A educação e as novas tecnologias - José Daniel da Silva

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A EDUCAÇÃO E AS NOVAS TECNOLOGIAS José Daniel da Silva A tecnologia está presente em quase todos os lugares e áreas de nossas vidas e é impossível não notar todas as mudanças aceleradas que vem ocorrendo pelo mundo. As mais diversas publicações, científicas ou não, como livros, filmes, programas de TV entre outras nos trazem a discussão a respeito do avanço tecnológico ocorrido nos últimos anos, bem como as suas consequências. O avanço tecnológico é sem dúvida uma das principais marcas do nosso tempo e atinge todos os setores da sociedade, mesmo que as relações ocorram entre classes sociais com diferentes interesses, poderes e direitos. É importante entendermos que Os aparatos tecnológicos interessam naquilo que tem alterado nos seres humanos: a vida social, a produção da cultura, produção de outras subjetividades e alteração da ordem do conhecimento. Pensá-los entre a proposição de que eles possuem capacidade benfazeja intrínseca (TICs) e as transformações que vão produzindo. (FILÉ, 2011, p. 32). As tecnologias podem e devem ser utilizadas em conjunto com a educação, uma vez que a escola é, por padrão, a promotora de mudanças sociais. O professor deve se apropriar do conhecimento tecnológico e, assim, utilizá-lo como ferramenta de apoio na sua práxis educativa. Naturalmente encontramos diversas dificuldades nessa apropriação por parte do professor, desde a falta de tecnologia nas escolas, ou quando a mesma está disponível não há treinamento do docente ou os equipamentos ficam parados por falta de quem os utilize, ou até mesmo a relutância de alguns em utilizar a tecnologia por medo de mudar ou de ser suplantado pelos conhecimentos prévios da chamada ‘geração digital’ ou ‘nativos digitais’. O que estes últimos não entendem é que a tecnologia não se restringe a apenas o que é digital, mas a tudo o que foi criado no decorrer da história da humanidade e foi, e ou continua sendo, utilizado como meio de transformação social, inclusiva na própria educação: o livro, o quadro, o mimeógrafo, o retroprojetor e mais recentemente computares e afins. Devemos antes entender que classificar um conjunto de tecnologias e/ou métodos como ‘Novas Tecnologias’ irá depender do uso que se faz das mesmas no contexto social ou escolar. Uma tecnologia dita “inovadora” em sua cronologia ou

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A EDUCAÇÃO E AS NOVAS TECNOLOGIAS

José Daniel da Silva

A tecnologia está presente em quase todos os lugares e áreas de nossas vidas

e é impossível não notar todas as mudanças aceleradas que vem ocorrendo pelo mundo.

As mais diversas publicações, científicas ou não, como livros, filmes, programas de TV

entre outras nos trazem a discussão a respeito do avanço tecnológico ocorrido nos

últimos anos, bem como as suas consequências. O avanço tecnológico é sem dúvida uma

das principais marcas do nosso tempo e atinge todos os setores da sociedade, mesmo

que as relações ocorram entre classes sociais com diferentes interesses, poderes e

direitos.

É importante entendermos que

Os aparatos tecnológicos interessam naquilo que tem alterado nos seres humanos: a vida social, a produção da cultura, produção de outras subjetividades e alteração da ordem do conhecimento. Pensá-los entre a proposição de que eles possuem capacidade benfazeja intrínseca (TICs) e as transformações que vão produzindo. (FILÉ, 2011, p. 32).

As tecnologias podem e devem ser utilizadas em conjunto com a educação,

uma vez que a escola é, por padrão, a promotora de mudanças sociais. O professor deve

se apropriar do conhecimento tecnológico e, assim, utilizá-lo como ferramenta de apoio

na sua práxis educativa. Naturalmente encontramos diversas dificuldades nessa

apropriação por parte do professor, desde a falta de tecnologia nas escolas, ou quando a

mesma está disponível não há treinamento do docente ou os equipamentos ficam

parados por falta de quem os utilize, ou até mesmo a relutância de alguns em utilizar a

tecnologia por medo de mudar ou de ser suplantado pelos conhecimentos prévios da

chamada ‘geração digital’ ou ‘nativos digitais’. O que estes últimos não entendem é que a

tecnologia não se restringe a apenas o que é digital, mas a tudo o que foi criado no

decorrer da história da humanidade e foi, e ou continua sendo, utilizado como meio de

transformação social, inclusiva na própria educação: o livro, o quadro, o mimeógrafo, o

retroprojetor e mais recentemente computares e afins.

Devemos antes entender que classificar um conjunto de tecnologias e/ou

métodos como ‘Novas Tecnologias’ irá depender do uso que se faz das mesmas no

contexto social ou escolar. Uma tecnologia dita “inovadora” em sua cronologia ou

contexto (centros urbanos) pode não ser uma inovação em um outro contexto

(periferia, escola, etc.) se não produzir mudanças significativas (CORRÊA, 2006).

Tomemos por exemplo o mimeógrafo, que no contexto urbano é considerado uma velha

tecnologia, mas que num outro ambiente ou contexto social pode ser uma inovação, isso

pelo uso que é dado a ele. Da mesma forma, uma sala de aula equipada com artefatos

tecnológicos de última geração não pode ser considerada inovadora se o uso destes

artefatos for feito de forma inadequada, ou seja, além de não se alcançar os objetivos

propostos, também não ocorre a modificação das relações dos sujeitos envolvidos

(alunos e professores).

De nada adiantará propagar a ideia de uma escola com grande gama de

artefatos tecnológicos a disposição do processo de ensino e aprendizagem, se este

processo, com a utilização de tais artefatos, se der apenas como forma de reprodução do

paradigma educacional no qual fomos formados. Usar tecnologia sem modificar as

práticas docentes é dar uma roupagem de modernidade à práticas antigas (CORRÊA,

2006, p.47).

Há cerca de 15 anos, o cenário era de pressão para o uso das tecnologias em

todas as áreas, inclusive na educação. Os professores sentiam medo de não terem mais

lugar no mercado de trabalho caso não fossem capazes de dominá-las (COSCARELLI,

1998). Hoje, o que mudou em relação a esse cenário?

Acreditamos que pouca coisa mudou deste cenário inicial, pois o uso da

tecnologia tem aumentado e as pressões continuam as mesmas (em geral e na

educação). Os medos dos professores continuam os mesmos. Mas nesse longo período

de acomodação da tecnologia em nosso cotidiano e também na educação, quais os

resultados que a informática trouxe para o processo de ensino e aprendizagem? Será

que os alunos de hoje, considerados ‘nativos’ digitais, realmente aprendem mais com o

uso da tecnologia ou ela apenas tem maquiado o resultado?

Estas questões ainda podem continuar em aberto em alguns ambientes

educacionais, mas em outros a tecnologia tem alcançado êxito ao ser utilizada como

mediadora, juntamente com o professor, nos processos de ensino e aprendizagem.

Recentemente o ministro da Educação, Aloízio Mercadante, anunciou o investimento de

cerca de R$ 150 milhões para a compra de 600 mil tablets, que serão utilizados por

professores do ensino médio da rede pública de ensino (MEC, 2012). A ideia do projeto,

chamado de Educação Digital, é prover não somente instrumentos, mas também

formação aos professores e gestores das escolas públicas, de forma que ocorra o uso

intensivo das TICs nos processos de ensino e aprendizagem. O projeto abrange o uso do

computador interativo desenvolvido pelo MEC, que reúne projeção, computador,

microfone, DVD, lousa digital e acesso à internet, além de abranger também o uso do

tablet. Além desse aparato tecnológico o MEC disponibilizou em 2008 o Portal do

Professor, que possui um acervo de cerca de 15 mil aulas criadas por educadores,

acervo este que tende a ser ampliado cada vez mais. Há sem dúvida um investimento em

tecnologia para educação e esta tecnologia será mais eficiente na proporção em que

houver maiores cuidados pedagógicos e maior envolvimento dos professores no

processo educativo. Para o ministro Aloísio Mercadante “na educação, a inclusão

[tecnológica] começa pelo professor” (MEC, 2012).

A tecnologia sem dúvida tem papel importante nos processos de ensino e

aprendizagem, contudo devemos encará-la como um meio e não como um fim. Não há

motivos para que os professores temam ser substituídos por ela, mas ao mesmo tempo

não há motivos para descartá-la, visto já se encontrar presente em todas as áreas.

Também devemos entender que a tecnologia por si só não produzirá mudanças se não

for utilizada de forma adequada, calcada nas escolas metodológicas do docente. O

computador traz informações e recursos, mas o professor necessita planejar a sua

aplicação em sala de aula.

Referências Bibliográficas

CORRÊA, JULIANE. Novas tecnologias da informação e comunicação: novas estratégias de ensino/aprendizagem. In: COSCARELLI, Carla Viana (org,). Novas Tecnologias, Novos Textos, Novas Formas de Pensar. 3ª Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

COSCARELLI, Carla Viana. O uso da informática como instrumento de ensino-aprendizagem. Revista Presença Pedagógica. Belo Horizonte, mar/abril, 1998, p. 36-45.

FILÉ, Valter. Novas tecnologias, antigas estruturas de produção de desigualdades. Em: FREIRE, Wendel (org). Tecnologia e educação: as mídias na prática docente. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Wak, 2011 (org. Wendel Freire).

MEC. Ministério distribuirá tablets a professores do ensino médio. Disponível em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&id=17479. Acesso em 01/07/2013.