A cultura da ágora

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O Homem da democracia de Atenas

O século V a. C., o século de Péricles

No séc. V a. C., a Atenas democrática de Péricles representa o culminar de um tempo

histórico e artístico da Grécia, a primeira

civilização da Antiguidade Clássica, da

qual somos herdeiros.

O coração da Grécia Antiga ficava situado

na Península Balcânica, no Mediterrâneo

Oriental.

Porém, o mundo grego estendia-se pelas ilhas do Mar Egeu, pelas costas da Ásia

Menor e margens do Mar Negro, pelo sul da Itália e pela Sicília.

Foi a partir do séc. XVIII a.C. que, à medida que a população crescia e a produção

agrícola se revelava insuficiente para a alimentar, muitos gregos abandonaram a

metrópole e foram estabelecer-se naquelas paragens, onde fundaram colónias agrícolas

e comerciais, as quais eram novas cidades-estado, com organização política, religiosa e

cultural idêntica à das cidades-mãe

(metrópoles) e mantendo com elas ligações

comerciais e culturais muito intensas.

Apesar do afastamento, os habitantes

destas colónias continuaram a sentir-se

Antiguidade Clássica – período da

História que compreende a origem e o

desenvolvimento das civilizações grega e

romana (desde o 1º milénio a. C. a 476 d. C..

O adjectivo clássico refere-se a tudo o que é

deste período ou com ele se assemelha.

Mundo Helénico – Os gregos chamavam-se

a si próprios Helenos e à Grécia, Hélade.

Consideravam-se senhores de uma cultura

superior e chamavam “bárbaros” a todos os

povos que não falavam a sua língua, o grego.

O mundo helénico incluía a Grécia e as suas

colónias.

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como parte integrante do mundo helénico, partilhando a mesma cultura: a língua, a

moeda, os costumes, os objectos do quotidiano, os conhecimentos e os deuses.

O mundo helénico nunca esteve politicamente

unido. Na realidade, era um mundo de cidades-

estado (pólis) independentes e rivais, das quais as

mais importantes eram Atenas, Esparta e Tebas.

O isolamento, provocado pelo relevo montanhoso, e as velhas rivalidades entre as

tribos gregas, explicam, em grande parte, a formação das cidades-estados. Estas eram

constituídas pela cidade propriamente dita e pela zona rural envolvente, podendo

algumas pólis incluir, além da cidade principal, outras pequenas cidades.

Apesar da rivalidade política, por vezes causadora de guerras violentas, havia laços

culturais a unir todos os gregos: falavam a mesma língua, adoravam os mesmos deuses,

tinham modos de vida semelhantes e, por vezes, uniam-se para celebrar grandes jogos e

festividades e para combater povos invasores.

Todas as pólis tinham a sua ágora (praça pública, local de comércio e de encontro e

convívio entre os cidadãos) e a sua acrópole (zona mais elevada da cidade,

normalmente fortificada, onde se situavam os templos dos deuses protectores da cidade

e alguns dos mais importantes edifícios da mesma).

A maioria das pólis não excedia os 20 mil habitantes. Atenas, porém, ultrapassava

largamente esse número, atingindo os 350 mil.

A Polis de Atenas

Atenas situa-se na Península da

Ática, nas proximidades do mar. A

agricultura começou por ser a base

da economia, até meados do séc.

VII a. C. A vinha, a oliveira, os

cereais e o mel eram as suas

principais produções. A criação de

gado era, também, uma importante

actividade económica.

Cidades-estado (pólis) – cidade

independente dotada de órgãos de

governo próprios.

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1 e 2- Baías que serviam de enseadas para os navios de guerra.

3- Porto principal, onde se encontravam os armazéns e instalações navais e administrativas

Desde cedo os atenienses aproveitaram a proximidade do mar para fazer a exploração

dos excedentes agrícolas e artesanais. O desenvolvimento artesanal, sobretudo da

metalurgia e cerâmica, foi um factor importante para o estabelecimento de relações

comerciais com as colónias gregas.

Através do Porto do Pireu, Atenas abriu-se ao mar e construiu um verdadeiro império

comercial e naval.

O comércio marítimo ateniense beneficiou do uso da moeda, que veio substituir a

troca directa. No território de Atenas existiam minas de prata, as minas de Láurio, o

que permitiu a cunhagem da moeda em prata.

Atenas desenvolveu uma intensa economia monetária, comercial e marítima. A

forte actividade de construção naval contribuiu para o crescimento económico desta

cidade.

Atenas, situada na Península da Ática, tornou-se a cidade-estado mais próspera do

mundo helénico no séc.V a.C.

Porto do Pireu (porto de Atenas) – Situado a 10Km da cidade, tinha uma importância

económica e estratégica vital. Através dele, a cidade exportava os excedentes agrícolas e artesanais

e importava cereais, matérias-primas e artigos de luxo. Mas o porto tinha, também, uma grande

importância militar e naval. Por este facto, os acessos da cidade ao porto estavam protegidos por

poderosas muralhas.

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Neste século, Atenas reforçou a sua posição de potência regional, após as vitórias

sobre os Persas, nas batalhas de Maratona (490 a.C.) e de Salamina (480 a.C.).

A invasão da Grécia pelos Persas, no século V a.C., conduziu à formação de uma

aliança defensiva, a Liga de Delos (478 a.C.). Atenas e as outras cidades-estado gregas

uniram-se contra o domínio dos Persas. Atenas liderava esta aliança, conseguindo

formar uma poderosa frota militar e afastar o perigo persa.

Afastado o perigo, Atenas continuou a exigir às suas aliadas, o pagamento de

contribuições, usando-as em benefício próprio.

Esta apropriação abusiva das contribuições da Liga de Delos permitiu à cidade de

projectar-se, ainda mais, em termos económicos e políticos e alcançar um brilho

cultural notável no tempo de Péricles época em que foram realizados trabalhos de

construção e reparação de belos edifícios – templos, pórticos, fontes, edifícios

municipais - e atraiu muitos talentosos artistas, filósofos e intelectuais, provenientes de

todo o mundo grego, que muito contribuíram para um notável desenvolvimento.

A sociedade

A partir de 508 a.C., a estrutura da sociedade

ateniense foi alterada com a instituição da

democracia. Os cidadãos estabeleceram a

igualdade entre eles e passaram a dominar a

vida política.

A sociedade ateniense era formada por

cidadãos, metecos e escravos. Dos cerca de

350 000 habitantes da cidade-estado, apenas

1/10 eram cidadãos. Só estes tinham o direito de participar no governo da cidade. Na

categoria de cidadão estavam incluídos os homens de mais de 20 anos de idade, de

descendência de pai e mãe atenienses e com o serviço militar cumprido.

Os metecos eram homens livres, geralmente estrangeiros. Dedicavam-se às

actividades comerciais e artesanais. Não tinham o direito de participar na vida política

da cidade, nem possuir terras, embora pagassem impostos e prestassem serviço militar.

Os escravos eram o grupo social mais desfavorecido de Atenas, porém, não eram

maltratados. Geralmente eram de origem estrangeira: prisioneiros de guerra, raptados

por piratas ou comprados. Não tinham quaisquer direitos e executavam os trabalhos

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mais duros (minas, obras, campos…) e trabalhos domésticos. Podiam pertencer ao

estado, aos cidadãos ou a metecos.

O funcionamento do regime democrático

Nos séculos VII e VI a.C., foram realizadas algumas reformas políticas e sociais

importantes, feitas por Drácon, Sólon e Pesístrato. Estas beneficiaram as populações

mais pobres e vieram a ser completadas com a reforma de Clístenes, através das quais se

instituiu a democracia (governo exercido pelo povo), um sistema político inovador em

que o governo era assegurado por todos os cidadãos da pólis através da sua

participação na Assembleia.

A Eclésia ou Assembleia do Povo era o principal órgão político ateniense, ao qual

cabia o poder legislativo. Nesta assembleia reuniam-se todos os cidadãos.

A Bulé ou Conselho dos Quinhentos era constituída por 500 membros e preparava

os textos legislativos para serem aprovados na Eclésia.

O poder executivo era exercido pelos magistrados, que asseguravam o cumprimento

das decisões da Eclésia.

O poder judicial era confiado aos juízes e aos tribunais. O Helieu era o principal

tribunal, formados por 6000 juízes, que julgava os casos mais comuns de não

cumprimento das leis.

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Um dos princípios fundamentais da democracia ateniense consistia na igualdade de

direitos entre os cidadãos, na participação do governo de Atenas. Qualquer cidadão

podia exercer cargos políticos ou aprovar leis da Eclésia. Todas as decisões eram

tomadas por todos os cidadãos e não por governantes. Por isso se diz que a democracia

ateniense era uma democracia directa.

A democracia atingiu o seu apogeu durante o governo de Péricles,

no séc.V a.C.. Foi neste século –

chamado o século de Péricles –

que Atenas alcançou o seu

esplendor político, económico e

cultural.

Apesar de a democracia ateniense assentar no princípio da igualdade de direitos entre

todos os cidadãos, esta democracia era limitada a uma minoria da população.

De facto, apenas os cidadãos podiam participar no governo da cidade-estado. Os

metecos, os escravos e as mulheres estavam excluídos dessa participação.

Outras limitações e contradições da democracia ateniense eram.

A existência da escravatura

As condenações ao ostracismo (exílio) e à morte

A limitação à liberdade de expressão (certas críticas aos governantes não eram

toleradas)

O imperialismo ateniense (Atenas subjugou durante muito tempo outras

cidades ao seu domínio, sob o pretexto de estas não pagarem os tributos

estipulados pela Liga de Delos. Os recursos financeiros obtidos através dessa

Liga serviram para aumentar o desenvolvimento económico, artístico e cultural

de Atenas).

Apesar das suas limitações, a democracia ateniense foi um exemplo de participação e de

governação que influenciou a maior parte das cidades marítimas da Grécia. Este regime

constituiu um dos mais importantes legados culturais da Civilização Grega para a

civilização ocidental do nosso tempo.

Péricles (495-429a.C.) – Estadista general e grande orador

ateniense, Péricles foi eleito

anualmente estratego de 443 a 429

a.C.. Foi uma personalidade tão

marcante no seu tempo que o séc.V

a.C. ficou para a História como o

século de Péricles.

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A mitologia: deuses e heróis

Os gregos eram politeístas (adoravam vários deuses) e descreviam os seus deuses

como seres semelhantes aos homens na forma e nos sentimentos, paixões, defeitos e

vícios (antropomorfismo). Distinguiam-se dos homens pela sua imortalidade, o poder de

se tornarem invisíveis e de adquirirem várias formas (metamorfose).

O culto aos grandes deuses do Olimpo era comum a toda a Grécia, mas cada cidade-

estado venerava uma divindade, que considerava sua protectora. Por exemplo, Atena era

a deusa protectora de Atenas.

Os deuses do Olimpo

O monte do Olimpo era a residência dos

deuses gregos. Zeus era a autoridade

máxima, do qual se formou uma

genealogia dos seus irmãos, irmãs e filhos.

Contudo, cada membro da família divina

possuía o seu domínio próprio.

Zeus era o chefe dos deuses do céu. Os

seus irmãos Posídon e Hades eram deuses

do mar e do mundo subterrâneo dos

mortos, respectivamente. Hera e Deméter,

suas irmãs, protegiam a fecundidade. Zeus

casou com Hera e esta tornou-se a deusa

do casamento. Deméter tornou-se a deusa

da terra cultivada

O mundo dos heróis

Os Gregos concebiam o Universo como

uma grande cidade, partilhada por deuses e

homens. Por vezes, acontecia os deuses

aliarem-se aos homens. Os heróis eram a

prova dessa aliança. Homens divinizados,

filhos de um deus e de um ser humano,

eram considerados homens extraordinários,

possuidores de uma força e coragem sobre-

humanas. Muitos deles eram considerados

os fundadores lendários de cidades gregas.

Hércules, possuidor de uma força

extraordinária foi o mais famoso dos heróis

gregos. Teseu, o fundador de Atenas pôs

fim à crueldade do Minotauro. Édipo foi o

herói lendário de Tebas; Prometeu deu o

fogo aos homens e Orfeu encantou com a

sua música.

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O culto aos grandes deuses do Olimpo era comum a toda a Grécia, mas cada cidade-

estado venerava uma divindade, que considerava sua protectora. Por exemplo, Atena era

a deusa protectora de Atenas.

Para que a sua intervenção fosse benéfica, os deuses eram alvo de culto cívico na

cidade, por toda a população da pólis que, em ritos colectivos e segundo um calendário

oficial, se concentrava em frente dos templos, dedicados aos deuses. Aí, assistia-se a

sacrifícios, faziam-se oferendas, cantava-se em uníssono, dançava-se e participava-se

em outras solenidades festivas, como as Panateneias de Atenas (procissão em honra da

deusa Atena) ou as Grandes Dionísias (festivais de Primavera, realizados em Atenas,

em honra de Dioniso, que incluíam concursos de peças de teatro que ali eram

representadas e apreciadas por um júri) numa grande atitude religiosa, cultural, cívica e

política própria para uma religião de Estado.

A par dos grandes festivais em honra dos seus protectores de cada cidade-estado, os

gregos participavam, também no culto e nos jogos em honra dos deuses principais. A

estas formas de culto ocorria gente de toda a Grécia, suspendendo-se as hostilidades e

declarando-se tréguas, caso estivessem em guerra. De todos os festivais pan-helénicos

– participados por todos os gregos – da Grécia Antiga, os mais importantes foram os

Jogos Olímpicos, realizados em Olímpia, de quatro em quatro anos, em honra de Zeus.

Os gregos socorreram-se da religião para explicarem determinados fenómenos criando

mitos. A origem do Universo e da Humanidade eram os fenómenos que mais

despertavam o interesse e a curiosidade dos seres humanos de

então. Ao conjunto destas histórias (mitos) sobre a vida dos

deuses e das explicações dos grandes fenómenos e mistérios do

mundo e do homem denomina-se por mitologia.

A mitologia grega estava muito presente nas obras literárias

(poesia, tragédia e comédia) e nas artes plásticas (estátuas,

relevos e cerâmica).

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A Organização do Pensamento

No séc. VI a.C., nas colónias gregas da Ásia Menor, como Mileto, e devido ao bem-

estar económico e à vivência do ócio (tido como suscitador do espírito reflexivo e

crítico), surgiram alguns pensadores que procuraram explicações coerentes e racionais

para a origem do mundo material, para as relações do Homem com o Cosmos, dos

homens entre si e destes com a Natureza, criando, assim, a Filosofia (amor pela

sabedoria).

A situação política, económica e social de Atenas no séc. V a.C. contribuiu para um

novo impulso no pensamento e na filosofia: a par do mito, a política, a lei, a

democracia, o Homem e o seu modelo de actuação em sociedade passaram a ser os

assuntos de reflexão e especulação de muitos filósofos, dos quais se destacam:

Sócrates - tinha por divisa «só sei que nada sei e sobre tudo

tenho que reflectir», defendia que só o conhecimento de si próprio

e de tudo o que o rodeia é que permite ao Homem chegar à Virtude,

à Verdade, ao Bem e ao Belo. Com ele a filosofia passou a visar o

conhecimento do Homem para o orientar na vida individual e social;

o filósofo passou a ser um psicólogo, um moralista e um político.

Platão – discípulo de Sócrates, viveu em Atenas já em tempo

de crise política e moral, foi defensor de uma sociedade perfeita,

assente na justiça e nas leis harmónicas da Natureza.

Fundou a Academia, espécie de escola onde se estudava Psicologia

(ciência da alma), Matemática, Geometria, Astronomia e Lógica.

Platão valorizou não só o conhecimento empírico do mundo

sensível, mas especialmente a razão e a moral.

Aristóteles – foi aluno de Platão e, fundou em Atenas, o Liceu,

escola que englobou a primeira grande biblioteca da Antiguidade.

Os seus Tratados resultaram da observação do real, da

experimentação e da valorização da razão para conseguir a

organização dos conhecimentos com vista à procura das causas e das

leis gerais que regem a matéria. Por isso, é considerado não só um

dos fundadores da Filosofia, como também o percursor do espírito científico

contemporâneo.

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A Ágora de Atenas

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A arte grega

A Arquitectura

A arte grega clássica foi uma arte racional, expressão da comunidade e do

homem/cidadão. Aliou estética e ética, política e religião, técnica e ciência, realismo e

idealismo, beleza e funcionalidade e esteve ao serviço da vida publica. Os edifícios

gregos, pela sua perfeição, estabeleceram uma ligação harmoniosa entre o Homem e os

deuses, o mundo concreto e o mundo espiritual.

Evoluiu em três períodos claramente definidos, quer pelas carcterísticas estéticas quer

pelas tecnológicas. São eles:

O período arcaico, entre os séculos VIII e V a.C., que foi um logo espaço de

tempo caracterizado pela procura da ordem, do monumental, da sobriedade e da

maturidade.

O período clássico, que se desenvolveu entre a segunda metade do séc.V e o

séc. IV a.C. e foi um tempo em que a arte atingiu a plenitude, o equilíbrio, o

realismo e o idealismo.

O período helenístico, marcado pela mistura de culturas, pelo gosto do

particular, do concreto e individual e, simultaneamente, tempo de declínio da

cultura grega.

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Inicialmente a arquitectura grega era executada em

madeira, tendo sido substituída pela pedra calcária

(sobretudo a mármore) a partir dos finais do séc.VII a.C.

A arquitectura evoluiu, ligando-se permanentemente à

geometria e à matemática, criando-se regras e leis artísticas

(cânones). Ao arquitectos passaram a elaborar projectos

nos quais constavam o estudo topográfico do terreno, a

adaptação do edifício ao relevo e a escolha criteriosa da ordem, de acordo com o tipo de

edifício; elaboravam cálculos onde as medidas e as proporções eram rigorosamente

estabelecidas. Produziam maquetas que eram submetidas, posteriormente, à aprovação

oficial.

O objectivo final da arte era a procura da unidade, beleza e harmonia universais,

suportadas por uma filosofia que buscou a relação do homem com o divino, com o

mundo e a sua origem, com a vida e a morte, assim como com a dimensão interior do

próprio homem – valores que hoje se designamos por Classicismo.

A arte grega esteve ao serviço da vida pública e da vida religiosa, conjugando-as

harmoniosamente. As suas cidades são exemplo disso.

A cidade grega era concebida com três áreas

distintas:

Uma área sagrada, religiosa, localizada

na acrópole e na qual eram construídos

os templos, santuários, oráculos e

tesouros.

Uma área pública, na zona baixa, onde

se instalava a ágora, que era o centro da

vida da pólis.

Uma área privada, de menor

importância monumental, constituída por

bairros residenciais organizados por

classes sociais.

O templo foi e continua a ser o exemplo

máximo da arquitectura grega. A sua forma e

Entablamento de madeira

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estruturas básicas evoluíram a partir do mégaron micénico (sala do trono, no palácio),

que era formada por uma sala quadrangular, com um vestíbulo ou pórtico suportado por

duas colunas e com telhado de duas águas. Esta estrutura básica tornou-se,

gradualmente, mais complexa, com maiores dimensões e rodeada de colunas.

O templo era a morada e abrigo do deus, local onde se colocava a sua imagem, à qual

os fiéis não tinham acesso, pois os rituais eram realizados ao ar livre, em redor do

templo.

Os gregos usaram, na sua construção o sistema designado por trilítico, definido por

pilares verticais unidos por lintéis horizontais, não utilizando, normalmente, linhas

curvas.

O exterior do edifício era majestosamente decorado com esculturas e pintado com

azuis, vermelhos e dourados. Virado para o exterior, o templo grego tem um forte

sentido escultórico.

Pilares

verticais

Lintéis

horizontais

Evolução planimétrica do templo grego

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Na sua estrutura planimétrica, o templo era formado por três espaços:

uma cella ou naos, onde se encontrava a estátua da divindade,

antecedida por um espaço designado por pronaos, que era uma espécie de

pórtico,

e um outro espaço do lado posterior da cella que era o opistódomos, cuja

função era ser a câmara do tesouro, local onde se guardavam as oferendas aos

deuses e os bens preciosos da cidade.

Esta estrutura tripartida era rodeada por um peristilo, espécie de um corredor

coberto e circundante, aberto lateralmente através de uma ou mais fiadas de

colunas.

Reconstituição da fachada principal do Pártenon – Como se pode

verificar, o templo grego era «invulgarmente colorido» em relação à

aparência que lhe conhecemos hoje.

O sentido “escultórico” do templo advém-lhe tanto dos relevos, como da

cor e do equilíbrio e da justeza das proporções.

Planta do Templo de Hera:

1- Pronaos

2- Naos ou cella

3- Opistódomos (câmara

do tesouro)

4- Peristilo

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base

fuste

capitel

Em alçado, o templo era constituído por:

Uma base ou envasamento, que era uma plataforma elevada e tinha como

função nivelar o terreno.

As colunas, que

constituíam o sistema de

elevação e de suporte do tecto.

O entablamento, elemento

superior e de remate que

era formado pela a

arquitrave, pelo friso e pela cornija,

O frontão triangular.

O tecto de duas águas era coberto por telhas de barro.

O templo grego possui uma simetria axial, criando

fachadas simétricas, duas a duas.

Marcado por esta mesma estrutura desde a sua origem no séc. IX a.C., o templo grego

sofreu uma sensível evolução estilística. No séc. VII a.C., os Gregos já tinham definido

os dois principais estilos arquitectónicos ou ordens: a ordem dórica e a ordem jónica.

O conceito de ordem está ligado a um sistema de proporções que harmonizava as

partes do edifício em relação ao todo. Era aplicado ao traçado da coluna –

determinando as proporções das suas partes constituintes: base, fuste e capitel – e à

relação entre a sua espessura e a altura totais.

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Cariátide – é uma estátua

feminina utilizada como coluna

(Pórtico das Cariátides, no

Erectéion).

Estrutura dórica

A coluna é o elemento que melhor define as características de cada ordem, de tal forma

que o diâmetro médio do seu fuste determina o módulo métrico, segundo o qual se

construía todo o sistema proporcional do edifício.

A coluna teve também um valor icónico extremamente forte,

que esteve para além da sua função estrutural. Ela é o símbolo

do Homem, é antropomórfica – e tomou essa forma humana

no pórtico das cariátides do Erectéion, na acrópole de Atenas, e

de atlantes, como no caso do

templo de Zeus Olímpico, em

Agrigento.

A ordem dórica é a mais

antiga. Nasceu na Grécia

Continental, cerca de 600 a.C. e

possui formas geométricas, com

quase total ausência de

decoração. Derivou das

primitivas construções em

madeira nas quais a pedra era

utilizada apenas nas colunas e

alicerces.

Possui um aspecto maciço e

pesado, atribuindo-se-lhe um

carácter masculino e sóbrio.

Nesta ordem, o envasamento é

composto pelo estereóbato,

plataforma de alicerçamento

rodeada de dois ou mais

degraus de acesso e pelo

estilóbato, que é o último

degrau (o superior) onde assenta o edifício.

A coluna é robusta e possui fuste com caneluras em

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Estrutura dórica

aresta viva e capitel formado por ábaco e equino, ou coxim, muito simples e

geométrico.

O entablamento compreende a arquitrave, o friso (dividido em métopas e tríglifos)

e a cornija. O frontão triangular coroa o edifício.

Exemplos de templos de ordem dórica são:

O templo de Hera, em Olímpia;

O de Poséidon,

O de Apolo, em Corinto;

O de Ceres,

O mais famoso de todos, o Pártenon, em Atenas.

Templos dóricos

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Pártenon, Atenas

Reconstituição do Pártenon

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A ordem jónica nasceu no séc.VI a.C., na Jónia, e desenvolveu-se sobretudo nas

costas da Ásia Menor e nas ilhas do Mar Egeu. Esta ordem difere da ordem dórica nas

proporções de todos os elementos e na decoração mais abundante da coluna e do

entablamento. Esta, associada às suas dimensões mais esbeltas, confere-lhe um carácter

feminino.

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Estrutura jónica

O envasamento dos

edifícios de ordem jónica é

formado apenas pelo

estereóbato constituído por

três degraus.

A coluna possui uma base

individual, um fuste com

caneluras semicilíndricas,

sem arestas vivas, e em

maior número que a coluna

dórica, e também mais longo

e delgado e um capitel com

ábaco simples e equino em

forma de volutas enroladas

em espiral.

O entablamento tem uma

arquitrave tripartida

longitudinalmente e um friso

contínuo, com decoração esculpida, rematado pela

cornija; o frontão triangular encima o edifício, tal como

acontece com a ordem dórica.

Este tipo de estrutura foi aplicado tanto a edifícios de planta simples, como o templo

de Atena Niké, como a edifícios de planta

mais complexa, como o de Erectéion. Neste

edifício, a função icónica da coluna adquire

antropomorfismo num dos pórticos, através da

sua substituição por estátuas femininas – o pórtico das

cariátides.

Estrutura jónica

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Templo de Erectéion

Templo de Atena Niké

Planta do

Templo de

Atena Niké

Templos jónicos

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Ruínas do Templo de Zeus Olímpico, em Atenas

A ordem coríntia apareceu apenas no final do séc. V a.C. e é uma derivação da ordem

jónica, resultante do seu enriquecimento decorativo. O seu nome deriva

do seu autor que foi Calímaco de Corinto.

As principais diferenças estão na coluna que

possui uma base mais trabalhada, um fuste

mais delgado e um capitel em forma de sino

invertido, que era repleto de decoração

esculpida, formada pelas duas filas de folhas

de acanto, coroadas por volutas jónicas.

O entablamento e o frontão eram

sobrecarregados de refinados preciosismos decorativos.

A ordem coríntia foi a ordem preferida pelos romanos, que a

utilizaram de forma muito frequente.

Na Grécia podemos encontrar esta ordem no Templo de Zeus Olímpico e no

Monumento Corágico a Lisícrates, situados em Atenas.

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A Escultura

A escultura grega glorifica os seus atletas, heróis e deuses – estes últimos criados à

imagem e semelhança dos homens dos seus modelos e ideais. Foi concebida e

concretizou noções particulares de beleza e harmonia, tendo como “papel primordial

pôr em evidência a ideia de que a arte é conseguida pela habilidade da

representação exacta das aparências visíveis”. E, de tal forma esta ideia era notória,

que os artistas chegavam ao ponto de colorir totalmente as estátuas para atingir o

realismo desejado.

A escultura grega cumpriu funções religiosas, políticas,

honorificas e funerárias, assim como ornamentais.

Estreitamente ligada à arquitectura – ocupando espaços

próprios a ela destinados – a escultura grega,

simultaneamente realista e idealista, possui uma dimensão

profundamente humana, realizando uma unidade lógica e

harmónica que foi expressão do

pensamento grego. Esse humanismo foi

traduzido por meio do tema e da medida,

pois a temática da escultura grega, à

excepção da figura do centauro, é exclusivamente humana.

Foi no séc. V a.C. – época clássica – que a escultura (tal como aconteceu com as

outras artes) atingiu o auge da beleza e da perfeição, com as obras do mais genial

escultor desse período – Fídias – que executou os relevos do Pártenon.

A génese da escultura grega situa-se entre os séculos IX e VI a.C., a qual foi feita

sobretudo em madeira. A última etapa deste longo

espaço de tempo é designado por período arcaico e

situa-se entre os séculos VII, VI e inicio do séc. V

a.C..

As obras deste período denotam diversas

influências, nomeadamente assíria, egípcia, cretense,

micénica e oriental.

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No período arcaico estabilizou-se o enquadramento da escultura na arquitectura.

Assim, o relevo ficou sujeito ás formas e dimensões dos espaços arquitectónicos a ele

destinados.

Na ordem dórica distribui-se

pelas métopas e pelos tímpanos dos

frontões, enquanto que na ordem

jónica, para ale

dos tímpanos, é

aplicada nos

frisos contínuos.

O relevo possui, desde cedo, duas funções essenciais:

A de contar uma “história” mágica ou a vitória de um deus, narrando e

comemorando o acto que justifica a edificação do templo,

Preencher e decorar o espaço arquitectónico.

Esses relevos eram inicialmente feitos em terracota, pintados com cores vibrantes,

mais tarde, foram executados em mármore.

É na escultura dos tímpanos que se estabelece uma perfeita harmonia entre o trabalho

do escultor e do arquitecto. Na forma triangular, é difícil estabelecer uma composição

equilibrada, mas os gregos souberam resolver a situação de modo inteligente e singular,

colocando diversas figuras, em variadas posições, de acordo com o espaço a ocupar. A

dimensão e a posição das figuras tinha a ver com o seu grau de importância no

acontecimento representado. Assim, as principais eram colocadas de pé, na máxima

altura do tímpano, enquanto que as restantes se adaptavam aos lados decrescentes do

triângulo, aparecendo primeiro curvadas, depois sentadas e, por fim, deitadas.

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Nas métopas colocavam cenas míticas com duas ou

três personagens que, no seu conjunto, contavam

histórias de heróis, de gigantes, de centauros, …qual

banda desenhada em pedra.

Mas é no friso jónico, contínuo, que o artista tinha maior liberdade criadora, aí

desenvolvendo uma acção sequenciada, numa sucessão de ritmos narrativos, sem

interrupções e sem monotonia. Os temas mais utilizados eram as procissões, os desfiles,

as corridas de carros, etc.

As características dos relevos são idênticas às da estatuária:

As figuras têm uma anatomia esquemática;

Movimentos rígidos;

Rostos orientalizantes, com olhos oblíquos e amendoados, maçãs do rosto

salientes e barba e cabelos simplificados e geometrizados.

Da estatuária chegaram até nós dois tipos básicos de figuras:

Uma masculina que é a representação de um jovem nu ou kouros;

Uma rapariga vestida designada por koré.

O kouros simboliza o deus da juventude e da plenitude, ao qual se iria chamar Apolo ou

Hermes.

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Foi nestas estátuas que os gregos ensaiaram as primeiras representações anatómicas e o

movimento corporal.

Inicialmente, eram mais rígidas, de corpos

hirtos, ombros largos e a anca estreita,

braços esticados ao longo do corpo; a barba

e o cabelo eram simplificados e

convencionais – em caracóis, tranças ou

ondas; e o rosto, muito esquemático,

desenhava um sorriso enigmático nos

lábios. Gradualmente, estas estátuas heróis

adquirem alguma flexibilidade e

movimento, desprendendo os braços do

corpo e ganhando, também, expressão

facial.

O equivalente feminino, as korai, plural de koré, são jovens virgens, graciosas e

encantadoras, que se apresentam vestidas

com longas túnicas pregueadas que eram

pintadas de cores luminosas, vivas e

cintilantes. Os seus rostos simétricos, com

meios sorrisos e cabelos longos, ondulados

e, por vezes, entrançados, são de uma

imobilidade serena

Kouros

Koré

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Discóbolo

No período clássico, a escultura grega tem perfeitamente

definidas as regras pelas quais se iria reger. A primeira obra

deste período que atinge maior expressão foi o Discóbolo de

Míron, representação do atleta lançador do disco. Aqui o

escultor abandonou as regras arcaicas, introduzindo a noção de

movimento eminente.

Mas Mas foi com Fídias, o artista mais genial de todo o século

Va.C., que a escultura grega atingiu a absoluta perfeição.

Nas obras deste escultor ressaltam a perfeição anatómica, a

robustez e a serenidade, a força e a majestade que deram à

escultura clássica grega o carácter idealista e divinizado que lhe conhecemos. As suas

peças, de incomparável, mestria são conhecidas pelas descrições dos seus

contemporâneos e as suas qualidades técnicas e artísticas são confirmadas pelos relevos,

algumas estátuas mutiladas e a réplica de famosa Atena Parteno feita em marfim, ouro e

pedras preciosas.

A escultura do séc. IVa.C. conheceu novos

desenvolvimentos, pois foi marcado pelo aspecto sedutor e

gracioso das estátuas e pelo aparecimento do nu feminino.

Relevos e estátuas tornaram-

se mais naturalistas, trabalhadas

ao estilo dos seus autores. Foi o

caso do escultor Scopas, que

produziu obras de

características mais expressivas

e de Praxíteles que executou

corpos mais

esbeltos e

efeminados, como

o seu Hermes. Foi

este que assumiu,

pela primeira vez, a nudez feminina na estatuária.

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Lisipo introduziu na escultura a

verdadeira noção de vulto redondo e

marcou esta etapa com o mais elevado

naturalismo, criando um novo tipo de

atleta mais esbelto. Rompeu com o rigor

da frontalidade, podendo as estátuas ser

vistas de todos os ângulos e não como se

fossem altos-relevos destacados do fundo,

com um ponto de vista principal.

No período helenístico – séculos III, II e I a.C. – a

escultura evoluiu num sentido diferente dos séculos

anteriores. O “realismo idealista” do séc.V a.C. foi

substituído pelo “naturalismo” do séc. IV, que agora

cedeu lugar a um realismo expressivo, dramático e livre,

de efeito teatral.

O sofrimento e as paixões apoderam-se do corpo e dos

rostos, abandonando a serenidade tão característica da

arte grega.

Os grupos escultóricos, susceptíveis de

composições mais dinâmicas, sucedem-se às

esculturas individualizadas, descrevendo

acontecimentos e narrando histórias, como no caso do grupo de Lacoonte e de Os

Lutadores.

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30

Mesmo as figuras individualizadas parecem ter

sido extraídas de uma narrativa, como no caso de O

Gaulês Moribundo.

É neste período que se

produzem e vendem, para as

colónias gregas e para Roma,

cópias das estátuas clássicas

que chegaram até nós e nos

deram a conhecer o génio

escultórico grego. Duas

dessas peças são a Vitória

Samotrácia e a Vénus de

Milo.

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A par destas representações monumentais, desenvolve-se, também neste período, o

gosto pelo retrato com representações mais realistas e pelas

cenas do género retiradas da vida quotidiana, captada com

realismo tal que dá ênfase até às deformidades físicas do ser

humano e às representações da infância e da velhice.

Já em pleno período romano, tornaram-se populares as

conhecidas estatuetas de Tanagra, pequenas figurinhas de

barro policromado, cópias de

originais clássicos, inspiradas em cenas pitorescas do

quotidiano e da religião, que constituíram uma arte

requintada de salão, destinada ao consumo das elites.

Épicuro Pitágoras Sócrates

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A Cerâmica e a pintura

A cerâmica, pela sua decoração, com relatos de cenas míticas, representações de reis e

atletas, de cenas do quotidiano, etc., constitui um repositório fidedigno de imagens da

arte e da cultura gregas. Na falta de outros documentos históricos, como o da pintura

mural que desapareceu quase toda, é à cerâmica que vamos colher informações

necessárias para o entendimento da cultura, da civilização e da plástica gregas.

De entre o artesanato artístico deixado pelos gregos, a cerâmica tem um lugar de

destaque.

Mercadoria de primeira necessidade, pois servia para múltiplos usos, a cerâmica teve

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grande produção, e das inúmeras oficinas gregas sobressaem as atenienses, detentoras

das peças mais significativas e variadas, bem como os autores de maior qualidade.

Levada pelos mercadores, a cerâmica espalhou-se por todo o Mediterrâneo.

Na evolução plástica da cerâmica grega os especialistas distinguem os seguintes

estilos:

O estilo geométrico, situado entre os séculos IX e VIII a.C., distingue-se pela

decoração estrita de motivos geométricos. Estes motivos eram dispostos à roda

do corpo dos vasos, em bandas ou frisos

paralelos e sobrepostos, cobrindo-os até à

cintura. Cada banda era ornamentada a partir

de motivos geométricos simples – o ponto, a

linha, o círculo -, organizados em

combinações e

variações

criativas,

algumas das

quais usadas

desde o Neolítico: meandros, triângulos,

losangos, linhas quebradas ou contínuas,

axadrezados…

Estes motivos eram realçados a preto (ou com

um verniz castanho-ocre, muito brilhante) sobre

o fundo de cor natural dos vasos.

A partir de inícios do séc. VIII,

reintroduziram-se os elementos figurativos na decoração cerâmica, mas este

apresentavam-se como meras silhuetas a negro, muito esquematizadas e

estilizadas, de onde se excluíram todos os pormenores secundários.

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Estes elementos decorativos eram

constituídos por animais compondo pequenos

frisos decorativos e por seres humanos,

isolados ou organizados em cenas descritivas

e narrativas.

Neste caso, os temas resumiam-se a batalhas

e cerimónias fúnebres.

Nos primeiros, as personagens eram

guerreiros apresentados em diversas posições

de combate; nos últimos, as cenas descrevem

os cortejos fúnebres com soldados e

carpideiras seguindo o carro onde viaja o

corpo do morto, exposto sobre a urna.

Quanto às formas, a tendência foi para o

aumento progressivo do tamanho das peças,

algumas das quais atingiram proporções

monumentais. Com feito, as ânforas e crateras

ultrapassaram, nalguns casos, 1,5m de altura.

Estas grandes peças destinavam-se a ser

colocadas nos cemitérios como indicadores das sepulturas, à maneira de estelas ou

monumentos funerários. Continham óleos, unguentos sagrados e outras oferendas feitas

aos mortos.

A fase arcaica abrange os finais do séc.VII até cerca

de 480 a.C.

Esta fase ficou marcada pelo

aparecimento, na ática, da cerâmica

decorada pela técnica das figuras

pintadas a negro. Trata-se de uma

cerâmica elegante e sofisticada,

fruto e uma técnica elaborada,

destinada ao comércio de luxo.

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Sobre o fundo vermelho do barro destacam-se os elementos figurativos,

representados como silhuetas estilizadas à

maneira antiga (rosto de perfil, com olho de

frente, tronco de frente, ancas a três

quartos e pernas de

perfil) e totalmente

preenchidas a cor

negra.

A técnica da incisão permitiu pormenorizar o interior das

figuras, enriquecidas com linhas de contorno dos

músculos e outras partes do corpo, com

particularidade como a barba, o cabelo ou os

padrões do vestuário.

O estilo clássico situa-se entre 480 e 323 a.C.

Artisticamente, corresponde ao período de apogeu

técnico, estético do povo grego, no qual a arte foi

encarada como uma consequência directa da

superioridade criativa, racional e filosófica da

cultura grega.

Em consequência, o desenho e a pintura

desenvolveram-se extraordinariamente pela

descoberta, aperfeiçoamento e aplicação de

revolucionárias aplicações técnicas e formais:

aplicação da perspectiva, criação do claro-

escuro, aplicação de sombras…

Na cerâmica, estas inovações traduziram-se

numa crescente qualidade artística. Manteve-se

o fabrico da cerâmica das figuras negras, mas

implantou-se a técnica das figuras vermelhas.

Nesta técnica, toda a superfície do vaso era

coberta com verniz negro, com excepção das

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figuras, cujas silhuetas se mantinham da cor

avermelhada, natural da argila.

Os pormenores anatómicos e outros eram

acrescentados, posteriormente, a pincel mergulhado em

tinta preta. Associada à perfeição alcançada entretanto

pelo desenho, esta técnica imprimiu às figuras

decorativas da cerâmica uma plasticidade nova,

tridimensional.

Com pouco desenho interno – apenas alguns traços

que sugeriam os volumes -, os corpos adquirem perspectiva, movimento, naturalidade e

realismo. Apareciam enquadrados em espaços figurados onde não faltavam, por vezes,

pequenos apontamentos de cenários naturais ou arquitectónicos.

Estilo belo – ainda no séc.IV a.C. desenvolveu-se uma

variedade de estilos decorativos. Alguns autores

associaram livremente figuras vermelhas e negras

sobre fundos amarelados ou brancos, obtendo

elegantes efeitos estéticos.

Nas oficinas da Ática, desenvolveu-se

uma cerâmica funerária com fundo

branco, onde as formas das figuras se

definiam unicamente pela linha de

contorno, traçada com precisão.

À cerâmica grega foi atribuída uma

grande importância, tal como é

comprovada pelas fontes escritas.

As principais olarias de cada cidade usufruíam de prestígio e

popularidade, que se estendiam aos mais apreciados oleiros e

pintores ceramistas. Com efeito, como os filósofos, arquitectos

e escultores do seu tempo, muitos dos mestres artesãos

alcançaram a imortalidade pelas peças produzidas. Tal foi o

caso de Clítias, Apolodoro, Eufrónio, Exéquias e outros cujas obras são o melhor

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testemunho do grande valor artístico da cerâmica grega que viveu o seu apogeu

precisamente no séc.IV a.C.