A doutrina do santuário

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RESUMO DA DOUTRINA DO SANTUÁRIO Edílson Constantino OS RITUAIS TÍPICOS DO ANTIGO ISRAEL E SEUS SIGNIFICADOS: Ideias Básicas: 1. O pecado nos separa de Deus, que é Santo e moralmente perfeito. 2. Deus estabeleceu o sistema de sacrifícios no AT para pôr um fim a essa separação. 3. Por meio das Ofertas Sacrificais simbólicas, Deus nos ensina como Ele nos reconciliaria consigo mesmo mediante o Sacrifício Perfeito de Jesus Cristo. 4. Havia 5 categorias de Ofertas individuais no sistema levítico: 1. Ofertas Queimadas ou Holocaustos (Consagração); 2. Ofertas de Manjares (Reconhecimento); 3. Oferta Pacífica (Dedicação); 4. Oferta Pelo Pecado (Ignorância); 5. Oferta Pela Culpa. 5. Existem três categorias de Pecado descritas no AT: Pecado Involuntário (ou Inadvertido), Pecado Deliberado (ou Intencional) e o Pecado de Rebelião (o mais hediondo). Em geral, havia uma oferta para o pecado dos dois primeiros tipos, mas não para o terceiro. A rebelião era punida com a pena capital. 6. Nos dois primeiros casos, o pecador arrependido deveria levar ao santuário uma Oferta Sacrifical (leia Levítico 4). PROCEDIMENTOS RITUAIS DA OFERTA PELO PECADO (Lv. 4): 1. RITO DE IMPOSIÇÃO DE MÃOS (TRANSFERÊNCIA DE PECADO); 2. SACRIFÍCIO (IMOLAÇÃO DA VÍTIMA); 3. RITO DA MANIPULAÇÃO DO SANGUE SACRIFICAL; 4. A QUEIMA DA GORDURA; 5. RITO DE COMER A CARNE SACRIFICAL;

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RESUMO DA DOUTRINA DO SANTUÁRIO

Edílson Constantino

OS RITUAIS TÍPICOS DO ANTIGO ISRAEL E SEUS SIGNIFICADOS:

Ideias Básicas:

1. O pecado nos separa de Deus, que é Santo e moralmente perfeito.

2. Deus estabeleceu o sistema de sacrifícios no AT para pôr um fim a essa

separação.

3. Por meio das Ofertas Sacrificais simbólicas, Deus nos ensina como Ele nos

reconciliaria consigo mesmo mediante o Sacrifício Perfeito de Jesus Cristo.

4. Havia 5 categorias de Ofertas individuais no sistema levítico: 1. Ofertas

Queimadas ou Holocaustos (Consagração); 2. Ofertas de Manjares

(Reconhecimento); 3. Oferta Pacífica (Dedicação); 4. Oferta Pelo Pecado

(Ignorância); 5. Oferta Pela Culpa.

5. Existem três categorias de Pecado descritas no AT: Pecado Involuntário (ou

Inadvertido), Pecado Deliberado (ou Intencional) e o Pecado de Rebelião (o

mais hediondo). Em geral, havia uma oferta para o pecado dos dois primeiros

tipos, mas não para o terceiro. A rebelião era punida com a pena capital.

6. Nos dois primeiros casos, o pecador arrependido deveria levar ao santuário

uma Oferta Sacrifical (leia Levítico 4).

PROCEDIMENTOS RITUAIS DA OFERTA PELO PECADO (Lv. 4):

1. RITO DE IMPOSIÇÃO DE MÃOS (TRANSFERÊNCIA DE PECADO);

2. SACRIFÍCIO (IMOLAÇÃO DA VÍTIMA);

3. RITO DA MANIPULAÇÃO DO SANGUE SACRIFICAL;

4. A QUEIMA DA GORDURA;

5. RITO DE COMER A CARNE SACRIFICAL;

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1° CASO: PECADO DO SACERDOTE OU DE TODA A CONGREGAÇÃO

(PECADO COLETIVO).

(a) Natureza da Oferta: Individual (Pecado da Ignorância).

(b) Significado da Oferta: Expiação, Substituição, Purificação, Perdão.

(c) Animal Oferecido: Novilho sem defeito.

(d) Ritual:

1. O Sacerdote (ou anciãos) porá a mão sobre a cabeça do novilho e o imolará;

2. O Sacerdote levará o sangue do novilho para o interior do Lugar Santo;

3. O Sacerdote aspergirá o sangue sete vezes diante do véu, colocará nas

pontas do Altar de Ouro (de incenso aromático) e derramará o resto na base do

Altar de Bronze no Pátio.

4. Queimará a gordura do animal sobre o Altar de Bronze.

5. O animal em si será queimado fora do arraial.

2° CASO: PECADO DO PRÍNCIPE OU DO INDIVÍDUO.

(a) Natureza da Oferta: Individual (Pecado da Ignorância).

(b) Significado da Oferta: Expiação, Substituição, Purificação, Perdão.

(c) Animal Oferecido: Bode ou cabra sem defeitos.

(d) Ritual:

1. O Ofertante porá a mão sobre a cabeça do bode (ou cabra) e o imolará;

2. O Sacerdote porá o sangue no Altar de Bronze e derramará o resto em sua

base.

3. O sacerdote queimará a gordura do animal sobre o Altar de Bronze.

4. O Sacerdote comerá a carne da vítima sacrifical (Lv. 6; 10).

OBSERVAÇÕES:

1. Note as diferenças entre ambos os rituais;

2. Estes rituais ocorriam diariamente (Tamid - Contínuo), no primeiro

compartimento (Lugar Santo).

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SIGNIFICADOS:

1. O objetivo da Oferta era remover o pecado e a culpa do pecador

arrependido, transferir a responsabilidade para o santuário, e permitir que o

pecador saísse perdoado e purificado. “Pelo ato de levar a oferta ao santuário,

o indivíduo confessava que era pecador, merecedor da ira de Deus, e

expressava seu arrependimento e fé em Jesus Cristo, cujo sangue removeria a

culpa do transgressor” (Ellen White, Signs of the Times, 15 julho 1880).

2. A imposição de mãos transferia o pecado para o animal inocente (símbolo de

Cristo).

3. Depois, o animal era morto (morte substitutiva) e seu sangue era usado para

fazer expiação. O animal morria no lugar do pecador. Era o próprio pecador

que matava a vítima e deveria refletir sobre as consequências de sua

transgressão.

4. Uma vez que o sangue levava o pecado, ele também contaminava o

santuário. Isso ocorria devido a dupla função do sangue na mentalidade

hebraica (Purificar-Contaminar). Ou seja, o sangue purifica o que é impuro, e

contamina o que é puro.

5. O sangue só ia diretamente para dentro do santuário, no caso do pecado do

Sacerdote ou da coletividade. No caso do príncipe ou do indivíduo comum, o

sangue não era levado para dentro do santuário. Era derramado no Altar de

Bronze, no Pátio. Contudo, nesse caso em que o sangue não era levado para

dentro do recinto sagrado, o sacerdote deveria comer a carne da vítima

sacrifical no lugar santo. Assim, o sacerdote levaria as iniquidades do pecador

(Lv. 10:16) e, mais cedo ou mais tarde, acabaria contaminando o santuário em

última instância.

6. Percebam que, embora o pecador saísse dali absolutamente perdoado de

seu pecado, o registro de seu pecado era mantido no santuário. O pecado era

transferido ao santuário e dali só seria definitivamente removido no Dia da

Expiação (Lv. 16). “O sangue de Cristo, ao mesmo tempo que livraria da

condenação da lei o pecador arrependido, não cancelaria o pecado. Este ficaria

registrado no santuário até a expiação final. Assim, no cerimonial típico, o

sangue da oferta pelo pecado removia do penitente o pecado, mas esse

permanecia no santuário até o dia da expiação” (Ellen White, Patriarcas e

Profetas, p. 357).

7. No Dia da Expiação, Deus daria um trato final ao pecado. Esse ponto é

muito importante de ser entendido. O pecador era perdoado, seu pecado era

transferido (pelo rito da imposição de mãos) para a vítima substituta e o sangue

(ou a carne) "contaminado" (simbolicamente) ia ter com o santuário,

contaminando-o. Embora o pecador penitente saísse sem pecado,

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absolutamente perdoado, seu registro permanecia no santuário até o dia da

expiação (representando o dia do juízo final), quando Deus resolveria

definitivamente o problema do pecado.

O DIA DA EXPIAÇÃO E SEUS SIGNIFICADOS

O Dia da Expiação (Yom Kippur), dia 10 do sétimo mês judaico, está relatado

em Levítico 16. Trata-se do momento mais solene do ano litúrgico hebreu. Era

um símbolo do Dia do Juízo Final. Levítico 16 ocupa posição literária central no

livro de Levítico que, por sua vez, acha-se no centro do Pentateuco. Daí a

importância do assunto. Era considerado um dos sete "sábados" cerimoniais, o

principal deles.

OS SETE "SÁBADOS" CERIMONIAIS: 1° e 7° dia da Festa dos Pães Asmos

(15 e 21 de abib); Dia de Pentecostes (50 dias após a Festa das Primícias);

Festa das Trombetas ou das Solenidades (1° de Tishri); Dia da Expiação (10

de Tshri); 1° e 8° dia da Festa dos Tabernáculos (15 e 22 de Tishri).

[CONFORME LEVÍTICO 23].

IDEIAS BÁSICAS:

1. Ao longo do ano, os pecados do penitente e suas impurezas eram

transferidos para o santuário por meio dos sacrifícios; o Dia da Expiação era o

momento para removê-los definitivamente.

Lembre-se: Havia dois tipos de contaminação no santuário ao longo do ano -

Legal e Ilegal.

CONTAMINAÇÃO LEGAL: Somente os pecados confessados, do pecador

arrependido (e para os quais se prescrevia uma oferta sacrifical) eram

transferidos legalmente ao santuário, contaminando-o até o Dia da Expiação. O

santuário representava o próprio Deus que assumia a responsabilidade por

nossos pecados através da morte de um substituto inocente. Mas no dia da

Expiação, o caráter de Deus era vindicado e Deus eliminava o mal.

CONTAMINAÇÃO ILEGAL: Toda contaminação do tabernáculo que não

ocorresse por meios legais (prescritos nas leis do sacrifício). Alguns pecados

gravíssimos, não confessados, contaminavam a terra e o santuário ilegalmente.

Não havia expiação substitutiva neste caso, Deus não aceitava um substituto, o

transgressor deveria ser morto e seu sangue "faria expiação [purificação]" pela

terra ou o santuário. Essa contaminação ilegal teria de ser punida com a morte

do transgressor.

2. Os rituais do Dia da Expiação eram, praticamente, divididos em três partes

principais:

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1. Oferta de Purificação do sacerdote e sua família pelo sangue do Novilho; 2.

A Purificação do Santuário pelo sangue do Bode "para o Senhor"; 3. O ritual de

eliminação do pecado do acampamento de Israel mediante o Bode vivo "para

Azazel".

RITUAIS DO DIA DA EXPIAÇÃO

Leia cuidadosamente Levítico 16.

1. No Dia da Expiação, o Sumo Sacerdote serviria como Mediador entre Deus

e a Humanidade, era um exemplo vivo de Cristo. Era o único dia no ano que

ele entrava no segundo compartimento, no lugar santíssimo diante da arca do

testemunho e do propiciatório. Naquele dia, dois Bodes deveriam ser usados

para os rituais especiais.

2. Não havia imposição de mãos nem confissão de pecados sobre o Bode

"para o Senhor"; logo, seu sangue não era portador de pecados. Não

contaminava, não transferia pecado algum para dentro do santuário; antes,

pelo contrário, o purificava da contaminação preexistente.

3. Notem que o sangue do Bode "para o Senhor" fazia expiação pelo santuário.

O santuário é o objeto da expiação. O sangue purificava o altar, a tenda da

congregação (lugar santo) e o lugar santíssimo. Eram os objetos que deveriam

ser purificados. Mas, é óbvio que, no final, o próprio povo também era

beneficiado com a purificação, porque eram seus pecados que estavam lá,

contaminando o recinto e a mobília sagrados. O Dia da Expiação era especial

porque somente nesse dia tanto o santuário como o povo eram definitivamente

purificados.

Percebe-se claramente uma expiação em duas fases:

1° FASE: Ocorria ao longo do ano. Os pecadores arrependidos eram

PERDOADOS por meio da oferta sacrifical. Seus pecados NÃO ERAM

APAGADOS, mas confiados ao próprio Deus, que assumia a responsabilidade

por eles.

2° FASE: Não lidava com o perdão diretamente, porque as pessoas já tinham

sido perdoadas ao longo do ano litúrgico. O plano da salvação lida com algo

mais que o perdão, a purificação moral do universo.

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O RITUAL DO BODE "PARA AZAZEL".

1. O ritual com o bode vivo não era uma oferta sacrifical; não havia

derramamento de sangue, e "sem derramamento de sangue, não há remissão"

(Hebreus 9:22).

2. Ao lançar sorte sobre os bodes, um era "para o Senhor" e o outro era "para

Azazel". Percebe-se um contraste linguístico entre duas personagens

antagônicas.

3. O Bode "para o Senhor" é sacrificado como oferta pelo pecado (Lv. 16:9,15)

e seu sangue realiza completa expiação pelo santuário (v. 15, 16). O Bode vivo

só entra em cena depois que a expiação fora completamente realizada (v. 20).

Logo, não tem função purificadora. O ritual com o Bode vivo nada tinha a ver

com a purificação efetiva do santuário.

4. O ritual do Bode vivo (símbolo de Satanás) é um rito de eliminação ou

remoção final do pecado (no sentido cósmico). Os pecados são colocados,

punitivamente, sobre a cabeça de seu originador e instigador. Ele suportará a

responsabilidade final pelo pecado uma vez que tem parte na culpa de todos os

pecados já cometidos. A expiação, portanto, é feita sobre ele no sentido

punitivo, não salvífico-redentor (veja os casos da morte de um transgressor não

arrependido e de um homicida em que o derramamento de seu sangue

produziu "expiação" (punitiva, é claro) para a terra e o povo de Israel - Números

25; 35). O mesmo se dará com Satanás no Juízo Final. Ele "expiará" os

pecados dos quais foi o originador mediante sua própria morte no inferno de

fogo.

ATENÇÃO: ISTO SIGNIFICA QUE SATANÁS DESEMPENHA UM PAPEL EM

NOSSA SALVAÇÃO?

JAMAIS! A ACUSAÇÃO É ABSOLUTAMENTE FALSA. SATANÁS NUNCA

CARREGA O NOSSO PECADO COMO NOSSO SUBSTITUTO E SALVADOR;

ISSO SERIA BLASFÊMIA. SÓ CRISTO LEVOU OS NOSSOS PECADOS DE

MODO SUBSTITUTIVO. SATÃ SERÁ RESPONSABILIZADO PELOS

PECADOS QUE FEZ O POVO DE DEUS COMETER, POIS É, EM ÚLTIMA

INSTÂNCIA, SEU AUTOR INTELECTUAL.

"Ocorre agora o acontecimento prefigurado na última e solene cerimônia do dia

da expiação. Quando se completava o ministério no lugar santíssimo, e os

pecados de Israel eram removidos do santuário em virtude do sangue da oferta

pelo pecado, o bode emissário era então apresentado vivo perante o Senhor; e

Page 7: A doutrina do santuário

na presença da congregação o sumo sacerdote confessava sobre ele “todas as

iniquidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, segundo todos

os seus pecados”, pondo-os sobre a cabeça do bode. Lev. 16:21.

Semelhantemente, ao completar-se a obra de expiação no santuário celestial,

na presença de Deus e dos anjos do Céu e do exército dos remidos, serão

então postos sobre Satanás os pecados do povo de Deus; declarar-se-á ser ele

o culpado de todo o mal que os fez cometer". [Ellen White, O Grande Conflito,

p. 658].

Principais Objeções à Doutrina Adventista:

1° OBJEÇÃO: SATANÁS COMO CO-REDENTOR: Os Adventistas ensinam

que os pecados dos justos são atribuídos a Satanás, de modo que ele se torna

o portador desses pecados. Isto não significa que Satanás é co-redentor dos

adventistas?

RESPOSTA: NÃO, JAMAIS. OS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA REJEITAM

INTEIRAMENTE QUALQUER IDEIA, INFERÊNCIA OU SUGESTÃO DE QUE

SATANÁS SEJA O PORTADOR DE NOSSOS PECADOS. ESSE

PENSAMENTO NOS CAUSA HORROR E É EXCESSIVAMENTE SACRÍLEGO

E BLASFEMO. TAL TESE, FRUTO DA IGNORÂNCIA OU MÁ VONTADE,

CONSISTE EM UMA TOTAL DETURPAÇÃO DE NOSSO ENSINOS. A

MORTE DE SATANÁS, REPETIDA MILHÕES DE VEZES, NUNCA O

TORNARIA UM SALVADOR.

Vejamos mais de perto a questão:

CRENÇA FUNDAMENTAL: Compartilhamos sem reservas da crença

evangélica de que a morte de Cristo é a única propiciação pelos pecados e que

Jesus é nosso único e suficiente salvador. Unicamente o sangue de Cristo

pode produzir REMISSÃO. Isso é algo dado.

TEXTO:

"Da congregação dos filhos de Israel tomará dois bodes, para a oferta pelo

pecado, e um carneiro, para holocausto. Arão trará o novilho da sua oferta pelo

pecado e fará expiação por si e pela sua casa. Também tomará ambos os

bodes e os porá perante o SENHOR, à porta da tenda da congregação.

Lançará sortes sobre os dois bodes: uma, para o SENHOR, e a outra, para o

bode emissário. Arão fará chegar o bode sobre o qual cair a sorte para o

SENHOR e o oferecerá por oferta pelo pecado. Mas o bode sobre que cair a

Page 8: A doutrina do santuário

sorte para bode emissário será apresentado vivo perante o SENHOR, para

fazer expiação por meio dele e enviá-lo ao deserto como bode emissário

(Levítico 16:5-10).

1. No Dia da Expiação, dois bodes eram utilizados no ritual que culminava com

a purificação do santuário.

2. A expressão "tomará dois bodes, para a oferta pelo pecado" não significa

que ambos os bodes eram oferecidos. A esta altura do relato, o tema é

apresentado em linhas gerais. Só depois é-nos dito que a sorte será lançada

sobre os bodes para ver qual dos dois será sacrificado como "oferta pelo

pecado". Os versículos 9 e 10 afirmam que somente aquele sobre o qual caiu a

sorte "para o Senhor" é, de fato, sacrificado como "oferta pelo pecado". Em

nenhum momento no relato, o bode vivo é chamado de "oferta pelo pecado".

Percebam o contraste no verso 10: "MAS" o outro bode será apresentado vivo.

3. O Bode "para o Senhor" é morto e seu sangue purifica o Santuário (em

Levítico 16, significa o "Lugar Santíssimo", o segundo compartimento), a Tenda

da Congregação (O "Lugar Santo", primeiro compartimento) e o Altar (de

bronze, no Pátio). [Conforme Levítico 16: 15-19].

4. O bode vivo não é uma oferta de sangue e "sem derramamento de sangue

não há remissão" (Hebreus 9:22). O bode "para Azazel" só entra em cena

DEPOIS que a purificação do santuário estava concluída (Levítico 16:20).

Portanto, o bode vivo não serve para PURIFICAR o santuário dos pecados dos

filhos de Israel.

5. SERVIÇO DIÁRIO: Ao longo do ano litúrgico, diariamente, animais sacrificais

eram mortos como "oferta pelo pecado" e transferiam o pecado/impureza do

Pecador para o santuário (Contaminação Legal). Estas vítimas sacrificais

representavam Cristo, que por seu sacrifício expiatório perdoa o pecador e

transfere o seu pecado para o Santuário Celestial (Obra tipificada no Serviço

Contínuo, Diário).

6. SERVIÇO ANUAL: No Dia da expiação, uma vez no ano, no final do ano

litúrgico, o bode "para o Senhor" era sacrificado para purificar o santuário que

fora contaminado ao longo do ano pela transferência de pecados. Esse bode

"para o Senhor" também simbolizava Cristo que, no juízo, purifica o Santuário

Celestial, pelos méritos de sua morte expiatória. Cristo remove todo e qualquer

registro de pecado que foi transferido ao Santuário Celestial (Obra tipificada no

Serviço Anual, no Dia da Expiação).

7. O Simbolismo é claro: No Dia da Expiação, Cristo era simbolizado pelo bode

"para o Senhor" e Satanás era representado pelo bode "para Azazel". O

contraste linguístico entre esses dois seres antagônicos é evidente. Um é

oferecido como sacrifício vicário pelo pecado e com seu sangue se purifica o

Page 9: A doutrina do santuário

santuário das impurezas do povo de Deus; o outro, é enviado vivo ao deserto,

carregando os pecados para a terra solitária, e deixado para morrer à míngua.

8. Em que sentido Satanás "carrega sobre si" os pecados do povo de Deus?

No sentido PUNITIVO. Nunca de forma substitutiva e redentora como o faz

Cristo.

Vejamos mais de perto:

1. Todo pecado tem DUPLA RESPONSABILIDADE: Em primeiro lugar, MINHA

RESPONSABILIDADE como perpetrador, agente ou instrumento. Em segundo

lugar, a RESPONSABILIDADE DE SATANÁS como autor intelectual

(originador) e instigador (tentador).

2. Exemplo: Satanás tentou nossos primeiros pais a pecarem, comendo do

fruto proibido; mas tanto ele como Adão e Eva têm responsabilidade nesse ato.

E desde então, o mesmo tem sucedido. Satanás tem culpa em todo pecado

cometido ao longo da história.

3. No tocante à MINHA CULPA: Cristo tomou voluntariamente sobre si (de

modo vicário) as minhas iniquidades (Isaías 53). Assumiu a minha culpa e

morreu em meu lugar (Romanos 5:8); perdoou-me os pecados (1 João 1:9) e

me purificou (1 João 1:7). A expiação pelos meus pecados foi efetuada

unicamente pelo sangue de Cristo.

4. No tocante à CULPA DE SATANÁS: Não lhe foi provida nenhuma solução.

logo, deve ser castigado por sua responsabilidade e culpa. Não existe salvador

ou substituto para suportar o castigo em seu lugar. Ele próprio "expiará" seu

pecado, de modo PUNITIVO. É neste sentido que o bode "para Azazel" servia

"para fazer expiação por meio dele" (Levítico 16: 10).

5. Os tribunais de justiça reconhecem o princípio da dupla responsabilidade.

Por exemplo, um pai que ensina o filho a roubar merece tanto a penalidade

quanto o filho; uma mãe que entrega a filha à prostituição profissional; o chefe

de uma quadrilha de ladrões; etc. O mentor intelectual do crime é tão culpado

com aquele que o pratica. Do mesmo modo, Satanás é o principal responsável

pelo crime do pecado e, no final, sua responsabilidade cairá sobre sua própria

cabeça. Nada mais justo.

6. Satanás não faz "expiação" por nossos pecados, como afirmam os

detratores, mas terá de sofrer o castigo por sua responsabilidade nos seus

pecados, naqueles que fez o povo de Deus cometer e nos dos ímpios.

Page 10: A doutrina do santuário

CONCLUSÃO:

O verdadeiro cristão não deseja pecar. Mas satanás o tenta. Ele resiste várias

vezes, até que cede. Todo pecado envolve cumplicidade. Seu pecado é

registrado no Céu. Porém, arrepende-se e pede perdão. Deus o perdoa e

registra o perdão nos livros do Céu. Homem volta a uma posição correta diante

de Deus, feliz e perdoado. Vem, então, o juízo. O registro do pecado é

apagado definitivamente. Mas quanto à parte de Satanás na culpa? Também

foi "expiada"? Não! O próprio Satanás deve "expiá-la" com a vida. Daí os

pecados recaírem sobre ele como culpado, no final . O bode "para Azazel" era

o "carro de lixo" usado para remover definitivamente o pecado do

acampamento de Israel. Era um ritual de eliminação e representava o modo

como Deus erradicará o pecado para sempre do universo.

"No culto típico, o sumo sacerdote, havendo feito expiação por Israel, saía e

abençoava a congregação. Assim Cristo, no final de Sua obra de mediador,

aparecerá “sem pecado, … para salvação” (Heb. 9:28), a fim de abençoar com

a vida eterna Seu povo que O espera. Como o sacerdote, ao remover do

santuário os pecados, confessava-os sobre a cabeça do bode emissário,

semelhantemente Cristo porá todos esses pecados sobre Satanás, o originador

e instigador do pecado. O bode emissário, levando os pecados de Israel, era

enviado “à terra solitária” (Lev. 16:22); de igual modo Satanás, levando a culpa

de todos os pecados que induziu o povo de Deus a cometer, estará durante mil

anos circunscrito à Terra, que então se achará desolada, sem moradores, e ele

sofrerá finalmente a pena completa do pecado nos fogos que destruirão todos

os ímpios. Assim o grande plano da redenção atingirá seu cumprimento na

extirpação final do pecado e no livramento de todos os que estiverem dispostos

a renunciar ao mal" (EGW, O Grande Conflito, p. 485).

O QUE SIGNIFICA "AZAZEL"?

O tema do Bode Azazel é bastante polêmico entre alguns. A doutrina

adventista sustenta uma interpretação bem nítida sobre esse tópico, mas

muitos irmãos têm dificuldades em compreendê-la plenamente.

SENTIDO ETIMOLÓGICO:

A discussão sobre esse assunto tem uma longa história. Há três hipóteses

principais sobre o significado etimológico de "Azazel".

Page 11: A doutrina do santuário

1. Entre os católicos predomina, em geral, um apego à forma como o termo

"Azazel" é vertido na LXX (tou Apopompaion - "o enviado") e na Vulgata Latina

("Caprum Emissarium" - bode emissário ou bode enviado para fora). Ou seja,

Azazel é um termo abstrato indicando apenas o papel ou função do animal.

Mas tal tradução é falha por três motivos imediatos: 1) Padece de dificuldades

linguísticas e filológicas insuperáveis, uma vez que Azazel é claramente um

substantivo próprio; 2) Despreza o evidente contraste linguístico entre as

expressões "Para Yahweh" e "Para Azazel", o que deixa evidente a oposição

entre dois seres; e 3) Torna supérflua a frase seguinte "para enviá-lo ao

deserto" (Lv.16: 10). A passagem ficaria desajeitada demais: "o bode enviado

para enviá-lo ao deserto"! Tal posicionamento não é, de modo algum,

necessário, então.

2. Há quem entenda o termo “Azazel” como o nome de um lugar geográfico.

Trata-se de um substantivo comum significando, em geral, “precipício”, o lugar

onde o bode vivo era lançado. Este ponto de vista tem representação na

exegese rabínica (Mishná [Yoma 6:6]) e é preferido pela versão árabe de

Saádya que verte: “Monte Azaz” ou “Colina escarpada”. Contudo, para se

chegar a essa tradução é necessário dividir a palavra hebraica em duas

distintas e alterar certas consoantes do vocábulo. Não acho que temos o direito

de fazer tais "ajustes" ao texto (digo isso com "um pedido de desculpas" aos

teólogos que seguem o método histórico-crítico!). Além do mais, o texto bíblico

NÃO afirma que o bode vivo era lançado do alto de uma colina; tal ideia é

posterior na literatura talmúdica. A maioria dos eruditos já abandonaram essa

tese.

3. A MAIORIA dos estudiosos da Bíblia considera o contraste linguístico ("para

o Senhor" e "para Azazel") como muito significativo. A maioria vê o termo como

um nome próprio, o nome de um ser oposto a Deus, um demônio.

Vejamos:

1) No livro etíope de Enoque (literatura judaica antiga), “Azazel” é o nome do

dirigente dos anjos rebeldes (Enoque 6:7; 8:1; 9:6; 10:4; 13:1; 54:5; 55:4; 69:2).

Ele representa a fonte de todo mal e corrupção.

2) Há um manuscrito de Qumran (Caverna 4) que fala de Azazel e seus anjos

maus, muito semelhante a lenda de Enoque supracitada.

3) A ideia dominante na literatura midráshica é que Azazel é um anjo caído ou

demônio.

4) O termo Azazel aparece no "Apocalipse de Abraão" para se referir a um anjo

caído.

5) O Talmude Babilônico fala de Azazel como um anjo demoníaco.

Page 12: A doutrina do santuário

6) Entre os pais da Igreja, Irineu identifica Azazel como Satanás (Contra

Heresias, I, 12).

7) Orígenes dá muitos significados alegóricos a Azazel, mas principalmente

Satanás (Contra Celso, V1 43, p. 305).

8) Epifânio também via Azazel como um demônio (Heresias XXXIV. 11).

9) Na Idade Média, alguns escritores judeus, como Ibn-Ezra e Rambán,

identificaram Azazel como um demônio.

10) Atualmente, muitos pensadores identificam Azazel com o Diabo, como por

exemplo: A. R. S. Kennedy, S. R. Driver, J. Russel Howden, Samuel M.

Zwemer, E. W. Hengstenberg, J. B. Rotherham, GuilhermJenks, William

Milligan, James Hastings, William Smith, Elmer Flack, H. C. Alleman, Charles

Beecher, George A. Barton, James Strong, etc.

Não há dúvidas de que este ponto de vista é o correto. Os Adventistas do

Sétimo Dia também sustentam que o Bode "Azazel" era um símbolo de

Satanás e não estão sozinhos nessa interpretação.

Contudo, alguns cristãos, com marcada tendência dogmática, e seguindo

alguns pais da igreja (tradição eclesiástica), veem "Azazel" como "Bode

Expiatório", um símbolo de Cristo. Mas isso não resiste a análise textual de

Levítico 16.

O QUE SIGNIFICA A PALAVRA "EXPIAÇÃO"?

Os adventistas do Sétimo Dia são acusados de subestimar o sacrifício

expiatório de Cristo na cruz como se fosse uma expiação "incompleta e

parcial". É verdadeira essa acusação?

RESPOSTA: NÃO, não é verdade! Nós não cremos que a obra realizada na

cruz seja incompleta e parcial. Só entendemos a palavra "Expiação" em um

sentido mais amplo, que envolve a morte de Cristo na cruz e outros aspectos

de seu ministério salvífico.

Ideias Básicas:

1. O todo-suficiente sacrifício expiatório de Cristo foi OFERECIDO e

COMPLETADO na cruz. Não se trata de uma "EXPIAÇÃO FINALIZADA"; o

sacrifício é que foi completo, ou seja, foi finalizado o aspecto sacrifical da

Expiação.

2. Mas a morte sacrifical de Cristo no Calvário não terá qualquer significado

expiatório efetivo à parte de sua intercessão sacerdotal; assim como seu

sacerdócio intercessório seria sem sentido se faltassem os méritos de sua

morte expiatória. Ambos os eventos não podem ser separados.

Page 13: A doutrina do santuário

3. Cristo morreu por todos na cruz (Hebreus 2:9; 1 João 2:2), mas seu sacrifício

no Calvário não salva os homens de seus pecados automaticamente, em

massa, de modo involuntário e impessoal; sua morte é provisional e potencial

em favor de todos.

4. Contudo, é necessário que os pecadores venham a Ele e se apropriem

individualmente dos Seus méritos, pela Fé. A morte de Cristo só tem proveito

ao coração humano quando a alma se entrega a Deus com fé; então, Jesus,

nosso Sumo Sacerdote, APLICA OS BENEFÍCIOS de seu sacrifício ao crente

individual.

5. No sistema sacrifical, o pecador só era declarado "perdoado" depois do ritual

de manipulação do sangue sacrifical. A morte do cordeiro não era a única

etapa para o perdão. O sacerdote oficiante deveria ministrar em favor do

pecador, aspergindo o sangue no Altar e/ou comendo a carne sacrifical e

queimando a gordura. Só depois que todo o rito se completava era que o

pecador era declarado "perdoado". "O sacerdote fará EXPIAÇÃO por ele no

tocante ao seu pecado, e este lhe será perdoado" (levítico 4: 26). A morte da

vítima sacrifical não perdoa automaticamente o pecado; é necessário aplicação

individual.

6. O sacrifício era TODO-SUFICIENTE, PERFEITO, completamente PROVIDO,

mas seus benefícios deveriam ser APLICADOS. Ambos os processos

perfaziam o conceito de Expiação no AT. Neste sentido, a Expiação é algo que

vai além da cruz e envolve a mediação de Cristo no Santuário que começou

após sua ascensão. "O grande Sacrifício havia sido oferecido e aceito, e o

Espírito Santo, que desceu no dia de Pentecoste, levou a mente dos discípulos

do santuário terrestre para o celestial, onde Jesus havia entrado com o Seu

próprio sangue, a fim de derramar sobre os discípulos os BENEFÍCIOS de Sua

expiação" (EGW, Primeiros Escritos, p. 260).

7. O ministério sacerdotal de Cristo está incluído na Grande obra da Expiação.

Embora sua morte expiatória tenha sido completa, suficiente e todo-abrangente

(não será necessário morrer outra vez), ela só será EFICAZ para os que a

aceitam. É preciso haver arrependimento e apropriação, por parte do pecador,

das infinitas provisões do sacrifício expiatório inteiramente realizado na cruz.

O termo "Expiação" é usado no AT de quatro formas diferentes:

1) Sacrifício (morte substituta e sacrifical ocorrida diariamente, manhã e tarde);

2) Intercessão/ministração sacerdotal no Serviço Diário em prol do pecador

(Levítico 4:34, 35);

2) A purificação do santuário no Dia da Expiação realizada pelo sangue do

bode "para o Senhor" (Levítico 16:15, 16);

Page 14: A doutrina do santuário

3) A eliminação final do pecado, sua remoção do meio do povo de Deus pelo

rito do Bode "para Azazel" (Levítico 16:10).

No primeiro caso, temos "EXPIAÇÃO PROVIDA" em favor de todos. Esta fase

se cumpriu na cruz.

No segundo caso, temos "EXPIAÇÃO APLICADA", por meio da mediação do

sacerdote ao oferecer incenso, manipular o sangue sacrifical, comer a carne,

queimar a gordura, etc. isto ocorria diariamente e transferia os pecados para o

santuário. Esta fase se cumpre através da MEDIAÇÃO/INTERCESSÃO de

Cristo no Santuário Celeste.

No terceiro caso, temos a "EXPIAÇÃO ELIMINATÓRIA", através da qual se

remove o pecado do próprio santuário para o qual foi transferido e onde

constava seu registro. Isto ocorria, no sistema típico, no final do ano litúrgico,

no Dia da Expiação quando o santuário era purificado. Neste caso, a

"Expiação" era feita pelo próprio santuário. Representava um juízo de

investigação. E começou seu cumprimento antitípico na data apontada pela

profecia de Daniel 8:14 e se desenrola até então.

No quarto caso, temos a "EXPIAÇÃO RETRIBUTIVA/PUNITIVA",

representada, no serviço típico, pela imposição da responsabilidade final pelos

pecados do povo sobre a cabeça o bode "para Azazel" e pela eliminação dos

impenitentes que não afligiam sua alma em arrependimento. Isto se cumprirá

no desfecho do grande conflito. Quando todos os registros de pecados forem

removidos do Santuário celestial, serão postos sobre Satanás, de modo

punitivo. Então Satanás vagará pela terra deserta por mil anos e, ao término

desse período, receberá a pena final. Será destruído e também os

impenitentes. Pecados e pecadores não mais existirão. Deus dará um trato

final ao problema do pecado e o removerá para sempre do universo.

Esses quatro sentidos são contemplados pela palavra "Expiação" na Bíblia.

EXPIAÇÃO PUNITIVA:

Ocorre quando uma pessoa culpada não pode ser perdoada. Então, perde a

vida por sua ofensa.

I. O CASO DO ASSASSINO: O derramamento do sangue inocente

"contamina" a terra e só se pode fazer "Expiação" em favor da terra mediante o

sangue do próprio assassino (Números 35:33).

II. O CASO DO ISRAELITA IMORAL E SUA ESPOSA MIDIANITA: O

sacerdote Fineias matou o casal rebelde e, por meio desse ato, "Fez Expiação

pelos Israelitas" (Números 25: 13).

Page 15: A doutrina do santuário

ALGO SEMELHANTE OCORRERÁ A SATANÁS NO FINAL DO GRANDE

CONFLITO.

CONCLUSÃO:

O termo "Expiação" abrange não apenas o que foi realizado na cruz (Cristo

como vítima sacrifical), mas também a aplicação eficaz dos méritos ali

angariados em favor do penitente (Cristo como Sacerdote no "Serviço Diário").

O termo também envolve a purificação do Santuário (Cristo como Sumo

Sacerdote no "Serviço Anual") e a eliminação definitiva do pecado do universo

(Cristo como Vencedor definitivo do Mal).