A defesa da honra (1)

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A DEFESA DA HONRA Sérgio Pinto Monteiro*

A história das Forças Armadas Brasileiras está sob a ameaça de ser reescrita e inexoravelmente manchada, se nela forem inseridas as conclusões da chamada Comissão Nacional da Verdade. Formada por personalidades ligadas aos derrotados pelo Movimento Civil-Militar de 1964, a referida comissão esmerou-se em produzir, ao arrepio da verdade, uma peça que exala o odor pútrido da mentira e da vingança. Não há dúvida que a HONRA das nossas forças armadas foi violentada por um grupo de esquerdopatas, travestidos de historiadores. A imensa maioria dos militares cujos nomes foram acintosamente incluídos numa lista de 377 supostos responsáveis por crimes contra os direitos humanos durante os chamados governos contrarrevolucionários têm, ou tiveram, suas vidas inteiramente dedicadas ao serviço da pátria. Quase todos são referência de honestidade, patriotismo, bons princípios, moralidade e honradez. A famigerada comissão, ao produzir a odiosa relação, deixou claro que seu objetivo principal não era apenas o de acusar agentes do Estado, supostamente autores de ações criminosas. Sua missão prioritária é atingir mortalmente a dignidade dos militares e de suas instituições. Parece-nos que as forças armadas, cuja doutrina tem sido manter silêncio sobre esses episódios, deveria reconsiderar seu posicionamento. A instituição militar brasileira teve sua HONRA denegrida pela infâmia de alguns maus brasileiros. Os inúmeros chefes militares - a maioria já falecida - cujos nomes foram alvo da ignomínia, escreveram a história - gloriosa - de nossas forças armadas. Defendê-los, cremos ser o nosso DEVER. Preservar a HONRA de tantos bravos - e da própria instituição - deve ser a nossa MISSÃO. A história será implacável se nos omitirmos diante de tão insólita agressão. A todo o momento aponta-se a necessidade de defender e manter a democracia. Mas um dos seus principais sustentáculos é a liberdade. Principalmente no exercício do sagrado e pleno direito de defesa da honra e da dignidade de cidadãos e instituições. Dirão alguns que a voz da caserna poderá provocar uma crise político-institucional, o que nos parece improvável. Mas, então, onde está a propalada democracia brasileira? HONRA e DIGNIDADE não se flexibilizam, nem se negociam. O que diria o meu amado Exército e a gloriosa Marinha do Brasil se entre os apontados como criminosos estivessem os nomes de Caxias e de Tamandaré? Pois bem, a comissão da infâmia teve a ousadia de incluir entre os responsáveis pelos crimes praticados por agentes do Estado, o patrono da Força Aérea Brasileira, o ilibado e insigne Marechal-do-Ar Eduardo Gomes. Nascido em Petrópolis, Rio de Janeiro, em 20 de setembro de 1896, Eduardo Gomes, terceiro filho do Comandante Luís Gomes e de D. Jenny Gomes, foi declarado aspirante a oficial da arma de artilharia em 17 de dezembro de 1918, na Escola Militar do Realengo. Com formação em aviação militar, iniciada com o curso de Observador Aéreo de Artilharia, em 1922 estava entre os heróis da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, marco inicial do Movimento Tenentista, quando foi gravemente ferido. Na sequência, participou da Revolta Paulista de 1924 e foi preso quando se dirigia para integrar a famosa Coluna Prestes. Em 1930 atuou nas ações para derrubar o presidente Washington Luís. Com a subida ao poder de Getúlio Vargas, o Major Eduardo Gomes, já rompido com o novo governo, decide assumir em definitivo a

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aviação militar. Em 1931 recebe a missão, dada pelo Ministro da Guerra, de criar o Correio Aéreo Militar, que viria a se tornar o famoso Correio Aéreo Nacional, empreendimento vitorioso que iria consagrar o aviador Eduardo Gomes. Em 1932, participou da Revolução Constitucionalista. Em 1933 foi promovido a Tenente-Coronel e designado para comandar o 1º Regimento de Aviação, no Campo dos Afonsos. Em 1935, a Aliança Nacional Libertadora, rótulo com que se apresentava o partido comunista brasileiro, deu início à sangrenta Intentona Comunista e atacou o Regimento de Aviação. Eduardo Gomes liderou a resistência e derrotou os revoltosos, fato que foi decisivo para o fracasso da Intentona. Em 1938 foi promovido a Coronel-Aviador. Com a criação do Ministério da Aeronáutica em 1941 e a fusão das aviações militar (do exército) e naval (da marinha), Eduardo Gomes foi transferido para a Força Aérea Brasileira e promovido a Brigadeiro. Participou da organização e construção das bases aéreas que iriam desempenhar importante papel no esforço dos Aliados na II Guerra Mundial. Em 1944 foi promovido a Major-brigadeiro, o mais alto posto da época. Candidatou-se, sem êxito, nas eleições presidenciais de 1945 e 1950. Foi duas vezes Ministro da Aeronáutica: 1954/1955 e 1965/1967. Faleceu em 13 de junho de 1981. Dez anos após a sua morte recebeu o título de Patrono da Força Aérea Brasileira. O Marechal-do-Ar Eduardo Gomes, cuja vida e obra faz com que seja cultuado como um dos mais ilustres brasileiros, não pode - ao lado de tantos outros - ter o nome achincalhado por uma comissão mentirosa, irresponsável e facciosa, que sequer respeita os heróis nacionais. Os homens e mulheres de bem desse país não transigirão na defesa daqueles que dedicaram suas vidas ao Brasil. Para os verdadeiros patriotas, a vida sem HONRA não merece ser vivida. *professor, oficial da reserva do Exército, membro da Academia Brasileira de Defesa, da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, Diretor da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira, Presidente do Conselho Nacional de Oficiais da Reserva. É autor do livro “O Resgate do Tenente Apollo” (Ed.CNOR/2006). O artigo é pessoal e não necessariamente reflete o pensamento das instituições mencionadas.

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