A DEFASAGEM DAS CIÊNCIAS SOCIAIS NO USO DE RECURSOS DE … · qualidade não teria os meios para...

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Portal Educativo de las Américas – Departamento de Desarrollo Humano, Educación y Cultura © OEAOAS ISSN 00131059 http://www.educoas.org/portal/laeducacion2010 1 A DEFASAGEM DAS CIÊNCIAS SOCIAIS NO USO DE RECURSOS DE INFORMÁTICA PARA O ENSINO E A PESQUISA NO BRASIL Ronaldo Baltar [email protected] A defasagem das ciências sociais no uso de recursos de informática para o ensino e Sociólogo, Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (1996), Supervisor do Sistema de Informações do Instituto Observatório Social (São Paulo) e Professor do Departamento de Ciências Sociais, Universidade Estadual de Londrina. Campus Universitário. Cláudia Siqueira Baltar [email protected] Demógrafa e Cientista Política, Doutora em Demografia pela Unicamp (2008). Pesquisadora do Núcleo de Estudos Populacionais – NEPO, Unicamp. Resumo O artigo aborda a defasagem das ciências sociais no Brasil em relação à utilização de recursos de informática para a pesquisa e o ensino médio e universitário. Constatase um crescimento contínuo nos últimos dez anos do acesso a computadores e Internet nos domicílios e escolas. Este crescimento pressiona as escolas e universidades a reverem os métodos educacionais e de pesquisas para incorporar novos recursos, fontes de dados e formas de comunicação. As ciências sociais no Brasil não incorporaram os avanços da informática dos anos 70 e 80 e tendem a abordar este debate sobre a forma de “métodos informacionais” versus “métodos sociológicos”. O artigo apresenta a proposta de recuperação desta defasagem através da disseminação e capacitação do uso de fontes e recursos analíticos de disseminação de dados disponíveis online em instituições como o IBGE , IPEA , GapMinder e SatPlanet, entre outros.

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A DEFASAGEM DAS CIÊNCIAS SOCIAIS NO USO DE RECURSOS DE INFORMÁTICA  PARA O ENSINO E A PESQUISA NO BRASIL 

 

 

 

Ronaldo Baltar [email protected]  A defasagem das ciências sociais no uso de recursos de informática para o ensino e Sociólogo, Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (1996), Supervisor do Sistema de Informações  do  Instituto  Observatório  Social  (São  Paulo)  e  Professor  do  Departamento  de Ciências Sociais, Universidade Estadual de Londrina. Campus Universitário.   Cláudia Siqueira Baltar [email protected]   Demógrafa e Cientista Política, Doutora em Demografia pela Unicamp  (2008). Pesquisadora do Núcleo de Estudos Populacionais – NEPO, Unicamp.   

 

Resumo  O artigo aborda a defasagem das ciências sociais no Brasil em relação à utilização de recursos de informática  para  a  pesquisa  e  o  ensino  médio  e  universitário.  Constata‐se  um  crescimento contínuo nos últimos dez anos do acesso a computadores e Internet nos domicílios e escolas. Este crescimento  pressiona  as  escolas  e  universidades  a  reverem  os  métodos  educacionais  e  de pesquisas para incorporar novos recursos, fontes de dados e formas de comunicação. As ciências sociais  no  Brasil  não  incorporaram  os  avanços  da  informática  dos  anos  70  e  80  e  tendem  a abordar este debate sobre a forma de “métodos informacionais” versus “métodos sociológicos”. O  artigo  apresenta  a  proposta  de  recuperação  desta  defasagem  através  da  disseminação  e capacitação do uso de fontes e recursos analíticos de disseminação de dados disponíveis online em instituições como o IBGE, IPEA, GapMinder e SatPlanet, entre outros.     

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O potencial do uso de informática para o ensino e à pesquisa em ciências sociais  Qual é o potencial que o uso da informática oferece ao ensino e à pesquisa em ciências sociais e das ciências humanas? Este texto pretende levantar alguns elementos para ajudar a responder a esta questão, baseado no resultado, ainda preliminar, projeto de ensino e pesquisa "Informática Aplicada ao Ensino e à Pesquisa em Ciências Sociais"1, com os seguintes objetivos:  

• explorar o potencial de  recursos de  informática para a pesquisa e o ensino em Ciências Sociais (sociologia computacional); 

• introduzir o uso software especificas para pesquisa quantitativa e qualitativa; • disseminar o uso da internet como fonte de dados para as Ciências Sociais; • capacitar estudantes para usar e desenvolver  recursos na  Internet como  ferramenta de 

auxílio ao ensino de Ciências Sociais.  

A  realização  de  um  projeto  como  este,  em  um  primeiro momento,  é  facilitada  pelo  uso  já bastante disseminado de recursos de informática entre pesquisadores, professores e estudantes de  ciências  sociais.  Diversos  programas  governamentais  têm  permitido  o  acesso  e  a “naturalização”  do  uso  da  informática  por  uma  parte  cada  vez maior da  população  brasileira, sobretudo entre a parcela com menos de 30 anos.  Segundo  dados  do  IBGE,  no  Censo  de  2000,  apenas  10,27%  dos  domicílios  brasileiros  tinham computadores2. No Censo de 1991, este quesito não fazia parte do questionário. Em um estudo complementar da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (PNAD) de 2005, sobre o uso de  Internet  e  posse  de  telefone  celular,  o  IBGE  constatou  que  21%  dos  brasileiros  haviam acessado a Internet nos três últimos meses anteriores à pesquisa. Destes, 50% acessaram de suas residências.  Outros  39,7%  acessaram  do  trabalho;  25,7%  usaram  a  Internet  da  escola;  10% acessaram  de  telecentros  gratuitos  e  21,9%  de  telecentros  (cyber‐café)  pagos.  Ainda  outros 31,1% não  identificaram o  local de acesso  3. Em 2009, segundo a PNAD do  IBGE, o número de domicílios com computadores no Brasil  já superava 34%, sendo 27,39% com acesso à  Internet, conforme o Gráfico 1. 

                                                            

1 Projeto realizado no Departamento de Ciências Sociais ‐ Centro de Letras e Ciências Humanas na Universidade Estadual de Londrina, coordenado pelo professor Ronaldo Baltar e com a colaboração da Profa Cláudia Siqueira Baltar. 2 Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Censo 2000. 3 Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2005. 

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Gráfico  1  Existência  de  microcomputador,  acesso  à  Internet,  Domicílios  particulares permanentes (Percentual) ‐ Brasil 

  Notas: 1 ‐ Até 2003, exclusive a população da área rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá; 2 ‐ A partir de 2007: a categoria Sem declaração não foi investigada. Fonte: IBGE ‐ Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios  Certamente  há  disparidades  e  desigualdades  no  acesso  à  informática  no  Brasil,  conforme apontam Sorj e Guedes (2005) ao ressaltarem que a qualidade, o custo e o tempo de acesso são indicadores de  inclusão digitais mais  importantes do que a existência ou não de computadores nos  domicílios.  Da  mesma  forma,  Mattos  e  Chagas  (2008)  argumentam  que  as  diferenças cognitivas também são  limitadores à  inclusão digital. Segundo os autores, mesmo com acesso à informação disponível nos meios digitais, parcela da população excluída do sistema de ensino de qualidade  não  teria  os meios  para  aproveitar  todo  o  potencial  da  “nova  era  de  informática”. Mesmo  levando‐se  em  consideração  estas  ressalvas  no  que  diz  respeito  à  interpretação  da “inclusão” digital no Brasil, o dado perceptível, é que o acesso à  informática vem aumentando. Entre 2000 e 2009 o número de domicílios  sem  computador  caiu de quase 90% para 65,31%. Estes números têm um impacto nítido nas Universidades Públicas brasileiras. 

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Gráfico  2  ‐ Domicílios  particulares  permanentes  (Percentual)  com Microcomputador  ‐  ‐  com acesso à Internet – por faixa de renda, Brasil 

  Notas: 1 ‐ Até 2003, exclusive a população da área rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá; 2 ‐ A partir de 2007: a categoria Sem declaração não foi investigada. Fonte: IBGE ‐ Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios  Conforme  se  pode  observar  no  Gráfico  2,  os  dados  da  PNAD  demonstram  o  crescimento  de domicílios  com  computador e  com acesso à  Internet, principalmente na  faixa de  renda até 10 salários mínimos. Estes números, como ressaltado acima, se não indicam que há um processo de inclusão  digital  dos  setores  sociais  tradicionalmente  excluídas  no  Brasil,  certamente  permite identificar  o  avanço  no  uso  de  computadores  entre  estudantes  universitários  (faixa  de  renda familiar de 10 ou mais salários mínimos) tem sido rápido nos últimos 10 anos. Estes números são reforçados  com  impressões do dia a dia das Universidades. Entre os  jovens  com menos de 25 anos,  não  é  raro  encontrar  quem  vê  o  computador  como  uma  extensão  “natural”  da  vida doméstica ou do trabalho, tal como água encanada,  luz elétrica e telefone. É comum o espanto quando ouvem relatos de professores ou colegas mais velhos que dizem ter crescido e estudado sem  computadores,  redigindo  textos em máquinas de datilografia e  trocando mensagens  com colegas de outras cidades por carta, com envelope e selo. Estes dados sugerem que mesmo entre jovens que estão no ensino médio, o acesso à informática tem crescido no Brasil.  De acordo com os dados da PNAD‐IBGE de 2005, entre os usuários com menos de 26 anos de idade, era expressivo o uso da Internet para atividades de ensino e aprendizagem. 

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Gráfico 3 – Usos da Internet por média de idade, Brasil ‐ 2005 

  Fonte: IBGE ‐ Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, suplemento 2005.  O uso de computadores e da Internet tem crescido e a sua utilização tem sido aproveitada para o ensino e a pesquisa acadêmica, sobretudo entre a população com menos de 27 anos  (onde se enquadram a maioria dos estudantes universitários).   Muitos  alunos,  desde  novos,  demonstram  ter  bastante  familiaridade  com  o  uso  de computadores. Mas esta desenvoltura com o uso de informática aparentemente esconde o fato de que normalmente as habilidades aprendidas por jovens no uso diário da informática, voltam‐se mais  para  o  entretenimento  e  relacionamento  pessoal:  emails,  jogos, música,  blogs,  fotos, vídeos, acesso às diferentes redes sociais ou simplesmente  leitura  (“navegação”) de páginas na Internet. A atividade de educação, embora seja utilizada com freqüência, conforme os dados da PNAD, ainda precisa ser discutida com mais eficiência, sobretudo nas ciências sociais.  Também boa parte dos professores − alguns com menos, outros com mais dificuldade – quando usam  a  informática  para  realizar  tarefas  além  do  entretenimento  pessoal,  não  usam  recursos muito diferentes do que  se utilizava há 30 anos. O computador  serve, em muitos casos, como máquina de escrever para redigir textos, para ler cartas e para ler notícias em jornais e revistas e para  realização  de  atividades  bancárias.  Segundo  estudo  de  Joly  e  Silveira  (2003),  sobre  a aplicação  educacional  da  tecnologia  da  informação,  embora  os  professores  reconheçam  a relevância  do  uso  de  recursos  de  informática  na  educação,  ainda  não  conseguem  utilizá‐los efetivamente.  Quando o computador entra em sala de aula, especialmente em cursos de ciências sociais (sejam universitários,  seja  no  ensino  fundamental  ou  ensino  médio),  normalmente  aparece  como substituto das enciclopédias. É a  fonte de consulta rápida, através das várias  fontes disponíveis 

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na Internet, para ilustrar os temas abordados nas aulas. O aluno recebe como atividade extra‐sala (“dever de  casa” no ensino  fundamental e médio; ou  “trabalho” na Universidade)  a  tarefa de “pesquisar” um assunto, tema ou período histórico. O aluno transcreve (ou simplesmente copia) o  conteúdo  (nas  universidades  a  cópia  é  repreendida  como  plágio, mas  no  ensino médio  é incentivada muitas vezes). Do mesmo modo se fazia décadas atrás, só que os alunos costumavam “pesquisar” o conteúdo das aulas nas enciclopédias impressas ou livros de referência.  Alguns professores adotam uma atitude “crítica”, condenam o uso da  informática e da  Internet como um “empobrecimento” da formação do aluno, seja na universidade seja no ensino médio e fundamental4. Outros vêem a facilidade de acesso ao conteúdo como uma  inovação e estímulo aos estudantes,  reforçada pelo  conceito de  “inteligência  coletiva”  (Levy: 1998, p.127). Comum também  é  a  suposição  de  que  a  informática  é  parte  da  formação  cultural  da  geração  de estudantes  que  entrou  em  sala  de  aula  após  a  década  de  90;  e,  assim  sendo,  é  o meio  de comunicação e de cognição ao qual escola e professores têm que se adaptar, sob o risco de não conseguirem  mais  transmitir  os  conteúdos  e  habilidades  previstas  nos  currículos  escolares (FERNANDES, 2004: 62).  Se  por  um  lado  é  discutível  o  uso  que  se  faz  da  Internet  e  da  informática  como  instrumento educacional, por outro é significativo o crescimento do número de computadores e de acesso a rede mundial  nos  domicílios  brasileiros.  Isso  coloca  em  questão,  sobretudo  para  as  ciências sociais, os usos e impactos que a tecnologia da informação pode trazer para o ensino e à pesquisa em sociologia, antropologia, ciência política e demais áreas correlatas.  Não  só nos domicílios e entre os usuários privados  têm  crescido o uso de  computadores e da Internet  na  última  década.  Resultado  de  vários  programas  de  estímulo  à modernização  dos instrumentos  de  ensino,  as  escolas  de  ensino  fundamental  e médio  no  Brasil  também  vem aumentando  a  disponibilidade  de  computadores  para  professores  e  alunos,  bem  como introduzindo o acesso à Internet nas escolas.  

 

4 Em 2007, por exemplo a Universidade Middlebury proibiu que os seus estudantes citassem a Wikipédia como fonte de consulta. A medida foi tomada após a constatação de um erro sobre história japonesa. Em entrevista ao jornal The New York Times, o fundador da Wikipédia, Jimmy Wales, concordou coma medida da Universidade, exemplificando que esta é a política da Wikipédia: não utilizar o conteúdo de enciclopédias (obra de referência, portanto sumária) para pesquisas aprofundadas sobre qualquer tema. O problema segundo Walles, não é a Wikipédia ou a Internet, mas o uso de enciclopédias (obras de referência) para a pesquisa escolar ou acadêmica. A mesma proibição deveria valer em todas as universidades e para todas as enciclopédias, tal como a Barsa ou a Britância, seja na versão digital ou impressa. Fonte: Wikipedia é banida como fonte escolar. Globo.com, 22/02/2007. Disponível em < http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,MUL6971‐6174,00‐WIKIPEDIA+E+BANIDA+COMO+FONTE+ESCOLAR.html>, Acessado em 24 jun. 2010. 

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Gráfico 4 ‐ Estabelecimentos do Ensino Fundamental com acesso à Microcomputador e Internet ‐ Brasil 

  Nota: 2006 ‐ número de escolas com acesso à Internet não disponível. Fonte: MEC/INEP, EDUDATABRASIL ‐ Sistema de Estatísticas Educacionais  Conforme se pode observar nos gráficos 3 e 4, de acordo com os dados do  INEP, o número de escolas do ensino  fundamental e ensino médio  com microcomputadores quase duplicou entre 1999  e  2006.  O  número  de  escolas  com  acesso  à  Internet  aumentou mais  ainda  no mesmo período. Segundo a PNAD‐IBGE de 20055, do total de pessoas que acessavam a Internet no Brasil, 71% utilizava este recurso como fonte de ensino. Entre os estudantes, 91% acessavam a Internet para realizar trabalhos escolares.   

                                                            

5 IBGE, Suplemento da Pesquisa Nacional Por Amostragem de Domicílio (PNAD), 2005. 

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Gráfico 5 ‐ Estabelecimentos do Ensino Médio com acesso à Microcomputador e Internet ‐ Brasil 

  Nota: 2006 ‐ número de escolas com acesso à Internet não disponível. Fonte: MEC/INEP, EDUDATABRASIL ‐ Sistema de Estatísticas Educacionais  O uso de  computadores e da  Internet ainda é  seletivo no Brasil  (o número médio de anos de estudo entre os usuários da Internet era de 10,7 anos) e ainda reflete as desigualdades sociais e regionais no país (a maior parte dos  internautas estava nas regiões Sul, Sudeste e Centro‐Oeste em 2005). Mesmo assim, pode‐se observar que o ritmo de crescimento do uso da informática nas escolas e nos domicílios brasileiros, ao  longo dos últimos 10 anos,  impõe desafios para o futuro da pesquisa e do ensino, sobretudo para as ciências sociais, que ainda está  iniciando a reflexão sobre  o  impacto  deste  processo  na  formação,  na  pesquisa  e  na  transmissão  de  conteúdos próprios no ensino médio e universitário.   O dilema metodológico sobre o uso de informática para a pesquisa e o ensino de ciências sociais  Não  há  ainda  um  conjunto  de  estudos  sistematizados  em  ciências  sociais  no  Brasil  sobre  o crescimento  da  tecnologia  da  informação  nas  escolas  e  nos  domicílios  do  país  e  a  formação acadêmica na área. Outras áreas, como a matemática, geografia,  língua portuguesa, psicologia, medicina, enfermagem, é mais comum encontrar artigos e projetos de pesquisas voltados para aprimoramento do uso de recursos de informática no ensino e na pesquisa.   Em  ciências  sociais,  o  desenvolvimento  de  ferramentas  de  informática,  chamadas  por  alguns pesquisadores  como  "metodologias  informacionais",  ainda  está  envolto  em  um  dilema metodológico, sobretudo para a sociologia. Esta questão se torna mais relevante na medida em 

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que o ensino de sociologia tem se disseminado ano a ano no Brasil em todos os estados (Moraes, 2003).  Discutir o uso de tecnologia da informação no ensino fundamental de ciências sociais requer uma reflexão sobre o uso de  ferramentas de  informática na pesquisa e na  formação universitária. A utilização do potencial que a  Internet e a  computação oferecem para as  ciências  sociais  torna necessário que os profissionais da área  incorporem este tipo de  instrumental entre os recursos analíticos necessários para interpretar e explicar os fenômenos sociais.   Contudo,  ainda  é  comum observar um misto de  espanto,  encatamento  e  temor nos  artigos  e apresentações sobre o uso de ferramentas de informática em sociologia. Muitos profissionais da área de ciências sociais demonstram ainda se impressionar com efeitos de apresentação de slide em datashow. Citam programas de computador (SPSS e NVivo são os mais comumente citados), como  se houvesse no  software alguma capacidade  intrínseca de  formulação de conhecimento, não como ferramenta. Temem o que desconhecem e por isso demonstram um receio ingênuo em relação  a  que  consideram  as  "novas  tecnologias"  ou  "novas  metodologias  informacionais" (SANTOS:2001)   O ritmo acelerado de expansão do uso de informática nas residências, empresas e escolas, exerce uma pressão para uma adaptação metodológica das ciências sociais. Ao mesmo tempo, emerge entre  boa  parte  dos  cientistas  sociais  uma  resistência,  baseada  no  receio  em  se  perder  a "essência" da sociologia. O sociólogo da Universidade de Campinas ‐ Unicamp, Thomas Dyewer, ilustra este dilema com o título de uma palestra publicada na Revista Sociologias (do programa de pós‐graduação em Sociologia da UFRGS): "As tecnologias da  informação: morte ou vida para as ciências humanas?" (DWYER, 2004).   Segundo o autor, as ciências humanas podem "morrer" de duas formas. Ao não se adaptarem ao "novo"  ‐ denominado de "novas metodologias  informacionais" – poderiam se  tornar obsoletas, defasadas. Por outro  lado, ao se subordinarem à  lógica dos "métodos  informacionais"  também poderiam  morrer  "por  deixarem  as  "tecnologias"  dominarem  a  disciplina  ‐  "dominar  a perspectiva que as pessoas têm sobre aquilo que elas devem fazer" (DYEWER, 2004).  O  alerta  é  importante, mas  reforça  uma  interpretação  que  tem  aumentado  a  defasagem  das ciências sociais em relação em relação a outras disciplinas, sobretudo no uso potencial de fontes de dados e técnicas de análise baseadas nos avanços da informática nas últimas décadas.   Este tipo de postura influencia não apenas a formação universitária e a pesquisa acadêmica, mas também  se  reflete  no  ensino  de  sociologia  no  ensino  fundamental  e  básico.  Sobretudo  pela disseminação  do  receio  de  uma  possível  dominação  da  disciplina  pelo  uso  de  "métodos quantitativos",  que  seriam  contrários  à  tradição  humanista  (crítica)  e  reflexiva  (filosófica)  das ciências sociais.  

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O  próprio  termo  "metodologias  informacionais",  cada  vez  de  uso mais  corrente,  reforça  este equívoco.  Implicitamente  supõe  que  os  usos  de  técnicas  de  informática  são  em  si  um  novo método,  um  novo  "campo  do  saber"  para  a  sociologia,  como  se  pode  observar  na  discussão elaborada por BAUMGARTEN e TEIXEIRA (2007)  Não  existem  "metodologias  informacionais",  o  que  existe  são  programas,  recursos  ou ferramentas de  informática que  se  aplicam  à pesquisa ou  ao ensino. Quando um pesquisador utiliza um programa como o SPSS ou R para avaliar um conjunto de dados, certamente utilizará estatísticas que  foram  criadas  a mais de  cinqüenta  anos  atrás. O programa não  cria um novo método matemático.  O  pesquisador  é  que  deve  fazê‐lo.  Da mesma  forma,  quando  em  uma pesquisa  qualitativa  se  recorre  ao  recurso  de  codificação,  cruzamento  e  recuperação  de categorias  (nós),  utilizando  um  programa  como  o  Nvivo,  estão  se  implementando  a mesma "técnica  da  caixa  de  sapatos  ‐  shoebox"  conhecida  por  cientistas  sociais  e  psicólogos  desde  a década de 40.  O método  independe do uso da  tecnologia. A  informática pode  tornar mais abrangentes, mais profundos,  mais  rápidos,  mais  eficientes  determinados  métodos.  Mas  não  irá  criá‐los.  Os pesquisadores  irão  criar os métodos e,  se para  tanto  tiverem  capacitação,  irão  codificá‐los em programas de computador.   Deve‐se ter claro também que o risco de deixar o método ou os conceitos genéricos e abstratos dominarem a pesquisa é o mesmo em abordagens qualitativas ou quantitativas, seja com ou sem o  uso  de  informática.  Diversas  dissertações  e  teses  que  tratam  de  análise  de  conteúdo,  por exemplo,  ocupam  mais  páginas  discutindo  a  supremacia  metodológica  de  determinadas abordagens do que efetivamente aplicando adequadamente o método escolhido ao  corpus da pesquisa.  Também  não  é  raro  encontrar  textos  em  ciências  sociais  que  se  detém  na  defesa teórica de determinado autor, mesmo quando em oposição clara à realidade a que se refere o estudo. Em ambos os casos, o problema de pesquisa, fica em segundo plano, a análise sociológica desaparece no meio da retórica ou da afirmação ideológica.   Este risco não é maior nem menor por se utilizar métodos quantitativos, qualitativos ou que se chama de "pesquisa teórica". Também não é maior em pesquisas que se utilizam de ferramentas de  informática  em  relação  às  que  não  utilizam  tais  ferramentas.  É  um  risco  inerente  a  uma sociologia despreparada e descomprometida em responder de forma científica os problemas que tem origem na realidade histórica, concreta.  As ciências sociais, e a sociologia em especial, certamente correm sério risco de obsolescência. Mas este risco não se refere aos tipos de instrumentos utilizados para a pesquisa. Decorre de dois problemas: a) da própria falta de empenho e  investimento dos departamentos e dos grupos de pesquisas em formar profissionais (sejam pesquisadores ou professores) capacitados para coleta, sistematização  e  análise  de  dados  problemas  concretos;  b)  da  insistência  em  difundir  como resultado de pesquisa sociológica um proselitismo recheado de conceitos "genéricos abstratos", totalmente desarticulados dos problemas que se demanda conhecimento especializado. 

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Conforme  já advertia Max Weber, no  texto  "A ética protestante e o  'espírito' do  capitalismo", tendo em vista os objetivos metodológicos do pesquisador, "não se deve tentar enfiar a realidade em  conceitos  genéricos  abstratos,  mas  antes  procurar  articulá‐la  em  conexões  concretas" (WEBER, 2009:42).   Para não tornar‐se obsoleta, a sociologia brasileira deve sair do século XIX e entrar no século XXI. Isso  não  significa  apenas  se  apropriar  dos  recursos  técnicos  disponíveis  para  a  pesquisa  e  o ensino.  Antes  e  mais  do  que  isso,  é  necessário  romper  com  uma  forma  escolástica  de pensamento que domina a produção sociológica.   Da mesma forma, o pesquisador da Unicamp conclui sua em sua palestra:   os  fatos matam  as  ideologias.  Na medida  em  que  podemos  ter mais  fatos,  acesso  a mais informações  para  testar  nossas  hipóteses  será  tanto mais  difícil  para  pessoas  que  têm  uma visão essencialmente ideológica da ciência social sobreviverem, acho eu (DWYER, 2004).  

Aprender  a  lidar  com  dados  é  fundamental  para  a  sociologia.  E  do  ponto  do  uso  de  técnicas disponíveis para a pesquisa, o atraso das instituições de ensino e pesquisa em ciências sociais no Brasil, em  relação à algumas universidades norteamericanas,  canadenses,  francesas,  inglesas e australianas  é  grande. O mesmo  se dá  em  relação  a outras  áreas do  conhecimento no Brasil, como  já mencionado  a matemática,  língua  portuguesa,  psicologia,  geografia,  também  já  bem mais adiantas do que as ciências sociais na formação de pesquisadores capacitados a  lidar com ferramentas de pesquisa mais sofisticadas (RABELO; CLAUDINO:2003).   A Informática nas ciências sociais  Apesar de  todos os avanços da  tecnologia de  informática dos últimos quarenta anos, o uso de computadores nas Ciências Sociais não tem sido aproveitado em todo o seu potencial.  Informática não é mais uma nova  tecnologia para as ciências sociais. Desde os anos 60, com o surgimento  do  software  SPSS  (Statistical  Package  for  Social  Sciences),  as  ciências  sociais  já dispunham de ferramentas de informática para auxiliar a pesquisa e análise de dados, conforme já apresentado por Blank (1989) e Brent e Anderson (1990).   O SPSS foi criado por três pesquisadores da Universidade de Chicago: o cientista social, Norman H. Nie; e dois cientistas da computação: C. Hadlai (Tex) Hull e Dale H. Bent. O software foi criado em 1968, no âmbito do National Opinion Research Center (NORC). Inicialmente foi um programa desenvolvido para auxiliar na elaboração da tese de Norman Nie.  Nos  anos  80,  com  a  disseminação  do  uso  de  microcomputadores,  novos  software  foram desenvolvidos e tornaram‐se acessíveis aos professores, pesquisadores e estudantes dos diversos ramos  das  ciências  sociais.  O  SPSS,  que  antes  era  um  programa  para  grandes  computadores 

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(chamados de mainframes,  rondando o  sistema operacional Unix), em 1984  foi comercializado em  versão  do  sistema  operacional  DOS  para  computadores  pessoais  IBM.  A  partir  daquele momento,  não  apenas  grandes  instutos  de  pesquisas  ou  empresas  poderiam  fazer  uso  deste programa, mas também pesquisadores individuais e estudantes.  Neste mesmo período da década de 80,  surgem os primeiros programas de  computador para auxiliar  a  pesquisa  qualitativa.  Em  1980,  o  pesquisador  australiano  Tom  Richards  criou  um programa para a codificação e análise de textos, chamado de Nud*ist. Em 1984, a empresa Qualis Research, sediada no estado do Colorado, Estados Unidos, lançou o Etnograph. Em 1989, Thomas Muhr, da Technical University de Berlin começou a projetar o programa Atlas.Ti, que trazia como novidade  a possibilidade de  codificar  imagens e  sons,  além de  textos. Quando  começou  a  ser comercializado  em  1993  pela  empresa  ATLAS.ti  Scientific  Software  Development  GmbH, pesquisadores  de  vários  países  começaram  a  incorporar métodos  qualitativos mais  apurados impulsionando estudos no campo da antropologia e a sociologia visual.   A partir deste período, uma grande profusão de programas foram criados e vários tornaram‐se de acesso  livro e  código  aberto.  Este movimento,  chamado de  software  livre e open  source, não apenas  dispôs  para  pesquisadores  instrumentos  de  informática,  mas  sobretudo  abriu  a oportunidade  para  a  formação  de  grupos  abertos  e  comunidades  de  desenvolvedores colaborativos. O resultado foi a formação de uma geração de cientistas sociais, não só aptos para o uso de ferramentas de  informática, mas também capacitados para o desenvolvimento técnico de  programas  de  computadores  cada  vez  mais  adaptados  à  diversidade  dos  procedimentos metodológicos das ciências sociais.  Um exemplo deste processo descentralizado e colaborativo é o pacote estatístico e linguagem de programação para análise de dados, chamado de R. Este software foi desenvolvido  inicialmente na Universidade de Auckland, Nova Zelândia, em 1997 por dois pesquisadores especializados em estatística computacional: Ross  Ihaka e Robert Gentleman. A  intenção de ambos era criar uma versão open source do pacote estatístico comercial S  (posteriormente S‐Plus), desenvolvido em 1977 por John Chambers, Rick Becker e Allan Wilks da empresa Bell Laboratories.   Treze anos depois de iniciado, o projeto R é gerenciado pela Fundação R, que segue os princípios da GNU  Foundation  para  disserminação  software  livre.  Reúne  uma  comunidade  composta  de desenvolvedores e usuários que ultrapassou bastante a Oceania e está se tornando a linguagem padrão  de  análise  de  dados  em  todo  mundo.  Somente  na  Fundação  R,  são  mais  de  300 colaboradores de mais de 20 diferentes países. No Brasil, o projeto tem o suporte institucional da Universidade  Federal do Paraná,  Fundação Oswaldo Cruz  (Fiocruz), Universidade de  São Paulo (USP)  e  ESALQ  ‐  USP,  Piracicaba  através  do  CRAN  ‐  Comprehensive  R  Archive  Network.  Para ciências  sociais,  são  mais  de  50  pacotes  de  funções  específicas  que  cobrem  uma  grande diversidade de métodos, da análise qualitativa à análise qualitativa.  

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Mas apesar da difusão de pacotes e software para análise de dados, o SPSS ainda é a referência para a análise quantitativa em ciência sociais, do mesmo modo que o NVivo (Nudist) e o Altas*ti são referências para a análise de dados qualitativos.   Gráfico  6  –  Porcentagem  de  Artigos  Acadêmicos  que  citam  a  palavra  “SPSS”  em  Revistas Acadêmicas indexadas Scielo por ano, 1995 a 2010 

Série1

0

50

100

% artigos pub

licados

ano de publicação

  Nota: Ano de 2010, dados até julho. Fonte:  gráfico  elaborado  com  resultados  de  consulta  por  palavra‐chave  “SPSS”  no  sistema  de indexação de periódicos online Scielo (http://scielo.org).  Com  o Gráfico  6,  pode‐se  observar  que  no  Brasil  e  na  América  Latina  (fontes  que  compõe  a maioria  dos  artigos  da  base  de  periódicos  do  Scielo  online),  tem  crescido  ano  a  ano. Quando realizada uma busca por periódicos na base Scielo que contém em seu resumo a palavra SPSS, o resultado é um aumento de quase 100% entre 1995 e 2010.   Este tipo de consulta de referência serve apenas como indicativo inicial da utilização de recursos analíticos  de  informática  nos  periódicos  científicos.  Uma  pesquisa mais  aprofundada  deveria contemplar a identificação das palavras correlatas e também a busca no corpo do texto. Mesmo assim,  a  consistência  do  resultado  por  ano  e  por  tema  indica  que  a  citação  reflete  o  uso  do software nas diferentes áreas de conhecimento.   Ou seja, é possível inferir que, se não exatamente, ao menos há um indicativo de que nos últimos 10 anos tem aumentando a utilização do SPSS como fonte de análise de dados. Isso indica que os cursos  estão  preparando  os  pesquisadores  e  estudantes  para  manusear  esta  ferramenta  e incentivando a disseminação de análises através dos periódicos das diversas áreas.   Incluir na formação dos estudantes e pesquisadores a utilização de ferramentas de  informática, como o SPSS, é um passo  importante para a formação acadêmica de professores para o ensino 

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médio,  fundamental  e  de  ensino  superior  com  capacitação  para  desenvolver  e  aplicar didaticamente os recursos de tecnologia da informação.  Quando os dados sobre o uso do SPSS, tomado aqui como exemplo de ferramenta de informática básica para a análise de dados  (software com mais de 40 anos de uso), osbserva‐se  (Gráfico 7) que é a área de saúde quem mais cita trabalhos de pesquisa com estas ferramentas. É importante ressaltar que o SPSS não é software padrão para as engenharias, geociências, agronomia, física, química, bioquímica e exatas de modo geral. Essas áreas foram incluídas apenas para demonstrar que  mesmo  não  sendo  padrão,  há  artigos  que  citam  o  uso  deste  software  elaborado principalmente para uso em ciências sociais. Os artigos que citam o uso do SPSS em humanidades têm o mesmo número de citações em Agronomia e menos de 2% das citações em Saúde (área em que o software EpiInfo é de uso bem mais abrangente do que o SPSS).  Gráfico 7 – Total de Artigos que citam a palavra “SPSS” em Revistas Acadêmicas indexadas no Scielo por área temática, 1995 a 2010 

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450

Health Sciences

Agricultural Sciences

Human Sciences

Biological Sciences

Engineering

Applied Social Sciences

Chemistry

Exact and Earth Sciences

Geosciences

Linguistics, Letters and Arts

Mathematics

Physics

unkown

434

13

13

12

3

2

2

1

1

1

1

1

27

quantidade de artigos

área

 do conh

ecim

ento

  Fonte:  gráfico  elaborado  com  resultados  de  consulta  por  palavra‐chave  “SPSS”  no  sistema  de indexação de periódicos online Scielo (http://scielo.org).  Ao  olharmos  com mais  detalhes  os  13  artigos  que  citam  o  SPSS  na  área  de  ciências  humanas,  são  10 artigos em revistas de psciologia; 2 revistas de economia e apenas uma de ciências sociais. Este mesmo padrão  se  reproduz ao  se  realizar esta consulta  com as palavras NVivo, Atlas*Ti, que  indicam o uso de 

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software para análise qualitativa, ou ainda para termos como PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio do IBGE) ou outra base de dados oficial do Brasil. Um número muito pequeno de artigos em sociologia  (um  ou  nenhum  por  palavra  buscada)  demonstra  utilizar  dados  ou  software  de  análise  de dados.   Conclusões  Os usos de tecnologias da informação na pesquisa e no ensino de sociologia e ciências sociais no Brasil  ainda  podem  ter muitos  avanços  nas  quatro  etapas  básicas  que  envolvem  a  aplicação destas  ferramentas:  1) na  coleta  sistematizada de dados  (como por  exemplo,  as pesquisas de Emprego  e  Desemprego  realizadas  pelo  Dieese/Seade);  2)  na  classificação,  organização  e armazenagem dos dados  (como por exemplo, os dados do estado do Paraná organizados pelo Ipardes); 3) na aplicação de ferramentas para recuperação, análise e visualização dos dados (usos de software como R, SPSS, TabWin, TerraView, GapMinder, Sidra, StatPlanet, para estudos, aulas, artigos, teses e textos analíticos); e 4) no desenvolvimento de ferramentas para as etapas de 1 a 3 (como por exemplo, o desenvolvimento colaborativo do pacote R).  O crescimento do acesso à  informática no Brasil nos últimos dez anos  tem estimulado diversas áreas  do  conhecimento  a  discutirem,  desenvolverem  e  aplicarem  recursos  de  tecnologia  da informação no ensino e na pesquisa. Esta pressão decorre tanto da familiaridade com que alunos e  escolas  apresentam  com  os  conteúdos  digitais,  quanto  –  no  caso  das  ciências  sociais  ‐  pela necessidade  de  incorporar  formas  mais  sofisticadas  de  análise  do  volume  crescente  de informações e dados disponíveis.  As ciências sociais no Brasil estão defasadas em relação a outras áreas, ainda não foi incorporado o avanço  tecnológico dos anos 70 e 80 na produção  científica e não há aplicação de  recursos recentes para o ensino de sociologia.  Quando  aparece  nas  ciências  sociais,  o  debate  sobre  tecnologia  da  informação  leva  a  um metodológico, sobre a natureza das ciências sociais, e não a um debate (este sim propriamente metodológico)  sobre  como  adaptar  os  conteúdos  e  temas  das  ciências  sociais  aos  recursos existentes de tecnologia da informação.  Neste  sentido, para orientar uma discussão  sobre o uso de  ferramentas de  informática para o ensino  e  a  pesquisa  em  ciências  sociais,  deve‐se  iniciar  pela  disseminação  de  programas  que demonstram  que  a  informática  pode  ser  útil  à  pesquisa  e  ao  Ensino  em  Ciências  Sociais  de diversas  maneiras.  Entre  inúmeras  outras  possibilidades,  o  conhecimento  de  ferramentas adequadas pode tornar mais fácil a tarefa de coletar, sistematizar e analisar dados. Pode também contribuir para estimular e  auxiliar o ensino de  temas,  teorias,  conceitos e  autores  relevantes para as Ciências Sociais.   

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Um destes programas deve ser a capacitação para uso das ferramentas disponíveis pelo Instituto Brasileiro  de  Geografia  e  Estatística  (IBGE).  O  IBGE,  é  a  principal  instituição  coletora  e disseminadora  de  dados  para  estudos  sobre  questões  sociais  no  Brasil,  possui  uma  grande contribuição pública para a disseminação de ferramentas de informática colaborativas de acesso aberto. O SIDRA ‐ Sistema de Gerenciamento de Dados Agregados é uma fonte de dados de uso bastante importante e de grande potencial para o ensino e a pesquisa em ciências sociais. O IBGE e outras fontes governamentais, como o Ministério do Trabalho (Programa de Disseminação de Estatística do Trabalho), IPEA (IpeaData), Ministério da Saúde (DataSus), Senado Federal (Sicon), têm construído e tornado acessível ao público ferramentas online de acesso a dados e registros oficiais fundamentais para o estudo de diversas questões importantes para as ciências sociais.  Outras  iniciativas  internacionais  também  têm  colocado  à  disposição  de  professores, pesquisadores  e  estudantes  de  ciências  sociais,  ferramentas  e  dados  relevantes  para  estudos comparativos  em  ciências  sociais.  O  software  GapMinder,  disponível  livremente  na  Internet, desenvolvido pelo epidemiologista Hans Rosling, apresenta de forma atraente um correlação de dados  sócio‐econômicos  e  populacionais  de  diversos  países  que  permitem  comparações históricas  de  uso  bastante  interessante  para  a  sociologia  e  ciência  política.  O  software  está disponível  também  no  Google  Public  Data  (http://www.google.com/publicdata/home).  Outra iniciativa similar é o software StatPlanet. Desenvolvido por Frank van Cappelle inicialmente para difundir o uso de estatísticas sociais e econômicas na África e em países do  terceiro mundo, o StatPlanet  tornou‐se um programa de uso amplo,  sobretudo em escolas e universidades. Uma abrangente  compilação  de  fontes  de  dados  internacionais  disponíveis  para  os  estudos  em ciências  sociais pode  ser encontrada na área de dados do  site das Nações Unidadas – UNData (http://data.un.org/Explorer.aspx). Para a América Latina, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe  (CEPAL)  tem o serviço de coleta e disseminação de dados comparativos mais abrangentes da região, o CEPALSTAT (http://www.eclac.org/estadisticas/).  Na Universidade Estadual de Londrina, o Departamento de Ciências Sociais, iniciou um programa de  formação  para  o  uso  de  tecnologia  da  informação  para  a  pesquisa  e  o  ensino  de  ciências sociais (http://www.uel.br/projetos/infosoc). Neste projeto, a disseminação e a capacitação têm como  objetivo  apresentar  aos  estudantes,  professores  e  pesquisadores  os  possíveis  usos  de informática nas ciências sociais através dos recursos mencionados, disponíveis online. O projeto tem  também  o  objetivo  centrado  no  desenvolvimento  de  produtos  aplicáveis  ao  ensino  e  à pesquisa em Ciências Sociais, que deverão servir como referência geral sobre as possibilidades da informática e seus usos metodológicos e didáticos em ciências sociais, bem como a elaboração e sistematização de tutoriais, apresentações, textos interativos e software que possam servir tanto como  estímulo  à  formação  e  atualização metodológica  de  todos  os  interessados  nos  temas abordados pela Sociologia, tanto para o ensino universitário, quanto para o ensino médio.      

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