A Diva Devastada

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A Diva Devastada por Alessandro de Paula Estou pensando em deixar-te agora que tuas mamas estão flácidas. Estou querendo partir-te o peito agora que teus passos são mórbidos. Te descuidaste, mulher, e descuidaram de ti. Teus mais de mil amantes não te deram garantia de eternidade gloriosa e florida. Estou pensando na crueldade do abandono, mas cruel estás sendo comigo oferecendo tua visão decadentíssima. Tuas artérias e tuas veias mal transportam o sangue, impuríssimo agora. Teu corpo mal-nutrido, sem águas ou encantos, não sustentam mais meus tantos sonhos. Não sou eu o único admirador que sorve o amargo absinto de sua queda. Nem sou eu o primeiro a pensar em abandonar-te sem meu hálito voltar a encontrar o teu. São Paulo, diva devastada, onde se escondeu tua luz? Quando findou tua graça? Antes de eu partir, bebe comigo desta taça, pois nesta noite eu me embriago, sim, e depois me afasto de ti. Mas, apesar de tudo, de todos os seus demônios,

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Poema de Alessandro de Paula.

Transcript of A Diva Devastada

A Diva Devastadapor Alessandro de Paula

Estou pensando em deixar-teagora que tuas mamas esto flcidas.Estou querendo partir-te o peitoagora que teus passos so mrbidos.Te descuidaste, mulher,e descuidaram de ti.Teus mais de mil amantesno te deram garantia de eternidade gloriosae florida.

Estou pensando na crueldade do abandono, mas cruel ests sendo comigooferecendo tua viso decadentssima.Tuas artrias e tuas veias mal transportamo sangue, impurssimo agora.Teu corpo mal-nutrido, sem guas ou encantos,no sustentam mais meus tantos sonhos.No sou eu o nico admiradorque sorve o amargo absinto de sua queda.

Nem sou eu o primeiroa pensar em abandonar-tesem meu hlito voltar a encontrar o teu.So Paulo, diva devastada,onde se escondeu tua luz?Quando findoutua graa?

Antes de eu partir,bebe comigo desta taa, pois nesta noite eu me embriago, sim,e depois me afasto de ti.

Mas, apesar de tudo,de todos os seus demnios,ainda te amo,So Paulo, to febril cidade.