A DANÇA CIGANA COMO PRÁTICA ARTÍSTICA E PEDAGÓGICA · pesquisadora admirar e respeitar bastante...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE ARTES CURSO DE LICENCIATURA EM DANÇA SIMONE BRILHANTE MAIA A DANÇA CIGANA COMO PRÁTICA ARTÍSTICA E PEDAGÓGICA Natal/RN 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES

CURSO DE LICENCIATURA EM DANÇA

SIMONE BRILHANTE MAIA

A DANÇA CIGANA COMO PRÁTICA ARTÍSTICA E

PEDAGÓGICA

Natal/RN

2013

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SIMONE BRILHANTE MAIA

A DANÇA CIGANA COMO PRÁTICA ARTÍSTICA E

PEDAGÓGICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciada em Dança.

Orientador: Profº Dr. Marcilio de Souza Vieira

Natal/RN

2013

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SIMONE BRILHANTE MAIA

A DANÇA CIGANA COMO PRÁTICA ARTÍSTICA E

PEDAGÓGICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciada em Dança.

_____________________________________________________________

Dr. Marcilio de Souza Vieira (Orientador)

______________________________________________________________ Prof. Dra. Evanir de Oliveira Pinheiro

(Membro interno)

______________________________________________________________ Prof. Dr. Robson Carlos Haderchpek

(Membro interno)

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Aos ciganos, roms, gitanos, gypsys,

peregrinos do tempo, que me inspiraram a

realizar este e outros belos trabalhos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos Professores desta instituição, que fizeram a diferença e a

clareza de conhecimentos adquiridos no decorrer do curso.

À minha família, que sempre me apoia, especialmente à minha mãe

querida, Lúcia Brilhante Maia, o meu porto seguro, com seu incentivo e

vibrações positivas para todos os projetos que realizo.

À minha irmã Karla Maia (In memorian), responsável pela minha

inserção ao mundo da dança, ela que com toda sua paciência e

profissionalismo, me ensinou com dedicação a sua arte, assim como formou

diversos dançarinos nesta capital, em com destaque à dança cigana.

Ao meu amado pai, João Miranda (In memorian), o mestre da minha

vida.

À minha amiga/irmã Marilda Cunha, que sempre compartilha comigo os

mesmos ideais na dança, e principalmente neste curso, foi fundamental, pois

me convidou a matricular-me; nos desânimos, uma sempre apoiava a outra a

seguir adiante, e nas vitórias juntas comemoramos.

Aos idealizadores do Curso de Licenciatura em Dança, Karenine

Porpino, Larissa Kelly, Teodora Alves e Edson Claro (in memorian), que

lutaram bravamente para que este fosse concretizado e se tornasse uma

realidade.

À professora Lara Machado, grande mestra, que abriu mentes de muitos

alunos interessados que isto acontecesse em suas vidas e foi minha principal

fonte de inspiração para vários trabalhos, com suas palavras sábias e

principalmente sua maneira pedagógica de passar seus conhecimentos,

formando pessoas melhores.

Ao meu orientador professor Marcilio Vieira, com a sabedoria das suas

orientações, paciência e discernimento passados a esta discente, me ajudou a

concretizar este trabalho tão sonhado.

A Deus Pai de todas as criaturas, que me guia e me inspira para que

tudo saia de acordo ao melhor caminho.

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RESUMO

Investigar sobre a cultura cigana é contribuir na difusão da memória de um povo rico em história, mistério e arte. No trabalho ora apresentado, enfatizamos como tema principal a dança cigana, ou melhor, as danças ciganas, pois quando dizemos no plural “danças ciganas” é porque, na realidade existe uma divisão no que equivocadamente se convencionou chamar apenas “dança cigana”. Tal dança e sua história pode trazer contribuições para estarmos pensando a dança como educação para além dos espaços formais de ensino e para além das danças pesquisadas no mundo acadêmico, a saber: ballet clássico, dança moderna, dança contemporânea, danças populares do Brasil. Pensar essa dança nesse espaço acadêmico também nos faz refletir em seu estado da arte, em quem a pesquisa e quais as contribuições da dança cigana para o espaço acadêmico como fonte de pesquisa. O trabalho se propõe analisar a Dança Cigana como prática artística e pedagógica nos ensinos: formal e não formal, bem como refletir sobre essa dança e sua tradição, nas academias ou escolas de dança que a praticam. Desse modo buscamos um distanciamento do método tradicional do ensino de tal dança, que geralmente é ministrado através do método de espelho, propondo conduzir e impregnar de sentidos o bailado, a fim de criar significados a partir da cultura cigana, traçando múltiplas relações entre o dançarino e suas existências sociopolítico-culturais. A abordagem metodológica utilizada neste trabalho é de natureza descritiva, que descreve como fatos que são observados, registrados, analisados, classificados e interpretados. A pesquisa se justifica pelo fato desta pesquisadora admirar e respeitar bastante a cultura cigana, e o ritmo da sua dança, principalmente a Cigana Espanhola; por ter vasto conhecimento da prática e do ensino dessa dança; por sentir a falta de material bibliográfico acadêmico sobre esta cultura.

Palavras-Chave: Dança Cigana. Aprendizagem. Educação.

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RESUMEN

Investigar a respecto de la cultura gitana, es contribuir a la difusión de la memoria de un pueblo rico en historia, misterio y arte. En este trabajo ora presentado, enfatizamos como el tema principal la danza gitana, o mejor, las danzas gitanas, pués cuando decimos en plural “danzas gitanas” es porque, en la realidade existe una división por lo que equivocadamente si convencionó a llamar apenas “danza gitana”. Tal danza y su historia, se pueden traer contribuciones para estarmos pensando la danza como educación para más allá de los espacios formales del ensino y para más allá de las danzas encuestadas em el mundo acadêmico, a saber: el ballet clasico, la danza moderna, la danza contemporánea, las danzas populares del Brazil. Piensar esa danza en este espacio académico también nos hace reflectir en su estado del arte en quién la búsqueda y cuales son las contribuiciones de la danza gitana para el espacio académico como el fuente de búsqueda. El trabajo tiene la intención de analizar la danza gitana como practica artística y pedagogica en la educación formal y no formal, así como piensar a respecto de esta danza y sus tradicciones, en las académias o escuelas de danza que las practican. De esta manera, buscamos una manera distanciada del método tradiccional de ensino de tal danza, que en general es ministrado a través del cristal, propondo conducir y impregnar el bailado de los sentidos, con la finalidad de criación de significáncias a partir de la cultura gitana y trazando multiples relaciones por entre el bailarín y sus existéncias sociopolítico y culturales. La abordagen metodologica utilizada en este trabajo es de naturaleza descritiva, que describe como factos que son observados, grabados, analizados, clasificados y interpretados. La pesquisa si justifica por lo facto de esta pesquisadora admirar y respectar bastante la cultura gitana, y el ritmo de su danza, en principal, la Gitana Española; por tener amplio conocimiento de la practica y del ensino de esa danza; por sentir la falta de materiales de bibliografía académica sobre esta cultura.

Palavras-Llave: Danza gitana. Aprendizaje. Educación

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

OBJETIVOS 10

METODOLOGIA 11

JUSTIFICATIVA 11

A DANÇA CIGANA: ABORDAGEM HISTÓRICA, TÉCNICA/

ESTÉTICA.

13

PARA SE PENSAR A DANÇA CIGANA NA EDUCAÇÃO 20

PROPOSTA PEDAGÓGICA E ARTÍSTICA DA DANÇA CIGANA 22

CONSIDERAÇÕES FINAIS 34

REFERÊNCIAS 37

ANEXOS 38

Créditos das imagens 39

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SER CIGANO

Ser Cigano é respeitar a liberdade, a natureza e acima de tudo a vida

É viver e deixar viver É ter a lucidez de saber esperar É não esgotar todos os recursos

É preferir morrer com honra, do que viver desonrado É ter como lema ser feliz

É agradecer as pequeninas coisas da vida É dignificar seus velhos

É glorificar suas crianças É respeitar os povos e as coisas que se desconhece

É nunca contestar a Justiça Divina É acima de tudo amar e respeitar Deus e Seu filho

Jesus Cristo, nosso grande Mensageiro.

Rorarni / Mirian Stanescon Investigar sobre a cultura cigana é contribuir na difusão da memória de

um povo rico em história, mistério e arte. No trabalho ora apresentado,

enfatizamos como tema principal a dança cigana, ou melhor, as danças

ciganas, pois quando dizemos no plural “danças ciganas” é porque, na

realidade existe uma divisão no que equivocadamente se convencionou

chamar apenas “dança cigana”, que elencaremos mais a seguir.

Esta arte milenar, não tem uma origem definida, pois que os ciganos

antepassados, tinham como costume o nomadismo, como alguns

contemporâneos. Mesclam nesta dança ritmos, passos, coreografias,

movimentos passados de pais para filhos, e figurinos de cada local ou país que

as executa, podendo-se dizer assim, que é uma dança plural. Porém os ritmos

mais difundidos foram o Flamenco, que tem origem cigana, na Espanha; ritmos

latinos como a salsa, o merengue, a rumba e ritmos mais clássicos como os

Húngaros, Russos e Italianos, e também os do Oriente Médio e Egito.

Segundo o dicionário Aurélio, designa o Cigano como:

CIGANO. [Do Grego Bizantino Athinganos, pelo fr. Tzigane ou

Tsigane.] S.m. 1. Indivíduo de um povo nômade, provavelmente

originário da Índia e emigrado em grande parte para a Europa

Central, de onde se disseminou, povo esse que tem um código

ético próprio e se dedica à música, vive de artesanato, de ler a

sorte, barganhar cavalos, etc. [Designam-se a si próprios Rom,

quando originários dos Balcãs, e Manuche, quando da Europa

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central.] Sin.: boêmio, gitano, calon (bras) (HOLANDA, 1999, p.

470).

Há historiadores que supõem a origem dos Ciganos, como sendo na

Babilônia, ou ainda, outra hipótese, que haveriam surgido antes de Cristo, mais

precisamente na Pérsia, subdividindo-se em dois grupos, uns partindo em

direção à Ásia e Egito, outros seguindo para Europa, onde tiveram presença

marcante na Hungria, Romênia, Rússia e Espanha. A denominação “cigano” é

a mais difundida, porém eles preferem se autodenominar de Rom, que é o

nome designado pelas Nações Unidas. Citamos diversas outras denominações

mundiais na tabela em anexo. (anexo 1) (FERNANDES, 2010, p.22)

O fundador e primeiro presidente da Sociedade de Cultura Cigana,

Charles Godfrey Leland (1824-1903), poeta erudito e literato americano, afirma

que:

A história dos ciganos têm origem com os audaciosos cavaleiros da tribo dos Jãts, raça Ariana que foi banida durante o curso das guerras religiosas, que varreram a Índia com especial ferocidade entre os séculos X e XII. Expulsos, migraram via Pérsia e Egito para a Europa Setentrional e Ilhas Britânicas há mais de 1.000 anos. Atravessaram a África, penetraram na Espanha e finalmente se estabeleceram em todo o mundo ocidental, inclusive nos Estados Unidos, América do Sul e Austrália (LELAND, 1996, p.10).

Imagem 1 – Rota migratória dos ciganos, da India para Oriente, Ásia e América. A seta preta corresponde ao grupo ROM, seta vermelha ao grupo Sinti ou Manouch, e a verde ao grupo Calon. Disponível em: http://lusophia.wordpress.com/page/8/

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No Brasil, comemora-se o “Dia Nacional do Cigano”, no dia 24 de Maio.

Em 23 de Maio de 2006, o Presidente Luiz Inácio Lula Da Silva, assinou o

Decreto instituindo oficialmente esta data comemorativa, como homenagem a

Santa Sara Kali, a Padroeira dos ciganos, já que nessa data, festeja-se

também o seu dia. Os ciganos chamados “brasileiros” se dividem em dois

grupos: Calon (existem em todo o mundo, desde a Rússia à Argentina) e

Kalderash (mais dispersos e têm origem extra-Ibérica).

Tal dança e sua história pode trazer contribuições para se pensar a

dança como educação para além dos espaços formais de ensino e para além

das danças mais pesquisadas no mundo acadêmico, a saber: ballet clássico,

dança moderna, dança contemporânea, danças populares do Brasil. Pensar

essa dança nesse espaço acadêmico também nos faz refletir em seu estado da

arte, em quem a pesquisa e quais as contribuições dessa dança cigana para o

espaço acadêmico como fonte de pesquisa.

Encontramos para esta pesquisa alguns trabalhos na internet que fazem

relação com a temática desenvolvida, tais como: a dissertação de mestrado

intitulada “Ensinando dança flamenca” defendida no Instituto de Artes da

UNICAMP, de autoria de Daniela LIBÂNEO (1999); Documento em DVD, de

autoria do Dr. Zarco FERNANDES1, o primeiro cigano jornalista, parapsicólogo

clínico, publicitário e psicólogo do Brasil, intitulado: “Ciganos... Tudo!” (2010); o

artigo de autoria de Frans MOONEN, intitulado: “Ciganos e ciganólogos:

estudar ciganos para quem e para quê?” (2012), que enfatiza a antropologia e

cita alguns trabalhos acadêmicos sobre ciganos; uma tese de doutorado,

defendida no Instituto de Artes da UNICAMP, de autoria de Regiane Aparecida

Rossi HILKER: “Ciganos, peregrinos do tempo: Ritual, cultura e tradição”

(2008), no entanto, não foi encontrado nenhum trabalho discorrendo sobre o

ensino da dança cigana. Isso demonstra que a pesquisa sobre a temática ainda

é insipiente nos espaços acadêmicos de ensino e por muitas vezes só

encontrada em sua manifestação artística em apresentações sazonais dos

ciganos ou ainda em festivais de dança que contemple essa dança.

1 Dr. Zarco Fernandes, é cigano Calon, parapsicólogo clínico, e primeiro cigano jornalista,

publicitário e psicólogo do Brasil; presidiu uma das ONGs mais atuantes do mundo na causa romá: o Centro De Cultura Cigana-MG, sediado em Juiz de Fora (MG). Autor do trabalho: Ciganos: TUDO! (2010), que contribui para uma maior divulgação das políticas pró-ciganas, das reivindicações ciganas e da cultura deste povo. Ministra cursos sobre a Cultura Cigana em todo o Brasil, inclusive na UFRN em 2010.

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O trabalho se propõe analisar a Dança Cigana como prática artística e

pedagógica no ensino formal e não formal, bem como refletir sobre essa dança

e sua tradição, nas academias ou escolas de dança que a praticam. Desse

modo buscamos um distanciamento do método tradicional do ensino de tal

dança, que geralmente é ministrado através do método de espelho, propondo

conduzir e impregnar de sentidos o bailado, a fim de criar significados a partir

da cultura cigana, traçando múltiplas relações entre o dançarino e suas

existências sociopolítico-culturais.

A abordagem metodológica utilizada neste trabalho é de natureza

descritiva, que segundo Rodrigues (2007) descreve como fatos que são

observados, registrados, analisados, classificados e interpretados.

Na pesquisa, além das experiências por mim vividas com a dança

cigana, executei aulas práticas na UFRN e na Escola Municipal Arnaldo

Monteiro Bezerra, com alunos de diferentes níveis: com e sem conhecimento

prático de danças diversas, para fundamentar experimentos que serviram de

embasamento prático para o desenvolvimento deste trabalho.

O presente trabalho se justifica pelo fato desta pesquisadora admirar e

respeitar bastante a cultura cigana, e o ritmo da sua dança, principalmente a

dança Cigana Espanhola; por ter vasto conhecimento da prática e do ensino

dessa dança; por sentirmos a falta de material bibliográfico acadêmico sobre

esta cultura; e, também por querermos desassociar a imagem do povo cigano a

vagabundos, bandidos e enganadores, já que, ao mesmo tempo em que os

criticam, também buscam o poder da magia da sua dança. Por existir poucos

estudos acadêmicos sobre a dança cigana; bem como contribuir como um

material bibliográfico para o curso de Licenciatura em Dança da UFRN

(Universidade Federal do Rio Grande do Norte), e para pessoas interessadas

na dança cigana.

A temática ora abordada tem antecedentes no meu fazer artístico e

educacional. Sou dançarina do ritmo cigano a mais de vinte anos, e durante a

Licenciatura em Dança desenvolvi trabalhos acadêmicos práticos e teóricos

que versavam sobre tal dança. Ministrei aulas e fazia parte do grupo de dança

do Stúdio de Dança Fama, que tinha como fundadora Karla Maia (1966-2010),

coreógrafa e bailarina (Imagem 2), um dos grandes nomes da dança do nosso

estado, especialista em vários ritmos, principalmente a dança cigana e o

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flamenco, precursora de tais ritmos em Natal, assim como a dança do ventre e

o tango. Através da citada coreógrafa, iniciei minhas atividades artísticas, Karla

foi minha incentivadora e de inúmeros outros dançarinos da cidade para o

universo da dança. Utilizávamos o método tradicional2 de ensino das danças

praticada pela maioria das academias de dança, se não em todas elas.

Imagem 2 - Acervo pessoal – Bailarina e Coreógrafa Karla Maia. Espetáculo na Festa Cigana no Clube América (2005)

Inserida na graduação citada, desenvolvi o “Workshop sobre a Cultura

Cigana”, para apresentação na CIENTEC 2012 (Semana da Ciência, Cultura e

Tecnologia da UFRN), e na Escola Municipal Arnaldo Monteiro Bezerra

(Conjunto Pirangi - Natal/RN), nas disciplinas de Estágio Supervisionado I, II e

III.

O Estágio Supervisionado IV, foi realizado na Academia de Dança

Evidance, onde idealizamos e foi posto em prática o projeto: “Corpo esperto,

Mente aberta”, que propunha através da formação profissional e experiência da

pesquisadora, ir além das observações sobre a prática da dança cigana e ao

ambiente das salas de aula, buscando abranger a instituição como um todo,

2 Método do espelho – O aluno reproduz os passos ensinados pelo professor.

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propondo parcerias culturais, jornal cultural, informativo, incentivo a pesquisa e

a formação de espectadores de espetáculos, a discussão, encontros

direcionados a vivências, work shops, vídeos, além de reuniões com o corpo de

professores para discutir metas e resultados de ensino dessa dança.

Nesta pesquisa, além dos aspectos históricos, técnicos/estéticos da

dança cigana, consideramos seus objetivos educacionais, pois entendemos

que estes transformam e são transformados no seio da comunidade cigana e

também pode lograr uma aprendizagem pela cultura para aqueles apreciadores

de tal dança.

A DANÇA CIGANA: ABORDAGEM HISTÓRICA, TÉCNICA/ ESTÉTICA

Para os ciganos, a dança é a mais pura expressão da força da vida, que

através dela, demonstra a sua forma de viver com liberdade, coesão familiar,

preservação da família e amor à natureza. Como as marcas tradicionais dos

povos ciganos, temos: aptidão para a música e dança, para as vendas,

tendência para o trabalho por conta própria, e em especial, o amor à natureza.

Tudo isso é simbolizado na sua bandeira (imagem 1).

Imagem 3 - Bandeira Cigana. Disponível em www.google.com.br

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Na bandeira que simboliza a tradição cigana pode-se ler:

O símbolo geométrico dos ciganos é o CÍRCULO RAIADO (12

raios), também adotado no pendão da Índia (“Ashok Chakra”) na

tonalidade marrom (meio avermelhado), no centro de duas

FAIXAS horizontais de tamanho igual. A parte superior em azul

representa o CÉU (teto dos ciganos); a inferior em verde

representa a TERRA (nossa pátria) e a RODA simboliza a

carroça (nosso nomadismo) que tanto girou pelas estradas da

vida, provando a não linearidade do tempo e do espaço. Esta

bandeira foi concebida em 1971, em Londres, durante o “I

Congresso Mundial Romani”, com delegados de catorze países.

Seu simbolismo geral é assim traduzido: o céu é o meu teto, a

terra é minha pátria e a liberdade a minha religião (FILHO, 2005,

p.137).

Por esta razão, crenças, costumes, cânticos e dança, utilizam o poder

dos elementos da natureza como o fogo, a terra, a água e o ar também na sua

dança, despertando distintos níveis de energias para cada elemento.

Na tradição cigana o elemento fogo representa a sensualidade,

demonstração viva do amor, da união, do calor humano e da harmonia, na

dança, é representado com movimentos de serpente, ondulatórios de quadril, e

também através das cores das roupas nos tons quentes (vermelho, laranja); o

elemento água lava e limpa as suas vidas e os livra de toda carga negativa e

interferência do comportamento; desbloqueia emoções, traz alegria e bem

estar, este elemento é representado esteticamente através dos véus; já o

elemento terra evoca a prosperidade, a renovação, a sobrevivência, a força e o

equilíbrio, faz-se representar pelas batidas dos pés e movimento de

representação de crescimento de uma árvore; e por fim, o elemento ar surge

como o sopro mágico da vida, das energias físicas e da saúde, e é

demonstrado na dança, através das ondulações das mãos (LYZ, 2000, p. 45)

(KALDERASH apud HILKER, 2000, p. 208).

Para os ciganos a dança é uma manifestação sublime de duveli (Deus),

através do corpo e da alma. É uma das formas de expressão da sua cultura

para o mundo, passada de pais para filhos. São utilizadas em níveis distintos

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como rituais, em casamentos ou em outros festejos, bem como para expressar

seus sentimentos alegres ou tristes. Machado aborda este tema argumentando

que:

Na concepção do trabalho, a “dança” é definida como meio de comunicação, arte, forma de expressão, ritual, e de muitas outras maneiras, caracterizada principalmente pelo significado que assume no interior da organização social dos diferentes grupos humanos. Como Forma de manifestação espontânea, ligada diretamente à cultura, é a mais antiga das artes; parte constitutiva do ser humano durante toda sua história, servindo como elemento de comunicação e afirmação, dando-lhe possibilidades de viver os símbolos de seu inconsciente por meio do próprio corpo, liberando emoções reprimidas, muitas vezes em função dos tabus culturais. A dança é encontrada em todas as civilizações, onde a emoção e o pensamento mágico não eram inibidos pela racionalização ou pela repressão dos instintos. Da necessidade de manifestar-se com a natureza e com o desconhecido, o homem chegou, então, à execução de seus rituais, e neles participa com seu corpo, seus sentidos e suas emoções. Ao pensar em um ritual, é possível imaginar um verdadeiro complexo de ações que sugere um mundo à parte, ou seja, que transporta o homem para outro “tempo”, um tempo mítico, imaginário, não palpável, que propõe uma comunicação com deuses ou ancestrais. (MACHADO, 2008, p. 05)

Esses povos foram perseguidos e descriminados durante gerações e

esta é a verdadeira causa do seu nomadismo, não é pelo simples fato de

admirarem a liberdade, mas sim por serem impedidos de fixarem raízes. Porém

hoje, dos 20.000.000 ciganos no mundo, mais de 70% já possuem residência

fixa (denominados: sedentários), mas esse número não é preciso, visto que

muitos ciganos não são registrados, ou negam que são ciganos, devido ao

preconceito que sofrem ao informar sua origem. Durante a 2a Guerra Mundial,

foram perseguidos pelos nazistas; nem todos lembram que os ciganos também

foram massacrados pela guerra, e que sofreram durante anos, por estas duras

penas, trazendo para si muito ódio e rancor. Estima-se por alguns

historiadores, que 500 mil ciganos foram assassinados neste período. Um dos

grandes pesquisadores da história cigana, Asséde Paiva (2000, p. 27) pontifica

que:

Falam do genocídio dos judeus. Indenizam-lhes. Alguém fala no genocídio dos ciganos? Imagine caro leitor ou leitora, um grupo perseguido por milênios, escorraçado de todos os países, periodicamente massacrado; ainda hoje o é. Será que

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psicologicamente os ciganos não teriam o direito de desenvolver algum mecanismo de defesa? E por que não aceitar como caso de pura e extrema necessidade os pequenos deslizes que cometem como o fruto da miséria e fome [...]

A situação dos povos ciganos, em sua grande maioria espalhados pelo

mundo, é precária. Eles vivem à margem da sociedade, descriminados,

renegados ao trabalho, terminam por vezes sendo obrigados a buscar formas

alternativas de vida, inclusive ao ponto de pedir esmolas. Por esta razão

também utilizam a sua arte, dança e canto como meio de sobrevivência,

demonstrando seus lamentos e sua cultura através dos seus corpos, música e

vestimenta, bem como lendo a sorte, por meio das cartas ou da leitura de mãos

(quiromancia). Em entrevista a mim concedida, a cigana Calin, Maura

Piemonte3, nômade, hoje residindo em Peruibe/SP, narra sobre a situação

atual dos ciganos brasileiros, e da luta da mesma, que é membro da comissão

nacional de povos e comunidades tradicionais:

Sou cigana calin do segmento calon, os que chegaram ao

Brasil em 1574 deportados de Portugal, mas nossos

antepassados eram da India. Nossa forma sustentável é bem

diferente dos rons somos um povo praticamente 90 por cento

analfabetos. Os rons chegaram ao Brasil quase 300 anos

depois, temos uma cultura diferente, dialeto diferente

necessidades diferentes, nós calons somos o povo que

estamos no Brasil há 449 anos e ainda somos excluídos de

tudo, saúde, educação [...] meu objetivo é que em cada

município que os calons cheguem, eles tenham um terreno

com condições humanas de sobrevivência e que tenham direito

a terra pois não somos nômades por opção, somos por

imposição de um governo que não nos aceita e de uma

sociedade que não nos conhece. (25/11/2013)

Os ciganos são divididos e subdivididos em muitos grupos, e que no

Brasil são chamados de clãs ou ranchos, o que acaba por separá-los, existindo

certa rivalidade entre grupos. O sedentarismo também modificou os hábitos

dos ciganos, podendo assim um grupo não apresentar todos os costumes e/ou

3 Membro da associação CEDRO - Centro de Estudos e Discussões Romani. E, sua filha

Bárbara Angely Piemonte ocupa uma cadeira no CNPIR- Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Social - biênio 2012/2014; e na CNPCT – Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, instituída pelo Decreto 6.040/07 (trabalho feito junto aos acampamentos ciganos).

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diferenças descritas universalmente pelos ciganólogos. FERNANDES (2010, p.

4) versa sobre o tema, quando afirma:

Esta tentativa errada de centrismo dos ciganólogos e dos próprios ciganos fez o sociólogo Acton falar até de “Romólogos”, que em lugar de analisarem as diferenças existentes entre os grupos ciganos, apresentam um modelo ideal como se os ciganos formassem uma totalidade homogênea. E sua conclusão é brilhante: “A grande falha” da literatura sobre os ciganos, oficial e acadêmica, é a supergeneralização; observadores têm sido levados a acreditar que práticas de grupos particulares são universais, com concomitante sugestão que [os membros de] qualquer grupo que não têm estas práticas não são “verdadeiros ciganos”.

Como se percebe, podemos inferir que a cultura cigana é uma cultura

como outra qualquer, apenas possuem tradições e costumes particulares,

como todos os povos têm. A única diferença, e mais fundamental característica

cigana, é de não possuir território delimitado reconhecido por outros povos; daí

serem considerados pela ONU como “nação sem território”. Eles, os ciganos,

consideram o mundo seu território e isso os faz terrivelmente intoleráveis pelo

resto da humanidade. Para os ciganos o espaço territorial tem apenas valor de

uso, não de troca (FERNANDES, 2010).

Em seus aspectos técnicos e estéticos, a dança cigana pode ser dividida

em danças festivas que são aquelas, como a própria palavra exprime,

executadas nos momentos de bródio4 (festas) tais como: aniversários,

casamentos, comemorações, nascimentos, etc., ou normalmente no dia-a-dia

das thieras (tendas, barracas); danças sagradas executadas nas slavas ou

prásniko (festas religiosas), em culto aos antepassados (polmana) em

agradecimento a Deus, a Jesus (Duveli Baron), a Sara Kalí etc. São os

chamados “lamentos” (skafhidiake); danças ritualísticas que são as que

exprimem em profundidade a tradição e a cultura dos ciganos. Por exemplo:

4 As palavras em itálico são escritas em Romanês ou Romani - Os Kalderash, erradamente

chamados “Rom” ou pior ainda ”Romá” (plural de rom) se concentram em São Paulo (maioria nos arredores de Campinas), Rio de Janeiro, Santa Catarina, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Começaram a chegar ao Brasil por volta de 1882, embora a maioria tenha vindo no período entre as duas guerras mundiais. Segundo estatísticas, já em 1959 eram 134 mil no Brasil. Falam a língua “Romanês” enquanto seus subgrupos falam dialetos bastante diferentes. São indiscutivelmente claros os seus vínculos culturais com o passado da Romênia (FERNANDES, 2010, p.82).

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dança do fogo, ritual da lua cheia (dança da transformação), dança dos punhais

(tchuri), iniciações etc.

Em entrevista a HILKER (2000, p. 182), o patriarca do clã cigano

Kalderash, Angelin Kalderash, lhe responde o que é dança para os ciganos:

A dança? A dança do nosso povo é um grito. Um grito que ecoa

no tempo e no espaço. É arte, ritual e diversão. É uma das

principais formas de aproximação aos deuses. Demonstramos

nossa religiosidade por meio da dança. O cigano tem dificuldade

de exprimir seus pensamentos por palavras [...] A dança cigana

atravessou séculos entre a clandestinidade e as perseguições,

foi duramente combatida pela igreja católica e dizíamos que

alegrávamos os gadjôs (não ciganos), só assim permitiram que

disfarçássemos a realidade da dança. Essa é uma dança ritual,

mas os gadjôs que assistem, não sabem o significado [...]

Convém ressaltar, que as danças ciganas podem ser executadas de

maneira solitária (um “solo”, por exemplo), que possibilita maior poder de

improvisação ao dançarino; em par ou em grupo, que exige coreografias;

também de forma profissional ou amadora, festiva, sagrada ou ritualística. Em

qualquer forma de procedimento, os dançarinos, reunirão as qualidades

técnicas/estéticas, o preparo físico, a alma e o amor pela dança (FERNANDES,

2010, p. 111).

Podemos destacar o Flamenco, que é uma dança de origem cigana

Espanhola, é um ritmo derivado da mistura cultural dos povos, que surgiu por

volta de 1478, com a retomada cristã da Península Ibérica e com o advento do

Tribunal da Inquisição, quando judeus e ciganos vão buscar refúgio nas

montanhas e passam a conviver com os camponeses pobres, é que surgem os

primeiros elementos da cultura flamenca propriamente dita, como o cante

(canto), a guitarra e o baile (dança) (CALDEIRA, 2013). Em 16 de outubro de

2010, o Flamenco foi elevado a Patrimônio Imaterial Cultural da Humanidade,

pelo comitê intergovernamental da UNESCO (Organização das Nações Unidas

para a Ciência e a Cultura) reunido em Nairóbi. Segundo a espanhola

e andaluza Cristina Hoyos, uma das principais bailadoras desta arte,

coreógrafa e atriz, que teve atuação em quase todo o mundo, Flamenco é “uma

mescla maravilhosa de todas as culturas que passaram pela Andaluzia que nos

deixou suas marcas e que aqui se hão dado forma. A mistura é sempre boa e

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tudo o que há passado por esta terra se há criado algo maravilhoso chamado

Flamenco.” (ROCHA, 2012, p. 5)

Imagem 4 – Acervo pessoal – Dança Flamenca na Escola Mun. Arnaldo Monteiro, no Estágio Supervisionado I – 2011. Marilda Cunha e Simone Brilhante.

Os elementos/objetos são utilizados na maioria dos estilos das danças

ciganas, tendo cada um deles, um significado distinto, pois são implementos

ritualísticos, tais como: mãos, echarpes e xales (elemento ar); pés descalços

(elemento terra, ao tocar os pés no chão, recebe-se a energia que é a força

fundamental); bem como: leques, pandeiros, castanholas, flores, punhais, etc.

Os movimentos corporais são plenos em ombros, mãos, cabeça e pés,

mantendo sempre uma postura ereta, e ênfase no olhar, que representa

profundamente a intenção do sentimento que se deseja expressar, que pode

ser alegre, triste, sensual, dissimulado ou lamento.

Em geral, a dança cigana é bailada com os pés descalços, para contrair

as forças da terra, assim como fazem algumas indianas. Alguns estilos usam o

sapateado como instrumento de percussão. Para isso são usados sapatos

apropriados para o sapateado, principalmente no bailado cigano espanhol.

Quando a cigana sapateia, significa que ela está lutando pelo que quer sem

medo.

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O bailado cigano para os homens faz despertar o lado protetor e ao

mesmo tempo primal. Emerge sua sensualidade e virilidade, causando um ar

de romance na dança de pares. Sua postura, coordenação motora e força são

evidenciadas com altivez.

A prática tem servido para muitos, como terapia e melhor qualidade de

vida ou como forma de liberação das emoções interiores, de dar vazão aos

sentimentos e às íntimas necessidades, revelando o caráter e certos

sentimentos (preguiça, timidez, depressão, desânimo...) dos praticantes, pois

como é uma dança de corpo, mente e alma, esses sentimentos deverão ser

trabalhados no decorrer do processo de cada um, através dos movimentos,

postura, respiração e conscientização corporal. Terá atingido o objetivo

proposto como terapia, quando o dançarino conseguir unir graça, energia e

força, juntamente com coordenação motora, postura, respiração correta e

equilíbrio. (LYZ, 2000, p. 58)

Contribui para o aumento da autoestima, pois desperta, do ponto de

vista psicológico e emocional, a alegria, força, altivez, sensualidade e beleza,

destravando energias negativas e as transformando em energias positivas.

PARA SE PENSAR A DANÇA CIGANA NA EDUCAÇÃO

Nesta reflexão, provenho das minhas experiências como dançarina e

coreógrafa da dança cigana e das minhas experiências obtidas em cursos,

aulas e trabalhos finais de algumas disciplinas do curso de Licenciatura em

Dança da UFRN.

Nessa experiência reflexiva e propositiva para se pensar a dança cigana

no campo da educação, parto da vivência dessa dança nos Estágios

Supervisionados, nas disciplinas de Composição Coreográfica e na elaboração

desse Trabalho de Conclusão de Curso para refletir sobre tal dança e suas

possibilidades de ensino na educação formal e não formal.

A mudança na forma de pensar a dança cigana, de uma maneira

diferente da que estava gravada no meu corpo de uma forma simplesmente

estética e técnica, surgiu em uma das disciplinas ministradas pela professora

Lara Machado, em que deveríamos trazer uma sugestão de algum tema para

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desenvolver uma composição coreográfica. A temática escolhida por mim foi a

ópera Carmen de Bizet, que tem como protagonista uma cigana.

A expectativa seria simplesmente elaborar uma coreografia com

compassos da dança cigana espanhola e executá-los com a música apropriada

para aquele bailado. Porém, no decorrer do processo de vivências percebemos

que não bastava apenas executar passos codificados, mas que se fazia

necessário repensar a forma de ensinar tal dança sem perder de vista alguns

de seus movimentos técnicos/estéticos e que pudéssemos, a partir das

vivências criar uma dança que não fosse apenas com movimentos codificados

e sem significado para o grupo.

Nessa experiência pudemos perceber que através de uma temática, que

elegemos: a loucura, podíamos criar sem necessariamente precisar copiar

movimentos de dança já codificados para a ópera citada.

A partir daí, seguiram as pesquisas de campo e elementos cênicos de

cada personagem para executar a prática vivencial e sentir no corpo o que

cada componente produzia e inseria na cena. Para concretizar a temática

estabelecida fomos a um hospital psiquiátrico da cidade, onde um dos

componentes do grupo trabalhava como psicólogo, para observarmos os

pacientes, seus movimentos e atitudes. Da experiência vivenciada tivemos

sentimentos diversos, e, ao final da visita, nos reunimos para que cada um

narrasse o que sentiu e o que mais lhe chamou a atenção.

Sentimentos de medo, horror, pena, vazio, resignação, vontade de

ajudar, indignação e até alegria foram postos na conversa e a partir destes,

iniciamos o processo de criação sem necessariamente repetir os movimentos

da obra Carmen. Pudemos dessa maneira, a partir das vivencias

experienciadas criar nossa própria Carmen (Imagem 5) sem perder a

gestualidade e beleza da dança cigana.

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.

Imagem 5 - Acervo pessoal – Composição coreográfica com a temática “Nas teias da Loucura” Teatrinho do DEART – UFRN – 2010

Essa prática proporcionou criar a cena da cigana e (re)construir os

movimentos técnicos. Observarmos como pode ser criado algo completamente

livre dos padrões comuns de uma coreografia simplesmente marcada, sem

algum sentido que não os simples passos técnicos, ao criá-las a partir de

vivências práticas, sentidas no nosso próprio corpo e retratá-las através dos

movimentos observados e executados nos laboratórios, dando margem à

criação.

Partindo desse experimento, pensamos que é possível praticar a dança

cigana para além de seus movimentos técnicos/estéticos e

descontextualizados para aqueles que aprendem tal dança.

PROPOSTA PEDAGÓGICA E ARTÍSTICA DA DANÇA CIGANA

Nesta proposição para as aulas dessa dança proponho que o aluno sinta

o ritmo, as sensações da música e dos gestos pré-elaborados com a técnica de

passos, tome consciência de postura e da conscientização corporal.

Essa conjectura foi concebida a partir das minhas experiências com a

dança cigana e busca o distanciamento do método tradicional de ensino que

sempre é ministrado através do método de espelho, praticado sempre como

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alguém que segue e alguém que deve ser seguido. Nessa educação bancária

como asseverada por Freire, o professor é sempre o transmissor das ideias e

na dança cigana, tal educação ainda é ensinada quando o professor ensina os

passos e os alunos vão o seguindo repetidamente, afim de que se aprenda a

técnica, e os passos fixem em suas mentes. Este é o processo utilizado no

ensino dos ritmos dessa dança, uma metodologia mais estanque,

centralizadora e separada, que trabalham apenas um dos aspectos da dança,

que é o movimento (MARQUES, 2010).

Aqui proponho que o aluno pratique tal dança sem o modelo tradicional

do tipo espelho, sugerindo movimentos, conduzindo o aluno a fim de impregnar

de sentidos o bailado, e a aprendizagem possa ser proposta a partir da

vivência deste com a dança, criando significados a partir da cultura cigana e

traçando múltiplas relações entre o dançarino e suas existências sociopolítico-

culturais. Nessa rede de configurações Marques (2010, p. 37) propõe que:

As redes de relações que formam a dança/arte são bem mais amplas do que os passos que constituem um repertório, o que não invalida, absolutamente, a importância desse aprendizado. Ou seja, aprender repertórios é muito importante, principalmente os culturais, mas se almejamos educar leitores de mundo, não podemos reduzir este aprendizado a cópias mecânicas.

E paralelo às vivências, ministro a técnica de passos codificados da

dança cigana, pois como se trata de uma dança de manifestação cultural, não

podemos deixar de lado o conceito estético deste povo, com a finalidade de

obter resultados distintos em cada aluno, visto que os corpos são diferentes e

não podemos cobrar de cada aluno a mesma forma de aprendizagem, com a

mesma intensidade, desenvoltura e rapidez em cada corpo, ao contrário, haja

vista que a dança cigana tem como objetivo inúmeras funções como: a terapia,

postura, relação corpo/alma, coordenação motora, exercício físico e intenção

de demonstração de sentimentos, então, se o aluno não conseguir alcançar o

nível do seu colega, poderá haver desestímulo, depressão, baixa autoestima,

sentimento de incapacidade, e por fim desistência da prática da dança.

Quando o artista cria algo que tem significado para ele e consegue fazer

com que a plateia reflita sobre a mensagem, a arte consegue ter muito mais

importância. O papel da arte é divertir e fazer refletir. Brecht diz:

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Tudo isto vem facilitar ao teatro, tanto quanto possível e estreita, com os estabelecimentos de ensino e de difusão. Pois, embora o teatro não deva ser importunado com toda a sorte de temas de ordem cultural que não lhe confiram um caráter recreativo, tem plena liberdade de se recrear com o ensino ou com a investigação. Faz com que as reproduções da sociedade sejam válidas e capazes de a influenciar, como autêntica diversão. Expõe às construtoras da sociedade as vivências dessa mesma sociedade, tanto passadas como atuais; mas fá-lo de forma que se possam tornar objetos de fruição os conhecimentos, os sentimentos e os impulsos que aqueles que dentre nós são os mais emotivos, os mais sábios e os mais ativos, extraem dos acontecimentos do dia-a-dia e do século. E nosso propósito recreá-los com a sabedoria que advém da solução dos problemas, com a ira em que se pode proveitosamente transformar a compaixão pelos oprimidos, com o respeito pelo amor de tudo o que é humano, ou seja, pelo filantrópico; em suma, com tudo aquilo que deleita o homem que produz. (BRECHT, 1978, p. 109)

Aqui quando falo em teatro, cabe outros fazeres artísticos, neste caso

especificamente a dança.

Partindo deste pensamento reflexivo, teorizo a cultura cigana, com fins

pedagógicos, para que o aluno ao fazer as aulas práticas, tenha também o

conhecimento daquela cultura e possa valorizá-la e dar sentido ao que está

vivenciando naquele momento.

Desenvolvemos um workshop sobre a cultura cigana, para realizá-lo na

CIENTEC – Semana de ciência e tecnologia da UFRN (2012), com alunos

entre 15 e 16 anos, bem como no estágio supervisionado II (2012), na Escola

Municipal Arnaldo Monteiro Bezerra, com alunos entre 8 a 13 anos, do 5º ano,

adaptando as linguagens para cada público distinto, com o objetivo de

abranger os conhecimentos dos alunos à cultura cigana, ir além do que o

censo comum compreende sobre esses povos, como saias rodadas e bijuterias

douradas.

Com atividades práticas e materiais teóricos, apresentamos slides

(Imagem 6) e mostramos aos alunos, figurinos e acessórios típicos da cultura

cigana, além da bebida típica cigana, que é a sangria, foi adaptada às crianças,

trocando a bebida alcoólica pelo leite condensado e refrigerante. Para o

aquecimento foi utilizada uma técnica proposta por Isabel Marques (2003), que

é o jogo do ritmo, de acordo com o que fazemos, com nosso estado de humor,

estado físico, a hora do dia dentre outros aspectos, pensando o caminhar

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quando estamos atrasados, com pressa, passeando, cansados, felizes, quando

acabamos de acordar ou quando entramos em uma sala sem querer ser

percebidos.

Para que os alunos pudessem entrar no ritmo em um jogo mais

interativo e lúdico, foi dada uma pequena explanação a respeito da atividade

inicial afim de que os mesmos entendessem que com aquele jogo, eles

estariam sentindo o corpo e percebendo a movimentação que poderiam

desenvolver mesmo que por vezes instintivamente, a dança está presente.

A sensibilidade para perceber as nuanças dos movimentos do cotidiano já é uma grande aliada para o trabalho de Dança na escola, no entanto, precisamos tomar cuidado para não achar que toda e qualquer reprodução das ações do dia-a-dia constituem Dança. Os movimentos são instrumentos para a criação, mas estes, se não acompanhadas de significados, tornam-se vazios. (MARQUES, 2003, p. 70)

Após o aquecimento lúdico, demos início aos movimentos onde todos

estavam posicionados em círculo com batidas nos pés utilizando linguagem

lúdica como o mata baratas5, movimento de mãos do pega a maçã e bota na

boca, limpar o fundo da panela para demonstrar o giro de mãos e dedos.

Depois de um tempo com estas movimentações os alunos foram

convidados a praticarem os movimentos em dupla, ressaltando a postura, a

personalidade cigana que é forte, olhar desconfiado e o sentimento que os

motivam a dançar, como agradar e agradecer a Deus (Duvelí) e a alegria de

viver.

Ressaltamos ainda, os benefícios trazidos pela prática da dança e a

importância da tolerância ao diferente e a existência de pontos positivos de

todas as culturas e ainda a possibilidade de uma cultura poder se utilizar de

atividades de outras culturas para se beneficiar ou interagir com outras

realidades. Intercalamos imagens, discussões, vídeos e dança praticada, tanto

em grupo como em duplas. Estas atividades proporcionaram a expressão

corporal e defesa de pontos de vista (poder de argumentação). Também

proporcionaram a produção de texto, a leitura e a produção de material a partir

5 As palavras em itálico referem-se às expressões utilizadas pela professora Karla Maia (citada

na p. 11), para ensinar a técnica das danças: cigana e flamenca, de forma lúdica. Mata baratas, refere-se às batidas dos pés; pega a maçã e bota na boca e limpar o fundo da panela, remetem-se aos movimentos das mãos.

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da prática em conjunto com outras pessoas (outros alunos, familiares e escola),

a fim de gerar reflexão.

Imagem 6 – Acervo pessoal – Workshop de Cultura Cigana na CIENTEC 2012 – UFRN

Antes de iniciarmos o workshop, elaboramos um questionário (anexo 1)

e os catalogamos, para medir os conhecimentos dos alunos sobre a temática, e

foi exatamente como esperávamos, a respeito do preconceito e conhecimentos

básicos a respeito da cultura cigana. Em termos gerais, as respostas foram:

“são povos andarilhos, nômades, enganadores, dançarinos, mentem ao tentar

adivinhar a sorte, povos alegres, macumbeiros, usam roupas coloridas e

penduricalhos...” entre outras respostas, porém estas foram as mais citadas

repetidamente.

Esta é a imagem do povo cigano que o senso comum reconhece, o que,

aliás, é transmitida ao longo dos séculos. Sem conhecimento fundamentado,

pois na escola não se aprende a história dos ciganos, principalmente pelo fato

de possuírem uma cultura ágrafa, ou seja, é um povo com cultura e língua sem

registro escrito, poucos são alfabetizados e, a minoria das escolas admite que

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sejam matriculados. Este tipo de preconceito gera cidadãos a margem da

sociedade, sem direitos e consequentemente desprovidos de cumprirem

deveres.

Porém após as aulas, os alunos se mostraram receptivos a este novo

conhecimento da cultura cigana, mudando seus pensamentos e incutindo nas

suas reflexões que cada povo tem sua maneira de viver e assim

desmistificando preposições e os libertando de certos preconceitos, tanto em

relação à realidade dos ciganos, quanto a outras formas de preconceitos,

concluindo êxito no trabalho proposto.

Com as crianças da escola, (Imagem 7) houve participação da parte

prática de todos os alunos, que acompanharam com sucesso toda a vivência e

passos ensinados; a maioria dos alunos do workshop da CIENTEC

compunham o gênero masculino, que participaram das discussões e

acompanharam a palestra, mas não quiseram participar da parte prática, com

exceção de apenas um. Alegaram que dança não era coisa de homem, que

rebolar era coisa de mulher, entre outros comentários ignorantes à prática da

dança de uma forma geral. Isto nos faz refletir sobre como ainda existe nos

dias atuais, um grande preconceito da prática da dança para com os homens.

Imagem 7 - Acervo pessoal – turma da Escola Arnaldo Monteiro – alunos com as ministrantes do workshop cigano: Simone Brilhante Maia e Marilda Cunha Bezerra (2011).

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Quando contextualizamos os hábitos e tradições dos ciganos aos

alunos, concebemos elementos e possibilidades de criação. Por exemplo, ao

falarmos sobre suas crenças, magias e ritos, emergem daí milhares de

possibilidades criativas. Não somente com os aspectos da dança, técnicas e

estética, ou da vestimenta e música que envolve esta arte, mas outros

aspectos da cultura tão curiosos, ricos e fascinantes que permitem uma

infinidade de interpretações.

[...] A dança é um ir e vir de formas impregnadas de sentidos e

sentidos impregnados de formas que são recriados a cada momento de sua realização. Essa recriação é ao mesmo tempo única e coletiva, pois cada ser humano a recria a partir de suas próprias experiências estéticas, mas tais vivências só podem ser entendidas a partir da cultura que lhe dá sentido (PORPINO, 2006, p. 106).

Nessa contextualização da dança cigana apresento a imagem de Santa

Sara Kali (imagem 8) que é a padroeira dos ciganos. Existe uma lenda que

conta a sua história, que era uma cigana escrava que sobreviveu no mar por

conta da sua fé. Ela juntamente com Maria Madalena, Maria Jacobé, Maria

Salomé, José de Arimatéia e Trofino, foram atirados ao mar, numa barca sem

remos e sem previsões. Bastante desesperadas, começaram a rezar

implorando ajuda aos céus. Sara faz uma promessa, retirando seu diklô (lenço)

da cabeça, chama por Kristesko (Jesus Cristo) e se compromete que se todos

se conseguissem se salvar, ela seria escrava de Jesus, e nunca mais andaria

com a cabeça descoberta em sinal de respeito. Acontecendo um milagre, o

barco atravessa o oceano e aporta em Petit- Rhône, hoje chamada Saintes-

Maries-de-La-Mer, no Sul da França. Sara cumpriu a promessa até o final dos

seus dias. Crê-se por causa disto existir a tradição de toda mulher cigana

casada, usar um lenço. (LYZ, 2000, p. 25)

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Imagem 8 - Santa Sara Kali, padroeira dos Ciganos Disponível em www.google.com

Por isso fizemos uso de alguns elementos da cultura cigana para

desenvolver uma composição inspirada em algumas das crenças e tradições

ciganas, das quais Santa Sara Kali, e utilizamos uma oração em forma de

lamento na apresentação de dança. Esta composição foi realizada na UFRN,

nos laboratórios da disciplina composição coreográfica II, com

interdisciplinaridade em Encenação I, ambas ministradas pela mestra Lara

Machado. Também inspirados no ritual cigano de pós-morte, que é celebrada

tal qual uma festa, com incensos e comidas de preferência do falecido. Suas

vestes posteriormente são queimadas por serem consideradas marimé

(impuras), acreditam que o espírito do falecido permanece na terra, por sete

dias seguintes ao falecimento. Os espelhos devem ser cobertos. E os objetos

do morto não são mais aceitos e nem se deve mais pronunciar o nome dele.

Através de tais crenças, compomos uma apresentação encenada em um

acampamento cigano, representando a morte de uma das integrantes do grupo

e utilizamos elementos representando o fogo, acendendo velas e incensos,

utilizamos véus na dança e no cenário, queimamos os pertences da morta em

um recipiente de barro, festejamos a sua partida falamos palavras em Romani,

cobrimos o espelho do cenário, representamos ciganos de diferentes locais que

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surgiram em cada personagem no decorrer dos laboratórios, cada um com seu

estilo e memória corporal, surgindo assim uma experiência única para cada

componente e causando inúmeras possibilidades de criação inspiradas nas

crenças ciganas.

Outro experimento de aula prática, de minha autoria, fazendo uso deste

modelo metodológico de ensino da dança cigana, foi realizado com um grupo

de alunos da UFRN, tendo como objetivo, observar como seria o aprendizado

de alunos adultos, de ambos os gêneros, se iriam absorver os ensinamentos

teóricos e práticos, e se sua concepção sobre a dança mudaria, assim como

mudou comigo na prática.

Neste processo, além das músicas ciganas tradicionais, utilizei outros

tipos de música, como por exemplo, a xamânica, para começar a

desconstrução a partir da audição.

A música6 é elemento fundamental para a formação do clima gitano. A

música cigana faz parte da cultura mundial, pois por onde os ciganos passam

absorvem um pouco da cultura regional mesclada com a sua. Para eles a

música é essencial nas suas vidas e é parte integrante do dia a dia e nas datas

festivas. Tudo o que necessitam para iniciá-la é uma voz e acompanhamento

rítmico, como palmas ou golpes dos pés no solo.

O flamenco, um estilo musical diferenciado da música de outras culturas

ocidentais europeias, que a princípio era praticado apenas nas gitaneiras

(acampamentos ciganos) de Andaluzia (Sul da Espanha); os Ciganos e outros

povos ajudaram a enriquecer a música flamenca. Os ciganos e os payos (não-

ciganos em Caló da Espanha, ou os “gajon”, no Calon do Brasil), foram os

primeiros artistas flamencos a se apresentarem em tabernas e albergues

andaluzes. Um dos nomes mais reconhecidos de dançarinos flamencos são os

ciganos Joaquín Cortés, espanhol, consagrado dançarino Flamenco

contemporâneo, e Cristina Hoyos.

6 Os instrumentos mais usados são o acordeon, o violino e violão, bem como os pandeiros e

castanholas. A Czardas provavelmente é a mais famosa. FERNANDES comenta que seria este o ritmo cantado pelos ciganos invocando Deus (Duvelí), inclusive no caminho para os campos de concentração. A música cigana árabe é bastante utilizada, a exemplo do grupo chamado Alabina que tem como vocalista a cantora Ishtar e também os músicos do grupo Los Niños de Sara, que mesclam a música árabe com a rumba flamenca. O estilo Gipsy Belly Dance é o de uma das ciganas mais famosas do mundo atual, que é a cantora Shakira. As rumbas espanholas gitanas também são muito utilizadas para o ensino da dança cigana.

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No Brasil, os ciganos exerceram influências musicais no samba e no

lundun. José de Alencar em “O Guarani” cita na 1ª parte - CENÁRIO: “Pouco

distante, sobre uma cômoda, via-se uma dessas guitarras que os ciganos

introduziram no Brasil quando expulsos de Portugal”. Muitos ciganos, inclusive

russos, imigraram para o Rio de Janeiro neste período, concentrando-se no

bairro do Catumbi. (FERNANDES, 2010, p. 116)

A aula proposta teve início com os alunos sentindo o ritmo da música, se

deixando levar pelo ritmo, afim de que seus corpos os conduzissem

deliberadamente, despertando os sentidos, liberando os movimentos soltos

enquanto os conduzia com batidas no chão, com os pés descalços, sentindo o

chão, com mãos levantadas e circulares, sempre andando pela sala.

A princípio seus corpos ainda travados não os liberavam das tensões,

após a segunda música, já se notavam as diferenças em suas movimentações.

Enquanto os conduzia, nos planos alto, médio e baixo, lhes indagando, como

era aquele corpo, olhar, maneira de mexer, percebia a diferença plena em

ondulações e gestuais que executavam naturalmente. Inserí elementos no

ambiente, tais como: xales, echarpes, leques e chapéus, que cada um elegia

para utilizar conjuntamente com os movimentos já executados.

A partir daí, surgiram arquétipos ciganos completamente distintos uns

dos outros, foi o ápice da aula; os alunos se soltaram completamente, se

libertando da timidez e liberando os sentidos, pois, enquanto se

movimentavam, sempre os conduzia no processo de consciência corporal,

respiração, expressão facial enfatizando o olhar firme nos olhos de cada

participante. Uma das alunas em depoimento ao término da aula disse:

“Senti que a intenção dos meus movimentos mudavam de acordo com a melodia e o ritmo de cada música. A cada vez que Simone mudava a música, a mesma me proporcionava intenções distintas, sendo assim, a criação de ciganas diferentes. Personagens estes, que na verdade estavam presos dentro de mim, e aquele exercício me dava uma sensação de liberdade.”

Para os ciganos, a natureza é seu mundo, e para fazer os alunos

sentirem o uso dos elementos da natureza, fogo, terra, água e ar, que é

utilizada na dança cigana, pois essa energia trabalhada com sabedoria,

desperta um caminho para a individualidade, possibilitando a concretização de

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objetivos pessoais (LYZ, 2000, p. 45), propus uma nova aula, com o objetivo de

obter fundamentos práticos da metodologia proposta no presente trabalho. Ao

ar livre, em uma praça pública no bairro de Ponta Negra, nesta cidade. Com os

pés descalços, na areia, pedimos que se esquecessem dos seus problemas

diários, e refletissem de olhos fechados, a fim de sentirem seu próprio eu, a

música da natureza, o vento e sons que captassem; tocassem seus corpos,

sentissem a pele, a textura, seu próprio cheiro.

Compartilhando com os elementos da natureza, sentindo o ar tocar na

pele, a terra com os pés descalços, e a água quando passava com pequenas

garrafinhas em gotículas em suas mãos estendidas. Não fizemos uso do fogo

para não haver nenhum acidente, porém poderia ter sido utilizada uma

fogueira, mas como se tratava de um experimento simples, deixaremos para

uma futura oportunidade. Esta experiência foi uma troca de saberes, uma

liberação de sentimentos que proporcionou aos alunos e a mim, um momento

único de descobertas que ao final serviu para harmonizar corpo e mente,

descobrir seus corpos e ter mais consciência deles e saber que a natureza

pode contribuir com novas descobertas que passam despercebidas nos

afazeres diários e não a valorizamos tanto quanto se deveria. Esta é uma das

maneiras ciganas de se viver.

Viver ciganamente é adotar um estilo de vida onde libertar-se dos bloqueios, preconceitos e preocupações mesquinhas é a regra. É acima de tudo um exercício de liberdade pessoal, de perda de sentimentos de posse pelas coisas e pessoas, porque de fato, não possuímos nada e nem ninguém, mas tão somente nossas almas. (LYZ, 2000, p. 33)

Um dos alunos declarou as impressões que sentiu no decorrer do

processo desta aula: “Eu trouxe os problemas pessoais para o jogo da dança;

sensação plena de liberdade e felicidade. É quase uma terapia ocupacional.”

Uma aluna que normalmente é bastante tímida nos surpreendeu com

seus movimentos, postura e olhar determinado, bem diferente do que ela é

cotidianamente, e declarou: “Me senti livre, feliz e com uma energia positiva

muito boa. Me senti mais mulher, sensual, atrevida e misteriosa. Foi uma

experiência maravilhosa.”

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Em outra aula, após o ensino da técnica de passos da dança cigana,

propus aos alunos um jogo baseado no livro de Yoshi Oida – (Cap. 5, p. 114) -

O espetáculo da bota: com sapatos espalhados pela sala, com a finalidade de

livre escolha e incorporação de uma personagem cigana, que mais se

identificassem com o tipo do sapato, a representando e dançando pela sala,

com outros estilos musicais, para desconstruir o ritmo cigano já trabalhado,

cada qual, tão logo elegia seu par de sapatos, imediatamente se transformava,

criando arquétipos ciganos distintos uns dos outros, causando distanciamento

dos seus problemas, de vícios de movimentações corporais e se libertando das

ações cotidianas impostas pela sociedade. Ao final caminhavam até o espelho

e olhando fixamente para sua imagem refletida no espelho, lhes dizia: “Fizestes

uma longa viagem, para chegar ao viajante” (ATTAR apud OIDA, 1999, p.130)

chegar até ali, precisou da ajuda dos outros, porém conseguiu observar dentro

de si mesmo, para conhecer-se melhor, dar mais valor a si mesmo, ver que foi

capaz, e pode chegar ainda mais longe. Objetivamos com isto, a utilização dos

sapatos na dança, ritmos, reflexão pessoal e autoestima. Uma fala de um dos

participantes demonstra exatamente o que propomos com este jogo:

“Sensação de liberdade, energia, contato consigo mesmo e com o outro. Me fez pensar que o personagem tem um corpo... sensação de fogo, de calor bom. Os movimentos foram prazerosos, com articulações e gestos que foram surgindo e me libertando com espontaneidade e sensualidade.”

Sempre aos términos de cada aula, tive o cuidado de manter as

reflexões com os alunos, para que falassem o que sentiram, trocando

experiências mútuas. A princípio sentiram dificuldades de se soltar, pois seus

corpos estavam travados ou estavam gravados com outros tipos de danças,

mas aos poucos foram se libertando e se deixando conduzir pelo processo.

“Nossos corpos, contemporâneos, são corpos de passagem, em constante

remodelação, na dependência de quem, como, onde e por que transitam

informações, sensações e questionamentos, conhecimentos, enfim.”

(MARQUES, 2010, p. 48). Ao longo do tempo, com as aulas técnicas dos

passos, os incluí nas vivências, integrando a técnica, com sua própria maneira

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de executá-los, mas os orientando para não haver descompromisso com a

produção artística proposta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao refletirmos sobre a cultura cigana, rica e vasta, com esta leitura da

dança mais ampliada, livres da educação estanque de uma ótica isolada de

simples repetições de passos, ao contrário disto, ensinando de uma maneira

que permita novas articulações e problemáticas, libertamos nossos alunos de

um pensamento estagnado e criamos mentes pensantes, que desenvolvem e

executam a dança ampliando seu olhar sob a arte como um todo, no papel que

esta desenvolve na sociedade, em quê a dança pode contribuir no caráter

deste ser sensível.

Libertar os alunos dos preconceitos atribuídos a outras artes que não a

do praticante, pois quando este começa a refletir sobre o processo criativo que

passou para chegar até ali, sobre a cultura, dança, hábitos e crenças de outros

povos, neste caso em particular da cultura cigana, passa a valorizar as

diferenças de raças, gostos, credos, cores, vestes, seres em si, passando a

conceber um diálogo crítico com o mundo.

Neste sentido, o professor de dança talvez seja – ou pelo menos deveria ser – o leitor mais especializado de dança/mundo: além de saber e querer ler a dança/arte criticamente, incorporando-a em suas várias faces interligadas, o professor tem como função pedagógica ensinar, abrir, construir, desconstruir, relacionar as leituras decorrentes dos diferentes papéis da dança às leituras que se desdobram e se multiplicam nos corpos de seus alunos. (MARQUES, 2010, p. 47)

Tais conclusões tornam-se evidentes, quando afirmo com propriedade

que estas transformações ocorreram na prática comigo, durante a minha

experiência acadêmica. Sempre fui artista, dançarina, coreógrafa e apreciadora

das artes, mas como o meu fazer artístico sempre foi voltado à estética e a

técnica pura e simplesmente, não tinha um olhar ampliado sobre outros fazeres

da dança, aliás, por vezes criticava outras danças que não possuíam a beleza

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estética que desenvolvia nas minhas composições. Porém ao mudar meu

pensamento sob a ótica a que propus neste artigo, também ampliei meus

horizontes em nível extenso, do fazer, sentir e viver a arte em sua plenitude, a

arte que expressa o mundo e o corpo de cada indivíduo diferentemente, os

saberes, encontrando sentidos que não havia como um todo até então.

A transformação é a metamorfose que o artista deve perceber a cada

novo experimento, é refazer ou recriar o que já existe, MARQUES (2010, p.

224) discorre sobre o assunto quando afirma: “Essa possibilidade é inerente

aos processos criativos da arte: criar é justamente a possibilidade de

(re)inventar processos, de (re)configurar estruturas, de (re)ordenar o já

conhecido, de (re)fazer e de (re)contextualizar situações.”

Esta pesquisa possui vasto material para amplos experimentos que

pretendemos dar continuidade a fim de abranger possibilidades distintas no

ensino da dança cigana para atingir objetivos educacionais, no ensino formal,

não formal ou acadêmico. E bem mais que isto, propiciar aos admiradores,

interessados e aos leigos, a divulgação da cultura cigana, a fim de gerar

conhecimento desta cultura conhecida superficialmente, servindo de meios

geradores de cidadãos pensantes e conscientes para a realidade social que

envolve os ciganos. Não se pode mais aceitar a situação sub-humana que a

grande maioria deles estão inseridas. Através da arte, podemos abrir os olhos

para a realidade. Maura Piemonte (2013), reclama: “Querem tirar de nós, a

única coisa que nos sobrou: a nossa identidade cultural”.

Portanto a proposta de análise da dança cigana como prática

pedagógica e artística no ensino formal ou não formal, bem como a reflexão

sobre essa dança e suas tradições, nas academias ou escolas de dança que a

praticam, é possível, através do distanciamento do método tradicional de

ensino, resignificando através do modelo proposto neste trabalho, conectando

o corpo à dança, impregnando de sentidos o bailado, a fim de criar significados

a partir da cultura cigana e traçando múltiplas relações entre o dançarino e

suas existências sociopolítico-culturais.

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Referências

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teatro. Rio de Janeiro, 1978.

CALDEIRA, Janaina. Cultura e História do Flamenco. Disponível em

http://www.salatabladoflamenco.com.br/pageview.php?COL=sala&id=73,

acessado em 29/09/13.

FERNANDES, Zarco. Ciganos... Tudo!. Juiz de Fora, 2009 - Curso sobre a

Cultura Cigana na UFRN, 2010.

FERREIRA, Aurélio B. De Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da

língua portuguesa. 3ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

FILHO, Nelson Pires. Ciganos: rom - um povo sem fronteiras. Madras, 2005.

HILKER, Regiane Aparecida Rossi. Ciganos, peregrinos do tempo: Ritual,

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Campinas/SP, 2008.

LELAND, Charles Godfrey, Magia Cigana - Encantamentos, Ervas Mágicas e

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LIBÂNEO, Daniela Leonardi. Ensinando Dança Flamenca. Dissertação

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LYZ, Sueli. A Magia da Dança Cigana. São Paulo: Berkana editora, 2000.

MACHADO, Lara Rodrigues. O jogo da construção poética: processo criativo

em dança. 2008. 151p. Tese de Doutorado. Instituto de Artes/Universidade

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MARQUES, Isabel A. Dançando na escola. São Paulo: Cortez, 2003.

MARQUES, Isabel A. Linguagem da dança: Arte e ensino São Paulo:

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MOONEN, Frans. Ciganos e ciganólogos: estudar ciganos para quem e para

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OIDA, Yoshi. Um ator errante. São Paulo: Beca Produções Culturais, 1999.

ROCHA, Andressa. O que é flamenco? Publicado por Flamenco Brasil,

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RODRIGUES, Willian Costa. Metodologia Científica. Paracambí. 2007

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ANEXOS

1 - Entrevista sobre os ciganos

1. Homem ( ) Mulher ( )

2. Idade: 10 a 20 ( ) 20 a 30 ( ) 30 a 40 ( ) 40 a 50 ( ) mais de

50 ( )

3. Escolaridade: sabe ler ( ) Não sabe ler ( ) 1º Grau incompleto ( )

1º grau completo ( ) 2º grau incompleto ( ) 2º grau completo ( )

Faculdade ( )

4. Você sabe o que é um cigano? Se sim, o que é e se não o que você

acha que é? (quem são?)

5. Já viu ou manteve contato com um cigano?

6. Sabe como um cigano se veste? Se sim, como é ou como você acha

que é?

7. Como é o lugar que os ciganos vivem?

8. Que costume dos ciganos você conhece?

9. Qual o tipo de trabalho os ciganos fazem? como ganham dinheiro?

10. Você já viu alguma coisa da dança cigana? Se sim, acha bonita a dança

cigana?

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Crédito das imagens

1 – Denominações dos ciganos em diversas regiões no mundo (FERNANDES,

2010, p. 9):

REGIÕES ou LÍNGUAS

FORMAS DE TRATAMENTO

ÁFRICA DO NORTE

(regiões arabizadas)

ERRANTE e FLAMENCO

ALEMANHA ZUGINER, TSINHIANE ou

ZIGAUNER

ÁRABE CALÉ, CALOM ou CHARAMI

BULGÁRIA

ACIGANIN, ACIGAN, CIGAN ou

CIGANINI

CATALUNHA BOMIANS ou GITANO

DINAMARCA ZINGARB ou ZINGANO

EGITO

AMER, NURI, NOVARY,

PHAGARI, ATZINGARI,

ATSINKANOS ou EGYPLENAR

ESLOVACO CIANO ou CIGAN

ESPANHA GITANOS

FRANÇA BOHÉMIENS, TSIGANES ou

GITANS

GREGO MEDIEVAL ATHINGARI, ATZINGARI ou

ATSINKANOS

GREGO MODERNO GIPTOI ou AIGYPTIAKI

HOLANDA ZINGARB ou ZINGANO

HÚNGIA

PHARRAO NEPEK, CIGAYOK ou

CZIGÁNI

ILHAS DO MAR ERGEU ACINGANI

ÍNDIA BANDJAR, NAT ou DJAT

INGLÊS GIPSYES, GYPSY ou GIPSY

IRÃ MAZNGUE

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ITÁLIA ZINGARI, ZINGANI ou ZÍNGARO

LATIM MEDIEVAL ACIGANOS, ÇINGARUS,

CÍNGERUS ou ZÍNGARUS

LATIM ERRONES

LITUANO CIGONAS

PAÍSES ESLAVOS TSIGANI

PÉRSIA ZANGHI ou ZANGUI

POLÔNIA CYGAN

PORTUGUÊS GITANO, ZÍNGARO, BOÊMIO,

CALON

ROMÊNIA TIGANI, TSIGANI ou TSINHIANÊ

RÚSSIA RÚSKA ROMÁ ou CYGAN

SÉRBIA CINGARIJE

SÍRIA TCHINGANE

SUÉCIA ZOTTS

TCHECO CIGÁN ou CIKAN

TURQUIA TSIGANI, BOMIANS ou

TCHINGIARE

UCRANIA CYHAN

VALACHIA ATSINGANI

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2 – Acervo pessoal - Entrega do diploma do Curso sobre a Cultura Cigana, na

UFRN, com o ministrante: Dr. Zarco Fernandes, o primeiro cigano jornalista,

parapsicólogo clínico, publicitário e psicólogo do Brasil. 2010.

3 – Maura Piemonte.

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4 – Acervo pessoal – III Seminário de Arte e Cultura da UFRN: “Arte para quem

e para que?”, com Isabel Marques. 2013.

5 - Acervo pessoal - Apresentação de dança cigana, com o grupo Stúdio de

Dança Fama. Festa Cigana no Centro de Convenções, Natal/RN. 2012.

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6 – Acervo pessoal - Primeira apresentação de Dança Cigana, com o grupo

Stúdio de Dança Fama. Centro de Convenções de Natal/RN. 1993;

Apresentação de dança cigana, representando as ciganas: Egípcia, Russa,

Espanhola e Árabe. Com o grupo Stúdio de Dança Fama Festa Cigana no

SESC, Natal/RN. 2004;

Apresentação de dança cigana, com o grupo Stúdio de Dança Fama. Festa

Cigana no Clube América, Natal/RN. 2005.

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6 – Uso dos elementos na dança cigana: espadas, castanholas e leques.

Acervo pessoal - Apresentação de dança cigana com espadas. Com o grupo

Stúdio de Dança Fama. Festa Cigana no Boulevard, Natal/RN. 2008;

Apresentação de dança cigana com castanholas. Com o grupo Stúdio de

Dança Fama. Festa Cigana no SESC, Natal/RN. 2003;

Apresentação de dança cigana com leques. Com o grupo Stúdio de Dança

Fama. Festa Mística na Barreira do Inferno, Natal/RN. 2000.

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7 – Dança cigana e Flamenca.

Simone Brilhante Maia e Arcirio Brilhante Maia. Foto para uma matéria de uma

revista, sobre os benefícios da Dança Cigana. 2001;

Acervo pessoal - Foto promocional para a turnê do Show Flamenco, do Stúdio

de Dança Fama. 2001;

Acervo pessoal - Apresentação de dança cigana com o elemento fogo. Com o

grupo Stúdio de Dança Fama. Festa Cigana no Boulevard, Natal/RN. 2008;

Apresentação de dança cigana, com o grupo Stúdio de Dança Fama. Festa

Cigana no Centro de Convenções, Natal/RN. 2012. Site Bob flash.