A Dor Indissociável Da Vida

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A dor indissocivel da vidaA dor indissocivel da vidaESCRITO POR FLAVIO QUINTELA | 30 MARO 2014 ARTIGOS - CULTURATire de uma pessoa a certeza da dor, prometa-a felicidade, e ela no ter mais instrumentos para evoluir.O ser humano nasce sofrendo. Nosso primeiro contato com o mundo literalmente de chorar. Depois de tantas semanas no aconchego do ventre materno, a entrada no mundo atravs das mos do obstetra ou da parteira vem acompanhada de muito esforo, dor, fluidos, sangue, suor e lgrimas; e me perdoem pelo chavo. A dor da me, principalmente no caso de parto natural, pode se estender por horas e horas, e suportvel apenas porque existe algo maior, que muitos de ns consideram o maior bem da humanidade, a vida. Digo muitos, e no todos, porque a humanidade j assistiu ao de lunticos poderosos que ceifaram milhes de vidas durante sua existncia. Mas, no geral, a vida e continuar sendo o motor maior do ser humano, e a chegada de uma nova vida um espetculo que jamais se torna repetitivo.Mas divaguei Minha ideia central a dor, o sofrimento. Ao contrrio do que muitas pessoas acreditam, principalmente as mais jovens, a essncia da vida no ser feliz. Quem vive correndo atrs da felicidade, conceito alis bastante subjetivo e de difcil medida, no se d conta de uma verdade absoluta, que atinge todas as pessoas deste mundo: s existem duas certezas na vida de um ser humano, a de sofrer, e a de morrer. A nossa natureza m garante a presena da dor em toda a nossa histria de vida por vezes ns a infligimos a ns mesmos, por vezes aos outros. E sobre a morte no h muito o que dizer: ela implacvel e invencvel. claro que eu no poderia continuar nesta direo sombria, sem mencionar as possibilidades de alegria que nos surgem. No porque vivemos com a certeza da dor e da morte que no podemos viver momentos de alegria. Nossa verdadeira humanidade est em agir ativamente para melhorar nossa vida e tornar os momentos de dor e sofrimento menos frequentes e menos intensos, ainda que enfrentemos o limite inexorvel do acaso, ou do destino, como alguns acreditam. Ainda assim, est em nossas mos o poder de lidar com nossos melhores e piores momentos, e us-los para moldar o nosso carter e desenvolver as parte altas da alma. Gosto muito de um texto que o Olavo de Carvalho cita em uma das primeiras aulas de seu Seminrio de Filosofia. O texto do filsofo Louis Lavelle. Ele diz:H na vida momentos privilegiados nos quais parece que o universo se ilumina, que nossa vida nos revela sua significao, que ns queremos o destino mesmo que nos coube, como se ns prprios o tivssemos escolhido. Depois o universo volta a fechar-se: tornamo-nos novamente solitrios e miserveis, j no caminhamos seno tateando por um caminho obscuro onde tudo se torna obstculo a nossos passos. A sabedoria consiste em conservar a lembrana desses momentos fugidios, em saber faz-los reviver, em fazer deles a trama da nossa existncia cotidiana e, por assim dizer, a morada habitual do nosso esprito.Eu adoro esse texto, adoro mesmo. J o li centenas de vezes, e tento aplic-lo no meu cotidiano, todos os dias. A conscincia da falibilidade do ser humano e da necessidade de um aprimoramento pessoal condio sine qua non para uma sociedade funcional nenhum grupo de pessoas pode buscar justia, paz, harmonia, ou qualquer outro valor desejvel, sem que seus indivduos realizem esta busca primeiramente por si mesmos, antes de qualquer tentativa de coletivizao. E neste ponto que colidimos com a ideologia de esquerda, sem nenhuma possibilidade de acordo ou sequer de respeito s suas ideias, que trouxeram as maiores desgraas humanidade.Desde que Rousseau removeu a responsabilidade individual pelos males praticados, estabelecendo em sua insanidade que o homem nasce bom, e culpando a sociedade pela degradao moral do indivduo, os intelectuais de esquerda no fizeram nada alm de aprofundar essa mentira e lev-la s piores consequncias. Ao negar que o estado natural do homem a misria, e que a dor indissocivel da vida, eles propuseram solues absurdas, baseadas em problemas que no existem. Assim, para explicar o sofrimento, propuseram a luta de classes, como se todo o sofrimento humano viesse somente da diferena de riqueza entre as pessoas. Fosse assim e os ricos seriam os mais felizes do mundo, e os milionrios acumulariam rugas de tanto rir; e os pobres se matariam de desgosto, amargurados at os ossos por no possurem uma casa mais bonita ou um relgio de ouro.Para combater a dor e o sofrimento propuseram sistemas de governo paternalistas, que tratam a todos como crianas incapazes, prometendo algo que nenhuma pessoa na histria da humanidade conseguiu prover a algum: felicidade. Assumiram assim o monoplio da virtude, to grande a ponto de serem os verdadeiros arautos da bondade, e enquanto o faziam assassinaram civilizaes inteiras. Pagaram a f dos incautos com a morte, e suas promessas de felicidade terminaram enterradas em valas comuns, junto aos corpos carregados de marcas de tortura e sofrimento. Essa a histria do comunismo, do socialismo, do nazismo, e de todos os movimentos de esquerda que assolaram o mundo.E isso que vivemos hoje no Brasil: Lula sempre se colocou como o pai dos pobres, ainda que viva no luxo milionrio de sua fortuna. Seus discursos so recheados de aluses felicidade, ao bem-estar e alegria, conectando na cabea dos populares sua pessoa e seu governo s benesses que cada vez mais tiram as responsabilidades individuais dos brasileiros. A eleio de Dilma foi fruto direto e nico da capacidade genial sim, Lula um gnio no trato com os populares de convencimento que Lula possui sobre o povo. Ele a anttese de Lavelle, e se soubesse escrever talvez registrasse estas palavras:No busque os momentos privilegiados, pois privilegiados so os burgueses capitalistas dominadores; busque sim o coletivo, o ajuntamento burro, e grite com a massa o bordo que pode salvar sua vida: Lula, meu pai, me ajude!Tire de uma pessoa a certeza da dor, prometa-a felicidade, e ela no ter mais instrumentos para evoluir. Confronte uma pessoa com a inexorabilidade da dor, desafie-a superao, convena-a de suas responsabilidades individuais, e pode ser que ela faa o mesmo com algum. Quando a soma dessas pessoas for superior a das primeiras, poderemos pensar num mundo um pouco melhor. At l, teremos que nos contentar com Lulas, Dilmas e companhia. Se isso no sofrer, no sei mais o que . Flavio Quintela, escritor, edita o blog Maldade Destilada e est lanando, pela Vide Editorial, seu primeiro livro, Mentiram (e muito) para mim.