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Milena Maria Moraes Machado RA: 001200400653 A EDUCAÇÃO CARCERÁRIA NO CENTRO DE RESSOCIALIZAÇÃO DE BRAGANÇA PAULISTA Bragança Paulista 2007

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Milena Maria Moraes Machado

RA: 001200400653

A EDUCAÇÃO CARCERÁRIA NO CENTRO DE

RESSOCIALIZAÇÃO DE BRAGANÇA PAULISTA

Bragança Paulista

2007

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Milena Maria Moraes Machado

RA: 001200400653

A EDUCAÇÃO CARCERÁRIA NO CENTRO DE

RESSOCIALIZAÇÃO DE BRAGANÇA PAULISTA

Monografia apresentada à disciplina Trabalho de Conclusão de Curso, do Curso de Pedagogia da Universidade São Francisco, sob orientação da Profa. Dra. Eliete Aparecida de Godoy, como exigência parcial para conclusão do curso de graduação.

Bragança Paulista

2007

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MACHADO, Milena M.M. A Educação Carcerária no Centro de Ressocialização de Bragança Paulista. Monografia defendida e aprovada na Universidade São Francisco em 10 de dezembro de 2007 pela banca examinadora constituída pelas professoras: ___________________________________________________________________________ Profª. Drª Eliete Aparecida de Godoy Orientadora -USF ___________________________________________________________________________ Profª. Ms. Renata Bernardo Examinadora -USF

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Dedico este trabalho aos meus queridos pais, José e Neila, que em todos os momentos e, principalmente nos mais difíceis, apoiaram-me e ensinaram-me a ser perseverante, com suas orientações, críticas, cobranças e muito, muito amor e carinho. Por serem meus principais modelos na vida pessoal e profissional.

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Agradecimentos

A Deus.

A Professora Eliete Aparecida de Godoy, pela motivação, orientação e por ter

acreditado na realização deste trabalho.

À Érica Gutierrez, amiga, com quem pude contar em todos os momentos, que se dispôs

a ajudar-me em tudo que fosse possível.

A doutora Roselene Alves de Paula, que com sua simpatia e profissionalismo, colocou à

disposição o Centro de Ressocialização de Bragança Paulista.

Ao Diretor do Centro de Segurança e Disciplina, Sr. Célio Aparecido Gomes, pelo seu

total apoio e colaboração no desenvolvimento deste trabalho.

À todos os funcionários do Centro de Ressocialização de Bragança Paulista, que de

alguma forma colaboraram para a realização deste, muito obrigada.

À supervisora pedagógica, da Funap Regional Campinas, pela receptividade e

fundamental colaboração no desenvolvimento desse trabalho.

Ao meu amado pai, José, que me auxiliou, ajudou, incentivou nessa árdua, mas

prazerosa etapa de minha vida.

À minha querida mãe, Neila, pela dedicação, amor, carinho, apoio e compreensão em

todos os momentos.

Aos meus irmãos Marcelo e Marco Antonio, que me ajudaram em momentos especiais.

Aos meus queridos avós Juracy e Romilda, que com seus exemplos de seres humano,

ensina-me com todo carinho, o dom do amor, da caridade e da solidariedade.

A todos que de alguma forma colaboraram para a execução desse trabalho.

Muito obrigada!

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“A função da educação não é apenas a de informar o educando sobre o passado histórico de sua pátria, ou a de transmitir um conhecimento morto, separado da vida, retórico e sem sentido. A verdadeira educação deve situar o indivíduo em sua história, possibilitando-lhe desenvolver as habilidades que lhe permitem o desempenho de atividades capazes de garantir sua sobrevivência na sociedade, não como indivíduo, mas como grupo”.

(Antonio Tavares de Jesus)

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MACHADO, Milena M.M. A Educação Carcerária no Centro de Ressocialização de Bragança Paulista. 2007. 75f. Trabalho de Trabalho de Conclusão de Curso - Curso de Pedagogia da Universidade São Francisco, Bragança Paulista.

RESUMO

Este estudo teve um caráter etnográfico e de análise qualitativa, foi desenvolvido num ambiente natural como sua fonte direta de dados. Teve-se como interesse ao estudar essa realidade verificar como os sujeitos se manifestam quanto às atividades escolares, seus procedimentos e suas interações cotidianas. Os dados coletados são predominantemente descritivos, o material obtido nessa pesquisa é rico em descrições de fatos, situações e acontecimentos e inclui transcrições de depoimentos e documentos. Nesse estudo houve sempre uma tentativa de capturar a "perspectiva dos participantes", isto é, a maneira como os informantes encaram as questões que estão sendo focalizadas.Teve como público alvo cerca de 27 (vinte e sete) reeducandos encarcerados no Centro de Ressocialização de Bragança Paulista, com faixa etária entre 18 e 55 anos de idade, com diferentes níveis escolares, sendo que 24(vinte e quatro) freqüentam as aulas e 3 (três) são os monitores que ministram as aulas. Os instrumentos utilizados foram: um questionário, que foi composto por questões sobre a identificação dos reeducandos com a escola interna e sobre o acesso ao conhecimento.Com as produções dos textos objetivou-se que os reeducandos descrevessem seus sonhos e se expressassem o sentimento e visão que possuem sobre a escolarização e a realidade vivida.O levantamento dos dados se deu em sala de aula, no interior do Centro de Ressocialização e serviu para analisar e investigar o conteúdo de produção textual dos reeducandos, mostrando a transformação de seus conhecimentos transcritos para o papel. Esta perspectiva de trabalho pôde mostrar que o conhecimento interior amplia a mente humana e que uma vez ampliada com seus próprios recursos, não tendem a voltar a suas antigas limitações.Mediante os dados coletados das respostas, realizou-se análise qualitativa, onde obteve-se a caracterização do que a educação representa para o reeducando preso, bem como sobre a implementação de uma política pública no contexto carcerário, alem de descrever e analisar as relações entre educação escolar e “ressocialização” dentro de um sistema penal.

Palavras-chave: EDUCAÇÃO CARCERÁRIA, EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS, INCLUSÃO SOCIAL. PERCEPÇÃO DE CARCERÁRIOS SOBRE EDUCAÇÃO.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 12

1. À EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS....................................................................... 15

1.1 A Educação......................................................................................................................... 15

1.2 Educação de Jovens e Adultos............................................................................................ 17

1.3 Educação Carcerária ........................................................................................................... 22

1.4 O Centro de Ressocialização, a APAC de Bragança Paulista e a FUNAP ....................... 24

2. À EDUCAÇÃO CARCERÁRIA NO CENTRO DE RESSOCIALIZAÇÃO DE

BRAGANÇA PAULISTA........................................................................................................30

2.1 Uma experiência de educação carcerária ........................................................................... 30

2.1.1 Sistema modular, avaliação e certificação....................................................................... 39

2.1.2 As atividades diversificadas.............................................................................................42

2.1.3 As aulas, os docentes presos e a monitora orientadora .................................................. 43

2.1.4 Estrutura e funcionamento escolar ................................................................................. 44

2.2 Educação Carcerária como Ato de Inclusão....................................................................... 45

3.MÉTODO .............................................................................................................................. 50

3.1 Instrumentos e aplicação .................................................................................................... 50

3.2 Caracterização dos reeducandos alunos ............................................................................ 51

3.2.1 Caracterização dos reeducandos monitores educadores ................................................ 52

3.3 Análise das questões respondidas pelos reeducandos ....................................................... 52

3.4 Como caracteriza o processo de escolarização carcerária ................................................. 59

4.CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 62

5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 66

6.ANEXOS ...............................................................................................................................67

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SUMÁRIO DE QUADROS

QUADRO 1 – CARACTERIZAÇÃO DA CARGA HORÁRIA DA ESTRUTURA

CURRICULAR - Aulas regulares no Centro de Ressocialização de Bragança Paulista.

QUADRO 2 – CARACTERIZAÇÃO DO HORÁRIO DAS AULAS E MONITORES

PRESOS

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SUMÁRIO DE TABELAS

TABELA 2 - EDUCAÇÃO COMO UM DIREITO OU DEVER NA CARCERAGEM

TABELA 3 - QUAL O VALOR DA ESCOLA NA CARCERAGEM

TABELA 4 - VOCÊ FREQÜENTA A ESCOLA NO CÁRCERE POR IMPOSIÇÃO

OU PELA TROCA DA REMISSÃO

TABELA 5 - ONDE VOCÊ BUSCA A COMPLEMENTAÇÃO DE SUA

FORMAÇÃO, ALÉM DA SALA AULA.

TABELA 6 – QUANTAS VEZES VOCÊ FREQÜENTA A BIBLIOTECA DA

UNIDADE PRISIONAL.

TABELA 7 – COM QUE FREQÜÊNCIA VOCÊ VAI A BIBLIOTECA DA

UNIDADE PRISIONAL.

TABELA 8 – TIPOS DE LEITURAS REALIZADAS NOS ÚLTIMOS 6 MESES NO

CÁRCERE.

TABELA 9 – PRODUÇÃO TEXTUAL.

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ÍNDICE DE ANEXOS

ANEXO 1 – MODELO DO QUESTIONÁRIO DA PESQUISA

ANEXO 2 – TERMO DE CONSENTIMENTO

ANEXO 3 – TERMO DE APROVAÇÃO DO ORIENTADOR

ANEXO 4 – TERMO DE APROVAÇÃO DO AVALIADOR

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Lista de Siglas

ALB - Associação de Leitura do Brasil

APAC - Associação de Proteção e Atenção Carcerária

CEE - Conselho Estadual de Educação

CESU - Centro de Exames do Supletivo

CNE - Conselho Nacional de Educação

DIAPH - Diretoria Adjunta de Atendimento e Promoção Humana

ENCEJA - Exame de Certificação da Educação de Jovens e Adultos

EJA - Educação de Jovens e Adultos

FUNAP - Fundação de Amparo ao Preso “Professor Doutor Manoel Pedro Pimentel”

INAF - Indicador de Analfabetismo Funcional

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

IPF - Instituto Paulo Freire

LDB - Lei de Diretrizes e Bases

MEC - Ministério da Educação

ONG - Organização Não Governamental

PAI - Projeto de Alfabetização e Inclusão

SAP - Secretária da Administração Penitenciária

SEE - Secretaria Estadual de Educação

SEMESP - Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior

do Estado de São Paulo

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INTRODUÇÃO

Educação é um valioso instrumento, é vital para o ser humano e pode ter inúmeros

conceitos. É importante ressaltar que a educação não se efetua apenas em uma realidade

isolada, mas é um dos principais alicerces do sistema social, ou seja, da sociedade.

Segundo Gadotti, (1999, p.11), educação é entendida como, [...]a prática mais humana, considerando-se a profundidade e a amplitude de sua influência na existência dos homens. Desde o surgimento do homem, é a prática fundamental da espécie, distinguindo o modo do ser cultural dos homens do modo natural do existir dos demais seres vivos.

Compreendida desta forma a educação promove no individuo o surgimento das

potencialidades que possui, sendo estas de dentro para fora. Porém quando se fala em

educação dentro do sistema penitenciário, ou seja, em Educação Carcerária, nota-se que a

complexidade do processo educacional torna-se maior, pois não há uma legitimidade

reconhecida, tanto por parte do governo como por parte da sociedade em geral e talvez nem

mesmo pelos encarcerados.

Não se pode negar a importância da educação na construção de uma sociedade mais

moderada, que observa o estado democrático dos direitos humanos.

Segundo Souza (FUNAP, 2005), a educação carcerária almeja que o reeducando

encarcerado, consiga ampliar sua formação e junto a ela amplie a sua leitura de mundo, pois a

mesma visa a ressocialização, e o retorno do preso à sociedade, porém não como uma pessoa

estigmatizada, mas sim como um ser humano com a auto-estima recuperada.

A partir da experiência vivida no trabalho interno da APAC1, que possibilita

acompanhar a educação carcerária de perto é importante destacar que esta possui normas e

procedimentos próprios e nela é fundamental fazer a leitura da realidade, para que por meio

dela haja a transformação das atitudes concretas, promovendo processos que possibilitem a

autonomia e competência contribuindo assim para a redução dos índices de criminalidade

reincidentes no sistema penitenciário paulista.

No entanto a essência da educação carcerária tem buscado no decorrer do tempo dar

total atenção à ação educativa, que visa à melhoria da qualidade de vida. Quando trabalhado

nas penitenciárias e nos centros de ressocialização, a mesma colabora com o incentivo à

própria família do reeducando encarcerado em continuar seus estudos ou para aqueles que não

estão estudando, até mesmo voltar para a escola. Pode-se considerar que é dentro do sistema,

1 Associação de Proteção e Assistência Carcerária.

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que por vezes se tem o incentivo de continuar os estudos, contribuindo com a possibilidade de

não voltar mais ao cárcere.

A educação como já dita é crucial para a transformação da realidade de vida, pois

promove o acesso e a atualização da história do homem. Conforme Paulo Freire apud (Souza,

FUNAP, 2005, p.7) “como experiência especificamente humana, a educação é uma forma de

intervenção no mundo”.

De qualquer forma deve-se observar que é possível favorecer educação a uma parte da

sociedade apontada por muitos como excluídos. Conclui-se então que os objetivos da

educação carcerária é o de transformar o reeducando encarcerado para recolocá-lo na

sociedade, visando sua ressocialização e transformação de sua realidade para que possa se

modificar e reconstruir sua cidadania.

Por se tratar de educação de presos, deve-se pensar na educação carcerária como forma

de deixar o reeducando encarcerado se construir, refletir e ver o mundo de uma maneira

diferente da qual ele está inserido naquele determinado momento de sua vida.

É comum que a idéia do reeducando encarcerado é a de que sua vida acabou, a partir do

momento em que se viu preso dentro de uma cela e que não lhe resta mais nada na vida além

da humilhação do cárcere.

A Ong APAC, administra várias unidades prisionais com objetivos comuns aos já

apresentados, em outras Unidades Prisionais do estado de São Paulo, administradas pela Ong,

busca superar de alguma forma o que ocorre por vezes na instituição que é a falta da educação

e da ocupação dos cárceres, por isso há uma necessidade muito grande da educação dentro do

sistema penitenciário, para que os encarcerados não sintam e nem vejam que o mundo acabou

ou se fechou para eles.

Contudo nota-se que a educação é vista como um processo democrático, um processo

de abertura, mas quando este acontece dentro de uma Unidade Prisional, devido às regras de

segurança interna o aluno encarcerado nem sempre pode se expressar com a liberdade e

privacidade desejada, pois têm que seguir o regimento, normas internas de todo o Sistema

Prisional.

Todos nós passamos por diferentes experiências em nossa vida, nos momentos de nossa

formação recebemos muitas promessas e muitas vezes fingimos acreditar. A sociedade no

contexto atual priva os cidadãos de oportunidades básicas para o provimento do seu bem estar

e isso traz conseqüências. O sistema prisional apresenta limitações quanto ao atendimento de

infratores, a partir da convivência junto aos reeducandos encarcerados do Centro de

Ressocialização de Bragança Paulista no estado de São Paulo, pôde-se perceber que estes

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necessitam de uma ajuda e de muita assistência. No cárcere, muitos se refugiam na leitura e

na produção de textos, como cartas para familiares, composição de músicas e poesias, mas

como já relatado não podem se expressar como desejam, devido ao regimento do Sistema

Penitenciário do Estado de São Paulo.2

Em algumas produções como cartas que se teve acesso, observa-se que os reeducandos

descrevem sobre o cotidiano do presídio, outros ainda, descrevem sobre perdas familiares, de

direitos, de oportunidades, outros falam de amor, liberdade e sonhos que almejam um dia para

sua vida ou para vida de seus familiares. Porém todos revelam um interior aprisionado, do

homem aprisionado em uma prisão, solicitando por vezes o direito de se expressar.

Considerando a realidade descrita, alguns pontos da pesquisa visam conhecer a

percepção e valorização dos reeducandos do Centro de Ressocialização de Bragança Paulista

no estado de São Paulo, quanto ao processo de escolarização no qual estão inseridos na

carceragem. Visa ainda, promover o desenvolvimento de uma reflexão que possa subsidiar a

política pública local de educação carcerária.

Contudo este trabalho teve por objetivos levantar o significado para os reeducandos,

quanto a sua interação com a escolarização promovida pelo sistema carcerário e o acesso aos

diferentes conhecimentos, e conhecer a produção e desempenho escolar dos reeducandos do

Centro de Ressocialização de Bragança Paulista no estado de São Paulo.

Portanto, a partir destes objetivos e considerando os limites na privacidade carcerária é

que este estudo estará voltado para a compreensão da realidade humana e social, respeitando

as normas do Centro de Ressocialização de Bragança Paulista.

Para tanto, este estudo abordará no primeiro capítulo os princípios da Educação e a

Educação no Sistema Penitenciário do Estado de São Paulo, apresentando as concepções a

respeito do tema, terá como foco a Educação na visão de alguns autores, a Educação de

Jovens e Adultos, um breve contexto sobre Educação Carcerária e informações sobre o Centro

de Ressocialização de Bragança Paulista e a Associação de Proteção e Assistência Carcerária.

No segundo capítulo, falar-se-á dos Relatos de Experiências e Educação Carcerária

como Ato de Inclusão no Centro de Ressocialização. Já no terceiro capítulo, serão

apresentados os dados levantados e a análise fundamentada no estudo bibliográfico realizado.

E, finalmente no quarto capítulo, serão apresentadas as considerações finais deste

trabalho.

2 Os reeducandos encarcerados no Sistema Penitenciário do Estado de São Paulo seguem um regimento de Segurança, o qual os proíbem de se expressar, por motivo de segurança pública.

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1. A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

1.1 A Educação

Educação é um instrumento fundamental para a transformação da vida e da realidade de

todo ser humano, ela está presente em todos os lugares, na rua, na casa, na igreja ou na escola,

de um modo geral todos nós envolvemos nossa vida com ela, pois estamos constantemente

aprendendo, ensinando e por vezes ao mesmo tempo pode-se estar aprendendo e ensinando.

Junto à educação encontra-se o conhecimento, e pode-se dizer que o mesmo tem

presença garantida em qualquer projeto que se faça para o futuro.

De acordo Gadotti apud (Paulo Freire, ano 1997, Rev. Fac. Educ. vol. 23),

[...] o conhecimento é construído de forma integradora e interativa. Não é algo pronto a ser apenas "apropriado" ou "socializado", como sustenta a pedagogia dos conteúdos. Por isso, essa pedagogia sustenta, até hoje, a necessidade da memorização. Conhecer é descobrir e construir e não copiar. Na busca do conhecimento, Paulo Freire aproxima o estético, o epistemológico e o social. Para ele é preciso reinventar um conhecimento que tenha "feições de beleza.

Segundo o conceito freireano, o conhecimento deve ser organizado e construído de

forma que se desenvolva numa ferramenta essencial para intervir no mundo, pois o

conhecimento trata-se de conhecer e construir e não em apenas se basear em conteúdos

prontos a serem memorizados, deve-se educar para o conhecimento.

Gadotti (1997, p.5) relata que Paulo Freire, “[...] tinha um verdadeiro amor pelo

conhecimento e amor pelo estudo. Freire considerava que o individuo conhece para: a)

entender o mundo (palavra e mundo); b) para averiguar (certo ou errado, busca da verdade e

não apenas trocar idéias); c) para interpretar e transformar o mundo”.

A educação segundo Paulo Freire (1999), deve procurar desenvolver a tomada de

consciência e a atitude crítica, á qual o homem aprende a escolher e a decidir, para que assim

se liberte mudando sua realidade.

Dentro de uma mesma linha de pensamento de acordo com Morin (2003), é necessário

discutir a importância de uma prática educativa consciente e crítica, pois é fundamental que a

educação se ocupe em conhecer o que é conhecer, que não seja uma educação fragmentada.

A prática educativa também é questionada por Paulo Freire em relação à educação ética,

educação multicultural e a educação libertadora e transformadora, assim como Edgar Morin

discute a educação planetária como meio de compreensão do mundo.

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O ser humano apresenta-se como um ser confuso em relação à evolução de sua história,

pois como já exposta, a educação é fragmentada e por vezes não permite uma recomposição

dos conhecimentos na educação, que ocasiona a fragmentação do saber. (MORIN, 2003).

Ao se falar em ética, pode-se relacioná-la aos direitos das pessoas, pois ela está

comprometida com a vida do ser humano em relação à dignidade, à convivência com outras

pessoas e com a esperança. A ética universal do ser humano, proposta por Freire, é

inseparável da prática cotidiana dos sujeitos, é o caminho que se propõe a auxiliar o oprimido

na sua conscientização para superar sua própria condição de vida, tornando o processo

educativo, uma prática para a liberdade. Portanto, opõe-se a educação “bancária” que serve à

dominação, e aplica a educação problematizadora que serve à libertação, na qual educador e

educando se educam mutuamente.

Para Paulo Freire (1997 p.91), “[...] a ética ou qualidade ética da prática educativa

libertadora vem das entranhas mesmas do fenômeno humano, da natureza humana

constituindo-se na História, como vocação para ser mais”.

Como a educação freireana é problematizadora, o conteúdo social é base para

conscientização, valorização da cultura popular, da leitura do mundo e desta forma a

Educação possibilita a cada indivíduo que adquira a capacidade de auto-conduzir o seu

próprio processo formativo, sendo assim, nota-se que educação freireana busca valorizar a

cultura popular para que desta forma a educação se concretize e conduza o indivíduo a um

processo de formação, privilegiando a compreensão do mundo que é adquirida através de seu

contexto social e cultural.

A prática e a reflexão sobre a educação de acordo com Freire, opta por um método que

valoriza o saber do aluno, promove o diálogo e a participação integral do mesmo. Assim,

além de ampliar a visão de mundo do ser humano, pode-se dizer que a educação também é um

meio de comunicação, pois promove a produção de conhecimento e proporciona uma melhor

aprendizagem e compreensão da linguagem.

No entanto no processo de aprendizagem o ser humano vai desenvolvendo sua

moralidade. Ele vai aprendendo que o moralmente certo é aquilo que o ajuda a viver a sua

vida como ser racional, livre, autônomo, responsável, solidário - e o imoral é aquilo que o

impede de alcançar a plenitude daquilo que ele concebe como o ser humano.

Paulo Freire (1997) nos leva a construir um novo olhar sobre a educação, percebendo a

importância da troca, do coletivo, da parceria em educação, como compartilhar com o outro,

por meio do diálogo, as diferenças culturais de cada um e a ter respeito com o individuo.

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Pode-se dizer também que a educação do ser humano começa quando ele nasce - e

termina apenas quando ele morre. A educação é o processo mediante o qual o ser humano se

capacita para viver - para viver seus sonhos, para viver seus projetos, para viver, enfim, a vida

que escolheu para si próprio.

Contudo a concepção de mundo e a teoria sócio-político-educativa de Freire (1997) nos

ajudam não apenas a entender melhor como funciona o modelo educação, mas nos ajudam a

construir a resposta necessária para que ela ocorra de acordo com as nossas perspectivas que

realçam a importância da dimensão cultural nos processos de transformação social. A

educação é muito mais do que a instrução. Para ser transformadora ela deve enraizar-se na

cultura dos povos.

A educação de acordo com Paulo Freire (1997) é um processo a longo prazo e precisa

combater preconceitos e se libertar de alguns paradigmas. Paradigma este que ainda vê que

somente o professor é o dono do saber.

Paulo Freire (1999) diz que, o conhecimento não é libertador por si mesmo, ressalta que

o mesmo precisa estar associado a um compromisso político em favor da causa dos excluídos,

além de ser é um bem imprescindível à produção de nossa existência., não podendo portando

ser apenas um objeto de compra e venda, cuja posse fique restrita a poucos. No entanto o

conhecimento, para promover a educação libertadora, precisa construir entre educadores e

educandos uma verdadeira consciência histórica.

Algumas perspectivas sobre educação são fundamentadas nas idéias pedagógicas de

Paulo Freire que nos aponta causas sociais que devem ser discutidas e não esquecidas. Uma

desta perspectivas é a Educação de Jovens e Adultos.

1.2 Educação de Jovens e Adultos

Ao se falar em Educação de Jovens e Adultos, ou seja, a EJA, pode-se dizer que a

mesma não nos remete apenas a uma questão especifica de faixa etária, mas também

especifica primordialmente, a questão cultural.

A Educação de Jovens e Adultos deve ser sempre uma educação multicultural, uma

educação que desenvolva o conhecimento e a integração na diversidade cultural, como afirma

Freire apud (Gadotti, 1979), uma educação para a compreensão mútua, contra a exclusão por

motivos de raça, sexo, cultura ou outras formas de discriminação e, para isso, o educador deve

conhecer bem o próprio meio do aluno, pois somente conhecendo a realidade desses jovens e

adultos é que haverá uma educação com qualidade.

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Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96, constam no Título V,

Capítulo II, Seção V, dois Artigos relacionados, especificamente, à Educação de Jovens e

Adultos, que assim se expressam: Art. 37 - A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e trabalho, mediante cursos e exames. § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si. Art. 38 - Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. § 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: I. no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de quinze anos; II. no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos. § 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames.

E no Plano Nacional de Educação Lei nº 10.172/2001, temos como um dos objetivos e prioridades:

Garantia de ensino fundamental a todos os que não tiveram acesso na idade própria ou que não o concluíram. A erradicação do analfabetismo faz parte dessa prioridade, considerando-se a alfabetização de jovens e adultos como ponto de partida e intrínseca desse nível de ensino. A alfabetização dessa população é entendida no sentido amplo de domínio dos instrumentos básico da cultura letrada, das operações matemáticas elementares, da evolução histórica da sociedade humana, da diversidade do espaço físico e político mundial da constituição brasileira. Envolve, ainda, a formação do cidadão responsável e consciente de seus direitos. (Plano Nacional de Educação - introdução: objetivos e prioridades dois)

Isto é, apesar da idade, esse espaço da educação não diz respeito a reflexões e ações

educativas dirigidas a qualquer jovem ou adulto, mas delimita um determinado grupo de

pessoas relativamente homogêneo no interior da diversidade de grupos culturais da sociedade.

Segundo Freire (apud Gadotti, 1979, p. 72) em Educação de Jovens e Adultos: teoria,

prática e proposta, os termos Educação de Adultos e Educação não-formal referem-se à

mesma área disciplinar, teórica e prática da educação, porém com finalidades distintas.

Segundo o autor deve-se considerar a realidade dos educandos, para que assim o

professor consiga promover a motivação necessária à aprendizagem, despertando neles

interesses e entusiasmos, abrindo-lhes um maior campo para atingir o conhecimento.

O jovem e o adulto na maioria das vezes sentem muita ansiedade e querem ver logo a

aplicação imediata do que estão aprendendo e, ao mesmo tempo, precisam ser estimulados

para resgatarem a sua auto-estima, pois devida à ansiedade, poderá ocorrer sentimentos de

angustia e "complexo de inferioridade".

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Esses jovens e adultos são tão capazes como uma criança, apesar de estarem inseridos

no mundo do trabalho e das relações interpessoais de um modo diferente daquele da criança e

do adolescente. O adulto e o jovem trazem consigo uma história mais longa e por vezes mais

complexa de experiências, conhecimentos acumulados e reflexões sobre o mundo externo,

sobre si mesmo e sobre as outras pessoas.

Já em relação à inserção desses jovens e adultos em situações de aprendizagem, faz com

que eles tragam consigo diferentes habilidades e dificuldades, e provavelmente, tragam

também uma maior capacidade de reflexão sobre o conhecimento e sobre seus próprios

processos de aprendizagem.

De acordo com Santos (2003, p.86):

[...] Iniciamos a partir de uma afirmação: os jovens e adultos que estão inseridos nessa modalidade ou que querem se inserir, já possuem saberes que nós educadores – apesar de não ser novidade para muitos - ,ainda não aprendemos a considerar no processo de ensino e aprendizagem.

Sendo assim pode-se ressaltar que estes educandos são peculiares, ou seja, pessoas que

não freqüentaram a escola na faixa etária correta, ou por necessidade de se trabalhar, ou

também por se encontrarem em outras inúmeras situações.

A Educação de Jovens e Adultos contribui para a diminuição do analfabetismo, com o

processo de alfabetização desenvolvidos nas escolas ou em outras instituições.

Segundo Teixeira (apud. Paulo Freire, 1989), ninguém é analfabeto porque quer, ele

coloca a culpa desta conseqüência que ocorrem a décadas no Brasil, nas condições

socioeconômicas, nas desigualdades sociais, na fome e na miséria.

Como afirma Gadotti (1995, p.28) ao explicar o pensamento do Paulo Freire, “o

analfabetismo é a expressão da pobreza, conseqüência inevitável de uma estrutura social

injusta. Seria ingênuo combatê-lo sem combater suas causas”.

O conceito de alfabetização está ligado á uma abordagem que se tem da educação como

um todo, sempre evidenciando uma visão que se abrange de forma integral, onde se pode

resgatar a leitura e a escrita, as operações matemáticas entre outras disciplinas, sempre se

preocupando como a comunicação do educando ativo na sociedade.

É necessário que haja uma conscientização sobre o processo a qual se dá a

aprendizagem de um adulto na fase da alfabetização, porque ela deve provocar a consciência

crítica, pois é nela, na consciência crítica que há a compreensão da realidade social.

Cabe então, ao professor da EJA compreender a necessidade de respeitar a pluralidade

cultural, as identidades, as questões que envolvem classe, raça, saber e linguagem dos seus

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alunos, caso contrário, o ensino ficará limitado à imposição de um padrão, um modelo pronto

e acabado em que se objetiva apenas ensinar a ler e escrever, de forma mecânica.

Portanto, nas concepções freireana o professor no processo de alfabetização deve

integrar a leitura da palavra à leitura do mundo, lê-se a palavra e se aprende a escrever a

palavra como conseqüência de quem tem a experiência do mundo.

Teixeira apud, (Freire, 1971, p.120) afirma que, “... na alfabetização de adultos, para

que não seja puramente mecânica e memorizada, o que há de fazer é proporcionar-lhes que

se conscientizem para que se alfabetizem”. Para o autor Paulo Freire, a alfabetização não é

apenas decifração mecânica de códigos, por isso deve-se haver a integração da leitura, pois o

mesmo considera esta prática, como um meio para se aprender a ler e escrever através de

conscientização, sem precisar de memorização.

Então dentro desta abordagem nota-se que deve haver diálogo em sala de aula, para que

assim o educador possa resgatar o saber do aluno e utilizá-lo como um instrumento de

alfabetização. Há necessidade de se adequar às práticas educativas à realidade desses alunos

deve-se ao fato de os mesmos já possuírem um conhecimento cultural e um nível de

subjetividade diferenciado das crianças do Ensino Regular.

De acordo com Pinto, (1986, p.87):

O método não pode ser imposto ao aluno, e sim criado por ele no convívio do trabalho educativo com o educador. Assim, as próprias palavras motivadoras pelas quais inicia sua aprendizagem da leitura e da escrita não podem ser determinadas pelo professor, mas devem ser proporcionadas – mediante uma técnica pedagógica especial pelo próprio alfabetizando.

Portanto é papel do educador mediar a aprendizagem, priorizando, nesse processo, a

bagagem de conhecimentos trazida por seus alunos, ajudando-os a transpor esse

conhecimento para o "conhecimento letrado" e, além disso, proporcionar um espaço

motivador no qual os próprios alunos expressem uma relação direta e continua com a

realidade vivenciada por eles.

Mas não se pode esquecer dentro deste contexto de Educação de Jovens e Adultos a

questão da formação do educador, pois o mesmo, deve compreender que a fonte de sua

aprendizagem é a sociedade e sua formação e papel como professor, tem grande importância

no processo ensino-aprendizagem, partindo desta, sua formação deve ser contínua e

relacionada com a prática cotidiana, tendo um acompanhamento sistemático, para se garantir

assim algum retorno da ação no trabalho efetivo em sala de aula.

Segundo Freire (1996, p. 44):

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A formação dos professores é um momento fundamental para a crítica sobre a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se confunda com a prática.

Pois, sabe-se que educar é muito mais que reunir pessoas numa sala de aula e transmitir-

lhes um conteúdo pronto. É papel do professor que atua na EJA, compreender melhor o aluno e

sua realidade diária, portanto, o professor que vai atuar com jovens e adultos deve ter uma

formação especial, que lhe permita compreender os anseios e necessidades de sua clientela, além

de saber lidar com os sentimentos das mesmas e ter consciência de sua força no desenvolvimento

do educando.

Segundo Couto (2003):

Os adultos exigem do professor, além dos saberes disciplinares, práticas educativas que aproveitem a sua bagagem cultural e a experiência acumulada. O ideal é [...] estabelecer uma relação entre conteúdos trabalhados e o uso que farão deles posteriormente. O papel do educador é fazer a ponte entre os saberes desorganizados da turma e o conhecimento científico.

Enfim, pode-se afirmar que o papel do professor da EJA passa a ser a de um mediador

entre o aprendiz e a escrita, entre o sujeito e o objeto e partindo disto é necessário contar com

educadores que se disponham a trabalhar com esse tipo de aluno, respeitando suas condições

culturais e o meio social no qual está inserido, valorizando toda a experiência acumulada pelos

alunos.

Parte também da premissa que tem se estabelecer um vínculo entre o professor e o aluno

para que assim haja uma melhor relação entre eles, pois o educador e o educando estão no

processo de enriquecimento para se vencer as dificuldades e de se desenvolver o senso crítico,

para o exercício da cidadania, sendo assim o processo de alfabetização, ou de ensino-

aprendizagem se dará constantemente nas trocas que se tem em sala de aula.

Segundo Ferreiro, (2001, p.43), “[...] a escrita não é um produto escolar, mas sim um

objeto cultural, resultado do esforço coletivo da humanidade”.

Por ora, compreende-se que as informações trazidas pelos adultos do EJA os ajudam a

fazer a leitura da realidade e que a alfabetização se dá por completa quando se trabalha com a

cultura do adulto inserido, dando a ele a oportunidade de fazer a leitura das palavras de acordo

com a leitura do mundo.

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1.3 Educação Carcerária

Não se pode negar a importância da Educação na construção de uma sociedade bem

estruturada. Todos nós como cidadãos temos direito de ter acesso a educação, até mesmo os

cidadãos que se encontrão presos no sistema prisional.

Os processos educativos nas unidades prisionais são sempre relacionadas a

ressocialização e ou reinserção do indivíduo preso na sociedade, também pode-se dizer que a

educação é um meio de reorganização da vida diante da liberdade adquirida. Portanto a

educação escolar carcerária ou educação escolar no cárcere exerce grande influência na vida

dos presos que estudam.

Além disso, possibilita ao indivíduo preso a sua humanização, pois no cárcere existem

normas, tudo tem hora, para dormir, acordar, tomar banho, entre outras, e é a perspectiva da

educação escolar dentro dos presídios que levam as pessoas encarceradas a resgatar suas

condições humanas, mesmo dentro da prisão.

Sendo assim se faz necessário ressaltar o que diz Português (2001, p.360):

Presente desde os primórdios da prisão, a educação é arrolada como atividade que visa a proporcionar a reabilitação dos indivíduos punidos. Contudo, considerando que os programas da operação penitenciária apresentam-se de forma premente a fim de adaptar os indivíduos às normas, procedimentos e valores do cárcere – afiançando, portanto, aquilo que se tornou o fim precípuo da organização penitenciária: a manutenção da ordem interna e o controle da massa carcerária – quais são as possibilidades para uma “educação autêntica, que não descuide da vocação ontológica do homem, a de ser sujeito”.

Porém há uma freqüência muito baixa da população carcerária nas aulas, pois há falta

de estímulo e condições, gerando a falta de interesse dos encarcerados, mas mesmo assim,

deve-se discutir até que ponto a educação escolar é um fator contributivo para a reabilitação

do homem aprisionado.

Segundo a cartilha dos Direitos e Deveres do Preso (1999, p.1), elaborado por

procuradores do Estado de São Paulo, “[...] é direito básico dos presos, ter à assistência

educacional: estudos de 1º grau e cursos técnicos”. Com este direito o preso passa a ter um

melhor acesso a escola interna, a educação é um dos meios mais importantes para a reinserção

do egresso na sociedade.

A educação carcerária visa a alfabetização dos reeducandos, para que eles

compreendam e reflitam sobre o mundo, ampliando suas visões sobre ele, assim estão dando

um passo importante em suas vidas. Deste passo importante da ação educativa resultará na

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melhoria da qualidade de vida, sendo este, o aspecto crucial para a redução dos índices de

criminalidade.

Refletindo sobre o compromisso social e ético que se tem com a sociedade, educar,

segundo Freire (apud TRANJAN,1999, p.96), trata-se de uma:

Educação é o caminho pelo qual homens e mulheres podem chegar a tornar-se conscientes de si próprios, de sua forma de atuar e de pensar, quando desenvolvem todas as suas capacidades considerando não apenas eles mesmos, mas também as necessidades dos demais.

A educação de jovens e adultos dentro do sistema prisional, possui normas e

procedimentos próprios, e nele é fundamental fazer a leitura da realidade, para transformá-la

em atitudes concretas, respeitando os reeducandos e educadores, promovendo processos que

visem à autonomia e a competência.

De acordo com Apud Português (2001, p.364 e 365),

O processo educativo requer a participação ativa dos educandos nas aulas, numa série de “erros” e “acertos” que se constituem como parte do processo de aprendizagem. A necessidade de mostrar-se como um “bom preso” ao professor, com a intenção sub-reptícia de obter uma concessão, pode inviabilizar o processo educativo, mormente organizado tendo em vista o desenvolvimento de uma série de potencialidades dos alunos.

Sendo assim, a escola nos presídios tem uma enorme responsabilidade na formação de

indivíduos autônomos, na ampliação do acesso aos bens culturais em geral, no fortalecimento

da auto-estima desses sujeitos assim como na consciência de seus deveres e direitos, criando

oportunidades para o seu reingresso na sociedade.

Com isto estaremos proporcionando aos reeducandos, uma oportunidade para se

reinserirem socialmente, elevando assim o nível escolar no período em que estão privados da

liberdade. Estabelecer as relações entre os diferentes conhecimentos faz com que o trabalho

da ação educativa nos presídios se torne cada vez mais eficaz. Fazendo-os refletir sobre as

transformações que a sociedade vem passando.

Segundo Gadotti (1993), a característica fundamental da pedagogia do educador em

presídios é a contradição, é saber lidar com conflitos, com riscos. Cabe a ele questionar de

que maneira a educação escolar pode contribuir para modificar a prisão e o preso, tornar a

vida melhor e contribuir para o processo de desprisionalização e de formação do homem

preso.

Nota-se que há um aumento quanto a questão de leitura e escrita por parte dos

reeducandos, e a mesma trás a eles um aumento na capacidade de compreender o que esta ao

seu redor e a enxergar as diversas maneiras de vida que a sociedade civil nos proporciona.

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Portanto, como esclarece Leite (1997), ler e escrever na prisão é fundamental, pois não

ter essas qualidades implica dependência do companheiro. É com esses conhecimentos que os

detentos podem escrever e ler cartas, bilhetes e acompanhar o desenrolar dos seus processos

criminais, e isso significam ter mais liberdade, autonomia e privacidade, até porque quem não

sabe pede, e quem pede, deve.

Do ponto de vista da aprendizagem, os objetivos da escola são mais concretos e reais,

pois uns querem aprender a ler, escrever e calcular, outros buscam aperfeiçoar, aprofundar e

ampliar seus conhecimentos.

Vale ressalta, que de acordo com Mello (1987, p. 78), quando a autora afirma que “[...]

é ensinando a ler, escrever, calcular, falar, e transmitindo conhecimentos básicos do mundo

físico e social, que a educação escolar poderá ser útil às camadas populares.”

Sendo assim, pode-se colocar neste caso como camada popular, os alunos presos, pois

os mesmos vêem a educação como “[...] formas de melhorar de vida, pela possibilidade que

nela distinguem de obterem melhor emprego e de participarem da cultura letrada” (Mello,

1987, p. 77).

No entanto pensar a educação escolar no presídio significa, nesse sentido, refletir sobre

sua contribuição para a vida dos encarcerados e da sociedade em geral, por meio da

aprendizagem participativa e da convivência baseada na valorização e desenvolvimento do

outro e de si mesmo.

O corpo docente das escolas nos presídios é formado por professores e monitores presos

que multiplicam o conhecimento para os outros presos, esses não são formados em nenhuma

licenciatura, apenas os professores que atuam na educação carcerária são formados no curso

Normal pós Médio, ou seja, o magistério ou em licenciaturas. Estes educadores têm

experiência em EJA e é uma proposta pedagógica, buscar atender os reeducandos sem

escolaridade e promover os que têm um nível maior de escolaridade a continuação dos

estudos e para aqueles que já concluíram os estudos proporcionar-lhes um curso técnico.

1.4 O Centro de Ressocialização, a APAC de Bragança Paulista e a FUNAP

Há vários Centros de Ressocialização no Estado de São Paulo, e estes são Unidades

Prisionais com administração compartilhada entre a Secretária da Administração Penitenciária

estadual e algumas contam com a participação de uma Organização não Governamental.

Em Bragança Paulista existe desde de 1978 uma Unidade coordenada no início pela

Secretaria de Segurança Pública e pela APAC (Associação e Proteção e Assistência

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Carcerária), desde 1999 até fevereiro de 2007, quando se encerrou o convênio com a

Secretaria da Administração Penitenciária.

Hoje ela tem contrato de prestação de serviços com a Secretária da Administração

Penitenciária, esta secretária conta com um corpo funcional que fica responsável pela

Segurança e Disciplina do Centro de Ressocialização e também conta com um Diretor Geral,

Gestor e Supervisor de todos os atos administrativos.

A ONG – APAC (Associação de Proteção e Assistência Carcerária) é responsável pela

contratação da equipe técnica que inclui, advogados, médicos, professores, dentistas,

psicólogos e assistentes sociais e a equipe de gerência e finanças que administram e aplicam

os recursos na compra da alimentação, assistência material, manutenção e conservação do

prédio, dando assim condições mais humanas para o cumprimento de pena para aqueles que

estão, sob a guarda da justiça por terem infligido o dispositivo legal.

A inclusão do reeducando no Centro de Ressocialização atende a requisitos e objetivos,

sendo: ser morador do município ou da comarca de Bragança Paulista; condenado a

cumprimento de pena inicial ou restante não superior a 10 anos; não ser reincidente específico

em determinados delitos, ou ainda, delitos de maior gravidade como seqüestro e latrocínio,

pois se trata de uma Unidade Prisional classificada como detenção de segurança mínima onde

não há muralhas nem vigilância armada.

O reeducando no Centro de Ressocialização de Bragança Paulista é incluso procedente

da Delegacia de Policia local por prisão em flagrante, por cumprimento de Mandado de

Prisão, Prisão Temporária e Prisão Administrativa “Pensão Alimentícia”, e procedente de

outras Unidades Prisionais que visam a aproximação familiar.

Ao chegar no Centro de Ressocialização, o infrator recebe o uniforme da Unidade, é

qualificado e identificado datiloscopicamente3, fotografado e orientado das normas que deve

obedecer. O contato entre o reeducando e o corpo funcional é sempre por tratamento nominal.

É uma peculiaridade deste modelo de Centro de Ressocialização a não aceitação de

presos ligados a membros de facções criminosas e o convívio comum entre os reeducandos

que cometeram delitos como estupro e atentado violento ao pudor.

O reeducando passa por uma avaliação psicológica, é atendido pela assistente social

junto com o diretor de Segurança e Disciplina e Diretor Geral, onde é feito um laudo para

verificar se este preenche os requisitos e aceita as condições para a sua permanência no C.R.

Os requisitos e condições para a sua permanência são os de estudar, trabalhar e respeitar os

3 Identificação das impressões digitais.

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outros reeducandos. Caso não preencha os requisitos ou o infrator decidi que não quer

permanecer no C.R, o mesmo é encaminhado para outra Unidade Prisional, que não seja

C.R’s.

Quando há uma manifestação positiva do reeducando afirmando que deseja ficar no

Centro de Ressocialização, o mesmo permanecendo em regime de observação por 15 dias e

após 30 dias passa por uma nova avaliação para ratificar sua permanência no Centro de

Ressocialização de Bragança Paulista, passando a participar de todas as etapas do projeto de

ressocialização, trabalho, educação, cursos profissionalizantes, contato com a família,

atividades religiosas, entre outras.

Um dos requisitos para permanência no Centro de Ressocialização é o trabalho, sendo

obrigatório a todos, tanto para os presos provisórios, presos condenados e presos do regime

semi-aberto.

Os reeducandos do regime fechado exercem atividades laborterápicas4 nas oficinas

internas da Unidade, na cozinha, na faxina, na limpeza da instituição e nas atividades de

apoio.

Os reeducandos do regime Semi Aberto são contratados por empresas particulares que

prestam serviços para sociedade, segundo as atividades condizentes com sua capacidade e

habilidade saindo para o trabalho as 7:00h da manhã e retornando até as 18:00h da tarde.

De acordo com o parágrafo 1º do artigo 126 da Lei 7210/84 (Lei de Execução Penal), ao

condenado a cada 03 (três) dias trabalhado, é remido 01 (um) dia de sua pena, peculiaridade

da Vara de Execuções Criminais de Bragança Paulista, pois são os dias remidos somados ao

tempo de pena cumprido, fazendo com que o reeducando atinja o lapso temporal para

requisitar seus benefícios em um tempo menor, o que ocorre em outras execuções é que este

tempo remido não é somado a pena cumprida.

A conta pecúlio é uma garantia prevista no artigo 29 na Lei 7210/84, § 2º Ressalvadas

outras aplicações legais, será depositada a parte restante para constituição do pecúlio, em

Caderneta de Poupança, que será entregue ao condenado quando posto em liberdade.

No Centro de Ressocialização ao reeducando do regime semi-aberto que é contratado

por uma empresa particular com remuneração fixada em 1 (um) salário mínimo vigente, e são

descontados as taxas administrativas no percentual de 25% e restando a este ¾ do valor

garantindo o disposto do artigo 29, § 2º da Lei 7210/84 da Lei de Execuções Penais. E os

reeducandos do regime fechado trabalham nas oficinas internas e na manutenção da

4Exercem atividades, trabalhos ocupacionais como uma terapia.

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instituição e sua remuneração é feita de acordo com os dias trabalhados, o pagamento é feito

pela ONG e pelas empresas que tem suas oficinas instaladas no interior do C.R.

A educação é prioridade no processo de ressocialização do encarcerado, sendo

obrigatório a todos que não concluíram o ensino médio. Funcionam no C.R salas para

alfabetização, ensino fundamental e ensino médio, supervisionados por uma professora,

responsável pelo projeto de educação do Centro de Ressocialização de Bragança Paulista.

Quanto a certificação do curso, os reeducandos fazem uma prova para que assim possam obter

o certificado de conclusão com o reconhecimento do MEC.

Em relação à educação e ao estudo, o artigo 18 da Lei 7210/84, estabelece o direito do

preso a ter acesso pelo menos ao ensino fundamental durante o período de detenção. E o

artigo 21 da LEP (Lei de Execuções Penais) determina a obrigatoriedade de que cada

estabelecimento prisional tenha uma biblioteca acessível a todas as categorias de reclusos. No

entanto, a lei nada diz sobre a remição da pena pela educação, outro instrumento crucial de

reinserção do reeducando.

São objetivos e metas da APAC de Bragança Paulista:

Objetivos

1- Proporcionar pleno cumprimento das exigências da Lei de Execuções Penais, criando

condições para a harmônica integração social do condenado ou preso provisório.

2- Proporcionar a participação da comunidade nas atividades de execução penal dando

cumprimento à exigência do art. 4º da Lei de Execuções. Priorizar parcerias que envolvam a

coletividade e resultem no trabalho voluntariado, doação, dinheiro ou bens, expressando

assim a perfeita consonância com o objeto deste convênio.

Metas

1- Diminuir o nível de analfabetismo e aumentar a formação de presos no nível

fundamental e médio.

2- Diminuir o número de presos infectados com doenças infecto-contagiosas.

3- Aumentar o número dos postos de trabalho, seja através de terceiros ou laborterapia

interna.

4- Reduzir a reincidência criminal do homem encarcerado.

5- A unidade conveniada poderá propor novas metas, que serão negociadas com as

autoridades da Secretaria da Administração Penitenciária.

A APAC juntamente com o Estado, busca parcerias com entidades, uma delas foi com

as Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo

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(SEMESP), dentro desta parceria destaca-se o projeto PAI – Projeto de Alfabetização e

Inclusão, este projeto é destinado aos jovens e adultos.

O Projeto de Alfabetização e Inclusão (PAI) visa à interação das Universidades e seus

diversos serviços com a comunidade local, além de ter como objetivo o oferecimento da

alfabetização para jovens e adultos.

Este projeto desenvolve atividades de caráter inclusivo, porém visa resgatar a arte e

cultura, além de que seu enfoque total é a da reconstrução da auto-estima e cidadania do aluno

que. Sendo assim atarvés deste projeto o mesmo passa a dar continuidade a seus estudos e

assim pode se inserir no mercado de trabalho ou na sociedade, no caso daqueles que se

encontram privados de sua liberdade.

Bernardo, (2004, p.17) destaca que,

Mediante as parcerias firmadas com as instituições de ensino superior, o projeto tem como diretriz para as universidades, a formação e capacitação de universitários das Licenciaturas existentes como monitores alfabetizadores, bem como a manutenção e coordenação das salas formadas e seu acompanhamento, para a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo fica incumbência do fornecimento do material didático e a certificação de 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental.

Sendo assim, nota-se que na parceria existente, a universidade tem o intuito de

aprimorar e estruturar seus projetos de extensão acadêmica e comunitária, e procura atender

às necessidades e anseios da população local, formulando assim uma melhor capacitação aos

alunos universitários e para que o projeto em si obtenha um bom resultado no decorrer de seu

desenvolvimento sendo este na classe de alfabetização, deixando o estado incumbido apenas

da certificação e fornecimento de materiais para as instituições envolvidas no projeto.

Dentro deste projeto e parcerias encontramos também a FUNAP (Fundação de Amparo

ao Preso - “Professor Dr. Manoel Pedro Pimentel”), seus projetos se limitam a unidades

prisionais, onde se mantém em parceria com o Estado.

A FUNAP é um órgão que implanta projetos nas Unidades Prisionais, sendo estes

como, Implantação de Bibliotecas para incentivar a leitura, projeto CDI - (Centro de inclusão

Digital) Telecursos (tele-salas), materiais e equipamentos escolares, como cadeiras, livros e

outros; professores, monitores internos sendo estes reeducandos da própria unidade que

passaram por treinamento para serem monitores e aplicadores do projeto com remuneração e

direito a remição.

Este órgão é Estadual e trabalha em parceria com a Secretaria da Administração

Penitenciária do Estado de São Paulo, tendo sua uma atuação, de caráter social, assumindo

um posicionamento que busca evitar a reincidência dos egressos (ex-presidiários). Hoje, a

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FUNAP oferece formação profissional e trabalho remunerado aos presos, além de coordenar e

executar os Programas de Educação, Cultura, Esportes e Geração de Renda.

A FUNAP acredita que todos nascem com potenciais e apenas precisam de

oportunidades para desenvolvê-los. São as oportunidades educativas, culturais, esportivas e de

geração de renda que verdadeiramente cumprem essa tarefa, para a transformação humana de

jovens e adultos.

E, para promover a transformação humana, se faz necessário o desenvolvimento de

novos hábitos que é alcançado por meio do conhecimento, da habilidade e do desejo. O

conhecimento é o paradigma teórico, o que fazer e o porquê. A habilidade é o como fazer. E o

desejo é a motivação, o querer fazer. Na intersecção destes três atos é manifestado o novo

hábito e, enfim, a transformação humana.

Em seu projeto de educação na Funap, utiliza o PAI, nas classes de ALFA I e II, esta

subdivisão refere-se: a classe de Alfa I é formada por analfabetos e a classe do Alfa II, é

formada por pessoas que freqüentaram apenas o fundamental até a 4ª (quarta) série.

Nele, o aprender a conhecer apropriando-se dos próprios instrumentos de conhecimento

e colocando-os a serviço do bem comum, o aprender a fazer atuando produtivamente para

ingressar e permanecer no novo mundo do trabalho e o aprender a conviver com as diferenças

e com o meio em que vive, cultivando novas formas de participação social resultam no

aprender a ser a capacidade do indivíduo de ser ele mesmo e construir o seu projeto de vida.

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2. A EDUCAÇÃO CARCERÁRIA NO CENTRO DE

RESSOCIALIZAÇÃO DE BRAGANÇA PAULISTA

2.1 Uma experiência de educação carcerária

Sabe-se que a educação é um dos requisitos principais para que o homem possa ter

acesso ao conjunto de serviços que a sociedade disponibiliza.

Perante todo contexto já apresentado sobre a educação de jovens e adultos, pode-se

através deste trabalho relatar e ressaltar como é a educação carcerária no Centro de

Ressocialização de Bragança Paulista. O projeto de educação para presos mostra-se diante de

sua realidade, como uma chave ou como uma mola-mestra para a recuperação destes

indivíduos presos, sendo este analfabeto encarcerado, privado de sua liberdade, direitos como

cidadão e excluído da sociedade.

Nota-se que as iniciativas dentro das instituições carcerárias para que se firme uma

realidade de reabilitação e reinserção social é muito grande e as mesmas mostram que este

processo tem características trabalhosas que requer a ampliação e implantação de políticas

públicas e parcerias, tais como a FUNAP, que atua no Centro de Ressocialização de Bragança

Paulista, na área da Educação e Trabalho.

Contudo é necessário registrar que os dados que serão apresentados foram retirados das

páginas do Projeto DE EDUCAÇÃO DO SISTEMA PRISIONAL PAULISTA “TECENDO

A LIBERDADE”5, 2007.

A FUNAP - Fundação de Amparo ao Preso “Professor Dr. Manoel Pedro Pimentel“ foi

fundada em 22 de dezembro de 1976, por meio da Lei Estadual 1238, tendo seu Estatuto

aprovado pelo Decreto nº 10.235, com o objetivo de desenvolver no sistema penitenciário

paulista, práticas de atendimento social que interviessem no cotidiano penal dos sentenciados,

proporcionando-lhes atenção técnica nas esferas do trabalho e educação.

É uma fundação do Governo de Estado de São Paulo vinculada a SAP (Secretaria da

Administração Penitenciária), cujo qual atua no sistema prisional do estado, tendo como 5Projeto de Educação do Sistema Prisional Paulista – “Tecendo a Liberdade”, elaborado pela Associação de Leitura do Brasil (ALB), o mesmo pauta-se em uma proposta de organização de um modelo de escola com Alfabetização e Ensino fundamental com certificação no sistema prisional paulista, cabe ressaltar que este teve co-relação e colaboração da Diretoria de Atendimento e Promoção Humana (DIAPH), junto com a Fundação Prof. Dr. Manuel Pedro Pimentel (FUNAP).

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missão contribuir para inclusão social de pessoas presos e egressos do Estado de São Paulo,

desenvolvendo seus potenciais como indivíduos, cidadãos e profissionais.

Atualmente a FUNAP posiciona-se como uma das organizações mais importantes no

que se refere ao atendimento social da população encarcerada. Ela planeja, desenvolve e

avalia programas sociais para os presos e egressos das 141 penitenciárias do estado de São

Paulo.

Os programas da FUNAP são apoiados durante o cumprimento da pena nas seguintes

vertentes: Educação e Qualificação profissional; Cultura, Esporte e Lazer; Trabalho;

Assistência Jurídica.

A FUNAP promove a articulação entre as instituições pública, privada e acadêmica,

organizações não governamentais e comunidade, alinhando um planejamento singular para

sedimentar ações comuns, a fim de diminuir a desigualdade e a reincidência do egresso.

Tem-se uma total atenção com a educação escolar e cidadã da pessoa presa, pois sempre

esteve presente em suas deliberações no que se refere à organização e funcionamento, que

objetivamente os programas de formação profissional, cursos livres de arte e artesanato entre

outros, cursos / programas de alfabetização e atividades preparatórias para certificação

relativa ao CESU (Centro de Exames Supletivos).

Sabe-se que recentemente, por parte do movimento mais geral da sociedade de

constituir programas específicos de escolaridade para trabalhadores adultos é que se tem

realizado programas de escolarização propriamente dito, organizados sob princípios

formativos mais amplos em função dos públicos específicos considerados em suas demandas

e necessidades. Vendo isto é que se construiu uma nova proposta para a educação no sistema

prisional paulista, esta proposta teve inicialmente o processo de formação continuada,

envolvendo todos responsáveis, sendo esses, o corpo docente e os supervisores, com o

objetivo de multiplicar a formação humana e pedagógica, no interior das unidades prisionais,

preparando todos os educadores para intervenções metodológicas unificadas e integradas

dentro da unidade prisional.

No desenvolvimento e exercício do projeto de educação proposto, se tem total apoio da

Secretaria Estadual de Educação - EJA, Associação de Leitura do Brasil - ALB e Instituto

Paulo Freire - IPF, instituições acadêmicas estaduais, além da participação de especialistas

das diferentes áreas curriculares com experiência em Educação de Jovens e Adultos –EJA

num trabalho de ação pedagógica sistematizada, reflexiva, contínua e permanente, tendo

como foco a central a especificidade do educando preso, contemplando todos os jovens e

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adultos que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental em idade

própria.

Prevê um percurso formativo que possibilita o domínio do funcionamento da leitura, da

escrita, do cálculo e dos conhecimentos por estes veiculados; o desenvolvimento de

habilidades cognitivas, da sociabilidade, da vivência de atitudes e valores; a compreensão do

ambiente natural e social, considerando o eixo trabalho e educação oferecendo ao educando

preso, a escolarização em nível de ensino fundamental, obedecendo e respeitando as

Diretrizes Curriculares Nacionais para a EJA, estabelecidas pela Resolução CEB/CNE 01/00,

bem como as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental.

A organização dos conteúdos atende aos dispositivos legais (artigo 26º, § 1° ao § 5° e

artigo 27º, itens I ao IV, da LDB), considera as características do educando preso, as suas

experiências vividas, seus interesses, sua condição de vida e trabalho, garantindo uma base

comum nacional e uma parte diversificada, as quais são articuladas e integradas,

estabelecendo a interação entre a educação fundamental e a vida cidadã.

Busca uma formação educacional que promova a autonomia e a emancipação do

educando preso como sujeito, preparando-o para o exercício de sua cidadania no aqui e agora,

contribuindo para a vida em liberdade.

Tem-se como Objetivo geral assegurar aos jovens e adultos presos do sistema prisional

paulista o acesso à aquisição de conhecimentos, atitudes e valores em nível de ensino

fundamental, atendendo aos dispositivos legais do MEC.

E como objetivos específicos, primeiramente considerar o jovem e adulto preso, seus

interesses, seus ritmos, seus saberes acumulados, suas condições de vida, de trabalho e de

cultura organizando um currículo apropriado, na perspectiva interdisciplinar; possibilitar a

oferta, além das áreas de conhecimento obrigatórias da Base Nacional Comum, atividades

complementares e de outros estudos que favoreçam a valorização, a construção do

conhecimento e a participação coletiva; possibilitar ao educando preso o acesso à educação

continuada durante o período de cumprimento de pena, apesar da sua transição e

deslocamentos no sistema prisional; possibilitar ao educando preso o reconhecimento social

através da certificação do ensino fundamental, após a aquisição dos conhecimentos,

habilidades e freqüência exigidas pela legislação.

A FUNAP administra a educação no Centro de Ressocialização de Bragança Paulista,

através da contratação de uma monitora orientadora e na contratação de presos para atuar nas

salas de aula. Sua proposta é a da educação não-formal, ou seja, a idéia de educador popular,

de acordo com a proposta de Paulo Freire.

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Além de oferecer uma educação pautada na realidade adulta e articulada com as

atividades culturais e laborais, esta mesma proposta implica na possibilidade, para o grupo de

presos, de ser não apenas um beneficiário de direito, mas também protagonistas do processo

pedagógico, pelo investimento na figura do “monitor-preso”.

O monitor preso poderá assumir a direção da classe no ensino fundamental, se tiver

escolaridade - nível superior com licenciatura - e como apoio pedagógico no ensino

fundamental e médio, se tiver educação básica completa, sob a responsabilidade do professor

responsável. De qualquer forma, atua como mediador do processo ensino e aprendizagem,

como líder da classe no qual está inserido, valorizando a educação no interior da unidade

prisional.

Caracterizando esta atividade educativa como trabalho, o monitor-preso, além de

aprender , pois sabe-se que aprendemos ensinando, tem o benefício de remição penal pelo

trabalho e um salário mínimo de renda.

Existe uma parceira com o Instituto Paulo Freire, este instituto administra indiretamente

as classes de Alfa I, ou seja, as classes de alfabetização.

Rusche (1995), ressalta que com os programas de educação direcionados para adultos

presos devem apresentar objetivos tais como: a) criar condições para o desenvolvimento e

aprendizagem dos alunos de forma participativa e crítica; b) desenvolver as potencialidades

dos alunos, preparando-os para o exercício pleno da cidadania; c) estimular e conscientizar os

alunos para a importância dos estudos, buscando alternativas atrativas para a participação.

No entanto, além da educação formal que temos nas escolas, pode-se dizer que ela trata

apenas de conteúdos pré-estabelecidos em seus modelos culturais, já a educação não-formal,

visa trabalhar e desenvolver a diversidade, sendo uma educação flexível, respeitando as

diferenças e as capacidades de cada indivíduo.

Tem-se uma visão da educação não-formal, em relação ao educador ou professor, pois

neste caso a proposta de educador vem a ser a idéia de um educador popular, que multiplica

os conhecimentos, buscando apontar novos sentidos no ensino-aprendizagem.

A educação-não formal em sua forma de desenvolvimento envolve as camadas sociais

menos favorecidas e seus conteúdos se ajustam de acordo com cada individuo e sua realidade.

Este modelo de educação se dá através de projetos educativos, realizados por meio de

Ong’s ou instituições privadas, e a mesma visa atender as demandas da L.D.B, no que diz

respeito a democratização e socialização de todos.

Deleuze (1992) coloca que há um saber sistemático, contínuo e este é um saber

institucional, ou seja, que ocorre dentro das escolas, no entanto, o autor ressalta que existe um

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saber não institucional, que é a educação-não formal, onde todos tem acesso a todos os tipos

de saberes.

De acordo com Píton6 (2005, p.5):

Os campos da Educação-Não Formal podem ser agrupados nos seguinte objetivos: a) alfabetizar ou transmitir conhecimentos abrangendo a área que se convencionou chamar de educação popular (anos 70/80); b) abrange a educação gerada no processo de participação social, em ações coletivas não voltadas para os conteúdos formais.

Sendo assim, a educação não-formal acontece em torno de políticas ou propostas de

inclusão social, ou voltada à melhoria da qualidade de vida da população, ou seja, a educação

não-formal se dá principalmente no contexto educativo não escolar ou escolar mais não

formal.

Concluí-se então que a educação não-formal em suas práticas de educação popular

também constituem-se em mecanismos de democratização, em que se refletem os valores de

solidariedade e de reciprocidade e novas formas alternativas de produção e de consumo,

sobretudo as práticas de educação popular comunitária, muitas delas voluntárias.

A seguir está relacionada uma experiência de educação não-formal, que é desenvolvida

no Centro de Ressocialização de Bragança Paulista. Esta experiência se deu por meio do

trabalho desenvolvido pela pesquisadora, como monitora de orientação pedagógica na

instituição citada acima.

No que diz respeito à educação não-formal desenvolve-se no Centro de Ressocialização

em parceria com a FUNAP (Fundação de Amparo ao Preso) e o Instituto Paulo Freire, a

proposta de educador popular, ou seja, o próprio preso da aula para os demais.

Tem-se observado que através dos módulos desenvolvidos para jovens e adultos presos,

contemplam menos conteúdos de seu cotidiano e realidade e o mesmo tem obtido bons

resultados e aceitação por todos os presos que estão inseridos na sala de aula de alfabetização

ou supletivo de 5ª á 8ª série.

Temos além dos educadores um educador de Posto Cultural e o mesmo fica incumbido

de elaborar projetos de acordo com o módulo desenvolvido para estes serem desenvolvidos na

unidade prisional, integrando todos os presos, com isto até os presos que já concluíram os

estudos ou que não freqüentam as aulas no Centro de Ressocialização, acabam se envolvendo

com os projetos educativos.

6 Doutora em Educação pela UNICAMP/Campinas/SP; Professora do Centro Universitário Diocesano do Sudoeste do Paraná – UNICS.

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Sendo assim pode-se dizer que esta proposta de educação não-formal, que é a de

educação carcerária, traz para ao indivíduo preso à reconstrução da sua auto-estima,

resgatando suas condições humanas para ser reinserido na sociedade da qual foi excluído.

Observa-se que a educação para muitos dos presos, é uma forma das quais eles visam

melhorar de vida e reinserção na sociedade.

É necessário que o tempo pedagógico e sua forma de organização, proponha uma

reorganização da escola, através de um redimensionamento de seus tempos e seus espaços.

Sendo assim, com a implantação de uma política pública, que se dará através do

desenvolvimento do projeto PAI (Projeto de Alfabetização e Inclusão), observa-se que á

necessidade é grande, pois sua demanda de alunos, por se tratar de uma Instituição de

ressocialização é grande nas salas de aulas e este projeto é acompanhado e avaliado

diariamente através de instrumentos elaborados pelos próprios monitores educadores que nos

dá uma proposta de educação não-formal para jovens e adultos em um contexto diferenciado,

ou seja, onde os alunos encontram-se em situação de cárcere.

Semanalmente são realizadas na instituição reuniões de formação dos monitores

educadores, e a mesma é desenvolvida através de estratégias e trabalhos coerentes com o

referencial teórico que estrutura o trabalho pedagógico, ou seja, com os materiais que se

utiliza para elaboração das aulas, sendo estes materiais, os módulos que contém o conteúdo a

ser trabalho em forma de projeto com duração de quinze dias, e este foram elaborados para a

educação de jovens e adultos presos, de acordo com a sua realidade, que é a do cárcere,

juntamente com estes utiliza-se também os três volumes a coleção do Livro PAI alunos e

educador, a coleção de livros do Ennceja7 para alunos, todos os volumes da telesala e os

cadernos do Eja, tanto para aluno como pra o professor. Essas reuniões duram de 2 a 4 horas e

alem deste material utiliza-se também materiais dísticos para a formação dos educadores

como professores e materiais que complementam todos os conteúdos a serem aplicados. Cada

monitor educador prepara as aulas da semana de acordo com as especificidades e

necessidades, além de confeccionarem matérias de apoio para as aulas.

Nas reuniões de formação também se discuti as necessidades e dificuldades que cada

monitor encontra com a sua turma, sendo assim através deste levantamento o monitor

educador do posto cultural elabora projetos que auxiliem num desenvolvimento pleno das

aulas, tornando-as mais prazerosas e ricas. 7 O Encceja é um Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos, este exame visa avaliar e aferir as competências e habilidades de jovens e adultos, residentes no Brasil e no exterior, que estão concluindo o Ensino Fundamental e Médio, porém o mesmos não é obrigatório sendo de caráter opcional.

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Todos os monitores e o monitor alfabetizador, trabalham de forma geral e contextual os

conteúdos programados para semana e levantam a partir de então as falas dos alunos que se

tornam os temas geradores dos conteúdos nos demais dias da semana.

A partir dos Temas Geradores são trabalhados os conteúdos que formam os eixos

básicos do 1º e 2º segmento da EJA do Ensino Fundamental, de acordo com a Proposta

Curricular do MEC (Ministério da Educação e Cultura), essa proposta possui um seguimento

devido à necessidade dos educandos de certificação dos estudos, neste sentido, o MEC Ação

Educativa, 1º segmento da Eja, (2005, p.14 e 15) apresenta,

As orientações curriculares aqui apresentadas referem-se à alfabetização e pós-alfabetização de jovens e adultos, cujo conteúdo corresponde às quatro primeiras séries do 1º grau. Elas não constituem propriamente um currículo, muito menos um programa pronto para ser executado. Trata-se de um subsídio para a formulação de currículos e planos de ensino, que devem ser desenvolvidos pelos educadores de acordo com as necessidades e objetivos específicos de seus programas. A educação de jovens e adultos correspondente a esse nível de ensino caracteriza-se não só pela diversidade do público que atende e dos contextos em que se realiza, como pela variedade dos modelos de organização dos programas, mais ou menos formais, mais ou menos extensivos. A legislação educacional brasileira é bastante aberta quanto à carga horária, à duração e aos componentes curriculares desses cursos. Considerando positiva essa flexibilidade, optou-se por uma proposta curricular que avança no detalhamento de conteúdos e objetivos educativos, mas que permite uma variedade grande de combinações, ênfases, supressões, complementos e formas de concretização.

Uma proposta curricular deve ser um subsídio para educadores desenvolverem planos

de ensino adequados aos seus contextos.

Têm-se no Centro de Ressocialização, junto com o Fórum local, um projeto de remição

por educação, ou seja, a cada nove dias de estudos com aproveitamento com média 6 (seis) o

reeducando preso, ganha um dia a menos na pena a ser cumprida em regime fechado, porém

esse é um projeto que esta em andamento, sendo apenas reconhecido e aprovado pelo juiz de

execuções desta comarca, pois existe na Lei de Execuções Penais apenas o projeto já

aprovado de remição por trabalho, então cabe a cada fórum de execuções penais decidirem se

aprovam ou não a remição por educação em seus comarcas.

Para que os reeducandos presos tenham acesso à remição, realiza-se na instituição um

processo de avaliação que é feita no cotidiano a partir da avaliação diagnóstica, onde são

considerados todo e qualquer tipo de avanço do aluno preso, ou seja, verifica-se sua visão de

mundo e os de conteúdo que adquire, para fins de remição e certificação que se dá através dos

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exames do Cesu (Exame do Supletivo) e do Enceja (Exame de certificação da educação de

jovens e adultos).

A educação carcerária na instituição em foco indica que é nas aulas que o reeducandos

tecem seus caminhos para a cidadania plena.

Todavia, essas pessoas encarceradas recusavam e resistiam a aceitar a educação em

suas vidas, porém depois terem acesso a ela, pode-se afirmar que os mesmos a utilizam como

uma alternativa para melhorar suas condições de vida e alcançarem a liberdade tão sonhada.

Cabe ressaltar que sempre é considerado que a transmissão de conteúdos estruturados não seja

fora do contexto social do reeducando preso, para que o mesmo não seja uma invasão cultural

já que os conteúdos não emergem do saber popular.

De acordo com Freire, (1983, p. 27)

Conhecer não é ato através do qual um sujeito transformado em objeto recebe dócil e passivamente os conteúdos que outro lhe dá ou lhe impõe. O conhecimento pelo contrário, exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo. Requer sua ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca constante, implica em invenção e reinvenção.

É através da educação de jovens e adultos que se pode observar que existe um campo de

práticas e reflexão, permitindo que se possa usar e aproveitado todo esse campo como um

terreno fértil para a inovação prática e teórica, democratizando e dando total acesso aos

reeducandos ao conhecimento.

Vendo isto se reconhece que é necessário promover inovações na Educação não-formal,

principalmente no que se refere da Educação de Jovens e Adultos, no qual o objetivo seria o

de manter relações entre o fazer político e o fazer pedagógico, fazendo com que a toda ação

educacional consiga assumir um caráter transformador, conseguindo assim suprir as

necessidades da população que se encontrada e interligando a ela a educação da realidade em

parceria com a sociedade.

Por ora, a partir disso como se pode pensar no papel do educador de hoje, ou seja, o que

é ser professor perante toda essa realidade desta população que se encontra encarcerada. O

que se pode dizer, é que ser professor popular hoje é viver intensamente o seu tempo,

conviver; é ter consciência e sensibilidade.

Fazendo-se necessário que em hipótese alguma pensar na não existência de um

professor ou educador popular, pois não há um futuro para a humanidade sem educadores,

pois os educadores não só transformam a informação em conhecimento e em consciência

crítica, mas também formam pessoas, em uma visão emancipadora, fazendo com que flua em

seus alunos o saber e não apenas o dado, a informação e o puro conhecimento teórico.

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Só desta forma se consegue nesta realidade vivencia que os reeducandos presos

consigam construir um outro sentido para a vida, mudando também além da sua visão de

vidas, os olhares das pessoas e da humanidade.

Esse trabalho se dá em conjunto, pois todas pessoas buscam juntas, um mundo mais

justo, mas produtivo e mais saudável. A partir desta visão que se pode dizer que a figura do

educador é imprescindível, na vida de todo e qualquer ser humano.

O Projeto Político Pedagógico de âmbito e intervenção estadual com aplicabilidade no

sistema prisional paulista para os educandos em cumprimento de pena. Considera a realidade

dos educandos e as necessidades básicas de aprendizagem dos educandos presos, as atuais

demandas da sociedade, do mundo do trabalho, bem como as aprendizagens necessárias para

a formação cidadão.

Têm como espaço e tempo pedagógicos de aprendizagem, além das aulas regulares, os

de trabalho e de participação social e cultural. Isto implica em reconhecer e validar

experiências educativas, conhecimentos e habilidades desenvolvidas pelos educandos presos

em outros espaços formativos, que não os escolares.

A ação pedagógica para ser coerente com a concepção de educação que a sustenta tem

como ponto de partida a experiência dos educandos em relação aos saberes historicamente

acumulados pela humanidade no processo de construção do conhecimento, numa abordagem

dialógica.

Além da Constituição Federal respeita as orientações curriculares da Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96), a resolução CNE/CEB nº 2/98, a resolução

CNE/CEB nº 1/2000 da Educação de Jovens e Adultos, parecer CNE/CEB nº 11/00 que trata

das diretrizes Nacionais para Educação de Jovens e Adultos, Deliberação CEE nº 9/00 e

Indicação CEE nº 11/00.

O currículo do curso é constituído de, 820 horas distribuídas em 24 módulos de 30 ou

40 horas cada, abrangendo as disciplinas que compõem a base nacional comum do Ensino

Fundamental, atividades complementares totalizando 600 horas incluindo uma língua

estrangeira moderna (como por exemplo, inglês, espanhol), atividades laborais, atividades

culturais e de formação humana e cursos complementares abrangendo a parte diversificada do

currículo do ensino fundamental.

Experiências de aprendizagem ricas em situações de participação para que os educandos

presos possam organizar os próprios saberes e estabelecer relações com os novos

conhecimentos.

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Metodologia dialógica que permita ao educando preso a gestão do próprio processo de

aprendizagem, em consonância com os objetivos da Educação de Jovens e Adultos –EJA.

Todas as atividades são presenciais, realizadas no interior do presídio com 2 horas/aula

por dia, sob a responsabilidade e orientação do professor responsável. O tempo de realização

do curso completo é de 24 meses, se realizado sem interrupção, contemplando as três áreas e

disciplinas que as compõem, a saber:

1. Linguagens, códigos e suas tecnologias (Português, Inglês e Artes);

2. Ciências humanas e suas tecnologias (História e Geografia);

3. Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias (Ciências Físicas e Biológicas e

Matemática).

Completam a carga horária, 600 horas denominadas atividades complementares, as

quais são constituídas pelo ensino de língua estrangeira moderna (inglês, espanhol), por

cursos de formação geral, atividades laborais e atividades culturais e de formação humana.

O conjunto de todas essas atividades na composição do currículo visa o reconhecimento

e validação de experiências educativas, conhecimentos e habilidades desenvolvidas pelos

educandos, a elaboração de projetos de vida e a inclusão cidadã de homens e mulheres que

passam pelo sistema prisional.

A construção do currículo está pautada no parágrafo único do artigo 5º da Resolução

CNE/CEB nº 1/00,

[...] a identidade própria da Educação de Jovens e Adultos considerará as situações, os perfis dos estudantes, as faixas etárias e se pautará pelos princípios de equidade, diferença e proporcionalidade na apropriação e contextualização das diretrizes curriculares nacionais e na proposição de um modelo pedagógico próprio.

2.1.1 O Sistema modular; avaliação e certificação

O programa é composto por 24 módulos, e sua estrutura curricular se organiza em 5

módulos de História, 4 módulos de Geografia, 5 módulos de Ciências e Saúde, 5 módulos de

Matemática, 5 módulos de Língua Portuguesa totalizando assim os 24 módulos, como já

mencionado.

Cada módulo trata de um tema específico da área de conhecimento, definido em função

das necessidades do público alvo. Ao longo do desenvolvimento de todos os módulos, que são

interdisciplinares, se trabalha com a leitura e escrita, a matemática e geometria, atendendo a

especificidade de cada disciplina.

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As atividades pedagógicas se organizam em módulos de 30 e/ou 40 horas cada,

realizadas respectivamente em 15 ou 20 dias letivos e estruturadas por áreas de conhecimento,

respeitando a dinâmica do Centro de Ressocialização de Bragança Paulista, no que se refere,

ao tempo e o ritmo de cada educando.

Cada módulo se organiza numa perspectiva interdisciplinar, articulam-se em torno de

grandes conteúdos temáticos, que demandam para sua compreensão, de conhecimentos

variados. O desenvolvimento prático do trabalho em torno de um conteúdo temático

incorpora, na medida do necessário e de forma não linear a contribuição das diversas

disciplinas, conforme os referenciais metodológicos que são utilizados, ou seja, os materiais

de apoio, integrando no desenvolvimento de cada um dos módulos a vivência de valores e

atitudes, tais como respeito, solidariedade, cooperação, tolerância.

Cada módulo constitui uma totalidade independente, de modo a permitir que o

educando possa iniciar seu percurso formativo a qualquer momento, sem necessariamente ter

freqüentado os módulos anteriores, tendo como princípio a situação de instabilidade de tempo

e lugar rotatividade dos educandos presos, o mesmo pode ingressar no programa educativo no

início de cada módulo.

Ao final de cada módulo o educando preso receberá uma declaração de conclusão do

respectivo módulo, desde que avaliado e cumprido a freqüência mínima exigida. E mediante a

união e apresentação das 24 declarações, avaliação processual e o cumprimento das atividades

diversificadas o educando preso receberá a certificação do ensino fundamental.

Segue no quadro 1, a caracterização dos módulos, da carga horária e da estrutura

curricular.

Quadro 1 - Carga Horária da Estrutura Curricular Aulas regulares

Unidades Módulos Carga Horária Total

Geografia 4 (30 horas cada) 120 horas

Português 5 (40 horas cada) 200 horas

Matemática 5 (40 horas cada) 200 horas

História 5 (30 horas cada) 150 horas

Ciências 5 (30 horas cada) 150 horas

TOTAL 24 Módulos 820 horas

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No desenvolvimento de cada módulo inclui-se conteúdos apropriados à educação de

jovens e adultos conforme os programas oficiais do estado e a proposta pedagógica da

FUNAP, atividades e exercícios. O educando recebe material didático e pedagógico. Também

há material de apoio à ação do educador, constituído de fundamentação teórica dos conteúdos

/ tema e sugestões de atividades.

Em função da especificidade de cada realidade local e dos reeducandos, a própria

equipe pedagógica, utiliza as disponibilidades locais, organizando e elaborando materiais.

Os materiais de apoio pedagógico produzidos, ainda que tragam questões teóricas e

apontem caminhos, não podem, de forma alguma ser considerados o centro da ação

pedagógica, pois os mesmo são produtos culturais, históricos e políticos, com que se interage,

com que se dialoga.

Contudo, utiliza-se como instrumento para se avaliar os conhecimentos adquiridos nas

aulas com os módulos, para que haja um acompanhamento do processo de ensino

aprendizagem o método que viabiliza o diagnostico, qualitativo, cumulativo, contínuo e

emancipador.

Avalia-se todo o contexto, desde a construção do conhecimento individual e grupal até

as finalidades como a da prática pedagógica, a qual visa-se recuperar o que foi aprendido e

projetar novas aprendizagens, relatos de práticas pedagógicas e novas questões para

discussão.

Este processo de avaliação é permanente, envolve todos participantes constantemente

num processo de reflexão – ação - reflexão. Para auxiliar na avaliação do módulo

desenvolvido, tem-se ficha de acompanhamento onde se registra as atividades desenvolvidas,

avaliadas e discutidas com o educando preso, bem como a freqüência de cada um.

Deve-se lembrar que todo esse processo avaliatório é acompanhado e supervisionado

pelo professor responsável e supervisor da FUNAP.

Utiliza-se como instrumento avaliatório as seguintes atividades que envolvam a todos,

tanto no coletivo, quanto individual. Utiliza-se o método processual e individual x grupal,

para atender tal proposta segue algumas formas deste processo, como: os registros coletivos e

individuais do trabalho realizado; pesquisas; planos e relatórios de filmes, leituras entre

outros; produções de variadas formas de expressão, bem como redações; observação

continuada de situações do processo educativo dos alunos e auto-avaliação.

Além da avaliação existe a certificação desses módulos, o que se entende sobre esta

certificação, é que a mesma é de suma importância, pois o reconhecimento deste, transparece

o do cidadão perante a sociedade como valorização social, amplitude das oportunidades,

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promove a diminuição da desigualdade social e melhora o atendimento daquele que busca a

educação, fora da unidade prisional, já em liberdade.

No entanto para que haja a certificação do Ensino Fundamental, o educando deve ter

completado os 24 módulos, totalizando 820 horas, os mesmo devem ter sido distribuídos de

acordo com o quadro curricular 1, e ter as 600 horas de atividades complementares totalizadas

e devidamente comprovadas e avaliadas. Tudo de acordo com os critérios estabelecidos e

propostos pelo projeto de educação, dentre todas essas exigências o reeducando deve ter

freqüência igual ou superior a 75% em cada um dos módulos e ter aproveitamento

Satisfatório.

O projeto de educação que se desenvolve no Centro de Ressocialização de Bragança

Paulista objetiva oferecer escolarização e atendimento ao direito à educação da pessoa presa

no sistema prisional paulista podendo ser implementado como política pública, que requer um

melhor aprofundamento.

2.1.2 As atividades diversificadas

As atividades diversificadas são as atividades existentes no cotidiano prisional. Os

presos exercem atividades nas áreas de trabalho, esporte, cultura e lazer, promovidas pelas

equipes da unidade prisional e pela FUNAP, pelos próprios presos e pela comunidade, ou

seja, igrejas, associações, ONG’s, etc.

As atividades complementares compreendem a parte diversificada do currículo do

ensino fundamental no total de 600 horas. Toda e qualquer atividade complementar para ser

creditada deve ser de conhecimento prévio do professor responsável e ser acompanhada de

supervisão por pessoal competente da unidade prisional e FUNAP e imprescindível relatório

individual produzido pelo educando. E quando for o caso deve-se apresentar declaração,

atestado ou certificado correspondente as atividades desenvolvidas. Considerando as ações

desenvolvidas no presídio, são atividades complementares, as atividades laborterápicas,

atividades culturais e de formação humana e cursos complementares, tais como: língua

estrangeira, informática, artesanato, teatro, etc.

Para que uma atividade venha a ser considerada como um curso, ela deve ter um

responsável que a organiza com a garantia de freqüência mínima de 75%.

Essas atividades ao serem integradas ao programa de educação possibilitam a

construção de uma relação mais integral, potencializada e sistematizada, provendo a

valorização do conhecimento do educando preso, a formação cidadã e o reconhecimento do

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processo de aprendizagem contínua. Estas atividades serão avaliadas através de relatórios

analisados junto ao educando preso.

2.1.3 As aulas, os docentes presos e a monitora orientadora

Pode-se caracterizar as aulas como um momento no qual se adquiri novos conhecimento

e saberes, e dentro da educação desenvolvida no Centro de Ressocialização é de incumbência

do monitor preso ser o articulador e representante educacional do grupo que está inserido.

Sendo assim nas aulas ele é a pessoa que transmite a educação para a população carcerária,

dando sentido aos demais para valorizar a educação e a oportunidade que estão tendo. A partir

desta visão observa-se que esta formação continuada oferece e proporciona uma brecha ou

uma janela para a liberdade visando sua reinserção social.

Em relação aos monitores presos, nota-se que a política educativa desenvolvida para e

pelos presos demonstra um trajeto similar aos movimentos populares de alfabetização, pois

durante todo o percurso da EJA, o que tem uma forte presença é a composição docente por

leigos, quando pessoas da própria comunidade atuam como educadores.

Sendo assim esta prática educativa pode ser entendida pelos oprimidos e excluídos,

como uma forma de colaboração e compreensão com os demais.

Para a escolha dos monitores, existe uma pré-seleção e entrevista, momento em que os

mesmos respondem algumas perguntas referentes à educação em sua vida, colaboração,

responsabilidade e em seguida na maioria das vezes realiza-se uma dinâmica selecionada pela

docente responsável.

Já para a monitora orientadora, fica a incumbência de fortalecer o grupo-escola,

estabelecendo e liderando-o na formação, na unidade escolar, além disso, utilizar as horas de

planejamento para elaborar atividade e acompanhar as atividades nas salas de aula.

As formações são continuas, sendo que as mesmas devem atender às necessidades de

todos os monitores presos, visando uma formação pedagógica e humana, caracterizando a

essência e a filosofia da educação, na base do conhecimento, da autonomia, reinserção social,

de valores, atitudes e aprendizagem contínua para que assim se garanta uma educação de

acordo com a realidade na qual se esta inserido, na unidade prisional. Vendo isto, a monitora

orientadora deve compreender as transformações da sociedade e o desafio da construção de

uma proposta de educação que integre dimensões políticas socioeconômicas e socioculturais.

É de extrema importância que realize todas as formações, sendo de competência da

monitora orientadora, participar sempre que solicitada e integralmente dos períodos de aula na

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unidade prisional, no caso, no Centro de Ressocialização de Bragança Paulista, planejar e

preparar as aulas em conjunto com os monitores presos, pesquisar e elaborar material didático

complementar, avaliar e registrar os dados dos processos educativos dos alunos, acompanhar

a realização e comprovação (relatórios, declarações, etc.) das participações dos educandos

presos nas atividades complementares, formação continuada para os Educadores, organização

e sistematização dos dados do atendimento educacionais do Centro de Ressocialização de

Bragança Paulista.

Já para os monitores presos fica a responsabilidade de ministrar aulas no de Bragança

Paulista, planejar as aulas com o suporte da monitora orientadora, para colaborar na

organização e sistematização dos dados do atendimento educacional do Centro de

Ressocialização, participar da formação continuada que lhe é oferecida, além disso, os

mesmos devem, registrar todas as atividades e pautá-las em seus relatórios mensais.

2.1.4 Estrutura e funcionamento escolar

Para que a escola prisional tenha um bom desenvolvimento ela tem que ser estruturada

de acordo com a realidade da unidade, sendo assim o Centro de Ressocialização de Bragança

Paulista conta com a composição da turma do Alfa I, que se refere aos analfabetos com 39

alunos, a turma do Alfa II, que se refere a pessoas que não concluíram o Ensino Fundamental

de 1ª a 4ª série, tem 39 alunos, o Supletivo de 5ª a 8ª série do Ensino fundamental conta com

uma turma totalizando 42 alunos e o Ensino Médio do 1º ao 3º ano com um total de 31 alunos,

todos em classes organizados em grupo de trabalho sob coordenação e supervisão do

professor responsável com aulas ministradas pelos monitores presos.

As aulas têm duração de 2 horas diárias por turma, de 2a a 6a feira.

Ao incluir um aluno na sala de aula realiza-se com o candidato a estudar uma entrevista

para verificar o seu nível de escolaridade.

Em seguida abre-se um prontuário penitenciário escolar, onde constará toda sua vida

escolar dentro do Centro de Ressocialização de Bragança Paulista, se houver transferência

para outra unidade prisional, este prontuário é encaminhado para o local onde o mesmo aluno

foi inserido.

Consta a seguir no quadro 2, o horário das aulas por turma e seus monitores presos.

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Quadro 2 – Horário das aulas e monitores presos

Este horário é flexível a mudanças, pois o mesmo é determinado pela Diretoria de

Segurança e Disciplina do Centro de Ressocialização de Bragança Paulista.

2.2 Educação Carcerária como Ato de Inclusão

Inclusão não se trata apenas em incluir algo ou alguém em um ambiente, seja esse de

trabalho, estudo, etc. O termo incluir trata-se propriamente de apoiar, incentivar, conduzir,

uma pessoa para a vida em sociedade.

Camargo 2005, (apud Gadotti, 2000, p. 92). “A participação popular é um processo

efetivo de educação de adultos, pois fortalece a consciência da cidadania da população, para

que ela assuma o seu papel de sujeito da transformação da cidade” Baseando-se no que diz

Gadotti, vê-se que é necessário, a compreensão da população, quanto ao ato ou processo de

inclusão do preso através da Educação carcerária, mostrando aí a necessidade da participação

da sociedade civil para a democratização deste ato.

Portanto quando há uma reflexão sobre a importância da Educação e transformação

social é que compreendemos as dificuldades que acabam por implicar na questão de uma

implantação de políticas públicas sobre a Educação Carcerária ou educação no cárcere, porém

neste decorrente ato de inclusão nós nos esbarramos na famosa desigualdade social, que acaba

afetando crucialmente a educação, seja ela qual for adotada.

Segundo Santos (2005, p.2)

A educação no sistema penitenciário é iniciada a partir da década de 1950. Até o principio do Século XIX, a prisão era utilizada unicamente como um local de contenção de pessoas – uma detenção. Não havia proposta de requalificar os presos. Esta proposta veio a surgir somente quando se desenvolveu dentro das prisões os programas de tratamento. Antes disso, não havia qualquer forma de trabalho, ensino religioso ou laico.

Turma Nº alunos Monitor preso Horário

Alfabetização –ALFA I 39 Monitor 1 15:30 as 17:30 h

Alfabetização –ALFA II 39 Monitor 1 19:30 as 21:30 h

Supletivo de 5ª a 8ª série E.F. 42 Monitor 2 15:30 as 17:30 h

Supletivo de 1ª a 3ª ano E.M. 31 Monitor 2 19:30 as 21:30 h

Total de alunos 151 Total de h/a semanais 10 horas aulas semanais

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A partir dessa afirmativa ressalta-se as idéias de Santos, sobre os primordis da prisão,

pode-se notar uma total mudança da visão sobre a prisão que visava apenas punir, com a de

agora que é a de ressocializar.

Para Foucault (1987, p.197) a prisão é um “aparelho para transformar os indivíduos”,

vendo desta forma, como a de um aparelho transformador, é que se deve justamente enquanto

possível transformação técnica dos indivíduos, que aqui vamos olhar o indivíduo encarcerado,

pois é nesse propósito do sistema prisional que se pode observar onde reside aquilo que

consideramos como construção da identidade, ou seja, do Eu.

Pode-se afirmar que a criminalidade está intimamente ligada à baixa escolaridade e

ambas a questão socioeconômica, sendo assim, é necessário que sejam desenvolvidos dentro

das prisões projetos educacionais que trabalhe para a conscientização dos reeducandos,

levando-os a perceber a realidade.

Dentro do sistema penitenciário a educação necessita que se preocupe com o

desenvolvimento da capacidade crítica e criadora do reeducando encarcerado, e que no

decorrer do processo de escolarização, o mesmo seja capaz de realizar suas escolhas e mostrar

a importância dessas escolhas para a sua vida e conseqüentemente a do seu grupo social.

Mas ao se pensar na Educação como um ato de inclusão, pode-se dizer que devem ser

adotadas medidas que a torne real, efetiva e transformadora, perante a sociedade, e até mesmo

da elite privilegiada, por ter possibilidades de atuar como bem quer na sociedade civil. Já os

jovens e adultos encarcerados estão imersos em um “sub-mundo”, longe do social e do

cultural, por isso quando trago a tona que se deve trabalhar com jovens e adultos mais velhos,

uma perspectiva sociocultural, acabamos por fazer presente na vida deste cidadão preso à

essência da educação e mostramos a ele os seus benefícios, deixando claro que a partir do

momento em que ele se ver em liberdade, ele enxergue que, o que ele construiu e assimilou

dentro da escola prisional, intramuros, pode auxiliá-lo a retornar a sociedade com dignidade e

vendo que a educação escolar que ele assimilou, mesmo, por vezes resistindo a ela

propriamente dita, é algo que ninguém vai poder retirar de si, nem o poder judiciário, cidadão

civil, etc, pois não se tira o conhecimento de nenhuma pessoa.

Portanto, as situações de ensino-aprendizagem em sala de aula não se resumem apenas

em aprender para, ou aprender algo, simplesmente, todos devem tomar gosto por ambas

situações, a de educador e educando. Sendo assim a pessoa encarcerada, a partir de sua

convivência com outros no ambiente escolar ali lhe proporcionado, revela as diferentes

situações, em suas histórias de vida e no desejo de continuar a conviver no grupo-escola até a

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sua liberdade, apontando para o verdadeiro funcionalismo da educação permanente, na vida

de qualquer pessoa.

A educação em seu ato de construção na vida de uma pessoa, por si só é uma base de

inclusão, ela representa uma diversidade e expressa suas potencialidades, que visam a

melhoria da qualidade dos sistemas de ensino.

Segundo Português (2001, p. 360 e 361),

Nos estabelecimentos penais, a educação compõe a área de reabilitação, sendo a ela subordinada hierarquicamente. A manutenção de suas atividades, contudo, em todo o tempo, observou a participação de outras instituições não pertencentes propriamente à unidade prisional. Sua organização e funcionamento são decorrentes, dessa forma, das normas e diretrizes das instituições que as coordenaram, ao longo dos anos.

Perante a visão de Português (2001) de educação como reabilitação, por que não tratá-la

como inclusão, então se ela reabilita alguém, a mesma também inclui o encarcerado

novamente na sociedade civil, com dignidade. Sendo assim o processo educativo para ser

visto como reabilitação e inclusão, requer se tenha uma participação ativa dos educandos

encarcerados, não só nas atividades rotineiras do sistema prisional, mas principalmente

desenvolvendo essa participação ativa nas aulas, ele não precisa apenas acertar, pois todos

somos passivos de erros e esses erros é que constitui boa parte do processo de aprendizagem,

dentro da potencialidade de cada aluno, neste caso preso.

Considerando essa proposição, pode-se dizer que a educação constitui um poderoso

instrumento de inclusão, pois é um direito de todos.

De acordo com Castilho (2006, p.1) “A educação é um direito humano. Sendo os

direitos humanos universais, indivisíveis e interdependentes, ao assegurarmos o direito de

todas as pessoas à educação estaremos implementando todo o conjunto de direitos

humanos”.

Esta afirmação é problematizadora quanto à educação, e ressalta apenas os direitos

sociais, não se vê, a realidade das diversas classes sociais e suas verdadeiras demandas.

Porém a educação trabalha o ser humano individualmente e coletivamente, integrando na sua

vida os princípios de dignidade, promovendo a igualdade real e inclui as pessoas nas

diversidades e nas diferenças existentes.

Nesse sentido a educação dentro do presídio visa assegurar aos reeducandos a inclusão

social e econômica quando esses retornarem para a sociedade, por isso é necessário que o

indivíduo preso se integre e interaja junto a educação.É a partir desta visão de integração e

interação que se tem à inclusão, o indivíduo que se encontra preso necessita da educação

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carcerária que lhe é oferecida no sistema prisional, pois a sociedade irá lhe cobrar um

determinado nível de escolarização, para poder lhe proporcionar um emprego.

Thompson, (1976, p. 42), diz que, "[...] se o preso demonstra um comportamento

adequado aos padrões da prisão, automaticamente merece ser considerado como readaptado

à vida livre", portanto ao aceitar a educação em sua vida, o mesmo dentro do sistema

prisional é considerado ressocializado.

Para Português, (apud Castro et al., 1984, p. 110), o “Indivíduo "reabilitado", portanto,

seria o infrator plenamente ajustado ao aparelho carcerário[...]”.

Na medida em que nos preocupamos com a educação como um ato de inclusão,

podemos afirmar que este processo de construção através da educação delega ao educando

preso responsabilidades, que acabam formando um cidadão, capaz de agir na sociedade civil

respeitando os direitos de ir e de vir. Além disso, o conhecimento adquirido através da

educação carcerária, privilegia a diversidade e dá condições de respeito à diferença e

permitindo um diálogo que vem possibilitar assim seu pleno exercício como cidadão

reincluido na sociedade.

Partindo do princípio da educação carcerária, o ato de educar no sistema prisional

sustenta as necessidades de cada aluno preso, a mesma não prepara o indivíduo encarcerado

apenas para a liberdade que ele tanto almeja, mas o educa para uma nova vida, agora cheia de

possibilidades e igualdades. A educação carcerária permite ao reeducando que se torne um

cidadão ativo, que saiba lidar com diversas situações de seu cotidiano, que antes não era dado

tanta importância e nem um valor.

A partir do momento em que o preso vai para a escola e ali começa a debater assuntos

que antes ele nem sabia que existiam, podemos dizer que naquele momento este preso se vê

como uma pessoa igual às outras, pois já sabe algum “conteúdo”, mesmo este sendo de

acordo com a realidade em que está inserido.

A educação carcerária que se faz presente dentro dos presídios, são as EJA, devido à

faixa etária da população carcerária, mesmo assim, esta educação para jovens e adultos, faz

com que o educando encarcerado consiga fazer a leitura de mundo, onde ele pode se tornar o

protagonista de sua aprendizagem, ou seja, o processo educativo da educação carcerária,

evidencia a realidade social na qual o reeducando se encontra, o que o leva a interagir e a

intervir junto a sua aprendizagem.

Sem a menor dúvida, a educação pode favorecer muito a criação de um ambiente mais

humanizado, e esta vai se dar através de uma ação conscientizadora, que tornará o educando

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encarcerado capaz de instrumentalizar um compromisso de mudança com sua história no

mundo.

O importante é que, a educação carcerária valoriza o preso como um indivíduo comum,

não o distingue pelo seu crime, não o julga, o que a torna humanizadora, essa linha de

pensamento da educação é fundamental, para que haja a ressocialização, dando se assim o

processo do ato de inclusão social.

Por fim, o que não se pode esquecer é que à educação no cárcere, pode modificar

gradativamente todo a população carcerária, sem dúvida, pois favorecerá a reinserção social

do reeducando preso na sociedade, após a sua saída, além disso, fará com que ele não

permaneça mais ocioso na maior parte do tempo.

Contudo, a reconstrução de sua auto-estima que antes havia sido diminuída passa agora

ser recuperada, através da valorização do preso como ser humano, como pessoa, dignificando-

o mesmo dentro da prisão.

Então é desta forma que a educação carcerária conseguirá ser um ato de inclusão,

perante a sociedade que poderá ver seus presos recuperados e os índices de reincidência

reduzidos, pois o que se sabe é que este é um sonho da sociedade.

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3. MÉTODO

Este estudo teve um caráter etnográfico e de análise qualitativa, foi desenvolvido num

ambiente natural como sua fonte direta de dados. Justifica-se a escolha desse método pelo fato

de poder manter um contato estreito e direto com a situação onde os fenômenos ocorreram

naturalmente, pois são muito influenciados pelo seu contexto e ainda por preocupar-se com o

processo mais do que com o produto. Teve-se como interesse ao estudar essa realidade

verificar como os sujeitos se manifestam quanto às atividades escolares, seus procedimentos e

suas interações cotidianas. Os dados coletados são predominantemente descritivos, o material

obtido nessa pesquisa é rico em descrições de fatos, situações e acontecimentos e inclui

transcrições de depoimentos e documentos. Nesse estudo houve sempre uma tentativa de

capturar a "perspectiva dos participantes", isto é, a maneira como os informantes encaram as

questões que estão sendo focalizadas.

Teve como público alvo cerca de 27 (vinte e sete) reeducandos encarcerados no Centro

de Ressocialização de Bragança Paulista, com faixa etária entre 18 e 55 anos de idade, com

diferentes níveis escolares, sendo que 24(vinte e quatro) freqüentam as aulas e 3 (três) são os

monitores que ministram as aulas.

A seleção dos participantes se deu por meio de um levantamento sobre o tempo da pena

a ser cumprida, pois os mesmos deveriam, ter no mínimo 3 meses no cárcere e deveriam estar

participando das aulas cursando diferentes níveis escolares.

3.1. Instrumentos e aplicação Os instrumentos utilizados foram: um questionário, que foi composto por questões

sobre a identificação dos reeducandos com a escola interna e sobre o acesso ao conhecimento

(anexo 1).

Ao realizar a pesquisa solicitou-se aos monitores que chamassem os alunos do

Supletivo de 5ª a 8ª série Ensino Fundamental e do Supletivo de 1ª a 3ª ano Ensino Médio,

esperou-se que todos chegassem e se acomodassem, assim que todos estavam presentes,

explicou-se a eles que enquanto aluna do último ano do curso de Pedagogia precisava fazer

uma coleta de dados para desenvolvimento do trabalho de conclusão de curso e havia

escolhido o tema sobre a importância da educação no cárcere para eles, ressaltou-se que se

eles poderiam ou não participar e se os mesmos tivessem interesse em colaborar deveriam

assinar um termo de consentimento e que a mesma não seria utilizada contra eles e nem os

colocariam em exposição. Todos se dispuseram a responder as questões normalmente.

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A pesquisadora auxiliada pelos monitores aplicou o questionário e foi explicando

pontuamente cada pergunta. Também foi solicitado aos reeducandos que elaborassem textos a

partir da discussão realizada, que relatassem suas experiências e o que sentiam. Orientou-se os

alunos do cárcere que os mesmos deveriam escrever um texto imaginando que estariam se

reportando a alguém da sociedade e assim deveriam dissertar sobre o processo de

escolarização no carcerária, o que julgassem importante.

Nesta atividade explicou-se o que deveria ser feito e discutimos juntos um pouco da

importância da escolarização no cárcere. A pesquisadora acompanhou todos os passos do

desenvolvimento da atividade e a mesma levou cerca de 1 hora para ser concretizada.

Com as produções dos textos objetivou-se que os reeducandos descrevessem seus

sonhos e se expressassem o sentimento e visão que possuem sobre a escolarização e a

realidade vivida.

O levantamento dos dados se deu em sala de aula, no interior do Centro de

Ressocialização e serviu para analisar e investigar o conteúdo de produção textual dos

reeducandos, mostrando a transformação de seus conhecimentos transcritos para o papel.

Esta perspectiva de trabalho pôde mostrar que o conhecimento interior amplia a mente

humana e que uma vez ampliada com seus próprios recursos, não tendem a voltar a suas

antigas limitações.

3.2 Caracterização dos reeducandos alunos

Número de participantes

Nível de Escolaridade Idade Tempo de pena Tempo de pena cumprida

12 Séries finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio.

18-25 Não condenados e outros entre 1 ano e 8 meses até

43 anos.

Entre 50 dias até 5 anos e 3 meses.

07 Séries finais do Ensino Fundamental.

26-32 Não condenados e outros entre 1 ano e 8 meses até

7 anos e 10 meses.

Entre 4 meses a 1 ano e oito meses.

02 Séries finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio

33-39 Entre 3 anos e 3 anos e 6 meses

Entre 11 meses e 1 ano.

02 Séries finais do Ensino Fundamental.

40-45 Não condenado e outro 2 anos e 2 meses.

Entre 5 meses e 1 ano,

01 Séries finais do Ensino Fundamental.

46-55 1 ano, 9 meses e 23 dias 1/6 da pena, ou seja, 4 meses e 12 dias.

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3.2.1 Caracterização dos reeducandos monitores educadores

Número de participantes

Nível de Escolaridade Idade Tempo de pena Tempo de pena cumprida

01 Ensino Médio Completo 26 Não condenado 5 meses

01 Ensino Superior Incompleto 35 Não condenado 2 meses e oito dias

01 Ensino Superior Completo 32 Não condenado 1 ano e 3 meses

3.3. Análise das questões respondidas pelos reeducandos Tabela 2- Educação como um Direito ou Dever na carceragem Participante Dever Direito Direito e Dever

Séries finais do Ensino Fundamental

1.1 Eu entendo como um dever dentro da carceragem.

2.1 Um dever.

3.1 Na minha opinião seria um direito.

4.1 Um direito do preso. 5.1 Um direito. 6.1 Um direito ao

aprendizado e aprendendo ainda mais sobre a escola.

7.1 Entendo como um direito.

8.1 Sim, direito. 9.1 Sim, como um direito. 10.1 Eu acho que todos nós

temos um direito de estudar e é ótima a idéia na carceragem.

11.1 Eu entendo como um direito.

12.1 Um direito. 13.1 Um direito. Entendo como um direito.

• Sim, as duas opções. • Direito do Estado e dever

do reeducando.

Ensino Médio • Dever. • Um dever, pois além da

remissão, ocupamos nosso tempo.

• Bom, na minha opinião seria como um dever.

• Sim, direito. • Um direito nosso e do Estado.

• Um direito e um dever. • Um direito e um dever

do Estado. • Um direito e um dever.

Monitor Educador • Dever. • Dever.

• Um direito e um dever do Estado.

Um reeducando, respondeu apenas que sim, não tendo como classificar sua resposta,

pois a mesma não tem argumento.

Algumas Justificativas: • Porque é um direito de todos estudar, para ser alguém na vida e não vir parar onde eu estou.

• É uma chance boa conseguir meus objetivos.

• Para despertar o potencial de cada um.

• Porque aprende e ajuda na remissão para o cumprimento da pena.

• Porque o governo tem o dever de reeducar e dar oportunidades para que não voltemos, isto não esta acontecendo.

• Para aprender e para deixar o crime.

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Justificativa dos Monitores: • Porque, muitos reeducandos não sabem ler e escrever.

• O grande problema do nosso país é a falta de educação e se os reeducandos não forem obrigados, se acomodam e não

procuram estudar.

• Para aqueles que não querem, se sinta no direito de saber algo a mais do que seu nível de aprendizagem.

Tabela 3- Qual o valor da escola na carceragem. Participantes Respostas:

Séries finais do Ensino Fundamental

1) É bom, pois ocupa uma parte do meu tempo e elimina as matérias.

2) Valor inestimável, porque acaba ocupando o reeducando por meio do conhecimento.

3) Pra mim, o valor é muito importante. Porque o importante não é saber só básico, ler e escrever,

é ficar sabendo de tudo um pouco, para que mais para frente possa usar no meu trabalho.

4) Muito boa, pois uso o tempo para aprender.

5) Para mim, é um valor especial, pois estou aprendendo.

6) Nosso tempo é muito raro, e aprendendo ele se torna válido, porque quero aprender mais ainda

nesse meu tempo aqui.

7) Primeiramente para aprender e pela remissão.

8) Nota 10, porque eleva a auto-estima de cada um.

9) Bom, porque podemos aprender e terminar nosso estudo.

10) É um valor fundamental para nós, porque dependemos do estudo em qualquer lugar do

mundo.

11) É um valor muito importante, é uma nova chance para o preso.

12) De muito valor, porque estar terminando os estudos e ajuda a se manter ocupado.

13) Levado muito a sério, porque exige disciplina e aplicação.

14) O valor é a aprendizagem, ou seja, a educação e a mente ocupada com o ensino, porque

o ensino é extremamente fundamental para educação e ressocialização.

15) Tem um grande valor, porque o que se aprende é para sempre e sempre terá utilidade.

16) A escola na carceragem é muito importante para um reeducando, porque serve para

ocupar sua mente e se interessar mais pela vida.

Ensino Médio • Bom, nós ocupamos a mente com coisas úteis.

• Além de sairmos formados, aprendemos coisas novas e compartilhamos coisas importantes

com nossos amigos.

• Para cada vez aprendermos mais, porque é uma oportunidade que o governo nos dá.

• Não tem preço, porque sabedoria é uma graça e educação é tudo.

• É um valor essencial que educa o preso, além de ser bom para nos atualizarmos.

• Valor inestimável, porque acaba pondo aos reeducandos o direito e o dever para estarem se

ocupando em conhecimento para si.

• Para completar os estudos e melhorar o mesmo.

• Nota 10, porque o professor é bom e explica bem.

Monitor Educador • É um valor moral, porque quando a pessoa não sabe ler e escrever, ela se sente invalida, sem

aproveitamento.

• Um valor de alta importância, devido ao acompanhamento e monitoramento do setor de

educação, porque o preso pode voltar para a rua e não perder o que aprendeu na cadeia, sem

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falar até em uma melhora profissional.

• Para que os reeducandos, nem todos, deixem a ignorância de lado e entenda o valor da escola.

Porque seja ela, boa ou ruim, a educação escolar é boa para si mesmo.

Tabela 4 - A freqüenta a escola no cárcere por imposição ou pela troca da remissão Participantes Imposição e Remissão Remissão Para aprender

Séries finais do Ensino Fundamental

• Na verdade pelos dois motivos.

• Pela remissão. • Pela troca da remissão.

• Freqüento porque eu gosto de aprender.

• Eu freqüento a escola porque eu gosto de aprender.

• Por interesse próprio e também pela troca da remissão.

• Primeiramente para aprender e pela troca da remissão.

• O Ensino é importante mesmo que seja no cárcere e a remissão ajuda muito.

• Freqüento para aprender mais. • Já estava freqüentando a telesala

na rua, por vontade própria. • Porque eu quero. • Eu freqüento porque eu gosto e

preciso terminar meus estudos. • Para aprender mais. • Por nenhum dos dois. • Aqui aprendo. • Para aprender.

Ensino Médio • Por imposição. • Por imposição e pela

remissão. • Obrigação do aluno.

• Pela remissão. • Pela troca da remissão.

• A remissão ajuda, porém o mais importante é o ensino mesmo sendo em um cárcere.

• Freqüento para terminar meus estudos.

• Interesse de aprender. Monitor Educador

• Os alunos freqüentam pela remissão e por ser imposto

• Sou professor, mas entendo que 60% dos alunos vem a escola pela remissão.

• Troca de remissão.

Algumas Justificativas: • A remissão é mais um incentivo.

• Por causa da remissão e da oportunidade de estudar.

• Quanto mais remissão, mais rápido estarei em liberdade.

• Porque aprendo mais.

• E além da remissão estou relembrando tudo que aprendi e aprenderei um pouco mais.

• Desejo de terminar os estudos e fazer outros cursos.

• Para alcançar a liberdade mais rápida.

Justificativas dos monitores: • No posto cultural, vejo que os alunos, só freqüentam as aulas pela troca de remissão, pois todos querem ir embora mais cedo.

• Alguns realmente são pela imposição da unidade, porém existem muitos que independentemente da remissão ou imposição,

tem o desejo de aprender.

• Mais no fim, acabam aprendendo sempre algo.

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Análise sobre a metodologia e o material utilizado.

O que se pode analisar dentro das repostas dadas pelos reeducandos do Centro de

Ressocialização de Bragança Paulista, que freqüentam regularmente as aulas do Ensino

fundamental de 5ª a 8ª série e Ensino Médio, ministradas dentro do cárcere sobre a

metodologia e material utilizado, é que 21 entre as duas turmas disseram que a metodologia e

o material são bons ou ótimos, apenas solicitaram a inserção de mais livros e conteúdos.

Outros 3 reeducandos disseram que o mesmo é fraco e/ou regular, considerando o

material utilizado como básico.

Dentre as repostas destaca-se, segundo W.L.M, 25 anos, “Sobre a metodologia: A

instrução do ensino é ótima, com disciplina e organização. E o material utilizado: adequado

para o ensino que esta sendo posto em pauta”.

Sendo assim, de acordo que esta citação e demais analisadas o resultado geral aponta

uma boa aceitação da maioria dos estudantes encarcerados.

Já na visão dos monitores educadores preso, o material é bem aplicado, porém o mesmo

falta um pouco mais de conteúdo, mas como o conteúdo é adaptado o mesmo supri as

necessidades do cotidiano dos reeducandos e a aula se torna interessante e mais significativa

para todos.

Contudo, de acordo com as dadas pelos reeducandos, o material e a metodologia são

bem aceitos pelos alunos.

A percepção dos alunos quanto a experiência de estar sendo incluído em uma classe

escolar depois de tanto tempo sem freqüentar uma escola.

De acordo com a pesquisa realizada no Centro de Ressocialização de Bragança

Paulista, com reeducandos que freqüentam regularmente as aulas do Ensino fundamental de 5ª

a 8ª série e Ensino Médio, o que se obteve de resultado com os 24 participantes é a de que esta

oportunidade de voltar a estudar é boa ou ótima.

Pode-se visualizar este resultado a partir de algumas respostas descritas a seguir, que

foram dadas pelos reeducandos:

B.V.P., 20 anos, aluno do Ensino fundamental de 5ª a 8ª série: “É uma experiência

boa e serve como um incentivo”.

L.O., 34 anos, aluno do Ensino fundamental de 5ª a 8ª série: “Estou sendo motivado a

valorizar os verdadeiros valores”.

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E.C.M.G., 21 anos, alunos o Ensino Médio: “Muito boa, pois estimula a continuar

meus estudos quando eu sair daqui”.

A visão dos monitores perante a inclusão dos alunos depois de muito tempo parado,

mostra que o estimulo que ocorre dentro da Unidade Prisional favorece a aprendizagem e os

incentivam a ir para a escola.

Sendo assim, o que se conclui é que ao voltar a estudar o indivíduo, passa a ter mais

contato com o mundo social, principalmente quando esta oportunidade acontece dentro do

cárcere, pois este retorno aos estudos, os incentiva a querer mudar de vida, melhorando assim

a visão que os reeducandos tem sobre a educação e a educação dentro do cárcere.

Tabela 5- Além da sala de aula onde busca a complementação de sua formação. Participantes

Séries finais do Ensino Fundamental

• Em um pequeno dicionário, rádio, revistas, televisão e jornal. • Nos livros e geralmente em meu caderno que tem tudo o que estou estudando. • Através da televisão. • Jornais, televisão e entre outros. • Através do rádio, TV., jornais, etc. • Conversando com o meu professor e pesquisando alguns livros. • Televisão e revista. • Vou buscar em livros, textos e também em revistas, tudo o fale sobre notícias. • Pelo jornal da televisão. • Eu assisto TV e ouço rádio. • Em livros, revistas, jornais, televisão, etc. • Livros e vídeos. • Em TV., livros, revistas e jornais. • Nos jornais, nos noticiários da TV, nas revistas, no rádio e também nos livros. • Na TV. • Em jornais, livros e revistas.

Ensino Médio 1. Nos livros, cartas para família, televisão e rádio. 2. Livros, colegas e televisão. 3. Freqüento muito à biblioteca. 4. Em livros, nos local de trabalho da unidade que é o jurídico. 5. Com o professor e na biblioteca. 6. Nos livros e revistas da unidade. 7. Materiais de leitura e trabalhando. 8. Em livros, jornais, revistas.

Monitor Educador 9. No meu dia-a-dia, em diversos livros, educativos e informativos. 10. Livros, TV, rádio e revistas informativas. 11. Busco informações junto a monitora orientadora e texto da Internet que me são fornecidos

pela monitora.

Nota-se que os reeducandos buscam aprimorar seus conhecimentos além da sala de

aula, buscando informações através da televisão, noticiários, jornais, rádio, revistas, entre

outros meios de comunicação dos quais possuem acesso.

O que se observou de acordo com a pesquisa, foi que os alunos do Ensino

Fundamental buscam mais informações em livros, jornais, revistas, rádio e televisão, porém o

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que mais ficou em evidência foi à busca de informações nos jornais, revistas e nos livros, os

mesmos tem muita procura por parte dos alunos.

Já os alunos do Ensino Médio, buscam informações em livros e cartas para a família,

deixando de lado os noticiários da televisão e rádio.

Os monitores educadores aprimoram seus conhecimentos buscando informações nos

livros da biblioteca da Unidade, nas revistas, no rádio, assistem noticiários da T.V. e

consultam os materiais que a monitora orientadora lhes proporciona.

O que se conclui, é que dentro do Centro de Ressocialização de Bragança Paulista, o

índice d leitura é alto, os reeducandos gostam de ler (muito ou pouco), porém esta prática de

leitura se dá devido à privação da liberdade, pois os mesmos não dispõem de outras formas de

se informar, a não ser a da prática de leitura e escrita.

Porém é importante ressaltar que é esta prática demonstra uma grande valorização da

leitura e escrita, tanto para a comunicação, como para a informação e instrução.

Acesso à biblioteca.

Tabela 6 – Quantas vezes você freqüenta a biblioteca da Unidade Prisional. Participantes 1 vez por semana 2 vezes por mês Mais de 2 vezes ao mês

Séries finais do Ensino Fundamental

6 8 2

Ensino Médio

4 2 2

Monitor Educador 2 1 0

Tabela 7 – Com que freqüência você vai a biblioteca da Unidade Prisional. Participantes Raramente Regularmente

Séries finais do Ensino Fundamental

10 6

Ensino Médio 6 2 Monitor Educador 1 2 Total: 17 10

Algumas Justificativas: • Infelizmente não tenho procurado muito a biblioteca, somente algumas vezes. • Razoável, porque gostos de ler livros. • Sim, para diversas leituras. • Sim freqüentemente. • Sim para estudar a História do Brasil. • Aqui vou quatro vezes na semana, pois tenho tempo. • Sim. • Raramente. • Regularmente. • De 15 em 15 dias busco um livro na biblioteca. • Sim, freqüentemente aqui freqüento a biblioteca.

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• Poucas vezes • Duas vezes por semana. 5. Sim, para ler romances e literatura. 6. Muito pouco. 7. Às vezes. 8. Semanalmente. 9. Aqui eu não freqüento a biblioteca, só na rua realizava leituras de revistas, jornais, etc. • Uma vez por semana.

Justificativa dos monitores: • A freqüência dos alunos na biblioteca é muito fraca, os alunos só se interessam pelos conteúdos da sala de aula. • Sempre freqüentam a biblioteca e pesquisam alguns livros. • Diariamente freqüento a biblioteca para buscar ajuda nos livros.

Perante estas repostas observou-se que a freqüência á biblioteca da Unidade Prisional,

além das propostas do Encarregado do Posto cultural para as duas turmas, é baixa, muitos

alegam freqüentá-la algumas vezes apenas ou raramente, e não regularmente como seria o

ideal. Somente os monitores freqüentam a biblioteca com mais freqüência.

Tabela 8 – Tipos de leituras realizadas nos últimos 6 meses no cárcere. Participantes Textos religiosos Leituras diversas (livros e revistas) Séries finais do Ensino Fundamental

6 10

Ensino Médio

3 5

Monitor Educador 1 3 TOTAL: 10 18

Tabela 9 – Produção textual Participantes Sim Não Séries finais do Ensino Fundamental

14 2

Ensino Médio

6 2

Monitor Educador 3 0 TOTAL: 23 04

Algumas Justificativas: • Muitas cartas.

• Redação.

• Cartas, redações e poesias.

• Cartas para os meus familiares

• Cartas.

• Cartas, poesias, músicas e relatórios.

• Romances, revolução, poemas, etc.

• Cartas e poemas.

• Poesias e letras de músicas.

• Redação, cartas, ofícios e etc.

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Justificativa dos monitores: • Peças teatrais, cartas e ofícios.

• Cartas para família, sempre em média duas vezes por semana.

• Costumo escrever para amigos, como tradução de músicas para o português.

3.4 Como caracteriza o processo de escolarização carcerária Destinatário Destaque dos conteúdos8

Família 2. “Escreveria para minha mãe, que a escola dentro da cadeia é boa e muda a vida do reeducando”.

3. “Olá minha querida mamãe eu me encontro preso mais estou tendo a oportunidade de voltar a estudar novamente”.

4. “Mãe apesar de estar preso, tive a oportunidade de voltar aos estudos”.

5. “Bom dia Mamãe, primeiramente lhe desejo toda paz e serenidade que lhe caiba no coração. Gostaria que a senhora soubesse que estou estudando é muito bom”.

6. “Mãe apesar do lugar estou bem, estudando, aprendendo a ter responsabilidade ocupando o meu tempo com coisas boas, aprendendo a ler e escrever, e aprendendo a ter horários”.

População Carcerária • “Para o preso que se interessa é bom, pois cada um tem sua meta e com certeza tudo o que se aprende á válido”.

Sociedade • “Bom agora, quero aprende e sair de cabeça erguida e ajudar minha família”. • “Meu objetivo é retomar os estudos e voltar para a sociedade”. • “O que eu tenho para falar para a grande sociedade é que eu me desanimo de ainda

existirem pessoas que estudam párea ganhar pontos”. • “Hoje aqui estou, trabalhando e estudando e até acho bom colocar escola na cadeia”. • “O processo de escolarização carcerária realmente nos ajuda muito tanto para educação

quanto para a ressocialização”. • “Eu acho que o estudo aqui dentro do Centro de Ressocialização de Bragança Paulista, um

ótimo exemplo para todos os reeducandos”. • “... terminar os estudos e sair da marginalização e viver uma vida social frente a

sociedade”. • “Que é bom e a gente pode voltara estudar e aprender mais”. • “... a educação é ótima, porque as pessoas aprendem mais e ocupam seu tempo estudando

e ganhando aprendizado”. • “Dá a oportunidade de aprender e avançar nos estudos desperta a coragem de seguir

adiante”. • “Por sermos um país em que todos ou quase boa parte da sociedade brasileira costuma

falar sobre direitos constitucionais ou melhorias e direitos civis, a sociedade deveria apoiar a educação. Porque querendo ou não independente de sermos presos, somo responsabilidade da comunidade; Se somos julgados ou condenados, temos o Promotor Público que é a voz do povo. Então somos responsabilidade da sociedade. E se a comunidade cuida de seus cidadãos, todos saem ganhando, inclusive a própria sociedade”.

• “... para a formação como uma faculdade ou exercer profissões, para termos uma vida digna, voltada para a família e para a sociedade”.

Governo • “Estou terminando os meus estudos no C.R e meus professores são magníficos, aproveito para parabenizar todos os organizadores”.

• “Escreveria que é uma ótima iniciativa e é muito bom para ocupara mente”. • “Que esta oportunidade de terminarmos os estudos é muito boa, para ressocializar o

preso”.

8 Os fragmentos dos textos apresentados, resultam de mais uma atividade realizada em sala de que inclui a necessidade de um trabalho com conteúdos, como concordância nominal, concordância verbal e ortografia.

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• “Este processo de escolarização carcerária tem sido bom e é um bom investimento que o governo esta fazendo”.

Meios de comunicação • “Eu escreveria para algum jornal, para estar divulgando como o ensino de uma pessoa estando em cárcere é necessário para ocupação e aprendizado”.

• “Eu escreveria para TV, setor de jornalismo para que eles conheçam o processo da escolarização”.

Na visão dos monitores educadores presos, sobre o processo de escolarização carcerária,

perante a sociedade, os mesmos ressaltaram a importância da educação carcerária.

Segundo monitor D.G.S. 26 anos, o mesmo se expressa dizendo, “Eu gostaria que a

sociedade tivesse a consciência de que existem sim presos que tem recuperação, e que se tem

algo que recupera o preso é a educação e o trabalho carcerário, pois assim o reeducando

volta a ter hábitos do trabalho e dos estudos”.

Já o monitor R.P.S. 35 anos, ressaltou que, “na minha opinião, o processo de

escolarização dentro da carceragem deve ser mantido e obrigatório, já que o preso esta a

disposição da Estado, estando condenado ou não, ele cometeu um crime... O mesmo deve

estudar, como diz o ditado popular “morrendo e aprendendo”.”

Porém na visão do monitor educador, J.R.B. 32 anos, o processo de escolarização

carcerária, na opinião do monitor, o Juiz ao elevar uma pena básica ao infrator, deveria

pesquisar o grau de instrução tanto do infrator como o de sua família, fazendo uma troca, ao

invés do infrator ou a família pagar uma multa, o mesmo deveria ser obrigado a voltar a

estudar, ele diz que “O tempo de escola, como uma obrigação judicial, também ajudaria

reduzindo o uso e até mesmo a venda de drogas”.

Baseando-se nas visões dos monitores educadores sobre a educação carcerária, pode-se

concluir que a ação educativa dentro de uma Unidade Prisional, possibilita as condições de

reinserção social pela elevação de escolaridade adquirida no período de privação da liberdade

e, além disso, promove processos que possibilitam a autonomia e competência para a

melhoria da qualidade de vida de cada reeducando encarcerado.

As redações não tiveram um padrão formal de carta, porém seu conteúdo é bastante rico

e expressivo.

Esses trechos das cartas acima descritos mostram a importância da educação no cárcere

para cada reeducando e nos permitem identificar para quem a mesma se destina, como por

exemplo, para a família, todas foram destinadas à mãe, para os próprios presos, para a

sociedade em geral, para o governo, ressaltando a importância da iniciativa do direito que o

preso tem para estudar e alguns escreveram para os meios de comunicação, pois acreditam

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que assim todos passam, a saber, da importância que a educação tem na ressocialização do

preso.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sociedade moderna passa por transformações que dificultam a inserção e a

continuidade das pessoas no mercado de trabalho. Esse fato deixa a população carcerária

ainda mais fragilizada e com maiores dificuldades de encontrar trabalho remunerado. Sendo

assim por vezes os reeducandos encarcerados buscam na educação dentro do cárcere uma

oportunidade de se reeducar e se ressocializar, pois o enfrentamento da vida em liberdade

requer a construção de relações humanas mais sólidas, saber ler e escrever, ter autonomia

intelectual, disciplina para trabalho seguido de um projeto de vida.

Entendendo assim a importância da educação para a constituição das pessoas enquanto

sujeito de um processo de vida, tornando-se fundamental e imperativo possibilitar o acesso da

pessoa presa à aquisição do conhecimento, viabilizando esse processo dentro da unidade

prisional, uma vez que esse educando encontra-se em cárcere.

É fundamental que no tempo de cumprimento de pena seja oportunizado à pessoa presa

o acesso à educação, de forma presencial possibilitando a sua motivação para a qualificação e

ressignificação das relações sociais no espaço de tempo enquanto preso e para a vida em

liberdade.

Vendo isto, pode-se ressaltar o resultado da pesquisa realizada quanto a questão de

remissão vista pelos alunos, pois a maioria freqüenta a sala de aula para aprender, esta visão

nos mostra que os dias remidos não são tão importantes quanto o conhecimento e aprendizado

que mesmo dentro do cárcere eles estão adquirindo.

Porém para a defensoria pública, a proposta de remissão por educação é uma proposta

relativamente nova dentro do sistema penitenciário, pois a mesma incorpora dentre outros

méritos, o de reduzir o tempo de pena a ser cumprido pelo infrator das leis civis. O que se

sabe, é que no Brasil, na Lei de Execução Penal, se tem apenas a remissão pos trabalho, na

proporção de três dias de trabalho por um dia de desconto na pena. Já a remissão por

educação fica a critério do Juizado da Comarca ou pela decisão do Governo do Estado.

No Centro de Ressocialização de Bragança Paulista, se tem a remissão por educação, e

sua proporção é de que a cada 18 horas aulas, o reeducando terá direito a 1 dia remido no total

da pena, porém o mesmo deve ter aproveitamento mínimo de 60% das aulas e 75% de

freqüência.

A promotoria pública acredita que com a proposta de educação dentro do sistema

prisional, o número de reincidência tende a diminuir, pois se entende que se a pessoa tem a

oportunidade de melhorar, é a través da educação que ele alcança esse objetivo.

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É importante ressaltar que a remissão da pena pelo estudo, deve orientar-se em função

de objetivos pré-estabelecidos e metas educacionais, e não apenas por um simples cálculo

aritmético de redução de tempo de pena. A consolidação da educação no sistema prisional e o

reconhecimento desta para a obtenção da remissão de pena pelos estudos e não somente pela

atividade laboral.

A educação carcerária é vista pelos reeducandos como um direito para poder mudar de

vida, projetar novos horizontes, porém de contrapartida se encontra aqueles que dizem que a

educação dentro do cárcere é um dever do preso, pois a partir do momento que ele é excluído

da sociedade e fica sobre custodia do Estado, ele passa a obedecer as normas a eles impostas,

além disso, os mesmos ressaltaram que por estarem reclusos devem aproveitar a

oportunidades que a eles são oferecidas dentro da prisão, sendo assim o que se indicou como

um ideal e direito de educação é aquela que possibilita a pessoa presa a sua humanização que

resgatem suas condições humanas.

Considerando a situação de vida destes educandos presos e a sua preparação para a

liberdade, se faz necessária a efetivação de uma concepção de educação que tenha como

finalidade fundamental a formação humana.

Quanto à aprendizagem o se espera é que a escola vise objetivos coerentes a realidade

encontrada e que visem não só aprender a ler e escrever, mais que busque, aprofundar e

ampliar os conhecimentos dos reeducandos.

Nesse sentido, o Projeto Político-Pedagógico apresentado ao longo do trabalho

considera as diretrizes curriculares do MEC, busca a formação integral dos educandos presos,

reconhecendo seu direito ao acesso à educação e oferecendo oportunidades formativas no que

concerne às questões e práticas de sua vida objetiva, ampliando as possibilidades de

participação social no período de cumprimento da pena e quando em liberdade.

Ademais respeita mais que isso, o estabelecimento do currículo em módulos e na

perspectiva interdisciplinar, organiza-se em função dos tempos de funcionamento da vida na

prisão e salvaguarda estes ganhos mesmo no caso do preso ter de ser transferido para outro

presídio.

É fundamental a integração entre educação e trabalho como forma de promover a

apropriação pelo educando de conhecimentos e habilidades desenvolvidos, quer na escola,

quer no seu local de trabalho.

As participações nas atividades Culturais e de Formação Humana contribuem

igualmente na formação integral do educando, ampliando sua visão de mundo, sua

criatividade e favorecem o seu auto-conhecimento e a sua auto-estima.

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O ponto de partida se dá na valorização dos conhecimentos do educando,

problematizando as questões e temáticas, estabelecendo uma relação dialógica que se constrói

a partir de um profundo respeito ao ser, saber, fazer e pensar do outro e na relação com o

conhecimento.

A partir disso, o papel desempenhado pela educação como prática de ressocialização e

inclusão social, reconhece a importância da proposta de uma educação que envolva a

valorização do individuo apenado, estimulando –o a estudar.

Contudo os objetivos deste trabalho foram o de analisar o significado para os

reeducandos, quanto a sua interação com a escolarização promovida pelo sistema carcerário e

o acesso aos diferentes conhecimentos, e conhecendo as produções de escrita e o desempenho

escolar dos reeducandos do Centro de Ressocialização de Bragança Paulista no estado de São

Paulo.

Portanto, a partir do levantamento e analise dos objetivos acima citados, o que se

observou foi a valorização da educação no cárcere por parte dos alunos encarcerados que

participaram da pesquisa, e que o processo educativo esta vinculado a sua ressocialização e

condições de melhoria de vida.

Paulo Freire (1996, p.54), lembra que o ensinamento é para quem “a prática educativa

em sua riqueza, em sua complexidade é um fenômeno típico da existência e, por isso mesmo,

um fenômeno exclusivamente humano. Daí também que a prática educativa seja histórica e

tenha historicidade”.

Cabe lembrar que através da experiência vivenciada juntamente com a pesquisa

realizada e o trabalho desenvolvido no Centro de Ressocialização de Bragança Paulista, nos

mostra um inicio de modificação da realidade já dentro do cárcere, através da implementação

da educação intramuros, que podem promover benefícios para a clientela em questão.

O resultado desta pesquisa traz em seu foco, à educação em instituições carcerárias,

sendo que respostas obtidas ressaltaram como os reeducandos estão se vendo as diferenças e a

importância que se tem depois de muito tempo sem estudar e agora voltar sem medo de errar

e sim para melhorar seus potenciais.

A problemática trazida na pesquisa apresentou uma reflexão por parte dos reeducandos

quanto ao processo de escolarização que estão passando dentro do cárcere, pois os mesmos

puderam, referenciar para a sociedade a importância de um gênero da educação carcerária,

suas possibilidades, limites de uma realidade acentuada no que se refere na exclusão social.

É preciso perceber a verdadeira dimensão do conceito de educação que se desenvolve

no Centro de Ressocialização de Bragança Paulista, levando em conta que o conhecimento

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está em todos os lugares, porém deve-se conhecer a realidade dos reeducandos, pois este é

primordial para que ocorra o processo de ensino-aprendizagem.

No entanto, está pesquisa encontrou dificuldades em relação a escassez de bibliografias

e pesquisas que abordem o tema discutido, porém este trabalho pode ser ampliado ou ainda

pesquisada a educação carcerária sob outro foco.

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6. ANEXOS

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ANEXO 1 – MODELO DO QUESTIONÁRIO

Identificação

Nome:________________________________________________________________

Idade: _____anos

Tempo de Pena total: _______________________.

Tempo de Pena já cumprida:__________________.

Tempo de processo de escolarização

Nível de escolarização: ___________________________________________________.

Nível de escolarização na carceragem: _______________________________________.

1)Você entende a escolarização como um direito ou dever dentro da carceragem?

_______________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Porque?_____________________________________________________________________

2) Para você qual é o valor dado a escola na carceragem?

______________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Porque?_____________________________________________________________________

3) Você freqüenta a escola no cárcere por imposição ou pela troca da remissão?

______________________________________________________________________

Porque?_____________________________________________________________________

4) Qual a sua opinião sobre a metodologia e material utilizado?

______________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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5) Como está sendo a sua experiência de voltar a estudar depois de tanto tempo, sem ter

acesso a Educação escolar, ou seja, de ser incluído novamente em uma classe escolar?

______________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6) Além da sala de aula, onde você busca acesso para complementação da sua

formação?

______________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Acesso a Biblioteca:

7) Além das atividades de leitura proposta pelo encarregado do Posto Cultural, qual a

sua freqüência na biblioteca da unidade prisional?

______________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Quantas:

1 vez por semana ( ) 2 vezes por mês ( ) mais de 2 vezes ao mês ( )

8) Que tipo de leitura você realizou nos últimos 6 meses?

______________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9) Você costuma fazer alguma produção textual?

Sim ( ) Não ( )

Qual?__________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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10) Se você tivesse que escrever para alguém da sociedade sobre o processo de

escolarização carcerária, o que você escreveria?

______________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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ANEXO 2 - TERMO DE CONSENTIMENTO

UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO CURSO DE PEDAGOGIA

CÂMPUS DE BRAGANÇA PAULISTA. 4. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Título da pesquisa: A Educação Carcerária no Centro de Ressocialização de Bragança Paulista. Eu, ___________________________________________________________,____anos, portador do RG n.º: ______________ dou meu consentimento Livre e Esclarecido, para poder participar como voluntário, do projeto de pesquisa supracitado, sob a responsabilidade da pesquisadora Profa. Dra. Eliete Aparecida de Godoy, Professora-Orientadora da Disciplina Trabalho de Conclusão de Curso, no Curso de Pedagogia da Universidade São Francisco, Câmpus de Bragança Paulista / SP. Assinando este termo estou ciente de que: 1) Os objetivos da pesquisa são: a) Levantar o significado para os reeducandos, quanto a sua

interação com a escolarização promovida pelo sistema carcerário e o acesso aos diferentes conhecimentos; b) Conhecer a produção e desempenho escolar dos reeducandos do Centro de Ressocialização de Bragança Paulista no estado de São Paulo.

2) Durante o estudo serão feitas observações pela pesquisadora e/ou uma entrevista que eventualmente poderão causar algum tipo de constrangimento, mas não oferecem risco à integridade moral, física ou mental.

3) Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a minha participação na referida pesquisa.

4) Estou livre para interromper a qualquer momento a minha participação na presente pesquisa. 5) Os dados pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos através da pesquisa

serão utilizados para alcançar os objetivos do trabalho exposto acima, incluída a sua publicação na literatura científica especializada.

6) Poderei entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Francisco para apresentar recurso ou obter maiores esclarecimentos com relação à pesquisa através do telefone (19) 3807 9106, ou com a Profª. Eliete Aparecida de Godoy pesquisadora responsável pelo estudo (11) 4034-8000 USF, ou ainda com a estudante-pesquisadora Milena Maria Moraes Machado, telefone (11) 4032-8400, sempre que julgar necessário.

7) Este termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma permanecerá em meu poder e a outra com o pesquisador responsável.

Bragança Paulista, ____de outubro de 2007.

_________________________________________ Assinatura do Voluntário da Pesquisa

_________________________________________ Assinatura do Pesquisador Responsável pelo Estudo

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ANEXO 3 – TERMO DE APROVAÇÃO DO ORIENTADOR

Nome do Estudante: Milena Maria Moraes Machado R.A. 001200400653 . Professor(a) Orientador(a): Eliete Aparecida de Godoy. Nota Final: __________

CRITÉRIOS PARA A AVALIAÇÃO DO TCC – Pesquisa de campo (03-12-07)

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ANEXO 4 - TERMO DE APROVAÇÃO DO AVALIADOR

Nome do Estudante: Milena Maria Moraes Machado R.A. 001200400653 . Professor(a) Avaliador(a): Renata Bernardo . Nota Final: ___________

CRITÉRIOS PARA A AVALIAÇÃO DO TCC – Pesquisa de campo (03-12-07)