A dimensão escatologia na missão de Paulo
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Revista Contemplao 2014 (8): 29-39
A dimenso escatolgica na misso de Paulo: uma leitura da primeira carta aos tessalonicenses luz da teologia da misso
Diones Rafael Paganotto1
RESUMO A Primeira carta de Paulo aos Tessalonicenses tem como tema principal a escatologia, a Parusia do Senhor. Paulo, porm, para esclarecer as dvidas da comunidade acerca do destino dos mortos e da realizao do encontro definitivo com Cristo, evidencia tambm alguns aspectos trinitrios da pregao primitiva da comunidade crist, pois toda obra de salvao, desde a criao at a escatologia, trinitria. O presente artigo parte de uma anlise dos termos relacionados s trs pessoas da Trindade em 1Ts para enfatizar, assim, uma viso global acerca da Trindade no mais antigo escrito cristo, evidenciando tambm a viso antropolgica tripartida apresentada por Paulo no final da carta. PALAVRAS-CHAVE: Trindade; Deus; Senhor; Tessalonicenses ABSTRACT The First Letter of Paul to the Thessalonians has as main theme the eschatology, the Parousia of the Lord. Paul, however, to answer questions from the community about the fate of the dead and the completion of the definitive encounter with Christ also highlights some Trinitarians of the early preaching of the Christian community aspects, as every work of salvation, from creation to eschatology, is Trinitarian. This article presents an analysis of the terms related to the three persons of the Trinity in 1 Thessalonians to thus emphasize a global vision of the Trinity in the earliest Christian writing, also showing the tripartite anthropological vision presented by Paul at the end of the letter. KEYWORDS: Trinity; God; Lord; Thessalonians
1. Introduo
Ai de mim se no pregar o evangelho (1Cor 9,16) pode ser considerado
o lema missionrio de Paulo apstolo, um homem que aps o encontro com o
1 Mestrando em Teologia Sistemtica na Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, professor no Instituto de Filosofia Santo Toms de Vilanova em Ourinhos (SP). E-mail: [email protected].
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Cristo ressuscitado transformou a sua vida em uma constante atividade
missionria. Enquanto escrevia aos corntios, no incio da sua atividade
epistolar, mas j maduro no seu apostolado, Paulo evidenciou a sua vocao
missionria, algo que estar presente, em praticamente, todas as suas cartas.
Obviamente, com a evoluo de sua teologia e com os vrios argumentos por
ele tratados, tambm a reflexo missionria evoluiu. O presente artigo cientfico
procura evidenciar o aspecto missionrio presente no mais antigo escrito
paulino: a Primeira carta aos Tessalonicenses, luz da questo central desta
epstola: a escatologia.
2. A comunidade tessalonicense e a escatologia
2.1. A cidade e a comunidade de tessalnica
O primeiro versculo de 1Ts denota alguns elementos importantes para a
compreenso missionria do texto: Paulo, Silvano e Timteo Igreja de
Tessalnica, em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo. A vs graa e paz! (1Ts
1,1)2. Por volta da metade do sc. I d.C. Paulo, acompanhado por seus
colaboradores Silvano e Timteo, chega a Tessalnica, capital da provncia da
Macednia, uma das mais importantes cidades do Imprio Romano. Simpson
Jr.3 sublinha algumas caractersticas desta cidade: foi fundada por Cassandro,
general de Alexandre Magno, em 315 a.C. e o seu desenvolvimento foi possvel
graas ao importante porto comercial e militar, alm de ser atravessada pela Via
Egnatia (ligao entre o mar Adritico e a sia menor).
A comunidade fundada por Paulo e seus colaboradores (cf. At 17,1-10)
recebe o ttulo de igreja, sendo equiparada igreja me de Jerusalm. Uma
poro do povo de Deus que se encontra num territrio especfico: a cidade de
Tessalnica. Uma comunidade crist formada por judeus e gentios convertidos,
2 O texto bblico utilizado nas citaes o da traduo da Bblia de Jerusalm: BBLIA de Jerusalm: nova edio, revista e ampliada. So Paulo: Paulus, 2012. 3 Cf. SIMPSON JR., J. W. Tessalonicenses, carta aos, DCP, p. 1192.
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os quais encontraram desde o incio dificuldades com a sinagoga judaica e as
autoridades pblicas.
Esta perseguio fez com que Paulo deixasse repentinamente a cidade e
escrevesse, logo aps, comunidade para manter firmes os laos de amizade e
solucionar dvidas da comunidade acerca de alguns pontos da doutrina crist,
dentre eles a escatologia, vista as lacunas deixadas na catequese primitiva
graas ao pouco tempo de estadia e formao na comunidade tessalonicense.
2.2. A questo escatolgica
Por escatologia entende-se o ramo da teologia sistemtica que trata das
coisas ltimas, uma variedade de temas como: o futuro do mundo, a parusia, o
reino futuro, o juzo final, a ressurreio, o cu, o inferno, dentre outros4. O
vocbulo escatologia provm da unio de dois termos: e;scatoj( a( on (ltimo,
extremo, limite) e lo,goj (palavra, discurso, racional); trata-se de um vocbulo
relativamente recente5, que na teologia designa as realidades ltimas da vida do
ser humano.
Dentre os vrios temas tratados por Paulo ao longo de 1Ts, a escatologia
recebe um destaque especial na segunda parte da carta, onde duas percopes
explicitam alguns elementos doutrinrios que so colocados como resposta s
dvidas da recm formada comunidade tessalonicense: Irmos, no queremos
que ignoreis o que se refere aos mortos, para no ficardes tristes como os outros
que no tm esperana (1Ts 4,13) e No tocante ao tempo e ao prazo, meus
irmos, escusados escrever-vos, porque j sabeis, perfeitamente, que o Dia do
Senhor vir como ladro noturno (1Ts 5,1-2).
4 Cf. KREITZER, L. J. Escatologia. DCP, p. 458-459. Para uma detalhada definio e histria da escatologia: GRESHAKE, G. Escatologia. DCT. So Paulo: Paulinas Loyola, 2004, p. 620-625. 5 O termo escatologia aparece pela primeira vez na obra do telogo luterano Abraham Calov em 1677 na sua obra Systema locorum theologicorum, mais precisamente no XII volume nomeado Eschatologia Sacra ao tratar de temas como a morte, o juzo final e as ltimas realidades. Porm, em 1805, com Bretschneider o termo escatologia largamente utilizado e cai no uso comum e
passa a indicar o tratado das ltimas realidades (Cf. NITROLA, A. Trattato di Escatologia: 1. Spunti per un pensare escatologico. Cinisello Balsamo: San Paolo, 2001, p. 21-22).
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Diante destes elementos, Simpson Jr6 conclui:
O grande valor de 1 e 2 Tessalonicenses como documentos da teologia paulina baseia-se em sua evidente intimidade com a pregao missionria paulina. As duas cartas so endereadas a uma Igreja que existe h pouco tempo. As duas cartas falam bastante da obra de proclamao qual a Igreja deve seu incio e pouco de seu contedo motivado por preocupaes situacionais especficas, pelo menos em comparao com outras cartas de Paulo. Em grande parte, elas procuram apenas encorajar os membros da recm-fundada comunidade crist na nova situao. Mesmo quando respondem diretamente a preocupaes situacionais especficas nas passagens escatolgicas... elas o fazem em linguagem que foi provavelmente usada na proclamao original do Evangelho e que com certeza no mais que uma ampliao de temas desta proclamao.
Logo, uma abordagem sistemtica da teologia da misso em 1Ts deve
evidenciar estes elementos fundamentais que foram a base da proclamao
kerigmtica primitiva de Paulo.
3. A teologia da misso em Ts
A principal fonte para obter as informaes necessrias para desenvolver
uma teologia da misso em Paulo so as suas cartas. O epistolrio paulino
formado por 14 cartas, porm so consideradas autnticas: Rm, 1Cor, 2Cor, Gl,
1Ts e Fm7, pois atravs destes textos Paulo demonstra seus anseios e
preocupaes ao longo da sua longa atividade missionria.
Por misso entende-se a tarefa fundamental da Igreja e de todo cristo
de dar testemunho do Evangelho e difundir a f fundando novas comunidades
crists atravs do seu testemunho de vida e do seu servio aos homens8. Esta
6 SIMPSON JR, J. W. Tessalonicenses, carta aos. DCP, p. 1197. 7 Cf. SENIOR, D.; STUHLMUELLER, C. Os fundamentos bblicos da misso. So Paulo: Paulinas, 1987, p. 218. 8 Cf. LIENHARD, F. Misso/evangelizao. DCT, p. 1152-1153.
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tarefa compreende, segundo Panazzolo9, trs elementos: a pessoa que envia
com uma mensagem, o enviado que deve anunciar ou testemunhar e o
destinatrio que recebe a mensagem. Aplicando estes elementos a 1Ts
reconhece-se a seguinte estrutura: o Pai (1Ts 1,9; 2,5) a pessoa que envia a
mensagem de salvao da morte e ressurreio do seu Filho (1Ts 1,10; 4,14),
Paulo (1Ts 1,1) o enviado pelo Esprito Santo (1Ts 1,5.6; 4,8) a anunciar e
testemunhar esta boa notcia e a cidade de Tessalnica a destinatria (1Ts 1,1),
porm somente algumas pessoas acolhem esta mensagem, formando assim uma
pequena comunidade crist.
3.1. A estratgia missionria de Paulo
Nas primeiras dcadas do cristianismo, os empreendimentos missionrios
se dividiram, segundo Bosch10, em trs tipos principais: 1) pregadores
itinerantes que visitavam os vrios vilarejos do territrio judaico; 2) cristos
judaicos de lngua grega que deixaram Jerusalm e se dirigiram s vrias
cidades do Imprio Romano (Antioquia, Roma, etc); 3) missionrios cristos
judaizantes que se dirigiam a comunidades j existentes para corrigir luz da
tradio judaica, uma interpretao errnea do Evangelho. Paulo se coloca ao
interno do segundo grupo, um judeu pertencente linha farisaica (cf. Fl 4,5) da
dispora de lngua grega (At) que, inicialmente, se instalou em Antioquia para
depois fundar comunidades crists em outras grandes cidades do Imprio
Romano. O segundo grupo supramencionado tambm est diretamente ligado
a Paulo, pois o apstolo teve que defender a autenticidade do seu ministrio e
do seu evangelho nas comunidades de Corinto (cf. 2Cor) e da Galcia (cf. Gl).
Paulo concentrou a sua ateno nas principais cidades das regies
visitadas: Filipos Macednia (cf. Fl 4,15), Tessalnica Macednia e Acaia (cf.
1Ts 1,7), Corinto Acaia (1Cor 16,15), feso sia (cf. 2Cor 1,8). Bosch11
9 PANAZZOLO, J. Misso para todos: introduo missiologia. So Paulo: Paulus, 2006, p. 14. 10 Cf. BOSCH, D. J. Misso transformadora, mudanas de paradigma na teologia da misso. So Leopoldo: Sinodal, 2002, p. 166. 11 BOSCH, Misso transformadora, p. 167.
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evidencia que essas metrpoles so os centros principais em termo de
comunicao, cultura, comrcio, poltica e religio [...] Em cada uma delas, ele
coloca os fundamentos para uma comunidade crist, claramente na esperana
de que, a partir desses centros estratgicos, o evangelho seja levado para as
cidades menores e no interior circunvizinho.
Em suas visitas a estas metrpoles, na maior parte das vezes por um longo
perodo de tempo (cerca de um ano e meio em Corinto, dois a trs anos em
feso), Paulo pregava em pblico, nas sinagogas, em residncias particulares
para obter, inicialmente, converses de judeus e depois de gentios. Aps certo
nmero de convertidos, Paulo instaurava uma comunidade crist no local para
se reunir frequentemente. Nesta formao, surge outra caracterstica da sua
prtica missionria: a sua relao com seus companheiros de misso12. Paulo
possua companheiros prximos que o acompanhavam em todas as cidades
visitadas (Timteo, Silvano); colaboradores independentes que, alm de realizar
atividades em sua comunidade de origem, tambm auxiliavam em outras
comunidades (Priscila, quila, Tito); e representantes das comunidades locais
(Epafrodito, Epafras, Gaio, Jasom).
3.2. Fundamentos teolgicos da misso
a) O apostolado
Paulo no um telogo da misso, mas um telogo em misso. Toda a sua
teologia depende de sua atividade missionria. Aps o encontro com o Cristo
ressuscitado, Paulo no consegue mais ver a sua vida a no ser em estreita
conexo com o Evangelho, do qual ele um apstolo credenciado pelo prprio
Deus. De fato, o ttulo mais utilizado em suas cartas, nesta relao misso
teologia, o de apstolo. Em 1Ts 2,7 Paulo se apresenta, juntamente com seus
colaboradores, como avpo,stoloi tou/ Cristou/ (apstolos de Cristo),
evidenciando a autoridade do seu apostolado, o qual no ocorre por uma sua
12 Cf. BOSCH, Misso transformadora, p. 169.
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iniciativa ou de outra pessoa, mas vem diretamente de Deus: Nem estvamos
procura de elogio dos homens, seja de vocs, seja de outros, embora, como
apstolos de Cristo, pudssemos recorrer nossa autoridade (1Ts 2,6-7a). Diante
deste fato, pode-se presumir o primeiro fundamento teolgico da Misso em
Paulo, onde ele utilizar em suas cartas posteriores o ttulo apstolo, mas no
primeiro escrito neotestamentrio o apostolado algo conhecido e aceito por
todos, tanto que o apstolo Paulo no deve defender-se contra acusaes acerca
da autenticidade da sua misso, mas apenas lembrar os tessalonicenses que
Deus toma a iniciativa de tudo.
b) A Palavra de Deus anunciada
Afinal, o que significa para Paulo ser um dos apstolos de Cristo? Spinetoli13
lembra que o apstolo um encarregado oficial para continuar a obra de
Cristo, do qual o representante autorizado. A sua palavra de Deus (cf. 1Ts
1,62,13) como o evangelho que lhe foi confiado (cf. 1Ts 2,2.4.8-9). Paulo sente-
se como um continuador de Cristo, como um seu delegado que fala em seu
lugar, que O representa nas suas atividades de implantao do Reino de Deus.
O trabalho missionrio de Paulo , portanto, uma ao de Deus na humanidade.
O apstolo nada mais do que um instrumento nas mos de Deus.
Nesta viso teolgica do seu apostolado, Paulo demonstra a sua confiana
de que o prprio Cristo fala nele, colocando-se como um exemplo a ser seguido
pela comunidade: E vocs imitaram o nosso exemplo e o exemplo do Senhor,
acolhendo a Palavra com a alegria do Esprito Santo, apesar de tantas
tribulaes (1Ts 1,6). Em poucas palavras, Paulo tem a convico que tudo
vem de Deus, tanto a palavra anunciada que capaz de operar prodgios na
misso como a iniciativa desta misso divina, atuada por homens.
13 SPINETOLI, O. da. Lettere ai Tessalonicesi, in AA.VV. Le lettere di san Paolo. Alba: San Paolo, 1994, p. 46. Traduo nossa do italiano: LApostolo un incaricato ufficiale per continuare lopera di Cirsto, del quale il reppresentante autorizzato. La sua parola di Dio (1Ts 1,62,13) come il vangelo che gli stato affidato (1Ts 2,2.4.8-9).
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c) A necessidade da misso escatolgica
Como j havia sido dito, a Primeira carta aos Tessalonicenses esboa
alguns elementos que sero ulteriormente desenvolvidos nas grandes cartas
posteriores. Dentre estes temas destaca-se a abertura missionria aos gentios:
O motivo do nosso contnuo agradecimento a Deus este: quando ouviram a
Palavra de Deus que anunciamos, vocs a acolheram no como palavra
humana, mas como ela realmente , como Palavra de Deus, que age com
eficcia em vocs que acreditam (1Ts 2,13). Paulo tem a certeza que a misso
provm de Deus e deve abraar todos os povos, comeando pelos judeus; mas,
diante das dificuldades colocadas pelos judeus em Tessalnica (cf. At 17,5-9),
Paulo acusa seus co-nacionais de uma grande culpa, pois os judeus mataram o
Senhor Jesus e os profetas, e agora nos perseguem. Desagradam a Deus e so
inimigos de todo mundo (1Ts 2,15).
O chamado missionrio deve procurar todas as gentes, convidando para
uma converso em vista da salvao. Enquanto que a converso algo
imediato, um convite que interpela o possvel cristo para rever a sua vida luz
do evangelho, o aspecto escatolgico j presente neste chamado, pois
impossvel um convite missionrio converso momentnea, atuando o Reino
dos cus aqui e agora e deixando de lado o mundo que h de vir. De fato,
Becker14 evidencia que Paulo tem muito claro que os cristo de Tessalnica
formam uma comunidade escatolgica, cujos membros, com a exceo de
alguns que morreram, estaro todos vivos na parusia do Senhor.
Portanto, toda e qualquer misso j escatolgica. Um chamado a viver a
vocao individual na vida prtica, tanto que Paulo d conselhos em 1Ts 4,7.
Becker15 acrescenta: A resposta global gira assim em torno do destino
escatolgico do homem. Sua perspectiva de perdio superada, quando o
evangelho lhe garante um novo destino. Este destino fundamenta-se na morte e
14 BECKER, J. Apstolo Paulo, vida, obra e teologia. So Paulo: Academia Crist, 2007, p. 195. 15 BECKER, Apstolo Paulo, p. 197.
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ressurreio de Cristo, portanto, na histria escatolgica de Cristo, que
determinante para o destino da humanidade, quando se cr no Deus revelado.
d) O vocabulrio da misso
Procurando demonstrar esta origem transcendente da misso que se atua
em meio aos homens, de modo especfico, aqueles presentes na cidade de
Tessalnica, Paulo utiliza um rico vocabulrio baseado em verbos que lembram
os mtodos de apostolado16. Um primeiro grupo de verbos destacam a
atividade do(s) apstolo(s): a principal funo inerente misso lalei/n (falar,
1Ts 1,8; 2,2.4.8), pois atravs da fala humana que os apstolos podem
khru,ssein (anunciar, 1Ts 2,9) a salvao e, de modo especfico, euvaggeli,zesqai
(evangelizar, 1Ts 4,9) os tessalonicenses; porm, o apostolado necessita, alm do
anncio da Palavra de Deus, de gestos concretos por parte dos missionrios,
pois preciso diamartu,resqai (testemunhar, 1Ts 4,9) aquilo que os missionrio
procuram parakalei/n (exortar, 1Ts 2,12; 3,2-7), para que a Palavra anunciada se
transforme em gestos concretos na comunidade tessalonicense; portanto,
tambm os fiis devem demonstrar a vontade de avku,w (escutar, 1Ts 2,13) e
lalei/n (lalein acolher, 1Ts 1,3.8) o anuncio missionrio para a sua prpria
salvao.
Concluso
Como foi evidenciado ao incio deste artigo, o ponto de partida da misso
paulina teocntrico: Deus Pai exerce a sua soberania sobre a criao e escolhe
pessoas (dentre elas o prprio Paulo) para levar a mensagem de salvao do seu
Filho a todas as gentes, iniciando pelos judeus e chegando aos gentios17. Paulo
evidencia este chamado universal salvao em vrios pontos da Primeira carta
escrita jovem comunidade de Tessalnica que possua dvidas acerca da
escatologia: Esta a vontade de Deus: a vossa santificao (1Ts 4,3a) e Deus
16 cf. SPINETOLI, Lettere ai tessalonicesi, p. 47. 17 Cf. SENIOR; STUHLMUELLER, Os fundamentos bblicos da misso, p. 234-242.
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no nos destinou para a ira, mas sim para alcanarmos a salvao, por nosso
Senhor Jesus Cristo (1Ts 5,9).
Ao longo da carta Paulo menciona, atravs de um vocabulrio especfico,
alguns dos principais fundamentos teolgicos da misso, os quais sero
desenvolvidos posteriormente nas demais cartas destinadas s suas
comunidades: a origem divina do seu apostolado, a importncia do anncio da
Palavra de Deus e necessidade da misso, vista a iminente consumao
escatolgica. Deste modo, Panazzolo18 conclui: A finalidade da misso
anunciar, testemunhar a experincia do amor de Deus que se manifesta na
Criao, na Histria e, de modo novo e definitivo, na vida, morte, ressurreio e
glorificao de Jesus, o Redentor da humanidade.
Siglas e abreviaes
DCT Dicionrio Crtico de Teologia DPC Dicionrio de Paulo e suas Cartas
Referncias
BECKER, J. Apstolo Paulo, vida, obra e teologia. So Paulo: Academia Crist, 2007.
BBLIA de Jerusalm: nova edio, revista e ampliada. So Paulo: Paulus, 2012.
BOSCH, D. J. Misso transformadora: mudanas de paradigma na teologia da misso. 3. ed. So Leopoldo: Sinodal, 2002.
HAWTHORNE, G. F.; MARTIN, R. P.; REID, D. G. (orgs). Dicionrio de Paulo e suas cartas. 2. ed. So Paulo: Vida Nova Paulus Loyola, 2008.
LACOSTE, J.-Y. (org.). Dicionrio Crtico de Teologia. So Paulo: Paulinas-Loyola, 2004.
NITROLA, A. Trattato di Escatologia: 1. Spunti per un pensare escatologico. Cinisello Balsamo: San Paolo, 2001
18 PANAZZOLO, Misso para todos, p. 15.
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PANAZZOLO, J. Misso para todos: introduo missiologia. So Paulo: Paulus, 2006.
SENIOR, D.; STUHLMUELLER, C. Os fundamentos bblicos da misso. So Paulo: Paulinas, 1987.
SPINETOLI, O. da. Lettere ai Tessalonicesi, in AA.VV. Le lettere di san Paolo. Alba:
San Paolo, 1994. P. 37-90.
Artigo recebido em 27.05.2014 Artigo aprovado em 26.08.2014