A Dificuldade de Escrever Sem Que Saia Algo Fragmentado e Incoerente

3
A dificuldade de escrever sem que saia algo fragmentado e incoerente, é que tudo é de tal forma uma superação daquilo que somos, que torna tudo nada susceptível de ser transportado para a limitação ontológica de nós. (o corrector ortográfico do word tem problemas em compreender como numa frase tudo e nada podem estar juntos, porque é aristotélico e binário, condição a que muitos de nós tão indignamente almejamos). Também não acredito numa escrita impessoal sobre alguma coisa sem que aquele que escreve não manche com a sua própria subjectividade o que procura expressar, porque é nisso que reside o maior valor; a objectividade em absoluto é de qualquer das formas impossível para nós… Li uma vez um livro, por obrigação, sobre os hábitos e costumes dos gregos antigos, no início, na minha ignorância e já antevendo o tédio, o autor surpreende-me porque deu um bocadinho de si, em poucas páginas descreveu como a contemplação da lua, da nossa lua, não podia já estar mais longe da dos gregos antigos. Eles viam-na como uma expressão politeísta do absoluto, uma divindade… e nós como algo a ser conquistado, a ser atingido por meio de parafenália tecnológica (com o seu fascínio é certo…), sem o maravilhoso mistério. E isso teve uma importância fulcral, a lucidez deste autor, de poder partilhar aquilo que o tocou, ensinou-me pelo sentimento o que dificilmente poderia ser compreendido pela razão.

description

ensaio

Transcript of A Dificuldade de Escrever Sem Que Saia Algo Fragmentado e Incoerente

A dificuldade de escrever sem que saia algo fragmentado e incoerente, que tudo de tal forma uma superao daquilo que somo

A dificuldade de escrever sem que saia algo fragmentado e incoerente, que tudo de tal forma uma superao daquilo que somos, que torna tudo nada susceptvel de ser transportado para a limitao ontolgica de ns. (o corrector ortogrfico do word tem problemas em compreender como numa frase tudo e nada podem estar juntos, porque aristotlico e binrio, condio a que muitos de ns to indignamente almejamos).

Tambm no acredito numa escrita impessoal sobre alguma coisa sem que aquele que escreve no manche com a sua prpria subjectividade o que procura expressar, porque nisso que reside o maior valor; a objectividade em absoluto de qualquer das formas impossvel para ns

Li uma vez um livro, por obrigao, sobre os hbitos e costumes dos gregos antigos, no incio, na minha ignorncia e j antevendo o tdio, o autor surpreende-me porque deu um bocadinho de si, em poucas pginas descreveu como a contemplao da lua, da nossa lua, no podia j estar mais longe da dos gregos antigos. Eles viam-na como uma expresso politesta do absoluto, uma divindade e ns como algo a ser conquistado, a ser atingido por meio de parafenlia tecnolgica (com o seu fascnio certo), sem o maravilhoso mistrio.E isso teve uma importncia fulcral, a lucidez deste autor, de poder partilhar aquilo que o tocou, ensinou-me pelo sentimento o que dificilmente poderia ser compreendido pela razo.

Escrevo-te porque comprei hoje na feira do livro o novo livro de Paulo Borges, (A cada instante estamos a tempo de nunca ter nascido).

O Paulo Borges motivo de uma adulao algo estranha pelos espiritualistas e alguns budistas e outros afins, o que sempre algo muito divertido de se ver nas conferncias que d. um livro de aforismos...

D a entender a perspectiva oriental de que a sabedoria no algo inerente ao conhecimento, pelo contrrio, intermedeia os hiatos de nada que o desconstituem e por isso os aforismos podem ser haikus ocidentais, que preparam o esprito e ludibriam a mente para o silncio solar.

Ele parece expressar que o conhecimento em ultima anlise um exlio e uma motivao escapista. Deve ser esse o privilgio de ser filsofo e budista, em que se d um cruzamento de compreenses, uma poente e outra nascente, uma cansada das suas constantes mutaes e sobreposies numa procura sfrega e intil (porque viciada j nos seus pressupostos); a outra fresca e eternamente aquilo que renascida em solo frtil, o nosso, porque ns, exceptuando na arte, no pensmos desde Scrates viver alm do conceito, ou no quisemosE o teu livro j est editado?

o cruzamento de um pensamento ocidental desalmado por falta de compreenso que transcenda o prprio conceito, pelo menos, parece-me na filosofia, e as correntes budistas c