A Depressão Na Atualidade

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    A DEPRESSO NA ATUALIDADE

    Esio dos Reis Filho

    Especialista em Psiquiatria pela AMBPsicanalista pelo Instituto Sedes Sapientiae

    Professor do Departamento Formao em Psicanlise, do Instituto Sedes SapientiaeProfessor do Instituto de Psiquiatria e Psicoterapia da Infncia e Adolescncia (IPPIA)

    Resumo: Este texto apresenta uma tentativa de compreenso da depresso na atualidade, relacionando-a coma idia de um "excesso de desamparo", tpico da ps-modernidade, que se contrape um "excesso de amparo"verificado at o final do sc. XIX, quando florescia a histeria de converso. Procura-se um embasamento dessaidia na metapsicologia freudiana, principalmente no texto "O mal-estar na civilizao", de 1930.

    Resumen: Este texto presenta una tentativa de comprensin de la depresin en la actualidad relacionandola conla idea de un exceso de desamparo, tpico de la posmodernidad, que se contrapone a un exceso de amparoverificado hasta el final del siglo XIX, cuando floreca la histeria de conversin. Se busca tambin las bases deesta idea en la metapsicologa freudiana, principalmente en el texto "El malestar en la cultura" de 1930.

    Pretendo apresentar uma tentativa de compreenso da depresso nesta nossa poca, que se convencionouchamar de ps-modernidade, usando como contraponto a situao da histeria de converso no panorama geralda psicopatologia no final do sc. XIX, articulando essa idia com alguns balizamentos oferecidos por Freudprincipalmente em seu texto de 1930, O mal-estar na civilizao, e por Joel Birman, em seu livro Mal-estar naatualidade, de 1998.

    I - A histeria de converso em sua poca urea

    Muito se tem falado sobre a histeria ter estado no auge da moda na segunda metade do sc. XIX. No que elano tenha estado presente desde as feiticeiras com as quais a Inquisio gozou, queimando-as, no incio damodernidade; nos xtases das beatas frente aos altares; nas fogueiras das vaidades das cortes europias dos"Luizes" franceses e "Habsburgos" austro-hngaros, etc. Mas foi propriamente a partir dos roteiros e scriptspreparados cuidadosamente por Charcot e Freud que a histeria se firmou como a prima dona do show businesspsicopatolgico da poca.

    Esse arranjo no se montou por acaso: a ordem geral nesses tempos era a implacvel e feroz represso dasexualidade, conduzida pela batuta de uma moralidade hipcrita e artificial. Porm, implacvel e feroz eratambm o retorno do reprimido. Pois bem, coube histrica (intrinsecamente ligada questo da represso)fazer a denncia desse instvel arranjo: seus sintomas eram a encenao, no corpo, dos proscritos desejossexuais que insistiam em retornar, buscando migalhas de prazer, mesmo que fantasiadas de sofrimento e/ouindiferena espetaculares.

    Gostaria de dissecar um pouco a idia acima colocada de implacvel e feroz represso da sexualidade. Para queisso ocorresse, teramos que ter agentes muito eficazes dessa represso, que apesar de arautos daquelamoralidade hipcrita, seriam figuras, entidades, representaes, imagens, etc., muito poderosas, severas eatuantes no mundo exterior e na arquitetura psquica dos pacientes.

    "A experincia mostra, contudo, que a severidade do superego que uma crianadesenvolve, de maneira nenhuma corresponde severidade de tratamento com que elaprpria se defrontou. A severidade do primeiro parece ser independente da do ltimo.[...] No entanto, tambm seria errado exagerar essa independncia; no difcil nosconvencermos de que a severidade da criao tambm exerce uma forte influncia na

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    formao do superego da criana."(grifo meu) [FREUD, S.: O mal-estar na civilizao,1930, ESB, vol. XXI, p. 154, Imago Ed., 1974].

    Isto , poderamos pensar que a histrica, apesar de brutalmente reprimida, cerceada, impedida, engessada,conseguia preservar um trunfo muito significativo em suas mos: tanto no seu mundo exterior (figuraspoderosas da sociedade), como no interior (o superego), ela contava com um amo e senhor, um mestre, quedela se ocupava com extrema dedicao: o severo, atento e eficaz agente repressor. Uma figura flica, semdvida, mas que propiciava paciente um certo grau de sustentao, uma razovel garantia consciente ouinconsciente de que contava com algum ligado a ela, afastando, dessa forma, a vivncia de desamparo. Estoume referindo idia de desamparo do sujeito frente pulso de morte, introduzida por Freud em sua segundateoria das pulses, em 1920.

    No final do sc. XIX estvamos, portanto, num panorama psicopatolgico em que a histeria de conversodominava uma cena em que ainda tinham vez figuras de autoridade, legtimas ou no, mas atuantes evalorizadas: governantes, religiosos, professores, sbios, lderes carismticos, etc., etc., chegando at aautoridade que o comum e silvestre pater familias preservava.O que quero frisar, baseando-me na estrutura da histeria e sua poca, a idia de que, nesse tempo, a culturapropiciava ao sujeito uma intrincada e funcionante rede de apoio ou sustentao, que poderamos entender, deuma forma simplificada, como um "excesso de amparo".

    II - Os cataclismas da modernidade engendrando o vazio da ps-modernidade

    A modernidade se caracteriza por ser uma poca em que essas figuras paradigmticas de autoridade vo, lentae progressivamente, sendo destrudas. Desde Nietzsche, anunciando a morte de Deus, passando pelos reissendo guilhotinados, pelos czares fuzilados, pelos governantes desacreditados, pelos professores ridicularizados,pelos religiosos corrompidos, etc., etc., os cones dessa cultura repressora descrita acima vo sendo derrubados,a figura de autoridade senso latu, lenta e progressivamente vai se esmaecendo at ficar quase totalmente forade moda.

    Como conseqncia de toda essa demolio alucinante, engendra-se uma nova poca, cujo incio alguns colocama partir da 1 Guerra Mundial, a chamada ps-modernidade. A caracterstica bsica desse novo tempo seria oprogressivo desaparecimento, at chegar quase total ausncia, dessa imagem de autoridade.

    "O superego de uma poca de civilizao tem origem semelhante do superego de umindivduo. Ele se baseia na impresso deixada atrs de si pelas personalidades dosgrandes lderes - homens de esmagadora fora de esprito ou homens em que um dosimpulsos humanos encontrou sua expresso mais forte e mais pura e, portanto, quasesempre, unilateral." (grifo meu) [FREUD, S., O mal-estar na civilizao, 1930, ESB, vol.XXI, p. 166, Imago Ed., 1974].

    No temos mais esses "grandes lderes - homens de esmagadora fora de esprito": no temos mais aquelesseveros e atuantes agentes da represso, aquelas figuras que encarnavam e aplicavam a "Lei" - o superegonunca mais ser o mesmo. Alis, nem o ego e nem o id.

    No lugar desses lderes de que fala Freud, temos, mais aqui por perto de ns, figuras como Maluf e as contas emJersey, Jader Barbalho e o Banpar, ACM e a lista das votaes, FHC e as mazelas do apago, Collor e Rosane ea pera bufa que encenaram, etc. Mais longe, temos Clinton e os malabarismos com charutos no salo oval,religiosos de vrias origens e suas orgias com garotos adolescentes, governantes japoneses se suicidando apspolpudos subornos, um papa que inspira pena pelo seu estado de decadncia fsica, Edir Macedo com seusbilhes surrupiados de fiis crdulos e submissos enredados no violento e predador comrcio de bens desalvao, Reverendo Moon e seus processos por sonegao fiscal, Richard Nixon e seu impeachment, etc., etc.Uma das ltimas capas da revista Veja tratava da decadncia e enfraquecimento do homem comum - amanchete era a seguinte:

    "Homem - O Super-heri Fragilizado - Estudos recentes mostram que a grande angstiamasculina enquadrar-se na imagem tradicional do macho: seguro, frio, corajoso, bemsucedido, agressivo e provedor."

    No temos mais as histricas reprimidas denunciando uma represso que quase j no existe mais. Por isso

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    mesmo, o que temos agora, uma liberao geral de impulsos humanos, s vezes muito aterrorizantes, quesempre se procurou repelir e manter sepultados nas profundezas do Inconsciente, mesmo que nem sempre comtanto sucesso assim.

    Assistimos, ento, progressivamente, liberao desenfreada da sexualidade em todos os seus aspectos, aagressividade cada vez mais solta, as gangs, os punks, os darks, os skin heads, os hulligans, os pichadores, osterroristas, at situaes extremas, provocando o pavor das guerras qumica ou biolgica.

    "... o discurso freudiano colocou a figura do desamparo no fundamento do sujeito. Esteagora assume uma feio trgica, marcado que seria pela finitude, pelo imprevisvel esem ter qualquer garantia absoluta para se sustentar. o vazio e o abismo que estopermanentemente sob seus ps, num vrtice tempestuoso que pode engoli-lo aqualquer momento, pois a morte o espreita com sua face tenebrosa e hedionda emtodos os instantes." [BIRMAN, J., Mal-estar na atualidade, Ed. Civilizao Brasileira,1999, p. 43].

    III - O desamparo e a depresso na atualidade

    Por isso tudo, na psicopatologia da ps-modernidade, no cabe mais a figura da histrica desmaiando e sendosocorrida, pressurosamente, por um gentil cavalheiro. O que encontra lugar nestes tempos tenebrosos odesamparo, o mal-estar, a depresso, o pnico.

    Da mesma forma que a histeria era o quadro psicopatolgico que, coerentemente com sua psicodinmica,denunciava o arranjo cultural do final da modernidade e incio da idade contempornea, a depresso e o pnicopoderiam ser vistos como os quadros psicopatolgicos que emergem da tessitura dramtica e desesperanadada cultura ps-moderna.

    Visualizamos este sujeito da ps-modernidade como algum em queda livre, desesperado para encontrar algoem que se segurar, algum referencial flico que lhe d um mnimo de sustentao nesse horizonte depressivo edesolador. Pensemos novamente na ltima frase da citao acima referida de Joel Birman, tendo em mente aspessoas que estavam no World Trade Center, em Nova York, no ltimo dia 11 de setembro:

    " o vazio e o abismo que esto permanentemente sob seus ps, num vrticetempestuoso que pode engoli-los a qualquer momento. Pois a morte o espreita com suaface tenebrosa e hedionda em todos os instantes."

    No instante seguinte, primeiro uma e depois a outra torre desabam. Milhares de pessoas so engolidas numvrtice tempestuoso e desaparecem no abismo, no vazio que se abre sob seus ps, em meio s toneladas deescombros... tudo isso devida e espetacularmente transmitido ao vivo para todos os televisores do mundo.

    Isto , aquele arranjo cultural que, como vimos acima, chegava a produzir um, poderamos dizer, sufocante"excesso de amparo" , at a virada dos scs. XIX - XX, hoje, no incio do sc. XXI, sofreu uma grande guinada enos lana num tenebroso "excesso de desamparo". Entendo a depresso na atualidade como a consequncianecessria desse lamentvel estado de coisas.

    IV - A metapsicologia freudiana e o desamparo

    No meio desse soturno panorama, podemos compreender a grande guinada da metapsicologia freudiana em1920. At ento, Freud ainda lutava bravamente pela cientificidade de sua psicanlise, acreditando, um poucoingenuamente, que curar possvel:

    "... mas prometi perdo-la por ter-me privado da satisfao de cur-la de seusproblemas." (grifo meu) [FREUD, S., O Caso Dora, 1905, ESB, vol. VI, p. 118, ImagoEd., 1974].

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    A psicanlise, como disciplina cientfica, nos moldes clssicos do enfoque positivista, teria suas tcnicas prpriasde diagnstico, tratamento e cura das doenas mentais.

    "...o discurso psicanaltico teria a pretenso de se inscrever na ordem da cincia e,conseqentemente, poderia regular as relaes entre a fora da pulso, seu objeto eseus representantes." (grifo meu) [BIRMAN, J., Mal-estar na atualidade, Ed. CivilizaoBrasileira, 1999, pg 134].

    O psicanalista, tanto quanto um mdico, deteria em suas mos o poder de curar, o que o colocaria numa posiode autoridade, tal como descrevi acima, encaixando-se perfeitamente no arranjo cultural do final do sc. XIX.

    Mas nem tudo transcorreu conforme esse modelo inicial, no qual Freud edificou a sua psicanlise. O discursofreudiano teve que ir levando em conta que essa expectativa inicial de cura do sujeito no podia ser realmentelevada a cabo.

    Em 1920, logo aps o trmino da 1 Guerra Mundial, a morte, nua e crua, se introduz de vez no pensamentofreudiano. Ele especula sobre o impulso de morte em seu texto Alm do princpio do prazer. A partir da no hmais retorno possvel: o discurso freudiano sobre o homem desemboca irremediavelmente no desamparo, nafinitude, na falta de garantia.

    "Pode-se dizer, enfim, de maneira indubitvel que o discurso freudiano acreditava, emsua verso primeira, que o desamparo poderia ser curvel pela psicanlise; na sualtima verso, essa crena se mostrava insustentvel, ingnua e presunosa." [BIRMAN,J., Mal-estar na atualidade, Ed. Civilizao Brasileira, 1999, p. 130].

    Esta seria, ento, a linha mestra que perpassa o texto O mal-estar na civilizao: sendo, o desamparo humanooriginrio, e estando na base da prpria constituio do sujeito, ele incurvel, isto , a civilizao no d contade dominar esse desamparo. A pulso de morte, ou seja, pulso desligada de qualquer representao e que stende descarga, seria indomvel, estaria sempre presente, espreitando continuamente o sujeito econfrontando-o permanentemente com a sua situao originria de desamparo e de falta de garantia. Por isso, omal-estar da decorrente torna-se inerente civilizao humana.

    Essa compreenso da depresso ligada idia de desamparo tambm o que nos traz Daniel Delouya em seulivro Depresso. Ele diz:

    "Se a condio originria de desamparo 'a fonte e o prottipo' (Freud, 1926) dadepresso, trata-se de distinguir a forma com que essa condio imprime a natureza dopsquico, engendrando suas caractersticas e suas qualidades." (grifo meu) [DELOUYA,D., Depresso, Ed. Casa do Psiclogo, 2000, p. 44].

    Num livro recente, de 1999, Fdida nos apresenta vrios ensaios sobre a depresso, enfocando, de forma densae elaborada, alguns temas a ela ligados, tais como o agir depressivo, luto-depresso-melancolia, a relquia, ovazio da metfora, etc. Faz colocaes extremamente ricas e interessantes, como:

    "...depresso define-se por uma posio econmica que diz respeito a uma organizaonarcsica do vazio..." (p. 39); "A depresso no seria a experincia vital da morteimpossvel?" (p. 40); "O vazio o prottipo depressivo arcaico do espao psquico." (p.102). [FDIDA, P., Depresso, Ed. Escuta, 1999]

    Fdida no fala, explicitamente em desamparo, mas os termos "vazio", "morte impossvel", "imobilidade docorpo", "ausncia" e outros que aparecem em todo o seu texto, fazem ressonncias muito vivas com a idiafreudiana de desamparo.

    V - Tentativas de escape

    Podemos observar o surgimento de movimentos na cultura que tentam nos proteger, possibilitando algum tipode escape dos quadros depressivos na atualidade.

    Um desses seria o impressionante nvel de investimento econmico na indstria farmacutica, visando a criaode anti-depressivos de 3, 4, etc., geraes. Surgem, a cada dia, novas plulas da felicidade, consumidas

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    avidamente por levas de pacientes deprimidos, que, farmacologicamente, tentam escapar da vivncia dedesamparo na qual esto irremediavelmente aprisionados. Em relao a elas, um fato curioso que, hoje emdia, muitos mdicos, de quaisquer especialidades e no mais apenas os psiquiatras, receitam um prozaczinhopara seus pacientes, just in case.

    Num registro mais alienado e destrutivo, teramos o lamentvel e significativo boom atual das outras drogas, asdo narcotrfico, que invadem todos os estratos da sociedade, com a mesma finalidade de nos trazer felicidade ebem estar qumicos.

    Nessa mesma linha, assistimos, s vezes com certo espanto, proliferao desenfreada de religies, seitas, sub-seitas, etc., as mais impensveis. Vemos, tambm, o misticismo em alta, com seus cristais, pirmides, florais deBach, gnomos, fadas, anjos, etc.

    Todos esses fenmenos poderiam ser entendidos como aquela tentativa desesperada que o sujeito ps-modernofaz de se agarrar a algum referencial flico que lhe d, ao menos, uma sustentao mnima, como referidoacima.

    Outros pensadores, com sua argcia, nos ajudam a entender alguns fenmenos da ps-modernidade, quetambm visam dar conta do pano de fundo depressivo caracterstico desta poca.Guy Debord, pensador francs, introduz a noo de sociedade do espetculo em 1967. Estamos todos numgrande palco, onde o que importa brilhar, fazer sucesso, ser aplaudido, tendo a meta da vida se convertido emconseguir manter-se sob as luzes da ribalta. The show must go on e I'm the best, fuck the rest so mximas quetm dominado o iderio da cultura popular ocidental, tentando banir da cena cultural o espectro da depresso.

    O americano Christopher Lasch cria, em seu livro de 1979, o conceito de cultura do narcisismo, complementandoa idia de sociedade do espetculo do Debord: devo estar centrado apenas em meu prprio umbigo, lustrandocompulsivamente a minha imagem, para obter um brilho cada vez mais ofuscante e mais atordoador, que meimpea de ver a solido mortfera, estril e deprimente do meu narcisismo.

    VI - E agora, Jos?

    Esse "mal-estar", no podendo ser curado, dever ser permanentemente gerenciado pelo sujeito. A cultura decada poca e de cada lugar fornecer o instrumental, tanto extra como intra-psquico, para que o sujeito realizeesse gerenciamento. Penso que o surgimento na atualidade, tanto de quadros depressivos quanto de pnico,est na dependncia do gerenciamento desse "mal-estar" constitutivo da civilizao.

    A ps-modernidade, como vimos acima, no tem sido prdiga em propiciar ao sujeito da atualidade uminstrumental eficaz para esse gerenciamento, dificultando a estruturao de um aparelho psquico bemintegrado, com boa capacidade de simbolizao. A vivncia de desamparo e de falta de garantia vai, ento,tomando corpo de forma avassaladora: basta vermos as manchetes dos jornais, nestes tempos tenebrosos deobscurantismo, fundamentalismos, violncia predatria dos mais fortes sobre os mais fracos, paroxismos dedestrutividade estremecendo o planeta.

    Como ser possvel evitar o mal-estar, a depresso, o pnico, se sabemos que o prximo envelope ou revistaentregue pelo correio poder conter o "Antrax" que nos matar? Enquanto estou escrevendo este texto, arriscouma olhadela na manchete do jornal de hoje: "O Antrax chega ao Senado dos EUA".

    E agora, Jos? Para onde ir a nossa civilizao? O poder de destruio do homem nunca foi to grande. Comoesse poder ser usado numa possvel 3 Guerra Mundial?

    Penso que essas perguntas esto pairando no ar, no mundo todo, fazendo um barulho ensurdecedor. Bonstempos aqueles em que Freud denominava seu texto de "O mal-estar na civilizao". Se ele tivesse de escrev-lo hoje, um bom nome seria "O pnico na civilizao", ou, quem sabe, "O mal-estar na barbrie".

    Abstract: This paper presents a comprehension trying of present time depression, relating it with the idea of an"helplessness excess", typical of the post-modernity. This opposes itself to an "help excess" verified until the endof the XIXth century, when the conversion hysteria was flourishing. A basement of this idea is searched infreudian metapsycology, mainly in the paper "Civilization and its Discontents", 1930.Palavras Chave: Depresso, pnico, excesso de desamparo, excesso de amparo, ps-modernidade.

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    BIBLIOGRAFIA:

    BIRMAN, J., Mal-estar na atualidade, Ed. Civilizao Brasileira, 1999.DEBORD, GUY, A Sociedade do espetculo, Ed. Contraponto,1997DELOUYA, D., Depresso, Ed. Casa do Psiclogo, 2000.FDIDA, P., Depresso, Ed. Escuta, 1999. FREUD, S., O Caso Dora, 1905 ESB, vol. VI, Imago Ed., 1974].-----------, O mal-estar na civilizao, 1930, ESB, vol. XXI, Imago Ed., 1974.-----------, Luto e melancolia, 1915, ESB, vol. XIV, Imago Ed., 1974.LASCH, C., The Culture of Narcissism., Warner Basic Books, N.Y.,1979

    Esio dos Reis FilhoEnd.: Av. Anglica, 1814, cj. 1403

    Tel.: 3661-8350e-mail: [email protected]

    Texto publicado no Boletim do Depto. Formao em Psicanlise, ano X, vol X, n 1/1, Jan/Dez 2001Apresentado no III Encontro Latino-americano dos Estados Gerais da Psicanlise, Buenos Aires, 2002