A DIVULGAÇÃO AMBIENTAL DE ACORDO COM A … · Relatório Brundtland, intitulado de Nosso Futuro...

24
A DIVULGAÇÃO AMBIENTAL DE ACORDO COM A ESTRUTURA DA GLOBAL REPORTING INITIATIVE NAS EMPRESAS COTADAS NO PSI20 E NO IBEX35 NOS PERÍODOS 2010 E 2011 Pedro Miguel Batista Pinheiro Professor no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa E-mail: [email protected] Fernando Paulo Marques de Carvalho Professor no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa E-mail: [email protected] Ana Isabel Dias Professora no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa E-mail: [email protected] Marta Sofia Marcelo Canilho E-mail: [email protected] Área Temática: A10) Responsabilidade Social Corporativa Palavras-chave: divulgação, informação ambiental, estruturas de relato, GRI Metodologia de investigação: M1) Analytical/Modelling

Transcript of A DIVULGAÇÃO AMBIENTAL DE ACORDO COM A … · Relatório Brundtland, intitulado de Nosso Futuro...

A DIVULGAÇÃO AMBIENTAL DE ACORDO COM A ESTRUTURA DA

GLOBAL REPORTING INITIATIVE NAS EMPRESAS COTADAS NO PSI20

E NO IBEX35 NOS PERÍODOS 2010 E 2011

Pedro Miguel Batista Pinheiro

Professor no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa

E-mail: [email protected]

Fernando Paulo Marques de Carvalho

Professor no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa

E-mail: [email protected]

Ana Isabel Dias

Professora no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa

E-mail: [email protected]

Marta Sofia Marcelo Canilho

E-mail: [email protected]

Área Temática: A10) Responsabilidade Social Corporativa

Palavras-chave: divulgação, informação ambiental, estruturas de relato, GRI

Metodologia de investigação: M1) Analytical/Modelling

2

A DIVULGAÇÃO AMBIENTAL DE ACORDO COM A ESTRUTURA DA

GLOBAL REPORTING INITIATIVE NAS EMPRESAS COTADAS NO PSI20

E NO IBEX35 NOS PERÍODOS 2010 E 2011

Resumo

Este estudo pretende dar continuidade à investigação sobre a divulgação ambiental voluntária

efectuada por empresas cotadas e relacionar este tipo de divulgação com os factores

explicativos: dimensão, rendibilidade e certificação ambiental. A população do estudo é

constituída pelas entidades cotadas no PSI 20 e IBEX 35 que efectuam divulgação de

informação ambiental de acordo com a estrutura da Global Reporting Initiative.

Para recolha dos dados necessários ao estudo utilizou-se a análise de conteúdo. Analisou-se

então os Relatórios de Sustentabilidade divulgados pelas entidades e os Relatórios & Contas.

Com a análise destes documentos, recolheram-se as variáveis ambientais divulgadas, as quais

foram definidas tendo em conta o preconizado pela GRI. As variáveis explicativas foram

também recolhidas, tendo sido estabelecido que a dimensão seria medida pelo volume de

negócios da empresa, sendo este calculado pela soma das vendas e das prestações de serviços;

a rendibilidade pelo quociente entre o resultado líquido e o total capital próprio (rendibilidade

do capital próprio) e a certificação ambiental seria validada através da existência de

certificação ambiental segundo a ISO 14001 - Environmental management.

Foi efectuada uma análise univariada para caracterização da divulgação de informação

ambiental efectuada e uma análise bivariada para testar as hipóteses de investigação definidas

que relacionam o índice de divulgação de informação com as variáveis explicativas.

.

3

1 - Introdução

A divulgação da informação no que respeita a matérias ambientais, tem vindo a ganhar

crescente importância no mundo empresarial devido à crescente necessidade e

obrigatoriedade que este tem na participação e intervenção nos acontecimentos ecológicos.

Pode dizer-se que em prol do desenvolvimento sustentável, a legislação ambiental é cada vez

mais rigorosa, impondo a indivíduos e a pessoas colectivas a responsabilização por acções

incompatíveis com a preservação do meio-ambiente.

Com estas alterações culturais, o relato empresarial não foi excepção, uma vez que passou a

ser exigido às empresas, por parte dos stakeholders, uma atitude ambientalmente responsável.

A concretização do Protocolo de Quioto, em 1997, representou uma alteração significativa

por parte da comunidade internacional em geral, perante a problemática de gerir um bem

colectivo, o meio-ambiente.

De acordo com Kolk (2005), a divulgação da informação ambiental teve o seu “boom” na

década de 70, quando um determinado número de empresas dos E.U.A. e da Europa Ocidental

decide adoptar práticas da então chamada Contabilidade e Relato social.

De acordo com Albuquerque et al (2011c), as culturas são realmente importantes no que toca

à implementação de regras contabilísticas e no tipo de divulgação de informação que é

efectuada, o que inclui a divulgação das questões ambientais.

A divulgação da informação ambiental, surge então pelo facto das empresas identificarem a

necessidade de implementar preceitos de sustentabilidade na sua própria gestão, de forma a

identificarem e darem a conhecer às partes interessadas, uma potencial vantagem

concorrencial. Contudo, no que concerne à divulgação de informação (e de qualquer tipo de

informação), hoje em dia o problema não é tanto a falta de informação, mas sim o tipo de

informação que é publicada e dada a conhecer aos stakeholders de uma entidade. É necessário

atribuir valor às várias fontes e seleccionar a informação que será útil ao utente em questão. A

divulgação da informação ambiental pode ser efectuada de várias formas: através do Relatório

e Contas, num relatório separado do Relatório e Contas (relatórios ambientais, relatórios de

sustentabilidade), através de sites da Internet, de Newsletters, etc.

De acordo com a GRI (2006), elaborar relatórios de sustentabilidade é a prática de medir,

divulgar e prestar contas às partes interessadas, tendo este de descrever os impactes

4

económicos, ambientais e sociais, também conhecida como a Triple Bottom Line de uma

organização.

Assim, este artigo irá em primeiro lugar expor o enquadramento teórico que levou à

concretização do estudo. Neste ponto, irá expor uma breve introdução à responsabilidade

empresarial no que respeita à divulgação de informação ambiental, a evolução que se tem

verificado na divulgação de informação, nomeadamente na atitude de divulgação obrigatória

versus divulgação voluntária e ainda, no seguimento da adesão das entidades à divulgação

voluntária de informação, as estruturas que têm surgido de forma a tornar este tipo de

informação útil para os utentes, comparável, fiável e compreensiva. Pretende-se então

demonstrar que a divulgação de informação ambiental, na óptica da divulgação de informação

voluntária, tem sido a estratégia das entidades para satisfazerem as necessidades dos seus

utentes.

Em segundo lugar, expõe-se a metodologia utilizada no estudo empírico realizado, o qual será

apresentado numa quarta parte do presente artigo. Finalmente, apresentam-se as conclusões

retiradas.

2 - Enquadramento teórico

2.1 – A responsabilidade empresarial e o meio-ambiente

A Conferência das Nações Unidas para o Meio-Ambiente, realizada em 1972, em Estocolmo,

foi a primeira grande iniciativa mundial para tentar organizar as relações entre o Homem e o

meio ambiente. Segundo Moreira (2009), foi a partir das décadas de 80 e 90 do século XX

que as comunidades passaram a exigir mais atitudes sustentáveis por parte das empresas, pelo

que as questões ambientais ganharam importância na agenda internacional. Segundo Gray e

Bebbington (2001), a gestão ambiental nas empresas, até aos anos 90, assumia um carácter

«adhoc», variando a sua regulamentação de país para país, mas «não sendo considerada uma

área estratégica da empresa, nem fazendo parte das questões chave da gestão.

Em 1987, a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, apresenta o

Relatório Brundtland, intitulado de Nosso Futuro Comum, onde o termo desenvolvimento

sustentável é pela primeira vez citado, como sendo «aquele que satisfaz as necessidades do

presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias

necessidades». Já em 1992, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio

Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), chamada também de ECO-92, com o intuito de

5

encontrar meios que permitissem conciliar o desenvolvimento sócio-económico com a

preservação e protecção dos ecossistemas da Terra, exigindo um equilíbrio entre três pilares,

sendo eles: os pilares económico, social e ambiental.

Com esta perspectiva, embora se entenda que o objectivo das empresas é a obtenção de lucro,

estas devem ao mesmo tempo contribuir para o cumprimento de objectivos ambientais, sejam

eles uma meta da própria entidade ou impostos por uma autoridade governamental, incluindo-

os na sua estratégia empresarial, nos seus instrumentos de gestão e nas suas operações (Dias e

Quirós, 2010). Duarte (2007) refere que a preocupação ambiental deve ser encarada pelas

empresas como uma oportunidade e não como uma ameaça, uma vez que aumenta a

competitividade entre as mesmas.

Porter e Van der Linde (1995) e Veber et al (2000) afirmam que a melhoria do desempenho

ambiental é uma potencial fonte de vantagens competitivas, sem prejuízo da criação de valor.

Segundo o Livro Verde (2001), emitido no seio da União Europeia, embora o objectivo

principal das empresas seja a obtenção de lucro, as empresas podem integrar a

responsabilidade social como um investimento táctico da empresa, quer seja na sua estratégia

empresarial ou como um instrumento de gestão dentro das suas operações. A melhoria do

desempenho ambiental é importante na medida em que os impactes ambientais negativos

estão relacionados com a actividade operacional da entidade, nomeadamente no que concerne

ao elevado consumo de recursos naturais como aos resíduos da produção que são “lançados”

para o meio ambiente. Assim, pode verificar-se uma melhoria do desempenho ambiental

contribui para o desenvolvimento da actividade operacional da entidade.

O comportamento empresarial face ao meio envolvente é analisado pelos vários stakeholders

da entidade, nas vertentes social (relação com a comunidade e respeito pela cultura

envolvente) e ambiental (preservação e prevenção). O Livro Verde (2001) refere que, embora

a responsabilidade social das empresas só possa ser assumida pelas próprias, as partes

interessadas podem desempenhar «um papel decisivo ao incentivarem as empresas a adoptar

práticas socialmente responsáveis em domínios como as condições de trabalho, o meio

ambiente ou os direitos humanos».

Alguns factores são enumerados por Duarte et al (2012) que contribuíram para a evolução

positiva das empresas no que diz respeito à sua responsabilidade social: as preocupações e

expectativas dos consumidores, dos investidores e dos cidadãos em geral, os fortes critérios

sociais influentes nas decisões empresariais, a crescente preocupação das empresas pelos

6

danos que provocam no meio ambiente e a transparência gerada nas atividades empresariais

(devido às tecnologias de informação e de comunicação).

Caseirão (2012) refere ainda que, tal como a qualidade, também a responsabilidade social

deve ser integrada na gestão estratégica da organização, sendo importante considerar que

aquela deve ser abordada de uma forma multifacetada. Face ao exposto poder-se-á verificar

que diversos autores (Duarte et al, 2012; Caseirão, 2012; Domingos, 2010; Dias e Quirós,

2010) consideram que a responsabilidade social das empresas não depende somente destas

mas também dos indivíduos que as integram e que com elas interagem.

2.2 – A divulgação de informação ambiental

2.2.1 – A necessidade da divulgação de informação ambiental

A responsabilidade social das empresas passa por contribuir para uma sociedade mais justa e

para um ambiente mais limpo (Livro Verde, 2001). De acordo com esta mesma publicação, a

responsabilidade social das empresas é descrita pela maioria das definições como sendo «uma

integração voluntária de preocupações sociais e ambientais por parte das empresas nas suas

operações e na sua interacção com outras partes interessadas».

A tendência para as empresas divulgarem a informação apenas aos seus detentores do capital

e financiadores está ultrapassada assim como a divulgação da informação cujo único

objectivo é o incremento de benefícios seguindo todos os princípios legais e éticos. Inclusivé,

em termos de organismos emissores de normas de relato financeiro como o IASB, a alteração

à Estrutura Conceptual introduziu conceitos e teminologias que alteram essa ideia

ultrapassada da informação ser apenas para os accionistas e financiadores.

Na divulgação da informação ambiental, a entidade pode deparar-se com duas realidades: a

obrigação de divulgar essa informação ou a escolha de divulgar a informação (divulgação

voluntária quando efectuada.

A avaliação às empresas efectuada pelos utentes da informação é cada vez mais um conjunto

de componentes que vai além dos indicadores económicos, englobando também os padrões

sociais (relação com a comunidade e respeito pela cultura envolvente) e ambientais

(preservação e prevenção). Nesta óptica é fácil de verificar que, a divulgação obrigatória da

informação pode não estar a dar respostas que são exigidos pelos stakeholders.

As várias teorias que têm surgido (entre outras, teoria institucional, teoria da agência, teoria

da legitimidade, teoria dos stakeholders, teoria dos custos políticos, teoria dos custos de

7

propriedade, teoria da sinalização) apontam para que a satisfação exclusiva dos interesses dos

detentores do capital é uma decisão de curto prazo, necessitando o meio empresarial de se

actualizar e definir estratégias que procurem a sustentabilidade nas suas operações, tentando

assim satisfazer os vários utentes da informação. Entre as teorias mencionadas, são a teoria da

legitimidade e a teoria dos stakeholders as que mais se destacam no contexto da investigação

sobre divulgação de informação social e ambiental.

O ISAR define divulgação ambiental, na sua publicação “Guidance on Accounting and

Financial Reporting for Environmental Costs and Liabilities” como um termo comummente

utilizado para descrever a divulgação efectuada por uma entidade relativamente a determinada

informação ambiental, seja ela auditada ou não.

O relato de informação ambiental pode então ser efectuado através de alguns diferentes

canais, nomeadamente através: do Relatório e Contas, de um relatório ambiental separado do

Relatório e Contas, de Relatórios de Sustentabilidade, de um site na internet, contendo uma

informação ambiental, ou outros, tais como, newsletters ou publicidade.

De acordo com o estudo elaborado em 2006, pela KPMG Portugal, os meios mais

recorrentemente utilizados para a divulgação «são os relatórios independentes do Relatório e

Contas (61%), a inclusão de um capítulo específico no Relatório e Contas (31%) e o website

da organização (8%)». (KPMG, 2006)

A divulgação da informação ambiental, surge então pelo facto das empresas identificarem a

necessidade de implementar preceitos de sustentabilidade na sua própria gestão, de forma a

identificarem e darem a conhecer às partes interessadas, uma potencial vantagem

concorrencial.

2.2.2 – A divulgação voluntária de informação ambiental

Como já foi exposto, a divulgação da informação ambiental pode ser efectuada por meio de

legislação, ou seja, através da imposição às entidades da sua divulgação (divulgação de

informação ambiental obtigatória) ou pode ser efectuada por iniciativa da própria entidade

que reconhece a sua responsabilidade social e encara-a como uma possível vantagem

competitiva. Meek, Roberts e Gray (1995), definem informação voluntária como uma

informação excessiva, divulgada por vontade da administração, em prol de satisfazer melhor

as necessidades dos utilizadores do relatório anual. Depoers (2000) efectua a sua definição de

informação voluntária em função do utilizador, referindo que as demonstrações financeiras

8

das entidades centram-se exclusivamente em divulgar informação aos detentores do capital,

pois considera-os como os destinatários por excelência de tal informação. Deste modo, refere-

se à informação voluntária como toda aquela que ultrapassa a informação obrigatória

divulgada aos accionistas, independentemente da sua natureza e meio de transmissão.

Como já foi referido, são vários os meios de divulgação da informação à disposição da

entidade, por exemplo, o Relatório e Contas, um relatório separado do Relatório e Contas, um

website. Eugénio (2007) aponta para década de 90 o momento em que os relatórios sociais e

ambientais suscitaram maior interesse e que o número de «empresas que começaram a

divulgar informação desta natureza cresceu significativamente».

Dos vários canais utilizados pelas organizações para procederem à divulgação de informação

não financeira, os relatórios de sustentabilidade são os mais utilizados no que diz respeito ao

relato da informação económica, ambiental e social. A finalidade destes relatórios deve

centrar-se em incrementar a transparência, a democracia da divulgação da informação para os

grupos interessados e o comportamento sustentável empresarial (Hess, 2008 citado por

Lizcano, 2009). Contudo, deve ser tido em conta que estes relatórios de divulgação da

informação sustentável podem ser utilizados pelas organizações com a finalidade de

manipular a percepção que a sociedade envolvente àquela tem sobre a legitimidade da

organização, ou ser dirigido a gerir as relações com um grupo concreto de stakeholders (Cho

e Patten, 2007; Carqués, 2007; Neu et al, 1998; Prado et al, 2009 citados por Lizcano et al,

2009). No entanto, a qualidade do relatório de sustentabilidade é significativamente influente

na reacção do mercado. Silva et al (2012) referem que empresas com relatórios de

sustentabilidade com maior qualidade obtêm reacções mais favoráveis no mercado, face a

empresas que apresentam relatórios de sustentabilidade de qualidade inferior. Note-se, no

entanto, que a qualidade da informação não está determinada. Carvalho e Quirós (2008)

referem que o conceito de qualidade da divulgação pode ser definido de uma forma muito

variada, o que sugere o seu carácter complexo e multifacetado. Não obstante, através de

publicações de Relatórios de Sustentabilidade, na elaboração de um relatório com informação

ambiental (e social), torna-se mais fácil para a empresa identificar problemas e oportunidades,

conseguindo assim reduzir gastos e desperdícios e, ao mesmo tempo, rever os processos

adoptados pela empresa (Gasparino e Ribeiro, 2007).

Os Relatórios de Sustentabilidade podem então ser descritos como uma descrição

quantitativa/qualitativa de feitos, dados ou motivos do resultado obtido pela organização sob

9

o ponto de vista da TBL (Triple Bottom Line), onde se reconhecem as perspectivas

económicas, ambiental e social (Lizcano et al, 2009).

No entanto, a complexidade inerente à definição de normas globais que possam ser aplicadas

a qualquer cultura e país gerou grande controvérsia (Livro Verde, 2001). Antecipando estas

necessidades, vários foram os organismos que desenvolveram estruturas para a divulgação de

informação voluntária. No início da década de 1990, a ISO observou a necessidade de

desenvolver normas que abordassem as questões ambientais, pelo que em 1993, foi

desenvolvida a ISO 14000, que estabelece diretrizes relacionadas com a gestão ambiental,

dando assim origem, em 1996, à publicação da norma mais conhecida da série, a ISO 14001,

que desenvolve um sistema de gestão ambiental.

O European Eco-Management and Audit Scheme (EMAS) é um instrumento de gestão

ambiental voluntário, que foi desenvolvido em 1993 pela Comissão Europeia, e permite que

às organizações uma avaliação, gestão e melhoria contínua do seu desempenho ambiental. O

EMAS é aplicável globalmente a todos os tipos de organizações públicas e privadas. Uma

análise aos efeitos da mostrou que as empresas que adoptam o EMAS são mais inovadoras e

competitivas se o departamento de I&D estiver envolvido no desenvolvimento do EMAS

(Rennings et al 2003).

A Global Reporting Initiative (GRI) tem vindo, desde a sua criação, a ganhar bastante

importância no que diz respeito à divulgação de informação voluntária. Criada através de um

acordo internacional, entre a associação CERES (Coalition for Environmentally Responsible

Economies) e a UNEP (United Nations Environment Programme), desde 2002 que esta

organização é líder no que diz respeito a programas de divulgação voluntária dentro da

responsabilidade empresarial (Trebucq et al, 2008), o que se demonstrou em 2006 na reunião

anual da GRI, onde se evidenciou o reconhecimento da marca, de prestígio e de influência.

Ao longo dos anos a GRI tem reestruturado as suas directrizes de forma a satisfazer as

necessidades dos que retiram proveito do seu trabalho. Apenas o tempo irá dizer se o relato da

responsabilidade empresarial será integrado no relatório e contas anual (como no Brasil,

Suiça, África do Sul, França, Noruega, Austrália e outros) ou se será prática a elaboração de

um relatório separado (como o Relatório de Sustentabilidade). KPMG (2008) refere que a

regulamentação potencial aliada à tendência dos stakeholders em exigir uma melhor

divulgação da informação social e ambiental, pode estimular a integração desta informação no

relato obrigatório.

10

2.3 – A divulgação de informação ambiental de acordo com a GRI

Nas directrizes da GRI (2006) é referido que o conceito de sustentabilidade é articulado, de

forma mais clara, na área ambiental em termos dos limites globais para a utilização de

recursos e para os níveis de poluição. Surge em Março de 2011, a atualização finalizada da

terceira geração de Diretrizes para elaboração do Relatório de Sustentabilidade, o G3.1, sendo

este considerado como a orientação de relatórios de sustentabilidade mais abrangente

disponível hoje em dia. Esta atualização inclui orientações para informações sobre os direitos

humanos, os impactos sobre a comunidade local e de género. Atualmente já se encontram

publicadas as novas directrizes, o G4. Estas novas directrizes, para a elaboração de relatórios

dividem-se em três categorias: económico, ambiental e social. No que respeita à categoria

ambiental, esta representa em 12 aspectos, os quais se subdividem em 34 indicadores.

Conforme referido pela GRI (2011) os indicadores de desempenho são «informações

qualitativas ou quantitativas sobre consequências ou resultados associados à organização que

sejam comparáveis e demonstrem mudança ao longo do tempo». Podemos distingui-los em

indicadores essenciais ou adicionais, sendo os essenciais aqueles que são geralmente

aplicáveis e relevantes para a maioria das organizações e que deverão ser apresentados no

relatório, exceto no caso de este não ser elaborado com base nos princípios da GRI. Os

indicadores adicionais são aqueles que podem ser aplicáveis por algumas organizações mas

não pela maioria.

No que respeita a estudos prévios relacionando a divulgação ambiental efectuada de acordo

com as Directrizes da GRI, são vários os que se podem enumerar, quase sempre incidindo

sobre empresas cotadas.

Moneva e Llena (2000) analisaram as práticas de divulgação ambiental nos relatórios anuais,

baseando-se na teoria dos stakeholders e a sua evolução, no período de 1992 a 1994, em

empresas cotadas no IBEX35, e inseridas num setor de atividade considerado sensível ao

meio ambiente. O resultado obtido no estudo sugere que em Espanha há uma aplicação

limitada destas recomendações por parte de empresas a nível voluntário e narrativa, bem

como um aumento, ainda que leve, de incorporação, de dados financeiros.

Rodrigues, Oliveira e Menezes (2002) avaliaram o nível de relato financeiro do desempenho

ambiental de todas as empresas cotadas na Bolsa de Valores de Lisboa, em 2000. Para tal,

analisaram todos os relatórios e contas, chegando à conclusão de que as empresas revelam

inconsistências no reconhecimento e divulgação das matérias ambientais, consequência da

11

falta de normas contabilísticas suficientes. Apesar de em Portugal, o relato ambiental ser um

tema ainda em desenvolvimento, puderam concluir que existem empresas que já apresentam

relatórios dedicados exclusivamente à temática ambiental.

Gallego (2006) tenta verificar empiricamente como determinadas empresas espanholas

apresentam a sua informação económica, social e ambiental, isto é, como elas usam os

indicadores propostos pela GRI, que são aceites em todos os países e como esta informação

pode afectar o desenvolvimento sustentável. Foram escolhidas determinadas empresas

pertencentes a diferentes sectores de actividade, nomeadamente: financeiro e segurador,

indústria transformadora, transportes e comunicação, energia e água, deixando para futura

análise outras empresas pertencentes ao IBEX-35. Como resultado final reconhece-se que

existe respeito pela protecção do ambiente e pelo uso prudente dos recursos naturais por parte

das empresas espanholas que divulgam informação relevante que afecta o desenvolvimento

sustentável, como é mostrado pelos indicadores ambientais que elas divulgam.

Em 2007, Carvalho e Siqueira desenvolveram um estudo onde verificaram o grau de

aderência plena dos indicadores essenciais da GRI, bem como o grau de evidenciação efetiva

destes. Para o seu estudo, foram selecionadas empresas situadas em países da América Latina,

excluindo-se as situadas no Brasil, uma vez que já existiam estudos sobre o assunto, limitando

ainda o seu estudo a empresas que possuem um relatório de sustentabilidade e que contenha

no seu índice a GRI, em 2005. Chegaram à conclusão que os índices mais baixos estão

concentrados no grupo de indicadores sociais, sendo o grupo de indicadores económicos o

que apresenta maior média. Comprovaram também que são as empresas que afirmam possuir

um relatório “de acordo com” a GRI as que obtiveram os piores resultados. As empresas

analisadas encontram-se em diferentes estágios de aderência às Diretrizes da GRI.

Dias (2009) pretendeu obter evidência empírica, de uma amostra de 49 empresas cotadas no

Mercado de Cotações Oficiais da Euronext Lisboa em 2005, sobre as práticas e grau de

divulgação referentes à sustentabilidade empresarial, e identificar os indicadores económicos,

ambientais e sociais mais relevantes para cada setor de atividade. Os resultados apurados no

seu estudo sugerem que o relato empresarial da sustentabilidade não é uma prioridade para os

decisores das empresas que constituem a amostra, mas se considerarmos que em Portugal o

processo de comunicação empresarial de informações éticas, económicas, ambientais e sociais

é essencialmente voluntário, estes resultados podem considerar-se positivos.

12

Domingos, Carvalho e Duarte (2010) analisaram a evolução do grau de divulgação segundo a

estrutura da GRI, de empresas do Euronext de Lisboa, nos anos de 2006 e 2007. Estes

concluíram que há uma importância do desempenho social na divulgação voluntária da

informação e um baixo valor do desempenho económico ao facto daqueles poderem já ser

divulgados na informação financeira obrigatória.

2.4 – Os factores explicativos da divulgação de informação

A identificação de necessidades da empresa como forma de transmitir uma imagem

ambientalmente responsável aos vários stakeholders, e utilizando a divulgação de informação

voluntária como vantagem competitiva, são já vários os estudos que tentam identificar as

principais motivações e influências da empresa para que estas procedam a uma melhor e/ou

maior divulgação de informação ambiental. Monteiro (2007), Carvalho e Quirós (2008), Dias

(2009) e Domingos (2010) identificam como potenciais determinantes da divulgação

ambiental as variáveis mais comummente testadas em estudos empíricos realizados a nível

internacional – sector, tamanho e rentabilidade, bem como outras adicionais, designadamente,

capitalização bolsista, controlo do capital social e certificação ambiental.

De seguida serão apenas expostos os factores explicativos relacionados com o nível de

divulgação ambiental utilizados neste estudo.

Dimensão

A grande maioria dos autores é da opinião que existe uma relação entre a dimensão e o nível

de divulgação da empresa, na qual uma empresa com uma maior dimensão tende a ter um

nível de divulgação maior (Deegan e Gordon, 1996; 1998; Moneva e Llena 2000; Archel,

2003; Monteiro, 2007; Archel, Fernández e Larrinaga, 2008)

A dimensão da empresa pode ser medida por vários indicadores, nomeadamente: pelo número

de empregados, pelo volume de negócios ou pelo activo total (logaritmizado ou não). A

generalidade dos autores opta pelo total de activos para medir a dimensão da empresa (Archel,

2003; Hassan, 2004; Monteiro, 2007; Lopes e Rodrigues, 2007; Branco e Rodrigues, 2008)

Alguns outros autores como Deegan e Gordon (1996) adoptaram o volume de negócios como

variável para medir a dimensão da empresa.

Rendibilidade

Meek et al (1995) apontam a divulgação de informação voluntária como um meio das

empresas com maior rendibilidade se diferenciarem das empresas menos rentáveis, com o fim

13

de angariarem capital sobre o melhor disponível. Hassan (2004) refere que esta conclusão

pode ser suportada pelo facto daquelas entidades estarem mais expostas a elevados custos

políticos, logo empresas com maior rentabilidade estarão também mais susceptíveis de

fornecer informação de qualidade superior.

Pelo contrário, Domingos (2010), Monteiro (2007) e Moneva e Llena (1996) concluem que a

rendibilidade é um factor de pouca influência face ao grau de divulgação voluntária de

informação, pois não conseguem provar existir empiricamente uma relação directa entre a

rendibilidade de uma empresa e o nível de divulgação voluntária desta, o que pode sugerir que

existe uma falta de interesse por parte da gerência, independentemente da sua situação

económico-financeira. Lang e Lundholm (1993) apesar de não concluírem que não existe uma

relação significativa entre o nível de divulgação e o desempenho de uma entidade,

mencionam que poderá haver excepções. Archel (2003) e Branco e Rodrigues (2008) referem

que a rentabilidade não é um factor significativo da divulgação voluntária.

Certificação ambiental

A certificação ambiental a uma entidade permite evidenciar que essa dispõe de um sistema de

gestão ambiental em conformidade com uma norma, sendo assim demonstrado que a entidade

desenvolve os seus processos de gestão ambiental de acordo com determinados critérios pré-

estabelecidos. Em Portugal, são aplicáveis duas normas de sistemas de gestão do ambiente1:

- As normas de série ISO 14000, constituída por um conjunto de documentos relacionados

com sistemas de gestão ambiental e outros documentos relacionados com ferramentas de

apoio à gestão ambiental. Estas normas requerem apenas que a organização se comprometa

a procurar melhorar continuamente o seu desempenho e inclua um compromisso de

cumprimento de legislação e outros regulamentos aplicáveis na sua política ambiental.

- O Regulamento Comunitário de Auditoria e Ecogestão (EMAS), que é um sistema em

que podem participar de forma voluntária organizações que desenvolvem actividades

industriais, para avaliar e melhorar de modo continuado os impactes dessas actividades e

informar o público sobre o comportamento e progressos das instalações em termos de

ambiente. O EMAS requer que as empresas estabeleçam e implementem sistemas de

gestão ambiental eficazes incluindo, entre outras coisas, uma política ambiental,

objectivos, e programas ambientais e que forneçam informação acerca do seu desempenho

ambiental ao público (a declaração ambiental).

1 Disponível em http://www.iapmei.pt/iapmei-art-03.php?id=330, consultado em 3 de Julho de 2013.

14

De acordo com o site consultado do IPMEI, o número de pequenas e médias empresas com

sistemas de gestão ambiental certificados pela ISO 14001 ou registados no EMAS, tem vindo

a crescer nos últimos anos na União Europeia, em reconhecimento dos benefícios alcançados.

Archel e Lizarraga (2001), mencionam a adopção de sistemas de gestão como factor

explicativo da evolução positiva do índice de divulgação ambiental. O interesse em divulgar

os melhores rendimentos, alcançados pela adopção desses certificados, é realçado na

divulgação dessa informação nos relatórios. Os testes efectuados por Monteiro (2007)

revelam que empresas certificadas apresentam um maior Índice de Divulgação Ambiental.

3 – Metodologia

O objetivo da investigação consiste na análise do grau de divulgação voluntária do

desempenho ambiental das empresas cotadas no PSI20 e no IBEX35, nos anos de 2010 e

2011, tendo por base os indicadores de desempenho ambiental da GRI.

A amostra compreende todas as entidades do PSI20 e do IBEX35 com excepção das empresas

que não divulgaram informação ambiental baseada na GRI, perfazendo assim um total de 41

empresas em 2010 (11 pertencentes ao PSI20 e 30 pertencentes ao IBEX35) e um total de 42

empresas em 2011 (11 pertencentes ao PSI20 e 31 pertencentes ao IBEX35).

A pesquisa iniciou-se com um estudo exploratório da literatura existente, com a finalidade de

se obterem informações relevantes sobre o objeto do estudo.

Posteriormente, dos relatórios e contas e relatórios de sustentabilidade, quando disponíveis,

foi recolhida toda a informação necessária para corporizar os objetivos do estudo.

As variáveis ambientais foram recolhidas de acordo com uma classificação dicotómica, pelo

que o valor “0” (zero) é utilizado quando a informação não é divulgada e o valor “1” (um)

quando é divulgada. Nos casos em que as entidades referem um indicador como sendo “Não

Aplicável”, foi utilizado o valor “1” dado que se considerou que este facto se consubstanciava

na divulgação de informação. Com esta técnica, pretende-se medir o desempenho ambiental

da população em estudo, pelo que se optou pelo cálculo de um índice de divulgação, o qual

transforma a informação qualitativa (recolhida dos relatórios de sustentabilidade) em

informação quantitativa, permitindo assim a análise da informação divulgada através de um

indicador quantitativo:

15

Relativamente aos fatores a analisar que possam ser mediadores do nível de divulgação de

informação ambiental serão utilizados: a rendibilidade, a dimensão e a certificação ambiental.

O factor “rendibilidade” será medido através do quociente entre o resultado líquido e o total

capital próprio, o que se denomina por rendibilidade do capital próprio. O factor “dimensão”

será medido através do volume de negócios da empresa, sendo este calculado pela soma das

vendas e das prestações de serviços. O fator “certificação ambiental” será validado através da

existência de certificação ambiental segundo a ISO 14001 - Environmental management

Procurando ir ao encontro dos objetivos propostos, foram enunciadas seis hipóteses de

investigação, cada uma com duas sub-hipóteses:

H1: Existe uma relação positiva entre a rendibilidade e o nível de divulgação no ano de 2010.

H1.1: Existe uma relação positiva entre a rendibilidade e o nível de divulgação no ano de 2010, em

Portugal.

H1.2: Existe uma relação positiva entre a rendibilidade e o nível de divulgação no ano de 2010, em

Espanha.

H2: Existe uma relação positiva entre a rendibilidade e o nível de divulgação no ano de 2011.

H2.1: Existe uma relação positiva entre a rendibilidade e o nível de divulgação no ano de 2011, em

Portugal.

H2.2: Existe uma relação positiva entre a rendibilidade e o nível de divulgação no ano de 2011, em

Espanha.

H3: Existe uma relação positiva entre a dimensão e o nível de divulgação no ano de 2010.

H3.1: Existe uma relação positiva entre a dimensão e o nível de divulgação no ano de 2010, em Portugal.

H3.2: Existe uma relação positiva entre a dimensão e o nível de divulgação no ano de 2010, em Espanha.

H4: Existe uma relação positiva entre a dimensão e o nível de divulgação no ano de 2011.

H4.1: Existe uma relação positiva entre a dimensão e o nível de divulgação no ano de 2011, em Portugal.

H4.2: Existe uma relação positiva entre a dimensão e o nível de divulgação no ano de 2011, em Espanha.

H5: Existe uma relação positiva entre a existência de certificação ambiental e o nível de divulgação no ano de

2010.

H5.1: Existe uma relação positiva entre a existência de certificação ambiental e o nível de divulgação no

ano de 2010, em Portugal.

H5.2: Existe uma relação positiva entre a existência de certificação ambiental e o nível de divulgação no

ano de 2010, em Espanha.

H6: Existe uma relação positiva entre a existência de certificação ambiental e o nível de divulgação no ano de

2011.

H6.1: Existe uma relação positiva entre a existência de certificação ambiental e o nível de divulgação no

ano de 2011, em Portugal.

H6.2: Existe uma relação positiva entre a existência de certificação ambiental e o nível de divulgação no

ano de 2011, em Espanha.

16

Ao nível da evidência empírica, ao analisar os relatórios anuais e os relatórios de

sustentabilidade, quando disponíveis, das empresas pertencentes ao PSI20 e ao IBEX35, nos

anos de 2010 e 2011, foi efetuada uma análise univariada e bivariada aos dados recolhidos.

4 – Estudo Empírico

4.1 – Análise univariada das variáveis ambientais

Em primeiro, e com intuito de dar a conhecer o peso relativo das empresas que adotam o

modelo GRI no relato da sua sustentabilidade, o Gráfico 1.1 demonstra a existência um

número bastante superior de empresas (em termos relativos aproximadamente 90%)

pertencentes ao IBEX35 que utilizam o modelo GRI, quando comparado com as empresas

pertencentes ao PSI20 (55%). Esta realidade verifica-se em qualquer dos anos em análise.

Gráfico 1.1 Percentagem de empresas que utilizam o GRI

Das entidades que aplicam as directrizes do GRI, e portanto divulgam informação ambiental

de forma voluntária, de forma a verificar o nível de adopção daquelas, será agora abordada a

tipologia de divulgação ambiental efetuada pelas empresas que adoptam o referencial

mencionado.

Efectuando uma análise por aspecto para o ano de 2010 (Gráficos 2.1 e 2.2), em Portugal, os

dois aspectos mais divulgados são o aspecto “Energia” (95%) e o aspecto “Materiais” (95%),

sendo o aspecto “Transportes” (82%) o menos divulgado. Para o mesmo ano em Espanha, os

aspectos“Materiais” (97%) e “Conformidade” (97%) são os mais divulgados, enquanto que os

aspectos “Biodiversidade” (71%), “Transportes” (72%) e “Geral” (72%) são os menos

divulgados. Note-se a semelhança na percentagem de divulgação do aspecto “Materiais”.

Gráfico 2.1 – Divulgação por aspecto em Portugal Gráfico 2.2 – Divulgação por aspecto em Espanha

17

Na mesma análise por aspecto, para o ano 2011 (Gráficos 2.3 e 2.4), em Portugal os dois

aspetos mais divulgados pelas empresas em estudo são “Conformidade” (91%) e “Geral”

(91%), sendo o aspeto “Transportes” (64%) o menos divulgado por parte das mesmas, tal

como em 2010. Em Espanha, em 2011, verifica-se um maior nível de divulgação no aspeto

“Conformidade” (100%), enquanto que o aspeto “Transportes” (66%) foi novamente o menos

divulgado pelas empresas em análise.

Gráfico 2.3 – Divulgação por aspecto em Portugal Gráfico 2.4 – Divulgação por aspecto em Espanha

Para efeitos do cálculo do Índice de divulgação ambiental foram tidos em conta, os trinta

indicadores ambientais. Assim, os valores dos índices de divulgação ambiental para cada ano

e país são conforme abaixo se apresentam.

Quadro 1.1 Índice de Divulgação Ambiental

Conforme seria expetável, após a análise descritiva efetuada anteriormente, os valores dos

índices de divulgação em cada um dos anos em análise não sofre uma variação significativa

nem difere entre ambos os países em estudo. Assim, as entidades que integram o PSI20 e o

IBEX 35 divulgam em média 25 em 30 indicadores ambientais passíveis de ser divulgados.

4.2 – Análise bivariada – Correlação de Spearman

Com o objetivo de responder às hipóteses de investigação já mencionadas anteriormente,

procedeu-se à análise bivariada dos dados com o fim de melhor compreender a relação entre o

nível de divulgação e os fatores tido como relevantes para explicar a variação do índice de

divulgação de informação de natureza ambiental. Para todas as hipóteses foi utilizado o teste

de Spearman.

2010 2011

Portugal 27 25

Espanha 25 25

18

No que se refere ao teste de H1: Existe uma relação positiva entre a rendibilidade e o nível de

divulgação no ano de 2010 (em Portugal e Espanha), verifica-se que não existe qualquer

resultado estatisticamente significativo (Quadro 2.1).

Quadro 2.1. - Correlação entre o nível de divulgação e a RCP no ano de 2010

Correlations

H 1.1

Portugal RCP

Spearman's rho Idiv Correlation Coefficient -,277

Sig. (2-tailed) ,410

N 11

H 1.2

Espanha RCP

Spearman's rho IDiv Correlation Coefficient ,260

Sig. (2-tailed) ,174

N 29

No que se refere ao teste de H2: Existe uma relação positiva entre a rendibilidade e o nível de

divulgação no ano de 2011 (em Portugal e Espanha), verifica-se que existe, para um nível de

significância de 5%, uma correlação de 0,413 com a rendibilidade no caso das empresas

integrantes do índice bolsista espanhol (Quadro 2.2).

Quadro 2.2. - Correlação entre o nível de divulgação e a RCP no ano de 2011

Correlations

H 2.1

Portugal RCP

Spearman's rho Idiv Correlation Coefficient -,353

Sig. (2-tailed) ,287

N 11

H 2.2

Espanha RCP

Spearman's rho IDiv Correlation Coefficient

,413* Sig. (2-tailed)

N

*. Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).

No que se refere ao teste de H3: Existe uma relação positiva entre a dimensão e o nível de

divulgação no ano de 2010 (em Portugal e Espanha), verifica-se que não existe qualquer

resultado estatisticamente significativo (Quadro 2.3).

Quadro 2.3. - Correlação entre o nível de divulgação e a dimensão no ano de 2010

Correlations

H 3.1

Portugal VN

Spearman's rho Idiv Correlation Coefficient -,437

Sig. (2-tailed) ,207

N 10

H 3.2

Espanha VN

Spearman's rho IDiv Correlation Coefficient ,139

Sig. (2-tailed) ,472

N 29

19

No que se refere ao teste de H4: Existe uma relação positiva entre a dimensão e o nível de

divulgação no ano de 2011 (em Portugal e Espanha), verifica-se que não existe qualquer

resultado estatisticamente significativo (Quadro 2.4).

Quadro 2.4. - Correlação entre o nível de divulgação e a dimensão no ano de 2011

Correlations

H 4.1

Portugal VN

Spearman's rho Idiv Correlation Coefficient ,055

Sig. (2-tailed) ,879

N 10

H 4.2

Espanha VN

Spearman's rho IDiv Correlation Coefficient ,235

Sig. (2-tailed) ,219

N 29

No que se refere ao teste de H5: Existe uma relação positiva entre a certificação ambiental e

o nível de divulgação no ano de 2010 (em Portugal e Espanha), verifica-se que não existe

qualquer resultado estatisticamente significativo (Quadro 2.5).

Quadro 2.5. - Correlação entre o nível de divulgação e a certificação ambiental no ano de 2010

Correlations

H 5.1

Portugal ISO14001

Spearman's rho Idiv Correlation Coefficient -,345

Sig. (2-tailed) ,298

N 11

H 5.2

Espanha ISO14001

Spearman's rho Idiv Correlation Coefficient ,235

Sig. (2-tailed) ,219

N 29

No que se refere ao teste de H6: Existe uma relação positiva entre a certificação ambiental e

o nível de divulgação no ano de 2011 (em Portugal e Espanha), verifica-se que não existe

qualquer resultado estatisticamente significativo (Quadro 2.6).

Quadro 2.6. - Correlação entre o nível de divulgação e a certificação ambiental no ano de 2011

Correlations

H 6.1

Portugal ISO14001

Spearman's rho Idiv Correlation Coefficient -,535

Sig. (2-tailed) ,090

N 11

H 6.2

Espanha ISO14001

Spearman's rho Idiv Correlation Coefficient -,330

Sig. (2-tailed) ,081

N 29

Conforme se pode verificar apenas uma hipótese foi verificada, ainda que parcialmente, dado

que somente a sub-hipótese H 2.2: Existe uma relação positiva entre a rendibilidade e o nível

de divulgação no ano de 2011, em Espanha foi validada. As restantes hipóteses, dado não

20

existir evidência estatística acerca da relação entre as variáveis, não permitem concluir uma

relação causa-efeito entre as mesmas.

Estes resultadoss permitem-nos concluir que, para os anos 2010 e 2011, não se verificou uma

relação entre a divulgação de informação ambiental e variáveis inerentes à entidade que

poderiam explicar o nível dessa divulgaçao, como sejam, a rendibilidade, a dimensão e a

certificação ambiental (obtida ou não).

5 – Conclusão

A já assumida crescente preocupação com as matérias ambientais e a responsabilidade social

por parte das empresas, tem vindo a aumentar o nível de divulgação de informação voluntária,

tendo como objetivo informar todos os stakeholders da imagem verdadeira e apropriada da

empresa, e com isso ganhar competitividade no universo empresarial.

São factores como a reputação e questões relacionadas com a ética que motivam as empresas

a procederem à divulgação de informação das empresas, obtendo com isso alguns benefícios

como uma maior gestão ou minimização do risco, ou até conseguir uma maior confiança por

parte de investidores ou instituições financeiras.

Assim, da análise univariada, e tendo por objetivo encontrar o peso relativo das empresas que

adotam o modelo GRI no relato da sustentabilidade, concluiu-se que, em ambos os anos em

análise, existe um número bastante superior de empresas (em termos relativos) pertencentes

ao IBEX35 que utilizam o modelo GRI, quando comparado com as empresas pertencentes ao

PSI20.

Em suma, e em termos evolutivos, em relação ao PSI20 concluiu-se que existe um maior

nível de divulgação em 2010 do que em 2011, tendo havido, portanto, uma evolução negativa,

no entanto nas empresas pertencentes ao IBEX35 não houve diferenças significativas em

2011 face a 2010. Para efeitos do referido índice de divulgação ambiental, os resultados

obtidos em cada um dos anos em análise não sofre uma variação significativa e não difere

entre os países em estudo. Assim, as entidades que integram o PSI20 e o IBEX 35 divulgam

em média 25 dos 30 indicadores ambientais passíveis de ser divulgados, mantendo este

comportamento estável ao longo do período analisado.

Em termos de explicação do nível de divulgação ambiental efectuado, não se verificou

qualquer relação significativa com os factores explicativos definidos: rendibilidade dos

capitais próprios, dimensão e existência (inexistência) de certificação ambiental, apesar de no

21

ano 2011, para as entidades pertencentes ao IBEX35, se ter verificado uma correlação de

41,3%, para um nível de significância de 5%, entre o índice de divulgação ambiental e a

rendibilidade.

Note-se que apesar dos fatores explicativos utilizados neste trabalho serem considerados por

diversos autores, outros poderiam ser analisados com intuito de os validar ou rejeitar no

contexto da divulgação voluntária de informação.

6 - Bibliografia

Albuquerque, F., Almeida, M. C. e Quirós, J. (2011c). The culture and the accounting values: An

empirical study in view of Portuguese preparers. Journal of International Business and Economics, 11,

16-27;

Archel, Pablo, (2003), La divulgación de la información social y medioambiental de la gran empresa

española en el período 1994-1998: situación actual y perspectivas. Revista Española de Financiación y

Contabilidad. ISSN 0210-2412;

Archel, Pablo; Fernández, Manuel; Larrinaga, Carlos, (2008), The Organizational and Operational

Boundaries of Triple Bottom Line Reporting: A survey. Environmental Management. ISSN 1432-

1009;

Archel, Pablo; Lizarraga, Fermín, (2001), Algunos determinantes de la información medioambiental

divulgada por las empresas españolas cotizadas. Revista de Contabilidad. ISSN 1138-4891;

Branco, Manuel; Rodrigues, Lúcia (2008), Factors influencing social responsibility disclosure by

Portuguese companies. Journal of Business Ethics. ISSN 0167-4544;

Carvalho, Fernanda; Siqueira, José, (2007), Análise da utilização dos indicadores essenciais da Global

Reporting Initiative nos relatórios sociais e empresas latino-americanas. Pensar Contábil;

Carvalho, Fernando, Quirós, Joaquín, (2008) A divulgação voluntária de informação: A influência

da adopção da estrutura da Global Reporting Initiative nas empresas da Euronext de Lisboa,

Dissertação de mestrado;

Caseirão, Manuel, (2012), Responsabilidade social e empresarial. Revista TOC. ISSN 1645-9237. 147

CNC [Comissão de Normalização Contabilística]. (2009), Norma Contabilística e de Relato

Financeiro 26 – Matérias Ambientais. Disponível em http://www.cnc.min-

financas.pt/SNC_final/Aviso_15655_2009_07Set.pdf;

22

Comissão das Comunidades Europeias – Livro Verde “Promover um quadro europeu para a

responsabilidade social das empresas”. Bruxelas, 2001. [Consult. 19 Jun. 2012]. Disponível em URL:

<http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/site/pt/com/2001/com2001_0366pt01.pdf>

Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – Relatório Brundtland – Nosso

Futuro Comum, (1991), 2ª Edição. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getulio Vargas;

Deegan, Craig; Gordon, Ben, (1996), A study of environmental disclosure practices of Australian

corporations. Accounting e Business Research;

Depoers, Florence, (2000), A Cost-benefit study of voluntary disclosure: some empirical evidence

from French listed companies. The European Accounting Review;

Dias, Ana Isabel, (2009), A divulgação ambiental e a sua relação com a rendibilidade das empresas

cotadas na Euronext Lisboa no ano de 2006. Évora: Universidade de Évora. Dissertação de mestrado;

Dias, Ana Isabel, Quirós, Joaquín Texeira, (2010). A divulgação contabilística de matérias ambientais

nas empresas cotadas na Euronext Lisboa (anos 2006 a 2008). Trabalho de investigação. Universidad

de Extremadura;

Dias, António (2009), O relato da sustentabilidade empresarial: práticas em Portugal. Lisboa:

Universidade Aberta, Dissertação de mestrado;

Domingos, Rui, (2010), A evolução da divulgação voluntária de informação nas empresas cotadas na

Euronext Lisboa do ano de 2006 a 2008. Lisboa: Instituto Superior de Contabilidade e Administração

de Lisboa. Dissertação de mestrado;

Domingos, Rui; Carvalho, Fernando; Duarte, Maria Manuela, (2010), Evolução da divulgação

segundo a estrutura da GRI nas empresas do Euronext de Lisboa, nos anos 2006 e 2007. In XIV

Encuentro AECA “Innovación Y responsabilidad: desafios y soluciones”. Coimbra;

Duarte, Maria Manuela; Jesus, Tânia de; Silva, José; Pinheiro, Pedro, (2012), O Sistema de

normalização contabilística (português) e a divulgação da responsabilidade social e ambiental das

empresas (RSAE). In XV Encuentro AECA “Nuevos caminos para Europa: El papel de las empresas y

los gobiernos”. Esposende;

Eugénio, Teresa, (2007), Estudo de caso: implementação de contabilidade ambiental. Revista del

Instituto International de Costos. ISSN 1646-6896. 1 32-59

Friedman, Milton, (1970), The Social Responsibility of Business Is to Increase Its Profits. The New

York Magazine;

Gallego, Isabel, (2006), The Use of Economic, Social and Environmental Indicators as a Measure of

Sustainable Development in Spain. Corporate Social Responsibility and Environmental Management;

23

Gasparino, Marcela; Ribeiro, Maísa, (2007), Análise de relatórios de sustentabilidade, com ênfase na

GRI: Comparação entre empresas do setor de papel e celulose dos EUA e Brasil. Revista de Gestão

Social e Ambiental;

Global Reporting Initiative (GRI) - Directrizes para Relatório de Sustentabilidade. 2006. [Consult. 15

Jul. 2012] Disponível em URL: <https://www.globalreporting.org/resourcelibrary/Portuguese-G3-

Reporting-Guidelines.pdf>

Global Reporting Initiative (GRI) – Sustainability Reporting Guidelines. 2011. [Consult. 28 Jul.

2012]. Disponível em URL: <https://www.globalreporting.org/resourcelibrary/G3.1-Guidelines-Incl-

Technical-Protocol.pdf>

Gray, R., Bebbington, J., (2001) Accounting for the Environment, Sage Publications;

Hassan, Mohamat, (2004), The information quality of derivate disclosures in corporate annual reports

of Australian firms in the extractive industries. Malásia: Universiti Kebangsaan Malaysia, Tese de

doutoramento;

Kolk, Ans (2005), “Sustainability Report”, VBA Journal nº3;

KPMG – Estudo da KPMG sobre a publicação de Relatórios de Sustentabilidade em Portugal –

Resultados do Inquérito às maiores empresas em Portugal 2006;

KPMG (2008), International survey of corporate responsability reporting;

Lang, Mark; Lundholm, Russel, (1993), Cross-sectional determinants of analyst ratings of corporate

disclosures. Journal of Accounting Research, 31;

Lizcano, José Luis, Garcia, Isabel, Fernandéz, Alejandro, (2009), Normalicion de la información

corporativa sobre responsabilidad social. Estudo empírico sobre la elaboración de un cuadro central de

indicadores (CCI), XV Congresso AECA;

Lopes, Patrícia; Rodrigues, Lúcia, (2007), Accounting for Financial Instruments: An Analysis of the

determinants of disclosure in the Portuguese stock exchange. The International Journal of Accounting;

Meek, Gary; Roberts, Clare; Gray, Sidney (1995), Factors influencing voluntary annual report

disclosures by US, UK and Continental Europe. Journal of International Business Studies;

Moneva, José , Llena, Fernando, (1996), Análisis de la información sobre responsabilidad social en las

empresas Industriales que cotizan en Bolsa, Revista Española de Financiación y Contabilidad vol. 25;

Moneva, José; Llena, Fernando, (2000), Environmental disclosures in the annual reports of large

companies in Spain. European Accounting Review;

24

Monteiro, Sónia, Guzmán, Beatriz Aibar (2007), “La Regulación Contable Medioambiental: Análisis

Comparativo entre Portugal y España”, Revista de Estudos Politécnicos, Vol IV, n.° 7, 253-290;

Monteiro, Sónia, (2007), Factores explicativos do grau de divulgação ambiental em grandes empresas

a operar em Portugal: análise univariada. Barcelos: Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, Grupo

de Investigação FEDRA;

Moreira, Adriane, (2009), Contabilidade Ambiental: evidenciação das questões ambientais em

relatórios contábeis pelas empresas florestais de capital aberto. Minas Gerais: Universidade Federal de

Viçosa. Dissertação de mestrado;

Porter, Michael E., Van der Linde, Claas, (1995) “Green and Competitive: Ending the stalemate”,

Harvard Business Review, reprint 95507;

Regulamento (CE) nº 1606/2002 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 19 de Julho de 2002:

Jornal Oficial das Comunidades Europeias L 243/1 de 2002-09-11.

Rennings, K., Ziegler, A., Ankele, K., Hoffmann, E., Nill, J., (2003), “The Influence of the EU

Environmental Management and Auditing Scheme on Environmental Innovations and

Competitiveness in Germany: An Analysis on the Basis of Case Studies and a Large-Scale Survey;

Rodrigues, Lúcia; Oliveira, Lídia; Menezes, Carlos, (2002), O relato financeiro do desempenho

ambiental: o caso português. Núcleo de estudos em gestão. Universidade do Minho;

Silva, Sara; Serra, Sara; Ribeiro, Verónica – Auditoria aos relatórios de sustentabilidade: Análise das

empresas portuguesas. In XV Encuentro AECA “Nuevos caminos para Europa: El papel de las

empresas y los gobiernos”. Esposende, 2012

Trebucq, S., Evraert, S., Nassif, (2008), Adoption of GRI's Guidelines Reporting by European

companies, Comunicação no 31º Congresso da European Accounting Association, Roterdão;

Veber, J. et al (2000). Management – basics, prosperity, globalization Prague, Management Press.