A Doutrina Da Justificação - Arthur W. Pink

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    A Doutrina da Justificao

    Arthur W. Pink

    Traduo: Felipe Sabino de Arajo Neto

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    Contedo

    INTRODUO ..................................................................................................................... 3CAPTULO 1-SEU SIGNIFICADO ........................................................................................ 8

    CAPTULO 2-SEU PROBLEMA ......................................................................................... 13CAPTULO 3-SUA BASE .................................................................................................. 18CAPTULO 4-SUANATUREZA ......................................................................................... 23CAPTULO 5-SUA ORIGEM.............................................................................................. 29CAPTULO 6-SEUS OBJETOS ........................................................................................... 34CAPTULO 7-SEUS INSTRUMENTOS ................................................................................ 39CAPTULO 8-SUA EVIDNCIA ......................................................................................... 45CAPTULO 9-SEUS RESULTADOS .................................................................................... 50UMA BREVE BIOGRAFIA .................................................................................................. 55

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    INTRODUO

    Nosso primeiro pensamento foi dedicar um captulo introdutrio expondo os principaiserros que se tm gerado sobre este tema por parte de distintos homens e grupos, porm,depois de uma maior reflexo, decidimos que isto seria de pouco ou de nenhum proveito maioria de nossos leitores. Apesar de haver tempos, sem dvida, nos quais odesagradvel dever dos servos de Deus expor o que est enganando e prejudicando oSeu povo, no obstante, como uma regra geral, a maneira mais eficaz de eliminar astrevas deixar entrar a luz. Desejamos, ento, escrever estes artigos com o mesmoesprito do piedoso John Owen, o qual, na introduo a seu extenso tratado sobre estetema, disse: Deve dar-se mais importncia contnua orientao da mente e daconscincia de um crente, verdadeiramente treinado acerca do fundamento de sua paz eaceitao diante de Deus, do que contradio de uma dezena de agressivosopositores.... Afirmar e reivindicar a verdade na instruo e na edificao dos que aamam em sinceridade, livrar suas mentes daquelas dificuldades sobre este caso

    particular, que alguns intentam arrojar sobre todos os mistrios do evangelho, dirigir asconscincias daqueles que querem saber acerca de alcanar a paz com Deus, eestabelecer as mentes dos que crem, so as coisas que me tenho proposto.

    Houve um tempo, no faz muito, quando a bendita verdade da justificao era uma dasmais conhecidas doutrinas da f crist, quando ela era assiduamente explicada pelos

    pregadores, e quando o conjunto dos assistentes das igrejas estava familiarizado comseus aspectos principais. Porm agora ah! tem surgido uma gerao que quasetotalmente ignorante deste precioso tema, porque com mui raras excees j no se lhed mais um lugar no plpito, e apenas se escreve algo sobre este nas revistas religiosasde nosso dia; e, em conseqncia, comparativamente, poucos entendem o que o termo

    em si implica, menos ainda se tem em claro sobre que base Deus justifica o mpio. Istope o escritor numa considervel desvantagem, pois apesar dele desejar evitar umtratamento superficial de um assunto to vital, todavia, aprofundar nele, e entrar nosdetalhes, far uma pesada exigncia mentalidade e pacincia da pessoa mediana. Noobstante, respeitosamente instamos a cada cristo a fazer um esforo real para cingir oslombos de seu entendimento e buscar em orao dominar estes captulos.

    O que tornar mais difcil seguirmos atravs destas sries o fato de que estamostratando o lado doutrinal da verdade, antes que o prtico; o judicial, antes que oexperimental. No que a doutrina seja algo impraticvel; de modo algum; longe, longedisso. Toda Escritura divinamente inspirada e til (primeiro) para ensinar, (e depois)

    para redargir, para corrigir, para instruir em justia (2 Tim. 3:16). A instruodoutrinal foi sempre a base a partir da qual os apstolos promulgaram os preceitos pararegular o modo de andar. No pode encontrar-se exortao alguma at o captulo 6 daEpstola aos Romanos: os primeiros cinco esto dedicados inteiramente exposiodoutrinal. Assim tambm na Epstola aos Efsios: em 4:1 dada a primeira exortao.Primeiro os santos so recordados das abundantes riquezas da graa de Deus, para que oamor de Cristo possa impulsionar-lhes, e logo so encorajados a andar como digno davocao com que foram chamados.

    Embora seja verdade que se requer um esforo mental real (assim como um corao

    piedoso) para poder captar inteligentemente algumas das mais sutis distines que soessenciais para uma apropriada compreenso desta doutrina, contudo, deve assinalar-seque a verdade da justificao est longe de ser uma mera pea de especulao abstrata.

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    No, ela uma enunciao de um ato divinamente revelado; ela uma enunciao deum ato no qual cada membro de nossa raa humana deveria estar profundamenteinteressado. Cada um de ns tem perdido o favor de Deus, e cada um de ns necessitarecuperar Seu favor. Se no o recuperarmos, ento as conseqncias devem ser nossaabsoluta runa e a irremedivel perdio. Como seres cados, como rebeldes culpveis,

    como pecadores perdidos,somosrestaurados no favor de Deus, e se nos d uma posiodiante dEle inestimavelmente superior que ocupam os santos anjos; com a ajuda doSenhor, nossa ateno ser atrada medida que prosseguirmos com nosso tema.

    Como disse Abraham Booth em seu esplndido trabalho O reino da graa (escrito em1768): Longe de ser um ponto somente terico, este propaga sua influncia atravs doconjunto inteiro da teologia, flui atravs de toda a experincia crist, e opera em cada

    parte da santidade prtica. Tal sua grande importncia, que um erro acerca deste temuma eficcia maligna, e acompanhado com uma srie de perigosas conseqncias.

    Nem pode isto parecer estranho, quando se considera que esta doutrina da justificaono outra seno a maneira para que um pecador seja aceito por Deus. Sendo de to

    especial importncia, ela est inseparavelmente conectada com muitas outras verdadesevanglicas, das quais no podemos contemplar a harmonia e a beleza, enquanto estaseja mal compreendida. At que esta doutrina aparea em sua glria, essas verdadesestaro na escurido. Esta , se assim poder ser chamada, um artigo fundamental; ecertamente requer nossa mais sria considerao (de seu captulo sobre AJustificao).

    A grande importncia da doutrina da justificao foi sublimamente expressa pelopuritano holands, Witsius, quando disse: Ela ajuda muito a revelar a glria de Deus,cujas mais destacadas perfeies resplandecem com um lustre eminente neste assunto.Ela manifesta a infinita bondadede Deus, pela qual Ele esteve predisposto a prover asalvao gratuitamente para o perdido e miservel homem, para o louvor e glria deSua graa (Ef. 1:6). Ela mostra tambm a mais estrita justia, pela qual Ele no

    passaria por alto nem a menor ofensa, exceto com a condio do compromissoadequado, ou a plena satisfao do Mediador, para que Ele seja justo, e justificadordaquele que tem f em Jesus (Rom. 3:26). Esta doutrina mostra alm do mais ainescrutvelsabedoriada divindade, a qual descobriu uma maneira para exercer o mais

    benevolente ato de misericrdia, sem infringir a Sua mais absoluta justia e a Suaverdade infalvel, que ameaavam de morte ao pecador: a justia demandava que a almaque pecasse deveria morrer (Rom. 1:32). A verdade tem pronunciado as maldies porno se obedecer ao Senhor (Deut. 28:15-68). A bondade, ao mesmo tempo, foi inclinada

    a decretar a vida alguns pecadores, porm de nenhuma outra forma diferente daquelaque era prpria da majestade do santssimo Deus. Aqui a sabedoria intervm, dizendo:Eu, eu sou o que apago tua transgresses por amor de mim; e eu no me lembrarei deteus pecados (Isa. 43:25). Nem a justia de Deus ou a Sua verdade tero alguma causade reclamao porque o pagamento completo ser feito para voc por um mediador.Portanto, a incrvel benevolncia do Senhor Jesus resplandece, quem, ainda que Senhorde tudo, esteve sujeito a lei, no para a obedincia dela somente, porm tambm para amaldio: Ao que no conheceu pecado, por ns se fez pecado, para que fssemosfeitos justia de Deus nEle (2 Cor. 5:21).

    No deveria a alma piedosa, que est profundamente comprometida na fervente

    meditao destas coisas, ascender-se em adoraes a um Deus que justifica, e cantarcom a igreja: Que Deus como tu, que perdoas a maldade, e esqueces o pecado?

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    (Miqueias 7:18) ?. Oh, a pureza dessa santidade que prefere castigar os pecados doescolhido em Seu Filho Unignito, antes que suportar deixar-lhes impunes ! Oh, a

    profundidade de Seu amor para com o mundo, para o qual Ele no poupou a Seuentranhvel Filho, a fim de resgatar a pecadores ! Oh, a profundidade das riquezas deinsondvel sabedoria, pela qual Ele prov Sua misericrdia para o culpado arrependido,

    sem mancha alguma a honra do Juiz mais imparcial ! Oh, os tesouros de amor emCristo, pelo qual Ele se fez maldio por ns, a fim de livrar-nos desta ! Quo prprioda alma justificada, que est preste a se fundir no sentimento deste amor, com pleno

    jbilo cantar um cntico novo, um cntico de mtuo retorno de amor ao Deus quejustifica.

    To importante considerava o apstolo Paulo a esta doutrina que, sob a direo doEsprito Santo, a mais sobressalente de suas epstolas no Novo Testamento estdedicada a uma completa exposio dela. O eixo sobre o qual gira todo o contedo daEpstola aos Romanos aquela notvel expresso: a justia de Deus - comparada aqual no h nada de maior importncia que possa ser encontrado em todas as pginas

    das Sagradas Escrituras, e necessrio que cada cristo faa o mximo esforo paraentend-la claramente. Esta uma expresso abstrata que significa a satisfao de Cristoem sua relao Lei Divina. um nobre descritivo para a causa essencial da aceitaodo pecador diante de Deus. A justia de Deus uma frase referida ao trabalhoterminado do Mediador como aprovado pelo tribunal divino, sendo a causa meritria denossa aceitao diante do trono do Altssimo.

    Nos seguintes captulos (com a ajuda do Senhor) examinaremos em mais detalhe estavital expresso a justia de Deus, que d a entender essa perfeita compensao que oRedentor ofereceu justia divina em benefcio e em lugar daquele povo que Lhe tinhasido dado. Por agora, seja suficiente dizer que essa justia pela qual o pecador crente justificado chamada a justia de Deus (Rom. 1:17; 3:21) porque Ele oencarregado, aprovador, e doador dela. Ela chamada a justia de nosso Deus eSalvador Jesus Cristo (2 Pedro 1:1) porque Ele a consumou e apresentou diante deDeus. Ela chamada a justia da f (Rom. 4:13) porque a f a que a apreende e aque a recebe. Ela chamada justia do homem (J 33:26) porque ela foi paga para elee imputada a ele. Todas estas variadas expresses se referem a muitos aspectos daquela

    perfeita obedincia at a morte que o Salvador efetuou em favor de Seu povo.

    Sim, o apstolo Paulo, sob a direo do Esprito Santo, estimava a esta doutrina comoalgo to vital, que ele apresenta extensamente como a negao e perverso dela por

    parte dos judeus foi a causa principal pela qual eles foram desaprovados por Deus: veros versculos finais de Romanos 9 e o comeo do captulo 10. Novamente, atravs detoda a Epstola aos Glatas, encontramos ao apstolo empenhado na mais vigorosadefesa e contendendo com grande zelo com aqueles que haviam atacado esta verdade

    bsica. Ali, ele fala do ensinamento oposto como destrutivo e mortfero para as almasdos homens, como uma agresso cruz de Cristo, e chama a esse ensinamento outroevangelho, declarando solenemente ainda se ns ou um anjo do cu vos anunciar outroevangelho...seja antema (Glatas 1:18). Que pena, que sob a ampla liberdade e sob afalsa caridade de nossos tempos, h agora to pouco santo aborrecimento dessa

    pregao que repudia a obedincia vicria de Cristo que imputada ao que cr.

    Mediante Deus, a pregao desta grande verdade causou o maior avivamento que acausa de Cristo gozou deste os dias dos apstolos. Esta foi a grandiosa, fundamental e

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    distinta doutrina da Reforma, e foi estimada por todos os reformadores como a primriae suprema importncia. A principal acusao que eles sustentavam contra a Igreja deRoma foi que ela havia corrompido e pervertido a doutrina das Escrituras sobre estaquesto em uma forma que era perigosa para as almas dos homens; e foi principalmente

    pela exposio, o estrito apego, e a aplicao da verdadeira doutrina da palavra de Deus

    com respeito a isto, que eles atacaram e transtornaram as principais doutrinas e prticasdo sistema papal. No h assunto que possua uma importncia mais intrnseca que o quese relaciona com este, e no h outro com respeito ao qual os reformadores estiverammais completamente de acordo com suas convices' (W. Cunningham).

    Esta bendita doutrina prov o tnico divino para reanimar a um cuja alma est abatida ecuja conscincia est intranqila por um profundo sentimento de pecado e culpa, edeseja conhecer o caminho e os meios pelos quais poderia obter a aceitao para comDeus e o direito herana celestial. Para um que est profundamente convencido de quetem sido toda sua vida um rebelde contra Deus, um constante transgressor de Sua SantaLei, e que compreende que est com justia sob a condenao e ira de Deus, nenhuma

    busca pode ser de to profundo interesse e urgente importncia como aquela que serelaciona com os meios para recuperar o favor divino, o perdo de seus pecados, e ofazer-lhe apto para permanecer confiado na presena divina: at que este ponto vitaltenha sido aclarado para saciar seu corao, toda outra informao religiosa sertotalmente intil.

    As demonstraes da existncia de Deus s serviriam para confirmar e gravar maisprofundamente sobre sua mente a terrvel verdade que ele j cr, que h um Juiz Justo,diante do qual deve comparecer, e por cuja sentena ser estabelecida sua condenaofinal. Explicar-lhe a lei moral, e inculcar-lhe as obrigaes a obedecer, obrar como umacusador pblico, quando este cita as leis da regio a fim de mostrar que as acusaesque tem trazido contra o criminoso na corte esto bem estabelecidas, e,consequentemente, que ele digno de punio. Quanto mais fortes so os argumentos

    pelos quais voc faz evidente a mortalidade da alma, mais claramente prova que seucastigo no ser temporrio, e que h outro estado de existncia, no qual ele sertotalmente recompensado de acordo com seu merecimento (J. Dick).

    Quando o prprio Deus chega a ser uma realidade viva para a alma, quando Sua terrvelmajestade, Sua infalvel santidade, Sua justia inflexvel, e Sua autoridade soberana, sorealmente percebidas, ainda que mui inadequadamente, a indiferena a Suas demandasagora d lugar a uma sria preocupao. Quando h um adequado sentimento da

    magnitude de nossa separao com Deus, da depravao de nossa natureza, do poder evileza do pecado, da espiritualidade e severidade da lei, e das eternas chamas queesperam aos inimigos de Deus, as almas despertadas gritam: Com que me apresentareiao Senhor, e me inclinarei diante do Deus altssimo ? Apresentar-me-ei diante dEle comholocaustos, com bezerros de um ano ? Agradar-se- o Senhor de milhares de carneiros,ou de dez mil ribeiros de azeite ? Darei o meu primognito pela minha transgresso, ofruto do meu ventre pelo pecado de minha alma ? (Miquias 6:6,7). Ento a pobre almaexclama: Como pois se justificar o homem com Deus, e como seria puro aquele quenasce de mulher? (J 25:4). E na bendita doutrina que est agora por ser posta diantede ns, onde se nos explica o mtodo pelo qual um pecador pode obter paz com seuCriador e imergir possesso da vida eterna.

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    Novamente; esta doutrina de inestimvel valor para o cristo com uma conscinciadespertada, que cada dia geme por sentir sua intrnseca corrupo e as inumerveisfalhas comparando-se com o estandarte que Deus tem posto diante dele. O Diabo, que o acusador de nossos irmos (Apoc. 12:10), freqentemente acusa com hipocrisia aocrente diante de Deus, inquieta sua conscincia, e pretende convencer-lhe que sua f e

    sua piedade so nada mais que uma mscara e uma aparncia para o exterior, pelosquais ele no somente engana a outros, seno tambm a si mesmo. Porm, graas aDeus, Satans pode ser vencido pelo sangue do Cordeiro (Apoc. 12:11): olhandolonge do incuravelmente depravado eu, e contemplando ao Fiador, que tem respondido

    plenamente por cada falta do cristo, perfeitamente expiado cada pecado deste, e lheproporcionado uma justia eterna (Dan. 9:24), que foi posta em sua conta na elevadacorte do Cu.. E deste modo, ainda que gemendo por suas fraquezas, o crente pode

    possuir uma confiana vitoriosa que o eleva sobre todo temor.

    Isto foi o que trouxe paz e regozijou ao corao do apstolo Paulo: porque apesar de queem um instante exclamou: Miservel homem que sou ! quem me livrar do corpo desta

    morte? (Rom. 7:24), em seguida ele declarou: Agora pois, nenhuma condenao hpara os que esto em Cristo Jesus (Rom. 8:1). Ao que adicionou: Quem intentaracusao contra os escolhidos de Deus? Deus quem os justifica; Quem os condenar?Cristo Jesus quem morreu, ou antes quem ressurgiu dentre os mortos, o qual est direita de Deus, e tambm intercede por ns; quem nos separar do amor de Cristo?(vers. 33-35). Possa o Deus de toda graa dirigir nossa caneta e abenoar o queescrevemos para os leitores, que no poucos dos que esto agora nas sombrias prisesdo Castelo da Dvida, possam ser conduzidos dentro da gloriosa luz e liberdade da

    plena certeza da f.

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    CAPTULO 1-SEU SIGNIFICADO

    Sermos livrados da sentena da condenao da Lei Divina a beno fundamental dasalvao de Deus: enquanto continuamos sob a maldio, no podemos ser nem santosnem felizes. Porm, em relao natureza desta libertao, em que exatamente consiste,sobre que fundamento obtida, e por quais meios assegurada, existe na atualidademuita confuso. A maioria dos erros que se tem generalizado sobre este tema surgiramda falta de uma clara observao do assunto em si mesmo, e at que entendamosverdadeiramente o que a justificao , no estamos em posio nem de afirmar nem denegar algo com respeito a ela. P isso, estimamos necessrio dedicar um captulo inteiroa uma cuidadosa definio e explicao desta palavra justificao, esforando-nos emmostrar o que ela significa, e o que ela no significa.

    Entre os protestantes e os romanistas h uma ampla diferena de opinio acerca do

    significado do termo justificar: eles afirmam que justificar fazer intrinsecamentejusto e santo, ns insistimos que justificar significa somente pronunciar formalmente oudeclarar legalmente justo. O papismo inclui com a justificao, a renovao da naturezamoral do homem ou a libertao da corrupo, assim confundem a justificao com aregenerao e a santificao. Contrariamente, todos os protestantes representativos tmmostrado que a justificao no se refere a uma mudana do tipo moral, porm a umamudana de estado legal; ainda que reconhecendo, certamente, declarando com firmeza,que uma mudana radical de carter invariavelmente acompanha a justificao. umamudana legal desde um estado de culpabilidade e condenao a um estado de perdo eaceitao; e esta mudana devido exclusivamente a um ato gracioso de Deus, baseadasobre a justia de Cristo sendo imputado a Seu povo (no tendo eles nenhuma prpria).

    Ns explicamos a justificao simplesmente como uma aceitao pela qual Deus nosrecebe em Seu favor e nos estima como pessoas justas; e dizemos que ela consiste naremisso dos pecados e na imputao da justia de Cristo....A justificao, portanto, no outra coisa que uma absolvio de culpabilidade daquele que foi acusado, como se suainocncia houvesse sido provada. J que Deus, portanto, nos justifica pela mediao deCristo, Ele nos desculpa, no por um reconhecimento de nossa inocncia pessoal, mas

    por uma imputao de justia; de maneira que, ainda que somos injustos em nsmesmos, somos considerados como justos em Cristo (Joo Calvino, 1559).

    O que justificao? Resposta: Justificao um ato da livre graa de Deus para com

    os pecadores, no qual Ele os perdoa, aceita e considera justas as suas pessoas diantedEle, no por qualquer coisa neles operada, nem por eles feita, mas unicamente pela

    perfeita obedincia e plena satisfao de Cristo, a eles imputada por Deus e recebidas spela f (Catecismo de Westminster, 1643).

    Assim definimos a justificao de um pecador conforme ao Evangelho: um judicial,porm gracioso ato de Deus, pelo qual o pecador escolhido e crente absolvido da culpade seus pecados, e adquire um direto vida eterna concedida a ele, por causa daobedincia de Cristo, recebida pela f (H. Witsius, 1693).

    Se diz que uma pessoa justificada quando ela considerada por Deus como livre daculpa do pecado e seu merecido castigo; e como tendo aquela justia pertencendo-lhe,isso lhe d o direito recompensa da vida (Jonathan Edwards, 1750).

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    A justificao, ento, no se refere a alguma mudana subjetiva produzida na atitude deuma pessoa, porm exclusivamente uma mudana objetiva em sua posio em relao lei. Que a justificao impossvel que possa significar fazer a uma pessoa justa ou

    boa intrinsecamente mais claramente visto a partir do uso do termo em si na Escritura.Por exemplo, em Provrbios 17:15 lemos: O que justifica o mpio, e o que condena o

    justo, tanto um como o outro so abominveis ao SENHOR. Agora bem, obviamentequem muda a um mpio fazendo-o uma pessoa justa est longe de ser umaabominao ao Senhor, porm o que o sabendo disso, diz que uma pessoa mpia

    justa, aborrecvel a Ele.

    Tambm em Lucas 7:29 lemos: E todo o povo que o ouviu e os publicanos, tendo sidobatizados com o batismo de Joo, justificaram a Deus. Quo impossvel fazer que aspalavras justificaram a Deus signifique alguma transformao moral de Seu carter;porm aquelas palavras devem ser entendidas como que eles declararam que Ele justo,e toda ambigidade tirada. Uma vez mais, em 1 Timteo 3:16 nos dito que o Filhoencarnado foi justificado no (ou pelo) Esprito, isto , Ele foi publicamente

    reivindicado em Sua ressurreio, declarado inocente ante as denuncias blasfemas comque os judeus Lhe acusaram.

    A justificao trata somente do aspecto legal da salvao. um termo judicial, umapalavra dos tribunais de justia. a sentena de um juiz sobe uma pessoa que tem sidotrazida diante dele para ser julgada. aquele ato da graa de Deus como Juiz, naelevada corte do Cu, pelo qual Ele dita que um pecador escolhido e crente libertadoda penalidade da lei, e totalmente restaurado ao favor divino. a declarao de Deus deque a parte acusada est totalmente de acordo com a lei; a justia o desculpa porque a

    justia tem sido satisfeita. Assim, a justificao aquela mudana de estado pela qualum, que sendo culpvel diante de Deus e portanto sob a sentena condenatria da SuaLei, e merecedor de nada exceto de um eterno apartamento de Sua presena, recebidoem Seu favor e se lhe d um direito a todas as bnos que Cristo adquiriu para Seu

    povo, por Sua perfeita satisfao.

    Na demonstrao da definio dada, o significado do termo justificar pode serdeterminado, primeiro, pelo seu uso nas Escrituras. Ento disse Jud: Que diremos ameu senhor? Que falaremos? E como nos justificaremos? (esta palavra hebraicatsadag sempre significa justificar) (Gnesis 44:16). Aqui temos um assunto que erainteiramente judicial. Jud e seus irmos foram levados para comparecer diante dogovernador do Egito, e estavam preocupados sobre como poderiam obter uma sentena

    em seu favor. Quando houver contenda entre alguns, e vierem a juzo, para que osjulguem, ao justo justificaro, e ao injusto condenaro (Deuteronmio 25:1). Aquinovamente vemos claramente que o termo de tipo legal, usado em conexo com os

    procedimentos dos tribunais legais, implicando um processo de investigao e juzo.Deus ps aqui uma regra para reger aos juzes de Israel: eles no deviam justificar ouditar uma sentena em favor do culpado: comparar 1 Reis 8:31,32.

    Se eu me justificar, a minha boca me condenar; se for perfeito, ento ela me declararperverso (J 9:20): a primeira parte desta frase explicada na segunda - justificar alino pode significar fazer santo, porm pronunciar uma sentena em meu prprio favor.E acendeu-se a ira de Eli, filho de Baraquel, o buzita, da famlia de Ro; contra J se

    acendeu a sua ira, porque se justificava a si mesmo, mais do que a Deus (J 32:2), oque obviamente significa, porquanto ele se declarava sem culpa a si mesmo mais que a

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    Deus. Para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares (Salmos51:4), o que significa que Deus atuando em Sua funo judicial poderia ser declarado

    justo em ditar sentena. Mas a sabedoria justificada por seus filhos (Mateus 11:19),o que significa que os que so realmente regenerados por Deus tem considerado asabedoria de Deus (que os escribas e fariseus consideravam necessidade) ser, como

    realmente , perfeita sabedoria: eles lhe tiraram a calnia de ser loucura.

    2. A fora precisa do termo justificar pode ser averiguada notando que este aanttese de condenar. Agora bem, condenar no um processo pelo qual um bomhomem feito mal, mas a sentena de um juiz sobre algum porque ele umtransgressor da lei. O que justifica o mpio, e o que condena o justo, tanto um como ooutro so abominveis ao SENHOR (Provrbios 17:15 e ver tambm Deuteronmio25:1). Porque por tuas palavras sers justificado, e por tuas palavras sers condenado(Mateus 12:37). Deus quem os justifica. Quem que condena? (Romanos 8:33,34).Ora, inegvel que a condenao a declarao de uma sentena contra uma pessoa

    pela qual a pena prescrita pela lei lhe atribuda e ordenada para ser aplicada sobre

    ela; por conseguinte, a justificao a declarao de uma sentena em favor de umapessoa, pela qual a recompensa prescrita pela lei ordenada para ser-lhe outorgada.

    3. Que a justificao no uma mudana experimental desde a pecaminosidade santidade, mas uma mudana judicial desde a culpabilidade no condenao pode serevidenciado pelos termos equivalentes utilizados. Por exemplo, em Romanos 4:6 lemos:Assim tambm Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus imputa a justiasem as obras: assim que a justia legal no uma conduta implantada no corao, masum dom cedido a nossa conta. Em Romanos 5:9,10 ser justificados pelo seu sangue o mesmo que ser reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, e a reconciliaono uma transformao de carter, mas o obter a paz pela remoo de tudo o quecausa ofensa.

    4. A partir do fato de que o aspecto judicial de nossa salvao proposto nas Escriturassob as figuras de um juzo em um tribunal de justia e uma sentena. (1) Se supe um

    juzo, sobre o qual o salmista implora que este no se desenvolva de acordo com a lei:Salmo 143:2. (2) O Juiz o prprio Deus: Isaas 50:7,8. (3) O tribunal onde Deus estsentado para o juzo o trono da graa: Hebreus 4:16. (4) Uma pessoa culpada. Ela o

    pecador, que to culpado de pecado como para ser abominvel ante o juzo de Deus:Romanos 3:18. (5) Os acusadores esto prontos para propor e promover as acusaescontra a pessoa culpada; estes so a lei (Joo 5:45), a conscincia (Romanos 2:15), e

    Satans (Zacarias 3:2 e Apocalipse 12:10). (6) A acusao admitida e redatada emuma ata em forma de lei, e posta diante do tribunal do Juiz, no foro, para alibertao do criminoso: Colossenses 2:14. (7) Se prepara uma defesa no Evangelho emfavor da pessoa culpada: esta a graa, atravs do sangue de Cristo, o resgate pago, aeterna justia trazida pelo Fiador do pacto: Romanos 3:23,25; Daniel 9:24. (8) A Elesomente aude o pecador, renunciando a toda outra desculpa ou defesa qualquer quesejam: Salmos 130:2,3; Lucas 18:13. (9) Para fazer eficaz esta splica temos umadvogado com o Pai, e Ele apresenta Sua prpria propiciao por ns: 1 Joo 2:1,2. (10)A sentena acerca disto a absolvio, por causa do sacrifcio e da justia de Cristo;com a aceitao no favor, como pessoas aprovadas por Deus: Romanos 8:33,34; 2Corntios 5:21 (John Owen).

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    Na base do que temos visto, podemos perceber o que a justificao no . Primeiro , ela distinta da regenerao: aos que chamou a estes tambm justificou (Romanos 8:30).Ainda que juntos inseparavelmente, o chamamento eficaz ou o novo nascimento e a

    justificao so bastante distintos. Um nunca est separado do outro, ainda que elesdevam ser confundidos. Na ordem natural, a regenerao precede justificao, ainda

    que no de nenhuma maneira a causa ou o fundamento dela: ningum justificado atque creia, e ningum cr at que seja convencido. A regenerao o ato do Pai (Tiago1:18), a justificao a sentena do Juiz. Uma me d um lugar na famlia de Deus, aoutra me assegura uma posio diante de Seu trono. Uma interior, sendo a concessoda vida divina minha alma: a outra exterior, sendo a imputao da obedincia deCristo minha conta. Por uma eu sou levado de regresso arrependido casa do Pai, poroutra se me d uma melhor vestidura que me prepara para Sua presena.Segundo, ela difere da santificao. A santificao moral ou experimental, a

    justificao legal ou judicial. A santificao resulta da operao do Esprito em mim, ajustificao baseada no que Cristo fez por mim. Uma gradual e progressiva nestavida; a outra completa e no admite adio. Uma tem que ver com meu estado, a outra

    tem que ver com minha posio diante de Deus. A santificao produz umatransformao de carter; a justificao uma mudana de status legal: uma mudanadesde a culpa e condenao ao perdo e aceitao, e isto somente por um ato de graa

    por parte de Deus, fundamentado sobre a imputao da justia de Cristo, por meio doinstrumento da f somente. Ainda que a justificao est totalmente diferenciada dasantificao contudo, a santificao sempre a acompanha.

    Terceiro, ela difere do perdo. Em algumas coisas concordam. Somente Deus podeperdoar pecados (Marcos 2:7) e somente Ele pode justificar (Romanos 3:30). Sua livregraa a nica causa impulsora em um (Efsios 1:17) e da outra (Romanos 3:24). Osangue de Cristo a causa que adquire ambos por igual: Mateus 26:28, Romanos 5:9.Os objetos sos os mesmos: as pessoas que so perdoadas so justificadas, e as mesmasque so justificadas so perdoadas; aos que Deus imputa a justia de Cristo para sua

    justificao, Ele lhes d a remisso de pecados; e aos que Ele no culpa de pecado,seno que lhes perdoa, a eles lhes atribui justia sem obras (Romanos 4:6-8). Ambosso recebidos pela f (Atos 26:18, Romanos 5:1). Porm ainda que concordem nestascoisas, em outras se diferenciam.

    De Deus se diz ser justificado (Romanos 3:4), porm seria blasfmia falar dEle comosendo perdoado - isto mostra imediatamente que as duas coisas so diferentes. Umcriminoso poderia ser perdoado, porm somente uma pessoa justa pode ser realmente

    justificada. O perdo trata somente com os atos de um homem, a justificao com ohomem em si. O perdo considera aos pedidos de clemncia, a justificao aos dejustia. O perdo somente livra da maldio causada pelo pecado; a justificao almdisso, outorga um direito ao cu. A justificao se aplica ao crente com respeito sdemandas da lei, o perdo com respeito ao Autor da lei. A lei no perdoa, j que ela noadmite afrouxamento; porm que Deus perdoa as transgresses da lei em Seu povo

    provendo uma satisfao lei, adequada a suas transgresses. O sangue de Cristo foisuficiente para proporcionar o perdo (Efsios 1:7), porm Sua justia necessria paraa justificao (Romanos 5:19). O perdo liberta da morte (2 Samuel 12:13), porm a

    justia imputada chamada justificao de vida (Romanos 5:18). Uma v ao crentecomo completamente pecador, a outra como completamente justo. O perdo a

    remisso do castigo, a justificao a declarao de que no existe fundamente para

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    impor castigo. O perdo pode ser repetido at setenta vezes sete, a justificao de umavez para sempre.

    Do que se disse no ltimo pargrafo, podemos ver que um srio erro limitar ajustificao ao mero perdo de pecados. Assim como a condenao no a execuo

    do castigo, porm mais bem a declarao formal de que o acusado culpado e digno decastigo; assim a justificao no meramente a remisso do castigo, mas o annciojudicial de que o castigo no pode ser aplicado com justia - sendo o acusadoplenamente conformado a todos os requerimentos positivos da lei como resultado daperfeita obedincia de Cristo, que tem sido legalmente posta em sua conta. Ajustificao de um crente no outra coisa que sua admisso participao narecompensa merecida por seu Fiador. A justificao nada mais nada menos que a

    justia de Cristo sendo imputada a ns: a beno negativa que dal emana a noinculpao de pecados; a positiva, um direito herana celestial.

    Belamente tem isto sido assinalado que No podemos separar do Emanuel Sua prpria

    essencial excelncia. Podemos v-LO ferido e oferecido como incenso batido para ofogo, porm foi alguma vez o incenso queimando sem fragncia, e sendo somente afragncia o resultado ? O nome de Cristo no somente anula o pecado, este prov nolugar daquele que foi anulado, sua prpria excelncia eterna. No podemos somente terseu poder nulificante; o outro o seguro acompanhante. Assim era com cada sacrifciotpico da Lei. Este era batido: porm como sendo sem defeito era queimado sobre o altar

    para um odor fragante. O odor ascendia como um memorial diante de Deus: este eraaceito por Ele, e seu valor era atribudo ou imputado a quem havia trazido a vtimasubstituda. Se portanto, recusamos a imputao de justia, recusamos o sacrifcio como revelado nas Escrituras; j que as Escrituras no conhecem de sacrifcio cuja eficciaseja to esgotada na eliminao da culpa como para no deixar nada que possa serapresentado em aceitabilidade diante de Deus (B. W. Newton).

    O que colocar nossa justia na obedincia de Cristo, seno que sustentar que somosconsiderados justos somente porque Sua obedincia aceita por ns como se fossenossa prpria ? Pela qual Ambrsio me parece que exemplificou mui belamente esta

    justia na beno de Jac: assim como ele, que no tinha por sua prpria conta direitoaos privilgios da primogenitura, estando dissimulado com os costumes de seu irmo, evestido com suas roupas, que espalharam um perfume mui excelente, o levaram a obtero favor de seu pai, de forma que pde receber a beno para seu prprio proveito, sob ocarter de outro; desse modo nos resguardemos debaixo da preciosa pureza de Cristo

    (Joo Calvino).

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    CAPTULO 2-SEU PROBLEMA

    Neste captulo e no seguinte, nosso objetivo ser qudruplo. Primeiro demonstrar aimpossibilidade de qualquer pecador obter aceitao e favor com Deus sobre a base deseu prprio desempenho. Segundo, mostrar que a salvao de um pecador apresentouum problema que nada exceto a oniscincia poderia resolver, mas que a perfeitasabedoria de Deus desenvolveu um caminho pelo qual Ele pode declara justo umculpado transgressor de Sua Lei sem por em dvida Sua veracidade, manchando Suasantidade, ou ignorando as reivindicaes da justia; sim, de um modo tal que todasSuas perfeies tm sido demonstradas e magnificadas, e o Filho de Seu Amorglorificado. Terceiro, apontar o nico fundamento sobre o qual uma conscinciadespertada pode encontrar uma paz slida e estvel. Quarto, buscar dar aos filhos deDeus uma clara compreenso das excessivas riquezas da Divina graa, para que seuscoraes possam ser atrados um fervente louvor ao Autor de uma to grande

    salvao.

    Porm permita-me assinalar no comeo que, qualquer leitor que nunca viu a si mesmosob a luz pura da santidade de Deus, e que nunca sentiu Sua Palavra cortando-lhe a

    prpria carne, ser incapaz de entrar plenamente dentro da fora a respeito do quevamos escrever. Sim, com toda probabilidade, aquele que no-regenerado adotar umacrtica decidida a muito do que iremos dizer, negando que exista alguma dificuldade naquesto de um Deus misericordioso perdoando a uma de Suas criaturas pecadoras. Ou,se ele no discordar at esse grau, ainda assim mui provavelmente considerar quetemos exagerado grosseiramente os vrios elementos no caso que vamos apresentar, quetemos descrito a condio de um pecador em um tom muito mais escuro do que seria

    permitido. Isto deve ser assim, porque ele no tem conhecimento experimental comDeus, nem consciente da terrvel praga de seu prprio corao.

    O homem natural no pode suportar o pensamento de ser profundamente examinado porDeus. A ltima coisa que ele deseja passar debaixo do olho que tudo v de SeuCriador e Juiz, de forma que cada um de seus pensamentos e desejos, suas mais secretasimaginaes e motivos, permanecem expostas diante dEle. Verdadeiramente a maissolene experincia quando somos levados a sentir com o Salmista: SENHOR, tu mesondaste, e me conheces. Tu sabes o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes omeu pensamento. Cercas o meu andar, e o meu deitar; e conheces todos os meuscaminhos. No havendo ainda palavra alguma na minha lngua, eis que logo,

    SENHOR, tudo conheces. Tu me cercaste por detrs e por diante, e puseste sobre mim atua mo (Salmos 139:1-5).

    Sim, querido leitor, verdadeiramente a ltima coisa que o homem natural deseja serexaminado, at o profundo por Deus, e ter seu carter real exposta vista. Porm,quando Deus se empenham em fazer esta mesmssima coisa - que Ele - que Ele far nagraa nesta vida, ou no julgamento no Dia por vir - no h escape para ns. Ento

    podemos bem exclamar: Para onde me irei do teu esprito, ou para onde fugirei da tuaface? Se subir ao cu, l tu ests; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali eststambm. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, At ali a tua mo

    me guiar e a tua destra me suster. Se disser: Decerto que as trevas me encobriro;ento a noite ser luz roda de mim (Salmos 139:7-11). Ento asseveraremos: Nem

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    ainda as trevas me encobrem de ti; mas a noite resplandece como o dia; as trevas e a luzso para ti a mesma coisa (v. 12).

    Ento a alma despertada uma compreenso de quem Aquele com quem ela tem detratar. Ento quando ele agora percebe algo das altas demandas de Deus sobre ele, os

    justos requerimentos de Sua Lei, as demandas de Sua santidade. Ento que ele entendequo completamente tem falhado em considerar aquelas demandas, quo horrendamentetem descuidado daquela lei, quo miseravelmente falha em satisfazer aquelas demandas.Agora percebe que tem sido um rebelde desde o ventre (Isaas 48:8), assim quelonge de haver vivido para glorificar ao Seu Criador, no fez anda mais que seguir acorrente deste mundo e satisfazer os desejos da carne. Agora percebe que no h nelecoisa s seno que, desde a planta do p at a cabea, h feridas, e inchaos, e chagas

    podres (Isaas 1:6). Agora ele levado a entender que todas suas justias so comotrapo de imundcia (Isaas 64:6).

    fcil para qualquer um nos claustros das escolas entregar-se a especulaes ociosas

    sobre o mrito das obras para justificar aos homens; porm quando ele chega presenade Deus, deve dizer adeus a estes passatempos porque ali o assunto levado a cabo comseriedade, e no so praticadas ridculas contendas de palavras. Neste ponto, ento,nossa ateno deve ser dirigida, se desejamos fazer alguma busca proveitosa relacionadacom a verdadeira justia; a como podemos responder ao Juiz celestial, quando Ele noschamar para uma prestao de contas. Ponhamos quele Juiz diante de nossos olhos,no de acordo com as imaginaes espontneas de nossas mentes, mas de acordo comas descries que so dadas dEle nas Escrituras; que O representa como a Um cujoresplendor obscurece as estrelas, cujo poder derrete as montanhas, cuja ira faz tremer aterra, cuja sabedoria apanha os sbios em sua prpria astcia, cuja pureza faz parecertodas as coisas impuras, cuja justia inclusive os anjos so incapazes de suportar, quemno perdoa ao culpado, cuja vingana, uma vez acendida, penetra at os abismos doInferno (Joo Calvino).

    Ah, meu leitor, verdadeiramente, so tremendos os efeitos produzidos na alma quandoum realmente levado diante da presena de Deus, e lhe dada uma viso de Suaimpotente majestade. Enquanto nos avaliamos por nossos semelhantes, fcil chegar concluso de que no muito mal em ns; porm quando nos aproximamos do temveltribunal da santidade inefvel, formamos uma estimativa totalmente diferente de nossocarter e conduta. Enquanto estivermos ocupados com objetos terrenos, poderemos nosorgulhar na fora de nossa capacidade, porm fixando a observao constantemente no

    sol do meio-dia e sob seu resplendor deslumbrante a debilidade de nosso olho serimediatamente evidenciada. De maneira semelhante, enquanto me comparo com outrospecadores s posso formar uma incorreta estima de mim, porm se avalio a minha vidapelo prumo da Lei de Deus, e fao assim luz de Sua santidade, devo me abominar eme arrepender no p e na cinza (J 42:6).

    Porm o pecado no somente tem corrompido ao ser do homem, este tem mudado suarelao com Deus: este o tem feito separado [de Deus] (Efsios 4:18), e o tem trazidosob ele Sua justa condenao. O homem tem quebrado a Lei de Deus em pensamento,

    palavra e ao, no uma vez, mas vezes sem nmero. Ele declarado pelo tribunaldivino como um infrator incorrigvel, um rebelde culpado. Ele est sob a maldio de

    seu Criador. A lei demanda que seu castigo seja infligido sobre ele; a justia clama porsatisfao. O estado do pecador deplorvel, ento, at o ltimo grau. Quando isto

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    dolorosamente sentido pela conscincia culpada, seu agonizante possuidor exclama:Como, pois, seria justo o homem para com Deus, e como seria puro aquele que nascede mulher? (J 25:4). Certamente, como ! Consideremos agora os vrios elementosque entram neste problema.

    Os requerimentos da Lei de Deus. Cada questo, portanto, com respeito justificao,necessariamente nos leva diante dos tribunais judiciais de Deus. Os princpios daquelascortes devem ser definidos somente por Deus. Inclusive aos governantes terrenos, lhesconcedemos o direito de estabelecer seus prprias leis, e de fixar o modo de suaexecuo. Outorgaremos esta faculdade ao homem, e a negaremos ao Deus onisciente etodo-poderoso ? Seguramente nenhuma ousadia pode ser maior que a criatura assumao direito de julgar ao Criador, e pretenda determinar quais deveriam, ou no deveriamser, os mtodos de Seu governo. Nosso lugar deve ser o de escutar respeitosamente Sua

    prpria exposio dos princpios de Seu prprio tribunal, e humildemente agradecer-lhepor Sua bondade em condescender a explicar-nos quais so aqueles princpios. Comopecadores, no podemos exigir nada de Deus. Ns temos que reivindicar uma revelao

    que nos d a conhecer Seus caminhos.

    Os princpios judiciais do governo de Deus, esto, como poderia ser esperado,baseados sobre a absoluta perfeio de Sua prpria santidade. Isto foi completamenteevidenciado nos mandamentos da lei como foi dada no Sinai tanto nos que probem algocomo nos que exigem algo. A lei proibiu no somente as ms aes e os maus desgniosdo corao, mas foi ainda mais profundamente. Ela proibiu ainda os maus desejos e msinclinaes, dizendo no cobiaras - isto , tu no ters, nem aindamomentaneamente, um desejo ou tendncia que seja contrrio perfeio de Deus. E

    portanto, assim como em seus requerimentos positivos, ela demanda a perfeita,incondicional e permanente rendio de alma e corpo, com todas suas foras, a Deus e aSeu servio. No s foi requerido, que o amor a Ele - amor perfeito e incessante -deveria residir como um princpio vivo no corao, mas que tambm deveria serdesenvolvido na ao, e isto sem variaes. Alm do mais, foi requerido que o mododurante todo o processo fosse to perfeito como o princpio desde o qual o processoemanou.

    Se algum entre os filhos dos homens capaz de materializar uma pretenso deperfeio tal como esta, as Cortes de Deus esto prontas para reconhec-la. O Deus daVerdade reconhecer uma pretenso veraz onde quer que ela se encontre. Porm sesomos incapazes de apresentar uma pretenso semelhante - se a corrupo encontrada

    em ns e em nossos caminhos - se em alguma coisa no alcanamos a glria de Deus,ento evidente que ainda que as Cortes de Deus possam estar dispostas a reconhecer aperfeio onde quer que ela exista, tal disposio no pode servir de base para aesperana daqueles, os quais, em lugar de ter a perfeio, tm pecados e imperfeiessem nmero (B.W. Newton).

    A acusao apresentada contra ns. Ouvi, cus, e d ouvidos, tu, terra; porque oSENHOR tem falado: Criei filhos, e engrandeci-os; mas eles se rebelaram contra mim.O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel notem conhecimento, o meu povo no entende. Ai, nao pecadora, povo carregado deiniqidade, descendncia de malfeitores, filhos corruptores; deixaram ao SENHOR,

    blasfemaram o Santo de Israel, voltaram para trs (Isaas 1:2-4). O eterno Deus nos

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    culpa de haver quebrado todos Seus mandamentos - alguns por obra, alguns em palavra,todos eles em pensamento e imaginao.

    A gravidade desta acusao aumentada pelo fato que contra a luz e o conhecimentoescolhemos o mal e abandonamos o bem: de tal maneira que uma e outra vez

    deliberadamente nos apartamos da justa Lei de Deus, e nos desviamos como ovelhasperdidas, seguindo os maus desejos e as inclinaes de nossos prprios coraes.Acima, encontramos a Deus reivindicando que visto que somos Suas criaturas,deveramos haver-LHE obedecido; j que como devemos nossas prprias vidas a Seudirio cuidado, deveramos haver-LHE rendido nossa fidelidade em lugar dedesobedincia, e deveramos ter sido Seus leais sditos em vez de sermos traidores deSeu reino. No se nos pode acusar de exagerar sobre o pecado, mas que se expressouuma afirmao da realidade que nos impossvel de contradizer. Somos ingratos,rebeldes e mpias criaturas. Quem desejaria ter um cavalo que se recusasse a trabalhar ?Quem desejaria ter um cachorro que nos rouba e nos ataca ? Todavia, temos quebrado oDia do Senhor, desprezado Suas repreenses, abusado de Suas misericrdias.

    A sentena da lei. claramente proclamada nas declaraes divinas: Maldito todoaquele que no permanecer em todas as coisas que esto escritas no livro da lei, parafaz-las (Glatas 3:10). Quem quer que seja que viole um s preceito da Lei divina seexpe a si mesmo desaprovao de Deus, e ao castigo como a expresso dessadesaprovao. No se faz escusa pela ignorncia, nem se faz distino entre pessoas,nem permitida uma diminuio de sua severidade: A alma que pecar morrer o

    pronunciamento inexorvel. No se faz exceo se o transgressor jovem ou velho, ricoou pobre, judeu ou gentio: o salrio do pecado a morte; porque do cu se manifestaa ira de Deus sobre toda a impiedade e injustia dos homens, que detm a verdade eminjustia (Romanos 1:18).

    O prprio Juiz inflexivelmente justo. Na elevada corte da justia divina, Deus toma alei em seus mais estritos e rigorosos aspectos, e julga rigidamente de acordo como estescrito. E bem sabemos que o juzo de Deus segundo a verdade sobre os que taiscoisas fazem...O qual recompensar cada um segundo as suas obras (Romanos 2:2,6).Deus inexoravelmente justo, e no mostrar parcialidade alguma para a lei e nemtampouco para o seu transgressor. O Altssimo tem determinado que Sua Santa Lei serfielmente sustentada e seus castigos estritamente executados.

    A que se assemelharia este pas se todos seus juzes deixassem de sustentar e fazer

    cumprir as leis da nao ? Que condies predominariam se uma misericrdiasentimental reinasse custa da justia ? Agora, Deus o Juiz de toda a terra e ogovernador moral do universo. As Sagradas Escrituras proclamam que justia e juzo,e no misericrdia e clemncia so a base de Seu trono (Salmos 89:14). Osatributos de Deus no se opem um ao outro. Sua misericrdia no anula Sua justia,nem Sua graa jamais exibida custa da justia. A cada uma de Suas perfeies dado livre curso. Para Deus dar a um pecador entrada ao cu simplesmente porque Ele oamava, seria como um juiz que abriga em sua prpria casa a um fugitivo condenadomeramente porque ele teve piedade dele. As Escrituras enfaticamente declaram queDeus, ao culpado no tem por inocente (34:7).

    O pecador inquestionavelmente culpado. No que ele somente tem debilidades ouque no to bom como deveria ser: ele tem desafiado a autoridade de Deus, violado

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    Seus mandamentos, pisoteado Suas leis. E isto verdade no somente para uma certaclasse de pecadores, mas todo o mundo culpado diante de Deus (Romanos 3:19).No h um justo, nem um sequer. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeraminteis. No h quem faa o bem, no h nem um s (Romanos 3:10,12). impossvel

    para todo homem livrar-se a si mesmo desta terrvel acusao. Ele no pode provar que

    os crimes dos quais acusado no foram cometidos, nem que havendo sido cometidos,tinha direito de faz-los. Ele tampouco pode refutar as acusaes que a lei apresentoucontra ele, nem justificar-se pela perpretao delas.

    Aqui ento como o caso permanecer. A lei demanda uma pessoal, perfeita, e perptuaconformidade a seus preceitos, no corao e obras, na motivao e realizao. Deusacusa a cada um de ns de ter falhado em cumprir aquelas justas demandas, e declaraque temos violado Seus mandamentos em pensamentos, palavras e obras. A lei,

    portanto, pronuncia sobre ns uma sentena de condenao, nos amaldioa, e demandaa execuo do castigo, que a morte. Aquele diante de cujo tribunal permanecemos onisciente, e no pode ser enganado ou coagido; Ele inflexivelmente justo, e no

    influenciado por consideraes sentimentais. Ns, os acusados, somos culpados,incapazes de refutar as acusaes da lei, incapazes de reivindicar nossa conduta

    pecaminosa, incapazes de oferecer algum satisfao ou reparao por nossos crimes.Verdadeiramente, nosso caso desesperado at o ltimo grau.

    Aqui, ento, est o problema. Como pode Deus justificar ao transgressor intencional deSua Lei sem justificar seus pecados ? Como pode Deus livrar-lhe da penalidade de SuaLei quebrada sem comprometer Sua santidade e sem mudar Suas palavras de que Eleao culpado no tem por inocente ? Como pode ser dada a vida ao delinqente culpadosem anular a sentena a alma que pecar, essa morrer ? Como pode ser mostradamisericrdia ao pecador sem a justia ser desprezada ? Este um problema que devesempre ter embaraado a cada uma das inteligncias finitas. Apesar de tudo, benditoseja Seu nome, Deus, em Sua sabedoria perfeita, planejou um caminho pelo qual oprincipal dos pecadores pode ser tratado por Ele como se fosse perfeitamenteinocente; ainda mais, Ele o declarajusto, de acordo com o padro requerido pela lei, ecom direito recompensa da vida eterna. Como isto pode acontecer, ser visto nocaptulo seguinte.

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    CAPTULO 3-SUA BASE

    No nosso ltimo captulo contemplamos o problemaque apresentado na justificao

    ou em pronunciar justo algum que um evidente violador da Lei de Deus. Algunspodem ter sido surpreendidos pela utilizao do termo problema: assim como hmuitos entre as filas dos mpios que crem que o mundo deve lhes um sustento, assimh no poucos fariseus na Cristandade que supe que lhes devido que na morte, oCriador os tome para o Cu. Porm mui diferente com um que tem sido iluminado econvencido pelo Esprito Santo, de modo que ele se v a si mesmo como um imundomiservel, um vil rebelde contra Deus. Tal pessoa, vendo que a palavra de Deus toclaramente declara no entrar nela coisa alguma que contamine, e cometaabominao (Apocalipse 21:27) se perguntar: Como possvel que eu possa dealguma forma conseguir ser admitido na Jerusalm celestial ? Como pode ser que umto completamente desprovido de justia como eu, e to cheio de injustia, seja algumavez declarado justo por um Deus santo ?

    Vrias tentativas tm sido feita pela mentes incrdulas para resolver este problema.Alguns tm considerado que se eles agora comearem uma nova fase, perfeitamentereformarem suas vidas e de agora em diante andarem em obedincia Lei de Deus,sero aprovados diante do Tribunal Divino. Este esquema, reduzido a simples termos, salvao por nossas prprias obras. Porm um esquema tal absolutamenteinsustentvel, e a salvao por tais meios absolutamente impossvel. As obras de um

    pecador reformado no podem ser a causa meritria ou eficaz de sua salvao, e istopelas seguintes razes. Primeiro, no se faz uma proviso para suas faltas anteriores.

    Suponhamos que de agora em diante eu nunca mais transgrida a Lei de Deus, o que eutenho para pagar por meus pecados passados ? Segundo, uma criatura cada e pecadorano pode produzir o que perfeito, e nada imperfeito aceitvel para Deus. Terceiro, sefosse possvel para ns sermos salvos por nossas prprias obras, ento os sofrimentos ea morte de Cristo foram desnecessrios. Quarto, a salvao por nossos prprios mritoseclipsaria inteiramente a glria da Graa Divina.

    Outros supem que este problema pode ser resolvido por um apelo reveladamisericrdia de Deus. Porm a misericrdia no um atributo que ofusca as outras

    perfeies Divinas: justia, verdade, e santidade so tambm atuantes na salvao doseleitos de Deus. A lei no deixada de lado, mas honrada e magnificada. A verdade

    de Deus em Suas solenes advertncias no manchada, mas fielmente executada. Ajustia Divina no desprezada, mas reivindicada. Nenhuma das perfeies de Deus exercida em prejuzo de qualquer uma das outras, mas todas elas brilham com igualclaridade no pano que a sabedoria divina desenhou. A misericrdia custa da justia

    pisoteada no se adapta ao governo Divino; e a justia imposta pela excluso damisericrdia no compatvel com o carter Divino. O problema que a intelignciainfinita pde resolver era como ambos[misericrdia e justia] poderiam ser exercidosna salvao do pecador.

    Um impressionante exemplo de misericrdia ineficazante as demandas da lei ocorre emDaniel 6. Ali encontramos que Dario, o rei da Babilnia, foi induzido por seus nobres a

    firmar um decreto pelo qual qualquer sujeito dentro de seu reino que orasse, ou fizesseuma petio a qualquer deus, ou a qualquer homem por espao de trinta dias exceto ao

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    prprio rei, deveria ser lanado na cova dos lees. Daniel conhecendo isto, contudo,continuou orando a Deus como fazia antes. Imediatamente os nobres informaram aDario acerca de sua violao do edito real, que conforme a lei dos medos e dos persasno se pode revogar, exigiram seu castigo. Porm Daniel era tido em alta estima pelorei, e este desejava grandemente mostrar-lhe clemncia, assim props livr-lo; e at o

    pr do sol trabalhou para o salvar. Porm, ele se achou sem sada desta dificuldade: alei deveriaser honrada, assim Daniel foi lanado na cova dos lees.

    Um exemplo igualmente impressionante da ineficcia da lei na presena da misericrdia encontrado em Joo 8. Ali lemos de uma mulher surpreendida no ato do adultrio. Osescribas e fariseus a apreenderam e a levaram diante de Cristo, acusando-a de deleito, erecordando ao Salvador que na lei nos mandou Moiss que as tais sejam apedrejadas.Ela era inquestionavelmente culpada, e seus acusadores estavam decididos a que a

    penalidade da lei fosse executada sobre ela. O Senhor se voltou para eles e lhes disse:Aquele que dentre vs est sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela; eeles, convencidos por sua prpria conscincia, saram um a um, deixando adltera s

    com Cristo. Voltando-se para ela, Ele lhe perguntou: Mulher, onde esto aqueles teusacusadores ? Ningum te condenou ?. Ela respondeu: Ningum, Senhor, e Ele disse:Nem eu tambm te condeno: vai-te, e no peques mais.

    Os dois princpios opostos so vistos operando em conjunoem Lucas 15. O Pai nopodia ter a seu filho (prdigo) sentado Sua mesa vestido com os farrapos que trazia deum pas estrangeiro, porm Ele podia sair e encontrar-lhe com aqueles farrapos: Ele

    podia lanar-se-lhe ao pescoo e lhe beijar naqueles farrapos - foi abenoadamentecaracterstico de Sua graa fazer assim; mas sent-lo em Sua mesa com as vestimentas

    prprias de um alimentador de porcos, no seria apropriado. Mas, a graa que levou oPai at ao prdigo reinou por aquela justia que trouxe o prdigo at a cada do Pai.

    No teria existido graa se o Pai tivesse esperado at o prdigo se ataviar com asvestimentas apropriadas de sua prpria proviso [do prdigo]; nem teria existidojustia se o Pai trouxesse-o Sua mesa em seus farrapos. Ambas, graa e justia,

    brilharam com suas respectivas belezas quando o Pai disse: Trazei depressa o melhorvestido, e vesti-lho.

    atravs de Cristo e Sua expiao que a justia e a misericrdia de Deus, Sua retido eSua graa, se encontram na justificao de um pecador crente. Em Cristo encontrada asoluo para cada problema que o pecado tem causado. Na Cruz de Cristo todos osatributos de Deus brilham em seu mximo esplendor. Na reparao que o Redentor

    ofereceu a Deus, cada demanda da lei, seja preceptiva ou penal, tem sido plenamentecumprida. Deus tem sido infinitamente mais honrado pela obedincia do ltimo Adodo que Ele foi desonrado pela desobedincia do primeiro Ado. A justia de Deus foiinfinitamente mais engrandecida quando Sua terrvel espada feriu o amado Filho, doque seria se cada membro da raa humana fosse queimado para sempre e sempre nolago de fogo. H infinitamente mais eficcia no sangue de Cristo para limpar, do que hno pecado para contaminar. H infinitamente mais mrito em uma perfeita justia deCristo do que h demrito na combinada injustia de todos os mpios. Bem podemosexclamar: Mas longe esteja de mim gloriar-me, a no ser na cruz de nosso SenhorJesus Cristo (Glatas 6:14).

    Porm, enquanto muitos concordam que o sacrifcio expiatrio de Cristo a causameritria da salvao de Seu povo, atualmente h verdadeiramente poucos que podem

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    dar alguma clara explicao escriturstica do meio e da maneirapelas quais a obra deCristo assegura a justificao de todos os que crem. Portanto, h uma necessidade deuma clara e completa declarao disto. As idias confusas sobre este ponto so tantodesonrosas a Deus como pertubadoras de nossa paz. de primeira importncia que ocristo obtenha um claro entendimentodo fundamento sobre o qual Deus perdoa seus

    pecadose lhe concede um direto herana celestial. Talvez isto seja melhor exposto pormeio destas trs palavras: substituio, identificao, imputao. Como seu Fiador eResponsvel, Cristo entrou no lugar ocupado por Seu povo debaixo da lei, assimidentificando-Se com eles para ser seu Cabea e Representante, e como tal Ele assumiue lhes libertou de todas suas obrigaes legais: sendo transferidas suas dvidas a Ele, eSeus mritos sendo transferidos a eles.

    O Senhor Jesus conquistou para Seu povo uma perfeita justia por obedecer a lei empensamento, palavra e ao, e esta justia imputada a eles, posta em sua conta. OSenhor Jesus sofreu as penalidades da lei no lugar deles, e atravs de Sua morteexpiatria eles foram limpos de toda culpa. Como criaturas, eles estavam debaixo de

    obrigaes para obedecer a Lei de Deus; como criminosos (transgressores) eles estavamsob a sentena da morte da lei. Portanto, para cumprir nossas obrigaes e pagar nossasdvidas foi necessrio que nosso Substituto tanto obedecesse como morresse. Oderramamento do sangue de Cristo apagou nossos pecados, porm isto, por si s, nonos prov o melhor vestido. Silenciar as acusaes da lei contra ns de modo queagora nenhuma condenao h para quem est em Cristo Jesus simplesmente uma

    beno negativa: algo mais requerido, ou seja, uma justiapositiva, o cumprimento dalei, para que possamos ter o direito sua beno e recompensa.

    Nos tempos do Antigo Testamento o nome sob o qual foi predito o Messias e Mediadorfoi: O SENHOR JUSTIA NOSSA (Jeremias 23:6). Daniel predisse explicitamenteque Ele viria aqui para dar fim aos pecados, e para expiar a iniqidade, e trazer a

    justia eterna (9:24). Isaas anunciou: De mim se dir: Deveras no Senhor h justia efora: at ele viro mas sero envergonhados todos os que se irritarem contra ele. Masno Senhor ser justificada e se gloriar toda a descendncia de Israel (Isaas 45:24,25).E de novo, ele representa cada um dos redimidos exclamando: Regozijar-me-ei muitono Senhor, a minha alma se alegra no meu Deus: porque me vestiu de vestidos desalvao, me cobriu com o manto de justia (Isaas 61:10).

    Em Romanos 4:6-8 lemos: Assim tambm Davi declara bem-aventurado o homem aquem Deus imputa a justia sem obras, dizendo: Bem-aventurados aqueles cujas

    maldades so perdoadas, e cujos pecados so cobertos. Bem-aventurado o homem aquem o Senhor no imputa o pecado. Aqui se nos mostra a inseparabilidadede duascoisas: Deus imputando justia e Deus no imputando pecados. As duas nunca sodivididas: a quem Deus no imputa pecado, Ele imputa justia; e a quem Ele imputa

    justia, Ele no imputa pecado. Porm, o ponto especfico que estamos maispreocupamos que o leitor chegue a entender :De quem a justia que Deus imputaou pe na conta daquele que cr ? A resposta : aquela justia que foi produzida pelonosso Fiador, aquela obedincia lei que foi cumprida de forma vicria por nossoResponsvel, isto , a justia de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo (2 Pedro 1:1).Esta justia no somente para todos mas tambm sobre todos os que crem(Romanos 3:22). Esta chamada a justia de Deus porque foi a justia do Deus-

    Homem Mediador, assim como em Atos 20:28 Seu sangue chamado de o sangue deDeus.

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    A justia de Deus que mencionada to freqentemente na Epstola aos Romanos nose refere justia essencial do carter divino, porque no possvel que ela possa serimputada ou transferida legalmente a nenhuma criatura. Quando se diz em 10:3 que osJudeus no conheceram a justia de Deus, certamente no significa que eles estavamna escurido com respeito Divina retido ou que eles no conhecessem nada sobre a

    justia de Deus; mas isto significa que eles eram ignorantes acerca da justia que oDeus-Homem Mediador vicariamente adquiriu para o Seu povo.Isto abundantementeclaro pelo resto do versculo: e procurando estabelecer a sua prpria justia - nouma retido ou justia prpria deles, mas fazendo obras pelas quais eles esperavammerecer aceitao diante de Deus. To firmemente se apegaram a esta desiluo queeles no se sujeitaram justia de Deus: isto , eles recusaram abandonar sua justia

    prpria e pr sua confiana na obedincia e nos sofrimentos do Filho encarnado deDeus.

    Explicarei o que queremos dizer pela imputao da justia de Cristo. s vezes aexpresso tomada pelos nossos telogos em um sentido mais amplo, pela imputao

    de tudo o que Cristo fez e sofreu por nossa redeno, com a qual somos livres de culpa epermanecemos justos diante dos olhos de Deus; e assim, a imputao implica tanto nasatisfao como na obedincia de Cristo. Porm aqui, eu pretendo us-la em um sentidomais estrito, como a imputao daquela justia ou virtude moral que consiste naobedincia de Cristo. E por essa obedincia sendo imputada ns, se quer dizernenhuma outra coisa do que isto: que esta justia de Cristo aceitada por ns, eadmitida no lugar daquela perfeita justia interior que deveria estar em ns mesmos: a

    perfeita obedincia de Cristo ser posta em nossa conta, de forma que teremos osbenefcios dela, como se ns mesmos a houvssemos realizado: e assim assumimos quese nos dado um direito vida eterna como a recompensa desta justia (JonathanEdwards).

    A passagem que irradia a mais clara luz sobre aquele aspecto da justificao que agoraestamos considerando 2 Corntios 5:21: Aquele que no conheceu pecado, o fez

    pecado por ns: para que nele fssemos feitos justia de Deus. Aqui ns temos ascontra imputaes: de nossos pecados a Cristo, de Sua justia a ns. Como oensinamento deste versculo de to vital importncia, permita-nos empenharmo-nosem considerar seus termos com mais ateno. ComoCristo se fez pecado por ns ?Pela imputao que Deus fez sobre Ele de nossa desobedincia, ou de nossastransgresses lei; de igual modo, ns somos feitos justia de Deus nEle (em Cristo,no em ns mesmos) pela imputao que Deus nos faz da obedincia de Cristo, de Seu

    cumprimento aos preceitos da lei por ns.

    Como Cristo no conheceu pecado pela impureza interior ou comisso pessoal, assimns conhecemos ou no tivemos justia de nossa prpria conformidade interior lei,nem pela obedincia pessoal ela. Como Cristo se fez pecado por haver sido nossos

    pecados postos a Sua conta ou carregados sobre Ele em um modo judicial, e como nofoi por uma conduta criminal de Si mesmo que Ele se fez pecado, assim no poralguma atividade piedosa de ns mesmos que chegamos a ser justos: Cristo no sefez pecado pela infuso de depravao, nem ns somos feito justia pela infuso desantidade. Ainda que pessoalmente santo, nosso Responsvel, entrando em nosso lugarlegal, se entregou a Si mesmo oficialmente devedor ira de Deus; e assim apesar de

    pessoalmente malvados, temos, em virtude de nossa identificao legal com Cristo,direito ao favor de Deus. Como a conseqncia de que Cristo se fez pecado por ns

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    foi que o Senhor fez cair sobre ele a iniqidade de ns todos (Isaas 53:6), assim aconseqncia de que a obedincia de Cristo foi posta em nossa conta que Deus atribui

    justia sobre todos os que crem (Romanos 3:22). Como nossos pecados foram ofundamento judicial dos sofrimentos de Cristo, sofrimentos pelos quais Ele satisfez Justia; assim a justia de Cristo o fundamento judicial de nossa aceitao diante de

    Deus, pelo qual nosso perdo um ato de Justia.

    Note-se cuidadosamente que em 2 Corntios 5:21 Deus quem fez ou estabeleceulegalmente a Cristo para que fosse pecado por ns, ainda que como Hebreus 10:7mostra, o Filho com boa vontade Se submeteu a isto. Ele foi feito pecado porimputao: os pecados de todo Seu povo foram transferidos a Ele, carregados sobre Ele,e postos a Sua conta e tendo-os sobre Si, Ele foi tratado pela justia de Deus como seEle tivesse sido no somente um pecador, mas uma massa de pecado: porque ser feito

    pecado uma expresso mais forte do que ser um pecador (John Gill). Para que nelefssemos feitos justia de Deus significa ser legalmente constitudos justos diante deDeus - justificados. Esta uma justia 'nEle', em Cristo, e no em ns mesmos, e

    portanto devemos entender a justia de Cristo: assim chamada porque adquirida porCristo, que Deus sobre todas as coisas, o verdadeiro Deus, e a vida eterna (Ibid.).

    O mesmo intercmbio que tem sido postos diante de ns em 2 Corntios 5:21 encontrado de novo em Glatas 3:13,14: Cristo nos resgatou da maldio da lei,fazendo-se maldio por ns; porque est escrito: Maldito todo aquele que for

    pendurado no madeiro; Para que a bno de Abrao chegasse aos gentios por JesusCristo. Como o Fiador de Seu povo, Cristo foi nascido sob a lei (Glatas 4:4),

    permanecendo na posio judicial e no lugar deles, e tendo todos os seus pecadosimputados a Ele, e a lei encontrando-os todos sobre Ele, O condenou por eles; e assim a

    justia de Deus O entregou maldita morte de cruz. O propsito, bem como aconseqncia, disto foi que a bno de Abrao chegasse aos gentios: a bno deAbrao (como Romanos 4 mostra) foi a justificao pela f atravs da justia de Cristo.

    Por uma Vida que no vivi,Por uma Morte que no morri;

    Na morte de Outro, na vida de OutroDescansar minha alma eternamente.

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    CAPTULO 4-SUA NATUREZA

    A justificao, estritamente falando, consiste em Deus imputando aos Seus eleitos ajustia de Cristo, sendo estaa nica causa meritria ou o fundamento essencial sobre oqual Ele declara-os justos: a justia de Cristo a que Deus considera quando Ele perdoae aceita o pecador. Por a natureza da justificao fazemos referncia aos elementosconstituintes da mesma, os quais so desfrutados pelo crente. Estes so, a noimputao de culpa ou a remisso de pecados, e segundo, a investidura do crente comum direito legal ao Cu. O nico fundamento sobre o qual Deus perdoa qualquer pecadodo homem, e lhe admite ao Seu favor judicial, a obra vicria de seu Fiador - essa

    perfeita satisfao que Cristo ofereceu lei em seu benefcio. de grande importnciaser claro sobre o fato de que Cristo foi nascido sob a lei no somente para que Ele

    pudesse redimir Seu povo da maldio da lei (Glatas 3:13), mas tambmpara queeles pudessem receber a adoo de filhos (Glatas 4:4,5), isto , serem investidos com

    os privilgios de filhos.

    Esta grande doutrina da Justificao foi proclamada em sua pureza e claridade pelosReformadores - Lutero, Calvino, Zanchius, Pedro Mrtir, etc.; porm, comeou a sercorrompida no sculo dezessete por homens que tiveram somente um conhecimento muisuperficial desta, os quais ensinaram que a justificao consistia meramente na remoode culpa ou no perdo de pecados, excluindo o positivo acesso do homem ao favor

    judicial de Deus: em outras palavras, eles restringiram a justificao libertao doInferno, falhando em declarar que esta tambm proporciona um direito ao Cu. Esteerro foi perpetuado por John Wesley, e ento pelos Irmos de Plymouth, os quais,negando que a justia de Cristo imputada ao crente, procuraram encontrar um direito

    vida eterna em uma unio com Cristo em Sua ressurreio. Poucos na atualidade tmclaro o duplo contedo da Justificao, porque poucos hoje entendem a naturezadaquela justia que imputada a todos os que crem.

    Para mostrar que no temos deturpado os ensinamentos padres dos Irmos dePlymouth sobre este tema, citamos a obra Notas em Romanos do Sr. W. Kelly. Emsua Introduo ele declara: No h nada que impea nosso entendimento de a

    justia de Deus em seu sentido usual de um atributo ou qualidade de Deus (p. 35).Mas como pode um atributo ou qualidade de Deus ser sobre todos os que crem(Romanos 3:22) ? O Sr. Kelly de nenhum modo reconhece que a justia de Deus e ajustia de Cristo so uma e a mesma, e portanto, quando ele chega a Romanos 4 (onde

    se diz tanto sobre justia sendo imputada ao crente) ele esvazia o conjunto de seubendito ensinamento tentando comprovar que esta justia no nada mais que nossaprpria f, dizendo de Abrao, sua f na palavra de Deus como aquela que ele exerceu,e a qual foi contada como justia (p. 47).

    A justia de Cristo que imputada ao crente consiste daquela perfeita obedincia queEle rendeu aos preceitos da Lei de Deus e daquela morte que Ele morreu sob o castigoda lei. Tem sido dito com razo que: H a mesma necessidade da obedincia de Cristo lei em nosso lugar, para a recompensa, como de Seu sofrimento do castigo da lei emnosso lugar para nosso escape do castigo; e a mesma razo pela qual uma seria aceita a

    nossa conta tal como a outra. Supor que Cristo faz tudo para fazer expiao por ns pelosofrimento faz-LO nosso Salvador, porm em parte. Isto roubar-LHE a metade deSua glria como um Salvador. Porque se assim fosse, tudo o que Ele faz nos livrar do

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    Inferno; Ele no adquiri o Cu para ns (Jonathan Edwards). Algum objetar idiade Cristo adquirindo o Cu para Seu povo; ele pode ser imediatamente dirigido Efsios 1:14, onde Cu expressamente designado a possesso adquirida.

    A imputao conta do crente daquela perfeita obedincia lei que cumpriu seu Fiador

    para ele claramente ensinada em Romanos 5:18,19: Portanto, assim como por uma sofensa veio o juzo sobre todos os homens para condenao, assim tambm por um sato de justia veio a graa sobre todos os homens para justificao e vida. Porque, assimcomo pela desobedincia de um s homem muitos foram constitudos pecadores, assimtambm pela obedincia de um muitos sero constitudos justos. Aqui a ofensa oudesobedincia do primeiro Ado contrastada com a justia ou obedincia doltimo Ado, e visto que a desobedincia do primeiro foi uma real transgresso da lei,

    portanto, a obedincia do ltimo deve ser Sua ativa obedincia lei; de outra maneira afora da anttese do Apstolo falharia inteiramente. Como este ponto vital( a principalglria do Evangelho) atualmente to pouco entendido, e em algumas partes discutido,devemos entrar em algum detalhe.

    Aquele que foi justificado por sua f manteve uma dupla relao com Deus: primeiro,ele era uma criatura responsvel, nascido sob a lei; segundo, ele era um criminoso,tendo transgredido aquela lei - ainda que sua criminalidade no cancelou sua obrigaode obedecer a lei mais do que um homem que imprudentemente dissipa seu dinheiro jno est obrigado a pagar suas dvidas. Conseqentemente, a justificao consiste deduas partes, a saber, uma iseno da culpa, ou da condenao da lei (a libertao doInferno), e a recepo ao favor de Deus, na sentena de aprovao da lei (um direitolegal ao Cu). E portanto, o fundamento sobre o qual Deus declara justo a alguns tambm duplo, como a completa satisfao de Cristo vista em suas duas distintas

    partes: a saber, Sua obedincia vicria aos preceitos da lei, e Sua morte substituta sob apenalidade da lei, os mritos de ambas partes so igualmente imputados ou postos naconta do que cr.

    Contra isto se tem objetado: A lei no requer a nenhum homem obedecer e tambmmorrer. Ao que respondemos na linguagem de J. Hervey (1750): Porm no requer aum transgressor obedecer e morrer? Se no, ento a transgresso priva lei de seudireito, e liberta de toda obrigao a obedecer. No se requeria ao Fiador dos homens

    pecadores obedecer e morrer? Se o Fiador somente morrer, Ele somente liberta dapenalidade. Porm isto no outorga direito vida, nem outorga direito recompensa - amenos que voc possa produzir algum decreto da Corte Celestial como este - 'Sofre isto,

    e vivers'. Eu encontro escrito: 'E em os guardar h grande recompensa' (Salmos 19:11),porm em nenhuma parte leio: 'Em padecer tua maldio, h a mesma recompensa'.Enquanto que, quando unimos a obedincia ativa e passiva de nosso Senhor - o Sangueque fala de paz com a Vida doadora de justia - ambas so feitas infinitamentemeritrias e infinitamente eficazes pela glria divina de Sua pessoa, quo perfeita fazemaparecer nossa justificao! Quo firme ela permanece!

    No suficiente que o crente permanea sem pecados diante de Deus - isso somentenegativo. A santidade de Deus requer uma justia positiva nossa conta - que Sua Leiseja perfeitamente guardada. Porm ns somos incapazes de guard-la, portanto nossoResponsvel a cumpriu por ns. Pelo sangue derramado de nosso bendito Substituto as

    portas do Inferno tm sido cerradas para sempre para todos aqueles por quem Elemorreu. Pela perfeita obedincia de nosso bendito Fiador as portas do Cu so abertas

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    largamente para todo o que cr. Meu direito a permanecer diante de Deus, no somentesem temor, mas no consciente resplendor de Seu pleno favor, porque Cristo tem sidofeito justificao para mim (1 Corntios 1:30). Cristo no somente pagou todasminhas dvidas, mas tambm me libertou totalmente de todas minhas culpas. O Doadorda lei meu Cumpridor da lei. Cada santo desejo de Cristo, cada piedoso pensamento,

    cada palavra amvel, cada ato justo do Senhor Jesus, desde Belm ao Calvrio, se unempara formar aquela melhor roupa com a qual a descendncia real permanece ataviadadiante de Deus.

    Apesar disto triste dizer, que inclusive um escritor muito lido e em geral respeitadocomo o falecido Sr. Rob. Anderson, disse em seu livro, O Evangelho e Seu Ministrio(Captulo sobre a Justificao pelo Sangue): A obedincia vicria uma idiatotalmente sem razo; como poderia um Deus de justia e verdade considerar a umhomem que tem quebrado a lei como se houvesse guardado a lei? O ladro no declarado honesto porque seu vizinho ou seu parente um bom cidado. Quelamentvel arrastar at o tribunal da razo humana manchada pelo pecado, e at uma

    avaliao pelas comparaes mundanas, aquela transao divina onde foi exercida amultiforme sabedoria de Deus ! O que impossvel para os homens possvel paraDeus. Nunca leu o Sr. Robert aquela predio do Antigo Testamento onde o DeusAltssimo declarou: portanto eis que continuarei a fazer uma obra maravilhosa comeste povo, sim uma obra maravilhosa e um assombro; e a sabedoria dos seus sbios

    perecer, e o entendimento dos seus entendidos se esconder? (Isaas 29:14).

    Tem-se assinalado que: No domnio humano, tanto a inocncia como a justia sotransferveis em seus efeitos, porm que em si mesmas elas so intransferveis. A partirdisto se argumenta que nem o pecado nem a justia so em si mesmos capazes de sertransferidos, e que ainda que Deus tratou a Cristo como se Ele fosse um pecador, e tratacom o crente como se ele fosse justo, no obstante, no devemos supor que nenhum dosdois seja realmente o caso; menos ainda deveramos afirmar que Cristo mereceu sofrer amaldio, ou que Seu povo tem direito de ser levado ao Cu. Esta uma clara amostrada ignorncia teolgica destes tempos degenerados, tal um exemplo representativo decomo as coisas Divinas esto sendo medidas pelos padres humanos; por meio desemelhantes sofismas est sendo atualmente repudiada a verdade fundamental daimputao.

    Corretamente W. Rushton, em sua obra Redeno Particular, afirma, No grandeassunto de nossa salvao, nosso Deus permanece singular e completamente s. Nesta

    mais gloriosa obra, h uma exibio de justia, misericrdia, sabedoria e poder, comojamais o corao do homem imaginou, e em conseqncia, no pode ter comparaocom as aes dos mortais. 'Quem mostrou isso desde a antigidade? quem de h muito oanunciou? Porventura no sou eu, o Senhor? Pois no h outro Deus seno eu; Deus

    justo e Salvador no h alm de mim' (Isaas 45:21). No, na verdadeira natureza docaso no pode encontra-se uma analogia entre qualquer transao humana com atransferncia que Deus faz de nossos pecados a Cristo ou da obedincia de Cristo a ns,

    pela simples porm suficiente razo de que no existe uma unio semelhante entre aspessoas deste mundo como a que se obtm entre Cristo e Seu povo. Porm, deixe-nosampliar ainda mais esta dupla e oposta imputao.

    As aflies que o Senhor Jesus experimentou foram no somente sofrimentosprovocados pelas mos do homem, mas tambm o persistente castigo da mo de Deus:

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    Foi da vontade do Senhor esmag-lo (Isaas 53:10); espada, ergue-te contra o meupastor, e contra o varo que o meu companheiro, diz o Senhor dos exrcitos; fere aopastor, e espalhar-se-o as ovelhas; mas volverei a minha mo para os pequenos(Zacarias 13:7) foi Seu decreto. Porm o castigo legal pressupe a criminalidade; umDeus justo nunca haveria aplicado a maldio da lei sobre Cristo a menos que Ele a

    houvesse merecido. Somos conscientes de que esta uma linguagem forte, porm nomais forte do que as Santas Escrituras plenamente autorizam, e se necessita que ascoisas sejam ditas hoje fortemente e diretamente se queremos que um povo indiferenteseja despertado. Porque Deus transferiu ao Substituto todos os pecados de Seu povo foique, oficialmente, Cristo deveria efetuar o pagamento pelo salrio do pecado.

    A translao de nossos pecados a Cristo foi claramente prenunciada na Lei: E Aro,pondo as mos sobre a cabea do bode vivo (expressando identificao com osubstituto), confessar sobre ele todas as iniqidades dos filhos de Israel, e todas as suastransgresses, sim, todos os seus pecados; e os por sobre a cabea do bode (denotandotransferncia), e envi-lo- para o deserto, pela mo de um homem designado para isso.

    Assim aquele bode levar sobre si todas as iniqidades deles para uma regio solitria; eesse homem soltar o bode no deserto. Assim tambm foi especialmente anunciado

    pelos profetas: O SENHOR fez cair sobre ele a iniqidade de todos ns...e asiniqidades deles levar sobre si (Isaas 53:6,11). Naquele grande salmo messinico, osalmo 69, ouvimos o Fiador dizendo: Tu, Deus, bem conheces a minha estultcia, eas minhas culpas no so ocultas (v.5) - como poderia falar assim o Redentor semmancha, a menos que os pecados de Seu povo houvessem sido postos sobre Ele?

    Quando Deus imputou o pecado a Cristo como o Fiador do pecado, ps sobre Ele opecado, e tratou com Ele conseqentemente. Cristo no poderia haver sofrido em lugardo culpado a menos que sua culpa houvesse sido primeiramente transferida a Ele. Ossofrimentos de Cristo foram penais. Deus por um ato de graa transcendente (paraconosco) ps as iniqidades de todos os que so salvos sobre Cristo, e em conseqncia,a justia Divina encontrando pecado sobre Ele, O castigou. Aquele que de nenhummodo tem por inocente ao culpado deve atacar o pecado e ferir seu portador, noimporta se este o prprio pecador ou Um que vicariamente toma seu lugar. Mas comoG.S. Bishop bem disse: Quando a justia golpeia uma vez ao Filho de Deus, a justiase esgota. O pecado castigado em um Objeto Infinito. A expiao de Cristo foicontrria a nossos processos legais porque esta se eleva por cima de suas limitaesfinitas!

    Ento como os pecados dos que crem foram transferidos e imputados por Deus aCristo de maneira que Deus Lhe considerou e tratou conseqentemente - visitando sobreEle a maldio da lei, que a morte; assim como a obedincia ou justia de Cristo transferida e imputada por Deus ao crente, assim que Deus agora considera e trata comele conseqentemente - dando-lhe a beno da lei, que a vida. E qualquer negaodeste fato, no importa quem a realize, um repdio ao princpio fundamental doEvangelho. Porque, se pela ofensa de um s, a morte veio a reinar por esse, muito maisos que recebem a abundncia da graa, e do dom da justia, reinaro em vida por um s,Jesus Cristo (Romanos 5:17). A expiao, ento, que pregamos uma de absolutointercmbio (1 Pedro 3:18). Isto significa que Cristo tomou literalmente nosso lugar,

    para que ns pudssemos tomar literalmente Seu lugar - que Deus considerou e tratou a

    Cristo como o Pecador, e que Ele considera e trata ao pecador crente como a Cristo.

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    No suficiente para um homem ser perdoado. Ele, certamente, ento inocente -lavado de seus pecados - reposto novamente, como Ado no den, exatamente onde eleestava. Porm isso no suficiente. A Ado no Edn lhe era requerido queverdadeiramente deveria guardar o mandamento. No era suficiente que no oquebrasse, ou que fosse considerado, por meio do Sangue, como se ele no o houvesse

    quebrado. Ele deveria guard-lo: ele deveria permanecer em toda as coisas que estavamescritas no livro da lei para faz-las. Como satisfeita esta necessidade? O homem deveter uma justia, ou Deus no o pode aceit-lo. O homem deve ter uma obedincia

    perfeita, ou se no Deus no pode recompensar-lhe (G.S. Bishop). Essa necessria eperfeita obedincia encontrada somente naquela perfeita vida, vivida por Cristo emobedincia lei, antes que Ele fosse cruz, a qual posta na conta do crente.

    No que Deus trate como justo a um que realmente no (isto seria uma fico), masque Ele verdadeiramente faz justo ao crente, no por colocar uma natureza santa em seucorao, mas por colocar a obedincia de Cristo a sua conta. A obedincia de Cristo legalmente transferida a ele maneira de maneira que ele agora devida e justamente

    estimado como justo pela Lei Divina. Isto muitssimo mais que um meropronunciamento de justia sobre algum que sem nenhum fundamento suficiente parao juzo de Deus para declarar-lhe justo. No, este um positivo ato judicial de Deuspor meio do qual, sobre a considerao da mediao de Cristo, Ele faz uma eficazconcesso e doao de uma verdadeira, real e perfeita justia, igual quela do prprioCristo a todos os que crem; e contada como sendo deles, por Seu prprio ato de graa,tanto lhes absolve do pecado como lhes outorgar o direito e posse vida eterna (JohnOwen).

    Agora nos resta mostrar o fundamento sobre o qual Deus atua nesta contra-imputaode pecado a Cristo e de justia a Seu povo. Esse fundamento foi o Concerto Eterno. Aobjeo de que injusto que o inocente sofra para que o culpado possa escapar, perdetoda sua fora uma vez que vista a liderana e responsabilidade de Cristo no concerto,e o pacto de unio com Ele daqueles cujos pecados Ele levou. No poderia ter existidouma coisa tal como um sacrifcio vicrio, a menos que tivesse existido alguma unioentre Cristo e aqueles por quem Ele morreu, e essa relao de unio deve ter existidoantes que Ele morresse, certamente, antes de que nossos pecados fossem imputadossobre Ele. Cristo se responsabilizou de fazer a completa satisfao da lei para Seu povo

    porque Ele manteve com eles a relao de um Fiador. Porm o que justificou Suaatuao como o Fiador deles? Ele permaneceu como seu Fiador porque Ele foi seuSubstituto: Ele atuou em seu benefcio porque Ele se ps em seu lugar. Porm, o que

    justificou a substituio?

    No se pode dar uma resposta satisfatria ltima questo at que a grande doutrina doeterno pacto da unio considerada: essa a grande relao fundamental. A uniofederal entre o Redentor e os redimidos, a eleio deles em Cristo antes da fundao domundo (Efsios 1:4), pelo qual uma unio legal foi estabelecida entre Ele e eles, anica que responde e justifica totalmente a outra. Pois tanto o que santifica como osque so santificados, vm todos de um s; por esta causa ele no se envergonha de lheschamar irmos (Hebreus 2:11). Como a Cabea do Concerto de Seu povo, Cristoesteve to relacionado a eles que suas responsabilidades necessariamente chegam a serSuas, e ns estamos to relacionados a Ele que Seus mritos necessariamente chegam a

    ser nossos. Assim, como dissemos em um captulo anterior, trs palavras nos do achave e resumem toda a transao: substituio, identificao e imputao - todas as

  • 5/25/2018 A Doutrina Da Justificao - Arthur W. Pink

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    Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas