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A EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA E A FORMAÇÃO
Luis Roberto Ramos de Sá Filho
Nilo Agostini
Universidade São Francisco
Resumo: A educação tem sido alvo de importantes estudos ao redor do mundo, pois
vivemos numa época de grandes transformações e exigências cada vez mais
complexas. Como podemos vivenciar nas últimas décadas do século XX e o início do
século XXI, nos encontramos em meio a um processo cada vez mais acelerado de
mudanças. O Brasil, por sua vez, passa igualmente por um momento de profundas
transformações. Os métodos tradicionais de ensino se revelam defasados e
ineficazes. Isto requer reflexão e análise acuradas. Apresenta-se o desafio de
uma formação integral, fruto de uma educação harmonizadora das diversas
dimensões do ser humano. Neste cenário o ensino técnico foi em nosso país, por
anos, considerado apenas uma ferramenta governamental para promoção social dos
desvalidos da sociedade, para integrá-los no mercado. No entanto com os avanços
tecnológicos e científicos se faz necessário uma nova reflexão e visão para ensino
técnico, sendo necessário um olhar para o humano e sua capacidade de ser livre,
autônomo e capaz de criar e recriar a sua história.
Palavras-chave: EDUCAÇÃO PROFISSIONAL, ENSINO TÉCNICO, FORMAÇÃO
HUMANA E TECNOLÓGICA.
Apoio financeiro: Capes
Área do Conhecimento: 7.08.07.07-8 Ensino Profissionalizante
Área temática: IC Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação: Educação, Sociedade
e processos formativos.
Introdução
Os desafios, conceitos, filosofias e atribuições sobre a formação humana vêm
sendo debatidos por séculos, mas os principais registros que são considerados como
o berço de nossa civilização ocidental são os gregos que, segundo CORTINA (2005
p.51 apud AGOSTINI, 2010p. 23): “como toda a cultura do ocidente em geral – nasceu
sem duvida entre os antigos gregos (...)”, tendo como personagens principais
Sócrates, Platão e Aristóteles.
Segundo AGOSTINI, (2010 p.24) os filósofos gregos fundam seu pensamento
na pergunta pelo “ser” das coisas. Buscam sua verdadeira realidade, na autêntica
natureza, pois, muitas vezes, as aparências enganam(...) A busca do “ser” do “ser
humano” e sua real posição na sociedade foi debatida pelos gregos, começando por
Sócrates, que dizia que o iluminar o conhecimento deve ser feito pelo bem da verdade
e que o diálogo e consenso na busca da verdade e o autoconhecimento como o
desafio de toda humanidade.
Segundo AGOSTINI, 2010, Sócrates continua seu pensamento definindo que a
excelência humana reside na atitude de busca do verdadeiro bem, então colocá-lo em
prática, sendo esta busca da verdade não uma mera curiosidade, mas a busca dos
conhecimentos necessários para agir bem, chegando assim à sabedoria, acreditando
que alguém que realmente conhece o bem não pode agir mal e que a educação dos
cidadãos consiste, numa tarefa ética primordial.
AGOSTINI, 2010 diz que, ao falar da alma humana, Platão trabalha com três
dimensões: a racional (capacidade de raciocínio, inteligência, capacidade de conhecer
e de excelência no ser humano), a irascível (ou paixão; lugar de decisão e da coragem
a força interior que colocamos em ação) e os apetites (desejos, paixões e instintos).
Assim sendo, a sabedoria é conquistada no equilíbrio do racional, do irascível e dos
apetites, sendo o equilíbrio entre razão, apetites e paixões contribui para que o homem
seja melhor e mais consciente de suas obrigações na sociedade pois se ele conseguir
dominar a pessoa mais difícil e complicada de todos que é o “eu”.
Além disso, segundo SEVERINO (2006,p.624), “Platão via a educação como a
necessária formação do espírito”, levando os homens ao conhecimento do bem e,
assim, com a sua prática. Essa prática do conhecimento diferencia o ser humano e
demonstra sua formação de modo prático e autônomo. Mesmo que os gregos ainda
não vissem todos os homens como iguais, tais contribuições são importantes para a
sociedade atual.
O terceiro personagem destacado dentre os filósofos gregos é Aristóteles que,
segundo Severino (2006), valorizava a realidade empírica do Estado e a condição
social do individuo e nos traz o entendimento que a formação ética dos indivíduos é o
único caminho para a virtude. Virtude esta que, para ele é necessário que o homem
obtenha para ser inserido na sociedade que vivemos.
De acordo com Severino (2006), as posições aristotélicas são ainda mais
reforçadas com a apropriação da teologia cristã, graças ao trabalho filosófico feito por
São Tomas de Aquino, que são acompanhadas e definidas por religiosos com base no
teocentrismo como Agostinho de Tagaste e Boaventura de Bagnoregio .
Nesta visão, o amor estabelece prioridades, passa a ter cuidado como os fins e
os meios. Por o meu fim é chegar a Deus e só posso alcançar esse objetivo se meus
meios forem bons. Com isso, os bens deste mundo são meios para chegar a Deus e
devem ser equilibrados a sua “justa medida”.
São Tomas de Aquino colabora com a visão teocentrista dizendo que o homem
deve fazer uma leitura da própria natureza, nela encontrará a verdadeira felicidade.
Retornamos a Deus no agir pelo “Bem Agir”.
Apoiando tais teorias, o Frei Boaventura de Bagnoregio definiu “sê bom e será
sábio” e que são dois caminhos para a sabedoria o da especulação e da prática (a
prática das virtudes), pois para o Frei segundo Agostini(2006) o importante não é
conhecer a verdade, mas antes é desejável viver a verdade, pois esta nos tornará
verdadeiramente humanos e livres.
Passado por esse período, dá-se início uma fase definida por Agostini, (2010)
como “Dos modernos aos contemporâneos”, passando pelo racionalismo, empirismo,
iluminismo e pelo criticismo. Começando por René Descartes definia e existência do
homem pelo pensamento “Penso, logo existo”, trazendo assim um novo “ DUALISMO”
– A RAZÃO E AS COISAS. Ou seja, o que é ser humano? É possuir a razão de forma
autônoma e não heterônoma, ou seja, livre o homem para que o homem seja dotado
de RAZÃO.
Em contrapartida, temos Immanuel Kant, que propõe que há uma lei moral
sendo definida que é o fim em si mesmo de modo autônomo e que cada um traz a
humanidade em si. A razão não leva à descrença religiosa, a liberdade é postulada
pela razão e o que é distinto não é necessariamente oposto; o respeito as diferenças
leva ao crescimento e desenvolvimento humano.
Já no fim do século XIX surge o que é definida por Agostini (2010) como a
Ética da Linguagem tendo como base a chamada virada linguística e seu principal
percursor Friedrich Nietzsche que em sua obra critica de toda a visão ética e moral do
ser humano, rompe com a visão teleológica – “o fim” e se desvincula da moral
introduzindo o conceito de “eterno retorno”, ou seja, uma vida estética sendo definida
em três estágios o do “tu deves” , o “Eu quero” e o “Eu Sou” surgindo assim o niilismo
sendo ele considerado o crepúsculo do Deus.
Sem a moral e sem um fim além do dever, cada qual busca a sua verdade e
tudo se liquefaz não havendo nada sólido. Sendo assim, para Nietzsche, não existem
fenômenos morais, mas apenas uma interpretação moral dos fenômenos, que, para
Agostini (2010), o autor estabelece a lei da autonomia da vontade como aquela capaz
de selecionar o seu desejo.
Dando a modernidade e pós modernidade o rompimento do conhecimento
sólido mas do conhecimento que se adapta, que evolui, que cresce e rompe com o
senso comum.
Passando para nossos dias, tais anseios se projetam ainda mais emergentes e
o convite ao diálogo e o consenso de mudança se torna ainda emergente como é
notório nas palavras de grandes educadores do século XX e XXI como Paulo Freire,
Bakhtin, Vygostsky, Prof. Antonio Joaquim Severino, Jorge Renato Johann entre
outros que versam em suas obras que a educação de ir além do conhecimento
tecnicista, fechado e protocolar, mas sim deve ser voltada no sujeito e em sua
autonomia, de como o ser humano pode se tonar mais humano, como definido por
Severino (2009): “Sem dúvida, a educação, em seu sentido mais profundo é o
processo fundamental para a constituição do humano”.
Esse ser humano que vive, sofre, busca e luta que espera por dias melhores,
que possuem em suas mãos as marcas da vida que por muito o privou, que vê em
seus filhos muitas vezes a possibilidade de romper esse ciclo de pobreza e miséria a
qual se sente condenado.
Com isso, SEVERINO (2009) define que a educação como o esforço para se
conferir ao social, no desdobramento do histórico, um sentido intencionalizado, como
esforço para a instauração de um projeto de efetiva humanização, feita através da
consolidação das mediações histórico-sociais da existência humana.
Desta forma a formação humana de modo mais abrangente deve fazer parte de
Educação de acordo como o autor que nos leva a refletir arqueogenealógica, nos
levando ao cotidiano do ser humano, suas relações pessoais, intimidades,
singularidades, amores, desejos, etc.
Contudo autor conclui que a educação é práxis, ou seja, não se trata de uma
prática mecânica, transitiva; é pratica orientada, norteada e pensada, promovendo
assim o conhecimento.
Tal reflexão nos leva a crêr que estamos passando por um período de intensa
mudança, o que provoca um certo desequilíbrio aos profissionais em geral, ainda mais
aos educadores que tem o dever de refletir sobre suas atitudes e ações de modo que
possam transformar suas práxis pedagógicas mais eficientes para que o sujeito,
desvalido e inconcluso em seu desenvolvimento possa estar pronto a superar as
dificuldades que lhe são propostas no mundo atual.
E é neste contexto que a Educação Profissional vem sendo desenvolvida e
difundida, pois para atender as necessidades de sobrevivência é necessário atender
às ordens de uma sociedade capitalista, onde a produção se faz cada vez mais
necessária para os anseios e os desejos de uma sociedade cada vez mais consumista
e estética.
No Brasil, a educação profissional, prevista e regulamentada pelo artigo 39 da
LBD nº 9394/96 (Lei de Diretrizes Bases da Educação Nacional) e alterada pelos
Decretos Lei 5254/2004 e 11.741/2008, tem sido constantemente utilizada como meio
de promoção social, de modo que os “desvalidos da sorte” obtenham melhores
condições de vida (BRASIL, 2004, 2008).
Tal pensamento tem sua origem no início da colonização do Brasil, no século
XVI, passando pela vinda da família Real ao Brasil no século XIX, até os dias atuais
com o surgimento dos programas sociais em parcerias com as instituições privadas de
ensino como o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego
(PRONATEC) do Governo Federal.
De acordo com a Lei 13.005, de 25 de Junho de 2014 que estabelece o Plano
Nacional de Educação (PNE), no seu anexo estabelece metas e estratégias para a
educação nacional até o ano de 2024 e as metas 10 e 11 estabelece que no mínimo,
25% das matrículas de educação de jovens e adultos, nos ensinos fundamental e
médio, na forma integrada à educação profissional, além de triplicar as matrículas da
educação profissional técnica de nível médio.
Estamos falando de um universo aproximado que hoje de 4,8 milhões (segundo
dados do INEP 2014) de pessoas que passarão a fazer parte da educação
profissional. É fundamental que a educação profissional faça parte desde debate para
que possa ser associada ao desenvolvimento humano, diferente do que
historicamente vimos no Brasil uma educação voltada apenas a “aprendizes de
ofícios”, sendo o homens um mero apêndice da máquina, sendo assim necessário
romper com tais conceitos.
A Educação Profissional e a Ética
A educação profissional passa a ser um agente importante para transformação
do conceito de formação integral do indivíduo e a essa de cultura educacional, dando
a oportunidade aos interessados em desenvolver-se profissionalmente.
Segundo Xavier, (1997) é necessária uma reflexão maior e direcionada a cerca
do nosso contexto de constantes mudanças e como a educação está presente em
todo este processo, a autora define que “mudança” é um tema que está cada vez mais
presente no discurso atual e como tal fato provoca desequilíbrio e inquietude aos
profissionais em geral e também aos educadores. Com isso, nos leva a refletir sobre
conceitos como “revolução” ou “inovação”, “modernidade” ou “pós-modernidade”,
sendo que para a primeira indagação ela sugere que mudança tem o mesmo sentido
de “revolução” ou “inovação” ela é um processo de construção inédita, pelas
especificidades das condições gerais sob as quais ocorre no sistema.
(..)pode-se dizer que, se mudança tem o mesmo sentido de “revolução" e de
"inovação", ela é um processo de construção inédita, pelas especificidades das
condições gerais sob às quais ocorre no sistema, e dos seus instrumentos, que
são o produto das pessoas que a concretizam pela interação social. Além de a
mudança ser original e única, é intencional e deliberada para melhorar um
sistema - no caso, o educativo – por se supor que ela o torna mais eficaz na
consecução de seus objetivos e mais efetivo, o que garante a sua visibilidade
na sociedade. (XAVIER,1997 p.288)
Esse tornar “melhor um sistema”, tornar “mais eficaz” e “efetivo”, nos remete a
formação integral e a necessidade de que a educação contemple a educação também
profissional, sendo que o indivíduo se torna cada vez mais autônomo a medida que
tem suas necessidades básicas atendidas.
Com tais definições, se faz ainda mais relevante destacarmos a definição dos
pilares do conhecimento definida por DOLORS e seus colaboradores (1996 apud
Xavier, 1997) que são:
o aprender a conhecer - para adquirir os instrumentos da compreensão; o
aprender a fazer - para poder agir sobre o meio em que vive; o aprender a viver
em sociedade - para participar e cooperar com os outros; o aprender a ser -
para conseguir a integração das outras três vias do saber, levando, assim, ao
"desenvolvimento total da pessoa: espírito e corpo, inteligência, sensibilidade,
sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade (Delors et al., 1996,
p. 85)
Esta necessidade do homem aprender a viver em sociedade, o aprender a
fazer, fazem parte da proposta de Educação Profissional que ao logo dos anos tem
recebido duras críticas por seu perfil tecnicista e voltado unicamente a qualificar a mão
de obra para coloca-la no mercado, como se fora uma mercadoria que é definida por
MARX em seu livro o Capital capitulo “o atender as solicitação do capitalista, para a
remuneração do capital, por meio da mais valia”. No entanto a educação profissional
pode se tornar uma educação libertaria, a medida em que passa a compreender os
indivíduos envolvidos neste processo como sujeitos e agentes de transformação do
seu meio, que a medida que se desenvolvem profissionalmente adquirem autonomia e
estima de si.
Ao citar uma pedagogia libertaria é impossível não citarmos aqui autores como
Paulo Freire e Arendt, que nos leva a refletir como deve ser essa pedagogia da
autonomia, como o ensino de princípios e valores pode levar o individuo a superar
seus desafios e labores da vida, sendo o homem capaz de grandes conquistas e
conhecimentos, mas incapaz de lidar com seu semelhante de modo igualitário.
Jorge Renato Johann em seu livro “Educação e ética: em busca de uma
aproximação”, traz o debate a necessidade de aproximarmos a educação princípios
éticos e valores e que isso leva o sujeito a autonomia, define que a educação que não
leva em consideração o sujeito é apenas um conhecer de forma imediata e diz:
Um nível de consciência intransitiva não permite ver, ouvir, sentir, expressar e
atuar sobre o mundo. A leitura que ele faz de seu mundo é ingênua. Ele o
apreende da forma imediata como este lhe é apresentando. Toma
conhecimento dos fatos. Porém, não chegará a compreender as razões e os
efeitos resultantes. Acaba acolhendo a realidade de forma simples e
absorvendo opiniões como verdades inquestionáveis e de forma dogmática.
Assim, permanecerá no fechamento de uma consciência, reduzindo seu existir
ao tamanho que ele próprio lhe confere em sua simplicidade e ingenuidade.
Seu horizonte, portanto, permanecerá sempre limitado à percepção ínfima,
comparável ao nível de um simples animal calçado com viseiras. (JOHANN,
2009, p.80)
Sendo assim, ao pensarmos na prática educativa desprovida de um sentido
mais dinâmico, profundo e amplo, estaríamos construindo uma poiésis e não uma
práxis educativa. Somente uma práxis educativa haveria de se constituir em uma ação
ética, por assumir um significado de desenvolvimento de todas as potencialidades
humanas.
Somente à luz da Ética e da Educação é possível a autonomia e emancipação
do indivíduo, sendo assim uma importante contribuição a minha pesquisa, que tem o
foco na formação integral. A questão de fundo é como o ensino para técnico pode
contribuir a essa formação, pois ao prepararmos para o mercado de trabalho cada dia
mais seletivo, exigente e desumano, pratica humanizadas e éticas se tornam
diferenciais importantes, de modo a proporcionar autonomia e liberdade ao oprimido.
A Educação Profissional e a Construção do Sujeito Ético
Rodrigues (2001) enfatiza sobre uma crença que tem sido assumida e
reforçada em diversos discursos sobre educação, a de que se deve “preparar os
indivíduos para a vida social”, que as propostas de educação devem, além de
transmitir conhecimentos e habilidades, devem ser associados a ética e a cidadania.
Promovendo a consciência que o ser humano é mais que produtor das condições de
reprodução de sua vida, e que as formas sociais devem fazer parte de sua
organização social e devem ser orientadas pelos princípios de solidariedade, e do
reconhecimento do valor das individualidades.
Desta forma RODRIGUES, 2001 define que a educação é necessária para que
o Ser Homem seja constituído, sendo assim o ser humano deve ser educado para que
possa alcançar o seu potencial máximo. O autor continua definindo que a formação
humana se dá em dois planos distintos e complementares: um de fora para dentro e
outro de dentro para fora.
O primeiro plano denota a importância do Educador e o educando na
construção do conhecimento; a educação provem de uma ação do meio exterior com o
indivíduo e como a participação do meio social transmitindo conceitos e valores que
conduzem o indivíduo a sua formação.
No segundo plano, educar compreende acionar os meios intelectuais de cada
educando para que ele seja capaz de assumir o pleno uso de suas potencialidades
físicas, intelectuais e morais para conduzir a continuidade de sua própria formação.
Assim, a educação possibilita com que cada indivíduo adquira a capacidade de se
auto-conduzir no seu próprio processo formativo.
Sendo assim, como considerar tais afirmações sem levarmos em consideração
a necessidade de uma educação profissional? Como dito por Rodrigues (2001), a
educação deve presar pelo preparo do homem para viver em sociedade.
Sociedade essa que consome e nos leva a consumir, que nos impõe barreiras
que excluem e desagregam os que não possuem. Não se faz necessário então uma
educação que rompa essas barreira por meio de ética, princípios e valores associados
a carreira profissional?
Rodrigues(2001) questiona: “Quem é o educador-formador desse sujeito
humano?”. Tal questão nos leva a refletir sobre a nosso papel de educador, pais,
indivíduos e num contexto mais amplo nos remete a uma reflexão específica sobre
nossa estrutura escolar e as contribuições que ela pode proporcionar a uma formação
integral e emancipadora.
Tais contribuições foram enriquecidas por Jorge Miranda de Almeida(2013) em
seu artigo “A educação como ética e a ética como educação em Kierkegaard e Paulo
Freire” que traz ao debate KIERKEGARD e PAULO FREIRE, procurando ver o homem
com um ser inconcluso e em formação constante e a ética como educação, pois
ambos os autores, que são referências para diversos estudiosos da educação,
convergem quanto o conceito e as contribuições da ética para a formação do homem.
Ambos veem o homem como um ser aberto a múltiplas possibilidades e partindo deste
consenso fazem da ética, da educação, da política, do trabalho, da cultura, da
dialogicidade, do ser em relação, da dignidade os temas fundamentais dos seus
escritos.
Ao fim o educar para humanização do humano em seu constante estado de
devir, de deixar de ser para tornar-se, transformando a existência deste homem
inconcluso e repleto de desafios, desejos e sonhos.
Associando tais conceitos com o debate promovido por Ana Maria Saul e
Antônio Fernando Gouvêa da Silva “Uma leitura a partir da epismologia de Paulo
Freire: A transversalidade, currículo e ensino”, conceitos sobre a função do currículo
escolar no processo de ensino e como temos muito o que evoluir para considerarmos
aptos para que a ética e a complexidade do ser humano possa ser compreendida e
desenvolvida. Como é possível alcançar uma educação libertadora em meio a um
currículo tão precário e desatualizado? Foram algumas questões que fizeram parte de
nosso debate em sala e o que me fez refletir como deve ser o currículo ideal? Será
que um currículo mais aberto compreenderia o humano e atenderia os desejos e
anseios de nossa sociedade? Como os projetos interdisciplinares e transdisciplinares
contribuem com a formação do sujeito?
Tais questionamentos sempre embasados na proposta freireana na formação
permanente de educadores que são os principais agentes deste processo que vão
além do ensino aprendizagem de habilidades e conhecimentos, mas perpassam por
ética, valores, crenças e racionalidades.
Reforçando as ideias de Paulo Freire, que retrata a “transformação” social que
provém de uma educação transformadora com base na liberdade e na autonomia do
sujeito, nos convidando a refletir e pensar no homem como um ser em formação, e
que neste processo de formação contínua ele está sempre se transformando e
transformando o seu meio, de modo a se revelar cada vez mais necessário o ensino
de valores e assim a ética como parte essencial da pedagogia libertaria proposta por
FREIRE.
Andreola (2011) ressalta a necessidade de compreendermos Paulo Freire
como um educador que olhava o humano e nos estimula a fazer o mesmo com
referências, nos leva a refletir sobre quais os rumos de nossa sociedade cada vez
mais opressora e que o humano se torna cada vez mais distante da sua humanização.
O autor destaca Paulo Freire quando diz que é necessário e urgente uma nova
postura e citando o seu post-scriptum “.um grito da solidariedade e de esperança, para
que seja finalmente possível ‘um mundo onde seja menos difícil amar‘(Freire)”
Com o mesmo pensamento Souza(2011) traz Karl MARX fazendo a relação
entre educação e ética e a necessidade de olharmos além do “Eu” e possibilitarmos
uma “Educação Revolucionária”, por meio de uma ética crítica e que produza atitudes
voltadas ao desenvolvimento humano e social e menos voltadas ao desenvolvimento
do capital.
Defendendo que educar é organizar para a luta, na própria sociedade que nos
rodeia, formando assim forças capazes de varrer o velho e formar o novo. Assim
compreendendo que a sociedade é feita por seres humanos que devem buscar
aprender sua realidade e a transformá-la em algo melhor.
Tais autores demonstram a realidade e a necessidade da formação do sujeito
Ético na sociedade e como a educação pode ser opressora e libertaria sendo o educar
vai muito além que uma simples transmissão de conteúdos ou aprendizados de
afazeres há na educação a capacidade transformar o SER HUMANO, ser humano
este inconcluso e tem a capacidade de ir além de seus limites.
Considerações Finais
Ao tecer minhas considerações finais, cito Frei Nilo Agostini que em seu livro
Ética: Dialogo e Compromisso define a relação homem e tecnologia de forma a alinhar
tudo o que foi tido até aqui que é o seguinte:
Os avanços Tecnocientíficos só encontrarão real consistência se forem
fundados na ética, resguardando o princípio de humanidade. Hoje um diálogo
multidisciplinar necessita ser travado, saindo de nossas trincheiras. Diante do
assédio do “tudo é genético” e de deslizes reducionistas, a ética nos abre os
olhos para a corrida insana do lucro a qualquer preço e do desgoverno
biotecnoliberal. Quando lastreado na dignidade humana, ser humano é
reconhecido, protegido e tutelado no seu valor incomparável, inviolável e
inalienável e passa a ser assumido na riqueza de suas dimensões que
integradas, abrem-lhe o caminho da maturidade e da realização. O ser humano
é mais do que simples material biológico. (Agostini, 2010, p147)
O ensino técnico no Brasil por anos é considerado uma ferramenta
governamental para promoção social e inclusão no mercado do trabalho, de modo a
promover ao mercado os desvalidos da sociedade, porém com os avanço tecnológicos
e científicos se faz necessário uma nova reflexão e visão para ensino técnico como
está sendo feita na educação escolar como um todo, sendo que agora é necessário
olhar o humano e suas capacidades libertárias e toda sua complexidade de um ser
inconcluso.
Como definido por SEVERINO(2014):
Nunca é demais repetir que a finalidade da educação é a humanização, a
formação das pessoas humanas, e mais do que qualquer outra prática social,
cabe a ela, nessa condição, investir na construção da autonomia das pessoas,
respeitando e consolidando sua dignidade. Trata-se da própria construção do
humano que não é dado como pronto e acabado, mas como um ser a ser
construído, num processo permanente de um vir-a-ser, de um tornar-se
humano. (SEVERINO, 2014,p.207)
Instruir o ser humano de modo a promover a autonomia e a liberdade, tendo
suas necessidades básicas atendidas é o mínimo esperado de uma educação
profissional que deve ser cada vez mais inclusiva e transformadora.
Referências
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