade

Para que as fórmulas estatísticas propostas no tópico 3.1.3.2 possam

ser utilizadas, deve-se primeiro garantir que a variável estudada obedeça a

uma distribuição normal.

Para tal verificação, inicialmente os dados obtidos para cada um dos

tipos de cultura foram plotados em um gráfico do tipo histograma, de acordo

com sua frequência de aparição. A tabela com os dados de frequência e os

gráficos do tipo histograma são apresentados a seguir.

Tabela 3 - Distribuição dos pontos de acordo com sua frequência.

Frequência 0-60 60-120 120-180 180-240 240-300 300-340

Clã 3 6 1 2 0 0

Adhocracia 1 4 4 2 1 0

Mercado 0 1 3 5 2 1

Hierarquia 0 6 4 2 0 0

55

Gráfico 1 - Histograma dos valores atribuídos a cada um dos tipos culturais.

É possível observar que o histograma da cultura de mercado muito se

assemelha com o perfil de uma distribuição normal. Clã e adhocracia

demonstram que, se complementados com maior número de dados, devem

apresentar uma tendência que se aproxime da distribuição. A cultura de

hierarquia foi aquela que mais se distanciou do perfil de distribuição normal.

Por causa de tais fatores e também por a análise de histograma ser

uma análise básica que, apesar de apresentar tendências iniciais, não

permite diferenciar os resultados de outras distribuições similares, por

exemplo, de Student, fez-se necessário realizar também um teste de

normalidade mais sofisticado, como o de Shapiro-Wilk (1965) – selecionado

por ser robusto e, ao mesmo tempo, de fácil aplicação. Este foi realizado

com auxílio dos softwares Microsoft Excel e Action combinados. O resultado

de tal análise é exposto a seguir.

Tabela 4 - Teste de normalidade de Shapiro-Wilk

TESTES DE NORMALIDADE

Estatística: Shapiro-Wilk 0,970201

P-valor 0,257913

DADOS DO PROCESSO

56

Gráfico 2 - Tetste de normalidade de Shapiro-Wilk

O teste proposto por Shapiro e Wilk (1965) define que, para se afirmar

com 95% de certeza que os dados apresentam uma distribuição normal, o P-

valor deve ser maior do que 0,05. Além disto, a distribuição dos mesmos no

papel de probabilidade deve se aproximar o máximo da reta definida.

Percebe-se que, neste caso, ambos os requisitos apresentados pelos autores

são satisfeitos.

Assim, torna-se possível usar o método proposto de tratamento dos

dados para o teste-piloto, o que permite que as demais fórmulas e conceitos

definidos sejam utilizados.

Destaca-se ainda que testes não-paramétricos podem ser utilizados

sem que se faça necessário verificar ou assumir que as variáveis tem

distribuição normal. Por exemplo, na metodologia definida, ao invés de

realizar o teste One Way Anova, que tem como uma de suas restrições a

normalidade das variáveis, pode-se utilizar o teste de Kruskal-Wallis para o

mesmo fim. Tais testes são também indicados em caso de amostras

pequenas.

57

4.3 O perfil da organização fictícia de desempenho superior

Inicialmente é possível traçar o perfil cultural obtido para a

organização fictícia através do piloto. Este é demonstrado na Figura 6.

Figura 6 - Perfil cultural da organização fictícia de desempenho superior

Verifica-se que a premissa de que os valores diagonalmente opostos

no plano cartesiano “competem entre si” é comprovada.

Percebe-se também que já é possível observar a predominância da

cultura de mercado, em detrimento daquela de clã. A cultura ad hoc, por sua

vez, apresenta resultado um pouco superior à de hierarquia. Isso, aliado

com a predominância da cultura de mercado, demonstra a valorização do

enfoque externo.

Pode-se ainda comparar o perfil médio da organização de manufatura,

conforme definido por Cameron e Quinn (2006), com o perfil obtido para a

organização fictícia de desempenho superior através do survey OCAI.

58

Figura 7 - Comparação entre perfis

Através dessa comparação, nota-se que ambas tem predomínio da

cultura de mercado – um primeiro indicativo de que o tipo de cultura não

influencia diretamente no desempenho financeiro – porém a organização

fictícia deste estudo tem maior presença da cultura de adhocracia. Isso

indica que os respondentes acreditam que o ambiente criativo e inovador,

voltado ao empreendedorismo, que valoriza assumir riscos e busca sempre

ter as tecnologias mais avançadas é um ambiente propício ao

desenvolvimento de uma organização de sucesso financeiro.

4.4 Análise do indicativo das hipóteses do estudo

A primeira hipótese do estudo, nomeada HA, propõe que existe um ou

mais tipos de cultura organizacional que influenciam o desempenho

financeiro de uma organização.

Inicialmente, pode-se organizar o tipo de cultura predominante

definido por cada um dos doze respondentes em uma tabela, a fim de

permitir uma primeira análise visual.

Tabela 5 - Tipo predominante de cultura conforme definido por cada um doze respondentes.

Respondente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Tipo Predominante Clã Mercado AdhocraciaClã AdhocraciaMercado Mercado Mercado AdhocraciaMercado Mercado Mercado

59

Em seguida, faz-se a análise estatística conforme proposta. Deseja-se

verificar se as médias dos diferentes tipos de cultura são significativamente

diferentes. Para tal, define-se H0: μm = μc = μa = μh. Através do teste One-

Way ANOVA com dados obtidos no piloto, pode-se verificar que o valor F

(8,92) foi superior ao F crítico (2,81) e o valor P (0,00009) foi menor do que

o coeficiente de significância definido para o estudo (0,05 ou 5%). Estes dois

fatores garantem que as médias amostrais para cada tipo de cultura são

significativamente diferentes, portanto rejeita-se H0.

Além disso, observando as médias amostrais obtidas da mesma

análise, confirma-se a hipótese H1,1: μm > μc, μa, μh, ou seja, os valores da

cultura de mercado são significativamente maiores do que aqueles obtidos

para os demais tipos de cultura. Mais ainda, é possível concluir que o teste-

piloto apresentou um indicativo que existe a predominância do tipo cultural

de mercado na organização fictícia de desempenho financeiro superior.

Tabela 6 - Quadro ANOVA e sumário.

De qualquer forma, a cultura de mercado foi também observada por

Cameron e Quinn (2006) na organização média do setor de manufatura.

Assim, há o indicativo de que esta cultura é predominante no setor, porém

não se pode afirmar que o tipo de cultura diferencia a organização de

desempenho superior daquela de desempenho médio, já que estas

apresentam o mesmo tipo cultural predominante.

Anova: Single Factor

SUMMARY

Groups Count Sum Average Variance

Clã 12 1.265 105 3.548

Adhocracia 12 1.730 144 3.127

Mercado 12 2.600 217 3.856

Hierarquia 12 1.605 134 1.537

ANOVA

Source of Variation SS df MS F P-value F crit

Between Groups 80762,5 3 26920,83 8,923753 9,86E-05 2,816466

Within Groups 132737,5 44 3016,761

Total 213500 47

60

Em seguida, verifica-se a hipótese HB. Esta define que a força cultural

da organização fictícia de desempenho financeiro superior será maior do que

aquela identificada por Cameron e Quinn (2006) como a força cultural de

uma organização média do setor de manufatura, mesmo considerando o

erro amostral.

Matematicamente, deseja-se verificar a veracidade da equação x –

σ*1,65 > 246, sendo x a média amostral e σ o desvio-padrão da amostra.

Os dados para força cultural obtidos no piloto são expostos a seguir.

Tabela 7 - Força cultural conforme cada respondente, média e desvio-padrão

Assim, pode-se observar que a média amostral foi 236 e o desvio-

padrão 37. Na equação proposta:

236 – 37*1,65 > 246

175,1 > 246

Como a equação é falsa, rejeita-se HB. Ou seja, não há indicativo que

a força cultural da organização fictícia proposta é significativamente maior

do que a força de uma organização média do setor de manufatura.

Aplicando o erro amostral, o resultado mostra que a média

populacional da força cultural está no intervalo [175,1; 297,4]. A amplitude

do intervalo demonstra que o erro amostral tem grande influência sobre os

resultados, podendo uma amostra maior mitigar tal efeito.

Por fim, propõe-se verificar a congruência cultural da organização

fictícia. Ressalta-se que Cameron e Quinn (2006) definem como uma

organização congruente aquela na qual a cultura predominante em pelo

menos 5 das 6 dimensões é a mesma do que da organização como um todo.

Além disso, os autores comentam que em seus estudos a congruência

cultural foi o fator que demonstrou maior relação com desempenho

organizacional. A última hipótese do estudo, HC, define, portanto, que a

organização fictícia de desempenho superior deve ser congruente do ponto

de vista cultural.

Respondente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Média Desvio Padrão

Força 200 280 205 220 250 230 220 230 180 275 235 310 236 37

61

Os resultados são mostrados na tabela 6. O valor 1 indica que o tipo

predominante para aquela dimensão foi o mesmo do que para a organização

como um todo. O valor 0 indica isso não ocorre. O procedimento é feito em

cada uma das seis dimensões para cada um dos oito respondentes. Ao final,

calcula-se a mediana dos resultados dos doze respondentes.

Tabela 8 - Congruência cultural

Os resultados obtidos no teste-piloto mostram que existe um

indicativo de que organização fictícia é congruente, ou seja, validam HC,

confirmando o que foi previamente verificado por Cameron e Quinn (2006).

Assim, a análise dos resultados obtidos pelo teste-piloto indica que a

cultura de mercado é o tipo predominante na organização fictícia estudada e

que a mesma é uma organização congruente, porém não apresenta força

cultural superior àquela observada como média para organizações do setor

de manufatura. Isso sugere que a congruência cultural influencia no

desempenho financeiro, mas não a força. Esta observação está de acordo

com o que foi verificado por Cameron e Quinn (2006).

4.5 As dimensões culturais da organização fictícia de desempenho

superior

A aplicação do questionário OCAI permite analisar não somente o perfil

cultural da organização no geral, como também fazê-lo de forma

extratificada em cada uma das seis dimensões que compõe o instrumento, a

Respondente Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Congruência

1 0 1 1 1 1 0 4

2 1 1 1 1 1 0 5

3 1 1 0 1 1 1 5

4 0 1 1 1 1 1 5

5 1 1 1 1 1 1 6

6 0 0 1 1 1 1 4

7 0 1 1 1 1 1 5

8 1 1 1 1 1 1 6

9 1 1 1 1 1 1 6

10 1 1 1 1 1 1 6

11 1 1 1 1 1 0 5

12 1 1 1 1 1 1 6

5Mediana

62

saber: características dominantes, liderança, tipo de gerência, “cola” que

mantém a organização unida, ênfase estratégica e critérios de sucesso.

As extratificações do perfil cultural da organização para cada uma das

seis dimensões citadas são expostas a seguir.

Dimensão 1 - Características Organizacionais Dimensão 2 - Liderança

Dimensão 3 - Gerência Dimensão 4 - "Cola" que mantém a organização unida

63

Dimensão 5 - Ênfase estratégica Dimensão 6 - Critérios de sucesso

Analisando separadamente o perfil de cada uma das dimensões da

cultura organizacional para a organização de desempenho superior nota-se

que as quatro primeiras seguem o mesmo padrão da organização como um

todo – predominância da cultura de mercado e a cultura de adhocracia

também com presença importante. Destas quatro, percebe-se na dimensão

de liderança que a hierarquia apresenta valores mais elevados, já próximos

à cultura ad hoc. Essa tendência é acentuada nas dimensões de ênfase

estratégica e critérios de sucesso, nas quais a hierarquia apresenta valores

mais altos do que a adhocracia.

Isso indica que, nessas dimensões, os respondentes acreditam que

estabilidade e controle, além de normas e políticas formais, tendo como

resultado maior eficiência organizacional, apresentam certa influência

positiva no desempenho financeiro.

Observando novamente a tabela 8, nota-se que existem duas

dimensões as quais apresentam congruência com o tipo cultural

predominante na organização em todos os casos: a “cola” que mantém a

organização unida e o estilo de liderança. O primeiro significado deste

resultado é que estas dimensões devem sempre estar alinhadas com a

cultura predominante. O segundo é que estas dimensões podem ser os

melhores indicadores para se definir a cultura de uma organização, seja

através de métodos do tipo survey, pela observação, ou mesmo métodos

mais aprofundados – como a imersão na organização.

64

4.6 Cálculos de cenários de amostragem

Conforme definido no tópico 3.1.2.6, restrições principalmente de

tempo e orçamento fazem com que a amostra a ser utilizada neste estudo

seja a maior possível.

De qualquer forma, a partir do desvio padrão obtido no teste-piloto,

pode-se estimar o tamanho de amostra ideal para o estudo e então

comparar o número de respostas obtidas com a amostragem ideal.

Kachigan (1982) define que o tamanho da amostra pode ser estimado

segundo a seguinte equação matemática12:

N = (Z∝/2*σ/E)²

com N sendo o tamanho da amostra, Z∝/2 o coeficiente para o nível de

significância definido13 e E o erro desejado.

A tabela a seguir mostra os diferentes valores de média e desvio-

padrão para cada um dos tipos de cultura, conforme calculado no teste-

piloto.

Tabela 9 - Valores de média e desvio-padrão amostral.

Conforme indicado na tabela, para os cálculos, define-se o desvio

padrão máximo encontrado – 62,1 referente à cultura de mercado. Então, é

possível elaborar cenários que estimem o tamanho de amostra

correspondente a determinado erro amostral e nível de confiança, variando

os parâmetros de 10 a 30 pontos e 90 a 99%, respectivamente.

12

De forma análoga a outras expressões matemáticas usadas no tópico anterior, esta é defina para variáveis que obedecem a uma distribuição normal. Tal semelhança foi verificada no tópico 4.1.2. 13

Os valores são os mesmos do caso de k bilateral (definido pelo coeficiente ∝/2) encontrados na Tabela 1.

Respondente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Média Desvio-Padrão

Clã 200 60 165 220 30 80 80 65 120 85 100 60 105 59,6

Adhocracia 80 120 205 190 250 160 100 125 180 55 150 115 144 55,9

Mercado 170 280 160 80 230 230 220 230 180 275 235 310 217 62,1

Hierarquia 150 140 70 110 90 130 200 180 120 185 115 115 134 39,2

62,1

65

Tabela 10 - Tamanhos de amostra necessários variando o erro amostral e o nível de confiança.

Torna-se possível então estimar o tamanho da amostra a ser utilizado

em estudos futuros. É pretendido minimizar o erro amostral, pois este

determina o quanto o valor obtido através da amostra varia da média

populacional. Já o nível de confiança deve ser maximizado, pois indica a

certeza que se tem de que o resultado obtido não está totalmente errado, ou

seja, um nível de confiança de 90% indica que existe 10% de probabilidade

da média populacional estar fora do intervalo definido pela média amostral

mais o erro. Para tal, deve-se tentar maximizar o tamanho da amostra.

5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste capítulo são apresentados e discutidos os resultados obtidos

neste estudo.

5.1 Tipo cultural

Conforme exposto no capítulo 4, o resultado do piloto aponta a cultura

de mercado como predominante na organização fictícia de desempenho

superior. Isso indica que essa é uma organização voltada aos resultados e

que valoriza a competitividade. A ênfase em vencer e estar no topo do

mercado é comum a todos os membros da organização - objetivos e metas

são bem definidos e atingi-los é parte essencial da estratégia da empresa.

De qualquer forma, o tipo cultural foi o mesmo do que aquele definido

por Cameron e Quinn (2006) para a organização média do setor de

manufatura. Assim, não há indicativos de que o tipo de cultura influencia no

desempenho financeiro.

Entretanto, através da comparação dos perfis culturais dessas duas

organizações – aquela definida por Cameron e Quinn (2006) e a que é o

resultado deste estudo – nota-se que esta última apresenta valores mais

Erro amostral / Confiança 99% 95% 90%

10 257 148 105

15 114 66 47

20 64 37 26

25 41 24 17

30 29 16 12

Tamanho de amostra

66

elevados para a cultura de adhocracia, o que permite também identificar

maior enfoque externo. Além de estar de acordo com teorias bem aceitas

atualmente de que as empresas devem focar em seus clientes, este

resultado também indica que criatividade, inovação e empreendedorismo

podem ser geradores de melhor desempenho financeiro nas organizações.

Outro ponto sobre a cultura de adhocracia é que esta define

organizações que valorizam o crescimento e a aquisições de novos recursos

– duas tendências que de certa forma caracterizaram as grandes empresas

brasileiras nos últimos anos.

5.2 Força e congruência culturais

As hipóteses iniciais deste estudo determinavam que a organização de

desempenho superior apresentaria força superior à organização média do

mesmo setor e seria uma empresa congruente.

Inicialmente, rejeitou-se a hipótese de que a força cultural fosse

superior. Apesar de o erro amostral ter grande influência no estudo, devido

ao número reduzido de respondentes, também não há indicativos de que

com a redução do erro (aumento do tamanho da amostra) o resultado será

diferente.

Porém, a organização de desempenho superior foi classificada como

congruente do ponto de vista cultural, o que não foi necessariamente

identificado na organização média do setor. Assim, pode-se dizer que a

congruência foi um fator de diferenciação entre as duas organizações.

Portanto, conclui-se que a força cultural não tem influência no

desempenho financeiro, mas a congruência sim. Isso aliado ao resultado

discutido no tópico 5.1, indica que a organização de sucesso financeiro não

possui um tipo de cultura diferente nem com maior predominância (mais

forte) do que as demais empresas de seu setor, porém possui uma cultura

que pode ser observada claramente nas diferentes dimensões da

organização. Isto é, na organização de desempenho financeiro superior, o

estilo de liderança será condizente com a estratégia, assim como com os

critérios de sucesso e com a gerência de pessoas.

67

5.3 A liderança na organização de sucesso financeiro

Cada vez mais o conceito de liderança é valorizado nas organizações –

está presente em missões, visões, valores e é sempre citado durante

processos seletivos. Assim, julga-se válido analisar essa dimensão da cultura

da organização de maneira isolada.

Retomando o perfil traçado no tópico 4.5, percebe-se que a liderança

da organização fictícia de desempenho superior é predominantemente de

mercado e tem participação praticamente igual das culturas de hierarquia e

adhocracia.

Com base neste resultado, é possível definir a liderança presente na

organização como decisiva, agressiva em termos de metas e resultados,

focada no trabalho e nas tarefas. A influência é exercida através do

atingimento de metas pessoais e profissionais. Ao mesmo tempo em que

criatividade, inovação e pensamento futuro são valorizados no líder, este

também deve demonstrar habilidades de controle e poder garantir certa

estabilidade no ambiente.

5.4 O ciclo de vida das organizações

Cameron e Quinn (2006) defendem que as organizações atravessam,

durante seu ciclo de vida, diferentes perfis culturais, alterando inclusive o

tipo de cultura predominante. No início de seu ciclo, a empresa é geralmente

caracterizada por um ambiente informal e que valoriza o empreendedorismo,

indicando uma cultura de adhocracia. Em seguida, passa pela etapa na qual

o ambiente é familiar e existe forte identificação pessoal com a organização,

características típicas da cultura de clã. Conforme a empresa cresce, cria-se

a necessidade de estabelecimento de normas e procedimentos formais, além

de maior estabilidade, favorecendo o tipo cultural hierárquico. Por fim, a

organização torna-se voltada ao ambiente externo, com ênfase em eficiência

e resultados – com tipo cultural predominante de mercado.

Neste estudo, foi definido que a organização fictícia de desempenho

superior é uma empresa de grande porte, há 30 anos presente e já

consolidada no mercado. Portanto, a predominância da cultura de mercado

nesta é condizente com o estágio que a mesma se encontra no ciclo de vida

e deve-se considerar a influência desse fator nos resultados obtidos. Mais

68

uma vez, verifica-se que o tipo de cultura é mais um indicador da dinâmica

do setor e do estágio do ciclo de vida do que um fator de diferenciação de

organizações de sucesso financeiro.

5.5 Limitações do estudo

A primeira limitação do estudo é o uso apenas do método de survey

para obtenção de respostas – apesar de este ser um método válido e estar

de acordo com o que definem Kotter e Heskett (1992), que o ideal para se

avaliar a cultura de uma organização é que seja avaliada a percepção de

pessoas internas à organização por um observador externo. De qualquer

forma, a fim de se fazer generalizações sobre um extenso grupo empresarial

sugere-se que outros métodos sejam também incorporados ao estudo, por

exemplo, método de imersão na própria empresa.

Devido principalmente a limitações de tempo, recursos e acesso a

profissionais das áreas desejadas, este estudo apresenta indicativos de

conclusões baseadas em um teste-piloto realizado com uma amostra

reduzida de 12 respondentes. Acredita-se também que mais respondentes

de alto escalão das organizações acrescentariam confiabilidade aos

resultados.

Além disso, ressalta-se que, para que o questionário ficasse mais

concreto e facilitasse as respostas, fez-se necessário restringir a organização

fictícia a um setor de atuação e estabelecer determinadas características da

mesma (empresa brasileira, de grande porte, consolidada no mercado). Isso

restringe a generalização dos resultados para organizações semelhantes

àquela criada para este estudo.

Ainda, existem duas restrições quanto aos resultados obtidos pela

aplicação da metodologia definida. A primeira é a impossibilidade de se

definir uma relação clara de causalidade. Em geral, é mais aceito que a

cultura influencie o desempenho financeiro, porém a metodologia apenas

identifica uma relação entre os dois conceitos – ela não permite concluir que

a cultura seja o efeito do desempenho financeiro e não a causa. A segunda

restrição é que, mesmo que os resultados apontem uma forte relação entre

cultura e desempenho e mesmo que essa seja aceita como causa e não

efeito do desempenho, ainda assim é preciso ressaltar que a cultura é um de

muitos fatores que definem uma empresa de desempenho superior.

69

5.6 Estudos futuros

Para estudos futuros, as seguintes sugestões são feitas:

Inicialmente verificou-se que a metodologia proposta neste estudo

pode ser utilizada para comparar organizações médias de determinado setor

da economia com resultados obtidos para a cultura ideal de uma organização

do mesmo setor que tenha desempenho financeiro superior. Com isso pode-

se identificar, para o grupo de empresas estudado, quais são os fatores da

cultura que influenciam no desempenho. Caso a mesma metodologia for

selecionada para o estudo, inclusive a aplicação do questionário, sugere-se

que a tabela 10 seja consultada a fim de estimar o tamanho de amostra

necessário para mitigar os efeitos do erro amostral e aumentar a

confiabilidade dos resultados. Neste caso, sugere-se que seja escolhida

confiabilidade mínima de 95% e um erro entre 3% e 5% dos pontos.

Além disso, sugere-se que na análise demográfica sejam incluídos

apenas respondentes que tenham atuado ou participado de projetos em pelo

menos duas empresas e que sejam de um cargo no mínimo equivalente à

gerência. Essa medida é sugerida para garantir a experiência e

conhecimento dos respondentes, a fim de se obter resultados mais robustos.

Para estudos que pretendam fazer generalizações mais precisas sobre

um conjunto extenso de organizações, sugere-se também que estes

incorporem outros métodos de avaliação da cultura – com a principal

finalidade de aliar à análise quantitativa da cultura de uma organização uma

visão qualitativa - como imersão nas empresas estudadas e avaliação de

documentos físicos das mesmas.

6. CONCLUSÃO DO ESTUDO E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os objetivos do presente estudo eram propor uma metodologia para

explorar a relação entre cultura organizacional e sucesso financeiro, baseada

no Competing Values Framework; verificar quais parâmetros da cultura

(tipo, força e congruência) influenciam no desempenho financeiro; e por fim,

fornecer uma base que possa ser usada para estudos futuros como, por

exemplo, estimativas de tamanho de amostra baseadas no desvio-padrão

obtido no teste-piloto.

70

Pode-se dizer que a metodologia de pesquisa foi validada, já que os

resultados foram consistentes com conceitos propostos anteriormente, por

exemplo, que quadrantes opostos não podem ambos predominar em um

perfil cultural. A mesma consistência é verificada comparando os resultados

obtidos com os perfis culturais dos diferentes estágios do ciclo de vida de

uma organização, conforme definido por Cameron e Quinn (2006).

Quanto às hipóteses iniciais, verificou-se que, apesar de existir um

tipo de cultura significativamente predominante na organização fictícia, não

há indicativos de que o tipo cultural influencia no desempenho financeiro. O

tipo cultural provou-se mais uma caracterização da dinâmica do setor no

qual a empresa está inserida e do estágio do ciclo de vida que a mesma se

encontra.

Também não há indicativos de que a força seja o fator cultural que

influencia no desempenho financeiro. Já no caso da congruência, foi possível

obter indicativos de que este é o parâmetro que possui influência no

desempenho. Esta descoberta está de acordo com o que foi verificado por

Cameron e Quinn (2006) para empresas globais, majoritariamente norte-

americanas.

Por fim, foram citadas as limitações deste estudo e foi possível

fornecer uma base que auxilie na definição da amostragem para estudos

futuros, com os diferentes cenários de tamanho de amostra e sugestões

para que se obtenha resultados mais robustos.

71

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75

ANEXO A – Questionário do OCAI (adaptado e traduzido)

1. Características Dominantes Ideal

A organização é muito pessoal, como uma segunda família. As

pessoas compartilham diversos aspectos de sua vida.

A organização é dinâmica e com espírito empreendedor. As

pessoas estão sempre dispostas a assumir riscos.

A organização é voltada a resultados. As pessoas são competitivas e orientadas ao desempenho.

A organização é um lugar bem estruturado e formal. Procedimentos formais governam o modo das pessoas agirem.

2. Liderança organizacional Ideal

A liderança da organização tem como funções orientar, facilitar e desenvolver os demais membros.

A liderança é voltada para o empreendedorismo, inovação e geralmente assume muitos riscos.

O principal foco da liderança da organização são os resultados.

A liderança é voltada para coordenar, organizar e tornar a organização mais eficiente.

3. Gerência organizacional Ideal

O estilo de gerência é caracterizado por trabalho em equipe, consenso e participação.

O estilo de gerência é caracterizado por assumir riscos, inovar e liberdade de criar coisas únicas.

O estilo de gerência é caracterizado por competitividade, alta

demanda e cumprimento de metas.

O estilo de gerência é caracterizado por segurança,

conformidade, previsibilidade e estabilidade.

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4. “Cola” que mantem a organização unida

Ideal

O que mantém a organização unida é lealdade e confiança. O

comprometimento com a organização é alto.

O que mantém a organização unida é inovação e desenvolvimento. Há a motivação de estar sempre no topo

O que mantém a organização unida é ênfase em resultados e atingimento de metas.

O que mantém a organização unida são regras formais e

políticas.

5. Ênfase Estratégica Ideal

A organização enfatiza o desenvolvimento humano. Confiança, abertura e participação persistem.

A organização enfatiza adquirir novos recursos e criar novos

desafios, além de aproveitar novas oportunidades.

A organização enfatiza ações competitivas e conquistas

individuais. O objetivo é ser dominante no mercado.

A organização enfatiza permanência e estabilidade. Eficiência,

controle e operações padronizadas são importantes.

6. Critérios de sucesso Ideal

A organização define sucesso com base no desenvolvimento

humano, trabalho em equipe e comprometimento.

A organização define sucesso como base em seus produtos, que

são únicos ou mais novos.

A organização define sucesso com base em sua posição no mercado. Competitividade é a dimensão chave.

A organização define sucesso com base em sua eficiência. Os custos de produção são importantes.