A cultura vocacional, diz o Papa Francisco, tem que “ler ... · quando estava quase alcançando o...

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Transcript of A cultura vocacional, diz o Papa Francisco, tem que “ler ... · quando estava quase alcançando o...

  • Num. 144 Mar - Abr 2018

    Onde no h Deus no h vocao

    A cultura vocacional, diz o Papa Francisco, tem que ler com coragem a realidade assim como , com suas fadigas e resistncias, procurando reconhecer os sinais de beleza do corao, que

    necessita apaixonar-se e buscar sem cessar um amor que, de uma forma ou outra, o prprio Deus.

    OConclio Vaticano II reconhece que tanto as conquistas como os fracassos da humanida-de so tambm conquistas e fracassos dos discpulos de Jesus e, portanto, da Igreja. Os proble-mas do nosso mundo afetam Igreja, que na sua mis-so evangelizadora no pode esquecer da situao real das pessoas e da sociedade.

    As pesquisas sociolgicas descrevem as sociedades ocidentais e de boa parte do mundo, como fe-chadas sobre si mesmas, individualis-tas, cheias do esprito ps-moderno e do relativismo, cticas diante dos grandes relatos e com uma racionalidade instru-mental; incapacitadas para captar smbolos, contemplar o mistrio e compreender a gra-tuidade.

    Em sociedades com tais caractersticas se torna muito difcil que se enraze uma religiosidade autn-tica que leve em conta a abertura ao Outro e aos outros, e se sentir, de uma forma ou outra, fruto e expresso do amor de um Ser supremo que te chamou a existncia com um projeto pessoal irrevogvel. Por causa disso, se tem dito que o homem atual est desvocacionado.

    Segundo so Joo Paulo II, urgente promover ati-tudes vocacionais profundas, que originam uma au-tntica cultura vocacional; isto , criar uma atmosfe-ra na qual, a pessoa, sobretudo aquele que cr, tenha a prpria vida como um dom recebido, que haver de ser agradecido e doado.

    A cultura vocacional uma verdadeira atmosfera na qual prevalecem os valores de gratido e gratuida-de, a abertura transcendncia, a busca do sentido da vida, o desejo de encontrar a verdade, a capacida-de de se surpreender perante a beleza, a confiana em si e no outro, o reconhecimento da limitao e imperfeio, o altrusmo... uma comunidade impreg-nada desses valores vive na cultura vocacional.

    Criar essa cultura em cada pessoa e sociedade um desafio inevitvel da evangelizao

    e das pastorais. O Papa Francisco remarca que a prioridade da

    pastoral vocacional no a eficincia, seno a ateno

    ao discernimento.

    Uma autntica cultu-ral vocacional, assu-mida pessoalmente e comunitariamen-te dentro da Igreja, dar como resulta-do a diversidade de vocaes ou formas

    pessoais de seguir a Jesus e viver o evange-

    lho segundo o ditado do Espirito Santo de Deus,

    que suscita sempre pes-soas que sabem dar resposta

    s necessidades da Igreja e do mundo em cada etapa da Histria.

    A famlia agostiniana recoleta est fazendo, neste ano um esforo especial para criar uma cultura vocacional ali onde est presente, com o projeto de-nominado Expedio Vocacional. Nestas pginas voc encontrar o testemunho de alguns membros da famlia recoleta envolvidos de uma forma ou ou-tra no complexo mundo das vocaes e do discerni-mento vocacional.

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    Projetos de ser pessoa

    H muitas vises sobre o ser humano; os mitos gregos oferecem alguns protti-pos interessantes.

    Prometeu. Era forte, corajoso, in-trpido e audaz. Roubou o fogo sa-grado do Olimpo para colocar em prtica a civilizao. Os deuses lhe castigaram e acorrentaram a uma pedra. Os corvos, durante o dia, comiam seu fgado; pela noite o f-gado era regenerado, e assim todo dia. Prometeu quem se confia nas suas possibilidades desafian-do os limites da vida; arrogante e soberbo, seu drama o fato de en-frentar com angustia e dor o limite de toda criatura: a impotncia, o fracasso, o mal, a imperfeio...

    Ssifo. Condenado a carregar uma pedra gigante at uma montanha, quando estava quase alcanando o topo, a pedra rolava montanha abaixo e devia recomear a esca-lada. Ssifo todo aquele que pos-sui vontade para alcanar o xito, prestgio e glria, porm paga o preo dos desejos jamais satis-feitos que sempre pedem mais e mais, como verdadeiros tiranos.

    Narciso. Uma ninfa se apaixonou por ele mas como no correspon-deu esse amor, os deuses o casti-garam a apaixonar-se por si mes-mo. Aps ver o seu reflexo em um rio, Narciso tentou se abraar, caiu e morreu afogado. Todo Narciso se apaixona por si mesmo, se afoga nos prprios caprichos, nos seus interesses, no seu egosmo.

    Somos artistas de ns mesmosQueremos descobrir o que significa a vocao e como podemos propor esse mesmo sig-nificado de uma forma simples. As obras de um escultor, dos mitos gregos ou da f crist podem nos ajudar.

    Proteu. Ele podia prever o futuro, porm para evit-lo mudava de aparncia e s respondia que-les que conseguissem captur-lo. Proteu quem muda de opinies e afetos, tem caras segundo as cir-cunstncias, sem identidade, nem verdade, nem constncia.

    Cristo. No foi um mito grego, mas sim um homem completo; na sua pessoa, gestos e palavras aparece um novo modo de entender e de viver a vida como servio. Revela o mistrio de Deus como Pai cheio de amor, e entrega sua vida pelos seus irmos. No entra num cr-culo vicioso: forma parte de uma histria lineal de Salvao unindo seus dois protagonistas: Deus e a Humanidade.

    Vocao

    Temos uma opinio para tudo, e expomos nossas opinies sem medo. Porm alguns te-mas complexos nos levam a pensar mais: liberdade, amor, esperana, justia... E tambm a vocao.

    A vocao, horizonte de vida, d sentido existncia, coloca pes-soa no caminho de busca e de aber-tura a um sem-fim de surpresas. Tem tudo a ver com a conscincia, as necessidades mais pessoais, os desejos, os sonhos e a felicidade. A vocao um exerccio de liber-dade e, para aqueles que creem, no possvel conhecer sem antes compreender a chamada de Deus, pessoal, nica e direta.

    possvel descobrir, atravs des-ta intuio fixada no corao, que a vocao move a cada um a ser plenamente feliz. um aconteci-mento misterioso e um dilogo com Deus que se transforma em misso comprometida depois de

    uma resposta concreta e livre.

    Deus chama para a existncia e cria a cada um como ser nico, sem repeties, imagem e semelhana do seu criador; depois, Deus cha-ma a encontra-nos e estar em co-munho com Ele; e no sozinhos, mas junto queles que tem a mes-ma f e o mesmo batismo.

    Por ltimo, Deus chama a um pro-jeto de vida concreto; com ele que a pessoa se sente identificada com um estilo de vida, com certos valores, e um carisma.

    Esta vocao nos realiza como pes-soas, tem um carter altrusta que faz com que descubramos a felici-dade de servir, nos leva a uma re-lao com o sagrado e nos permite um encontro feliz com Deus. Por isso, descobrir a prpria vocao uma condio para ter uma vida de plenitude.

    Certo escultor contemplava um tronco de madeira nobre e, ao fixar o ol-har, descobria um sem-fim de esculturas perfeitas. No eram seres imagi-nrios, mas sim reais: estavam ali dentro. A sua profisso consistia em resgatar aquelas criaturas da sua priso de madeira. Porm ao pegar o escopo teve a sensao de estar paralisado. A partir do centro daquele tronco, milhes de seres levantavam os braos clamando por libertao: salvar a um abandonar a muitos, porm no escolher era excluir todos. E sentiu um estremecimento, porque teve uma intuio que o tronco era sua prpria vida; as figuras ocultas, os milhares modos de viv-la; e que o prprio escultor deveria esculpir com suas mos um nico destino.

    Cf. ngel Sanz, El alzar de las manos, p. 16.

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    Maria Josefa Vila (Guadasuar, Valn-cia, Espanha, 1950) adora os trabalhos manuais tais como pintura, costura, bordados, culinria, jardinagem ou hor-ticultura, a msica, a

    enfermagem, e para quase tudo na vida tem sido uma autodidata.

    Os seus problemas de ouvido (mais de vinte cirurgias) no lhe impediram de participar de mo-mentos histricos da sua Ordem, como a chegada a sia e a frica de novos mosteiros recoletos. Depois dos primeiros 15 anos da fundao do mosteiro de Bacolod City (Filipinas), foi convidada para a primeira fundao africana em Wote (Makueni, Qunia). L ela orienta as jovens que sentem cu-riosidade ou acreditam ser voca-cionadas para que conheam se a vida contemplativa para elas.

    Quais os critrios para ser ad-mitida uma jovem no mosteiro?

    Pedimos a todas que queiram servir ao Senhor e a Igreja numa vida de orao, siln-cio e trabalho. Tentamos ver a sua ndole pessoal, se poder no futu-ro assimilar nossa vida agostiniana recoleta contemplativa.

    Desta forma, marcamos uma en-trevista na qual pedimos os dados pessoais e familiares; necessita-mos saber por meio dos dados que seja catlica (batismo e confir-mao), que ela participe das ati-vidades da sua Igreja local, sobre sua escolarizao e estudos; em seguida perguntamos abertamen-te sobre os motivos do seu desejo de entrar no mosteiro. Por nossa parte, a nica exigncia imediata que fazemos que sejam recepti-vas e que estejam dispostas a assi-milar nosso modo de vida.

    O processo de discernimento vocacionalViajamos at o Qunia para ver como est sendo proposto o processo de discer-nimento vocacional para as jovens que chegam at o mosteiro das Agostinianas Recoletas em Wote.

    J NA convivncia com a co-munidade, o que importante?

    Ns observamos a capaci-dade de amadurecimento para assimilar o processo vocacional. No Qunia poucas pes-soas esto preparadas para levar adiante uma formao ideal para a vida contemplativa. Claro que te-mos os documentos de formao da Ordem (Plano de formao, Re-gra de santo Agostinho...).

    Contamos com a colaborao de sacerdotes diocesanos que do aulas sobre a formao da cons-cincia e sobre valores. Porm, o que mais ajuda a conhecer as can-didatas, e a elas a conhecer a nossa vida, o dilogo fraterno.

    Quais as etapas e quanto dura o processo formativo?

    A primeira etapa da for-mao o postulantado, de no menos de dois anos, podendo ser prolongado, segundo as necessidades da candidata e as observaes das formadoras.

    O noviciado, de dois anos, um acompanhamento bem mais com-prometido e profundo para a no-vicia e a formadora. Termina com a profisso de votos religiosos, isto , a antiga novcia passa a ser efe-tivamente monja, mesmo que du-rante, ao menos trs anos (e pode ser at quatro, ou mais) continue em processo de formao inicial at a profisso solene, a incorpo-rao definitiva, para toda a vida, da monja vida monacal.

    H diferenas na formao se-gundo cada pas?

    Cada pas tem sua cultura e programas educativos, e isto marca as pessoas. No Qu-nia quase que nenhuma candidata tem formao superior, por conta da falta recursos. De fato, o primei-ro contato conosco, s vezes acon-tece porque procuram mais aces-so aos estudos; depois descobrem o verdadeiro seguimento de Jesus. Em outros pases as candidatas tm mais clareza com relao aos motivos que as levam ao convento.

    A cultura religiosa prvia mui-to pobre, at chocante para quem viemos de outros mundos: aqui se voc rouba alguma coisa e algum te ver, pecado; porm se ningum te ver roubando... j no pecado. Trabalhamos com dedicao na formao da conscincia das can-didatas.

    O discernimento acontece a partir dos trs aspectos do iderio agos-tiniano recoleto: comunidade, orao, trabalho/estudo. A con-vivncia, o dilogo fraterno e a ob-servao, de forma especial a sua reao diante as dificuldades, so meios para o discernimento. H de comear do zero e esperar que elas assimilem estes elementos b-sicos; o restante elas descobrem por si mesmas na comunidade.

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    1Amar voc a Jesus porque ele o amigo que nunca falha e o seu caminho, sua verdade e sua vida.2No o tenha como uma ideia insensvel ou mesmo conceitual, mas sim como algum entranhvel, ntimo e carinhoso.3No ser para voc um amigo a quem se recorre somente quando alguma coisa est doendo ou faltando; voc no ser interesseiro.4Reconhecer em Jesus o amigo que mais lhe amou, de modo mais consciente, voluntrio, gratuito e total, at dar a vida por voc.

    5Compreender que Jesus no veio para conde-nar, mas para dar o amor sem falsidade.6Dir ao mundo que com Jesus possvel des-cobrir a verdadeira dignidade de cada pessoa.7Ser uma pessoa autntica quando tenha tido uma forte experincia de f com Jesus.8Depois de conhecer a Jesus, ter atitudes de doao, e no de emprstimo com juros.9Somente Jesus lhe far completamente livre, pois somente ele seu libertador.10Quando seja amigo de Jesus, ser alegre e lhe ser fcil gastar sua vida pelos demais, porque ter feito dele o seu modelo.

    Jesus em um declogo

    O servio e a alegria, os atrativos da Famlia Agostiniana Recoleta

    Esta dinmica vocacional procura que os jovens vejam a Jesus como prximo e capaz de gerar uma chamada.

    Diego Armando Mndez (Cartago, Costa Rica, 1983) agostiniano recoleto, coordenador da pastoral vocacional e da juventude na parquia de Santa Rita em Manaus (AM, Brasil).

    A minha dedicao pastoral vocacional tem sido uma agradvel surpresa e um grande desafio. Sempre tive o pro-psito de demonstrar aos outros jovens minha grande alegria de ser frei agostiniano recoleto.

    Uma equipe de animao voca-cional formada por um casal, mais dois leigos e um representante dos grupos da pastoral da juventude trabalha com dedicao.

    Na parquia h 60 membros das Juventudes Agostinianas Recole-tas (JAR) e grupos de jovens nas comunidades de base de Santa Ce-clia e de Nossa Senhora da Conso-lao, da renovao carismtica e aqueles que procedem da cate-quese.

    O trabalho vocacional abundante e excelente. Levamos ao conheci-mento de todos a espiritualidade e o carisma da Famlia Agostiniana Recoleta, seus servios, trabalhos e ministrios -especialmente das misses-, participamos nas litur-gias, divulgamos materiais...

    A parquia organiza uma semana das vocaes e encontros com os jovens mais inquietos. Este ano dedicaremos todo nosso esforo Expedio Vocacional. Primeira-mente, os orientadores locais das comunidades do Brasil nos reuni-remos em abril no Rio de Janeiro; em seguida prepararemos um ca-lendrio de celebrao para Expe-dio em todas as comunidades do Cear e do Amazonas.

    No falta o acompanhamento individual com o religioso orientador e o psiclogo da equipe de animao: uma entrevista sema-nal com aqueles que amadurecem a ideia de ingressar numa comunidade religio-sa; e cada dois ou trs semanas com quem iniciam o pri-meiro contato com a vida consagrada, sacer-dotal ou matrimonial.

    Atualmente acompanhamos 15 jovens, a maioria das JAR, que sentem inquietude de vida consa-grada. No faz muito, falamos para um membro das JAR que as Mis-sionrias Agostinianas Recole-

    Senhor Nosso Deus,fazei que o clamor de vossa vozchegue a muitosque se levanteme vivam unidos a vs.Preparai seus coraescom vossa palavra,de modo que se disponhama evangelizar os pobrese a cuidar de vossa extensa messe.Senhor, que todos os chamados vida agostiniana recoletaescutem vossa voze possam cumprir vossa vontade.Amm.

    Orao vocacional

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    H um sonho em mim, vejo um lugar onde com orgulho sei que vo me encontrar. Todos vo sorrir quando eu l chegar H uma voz dizendo: aqui que eu vou viver.

    Eu me encontrarei, vou vencer distncias; No fraquejarei, nada pior nesse tal lugar onde vou parar. Eu sei que a minha vida ficar melhor.Eu viajarei, vou vencer distncias sei que chegarei com o meu suor. Nesse tal lugar onde vou parar eu sei que pra minha vida vai ser bem melhor.

    Dizem que a msica a linguagem universal. No sei se to-talmente verdade; agora o que eu sei que com ela se pode expressar os desejos mais profundos do corao. Os apaixo-nados e os msticos poderiam confirmar esse pensamento.

    Disney, lder na arte de animao, usa as trilhas sonoras dos filmes para transmitir ideias, essncias ou valores com simplicidade e fine-za, o que produ efeito tanto nas crianas como nos adultos.

    Uma tima cano do ponto de vista vocacional seria Vencer distncias (Go to the distance), do filme Hrcu-les (1997), composio de Alan Menken interpreta-

    da na verso brasileira do filme por Marcus Menna.

    No filme, Hrcules procura a sua identidade enfrentando perigos; porm descobre que o

    maior perigo no descobrir sua prpria mis-so (vocao), aquela que d sentido pleno a

    sua existncia, pela qual veio ao mundo.

    A msica transmite esse desejo de alcanar uma meta de plenitude atravs do amor, a esperana e o trabalho persistente; trs caractersticas fun-damentais da ideia crist

    sobre vocao. A plenitude est em ser eu mesmo, isto , descobrir o ltimo porqu da minha existncia.

    Vencer distnciasHber Hermosillo (Chihuahua, Mxico, 1988), membro das JAR (Juventudes Agostinianas Recoletas) e de uma banda de msica catlica, prope uma cano vocacional.

    O servio e a alegria, os atrativos da Famlia Agostiniana Recoleta

    tas no vivem em Manaus, porm poderamos tentar encaminhar sua vocao para as Franciscanas locais. No, eu quero ser da Famlia Agostiniana Recoleta, respondeu.

    Na realidade amaznica, o peso da famlia muito grande na hora de tomar decises de futuro. Se as ex-pectativas da me ou dos familia-res no correspondem com a reali-dade, haver problemas. Tambm um desafio a idade dos candidatos, cada vez mais velhos, levando em conta que a vida religiosa requer certas exigncias: vida comunit-ria, no dispor de bens privados, sentido de obedincia, exigncias nem um pouco fceis depois de vrios anos vivendo de forma in-dependente.

    A animao vocacional leva em conta toda a Famlia Agostiniano-Recoleta: freis, contemplativas, missionrias, fraternidade secular, jovens. No caso das mulheres, con-tamos com uma situao desfavo-rvel ao no ter perto de Manaus missionrias nem contemplativas.

    Acredito que a Famlia Agostinia-no-Recoleta e, de forma especial, a alegria daqueles que formam par-te dela, atraem; seu trabalho e tes-temunho chamam a ateno.

    Por outro lado, tudo o que fazemos est em sintonia com o Servio de Animao Vocacional da Igreja brasileira, com as orientaes dio-cesanas e da Conferncia dos Bis-pos do Brasil (CNBB).

    Eu gostaria, ao finalizar, pedir a to-dos uma orao para que o Senhor continue chamando a mais jovens a seu servio e para que todos e cada um dos membros da nossa Famlia sejamos fieis e perseve-rantes na nossa vocao, para que a possamos viver com intensidade e alegria de forma atraente.

    Alguns membros das JAR Manaus,

    AM.

    Diego Armando.

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    M eu nome Gema Maria e tenho 26 anos de idade; nasci em Kagera-Bukoba, na Tanznia. Quando tinha nove anos me mudei e passei a vi-

    ver com a minha tia na regio do Kilimanjaro, em Moshi, pois minha me ficou viuva com quatro filhos e cinco filhas.

    O cristianismo na Tanznia tem menos de dois sculos de existn-cia. Na minha regio a metade da populao mulumana, porm toda a minha famlia catlica. Eu participava cada domingo da missa, ingressei em confrarias, no grupo carismtico e outro de jovens...

    Quando eu tinha nove anos, uma jo-vem que a entrar em um mosteiro disse-me: Eu passei a amar a Jesus quando era ainda novinha, como voc. Essas palavras ficaram gravadas no meu corao. Desde esse dia desejei amar muito a Jesus.

    Dois anos depois fa-lei abertamente que queria ser religiosa, porm algum da minha famlia, com raiva, disse: as religiosas no so como voc . Aquele desejo de criana sumiu.

    Anos depois, certo sbado, o meu proco, Apolinar Kiondo, me per-guntou se eu queria ser religiosa. Tentei enrolar, porm ele insistiu dizendo: mas, o que voc quer? Fi-quei na minha e fui embora angus-tiada e indignada pela pergunta.

    Passei todo o dia inquieta. Meu corao gritava que minha vo-cao era ser religiosa, mas fiquei

    O acompanhamento na vida contemplativaA vocao contemplativa um dos tesouros da Igreja e uma das formas de vida mais especiais e comprometidas que podemos encontrar. Uma das agostinianas recole-tas de clausura que a pouco tempo fez a profisso solene, Gema, nos fala sobre o processo do seu acompanhamento vocacional.

    triste porque estava cheia de vai-dade, queria mesmo era estudar uma faculdade, ter um trabalho, ajudar aos meus pais, enfim, ser uma pessoa importante.

    Para apagar aquele remordimento, ficava dizendo para mim mesma: Serei sim religiosa, mas agora no, e sim depois de ter um trabalho e aju-dar a meus pais, e claro aproveitar um pouco do mundo.

    Porm em um encontro carism-tico Deus foi fazendo com que eu entendesse a vaidade do mundo e o quanto est nele. Percebi o quan-to tudo passageiro e o quanto bom e doce Jesus; decidi aban-donar tudo e segui-lo sem voltar atrs, custasse o que custasse.

    de dezembro de 2012 cheguei ali como aspirante.

    Alm dos sacerdotes e dos grupos eclesiais, ajudaram-me a discer-nir minha vocao vrios textos bblicos e as biografias de mulhe-res contemplativas de referncia como Gema Galgani, Terezinha do Menino Jesus, Maria Fausti-na Kowalska, Gertrudis a Magna, Margarida Maria Alacoque e Ma-riana de So Jos.

    Alm do mais, minhas irms de comunidade so exemplo e apoio com a suas oraes. Compartilhar tudo me ajuda a crescer em tudo, sobretudo espiritualmente.

    difcil adaptar-se cultura e cos-tumes, mas, graas a Deus e ao conselho daqueles que tem me acompanhado, estou aqui. Aprendi espan-hol, msica, costurar e bordar, que o sus-tento do mosteiro.

    Estou muito feliz; eu posso dedicar mui-tas horas orao, a estar com Jesus. Eu sinto que Deus quer que eu permanea como contemplati-va, tenho um desejo continuo de intimi-

    dade com Ele, acompanhar-lhe no trabalho, descanso, recreio com as irms. Quero colaborar na re-parao das injurias que come-temos os seres humanos contra o corao de Jesus, que sofre.

    O carisma agostiniano recoleto plasma o ideal que sempre tive e um incentivo de vida: orao, tra-balho e convivncia, uma s alma e um s corao em Deus, intimida-de com Deus e com as irms com a misso ajudar a Igreja e a toda a humanidade com nossas pobres oraes e sacrifcios.

    O que aconteceu foi que como re-ligiosa missionria no encontrei satisfao, tinha pouco tempo de orao. Desta vez fui eu quem per-guntou ao padre Apolinar: o que voc acha, eu sirvo para a vida con-templativa?

    Na Tanznia no tinha mosteiros e apresentaram-me o padre Mateo Munishi, vigrio para religiosas da Diocese, que me falou das Agos-tinianas Recoletas de Vitigudino (Salamanca, Espanha).

    Comecei a preparar-me durante quase um ano, at que no dia 14

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    ESPECIAL

    No ms de outubro ser celebrado o Snodo Os jovens, a f e o discernimento vocacional. Com a cola-borao do agostiniano recoleto Enrique Eguiarte, ao longo de 2018 oferecemos algumas consideraes do pensamento de santo Agostinho sobre os jovens e os valores que lhes prope viver para ser felizes.

    Viver a vida com paixo Santo Agostinho fala aos jovens Declogo Agostiniano 2/5

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    3. No ao adormecimento e preguia existencial

    A preguia gera uma indeciso que impede que frutifiquem as boas qualidades e reconhecer os dons recebidos de Deus; propi-cia o pior de cada um e as tendn-cias mais inquietantes do corao. A indeciso dificulta o compromis-so e projetos nobres e exigentes.

    Na carta 234 Agostinho nos fala de um caso de um jovem, Leto; a preguia existencial e o adorme-cimento espiritual lhe impediam de regressar ao mosteiro, j que lhe amarrava o amor de sua me. Agostinho lhe aconselhava que aprendesse a amar a sua me como irm em Cristo e lhe diz mais:

    Se te tens por soldado de Cristo, no abandones o acampamento (...) Se te mantns na Palavra de Deus e com-bates sob as armas dessa mesma Pa-lavra, por nenhuma parte poders te embrenhar nas tentaes.

    Apelando a sua experincia, Agostinho afirma que o ser humano, especialmente os jovens, devem ser despertados do adormecimento espiritual pelas vozes harmoniosas do coro dos livros da Sagrada Escritura, que se converte numa trombeta que interrompe o sonho para se dirigir em direo a meta superior da vida eterna (cf. Contra Fausto 13, 18).

    Santo Agostinho diz que no te-mos tempo a perder; devemos li-vrar-nos da preguia e seguir o ca-minho de Cristo (Sermo Dolbeau 5,5); devemos evitar andar que nem errantes durante anos e anos, como aconteceu com ele mesmo.

    O jovem e todo aquele que cr deve cantar e caminhar, no deve

    amar a preguia nem o desleixo, nem cochilar numa horrenda inde-ciso:

    Canta como esto acostumados a cantar os viajantes: canta, porm, ca-minha; alivia com o canto o teu tra-balho, no ames a preguia: canta e caminha. O que significa caminha? Avana; avana em direo ao bem (Sermo 256, 3).

    Agostinho convida a viver a vida com paixo pelo bem, sempre numa atitude de busca e compro-metimento.

    cio, os quais manifestam uma for-te rivalidade. Agostinho intervm para repreend-los; porm no pde terminar de aconselhar pois de repente se v interrompido pe-las lgrimas que de forma inespe-rada brotam dos olhos de ambos jovens, corregidos na sua paixo alvoraada.

    Neste contexto o santo fala sobre sua prpria lembrana e escreve:

    No podes imaginar o quanto me desagradava na escola que aos jo-vens se lhes provocasse uma rivalida-

    de destrutora, no tendo em conta a utilidade e excelncia das artes, mas sim o amor a uma glria v, at chegar ao ponto que ns ficvamos en-

    vergonhados de recitar discursos alheios e receber

    com isso aplausos que vergonha! dos mesmos cujas composies so recitadas (A Ordem 1, 30).

    Porm o texto de Agostinho que apresenta de forma mais clara o que significa a rivalidade, o que significa os cimes, Explicao da Carta aos Glatas. Ao explicar a passagem de Gal 5, 19-21, comen-ta que a rivalidade est bem perto da inveja. No entanto, h uma di-ferena entre elas.

    Assim, na rivalidade, duas ou mais pessoas disputam por um mesmo bem, que um s deles pode obter; j a inveja tristeza por causa de um bem que a outra pessoa conse-guiu, considerada indigna daquele bem; mesmo que possivelmente quem sinta inveja, no tenha dese-jado aquele bem material caso no o tivesse visto nas mos de outra pessoa.

    Agostinho relata nas suas Confisses o seu processo de busca incansvel da verdade e como tinha cado debaixo das garras das suas prprias paixes, que o impediam de viver em liberdade. A partir dessa experincia dolorosa, j convertido, fala aos jovens e lhes convida a fugir da preguia existencial e a viver com simplicidade.

    4. Vida simples e amigvel

    No mundo que pela sorte temos que viver, a competitividade e a rivalidade esto valorizadas em todos os segmentos sociais, de tal forma que, nos levam a perder a capacidade de desfrutar do que fazemos, inclusive de perder o sen-tido, alm de gerar enfretamentos e invejas e acabar com amizades.

    Agostinho deixou uma pgina bem emotiva no livro A ordem: depois de uma forte discusso entre os jovens discpulos Licncio e Trig-

  • Versos para contemplarDireito gua e ao saneamento

    A extensa obra em verso do agostiniano reco-leto Jos Antonio Ciordia (Peralta, Navarra, Espanha, 1937) acaba de ser publicada no Mxico para a distribuio tanto neste pas como para os leitores de lngua hispana dos Estados Unidos, lugar onde trabalha h mui-tos anos ele, biblista, professor veterano de Sagrada Escritura de futuros sacerdotes e que hoje est dedicado de corpo e alma pastoral matrimonial, formao de leigos e ao servio paroquial de forma ampla.

    Encontramos versos de todos os tipos e de todas as pocas de sua vida, porm a maio-ria deles tm um ntido contexto bblico ou litrgico. So fruto de meditaes pes-soais do autor para os tempos fortes de Natal ou a Semana Santa; alguns, inclu-sive, elaborados durante os periodos no letivos que o autor passava aperfeioan-do a lngua alem e atendendo aos imi-grantes espanhis na Alemanha.

    Ciordia pretende que sua obra sirva, de for-

    ma especial para o bem espiritual do leitor: o seu

    convite est em que sua obra seja til para retiros,

    celebraes, meditao..., porm esclarece que nem tem

    mpeto literrio, nem se atreve a qualificar os versos de poemas; e

    sim mais bem de uma obra dedicada a compartilhar a sua contemplao

    dos principais mistrios da f.

    Contato: [email protected]

    Os habitantes da Amaznia brasileira esto em um dos ecossistemas mais complexos e fr-geis do planeta. Com abundncia de chuva e enormes rios no significa que a populao ten-ha um bom acesso gua potvel. Somente 27% dos domiclios de Lbrea tm acesso gua po-tvel segura e suficiente, enquanto que s existe saneamento adequado em 3,5% dos lares.

    Os Agostinianos Recoletos j tinham realizado projetos de desenvolvimento de cunho educa-tivo, formao de lderes, sade preventiva, Meio Ambiente e ecologia integral, melhorias na alimen-tao, habitao. Porm agora mesmo, durante estes ltimos meses, buscam garantir o direito gua potvel e ao saneamento para as 103 famlias do bairro de casas comunitrias Terra Solidria.

    Atualmente se dispem poos, depsitos, encana-mentos, torneiras e banheiros em cada lar; alm do esgoto, fossas spticas e de decantao. Esto envolvidos os Agostinianos Recoletos, a Prelazia de Lbrea, a Universidade Politcnica de Madri (Espanha), a Universidade Estadual do Amazo-nas (UEA) e o InstitutoFederal do Amazonas (IFAM) na parte tcnica e de formao dos beneficarios; e como financiadores insti-tuies da Espanha como o Parlamento de Andaluzia, a Deputao de Cdiz, A Entida-de intermunicipal de Montejurra e Prefei-turas de Castela e Leo (Valladolid, La-guna do Douro), Andaluzia (Chiclana da Fronteira, Torreperogil) e Nava-rra (Irurtzun, Asoain, Noain, Cen-dea de Olza). Muito obrigado!

    Contagem regressiva para a unioSegunda-feira, 14 de maio: data em que dar incio em Marcilla, Espanha (foto), o 127 Captulo da Provncia de So Nicolau de To-lentino da Ordem dos Agostinia-nos Recoletos; e ser o primeiro Captulo no qual estar os repre-sentantes da Provncia de Santo Agostinho, com suas comunida-des distribudas nos Estados Uni-dos, que a partir desta data, estar unida Provncia de So Nicolau de Tolentino numa s provncia.

    J conhecido o nome dos religio-sos eleitos como representantes dos demais religiosos das diferen-tes zonas geogrficas; tambm se

    conhece o nome de quem presidir a prxima equipe de Governo; se sabe at uma primeira proposta, bastante detalhada, de um Projeto de Vida e Misso.

    O Captulo Provincial o organis-mo de Governo mais importante de uma Provncia religiosa, com funes legisla-tivas e executivas; das suas determi-naes saem as de-cises e projetos aos quais se sujeitam os religiosos, comuni-dades, Delegaes,

    Vicariatos e at o prior provincial com seu Conselho. A comunho e o fortalecimento da nova Provn-cia sero cruciais nos prximos trs anos.