A Epístola Aos Efésios

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Comentário Bíblico

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Hamilton Smith

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CONTEÚDO

1. Introdução

2. O Propósito de Deus em Cristo – Efésios1

3. A Obra de Deus na Realização do Seu Propósito – Efésios 2

4. A Forma de Deus Tornar Conhecido o Seu Propósito – Efésios 3

5. O Caminhar do Crente em Relação à Assembleia - Efésios 4:1-16

6. O Caminhar do Crente ao Confessar o Senhor – Efésios 4:17-32

7. O Caminhar do Crente como um Filho de Deus – Efésios 5:1-21

8. O Caminhar do Crente no Contexto dos Relacionamentos Naturais – Efésios 5:22 - 6:9

9. O Conflito – Efésios 6:10-20

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1 – INTRODUÇÃO

É um grande favor que o abençoado Deus tenha revelado a Si mesmo em graça a um mundo de pecadores, e ainda Ele fez mais, já que revelou aos crentes os conselhos secretos do Seu amoroso coração.

Para aprender sobre a bem-aventurança dessas revelações devemos nos voltar à Epístola de Paulo aos Efésios, pois ali temos uma revelação inspirada dos conselhos de Deus para a glória de Cristo e a bênção daqueles que estão destinados a compartilhar da Sua glória.

É de suma importância ver que há o conselho da vontade de Deus para os crentes, assim como a graça de Deus que traz a salvação de todos os homens. Geralmente somos mais bem informados sobre a Sua graça salvadora do que sobre os conselhos do Seu coração. A graça salvadora de Deus encontra a nossa condição de pecadores, e inevitavelmente devemos começar com aquilo que atende a nossa necessidade; mas os conselhos de Deus revelam o que Deus propôs fazer acontecer para a satisfação do Seu próprio coração. A graça salvadora de Deus, e os conselhos de Deus, embora sejam bênçãos distintas, não podem ser separadas, pois a graça que salva a nossa alma nos conduz à glória que satisfaz o coração de Deus.

Na revelação dos conselhos do coração de Deus descobrimos o verdadeiro caráter celestial da cristandade. Aprendemos que, embora a igreja seja formada na terra, ela pertence ao céu e, embora passe pelo tempo, ela foi deliberada na eternidade e para a eternidade.

Efésios 1 nos revela os conselhos eternos de Deus para Cristo e a Sua igreja em vista da eternidade.

Efésios 2 apresenta os caminhos de Deus para a formação da igreja no tempo em vista dos Seus conselhos para a eternidade.

Efésios 3 apresenta o serviço especial confiado ao apóstolo Paulo em conexão com o tornar conhecida a verdade sobre a igreja.

Efésios 4 a 6 formam a porção prática da Epístola, na qual os crentes, que são instruídos nos conselhos do Deus, são exortados a andar em coerência com essas verdades enquanto passam pelo tempo. Se Deus aconselhou que houvesse, nos santos, a exibição da Sua graça em toda a eternidade, Ele não pode deixar de desejar que na assembleia, enquanto for formada no tempo, deva haver um testemunho da Sua graça, amor e santidade.

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2 – O PROPÓSITO DE DEUS EM CRISTO

Efésios 1

No primeiro capítulo da Epístola nos é aberta a revelação do propósito de Deus para Cristo e Sua igreja. Nos capítulos que seguem aprenderemos os caminhos graciosos de Deus na formação da igreja; mas nos é revelado primeiro o propósito de Deus em vista da eternidade, para que possamos inteligentemente entrar em Seus caminhos enquanto é tempo.

Depois dos Versos introdutórios nos é apresentada primeiro a chamada de Deus que revela o propósito dEle para aqueles que compõem a Sua igreja (Versos 3 a 7). Em segundo lugar, temos a revelação da vontade de Deus para a glória de Cristo como o Cabeça de toda a criação, e a bênção da igreja em associação com Cristo (Versos 8 a 14). Em terceiro lugar, temos a oração do apóstolo para que possamos compreender a grandeza do chamamento de Deus, a bem-aventurada herança e a força poderosa que está cumprindo o propósito de Deus e trazendo crentes para dentro da herança.

1 - O propósito de Deus para os crentes (Versos 1-7)

(Versos 1, 2). O apóstolo está a ponto de revelar os grandes segredos da vontade e do propósito de Deus, e ele, por isso, tem o cuidado de lembrar aos santos que é “apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus”. Ele não é enviado por homem, como servo de homem, para revelar a vontade do homem. Ele é divinamente equipado, e enviado por Jesus Cristo, segundo a vontade de Deus para revelar a Sua vontade.

Além disso, ele se dirige aos crentes efésios como “aos santos... e fieis em Cristo Jesus”, implicando que na assembleia em Éfeso havia uma condição espiritual, caracterizada pela fidelidade ao Senhor, a qual os preparou para receberem estas comunicações profundas. É possível para uma companhia de santos ser marcada por muito zelo e atividade, e, contudo estar em falta com a fidelidade ao Senhor. Na verdade, esta era a condição na qual esta mesma assembleia caiu nos anos posteriores, por isso o Senhor teve de dizer-lhes que apesar de todo zelo e labuta deles, “tenho, porém, contra ti, que deixaste o teu primeiro amor… caíste”. No tempo em que o apóstolo escreveu isso eles ainda eram, como uma companhia, marcados pela fidelidade ao Senhor. Ademais, além de uma condição correta da alma, se tivermos que ganhar com a epístola, precisaremos da “graça” e da “paz” de Deus o nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo, que o apóstolo desejou a esses santos.

(Verso 3). Depois dos Versos introdutórios o apóstolo imediatamente revela a bênção dos crentes segundo o propósito de Deus, e, portanto as bênçãos mais elevadas para eles. Nesta grande passagem aprendemos a fonte de todas as nossas bênçãos, o

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caráter delas, o princípio das nossas bênçãos e o fim que Deus tem em vista ao nos abençoar tão ricamente, e acima de tudo que os propósitos de Deus são realizados através de Cristo.

A fonte de toda a nossa bênção se encontra no coração de Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Deus foi perfeitamente revelado em Cristo. Em Sua passagem por este mundo como Homem, Ele manifestou a infinita santidade e poder de Deus e a perfeita graça e amor do Pai. É para o coração de Deus o Pai assim revelado que somos privilegiados a traçar todas as nossas bênçãos.

Então somos instruídos quanto ao caráter das nossas bênçãos. O Pai “nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo”. A pequena palavra “todas” nos fala da plenitude das nossas bênçãos. Nem uma bênção que Cristo, como um Homem, desfrutou foi retida. Somos abençoados “com todas” as bênçãos espirituais. Por mais que a cristandade professa possa conferir benefícios exteriores aos homens, sempre permanece verdadeiro que as bênçãos cristãs são espirituais e não materiais, como com a nação de Israel. As nossas bênçãos não são, contudo menos reais porque têm um caráter espiritual. A filiação, a aceitação, o perdão – algumas bênçãos colocadas diante de nós nesta Escritura – são bênçãos espirituais além do alcance da prosperidade deste mundo, mas asseguradas por Cristo ao mais simples crente Nele.

Além disso, a esfera apropriada para as nossas bênçãos não é a terra, mas o céu. Fomos abençoados “nos lugares celestiais”. Na terra podemos ter pouco; no céu somos ricamente abençoados. Todas essas bênçãos espirituais e celestiais são em conexão com Cristo, não em algum sábio por causa da nossa conexão com Adão. Elas são “em Cristo”. As bênçãos dos judeus eram temporais, na terra, e na linhagem de Abraão: as bênçãos cristãs são espirituais, celestiais, e em Cristo. Diferentemente das bênçãos terrenas elas não dependem de saúde, ou riquezas, ou posição, ou educação, ou nacionalidade. Elas estão fora de toda a variedade de coisas terrenas, e permanecerão em toda a sua plenitude quando a vida no tempo é terminada e o nosso caminhar na terra é encerrado.

(Verso 4). Então aprendemos não apenas sobre a fonte e o caráter das nossas bênçãos como vinda do coração do nosso Deus e Pai, mas descobrimos que elas tiveram o seu início “antes da fundação do mundo”. Então foi na distante eternidade, que fomos escolhidos em Cristo. Isto envolve uma escolha soberana inteiramente independente de tudo o que temos em conexão com Adão e o seu mundo, e que nada que aconteça no tempo pode alterar.

Além disso, nos é permitido ver não apenas o início das nossas bênçãos antes da fundação do mundo, mas também o grande fim que Deus tem em vista quando o mundo tiver acabado. O Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo nos escolheu em Cristo antes da fundação do mundo para que nas eras por virem possamos estar “diante Dele” para a satisfação do Seu coração – “para que fossemos santos e irrepreensíveis diante Dele em amor”. Se é o propósito de Deus ter um povo diante Dele por toda a

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eternidade, eles devem estar em uma condição que é absolutamente ajustada a Ele; e para ser ajustada a Ele eles devem se parecer com Ele. Somente aquilo que se parece com Deus pode se ajustar a Deus. Por isso Deus nos terá “santos e irrepreensíveis” e “em amor”. Isso é realmente o que Deus é, e o que foi perfeitamente expresso em Cristo como Homem. Ele foi santo no caráter, irrepreensível na conduta, e amor na essência. Deus, também, nos terá diante Dele em um caráter que é perfeitamente santo, em conduta à qual nenhuma culpa pode ser imputada, e com uma natureza que é amor e pode corresponder ao amor – o amor de Deus. Deus é amor, e o amor não pode estar contente sem uma resposta nos objetos do amor. Deus vai cercar a Si mesmo com aqueles que, semelhantemente a Cristo como Homem, perfeitamente correspondem ao Seu amor, para que Ele possa deleitar-se em nós e possamos nos deleitar nEle.

Quando a fé recebe estas grandes verdades, e olha para o glorioso fim, se deleita com tudo o que foi revelado do coração de Deus e da eficácia da obra de Cristo. Tal é o amor do Pai, e tal a virtude da obra de Cristo, que por toda a eternidade estaremos diante da face do Pai santos e irrepreensíveis, e por isso no pleno e desimpedido desfrute do amor divino.

Quando nos é desta forma permitido olhar para a eternidade e termos uma visão ampla da bênção que está diante de nós, este mundo passageiro, que muitas e muitas vezes nos parece tão grande e importante, se torna muito insignificante, enquanto a cristandade, vista em seu verdadeiro caráter segundo Deus, se torna excessivamente grande e abençoada.

(Verso 5). Há, além disso, bênçãos especiais para as quais os crentes estão predestinados. A predestinação sempre parece ter em vista essas bênçãos especiais. Segundo a soberana escolha os crentes, em comum com os anjos, estarão diante de Deus santos e sem culpa. Mas, adicionalmente a essas bênçãos, os crentes foram predestinados ao lugar especial de filiação. Fomos colocados no mesmo lugar de relacionamento com o Pai que Cristo tem como Homem, para que Ele possa dizer: “Meu Pai, e vosso Pai”. Os anjos são servos diante dEle; nós somos filhos “para Si mesmo”.

Este lugar especial de relacionamento é “segundo o beneplácito da Sua vontade”. Assim a bênção do Verso 5 sobrepassa a bênção do Verso 4. Ali foi a soberana escolha que pela graça nos torna agradáveis a Ele: aqui é o beneplácito de Deus que predestina os crentes para o relacionamento de filhos.

(Verso 6). A forma que Deus agiu para nos predestinar para este grande lugar de bênção ressoará “para o louvor e glória da Sua graça”. As riquezas da graça de Deus nos coloca diante dEle mesmo na conveniência a Ele; a glória da Sua graça nos leva ao relacionamento com Ele, tendo nos tomado em favor no Amado. Se fomos aceitos no Amado, somos aceitos como o Amado, com todo o prazer com o qual Ele foi recebido na glória.

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(Verso 7). Os Versos precedentes apresentaram o propósito de Deus para os crentes; neste Verso somos lembrados da forma com que Deus nos tomou para que possamos participar dessas bênçãos. Fomos remidos pelo sangue de Cristo, e os nossos pecados perdoados segundo as riquezas da Sua graça. As riquezas da Sua graça satisfazem toda a nossa necessidade como pecadores; a glória da Sua graça satisfaz o beneplácito de Deus de nos abençoar como santos. Um homem rico pode abençoar um mendigo pela abundância das suas riquezas, e isto seria uma grande graça, mas se o homem rico fosse além, e trouxesse o homem pobre para a sua casa e lhe desse o lugar de um filho, ele não seria apenas graça para o pobre homem, mas a honra e a glória do homem rico. As riquezas da graça satisfizeram a necessidade do prodigo e o vestiram com um veste da casa do pai: a glória da graça deu a ele o lugar de um filho na casa. A glória da graça de Deus fez dos crentes filhos, não servos.

2 - A revelação da vontade de Deus para a glória de Cristo e bênção da igreja

(Versos 8-14)

(Versos 8, 9). Deus não apenas nos designou para as bênçãos que virão depois, e não apenas já possuímos a redenção das nossas almas e o perdão dos pecados segundo as riquezas da Sua graça, mas esta mesma graça abundou em relação a nós para que possamos ter no tempo presente o conhecimento do Seu propósito. Deus tornou conhecido para nós o mistério da Sua vontade para que possamos conhecer o beneplácito que tem proposto nEle mesmo.

É da vontade de Deus que a igreja, enquanto aqui na terra, fosse a depositaria dos Seus conselhos. Deus permitiria que fôssemos sábios e inteligentes quanto a tudo o que Ele está fazendo, e ainda fará, para o Seu beneplácito, para a glória de Cristo, e para a bênção da igreja. Ter a mente de Deus nos manteria calmos na presença do desassossego do mundo, e nos levantaria acima da tristeza e do pecado, como aqueles que conhecem o resultado de tudo isso. Na Escritura um “mistério” não é necessariamente algo que é misterioso, mas antes um segredo que é tornado conhecido para os crentes antes que seja publicamente declarado ao mundo. No mundo vemos o homem fazendo a sua própria vontade segundo o seu próprio prazer, e por isso toda tristeza e confusão. Mas é privilégio do crente conhecer os segredos de Deus, e por isso saber que Deus operará todas as coisas segundo o Seu beneplácito, e que no final os Seus propósitos prevalecerão.

(Versos 10-12). Os Versos que seguem nos abrem este mistério de Deus. Aprendemos que há duas partes neste mistério. Primeiramente, há o propósito de Deus para Cristo; em segundo lugar, há aquilo que Deus tem proposto para a igreja em associação com Cristo.

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É o prazer de Deus, na dispensação da plenitude dos tempos, reunir em unidade todas as coisas em Cristo. A “plenitude dos tempos” dificilmente se referiria ao estado eterno, já que então Deus será tudo em todos. Parecia ter em vista o mundo por vir – o dia do Milênio – quando o resultado pleno dos caminhos de Deus no governo será visto em perfeição. Todos os princípios de governo que foram confiados aos homens em tempos diferentes, e nos quais os homens tanto falharam completamente, serão vistos em perfeição sob a administração de Cristo. A ruína dos tempos foi vista sob o governo de homem; a “plenitude”, ou perfeição, dos tempos, será vista quando Cristo reinar. Então toda coisa ou ser criados, nos céus e na terra, irão se mover sob Seu controle e em Sua direção. Por conseguinte, a unidade, a harmonia e a paz prevalecerão. Tal é o segredo, ou mistério, da vontade de Deus para a glória de Cristo.

Além disso, nos é permitido ver que é o beneplácito de Deus que a igreja, em associação com Cristo, tenha parte nesta vasta herança sobre a qual Cristo será o Cabeça. No décimo primeiro Verso o apóstolo diz: “fomos feitos herança”, referindo-se certamente aos crentes dentre os judeus. A nação judaica tinha perdido a sua herança terrestre por rejeitar a Cristo e prosseguir na sua própria vontade. Os remanescentes dos judeus, que creram em Cristo, obtiveram uma herança mais gloriosa no mundo por vir, segundo o propósito Dele que operou todas as coisas segundo o conselho da Sua própria vontade. Associado a Cristo em Seu reinado, os crentes exporão a Sua glória. Naquele dia Ele será “glorificado” e “admirado” em todos os que creem (2 Ts 1:10). O mundo e toda a criação serão abençoados sob Ele: a igreja terá a sua porção com Ele. Esses crentes dentre os judeus tinham “primeiro confiado” em Cristo. Eles tinham confiado em Cristo durante o dia da Sua rejeição: a nação restaurada confiará nEle no dia da Sua glória.

(Verso 13). O “vós” do Verso 13 traz os crentes dentre os gentios para terem parte na bênção desta gloriosa herança. Eles tinham crido no Evangelho da sua salvação, e tinham sido selados com o Espírito Santo da promessa.

(Verso 14). O “nosso” do Verso 14 reúne os crentes, dentre os judeus e os gentios. Estes compartilham em comum esta gloriosa herança. Pelo Espírito desfrutamos de um antegosto da bem-aventurada herança. Esta herança é uma possessão comprada – o preço: o precioso sangue de Cristo. Toda a criação é dEle, já que Ele é o Criador; e tudo é dEle pelo direito da compra. Embora tudo tenha sido comprado, tudo ainda não foi redimido. Ele comprou a herança pelo sangue; Ele redimirá a herança pelo poder. Quando Ele tiver libertado toda a criação do inimigo pelo Seu poder, ela será para o louvor da glória de Deus.

3 - A oração para que os crentes possam conhecer a esperança do

chamamento e a glória da herança (Versos 15-23)

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(Verso 15). A oração é introduzida colocando diante de nós a condição espiritual dos santos efésios – uma condição que estimulou o apóstolo a agradecer, e orar sem cessar, a favor deles. Muito abençoadamente, eles eram marcados pela “fé que entre vós há no Senhor Jesus, e o vosso amor para com todos os santos”. Sendo Cristo o objeto da sua fé, os santos se tornaram o objeto do seu amor. Não pode haver nenhuma maior prova da fé viva em Cristo do que o amor prático para com os santos. A fé coloca a alma em contacto com Cristo, e, estando em contacto com Ele, o coração se derrama por todos aqueles que Ele ama. Quanto mais perto nos achegamos a Cristo, mais as nossas afeições se derramam por aqueles que são dEle.

(Verso 16). Ouvindo da sua fé e amor, o apóstolo é forçado a dar graças e orar sem cessar por esses santos. Se estivermos ocupados apenas com os defeitos e fracassos uns dos outros, seremos esmagados e constantemente nos queixaremos dos santos. Se olharmos e estivermos ocupados com o que a graça de Deus operou nos santos, teremos motivo para dar graças, enquanto, ao mesmo tempo, não seremos indiferentes àquilo que possa precisar de correção. O apóstolo nunca negligenciou o que era de Cristo nos santos, muito embora nunca tenha sido indiferente ao que era da carne. Mesmo com relação aos santos coríntios, nos quais houve muito que demandasse correção, ele pode dar graças pelo que viu de Deus neles. Em nossa fraqueza, temos a tendência de cair em um ou outro extremo. Em nossa ansiedade por mostrar amor podemos tratar muito levemente o que está errado; ou, em nossa oposição ao que está errado, podemos negligenciar o que é de Deus.

O apóstolo esteve revelando os conselhos de Deus a esses santos, e o fato de que é forçado a orar é, em si mesmo, um testemunho da imensidade desses conselhos. Eles estão além do poder de meras palavras humanas para ser expresso, e além do poder da mente humana para ser compreendido. O apóstolo compreende que se essas grandes verdades devem nos afetar, a mera afirmação delas não é suficiente. Escrevendo a Timóteo ele diz: “Considera o que digo, porque o Senhor te dará entendimento em tudo” (2 Tm 2:7). Assim nesta epístola, Paulo, conduzido pelo Espírito, pode nos revelar os conselhos de Deus, mas ele compreende que somente Deus pode dar a compreensão. Por essa razão ele se volta à oração.

(Verso 17). O apóstolo se dirige ao “Deus de nosso Senhor Jesus Cristo”, visto que nesta oração, o Senhor Jesus é visto como Homem. A oração de Efésios 3 é dirigida ao Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, pois ali o Senhor é visto como Filho. Outra razão para o uso de Nomes diferentes nas duas orações pode ser por que o apóstolo deseja, na primeira oração, que conheçamos o poder que leva a cabo os conselhos de Deus, pois o Nome de Deus é diretamente conectado ao poder; e a segunda oração, sendo concernente ao amor, é muito apropriadamente dirigida ao Pai.

Nesta oração Deus também é tratado como o “Pai da glória”, apresentando o pensamento daquela cena de glória da qual vamos tomar seu caráter de Pai de quem ela emana. O Seu amor e santidade permearão aquele mundo de gloria no qual Deus será

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perfeitamente apresentado. Enquanto o Pai é a emanação e fonte da glória, o Senhor Jesus, como Homem, é o centro e objeto da glória. Nele todo o poder de Deus é apresentado, o Seu Nome está acima de todo nome, e Ele é o Cabeça sobre todas as coisas para a igreja.

Para entrar nas verdades que formam o objeto da oração do apóstolo, precisamos do espírito de sabedoria e revelação do conhecimento pleno de Cristo. Toda a sabedoria de Deus e toda a revelação da vontade de Deus são tornadas conhecidas em Cristo. Por essa razão precisamos do conhecimento pleno de Cristo para entrar na sabedoria de Deus, a revelação que Deus tornou conhecida de Si mesmo, e dos Seus conselhos.

(Verso 18). Além disso, o conhecimento de Cristo pelo qual o apóstolo ora, não é nenhum mero conhecimento intelectual, mas uma familiaridade de coração com uma Pessoa, pois ele diz (como o texto deveria ser lido): “Tendo iluminado os olhos do vosso entendimento [coração]”. Muitas vezes vemos na Escritura, e aprendemos pela experiência, que Deus ensina através das afeições. Foi assim no caso da pobre mulher pecadora de Lucas 7, que “amou muito” (Verso 47) e rapidamente aprendeu. Foi assim no caso de um santo devoto, Maria Madalena, em João 20. A sua afeição por Cristo esteve ao que parece mais ativa no dia da ressurreição do que a de Pedro e João, e a este coração carinhoso o Senhor se revelou, e deu a maravilhosa revelação da nova posição dos Seus irmãos no relacionamento com o Pai.

Com esses desejos introdutórios, o apóstolo faz três grandes pedidos na oração:

Primeiramente: para que possamos saber qual a esperança da vocação de Deus.

Em segundo lugar: para que possamos saber as riquezas da glória da herança de Deus nos santos.

Em terceiro lugar: para que possamos conhecer o poder que realizará o propósito da vocação e trará os santos para a herança.

A vocação está em cima em relação às Pessoas divinas no céu: a herança está em baixo em relação às coisas criadas na terra. Conforme aprendemos em Filipenses 3:14, a vocação celestial, que está em cima, é de Deus e em Cristo. A fonte da vocação é Deus; por isso, ela é referida aqui como a “Sua vocação”. Ela nos é revelada nos Versos 3 a 6 deste capítulo. Segundo a vocação divina, fomos abençoados com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo, fomos escolhidos em Cristo pelo Pai para estarmos diante de Deus, agradáveis a Ele, “santos e irrepreensíveis diante dEle em amor”, para a alegria e satisfação do Seu coração. Além disso, a vocação nos diz que estaremos diante Deus, não como servos - como os anjos - mas como filhos diante da Sua face. Ainda mais, a vocação nos diz que estaremos no favor eterno de Deus, aceitos no Amado. Por fim, aprendemos na vocação que seremos para o eterno louvor e glória da graça de Deus.

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Para resumir a vocação como apresentada nesses maravilhosos Versos, ela significa que fomos escolhidos e chamados acima para a bênção celestial, para estarmos como Cristo e com Cristo diante do Pai, no relacionamento com o Pai, no favor eterno do Pai, e para o eterno louvor e glória da Sua graça.

Esta é a vocação sobre a qual o apóstolo ora, e quanto a qual podemos bem orar para que possamos entrar em suas bem-aventuranças, e conhecer qual é “a esperança da Sua vocação”. Aqui a esperança não tem nenhuma relação com a vinda do Senhor. Como os santos são vistos nesta epístola como assentados nos lugares celestiais, não há nenhuma alusão à vinda do Senhor. A “esperança” é, como alguém disse, “a plena revelação na glória eterna de todas as coisas para as quais Deus nos chamou em Cristo, como o fruto dos Seus conselhos de uma eternidade passada”.

Em segundo lugar, o apóstolo ora para que possamos conhecer “as riquezas da glória da Sua herança nos santos”. Foi dito: “Em Sua vocação olhamos para cima; a herança, por assim dizer, estende-se abaixo dos nossos pés”. A herança é apresentada nos Versos 10 e 11 deste capítulo. Ali aprendemos que a herança inclui todas as coisas criadas nos céus e na terra sobre as quais Cristo será o glorioso Cabeça. NEle a igreja obterá uma herança, pois reinaremos com Ele. Na oração a herança é apresentada como “a Sua herança nos santos”. Um reino não se compõe meramente de um rei e um território, mas de um rei e seus súditos. Além do mais, “as riquezas da glória da Sua herança” serão mostradas nos santos. Naquele dia Ele será “glorificado nos Seus santos”, e “admirado em todos os que tiverem crido” (2 Ts 1:10).

(Verso 19). Em terceiro lugar, o apóstolo ora para que possamos conhecer o poder que está sobre nós pelo qual todas essas grandes coisas acontecerão. Este poder é dito como “a força do Seu poder”, e como em “operação”, e por isso ativo em relação a nós no tempo presente. Ele é um “sobre-excelente” ou insuperável poder. Há outros e grandes poderes no uniVerso, mas o poder que está “operando” em relação a nós sobrepuja todo outro poder, seja ele o poder da carne em nós, ou o poder do diabo contra nós. Que conforto saber que em toda a nossa fraqueza há um insuperável poder em relação a nós e trabalhando para nós.

(Versos 20, 21). Além disso, ele é um poder que não foi apenas revelado a nós em uma afirmação, mas demonstrado na ressurreição de Cristo. Foi permitido que o mundo e Satanás manifestassem a sua maior exposição de poder – o poder da morte – quando cravaram Cristo na cruz. Então, quando o diabo e o mundo tinham expressado o seu poder ao máximo grau, Deus demonstrou o Seu insuperável poder ressuscitando Cristo dos mortos, e colocando-O como Homem no lugar mais elevado do uniVerso, até a Sua própria destra. Nesta exaltada posição, Cristo foi colocado acima de todo outro poder, seja principados espirituais e potestades, ou força temporal e domínio. Há nomes denominados para o governo deste mundo, e para o mundo vindouro, mas Cristo tem um Nome acima de todo nome – Ele é o Rei dos reis e Senhor de senhores.

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(Verso 22). Ademais, Cristo não está apenas acima de todo poder, mas todo mal será posto sob Seus pés. Tal é a expressão poderosa da força que não apenas nos levará a compartilhar com Cristo este lugar exaltado de glória, mas que está conosco em nossa jornada para a glória.

Então aprendemos outra grande verdade: Aquele em quem todo o poder foi demonstrado, que está colocado em uma posição acima de todo poder, que tem o poder para suprimir todo mal, é Aquele que é o Cabeça sobre todas as coisas para a igreja.

Em relação a todos os poderes do uniVerso Ele está colocado “acima” de todo poder. Em relação ao mal, tudo está sujeito sob Seus pés. Em relação à igreja, o Seu corpo, Ele é o Cabeça, e o Cabeça para dirigir em todas as coisas. Por essa razão é privilégio da igreja confiar a Cristo a orientação e direção em relação a todas as coisas. Na presença de todo poder oponente, e toda a maldade, temos um recurso em Cristo o nosso Cabeça. Ele de fato pode usar dons e líderes, para instruir e guiar, mas é para o Cabeça que devemos olhar e não simplesmente para os fracos e pobres vasos que em Sua graça Ele possa achar próprio para uso.

(Verso 23). No Verso 22 aprendemos o que Cristo é para a igreja – o que o Cabeça é para o corpo. No Verso 23 aprendemos o que a igreja é para Cristo – o que o corpo é para o Cabeça. A igreja é a plenitude daquEle que cumpre tudo em todos. A igreja, como o Seu corpo, é para a exposição de toda a plenitude do Cabeça. Cristo deve ser anunciado na igreja. Nada pode ser mais maravilhoso do que o lugar que a igreja tem em relação a Cristo. Alguém disse: Ela é o Seu corpo “cheia do Seu amor, energizada com a Sua mente, operando os Seus pensamentos, como o nosso corpo opera os nossos pensamentos e os propósitos da nossa mente”. Que triste! Tendo não conseguido dar a Cristo o Seu lugar como o Cabeça acima de todas as coisas para a igreja, como um resultado necessário, falhou em anunciar a plenitude de Cristo.

Em toda esta grande oração o apóstolo está procurando um efeito presente sobre a vida dos santos. A vocação e a herança nos estão asseguradas, por isso o apóstolo não ora para que possamos ter a esperança e a herança, mas para que possamos saber o que elas são. Por essa razão o conhecimento do que está por vir deve ter um efeito presente sobre o nosso viver e caminhar, nos livrando, no poder da vida de ressurreição, da carne e de todo poder oponente, e nos separando em espírito deste mundo presente.

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3 – A OBRA DE DEUS NA REALIZAÇÃO DO SEU PROPÓSITO

Efésios 2

Em Efésios 1 estão revelados para nós os conselhos de Deus para Cristo e a igreja, fechando com a oração do apóstolo para que posamos conhecer o poder sobre nós pelo qual esses conselhos de amor serão cumpridos.

Em Efésios 2 nos é permitido aprender, primeiramente, como o poder de Deus opera em nós (Versos 1-10), e, em segundo lugar, os caminhos de Deus conosco (Versos 11-22), para a formação da assembleia no tempo para cumprir Seus conselhos para nós.

1 – A obra de Deus no crente (Versos 1-10)

(Versos 1-3). O capítulo abre apresentando um quadro solene da condição e posição na qual o homem tinha caído na velha criação. Os dois primeiros Versos apresentam a condição do mundo gentio, enquanto o Verso 3 traz o mundo judeu para este quadro solene. “E éramos” nós judeus, diz o apóstolo, “por natureza filhos da ira, como os outros também”.

O judeu e o gentio são vistos estarem mortos para Deus em transgressões e pecados, mas vivos para o curso de um mundo mau sob o poder do diabo – o príncipe das potestades do ar. Por essa razão o homem é desobediente a Deus, cumprindo os desejos da carne e da mente, e por natureza sob o julgamento de Deus.

O judeu, embora em um lugar de privilégio externo, provaram pelos seus desejos que tinham uma natureza caída e estavam no mesmo nível que os gentios. Tanto judeu como gentio estão mortos para Deus. Na epístola aos Romanos somos vistos como sob sentença de morte como resultado do que fizemos – nossos pecados. Aqui somos vistos como já mortos para Deus como resultado do que somos – como tendo uma natureza caída. Esta condição de morte não é, contudo, uma condição de irresponsabilidade, pois o apóstolo descreve o homem como “andando”, tendo “conversação” e cumprindo os seus desejos. É para Deus que o homem está morto. Para as influências do mundo, a carne e o diabo, ele está ativamente vivo. Além disso, o diabo obteve domínio sobre o homem pela sua desobediência a Deus, e a natureza caída que temos é o resultado desta desobediência – somos filhos da desobediência.

(Verso 4). Se todo mundo está morto para Deus, não há nenhuma possibilidade do homem se livrar de tal condição. Um homem morto não pode fazer nada com respeito a alguém para quem ele está morto. Qualquer bênção para um homem morto deve depender inteiramente de Deus. Isso prepara o caminho para as atividades do amor

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de Deus. A verdade apresentada não é tanto a nossa entrada nessas coisas experimentalmente, mas antes o modo com que Deus opera, segundo o Seu próprio amor para satisfazer a Si mesmo.

Nos três primeiros Versos vemos o homem atuando segundo a sua natureza caída, colocando-se sob julgamento. Nos Versos que seguem temos, em contraste direto, Deus apresentado como atuando segundo a Sua natureza, trazendo o homem para a bênção. Quando o homem atua segundo a sua natureza, ele atua sem referência a Deus segundo a concupiscência em seu próprio coração. Quando Deus atua segundo a Sua natureza, Ele atua sem referência ao homem, e por motivos de amor em Seu coração. O amor de Deus opera em nós quando “mortos em pecados”, não quando começamos a despertar para um sentimento da nossa necessidade, nem quando respondemos àquele amor.

Quatro qualidades de Deus chegam diante de nós – o amor, a misericórdia, a benignidade e a graça (Versos 4 e 7). O amor é a natureza de Deus, a nascente de todas as Suas ações, e a fonte de todas as nossas bênçãos. Se Deus atuar segundo o amor do Seu coração, a bênção resultante só pode ser medida pelo Seu amor. A pergunta, então, não é que medida de bênção atenderá as nossas necessidades, mas qual é a altura da bênção que satisfará o amor de Deus. A graça é o amor em atividade para com objetos indignos, e sai em direção a todos. A misericórdia é mostrada ao pecador individualmente. A benignidade é a concessão de bênçãos ao crente. Deus age, então, “pelo Seu muito amor”, não devido a algo que somos. Quem pode medir o Seu “muito amor”, e quem pode medir a bênção que é segundo este amor?

(Verso 5). Esse amor nos é expresso primeiro nas atividades da graça que nos vivifica, como indivíduos, com Cristo. Se estamos mortos não pode haver nenhum movimento do nosso lado em direção a Deus. O primeiro movimento deve vir de Deus. Uma nova vida nos foi comunicada, mas é uma vida em parceria com Cristo. Ela é uma vida que, na verdade, é a vida Dele com quem estamos vivificados. Assim a nossa condição por graça é exatamente oposta à nossa condição por natureza. Estávamos mortos para Deus com o mundo por natureza, agora estamos vivos para Deus com Cristo por graça.

(Verso 6). Mas não é mudada apenas a nossa condição, a nossa posição também é mudada. Vivificar é comunicar vida; a ressurreição leva aquele que está vivificado para o lugar da vida. Este lugar está estabelecido em Cristo. Os crentes judeus e gentios são ressuscitados juntos e feitos se assentarem juntos nos lugares celestiais em Cristo. A vivificação é “com Cristo”, mas a ressurreição e o assentar são “em Cristo”. Na realidade ainda não fomos ressuscitados e assentados nos lugares celestiais. Sem embargo, estamos diante de Deus nesta nova posição na Pessoa do nosso representante. Somos representados “em Cristo”.

(Verso 7). Tendo alcançado o mais alto da posição cristã, agora nos é dito o propósito glorioso que Deus tem em vista para atuar assim em nossa direção em amor. É

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“para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da Sua graça, pela Sua benignidade para conosco em Cristo Jesus”. Deus, por assim dizer, diz: “Nas eras vindouras mostrarei o que é o fruto da obra de Cristo, e qual é o propósito do Meu coração”. É óbvio que apenas a condição e a posição mais alta na qual um homem pode ser encontrado são adequadas para tais grandes fins. Quando os anjos e os principados “virem um pobre pecador, e toda a igreja, na mesma glória que o Filho de Deus, entenderão as abundantes riquezas da graça que os colocou ali”.

(Versos 8 e 9). Tudo acontece pela graça de Deus, e toda bênção que desfrutamos é dom de Deus. A própria fé pela qual a salvação é recebida é dom de Deus. As obras do homem não têm nenhuma condição de assegurar esta bem-aventurança; tudo vem de Deus, e não há lugar para o homem gloriar-se.

(Verso 10). Isso leva a uma nova verdade. Não apenas são as nossas obras excluídas – pois Deus fez toda a obra – mas também nós somos feituras dEle, e, como tal, somos parte de uma nova criação em Cristo Jesus. Se, contudo, as obras da lei são excluídas como um meio para a salvação, não devemos inferir que as obras não têm nenhum lugar na vida cristã. Há na verdade obras convenientes ao lugar de bênção para as quais somos conduzidos, as quais Deus preparou anteriormente para que andássemos nelas. Essas obras serão colocadas diante de nós na parte posterior da epístola, onde somos exortados a andar dignos da vocação; andar em amor; andar como filhos da luz; e andar prudentemente (Ef 4:1; Ef 5:2, 8, 15).

“As boas obras”, das quais este Verso fala, são mais do que fazer uma boa obra, a qual seria possível para um homem natural, cujo caminhar é um tanto bom, fazer. Aqui os crentes não são vistos apenas como fazendo boas obras, mas como andando nelas. Além disso, as boas obras são preparadas por Deus e conduzem a um caminhar piedoso.

2 – A obra de Deus nos crentes (Versos 11-22)

O grande tema do capítulo 2 é a formação da igreja no tempo, em vista dos conselhos de Deus para a eternidade. A primeira parte do capítulo nos revela a obra de Deus em nós individualmente, seja judeu ou gentio; a última parte apresenta a obra de Deus nos crentes judeus e gentios, para reuni-los juntos em “um corpo” e uma casa para o lugar de habitação de Deus.

(Versos 11, 12). Antes de apresentar a posição presente dos crentes em Cristo, o apóstolo contrasta a antiga posição dos gentios na carne com o novo lugar deles. Pelo fato da igreja ser a agregação de todos os crentes desde o princípio do mundo, houve nos tempos passados (os tempos antes da cruz) uma distinção estabelecida por Deus entre judeu e gentio que, enquanto existiu, tornou a existência da igreja impossível.

O apóstolo lembra aos crentes gentios que, naquele tempo, existiam distinções muito acentuadas entre judeu e gentio. Nos métodos de Deus na terra o judeu

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nacionalmente gozava de um lugar de privilégio exterior no qual os gentios eram completamente estrangeiros. Israel formava uma comunidade terrena, com promessas terrenas e esperanças terrenas, e tinham um relacionamento exterior com Deus. A adoração religiosa deles, a organização política deles, os relacionamentos sociais deles, desde o mais elevado ato de adoração ao menor detalhe da vida, era regulado pelas ordenanças de Deus. Este era um imenso privilégio no qual os gentios, como tal, não tinham nenhuma parte. Não era porque os judeus eram um pouco melhor do que os gentios, visto que na visão de Deus, a grande maioria dos judeus era tão má quanto os gentios, e alguns até mesmo piores. Por outro lado, havia gentios individuais, como Jó, quem eram homens realmente convertidos. Nos métodos de Deus na terra, contudo, Ele separou Israel dos gentios, e deu-lhes um lugar especial de privilégio, visto que mesmo se não convertido, (como era o caso com a maioria), era um imenso privilégio ter todas as suas questões reguladas segundo a perfeita sabedoria de Deus. Os gentios não tinham tal posição no mundo, não gozavam do reconhecimento público de Deus, nem tinham suas questões reguladas por ordenanças divinas. Na verdade, as mesmas ordens que regularam a vida do judeu severamente mantinham judeus e gentios separados. Os judeus, por isso, tinha um lugar de proximidade externa de Deus, enquanto os gentios estavam exteriormente longe à parte.

Israel, no entanto, falhou completamente em corresponder aos seus privilégios, voltando de Jeová para os ídolos. Os mandamentos e as ordenanças de Deus, que deu a ele a posição impar, eles desconsideraram completamente. Os profetas, através dos quais Deus procurou apelar para a consciência deles, eles apedrejaram. O próprio Messias deles, que veio para o meio deles em humilde graça, eles crucificaram; e resistiram ao Espírito Santo que testemunhou de um Cristo ressurreto e glorificado. Por conseguinte, eles perderam, por enquanto, o lugar especial de privilégio deles na terra, e foram espalhados entre as nações.

(Verso 13). A colocação à parte de Israel prepara o caminho para a grande mudança nos métodos de Deus na terra. O vívido vislumbre do passado, dado pelo Espírito de Deus nos Versos 11 e 12, torna por contraste a posição dos crentes no presente mais notável. Após a rejeição de Israel, Deus, na busca dos Seus métodos, trouxe à luz a igreja, e estabeleceu assim um círculo inteiramente novo de bênção completamente fora dos círculos judaicos e gentios.

Esta nova posição dos crentes não os vê mais como na carne, mas em Cristo. Por isso, o apóstolo começa a falar desta nova posição com as palavras: “Mas agora em Cristo Jesus...”, e passa a delinear um contraste com a antiga posição na carne. Com relação à carne, o gentio estava exteriormente muito longe de Deus, e o judeu, embora exteriormente perto, estava moralmente tão longe quanto os gentios. Falando com os judeus, o Senhor tem de dizer: “Este povo honra-Me com seus lábios, mas o seu coração está longe de Mim” (Mt 15:8).

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O apóstolo então passa a mostrar como Deus operou para formar a igreja. Primeiramente, os crentes “pelo sangue de Cristo chegaram perto”, os gentios sendo trazidos do lugar distante, no qual o pecado os tinha colocado, para o lugar de proximidade estabelecido em Cristo. Essa não é uma proximidade meramente exterior por meio de ordenanças e cerimônias, mas uma proximidade vital que é vista em Cristo mesmo, ressuscitado dos mortos e comparecendo diante da face de Deus por nós. Por essa razão é dito: “em Cristo Jesus, vós… pelo sangue de Cristo chegastes perto”. Os nossos pecados nos coloca muito longe; o sangue precioso de Cristo lava os nossos pecados e nos traz para perto. O sangue de Cristo declara a enormidade do pecado que exigiu tal preço para tirá-lo; ele proclama a santidade de Deus que não pode ser satisfeita com nenhum preço menor, e revela o amor que pode pagar o preço. Não é apenas que o crente pode se aproximar de Deus, mas que em Cristo ele “chega perto”.

(Verso 14). Em segundo lugar, dos crentes judeus e gentios “fez um”. Ninguém pode superestimar a importância de se chegar perto pelo sangue; mas, para a formação da igreja, mais é necessário. A igreja não é simplesmente um número de crentes que “chegaram perto”, pois isso será a verdade de cada santo de todas as eras comprado pelo sangue: ela é formada de crentes dentre judeus e gentios “feitos um”. Isso Cristo consumou pela Sua morte. Em um duplo sentido “Ele é a nossa paz”. Ele é a nossa paz entre Deus e o crente; e Ele é a nossa paz entre crentes judeus e gentios.

(Verso 15). Em Sua morte Cristo removeu a “lei dos mandamentos” que eram a causa da distância entre Deus e o homem, e entre judeu e gentio. A lei, embora prometesse vida àqueles que a guardavam, condenou aqueles que a quebraram. Visto que todos quebraram a lei, inevitavelmente veio a condenação àqueles sob ela, e por essa razão colocou o homens a uma distância de Deus. Além disso, se levantou uma barreira severa – uma parede de separação – entre judeu e gentio. Até que esta barreira fosse retirada não pode haver nem paz entre Deus e os homens nem entre judeu e gentio. Na cruz foi levada a condenação pela violação da lei, e por essa razão a inimizade entre os homens e Deus, e judeu e gentio, foi removida. A paz que é o resultado está colocada em Cristo; Ele é a nossa paz. Olhamos para trás para a cruz e vemos que tudo entre Deus e as nossas almas – o pecado, os pecados, a maldição pela violação da lei e o juízo – estavam ali entre Deus e Cristo, o nosso Substituto; olhamos para o alto e vemos Cristo na glória com nada entre Deus e Cristo exceto a paz eterna que Ele fez, e por isso nada entre Deus e o crente. A nossa paz está colocada em Cristo, que é a “nossa paz”.

Ainda mais, Cristo representa tanto os crentes judeus como os gentios; por isso, Ele é a nossa paz por estar entre nós: somos feitos um. Na cruz Cristo aboliu completamente a lei das ordenanças como um meio para se aproximar de Deus, e fez um novo caminho de aproximação pelo Seu sangue. O judeu que se aproxima de Deus com base no sangue acabou com as ordenanças judaicas. O gentio é trazido do seu lugar distante de Deus, o judeu de longe da sua proximidade dispensacional, e ambos são feitos um no desfrute de uma bênção comum diante de Deus nunca antes possuída por

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ambos. Os crentes gentios não são elevados ao nível dos privilégios judaicos, nem os judeus são rebaixados ao nível dos gentios; ambos são levados a uma base completamente nova a um plano imensamente mais alto.

Em terceiro lugar, os crentes dentre judeus e gentios são feitos “um novo homem”. Já vimos que eles são “feitos um”, mas isto não expressa a verdade completa da igreja. Se o apóstolo tivesse parado aqui, de fato deveríamos ter visto que os crentes são trazidos para perto pelo sangue, e feitos um pela remoção de toda a inimizade, mas poderíamos ser deixados com o pensamento de que fomos feitos uma companhia em feliz unidade. Essa de fato é uma abençoada verdade, mas está longe da verdade completa quanto à igreja. Assim o apóstolo continua em frente e nos conta que não apenas “chegamos perto”, e fomos “feitos um”, mas que fomos feitos “um novo homem”. A expressão “novo homem” fala de uma nova ordem de homem, marcada pela beleza e as graças celestiais de Cristo. Nenhum cristão é adequado para mostrar as graças de Cristo; é necessário que toda a igreja mostre o novo homem.

(Verso 16). Em quarto lugar, há a outra verdade que os crentes formam “um corpo”. Os crentes, judeus e gentios, não estão apenas unidos para mostrar as graças do novo homem, Cristo caracteristicamente em todas as Suas excelências morais, mas também formam um corpo. Isto é mais do que uma companhia de pessoas em unidade: é uma companhia de pessoas em união. Eles estão unidos uns aos outros pelo Espírito para que possam ser um corpo unido na terra para mostrar o novo homem. Por essa razão, os crentes judeus e gentios não foram apenas reconciliados uns com os outros, mas, como formaram em um corpo, eles estão reconciliados com Deus. Não combinaria com o coração de Deus que os gentios estivessem muito longe, nem que os judeus estivessem exteriormente perto; mas Deus pode descansar prazerosamente por ter formado dos crentes judeus e gentios um corpo pela cruz, a qual não apenas removeu tudo o que causava inimizade entre os crentes judeus e gentios, mas também a inimizade em relação a Deus.

(Verso 17). Toda essa abençoada verdade nos foi trazida pelo Evangelho da paz pregado aos gentios que estavam muito longe, e aos judeus que estavam dispensacionalmente perto. Podemos entender por que a pregação é introduzida neste ponto em uma passagem que fala da formação da igreja. O apóstolo acaba de falar da cruz, pois sem a cruz não pode haver pregação, e sem a pregação não pode haver igreja. Cristo é visto como o Pregador, embora o Evangelho que Ele prega seja proclamado instrumentalmente através de outros.

(Verso 18). Há outra verdade de grande bem-aventurança que através de um Espírito ambos (judeus e gentios) têm acesso ao Pai. A distância não é apenas removida do lado de Deus; também é removida do nosso lado. Pela obra de Cristo na cruz Deus pode se aproximar de nós pregando a paz; e pela obra do Espírito em nós podemos nos aproximar do Pai. A cruz nos dá nosso título para chegarmos perto; o Espírito nos permite usar nosso título e na prática nos aproximar do Pai. Se o acesso é pelo Espírito,

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então, claramente, não há lugar para a carne. O Espírito exclui a carne em todas as suas formas. Não é por edifícios, ou rituais, ou órgãos, ou coros, ou por uma classe especial de homens, que ganhamos o acesso ao Pai. É pelo Espírito, e além do mais é “um mesmo Espírito”, e por isso na presença do Pai tudo é de um acordo.

Vemos, então, nesta grande passagem, primeiramente, as duas classes das quais a igreja é composta, daqueles que certa vez estavam exteriormente perto e daqueles que certa vez estavam muito longe. Em segundo lugar, vemos que Deus os fez um novo homem, e os fez um corpo. Em terceiro lugar, aprendemos a forma pela qual Deus consumou esta grande obra – pelo sangue de Cristo, “pela cruz”, pela pregação, e pelo Espírito.

(Versos 19 a 22). Até aqui vimos a igreja como o corpo de Cristo, mas nos caminhos de Deus na terra a igreja é vista em outros aspectos, dois dos quais são trazidos para diante de nós nos Versos finais do capítulo. Primeiramente, a igreja é vista como crescendo “para templo santo no Senhor”; em segundo lugar, como “uma moradia de Deus”.

No primeiro aspecto a igreja é comparada com um edifício progressivo, crescendo para templo santo no Senhor. Os apóstolos e os profetas formam as fundações, sendo o próprio Cristo a principal Pedra Angular. Por toda a dispensação cristã, os crentes estão sendo acrescentados pedra por pedra até que o último crente seja edificado, e o edifício completo seja exposto em glória. Este é o edifício do qual o Senhor diz em Mateus 16: “Eu edificarei a Minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Cristo é o Construtor, não o homem, pois tudo é perfeito, e nada além de pedras vivas faz parte desta santa estrutura. Pedro nos dá o significado espiritual deste edifício quando nos diz que as pedras vivas são edificadas em uma casa espiritual para oferecer sacrifícios espirituais a Deus, e anunciar as excelências de Deus (1 Pe 2:5, 9). Em Apocalipse 21 João tem uma visão do edifício concluído descendo do céu da parte de Deus, radiante com a glória de Deus. Então, de fato, daquele glorioso edifício incessantes sacrifícios de louvor se elevam a Deus, e um testemunho perfeito das excelências de Deus será dado ao homem.

Então o apóstolo, ainda usando a figura de um edifício, apresenta outro aspecto da igreja (Verso 22). Depois de ter visto os santos como edificados em um templo que cresce, ele então os vê como formando uma casa, já completa, para a morada de Deus em Espírito. Todos os crentes na terra, a qualquer dado momento, são vistos como formando a morada de Deus. Os crentes judeus e gentios estão sendo “juntamente edificados” para formar esta morada. O lugar de habitação de Deus é marcado pela luz e pelo amor. Por isso, quando o apóstolo chega à parte prática da epístola, ele nos exorta a “andar em amor” e “andar como filhos da luz” (Ef 5:2, 8). A casa de Deus é por essa razão um lugar de bênção e testemunho, um lugar onde os santos são abençoados com o favor e o amor de Deus, e, assim tão abençoados, se tornam um testemunho ao mundo em volta. Em Efésios a morada de Deus é apresentada segundo a mente de Deus, e por

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isso somente o que é real é contemplado. Outras Escrituras mostrarão, infelizmente, como, nas mãos dos homens, a morada tem sido corrompida, até que finalmente lemos que o “julgamento deve começar pela casa de Deus” (1 Pe 4:17).

Temos, por isso, neste capítulo uma tripla apresentação da igreja:

Primeiramente, a igreja é vista como o corpo de Cristo, composto de crentes judeus e gentios unidos a Cristo na glória, formando assim um novo homem para mostrar a todos que Cristo é como o Homem ressurreto, o Cabeça sobre todas as coisas. Vamos nos lembrar de que a igreja não é apenas “um corpo”, mas é o “Seu corpo”, mesmo quando lemos: “a igreja, a qual é o Seu corpo”. Como o Seu corpo, a igreja é a Sua plenitude, cheia de tudo o que Ele é para expressar tudo o que Ele é. A igreja, o Seu corpo, deve ser a expressão da Sua mente, assim como o nosso corpo dá expressão ao que está em nossa mente.

Em segundo lugar, a igreja é apresentada como crescendo para um templo composto de todos os santos de todo o período cristão, no qual os sacrifícios de louvor ascendem a Deus, e as excelências do Deus são mostradas aos homens.

Em terceiro lugar, a igreja é vista como um edifício completo na terra, composto de todos os santos a qualquer dado momento, formando a morada de Deus para abençoar o Seu povo e testemunhar ao mundo.

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4 – A FORMA DE DEUS TORNAR CONHECIDO O SEU PROPÓSITO

Efésios 3

Vimos que Efésios 1 apresenta os conselhos de Deus quanto à igreja, enquanto Efésios 2 apresenta a obra de Deus em e com os crentes para cumprir os Seus conselhos. Efésios 3 apresenta a administração da verdade da igreja, o caminho que Deus tomou para fazer conhecida a verdade aos gentios através da instrumentalidade do apóstolo Paulo.

Comparando Efésios 3:1 com Efésios 4:1, será claramente visto que Efésios 3 é parentético. Efésios 2 apresenta a doutrina e Efésios 4 a prática compatível com a doutrina. Entre a doutrina e a prática temos esta importante subterfúgio no qual o Espírito Santo apresenta a administração especial, ou serviço, confiado ao apóstolo. No segundo verso este serviço é mencionado como “a dispensação da graça de Deus”, e no verso 9 como “a dispensação do mistério”. Em ambos os versos a palavra é a mesma na língua original. A melhor tradução é “administração”, uma administração como sendo um serviço determinado. Este serviço era proclamar o Evangelho e tornar conhecida a verdade entre os santos. No decorrer deste parêntese temos a apresentação de novas grandes verdades com relação à igreja.

1 - O efeito de ministrar a verdade da igreja

(Versos 1, 2). O apóstolo nos diz que o efeito imediato de ministrar a verdade da igreja era o de levar aquele que a proclamava à reprovação no mundo religioso. Esta grande verdade suscitava a especial hostilidade do judeu, visto que não apenas via o judeu e o gentio na mesma posição diante de Deus – morto em transgressões e pecados – mas de forma alguma exaltava o judeu a um lugar de bênção acima do gentio. Além disso, como a verdade da igreja deixava de lado todo o sistema judaico, com sua apelação ao homem natural por meio de uma adoração exterior em templos feitos por mãos, levantava a oposição daqueles que sustentavam aquele sistema. Naquele tempo, assim como agora, a manutenção da verdade da igreja como revelada, e ministrada pelo apóstolo Paulo implicará em reprovação e oposição daqueles que procuram manter uma confissão religiosa exterior, ou um sistema eclesiástico segundo o modelo judaico.

Era, então, o levar a cabo este serviço especial, que proclamava o Evangelho da graça do Deus aos gentios, que suscitara a malícia do judeu preconceituoso e levara o apóstolo à prisão. Na estimativa do judeu, um homem que podia falar em ir aos gentios não era digno de viver (At 22:21, 22). Paulo, contudo, não se via como um prisioneiro

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de homens por alguma maldade, mas como um prisioneiro de Jesus Cristo por causa do seu serviço de amor em tornar conhecida a verdade aos gentios.

2 - A verdade da igreja tornada conhecida pela revelação

(Versos 3, 4). Para que possamos receber a grande verdade da igreja na autoridade divina, o apóstolo tem o cuidado de explicar que adquiriu seu conhecimento do “mistério” da igreja, não através de comunicações de homens, mas pela revelação direta de Deus, exatamente como ele diz: “Como me foi este mistério manifesto pela revelação”. Isso resolve uma dificuldade que possa ser suscitada com relação à verdade do mistério. Quando Paulo pregava o Evangelho nas sinagogas judaicas ele invariavelmente apelava para as Escrituras (ver At 13:27, 29, 32, 35, 47; At 17:2, etc.), e os judeus de Beréia são expressamente louvados já que procuraram as Escrituras para ver se a palavra pregada por Paulo estava de acordo com elas. Mas logo que o apóstolo ministrava a verdade da igreja, não podia apelar mais para o Velho Testamento para confirmar. Seria inútil para os seus ouvintes procurarem as Escrituras para ver se essas coisas eram assim. A incredulidade dos judeus tornou difícil para eles aceitarem muitas verdades que estavam em suas Escrituras, exatamente como Nicodemos não conseguiu captar a verdade do novo nascimento, mas aceitar algo que não estava ali, e que deixava de lado todo o sistema judaico que estava ali e tinha existido com a sanção de Deus por séculos, era para o judeu, como tal, uma dificuldade insuperável.

Muitos cristãos dificilmente podem se sensibilizar com esta dificuldade, visto que a verdade da igreja está grandemente obscurecida na mente deles, ou até mesmo totalmente perdida. Vendo a igreja como o conjunto dos crentes de todos os tempos, eles não têm nenhuma dificuldade em achar o que eles creem ser a igreja no Velho Testamento. Que este tem sido o pensamento dos homens religiosos é amplamente comprovado pelos títulos que foram dados a muitos capítulos do Velho Testamento na Versão Autorizada. Aceite, contudo, a verdade da igreja como revelada na epístola aos Efésios, e imediatamente nos deparamos com esta dificuldade a qual somente pode ser resolvida pelo fato de que a verdade da igreja é uma revelação inteiramente nova.

(Verso 5). Esta grande verdade, que Paulo recebeu por revelação, ele a chama de “o mistério”, e novamente no verso 4 como “o mistério de Cristo”. Ao utilizar o termo “mistério” o apóstolo não deseja transmitir o pensado de algo misterioso – um uso puramente humano da palavra. Na Escritura um mistério é algo que era até aqui mantido em secreto, que não pode ser conhecido de outra maneira a menos pela revelação, e quando revelado só pode ser compreendido pela fé. O apóstolo passa a explicar que este mistério não foi tornado conhecido aos filhos dos homens nos dias do Velho Testamento, mas agora é tornado conhecido por revelação “pelo Espírito aos Seus santos apóstolos e profetas”. Os profetas mencionados neste verso evidentemente não são os profetas do Velho Testamento, mas antes os mencionados em Efésios 2:20. Em ambos os casos a ordem é “apóstolos e profetas”, não “profetas e apóstolos”, como

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deveria ser esperado caso a referência fosse aos profetas do Velho Testamento. Além disso, o apóstolo está falando do que é revelado “agora”, em contraste com o que foi revelado anteriormente.

3 - A verdade da igreja assim revelada

(Verso 6). Tendo mostrado que a verdade da igreja foi tornada conhecida por revelação, o apóstolo, em uma breve passagem, resume a verdade da igreja, e explica por que ela é apresentada como “o mistério”. Evidentemente o mistério não é o Evangelho, que não estava escondido em outras eras, pois o Velho Testamento está cheio de alusões ao Salvador vindouro, embora poucas dessas alusões fossem entendidas.

O que, então, é o mistério? É-nos claramente dito, no verso 6, que esta nova revelação é que os gentios “são coerdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho”. Os gentios foram feitos herdeiros juntamente com os judeus, não só no reino terreno de Cristo, mas na herança que inclui tanto as coisas no céu como na terra. E mais, os crentes gentios formam com os crentes judeus um corpo do qual Cristo é o Cabeça no céu. Além disso, eles conjuntamente participam das promessas de Deus em Cristo Jesus. O gentio não é elevado ao nível judaico na terra, nem o judeu é rebaixado ao nível gentílico, mas ambos são tirados da sua velha posição e elevados a um plano imensamente mais alto, unidos um ao outro em base inteiramente nova, a mesma base celestial em Cristo. Tudo isso aconteceu por causa do Evangelho o qual conduz ambos a um nível comum de culpa e completa ruína. Os três grandes fatos mencionados neste verso já nos foram apresentados em Efésios 1. A promessa em Cristo inclui todas as bênçãos reveladas nos sete primeiros versos daquele capítulo, a herança é apresentada diante de nós nos versos 8 a 21, e a verdade do “um corpo” nos versos 22 e 23.

4 - A verdade revelada e ministrada por Paulo

(Verso 7). O mistério não só foi revelado a Paulo; ele também foi feito o ministro da verdade. O mistério também foi revelado a outros apóstolos (verso 5) mas a ele foi cometido o serviço especial de ministrar esta verdade aos santos. Por isso, somente nas epístolas de Paulo encontramos toda a revelação do mistério. A graça de Deus tinha dado este ministério ao apóstolo; o poder de Deus o habilitou para o exercício do dom da graça. Os dons de Deus só podem ser usados no poder de Deus.

(Verso 8). Além disso, o apóstolo nos conta o efeito que esta grande verdade teve sobre ele. Na presença da grandeza da graça de Deus ele vê que é o principal dos pecadores (1 Tm 1:15): em presença do imenso panorama da benção revelada pelo mistério ele sente que é menor do que o ainda menor dos santos. Quanto maior as

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glórias que são descerradas à nossa visão, menor nos tornamos aos nossos próprios olhos. O homem que teve a maior compreensão deste grande mistério, em toda sua vasta extensão, foi o homem que reconhecia ser menor do que o ainda menor dos santos.

Para cumprir o seu ministério, o apóstolo não só proclamou a ruína irremediável do homem, mas as riquezas insondáveis de Cristo, riquezas além de todo o cômputo humano, trazendo bênçãos que não têm limite.

5 – A finalidade em vista no ministério da verdade

(Versos 9-11). A pregação do Evangelho estava em vista na segunda parte do serviço de Paulo – para iluminar a todos com o conhecimento do mistério, para mostrar a todos os homens como o conselho de Deus de eternidade a eternidade é realizado no tempo pela formação da assembleia na terra e para assim trazer à luz aquilo que estava até aqui escondido em Deus desde a fundação do mundo.

Além disso, Deus não somente precisava que todos os homens fossem iluminados quanto à formação da assembleia na terra, mas é Sua intenção que agora todos os seres celestiais estejam aprendendo na igreja a Sua multiforme sabedoria. Estes seres celestes tinham visto a criação recém-vinda da mão de Deus, e, quando viram a Sua sabedoria na criação, gritaram de alegria. Agora na formação da igreja eles veem “a multiforme sabedoria de Deus”. A criação foi a expressão mais perfeita da sabedoria criadora, mas na formação da igreja de Deus a sabedoria é exposta em todas as formas. Antes que a igreja pudesse ser formada, a glória de Deus tinha de ser vindicada, a necessidade do homem encontrada, o pecado posto de lado, a morte abolida e o poder de Satanás anulado. A barreira entre judeu e gentio tinha de ser retirada, o céu ser aberto, Cristo estar assentado como Homem na glória, o Espírito Santo vindo a terra e o Evangelho ser pregado. Tudo isso e muito mais está envolvido na formação da igreja. Esses vários fins somente poderiam ser alcançados pela variada sabedoria de Deus, sabedoria exposta, não apenas em uma direção, mas em todas as direções. Nem o fracasso da igreja em suas responsabilidades alterou o fato de que na igreja os anjos aprendem a sabedoria de Deus. Ao contrário, ele apenas torna mais manifesta a maravilhosa sabedoria que, se levantando diante de todo o fracasso do homem, vencendo todo obstáculo, finalmente conduz a igreja à glória “segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus o nosso Senhor”.

6 - O efeito prático do ministério da verdade

(Versos 12, 13). O apóstolo se desvia da revelação do mistério para dar uma breve palavra quanto ao seu efeito prático. Essas maravilhas não são expostas diante da nossa vista simplesmente para serem admiradas, como de fato são admiráveis. O mistério é também excessivamente prático quando corretamente compreendido e

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efetivado. Atuar na luz da verdade nos fará estar em casa no mundo de Deus, mas nos porá para fora do mundo do homem. Como o homem cego de João 9, quando expulso pelo mundo religioso, encontra-se na presença do Filho de Deus, assim como o apóstolo, enquanto na prisão do homem na terra, tem acesso à presença do Pai no céu.

Cristo Jesus, Aquele por quem todos esses propósitos eternos serão cumpridos, é Aquele por quem temos acesso ao Pai com confiança. Se essa grande verdade nos dá coragem e nos faz estar em casa na presença do Pai, no mundo ela nos levará à aflição. Isso Paulo encontrou, mas ele diz: “Não desfaleçais nas minhas tribulações”. Aceitar a verdade do mistério – para andar à luz dele – nos porá imediatamente para fora do mundo religioso. Atuemos sobre esta verdade, e ao mesmo tempo nos encontraremos com a oposição da cristandade professa. Será, assim como foi com Paulo, um conflito contínuo, e especialmente com todos aqueles que se submetem ao judaísmo.

Deve haver oposição, pois estas grandes verdades minam completamente a constituição mundana de todo sistema religioso humano. É a verdade do mistério, com o conhecimento do qual Paulo procurou iluminar todos os homens, proclamado desde o púlpito da cristandade, nas convenções dos santos, ou até mesmo desde as plataformas evangélicas? É a verdade do mistério, que envolve a ruína total do homem, a completa rejeição de Cristo pelo mundo, a união com Cristo na glória, a presença do Espírito Santo na terra, a separação do crente do mundo e o chamamento dos santos para o céu – esta grande verdade é proclamada, ou efetivada, nas igrejas nacionais e nas denominações religiosas da cristandade? Infelizmente ela não tem lugar em seus credos, em suas orações ou em seus ensinamentos. Não, e ainda pior, é negada pela sua própria constituição, seu ensino e sua prática.

7 - A oração para que essas verdades possam fazer bem ao crente

(Versos 14-21). As grandes verdades reveladas nesses capítulos muito naturalmente levam à segunda oração do apóstolo. No segundo capítulo da epístola o apóstolo revelou a grande verdade de que os crentes, dentre os judeus e gentios, foram edificados juntos para formarem o lugar da habitação de Deus. No terceiro capítulo o apóstolo apresentou a verdade do mistério, mostrando que os crentes, também tomados dentre os judeus e gentios, são conduzidos a uma base inteiramente nova para juntos formarem um corpo em Cristo. Então aprendemos que este mistério foi revelado com a intenção de que a multiforme sabedoria de Deus pudesse ser exposta agora, segundo o propósito eterno que Deus propôs em Cristo Jesus o nosso Senhor (Ef 3:10, 11).

Tendo em vista esta grande finalidade, o apóstolo se volta ao Pai em oração, para que os santos possam estar em uma condição espiritual correta para entrarem na plenitude de Deus. Para ocasionar esta condição espiritual nos santos vemos, no decorrer da oração, que toda a Pessoa divina está empenhada com relação aos santos. O Pai é a fonte de toda bênção, o Espírito nos fortalece para que Cristo possa habitar em

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nós para nos encher da plenitude de Deus, para que Deus possa ser glorificado por ser exibido nos santos hoje, e em todas as eras.

(Verso 14). Como a oração tem em vista o propósito eterno que foi “feito em Cristo Jesus nosso Senhor”, é dirigida ao “Pai” que é a fonte desses conselhos eternos. Pela mesma razão não há nenhuma menção de morte ou ressurreição na oração. Os conselhos eternos foram todos estabelecidos antes que a morte entrasse, e o cumprimento completo desses conselhos, os quais a oração considera, estará em uma cena onde a morte nunca pode entrar.

(Verso 15). Desta nova cena de glória que está em vista, nos é dito que neste mundo de benção por vir toda a família nos céus e na terra tomará o nome do Pai. Na primeira criação todos os animais foram passados diante de Adão, para que desse a eles nomes que demonstrassem as características distintas exibidas em cada família. Assim com relação aos conselhos eternos da nova criação, toda a família nos céus e na terra – os seres angelicais, a igreja no céu e os santos na terra – tomarão o nome do Pai, e assim cada família tem o seu caráter distinto segundo os conselhos eternos do Pai.

A oração tem, por isso, em vista todo aquele que será conduzido à luz nas eras eternas, segundo os conselhos de Deus antes da fundação do mundo – uma cena na qual o Pai é a fonte de tudo, o Filho o centro de tudo e toda família nos céus e na terra exibe um pouco da glória especial do Pai.

(Verso 16). O primeiro pedido consiste em que o Pai nos conceda segundo as riquezas da Sua glória que sejamos fortalecidos com poder pelo Seu Espírito no homem interior. O apóstolo não diz “segundo as riquezas da Sua graça”, como em Efésios 1: 7, mas “segundo as riquezas da Sua glória”, porque a oração não está relacionada com a satisfação da nossa necessidade, mas antes com o cumprimento dos conselhos do coração do Pai.

Na oração do capítulo 1 o pedido consiste em que possamos conhecer o poder de Deus em direção a nós; aqui é que possamos ter o poder em nós para nos fortalecer no homem interior. O homem exterior é o homem visível, natural pelo qual estamos tocando as coisas do mundo. O homem interior é o homem invisível e espiritual, formado pela obra do Espírito em nós, e pelo qual estamos tocando as coisas invisíveis e eternas. Justamente como o homem exterior tem de ser fortalecido por coisas materiais desta vida, assim o homem interior tem de ser fortalecido pelo Espírito para entrar nas bênçãos espirituais do novo mundo dos conselhos de Deus.

(Verso 17). O segundo pedido consiste em que Cristo possa viver em nosso coração pela fé. O primeiro pedido conduz ao segundo, pois somente quando somos fortalecidos pelo Espírito Cristo habitará em nosso coração pela fé. O efeito do Espírito, que veio do Pai, trabalhando em nossa alma, será o de nos encher dos pensamentos do Pai a respeito de Cristo – para pensarmos com o Pai acerca do Filho.

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O pedido não consiste em que possamos ser fortalecidos com poder para executar algum milagre, ou empreender um pouco de trabalho árduo, mas para que uma condição espiritual possa ser operada em nossa alma por Cristo que vive em nosso coração pela fé. O poder do mundo em torno de nós, da carne dentro de nós e do diabo contra nós, é tão grande, que, se Cristo tiver de ter o Seu verdadeiro lugar em nosso coração somente o terá quando formos fortalecidos pelo Espírito no homem interior.

Além disso, a oração é que Cristo possa “habitar” em nosso coração. Não devemos tratá-lo como um visitante a ser entretido em alguma ocasião especial, mas como Aquele que tem um lugar de habitação em nosso coração. Isso só pode acontecer pela fé, pois a fé olha para Cristo, e quando Ele estiver diante de nós como um objetivo terá um lugar de habitação em nosso coração. Aquele que é o centro de todos os conselhos de Deus se tornará assim o centro dos nossos pensamentos. Como alguém disse: “O objetivo supremo de Deus se torna o nosso objetivo supremo”. Que testemunho de Deus seríamos cada um de nós se a nossa vida fosse governada por um objetivo absorvente, e este objetivo fosse Cristo! Frequentemente nos parecemos com a Marta do passado, distraída “com muitos serviços”, e “ansiosa e afadigada com muitas coisas”. “Uma só é necessária”, ter Cristo como o único Objetivo da nossa vida, então o serviço e todo o resto prosseguirá sem distração. Possamos nós, como Maria, escolher esta “boa parte”.

O resultado de Cristo habitar no coração é de nos arraigar e fundar em amor. Se Cristo, Aquele em quem e por quem, todo o amor do Pai tem sido tornado conhecido, está vivendo em nosso coração, Ele encherá seguramente o coração de um conhecimento e desfrute do amor divino.

(Verso 18). Cristo habitando no coração prepara o caminho para o terceiro grande pedido, para que possamos “perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade”. Deus nos ensina através das nossas afeições, para que o caminho para esta apreensão não seja somente pela fé, mas por estarmos “arraigados e fundados em amor”. Através da obra do Espírito, Cristo vive em nosso coração pela fé; vivendo ali pela fé Ele enche o nosso coração de amor, e o amor nos prepara para compreender. Além disso, este amor nos leva a abraçar “todos os santos”, para desfrutarmos mais do amor de Cristo, quanto mais o nosso coração sai ao encontro de todos que são amados por Cristo.

Então o apóstolo deseja que possamos compreender “a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade”. Isso aparenta ser toda a variedade do “propósito eterno” de Deus, já mencionado no verso 11. Este propósito eterno em sua largura abraça “todos os santos”, em seu comprimento se estende pelas eras das eras, em sua altura nos conduz a uma cena de glória, em sua profundidade nos alcançou aqui em baixo em toda nossa necessidade.

(Verso 19). Toda esta cena de bem-aventurança é assegurada a nós pelo amor de Cristo - Aquele que “amou a igreja, e deu a Si mesmo por ela”. Por essa razão o

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quarto pedido consiste em que possamos “conhecer o amor de Cristo, que excede todo conhecimento”. É um amor que pode ser conhecido e desfrutado, e ainda excede o conhecimento. Se não podemos medir a altura da glória da qual Cristo veio, ou sondar a profundidade do sofrimento no qual Ele esteve, ainda menos podemos medir o amor que operou por nós, que inclui na vasta multidão de remidos, pequenos e grandes, que está cuidando de nós em nossa passagem pelo tempo, e que está vindo por nós para nos levar para o lar de amor para estar ali com Ele, e como Ele, para a satisfação do Seu coração amoroso. Tal amor pode ser conhecido, e ainda permanecerá para sempre um amor que excede o conhecimento.

O quinto pedido consiste em que possamos ser cheios de toda a plenitude de Deus. A plenitude de Deus é tudo o que Deus é conforme revelado e tornado conhecido em Cristo. O Filho plenamente declarou o Pai em Seu amor e santidade, em Sua graça e verdade; e o apóstolo deseja que recebamos, em medida completa, da plenitude divina que pode ser exibida nos santos.

(Verso 20). O sexto pedido consiste em que tudo o que o apóstolo esteve orando pelos santos possa estar operando neles pelo poder de Deus. Deus é, de fato, capaz de fazer muito mais abundantemente “por nós”, como muitas vezes é dito. Aqui, contudo, onde o pensamento principal em toda a oração é a condição espiritual dos santos, não é nem o que o Deus pode fazer por nós ou conosco que está em vista, mas antes a Sua capacidade e vontade de operar “em nós” em resposta a esses pedidos, e fazer isso “além daquilo que pedimos ou pensamos”.

(Verso 21). O sétimo e último desejo é que haja glória na igreja para Deus por Cristo Jesus em todas as eras. Todos os pedidos na oração conduzem a este maravilhoso pensamento de que por todas as eras os santos mostrem a plenitude de Deus, e que isso seja para Sua glória. Toda a oração claramente mostra que é o desejo de Deus que o que for a verdade dos santos em todas as eras eternas deve marcá-los em sua passagem pelo tempo – para que tudo o que Deus é resplandeça em Seu povo.

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5 - O CAMINHAR DO CRENTE EM RELAÇÃO À ASSEMBLEIA

Efésios 4:1-16

Os três últimos capítulos da epístola formam a porção prática na qual o apóstolo exorta a um caminhar digno das grandes verdades apresentadas nos três primeiros capítulos. Notar-se-á que, como crentes, somos exortados a nos conduzir compativelmente com nossos privilégios e responsabilidades em três diferentes aspectos:

Primeiro, somos exortados a um caminhar digno em vista dos nossos privilégios em relação à assembleia como membros do corpo de Cristo, e como sendo o lugar de habitação de Deus pelo Espírito Santo (Ef 4:1-16).

Segundo, somos exortados à piedade prática como indivíduos que professam o Nome do Senhor enquanto passam por um mundo mau (Ef 4:17-5: 21).

Terceiro, somos exortados a um caminhar consistente com relação à família e aos relacionamentos sociais que pertencem à ordem da criação (Ef 5:22-6: 9).

(Verso 1). Por causa do seu testemunho da graça de Deus aos gentios, e da grande verdade do mistério – crentes judeus e gentios formados em um corpo, e unidos a Cristo como Cabeça – o apóstolo tinha sofrido perseguição e prisão. Ele usa os seus sofrimentos por causa da verdade como um motivo para exortar os crentes a andarem como dignos dos seus grandes privilégios. O nosso caminhar deve ser compatível com o nosso chamamento. Para, então, lucrar com essas exortações temos de ter uma compreensão clara do nosso chamamento. No primeiro capítulo da epístola temos apresentado o chamamento segundo os conselhos de Deus antes da fundação do mundo, sem referência a quão distante foi de fato cumprido no tempo ou realizado em nossa alma. É propósito de Deus que os crentes sejam “santos e irrepreensíveis diante Dele em amor” para o Seu deleite e glória. Em Efésios 2 vemos como Deus operou para trazer este chamamento à real existência neste mundo com vistas ao seu pleno cumprimento nas eras vindouras.

Duas grandes verdades estão contidas no chamamento de Deus: primeira, que os crentes são formados em um corpo do qual Cristo é o Cabeça; segunda, que eles “juntamente sejam edificados para morada de Deus em Espírito”. Além disso, aprendemos na epístola o presente propósito de Deus nessas duas grandes verdades. Com relação à igreja, vista como o corpo de Cristo, lemos que Seu corpo é “a plenitude Daquele que cumpre tudo em todos” (Ef 1:23). Novamente, no verso 13 deste capítulo, lemos “da estatura completa de Cristo”; e em Efésios 3:19 lemos da “plenitude de

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Deus”. É, então, o propósito de Deus de que, como o corpo de Cristo, a igreja deva expor todas as excelências morais que formam o belo caráter de Cristo como Homem – a Sua plenitude. Então, como a casa de Deus, a igreja deve expor a santidade, graça e amor de Deus – a Sua plenitude.

Este, então, é o grande privilégio para o qual somos chamados – para representarmos Cristo expondo a Sua excelência, e tornarmos Deus conhecido na plenitude da Sua graça.

Em Efésios 3 aprendemos que a condição apropriada da alma para compreender a grandeza do nosso chamamento somente é possível quando Cristo vive no coração pela fé, e quando Deus “opera em nós”. Se Cristo tiver Seu lugar em nosso coração consideraremos um grande privilégio estar aqui para expor o Seu caráter. Se Deus operar em nós, teremos prazer em testemunhar para a glória da Sua graça.

Cristo está no céu como um Homem glorificado, o nosso Cabeça ressuscitado, e o Espírito Santo, uma Pessoa divina, está na terra vivendo no meio dos crentes. Quando compreendemos a glória de Cristo e a grandeza da Pessoa que está vivendo em nós, isso nos fará andar de um modo digno.

(Versos 2, 3). Nos versos dois e três o apóstolo resume o caminhar que é digno do nosso chamamento. Se andarmos na compreensão dos nossos privilégios de representar Cristo, e como estando na presença do Espírito, seremos marcados por essas sete qualidades – humildade, mansidão, longânime, paciência, amor, unidade e paz.

O sentimento consciente de estar diante do Senhor e na presença do Espírito deve levar inevitavelmente a humildade e mansidão. Se tivermos os nossos irmãos diante de nós, podemos procurar fazer algo de nós mesmo, mas com Deus diante de nós compreendemos a nossa insignificância. Em Sua presença seremos marcados pela humildade que não pensa em si, e pela mansidão que dá lugar a outros.

A humildade e a mansidão que não faz nada para si levam à longanimidade e paciência com os outros. Podemos descobrir de vez em quando que outros não são sempre humildes e mansos, e isso exigirá longanimidade. Podemos ter de sofrer rejeições e insultos, e ter paciência com aqueles que agem deste modo. Mas somos avisados de que a paciência deve ser exercida em amor. É possível ter paciência com muitos com espírito orgulhoso que trata um irmão ofensor com desprezo. Se tivermos de estar em silêncio, que seja com o amor que chora pela conduta indigna.

Além disso, devemos usar a diligência para guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz. É importante distinguir a unidade do corpo e a unidade do Espírito. A unidade do corpo é formada pelo Espírito Santo que une os crentes a Cristo e uns aos outros como membros de um corpo. Esta unidade não pode ser tocada. Há também “um Espírito” que é a fonte de todo pensamento correto, palavra e ato, para que, no corpo, uma mente possa prevalecer – a mente do Espírito.

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É esta unidade do Espírito que devemos usar de diligência para guardar. Foi verdadeiramente dito: “Andar segundo o Espírito pode ser feito individualmente; mas para a unidade do Espírito deve haver o andar com outros”.

Compreendendo que somos membros de “um corpo” veremos que não devemos andar simplesmente como indivíduos isolados, mas como relacionados uns aos outros em um corpo, e, como tal, devemos usar diligência para que possamos ser controlados por uma mente – a mente do Espírito. Esta unidade do Espírito não é simplesmente uniformidade de pensamento, nem uma unidade alcançada por acordo, ou por concessões mútuas. Tais unidades podem perder completamente a mente do Espírito.

Nos primeiros dias da igreja vemos o abençoado resultado dos crentes terem a mente do Espírito. Desses santos lemos que foram cheios do Espírito, o resultado é que eram de “um coração” e “uma alma”. É evidente que esta unidade do Espírito não foi guardada. Sem embargo, o Espírito ainda está aqui, e a mente do Espírito ainda é uma, por isso, a exortação ainda permanece de que, na compreensão da nossa qualidade de membro de um corpo, devemos tentar guardar a unidade do Espírito. O único modo de manter esta unidade do Espírito é que cada um julgue a carne. Se permitirmos a carne em nossos pensamentos, palavras e caminhos, ela fará entrar ao mesmo tempo um elemento dissonante. Foi dito: “O princípio da carne é cada homem por si mesmo. Isto não traz a unidade. Na unidade do Espírito é cada homem pelos outros”.

Além disso, devemos usar de diligência para guardar a unidade do Espírito “pelo vínculo da paz”. A carne é sempre arrogante e pronta para brigar com outros com os quais pode não concordar. Se não pudermos concordar quanto à mente do Espírito, vamos pacientemente buscar a Palavra de Deus sob a orientação do Espírito em espírito de paz. Se dois crentes não forem de uma mesma mente é evidente que a um, ou a ambos, falta a mente do Espírito, e o perigo consiste em que eles podem brigar. Quão necessário então é que a diligência para guardar a unidade do Espírito deva ser levada a cabo no espírito de paz que nos une. Alguém disse: “Aquilo que vem do Espírito é sempre um. Por que nem sempre concordamos? Porque a nossa própria mente opera. Se tivéssemos somente aquilo que aprendemos da Escritura, todos nós seríamos um” (J.N.D.).

(Versos 4-6). A pergunta importante surge naturalmente: Qual é a única mente do Espírito que devemos procurar guardar? Ela aparece diante de nós nos versos quatro a seis. A única mente do Espírito é exposta nessas sete unidades, um corpo, um Espírito, uma esperança, um Senhor, uma fé, um batismo e um Deus e Pai de todos. Essas são as grandes verdades que o Espírito está aqui para tornar verdadeiras à nossa alma e mantê-las. Andando uns com os outros na luz dessas verdades, guardaremos a unidade do Espírito, ao passo que qualquer negativa prática, ou separação delas, será uma brecha na unidade do Espírito. Assim ali surgem diante de nós nesses versos as diferentes esferas nas quais um caminhar segundo o Espírito deve ser expresso. Este caminhar é visto em

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conexão com um corpo, um Espírito e uma esperança, no âmbito da vida, em conexão com o Senhor no âmbito da confissão cristã, e em conexão com Deus no âmbito da criação.

É de máxima importância termos os nossos pensamentos assim formados pela palavra de Deus para que discirnamos esses três ambitos da unidade que de fato existem sob os olhos de Deus, e assim não apenas teremos diante de nós o que Deus tem diante Dele, mas também seremos capazes de formar uma estimativa justa do solene afastamento pela cristandade da verdade.

Primeiramente, o apóstolo diz: “Há um só corpo e um Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação”. Aqui tudo é real e vital; é o âmbito da vida. O um corpo é formado pelo um Espírito e se move para um fim – a glória. Esta unidade está aos cuidados de Deus. Não pode ser guardada pela nossa diligência, ou quebrada pelo nosso fracasso, mas podemos perder a uma mente do Espírito pela negação dessas grandes verdades na prática. Isso, infelizmente, tem sido feito na confissão cristã, pois à luz da grande verdade de que “há um só corpo” – não muitos – todos os diferentes corpos de crentes formados na cristandade estão condenados, enquanto o “um Espírito” condena todos os arranjos humanos pelos quais o Espírito é deixado de lado. Além disso, a igreja professa instalou-se no mundo e se tornou o mundo, e por essa razão é uma negação da esperança celestial do nosso chamamento.

Em segundo lugar, há um âmbito mais amplo que inclui todos que confessam a Cristo como Senhor (sejam verdadeiros ou falsos em sua confissão). Este é o âmbito da confissão marcado por uma autoridade, o Senhor, uma confissão da crença, a fé, e para a qual somos apresentados pelo um batismo. Ao Senhor está conectada a autoridade e a administração. O reconhecimento de que há um Senhor encerraria do lado de fora a autoridade do homem, e excluiria toda ação independente. Se admitimos que há “um só Senhor” não podemos admitir que seja certo para uma assembleia ignorar a disciplina verdadeiramente exercida em nome do Senhor em outra assembleia. Por essa razão mais uma vez, pela independência, podemos perder a uma mente do Espírito pela negação prática de haver “um só Senhor”.

Em terceiro lugar, há um âmbito mais amplo do que todos – o âmbito da criação. Há um Deus que é Pai, a fonte “de todos”. Além disso, é bom para nós sabermos que, qualquer que seja o poder das coisas ou seres criados, Deus está “sobre todos”. Ainda mais, Deus está realizando Seus planos “por todos”, assim Deus pode dizer: “Quando passares pelas águas estarei contigo, e quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti” (Is 43:2). Finalmente, Deus opera no crente para efetuar o Seu propósito nele. O reconhecimento dessas grandes verdades não apenas nos levaria a rejeitar as infiéis teorias evolutivas dos homens, mas nos estimularia a agir corretamente em todas as circunstâncias e relacionamentos da vida que estão conectados à ordem da criação.

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Infelizmente na grande confissão cristã de hoje vemos a prática negativa em cada um desses âmbitos. O um Espírito é colocado de lado pelos planos humanos, o um Senhor é deixado de lado pela independência, e o um Deus é deixado de lado pelos raciocínios infiéis.

Nos versos seguintes, as exortações parecem ter relação especial com cada um desses âmbitos. Primeiramente, somos exortados como membros de um corpo nos versos 7 a 16; em segundo lugar, somos exortados quanto à nossa conduta como possessão de um Senhor nos versos 17 a 32; finalmente, somos exortados quanto aos relacionamentos da vida com relação ao âmbito da criação em Efésios 5 a Efésios 6:9.

(Verso 7). Tendo nesses versos introdutórios estabelecido a base para um caminhar digno do chamamento, o apóstolo passa a falar da provisão que foi feita para que o crente possa andar corretamente em relação ao primeiro âmbito, o um corpo, e crescer à semelhança de Cristo o Cabeça.

Primeiro, o apóstolo fala do dom da graça: “Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo”. Em contraste com aquilo que é comum a todos, sobre os quais o apóstolo esteve falando, há aquilo que é dado a “cada um”. O um Espírito de verso 4, e o um Senhor de verso 5, encerra do lado de fora a independência; o “cada um” do verso 7 mantém a nossa individualidade. Enquanto cada membro tem a sua função especial, todos servem a unidade e o bem de todo o corpo. No corpo natural as funções dos olhos e da mão são diferentes, contudo, ambos agem em comum para o bem e unidade do corpo. A “graça” é o serviço especial com o qual cada um foi favorecido. Não é necessariamente um dom distinto, mas a todos uma medida da graça é dada para que cada um possa servir a outros em amor. Esta graça é segundo a medida na qual Cristo a deu.

(Verso 8). Segundo, para promover o progresso e crescimento espiritual, o apóstolo se refere a dons distintos. O assunto é introduzido apresentando Cristo como subindo ao alto, pois esses dons vêm do Cristo triunfante e exaltado. Uma alusão é feita à história de Baraque para ilustrar o poder soberano de Cristo na outorga dos dons (Jz 5:12). Quando Baraque livrou Israel do cativeiro, levou presos aqueles por quem eles tinham sido levados presos. Assim Cristo triunfou sobre todo o poder de Satanás, e, tendo livrado o Seu povo do poder do inimigo, está exaltado no alto e dá dons ao Seu povo.

(Versos 9, 10). Dois versos parentéticos são introduzidos para expor a grandeza da vitória de Cristo. Na cruz Ele foi ao lugar mais baixo no qual o pecado pode colocar um homem. Do lugar mais baixo onde, como o nosso Substituto, foi feito pecado, ascendeu ao lugar mais alto no qual um homem pode ser colocado – à destra de Deus.

(Verso 11). Tendo levado cativo o cativeiro quebrando o poder do inimigo que nos manteve em escravidão, Cristo age com poder e faz de outros instrumentos do Seu poder. Não é simplesmente que Ele dá dons e nos deixa para repartir os dons entre nós,

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mas Ele dá a certos homens para exercer os dons. Não é que Ele dê o apostolado, mas Ele dá os apóstolos, e assim é com todos os dons. Aqui, então, não é mais a graça dada a “cada um”, mas a “alguns” deu para exercerem o dom. Primeiramente, Ele deu os apóstolos e profetas, e a igreja está edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas. O fundamento foi posto e eles morreram, embora ainda tenhamos o benefício desses dons nos escritos do Novo Testamento.

Os dons restantes, evangelistas, pastores e doutores, são para a edificação da igreja quando o fundamento foi posto. Esses dons continuam durante todo o período da história da igreja na terra. O evangelista vem primeiro como o dom pelo qual as almas são trazidas para o âmbito da bênção. Tendo sido trazidos para a igreja, os crentes vêm para baixo dos dons dos pastores e doutores. O evangelista traz a Cristo para diante do mundo: o pastor e o doutor trazem a Cristo para diante do crente. O pastor trata com as almas individuais: o doutor expõe a Escritura. Foi dito: “Uma pessoa pode ensinar sem ser pastor, mas você dificilmente pode ser pastor sem ensinar em certo sentido. Os dois estão estreitamente conectados, mas você não pode dizer que são a mesma coisa. O pastor não dá simplesmente a comida como o doutor; ele toma conta, ou pastoreia as ovelhas, as guia para aqui e ali, e cuida delas”.

Deverá ser notado que não há nenhum dom miraculoso mencionado nesta passagem. Eles dificilmente estariam no lugar em uma porção que fala da provisão do Senhor para a igreja. Os milagres e os sinais foram dados no começo para chamar a atenção dos judeus para a glória e exaltação de Cristo e o poder do Seu Nome. Os judeus rejeitaram este testemunho e os sinais e milagres cessaram. O amor do Senhor pela Sua igreja, contudo, nunca pode cessar, e os dons que testemunham do Seu amor continuam, como está escrito: “Porque nunca ninguém odiou a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja” (Ef 5:29).

(Verso 12). Tendo falado dos dons, o apóstolo agora traz para diante de nós três grandes objetivos para os quais os dons foram dados. Eles foram dados, primeiro, para o aperfeiçoamento dos santos, ou estabelecimento de cada crente individual na verdade. Em segundo lugar, foram dados para a obra do ministério, que incluiria toda forma de serviço. Em terceiro lugar, foram dados “para a edificação do corpo de Cristo”. A bênção individual e a obra do ministério têm em vista a edificação do corpo de Cristo. Todo dom, seja evangelista, pastor ou doutor, só é corretamente exercido quando a edificação do corpo de Cristo é mantida em vista.

(Verso 13). Nos versos seguintes, aprendemos mais precisamente o que o apóstolo quer dizer com o aperfeiçoamento dos santos. Ele não está falando da perfeição que será a porção do crente na glória da ressurreição, mas daquele progresso espiritual na verdade, e no conhecimento do Filho de Deus, que levam à unidade e à nossa formação como cristãos plenamente desenvolvidos aqui em baixo.

A fé da qual o apóstolo fala é todo o conjunto da verdade cristã. A unidade não é uma unidade de um acordo comum como em um credo, ou aliança formada pelos

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expedientes dos homens, mas uma unidade de mente e coração produzida pela apreensão da verdade conforme ensinada por Deus em Sua palavra. Conectado à fé está o conhecimento do Filho de Deus, pois nEle Deus é tornado totalmente conhecido e a verdade vividamente exposta. Qualquer coisa que toca a fé, ou de algum modo deprecia a glória do Filho de Deus, impedirá o aperfeiçoamento dos santos. O conhecimento da fé como revelada na palavra, e exposta no Filho de Deus, conduz o homem à maturidade quando levado a toda a plenitude e perfeição em Cristo como Homem. A figura apresenta a ideia de cristãos totalmente desenvolvidos e em pleno vigor. A passagem parece ter em vista todos os santos, pois ela não fala de varões perfeitos, mas de “varão perfeito”, transmitindo o pensado de que todos os cristãos expõem em unidade um varão completamente novo. A medida da estatura do varão perfeito é nada menos do que a medida da estatura completa de Cristo. “A estatura completa” apresenta o pensado de perfeição. “O varão perfeito” é nada menos do que a exposição nos crentes de todas as excelências morais de Cristo. A passagem toda contempla os crentes como uma corporação que expõem a plenitude de Cristo. Além disso, o padrão exposto por nós não é apenas que cada traço de Cristo deve ser visto nos santos, mas que eles devem ser vistos em perfeição. Pode-se dizer que isto nunca será alcançado nos santos aqui em baixo. De fato é assim mesmo, mas Deus não pode expor em nós um padrão que seja escasso da perfeição vista em Cristo. Fazemos bem em ter cuidado de buscar nos evadir do que Deus coloca diante de nós, e de nos desculpar das nossas falhas dizendo que o padrão de Deus é impossível de ser obtido.

(Verso 14). O efeito desta estatura completa seria que não deveríamos ser mais bebês no conhecimento cristão, propensos pela ignorância a sermos “levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente”. Infelizmente, há aqueles na confissão cristã que, com habilidade e astúcia, estão prontos para enganar aquele que não está firmado na verdade, e por trás da sua doutrina errada há geralmente o “engano fraudulento”. Sempre que na história do povo de Deus houve uma negação definida de qualquer grande verdade, ou qualquer erro especial proposto acerca da Pessoa de Cristo, geralmente se descobrirá que por trás de uma determinada doutrina incorreta há um sistema completo de erro.

(Verso 15). Em tempos de conflito há um grande perigo de sermos “levados em roda” dando ouvidos a uns e outros. Por toda volta vemos uma cristandade misturada e sem vida, enfraquecida diante da desilusão. A nossa única proteção contra todo erro será encontrada, não no conhecimento do erro, mas em “seguir a verdade em amor”, e ter um Cristo vivo diante da nossa alma. Se Cristo for o Objeto das nossas afeições, toda verdade quanto a Cristo será mantida em amor, com a consequência de que cresceremos nEle em todas as coisas, e nos tornaremos moralmente como Aquele que detém as nossas afeições.

Além disso, Aquele em cuja semelhança e conhecimento crescemos é o Cabeça do corpo. Toda a sabedoria, o poder e a fidelidade estão no Cabeça. Tudo pode estar em desordem na cena em volta de nós, mas se conhecemos a Cristo como o Cabeça

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compreenderemos que nenhum poder do inimigo, e nenhum fracasso dos santos, pode tocar a sabedoria e o poder do Cabeça.

(Verso 16). No décimo sexto verso passamos do que o Senhor está fazendo graciosamente através dos dons para aprenderemos o que Ele mesmo está fazendo como o Cabeça do corpo. Aquilo que cada parte supre não é o exercício do dom, pois os dons não são dados a todos, mas todo cristão verdadeiro tem algo a dar do Cabeça para contribuir com os demais membros do corpo. No corpo humano, se todos os membros estiverem sob o controle direto da cabeça todos os membros funcionarão em conjunto para o bem do todo. De maneira parecida, se cada membro do corpo de Cristo estiver sob o controle direto de Cristo o corpo aumentaria e iria se edificar em amor.

Assim, no decorrer da passagem, há a graça dada a todos (verso 7), há os dons especiais (verso 11), e há aquilo que é suprido pelo Cabeça a cada membro para abençoar todo o corpo (verso 16).

Também podemos notar o grande lugar que o amor tem no âmbito cristão. Devemos mostrar paciência de um para com outro em amor (verso 2), devemos seguir a verdade em amor (verso 15), e a edificação do corpo deve ser em amor (verso 16).

Toda a passagem apresenta um belo quadro do que a igreja deve ser aqui em baixo segundo a mente do Senhor. Não podemos formar nenhum conceito verdadeiro da cristandade, ou da igreja, olhando para a cristandade, ou pelo que acontece sob o Nome de Cristo na terra. Para se obter qualquer pensamento verdadeiro sobre a igreja, segundo a mente do Senhor, devemos abstrair os nossos pensamentos de tudo em volta, e ter diante de nós a verdade como apresentada na palavra e exposta no Filho de Deus.

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6 - O CAMINHAR DO CRENTE AO CONFESSAR O SENHOR

Efésios 4:17-32

(Versos 17-19). O apóstolo nos exortou a um caminhar que convém aos crentes em relação à assembleia. Ele agora nos exorta ao caminhar individual que está acontecendo com aqueles que confessam o Senhor em um mundo mau. Ele testifica a nós no Senhor, cujo Nome confessamos, que daqui por diante não devemos andar mais como os outros gentios. Isto leva o apóstolo a apresentar um quadro breve, mas vívido da condição do mundo gentio não convertido. Tal caminhar em vaidade apresenta e segue as coisas vãs. O entendimento deles está entenebrecido, sendo inteiramente ignorantes de Deus e da vida que é segundo Deus. Eles são ignorantes de Deus porque o coração deles está endurecido pela vida má que vivem, por isso se entregaram à lascívia. Assim aprendemos que é a vida má que os homens vivem que endurece o coração; que o coração endurecido entenebrece o entendimento; e que o entendimento entenebrecido torna os homens vítimas de toda vaidade.

(Versos 20-24). Em contraste com a vida vã e ignorante do mundo gentio, o apóstolo apresenta a vida que vem do conhecimento da verdade como está em Jesus. Foi chamada a atenção de que o apóstolo não diz “como está a verdade em Cristo”. Isso teria apresentado os crentes e a posição deles perante Deus em Cristo. Ele usa o nome pessoal, Jesus, para trazer para diante de nós um caminhar prático direito como exposto em Seu caminhar pessoal. Como alguém disse: “Ele diz ‘Jesus’, então, porque está pensando, não no lugar que temos Nele, ou nos resultados da Sua obra por nós, mas simplesmente no Seu exemplo, e Jesus é o Nome pertencente a Ele enquanto aqui no mundo”.

A verdade exposta em Jesus foi a verdade quanto ao novo homem, pois Ele é a expressão perfeita do novo homem que traz o caráter do próprio Deus – “verdadeira justiça e santidade”. A verdade, então, como está em Jesus não é a reforma do velho homem, nem a mudança da carne para o novo, mas a introdução do novo homem, que é uma criação inteiramente nova que leva o caráter de Deus. O primeiro homem não foi justo, mas inocente. Ele não tinha nenhuma maldade e nenhum conhecimento do bem e do mau. O velho homem tem o conhecimento do bem e do mau, mas escolhe a injustiça e se corrompe segundo as suas luxúrias enganosas. O novo homem tem o conhecimento do bem e do mau, mas é justo, e por isso refuga o mal.

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A verdade que aprendemos em Cristo foi exposta em Jesus. A verdade que nos foi ensinada e aprendidas Nele é que, na cruz, fomos despojados do velho homem e vestidos do novo. À luz desta grande verdade estamos em nosso caminhar diário, como uma coisa presente, sendo renovados no espírito do nosso sentido. Em vez da mente da carne, que é inimizade contra Deus, temos uma mente renovada marcada pela justiça e santidade, que recusa o mau e escolhe o bem. O novo homem não significa o velho homem mudado, mas um homem inteiramente novo, e a “renovação” refere-se à vida diária do novo homem.

O apóstolo não diz que devemos despojar o velho homem, mas diz: “ao trato passado, vos despojeis do velho homem”. O velho homem foi tratado na cruz, e a fé aceita o que Cristo fez. Não temos de morrer para o pecado, mas nos reconhecer como tendo morrido para o pecado na Pessoa do nosso Substituto.

(Verso 25). Nos versos restantes do capítulo o apóstolo aplica esta verdade à nossa conduta individual. Devemos deixar os feitos do velho homem, e nos vestir do caráter do novo homem. Devemos deixar a mentira e dizer a verdade, lembrando-nos de que somos membros uns dos outros. Sendo assim, verdadeiramente se diz: “Se minto para o meu irmão é como se eu enganasse a mim mesmo”. Vemos, também, quanto a grande verdade de que os crentes são membros de um corpo tem ligação prática com os menores detalhes da vida.

(Verso 26). Devemos ter cuidado com o pecado da ira. Existe o ficar corretamente irado, mas tal raiva é a indignação contra o mal, não contra o malfeitor, e por trás de tal ira há o pesar por causa do mal. Por isso lemos do Senhor que Ele considerou os líderes maus da sinagoga “com indignação [ira], condoendo-se da dureza do seu coração” (Mc 3:5). A raiva da carne sempre tem em vista o ego; ela não é o pesar por causa do mal, mas o ressentimento contra aquele que foi ofensivo. Esta raiva carnal contra o malfeitor só levará à amargura que ocupa a alma com pensamentos da vingança. Aquele que entretém tais pensamentos encontra-se continuamente aflito, e neste sentimento deixa o sol se pôr sobre a sua ira. A raiva contra o mal levará ao pesar que encontra a sua fonte no voltar-se a Deus, onde a alma encontra descanso.

(Verso 27). Somos advertidos que atuando na carne, seja na raiva ou de algum outro modo, abrimos a porta para o diabo. Pedro, por causa da sua autoconfiança, deu lugar ao diabo para conduzi-lo a negar o Senhor.

(Verso 28). A vida do novo homem está em completo contraste com o velho, para que aquele caracterizado por furtar de outros se torne contribuidor com aquele que precisa.

(Verso 29). Na conversação não devemos falar daquelas coisas que corromperiam a mente dos ouvintes, mas antes falar daquelas que edificam e ministram um espírito de graça nos ouvintes.

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(Versos 30, 31). Na primeira parte do capítulo a exortação para um caminhar digno flui da grande verdade de que os crentes coletivamente são a morada do Espírito Santo. Aqui somos lembrados de que como indivíduos somos selados pelo Espírito. Deus nos marcou como propriedade Sua por causa do dia da redenção nos dando o Espírito. Devemos ter cuidado de não entristecer o Espírito Santo por permitirmos a amargura, o calor de paixão, a ira e o clamor barulhento, a linguagem injuriosa e a malícia.

(Verso 32). Em contraste com a má conversação e a malícia da carne, devemos ser gentis, benignos e misericordiosos uns com os outros conscientes do modo que Deus atuou em relação a nós nos perdoando por causa de Cristo.

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7 - O CAMINHAR DO CRENTE COMO UM FILHO DE DEUS

Efésios 5: 1-21

(Verso 1). Nesta porção da Epístola os crentes são vistos, não apenas como os que confessam que há um Deus, mas os que têm um relacionamento com Deus como Seus filhos. Toda a passagem nos exorta a caminharmos como filhos. O “pois”, do primeiro verso conecta esta porção com o último verso do capítulo precedente. Deus atuou com respeito a nós em bondade e graça, e agora convém a nós atuarmos com respeito aos outros como Deus atuou com respeito a nós. Por isso, somos exortados a sermos imitadores de Deus “como filhos amados”. Não devemos procurar imitar a Deus para nos tornar filhos, mas porque somos filhos. Caminhar como filhos “amados” implica em um caminhar governado pela afeição. Um servo pode caminhar corretamente em obediência legal, mas se torna um filho ao caminhar em obediência amorosa. Não somos servos, mas filhos.

Não podemos e não somos chamados para imitar Deus em Sua onipotência e onipresença, mas somos exortados a atuar moralmente como Ele. Tal caminhar será caracterizado pelo amor, luz e sabedoria; e em todas essas coisas podemos ser imitadores de Deus. O apóstolo, nos versos que seguem, desenvolve o caminhar em acordo com esses belos traços morais. Primeiro, ele fala do caminhar em amor em contraste com um mundo marcado pela lascívia (versos 1-7). Em segundo lugar, ele nos exorta a andar “como filhos da luz” em contraste com aqueles que vivem nas trevas (versos 8-14). Finalmente, ele nos exorta a andar “prudentemente”, “não como néscios, mas como sábios” (versos 15-20).

(Verso 2). Primeiramente, como filhos, somos exortados a caminhar em amor. Imediatamente Cristo é colocado diante de nós como o grande exemplo deste amor. Nele vemos o devotado amor que deu a si mesmo pelos outros, e esta devoção chega a Deus como um sacrifício perfumado. Tal amor vai muito além das exigências da lei que requer que um homem ame o seu próximo como a si mesmo. Cristo fez mais, pois Ele deu a si mesmo a Deus por nós. É este amor que nos é pedido imitar, um amor que nos levaria a nos sacrificar por nossos irmãos. Tal amor em sua pequena medida, assim como o amor infinito de Cristo, subirá como um doce aroma para Deus. O amor que levou a assembleia dos Filipenses a atender as necessidades do apóstolo foi para Deus “como cheiro de suavidade e sacrifício agradável e aprazível a Deus” (Fp 4:16-18).

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(Verso 3). O amor que é devotado para o bem de outros fecharia do lado de fora a impureza que satisfaz a carne à custa de outros, e a avareza que busca o seu próprio ganho. O nosso caminhar deve ser como convém a santos. O padrão da nossa moralidade não é simplesmente o caminhar que torna um homem decente, mas aquele que o torna santo. Quando é uma questão de expressar o amor é como “filhos amados”; quando é de rejeitar a impureza é como “convém aos santos”.

(Verso 4). Além disso, a alegria passageira que o mundo encontra na torpeza, parvoíce e chocarrice são impróprias ao santo. A alegria tranquila e profunda do louvor, não a risada do tolo, convém aos santos (Ec 7:6).

(Verso 5). Aqueles que são caracterizados pela impureza, avareza e idolatria não perderão apenas as bênçãos do reino vindouro de Cristo e de Deus, mas por serem desobediente ao Evangelho estarão sob a ira de Deus. Em contraste com este atual mundo mau, o reino de Deus será uma cena na qual o amor prevalece, e do qual a impureza está excluída. Aquilo que será verdadeiro no reino vindouro deve marcar a família de Deus hoje.

(Verso 6). Somos avisados para não sermos enganados com palavras vãs. Evidentemente, então, os homens com a sua filosofia e ciência justificarão a lascívia e procurarão lançar um glamour poético e romântico sobre o pecado para dar a ele uma aparência atraente. Sem embargo, por causa dessas coisas a ira de Deus vem sobre os filhos da desobediência. “Os filhos da desobediência” são aqueles que ouviram a verdade, mas a rejeitaram. De um modo especial os judeus do tempo de Paulo eram, como uma classe, os filhos da desobediência, mas isso está se tornado rapidamente a verdade sobre a cristandade. Os homens, contudo, serão julgados pelos seus feitos maus, embora o pecado gritante seja a desobediência ao Evangelho.

(Verso 7). Com esses tais não devemos ter nenhuma comunhão. Os filhos de Deus e os filhos da desobediência não podem ter nada em comum.

(Versos 8-10). Em segundo lugar, uma vez que fomos trevas, agora somos luz no Senhor. Não é que simplesmente estávamos nas trevas, como ignorantes de Deus, mas éramos caracterizados por uma natureza que é trevas, pois ela encontrava seu prazer em tudo o que é contrário a Deus. Agora somos participantes da natureza divina, e esta natureza é marcada pelo amor e luz. Por isso, o apóstolo pode dizer, não apenas que somos luz, mas que somos luz no Senhor. Tendo vindo para debaixo do controle do Senhor, viemos para a luz do que é ajustado a Ele. Amaremos o que Ele ama.

Sendo luz no Senhor devemos caminhar como os filhos da luz, um caminhar que se mostrará “em toda a bondade e justiça e verdade”, pois essas coisas são o fruto da luz. Assim andando aprovaremos em nossas circunstâncias o que é aceitável para o Senhor, e é uma reprovação para as obras infrutíferas das trevas. Alguém disse: “Um filho que observa o seu pai aprende o que é agradável a ele, e sabe o que é prazeroso a

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ele nas circunstâncias que se apresentam”. É desse modo que aprovamos “o que é agradável ao Senhor”.

(Versos 11-13). Já fomos avisados com relação a termos comunhão com os maus obreiros. Agora somos avisados com relação à comunhão com os obreiros das trevas; devemos antes reprová-los. Falar das coisas que a carne pode fazer em secreto é vergonhoso. A luz de Cristo reprova a maldade que ela expõe. Na cristandade as pessoas não podem cometer publicamente pecados grosseiros que são abertamente cometidos no paganismo. A luz nos cristãos é muito forte. Infelizmente quando a luz declina os pecados leves novamente se tornam mais públicos e abertos.

(Verso 14). O incrédulo está morto para Deus. O verdadeiro crente, se não prestar atenção a essas exortações, pode cair em uma condição de sono na qual se parece com um homem morto. Em tal condição ele não lucrará com a luz de Cristo. A exortação a tal pessoa é: “Desperta tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá [dará a luz]”. Foi bem dito: “É o próprio Cristo que é a fonte, a expressão, e a medida da luz para a alma que esta acordada”.

(Versos 15-17). Em terceiro lugar, somos exortados a caminharmos sabiamente. Aprendendo dos catorze primeiros versos que a verdadeira medida de um caminhar correto é a natureza de Deus de luz e amor, devemos lucrar com este ensino, e caminhar “prudentemente, não como néscios, mas como sábios”. Em um mundo mau o cristão precisará de sabedoria, mas esta sabedoria é com respeito ao que é bom. Deste modo, em outra epístola, o apóstolo pode escrever: “Sejais sábios no bem, mas simples no mal” (Rm 16:19). A nossa sabedoria será vista em remir o tempo, e compreender qual seja a vontade do Senhor. Os dias são maus, e se o mal pudesse ter o seu lugar ali nunca seria um tempo ou oportunidade para aquilo que é agradável ao Senhor. Para fazermos o bem devemos, por assim dizer, nos apoderar da ocasião do inimigo. Entendendo a vontade do Senhor, muitas vezes descobriremos que um dia mau pode ser convertido em uma ocasião para fazer o bem. Neemias, através de oração e jejum, compreendeu a vontade do Senhor a respeito do Seu povo, para que quando a oportunidade viesse, na presença do rei Artaxerxes, se apoderasse da ocasião (Ne 1:4; Ne 2:1-5). É possível se ter um grande conhecimento do mau e, contudo, ser ignorante da vontade do Senhor, e assim ainda ser “imprudente”.

(Versos 18-21). A sabedoria divinamente dada conduzirá à sobriedade em contraste com a excitação natural. O mundo pode produzir alguma excitação passageira que leva aos excessos da maldade, mas o cristão tem uma fonte de alegria interior, o Espírito Santo. Tendo o Espírito somos exortados a sermos cheios do Espírito. Se o Espírito não fosse afligido, e fosse permitido controlar os nossos pensamentos e afetos, o resultado seria uma companhia de pessoas completamente separadas do mundo e seus excitamentos, que se alegraria em uma vida da qual o mundo não tem conhecimento, e na qual não encontra nenhum prazer. Esta vida encontra a sua expressão no louvor que flui de corações que se deleitam no Senhor. Ela é uma vida que discerne o amor e a

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bondade de Deus em “tudo”, conquanto tentadora as circunstâncias possam ser. Ela, por isso, dá graças sempre em tudo a Deus o Pai em nome do nosso Senhor Jesus Cristo. Nisso, como em tudo mais para o cristão, Cristo é o nosso exemplo perfeito, pois, quando rejeitado por Israel apesar de todas as Suas poderosas obras, “Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra” (Mt11:25).

Além disso, se cheios do Espírito, deveríamos ser marcados por este espírito de humildade e brandura que nos levaria a nos submeter uns aos outros no temor de Cristo, em contraste com a presunção da carne que preserva a si mesma e a sua liberdade de atuar sem se importar com a consciência de outros.

Assim o crente cheio do Espírito será marcado: primeiramente, por um espírito de louvor ao Senhor; em segundo lugar, pela submissão com ação de graças em tudo o que o Pai permite; em terceiro lugar, pela submissão a outros no temor de Cristo.

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8 - O CAMINHAR DO CRENTE NO CONTEXTO DOS RELACIONAMENTOS

NATURAIS

Efésios 5:22 - 6:9

Nesta porção da Epístola somos exortados quanto à conduta que convém aos cristãos no contexto dos relacionamentos terrenos. O apóstolo fala primeiro do mais íntimo dos relacionamentos, esposas e maridos (Ef 5:22-33), então dos filhos e pais (Ef 6:1-4), e finalmente dos empregados e patrões (Ef 7:5-9).

Como indivíduos temos Cristo como Senhor, e as responsabilidades de cada relacionamento devem ser levados a cabo no temor do Senhor. A esposa deve ser sujeita a seu próprio marido “como ao Senhor” (verso 22); os filhos devem obedecer aos seus pais “no Senhor” (Ef 6:1); os pais devem treinar os seus filhos na “admoestação do Senhor” (Ef 6:4); os empregados devem estar “servindo como ao Senhor” (Ef 6:7); e os patrões devem lembrar-se de que têm um Senhor no céu.

1 - Esposas e maridos

(Versos 22-25). As esposas cristãs são exortadas a submeterem-se a seus maridos em tudo e os maridos cristãos são exortados a amar suas esposas. As exortações especiais sempre têm em vista a qualidade particular na qual o indivíduo citado provavelmente falhará. A mulher é propensa a quebrar a submissão, e por isso é lembrada de que o marido é o cabeça da esposa, e que o seu lugar deve ser de sujeição. O homem é mais propenso do que a mulher de falhar no afeto; por isso, os maridos são exortados a amarem suas esposas.

Para enfatizar a sujeição da esposa e o afeto do marido, o apóstolo se desvia para falar de Cristo e a igreja, e aprendemos a grande verdade de que os relacionamentos terrenos foram formados segundo o modelo do relacionamento celestial. Quando Deus a princípio estabeleceu o relacionamento entre o homem e a esposa, foi segundo o modelo que então existia somente em Seus conselhos, Cristo e a igreja. Assim, de um lado, o relacionamento de Adão e Eva um com o outro, como marido e esposa, se torna a primeira figura na Escritura de Cristo e a igreja; e, por outro, Cristo e a igreja são usados para ilustrar a verdadeira atitude dos maridos e esposas um

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com o outro. A esposa deve ser sujeita ao seu marido como o cabeça, assim como Cristo é o Cabeça da igreja, e é o Salvador desses corpos mortais. Mais uma vez, se o marido é exortado a amar sua esposa, é segundo o modelo de Cristo e a igreja, pois deve amar “assim como Cristo amou a igreja”.

Pode-se pensar que o padrão estabelecido é muito elevado, e que as afirmações de que as esposas devem ser sujeitas a seus maridos em tudo, e que os maridos devem amar suas esposas assim como Cristo amou a igreja, são muito fortes; mas que esposa se importaria de ser sujeita a um marido que a amou assim como Cristo amou a igreja, e que marido deixaria de amar uma esposa que foi sempre sujeita como a igreja deveria ser a Cristo?

O coração do apóstolo está tão cheio de Cristo e a igreja que toma a ocasião através dessas exortações práticas para trazer diante de nós um sumário muito vívido dos relacionamentos eternos de Cristo e Sua igreja, o qual fazemos bem tomar conhecimento.

Ele nos lembra de que “Cristo é o Cabeça da igreja”; que “Cristo também amou a igreja”; e que Cristo alimenta e cuida da igreja. Ele é o Cabeça para guiar, Ele tem o coração para amar, e a mão para provê-la em toda necessidade. Em meio a todas as dificuldades que temos de enfrentar, o nosso recurso infalível é encontrado em buscar em Cristo o nosso Cabeça, sabedoria e orientação. Em todas as nossas tristezas, e no fracasso do amor humano, podemos contar com o amor invariável de Cristo que excede o conhecimento; e em todas as nossas necessidades podemos contar com o Seu cuidado e provisão.

Além disso, o amor de Cristo é apresentado diante de nós de um modo triplo. Há aquilo que o Seu amor fez no passado, o que está fazendo no presente, e o que ainda fará no futuro. No passado Cristo amou a igreja e deu a Si mesmo por ela. Ele não apenas desistiu de uma coroa real, das glorias do reino e da tranquilidade terrena para trilhar um caminho de humilhação e tristeza, mas finalmente deu a Si mesmo. Mais Ele não pode dar.

Ele não apenas morreu por nós no passado; Ele está vivendo por nós no presente. Hoje Ele está santificando e limpando a igreja pela lavagem com água pela palavra. Ele está diariamente ocupado conosco, separando-nos deste mundo mau e praticamente nos limpando da carne. Esta obra abençoada é levada a cabo pela aplicação da palavra aos nossos pensamentos, palavras e caminhos.

Vamos nos lembrar de que Ele não tornou primeiro a igreja digna de ser amada, então a amou e deu a Si mesmo por ela. Ele a amou como ela era, então deu a Si mesmo por ela, e agora trabalha para torná-la apropriada a Ele. Deus agiu muito abençoadamente segundo o mesmo princípio com relação a Israel. Jeová pode dizer a Israel: “E, passando eu junto de ti, vi-te a revolver-te no teu sangue... mas estavas nua e descoberta. E, passando eu junto de ti, vi-te, e eis que o teu tempo era tempo de amores;

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e estendi sobre ti a aba do meu manto, e cobri a tua nudez... e entrei em aliança contigo... e te enfeitei com adornos, e te pus braceletes nas mãos e um colar ao redor do teu pescoço... e uma coroa de glória na cabeça... e foste formosa em extremo... e correu de ti a tua fama entre os gentios, por causa da tua formosura, pois era perfeita, por causa da minha glória que eu pusera em ti” (Ez 16:6-14). O tempo da necessidade de Israel foi o tempo do amor de Deus. Assim Cristo amou a igreja em toda a sua profunda necessidade, e deu a Si mesmo por ela; então, tendo-a possuído, Ele a limpa e a torna apropriada a Ele. Não estamos satisfeitos se alguém que amamos não for do nosso gosto, e Cristo nunca estará satisfeito até que a igreja esteja perfeitamente apropriada para Ele.

(Verso 27). No futuro, em Seu amor, Ele apresentará a igreja a Ele mesmo “igreja gloriosa sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível”. A presente santificação do verso 26 está conectada à apresentação em glória do verso 27: isto é, a condição na qual seremos apresentados a Cristo na glória, como igreja “santa e irrepreensível”, é a medida da nossa santificação hoje mesmo. Enquanto aqui não alcançaremos o padrão da glória, porém não há outro padrão. Além disso, a condição na glória não é apenas o padrão da nossa santificação, mas, como perfeitamente mostrado em Cristo, é o poder da nossa santificação.

“A palavra”, nos revelando o que somos e nos enchendo com Cristo na glória, é o poder para a purificação. A palavra e o efeito santificante de Cristo na glória são reconciliados pelo Senhor em Sua oração: “Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade”, e o Senhor acrescenta, “me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade” (Jo 17:17,19). O Senhor mesmo se colocou à parte na glória como um objetivo para o Seu povo na terra, e quando estamos ocupados com Ele somos mudados a Sua semelhança de glória em glória.

Infelizmente a cristandade não conseguiu completamente andar à luz destas grandes verdades acerca de Cristo e a igreja. Na prática ela deixou de dar a Cristo o Seu lugar como Cabeça, e consequentemente falhou em sujeitar-se a Ele. Por isso, dificilmente ficamos surpresos com o fracasso em manter os relacionamentos da vida, formados segundo o modelo de Cristo e a igreja, conduzindo, da parte da mulher, a uma revolta comum contra a sujeição ao homem, e, da parte do homem, à deslealdade e falta de amor pela mulher. A ruína da cristandade, o espalhamento dos crentes que dividiu a cristandade em inumeráveis seitas, pode ser rastreada em duas maldades: os cristãos professos abandonaram o lugar de sujeição a Cristo que pertence à assembleia e usurparam do lugar de autoridade que pertence ao Cabeça.

O começo dessas maldades foi constatado na assembleia em Corinto. Ali os cristãos estabeleceram líderes no lugar de Cristo, e então se constituíram em partidos sujeitos aos seus escolhidos líderes. A maldade que teve seu começo em Corinto está plenamente desenvolvida na cristandade, onde o clericalismo praticamente deixou de lado a Chefia de Cristo, e a independência tomou o lugar da sujeição a Cristo.

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(Versos 28, 29). Tendo apresentado tão abençoadamente a verdade de Cristo e a igreja, o apóstolo volta às suas exortações práticas. Os homens deveriam amar suas esposas como os seus próprios corpos, pois tão realmente eles são um que o marido pode ver sua esposa como a ele mesmo. Como tal, o homem se deleitará em alimentar sua esposa, satisfazendo toda a sua necessidade, e estimando-a como alguém que é muito precioso. Novamente o apóstolo apresenta a Cristo, e Seu cuidado pela igreja, como o modelo perfeito para o cuidado do marido por sua esposa. Cristo não apenas morreu por nós no passado, e está tratando conosco no presente com vista à eternidade, mas enquanto vamos ao longo do nosso caminho, Ele zela e cuida muito de nós, nos tratando como a Si mesmo. Porque “somos membros do Seu corpo, da Sua carne, e dos Seus ossos”, Ele pode dizer a Saulo de Tarso, nos dias em que ele expirava ameaça e matança contra os santos: “Saulo, Saulo, por que Me persegues”. Alguém verdadeiramente disse: “A carne de um homem é ele mesmo, e Cristo cuida Dele mesmo ao cuidar da igreja”. Além disso: “Cristo nunca falha, e não pode haver uma carência na igreja de Cristo sem haver uma resposta para ela no coração de Cristo”.

(Versos 31, 32). O homem que ama sua esposa ama a si mesmo e deve deixar outros relacionamentos para ser juntado à sua esposa. O apóstolo cita Gênese, mas ele expressamente afirma que este é um grande mistério que tem em vista Cristo e a igreja. Cristo, como Homem, deixou todos os relacionamentos com Israel segundo a carne para assegurar a Sua igreja.

(Verso 33). Sem embargo, diz o apóstolo, enquanto procura entrar nessas verdades eternas do grande mistério de Cristo e a igreja, que cada marido procure amar sua esposa como a ele mesmo, e a esposa perfeitamente reverencie seu marido.

2 - Filhos e pais

(Versos 1-3). Foi comentado que todas as exortações na epístola aos Efésios começam com aqueles a quem a submissão é devida. As exortações especiais são precedidas pela exortação geral para submeter-se um ao outro (verso 21).

As exortações à submissão são especialmente dirigidas às esposas, aos filhos e empregados, as esposas são exortadas mediante os maridos, os filhos mediante os pais, e os empregados mediante os patrões. Esta ordem parecia fixar grande importância ao princípio da submissão. Alguém disse: “O princípio de submissão e obediência é o princípio de cura da humanidade”. O pecado é desobediência e entrou no mundo pela desobediência. Desde então, a essência do pecado tem sido o homem fazendo a sua própria vontade e se recusando a ser sujeito a Deus. Uma esposa insubmissa tornará um lar miserável; um filho insubmisso será uma criança infeliz; e um mundo não sujeito a Deus deve ser um mundo infeliz e miserável. Não antes que o mundo seja conduzido à sujeição a Deus, sob o reinado de Cristo, as suas tristezas serão curadas. A cristandade

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ensina esta sujeição, e o lar cristão deve antecipar algo da bem-aventurança de um mundo submisso sob o reinado de Cristo.

A obediência dos filhos deve, contudo, ser “no Senhor”. Isto supõe um lar governado pelo temor do Senhor, e por isso segundo o Senhor. A citação do Velho Testamento, que conecta a promessa da benção à obediência aos pais, mostra o quanto Deus considerou a obediência sob a lei. Embora na cristandade a bênção seja de ordem celestial, contudo, nas formas governamentais de Deus o princípio permanece verdadeiro de que honrar os pais trará bênção.

(Verso 4). Os pais não devem criar os seus filhos segundo o princípio da lei que poderia levá-los a dizer ao filho: “Se você não for bom, Deus o castigará”; nem devem eles criá-los segundo os princípios do mundo que não têm nenhuma referência a Deus. Se eles forem treinados simplesmente com motivos mundanos, para ajustá-los ao mundo, não devemos ficar surpresos se eles forem levados pelo mundo. Além disso, os pais devem procurar não irritar e repelir os seus filhos, e assim destruírem a sua influência para o bem perdendo a sua afeição. As suas afeições somente serão conservadas, e os filhos guardados do mundo, quando eles forem criados na doutrina e admoestação do Senhor. Eles devem ser treinados quanto ao Senhor, e como o Senhor os criaria.

3 - Empregados e patrões

(Versos 5-9). Para o empregado cristão ser obediente a um patrão terreno, será necessário um coração que é correto com Cristo. Somente como servo de Cristo, que busca de coração fazer a vontade de Deus, será capaz de servir ao seu patrão terreno “de boa vontade”. O que é feito de boa vontade ao Senhor terá a sua recompensa.

Os patrões cristãos devem ser governados pelos mesmos princípios que os empregados cristãos. Em todo o seu tratamento com seus empregados o patrão deve lembrar-se de que ele tem um Mestre no céu. Ele deve tratar os seus empregados com a mesma “boa vontade” que espera dos empregados. Além disso, ele deve deixar de ameaçar, não usando da sua posição de autoridade para proferir ameaças.

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9 - O CONFLITO

Efésios 6: 10-21

A epístola aos Efésios fecha com uma passagem notável que expõe o conflito cristão. Este conflito não é o exercício da alma pelo qual podemos passar na busca por manter a verdade. A passagem considera que conhecemos e apreciamos as maravilhosas verdades da epístola, e o conflito resulta da busca para reter e manter essas verdades em vista de todo poder oponente.

No decorrer da epístola o apóstolo nos revela o nosso chamamento celestial, a herança da glória para a qual estamos predestinados, o mistério da igreja, e a vida prática compatível com essas grandes verdades. Se, contudo, estivermos predeterminados a entrar em nossas bênçãos celestiais e andar em coerência com elas, descobriremos simultaneamente que todo o poder de Satanás está ordenado contra nós. Em seu ódio por Cristo, o diabo procurará nos despojar da verdade, ou, não conseguindo fazer isto, procurará trazer desonra ao Nome de Cristo e descrédito à verdade causando avaria moral entre aqueles que mantêm a verdade. Quanto mais temos da verdade, maior a desonra a Cristo se colapsamos por cedermos à carne. Por isso, devemos estar preparados para enfrentar o conflito, e quanto mais verdade temos maior será o conflito.

Em vista deste conflito, três coisas são trazidas diante de nós: primeiramente, a fonte da nossa força; em segundo lugar, o caráter do inimigo com quem lutamos; em terceiro lugar, a armadura com a qual somos providos para nos capacitar a resistir os assaltos do inimigo.

1 - O poder do Senhor

(Verso 10). O apóstolo dirige primeiro os nossos pensamentos para o poder que é por nós antes de descrever o poder que é contra nós. Para enfrentar este conflito devemos sempre nos lembrar de que toda a nossa força está no Senhor. Por isso Paulo diz: “Fortalecei-vos no Senhor, e na força do Seu poder”. A nossa dificuldade muitas vezes é de compreender que não temos nenhuma força em nós mesmos. Naturalmente gostaríamos de ser fortes em números, fortes em dons, ou fortes no poder de algum líder vigoroso, mas a nossa verdadeira e única força está “no Senhor, e na força do Seu poder”.

A oração do primeiro capítulo traz para diante de nós o poder da força de Deus. Cristo foi ressuscitado dos mortos e está a direita de Deus nos lugares celestiais, “acima

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de todo principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro”. Agora, diz o apóstolo, esta é “a sobre-excelente grandeza do Seu poder sobre nós, os que cremos”. O poder que é contra nós é muito maior do que o nosso poder, mas o poder que é por nós é um sobre-excelente poder – ele sobrepuja todo poder que é oposto a nós. Além disso, Aquele que tem o supremo poder é Aquele que possui “as riquezas incompreensíveis”, e nos ama com um amor que “excede todo conhecimento” (Ef 3:8, 19).

No passado, Gideão foi preparado para o conflito primeiro por lhe ser dito: “o Senhor é contigo”; então foi exortado para “ir nesta tua força”. A família de Gideão podia ser a mais pobre em Manasses, e ele mesmo o menor na casa do seu pai, mas o que importava a pobreza de Gideão ou a sua fraqueza se o Senhor, que é rico e poderoso, era por ele e com ele? (Jz 6:12-15). Assim, em uma época posterior, Jônatas e o moço que levava sua armadura puderam enfrentar uma grande multidão na força do Senhor, pois, disse Jônatas: “Para com o Senhor nenhum impedimento há de livrar com muitos ou com poucos” (1 Sm 14:6).

Assim nós, em nossos dias, com o fracasso por trás de nós, a fraqueza entre nós, e toda corrupção em volta de nós, precisamos de um sentimento renovado da glória do Senhor, do poder do Senhor, das riquezas do Senhor, do amor do Senhor, e, com o Senhor adiante de nós, avançarmos “na força do Seu poder”.

À parte de Cristo não temos nenhum poder. O Senhor pode dizer: “Sem Mim nada podeis fazer”, mas, diz o apóstolo: “Posso todas as coisas Naquele que me fortalece” (Fp 4:13). É, então, somente quando nossa alma é mantida na comunhão secreta com Cristo que seremos capazes de nos beneficiar do poder que está Nele. Sendo isso assim, todo o poder de Satanás será dirigido para colocar a nossa alma para fora do toque com Cristo, e para procurar nos impedir de nos alimentarmos Dele e de andarmos na comunhão com Ele. Pode ser que ele procurará nos tirar da comunhão com Cristo pelos cuidados e deveres da vida diária, ou por doença e fraqueza do corpo. Ele pode procurar usar as dificuldades do caminho, as contendas no meio do povo de Deus, ou os insultos insignificantes que temos de enfrentar, para deprimir o espírito e afligir a alma. Se, contudo, ao em vez de permitirmos que todas essas coisas surjam entre a nossa alma e o Senhor, as fizermos ocasiões para nos aproximar do Senhor, aprenderemos o que é ser forte no Senhor, enquanto compreenderemos a nossa própria fraqueza; e aprenderemos a bem-aventurança da palavra: “Lança o teu cuidado sobre o Senhor, e ele te susterá” (Sl 55:22).

2 - O poder do inimigo

(Versos 11, 12). Primeiramente, somos exortados para nos lembrar de que não é contra carne e sangue que lutamos. O diabo de fato pode usar homens e mulheres para oporem-se ao cristão e negarem a verdade, mas temos de olhar além dos instrumentos e

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discernir aquele que os está usando. Uma mulher, em carne e sangue, se opôs a Paulo em Filipos, mas Paulo discerniu o mau espírito que moveu a mulher, e no poder do Nome de Jesus Cristo entrou em conflito com o espírito mal, ordenando a ele que saísse dela (At 16:16-18).

Um verdadeiro discípulo, em carne e sangue, se opôs ao Senhor quando Pedro disse, em vista dos sofrimentos do Senhor: “Senhor tem compaixão de Ti”, mas o Senhor, conhecendo o poder de Satanás por trás do instrumento, pode dizer: “Arreda-te de mim, Satanás” (Mt 16:22, 23).

O conflito, então, é contra Satanás e suas hostes, qualquer que seja o instrumento usado. Os principados e potestades são seres espirituais em uma posição de controle com poder para executar a vontade deles. Eles podem ser seres bons ou maus; aqui eles são seres maus, e a maldade deles parece tomar uma dupla direção. Em relação ao mundo são os soberanos das trevas deste século; em relação aos cristãos são “as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”. Este século está nas trevas, na ignorância de Deus, e esses seres espirituais controlam e dirigem as trevas do paganismo, da filosofia, da ciência falsamente assim chamada, e da infidelidade, bem como da superstição, das corrupções e modernismo da cristandade. O cristão é trazido à luz, e abençoado com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais. A oposição ao cristão toma, então, um caráter religioso através dos seres espirituais que procuram despojá-lo da verdade do seu chamamento celestial, iludindo-o por um caminho que é uma negação da verdade, ou em conduta que é inconsistente com ela.

Além disso, somos instruídos quanto ao caráter da oposição. Ele não é simplesmente a perseguição, ou a negação direta da verdade; é uma oposição muito mais sutil e perigosa descrita como “as astutas ciladas do diabo”. Uma astúcia é algo que parece justa e inocente, e, contudo, desvia a alma do caminho da obediência. Com que frequência, nestes dias de confusão, o diabo procura conduzir aqueles que têm a verdade por algum caminho, que no começo se desvia tão pouco do curso verdadeiro que levantar qualquer objeção poderia parecer excesso de escrúpulo. Há uma pergunta simples que cada um pode fazer a nós mesmos através da qual toda astúcia pode ser descoberta: “Se prossigo neste curso para onde ele me conduzirá?”

Quando o diabo sugeriu ao Senhor que deveria converter as pedras em pão para satisfazer as Suas necessidades, ele considerou uma coisa muito inocente para fazer. Sem embargo, era uma astúcia que O teria conduzido para fora do caminho da obediência a Deus, e uma negação à palavra que diz: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus”.

Para desviar aos crentes Gálatas da verdade do Evangelho, o diabo usou a lei como uma astúcia para laçá-los na presunção legal. Para desviar os santos Coríntios da verdade da assembleia, o diabo usou o mundo como uma astúcia para conduzi-los à autoindulgência carnal. Para desviar os santos Colossenses da verdade do mistério, o

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diabo usou a astúcia das “palavras sedutoras”, da “filosofia” e da superstição para enlaçá-los na exaltação religiosa. Essas ainda são as astúcias que temos de enfrentar.

3 - A armadura de Deus

(Verso 13). Neste conflito a armadura humana não ajudará. Somente podemos resistir ao diabo na “armadura de Deus”. Os recursos humanos tais como habilidade natural e força natural de caráter não serão de nenhum proveito neste conflito. A confiança em tal armadura pode nos levar a nos ocuparmos com o inimigo, mas só sofreremos derrota. O apóstolo Pedro descobriu isso quando, com confiança em sua própria força, entrou no conflito, somente para fracassar diante de uma criada. Deus de fato pode usar a capacidade humana e o conhecimento em Seu serviço; aqui, contudo, não é uma questão do que Deus usa em Seu serviço, mas antes do que Deus nos deu para usarmos no conflito com a astúcia do inimigo. O inimigo que temos de enfrentar não é a carne e o sangue, e as armas da nossa batalha não são carnais (2 Co 10:4).

Além disso, neste conflito necessitamos da “toda armadura de Deus”. Se uma parte estiver falhando, Satanás será suficientemente rápido para descobrir a falta e nos atacar no lugar vulnerável.

Além disso, a armadura tem de ser “tomada”. De modo nenhum se conclui que porque somos cristãos pusemos a armadura. A armadura é fornecida a nós como cristãos, mas fica conosco o toma-la. Não basta olhar para a armadura, ou admirá-la, ou ser capaz de descrevê-la; devemos “tomar toda a armadura de Deus”.

Então aprendemos que a armadura é necessária em virtude do “dia mau”. Em um sentido geral todo o período de ausência de Cristo é para o crente um “dia mau”. Há, contudo, ocasiões quando o inimigo faz ataques especiais ao povo de Deus, procurando despojá-los de verdades especiais. Tais ataques constituem para o povo de Deus um dia mau. Para nos opor a eles temos de tomar toda a armadura de Deus. É demasiado tarde estar pondo a armadura no meio da luta.

Precisamos da armadura para “resistir” e para “ficar firme”. Tendo ficado firme resistindo a ofensiva do inimigo em qualquer particular ataque, ainda precisaremos da armadura para estar na defensiva. Quando tivermos “feito tudo”, ainda precisamos da nossa armadura para “ficar firme”. É muitas vezes quando obtemos algum sinal de vitória que estamos em grande perigo, pois é mais fácil ganhar um ponto de vantagem do que mantê-lo. A armadura que tendo sido “tomada” não pode com segurança ser posta de lado enquanto o mal espiritual estiver nos lugares celestiais e nós estivermos no cenário das astúcias de Satanás.

Se incluirmos a oração como uma das partes da armadura, há sete peças distintas da armadura.

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(Verso 14). 1. A Cinta da Verdade. Devemos estar com os nossos lombos cingidos com a verdade. Espiritualmente isto fala dos pensamentos e afeições serem mantidos em ordem pela verdade. Aplicando a verdade a nós, e assim julgando todos os pensamentos e movimentos do coração pela verdade, não apenas estaremos livres da obra interior da carne, mas teremos as nossas afeições formadas segundo a verdade, e assim teremos a mente humilde com nosso conjunto de afeições nas coisas do alto.

Portanto a primeira peça da armadura fortalece o homem interior e regula os nossos pensamentos e afeições, e não a nossa conduta, o nosso falar e caminhar. Muitas vezes fazemos grandes esforços para preservar uma conduta exterior correta de um para com outro enquanto, ao mesmo tempo, estamos desatentos quanto aos nossos pensamentos e afeições. Se tivermos de resistir ás sutilezas do inimigo devemos começar sendo corretos interiormente. O Pregador nos adverte quanto ao que dizemos com nossos lábios, quanto ao que nossos olhos consideram, e quanto ao caminho que nossos pés trilham, mas em primeiro lugar ele diz: “Sobretudo o que deve guardar, guarda o teu coração” (Pv 4:23-27). Tiago nos adverte: “Mas, se tendes amarga invejar e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade” (Tg 3:14). A contenda entre irmãos começa no coração, e tem a sua raiz na “amarga inveja”. Quando a verdade refreia as afeições, a contenda, a amarga inveja e outras maldades da carne serão julgadas, e quando são julgadas seremos capazes de resistir à sutileza do diabo no dia mau.

Infelizmente muitas vezes o dia mau nos encontra despreparados. Descuidamos-nos de colocar a cinta, e assim na presença de alguma provocação súbita atuamos na carne, e quando injuriado injuriamos novamente, e ao em vez de sofrer pacientemente ameaçamos. Vamos procurar usar a cinta, e assim andar com os pensamentos e afeições habitualmente mantidos em restrição pela verdade.

2. A Couraça da Justiça. Com a segunda peça da armadura passamos à nossa conduta prática. A justiça prática é expressa no cristão por um caminhar em coerência com a posição e relacionamentos nos quais está colocado. Não podemos estar diante do inimigo com uma consciência que nos acusa de maldade injusta em nossos caminhos e associações. Não podemos ser pela verdade que na prática negamos. Colocando a couraça, e assim andando na justiça prática, seremos destemidos quando chamados para enfrentar o inimigo no dia mau.

(Verso 15). 3. Os Pés Calçados. A justiça prática conduz a um caminhar em paz. O Evangelho da paz que recebemos nos prepara para andarmos em paz em meio ao desassossegado mundo. Quando o coração é governado pela verdade, e os nossos caminhos estão praticamente de acordo com a verdade, andaremos por este mundo com paz na alma, e seremos capazes de encontrar o dia mau em um espírito de paz e calma. Não seremos indiferentes ao tumulto no mundo, mas não seremos excitados e cheios da inquietude quanto a eventos passageiros. Dos homens naturais a Escritura diz: “Não

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conheceram o caminho da paz” (Rm 3:17), mas aqueles cujos pés estão calçados com a paz são marcados pela paz mesmo quando em conflito.

(Verso 16). 4. O Escudo da Fé. Por mais necessário que seja ter os pensamentos e as afeições mantidos em ordem pela cinta da verdade, e a nossa conduta preservada na justiça pela couraça, e estar caminhando em paz por este mundo, algo mais é necessário para o conflito. Precisamos, “sobretudo” ou “antes de tudo”, do escudo da fé para nos proteger dos dardos inflamados do maligno. Aqui a fé não é o recebimento do testemunho de Deus acerca de Cristo pelo qual somos salvos, mas a fé e confiança diária no Deus que nos dá a promessa de que Ele é por nós. Sob a pressão de múltiplas provas que veem sobre nós, seja pelas circunstâncias, por indisposição física, privação, ou em relação a muitas dificuldades que constantemente surgem no meio do povo de Deus, o inimigo pode procurar cobrir de nuvens as nossas almas com a horrível sugestão de que apesar de tudo Deus está indiferente e não é por nós. Naquela noite escura quando os discípulos tiveram de enfrentar a tempestade no lago, e o golpe das ondas no barco, Jesus estava com eles, contudo dormia como que indiferente ao perigo. Esta foi uma prova de fé. Infelizmente, desprotegidos pelo escudo da fé, um dardo inflamado atravessou a armadura deles, e surgiu o terrível pensamento de que, afinal, o Senhor não gostava muito deles, pois O acordaram e disseram: “Mestre, não se Te dá que pereçamos?” (Mc 4:37, 38).

Um dardo inflamado não é um desejo súbito de satisfazer alguma concupiscência que vem da carne em nós; antes é uma sugestão diabólica de fora que poderia levantar uma dúvida quanto à bondade de Deus. Satanás lançou um dardo inflamado em Jó quando, em sua terrível provação, sua esposa sugeriu que ele devia “amaldiçoar a Deus, e morrer”. Jó extinguiu este dardo inflamado com o escudo da fé, pois disse: “Receberemos bem de Deus, e não receberíamos o mal?” (Jó 2:9, 10). O diabo ainda usa as circunstâncias de tentação da vida em sua diligência de sacudir a nossa confiança em Deus e nos desviar de Deus. A fé usa essas mesmas circunstâncias para nos atrair para mais perto de Deus e assim triunfar sobre o diabo. Mais uma vez, Satanás pode procurar instilar algum pensamento abominável na mente, alguma sugestão infiel que queima na alma e obscurece a mente. Tais pensamentos não são extintos por raciocínios humanos, ou recorrendo a “sentimentos” ou “experiências”, mas pela fé simples em Deus e em Sua palavra.

(Verso 17). 5. O Capacete de Salvação. Tendo tomado o capacete capacitará o crente a levantar sua cabeça corajosamente na presença do inimigo. Resistindo pela fé os dardos inflamados do diabo, descobrimos em nossas circunstâncias de tentação que Deus é por nós, e que Ele nos salva, não apenas das provações, mas, assim como os discípulos na tempestade, pelas provações. Somos assim capacitados para avançar com coragem e energia conscientes de que, embora sejamos fracos em nós mesmos, Deus é o Deus da nossa salvação, e que Cristo é capaz de nos salvar perfeitamente (Hb 7:25).

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6. A Espada do Espírito. É-nos dito claramente que esta peça da armadura é a palavra de Deus, e, contudo, não é apenas a palavra, mas a palavra usada no poder do Espírito. Esta é uma grande arma ofensiva. Até que tenhamos colocado a armadura que regula os nossos pensamentos íntimos, o nosso caminhar exterior, e nos estabeleçamos na confiança em Deus, não estaremos em uma condição correta para manejar a espada do Espírito. Quando a palavra de Deus é usada no poder do Espírito contra o inimigo ela é irresistível. Quando tentado pela sutileza do diabo, o Senhor em todas as ocasiões resistiu o inimigo com a palavra de Deus usada no poder do Espírito. O “está escrito” exposto derrotou o diabo. A palavra de Deus que habita em nós é a nossa força, pois o apóstolo João pode dizer aos mancebos: “Sois fortes, e a palavra de Deus está em vós, e já venceste o maligno” (1 Jo 2:14).

Alguém disse: “O nosso negócio é atuar segundo a palavra, venha o que vier; o resultado mostrará que a sabedoria de Deus estava naquilo”. Aquele que usa a palavra pode ser fraco, e ter pouca inteligência natural, mas ele descobrirá que a palavra de Deus é vívida e poderosa, e que através dela toda sutileza do inimigo é exposta.

(Versos 18-20). 7. A Oração. Tendo descrito a armadura, e nos exortado a tomá-la, o apóstolo encerra com a exortação à oração. A armadura, embora perfeita, não é dada para nos tornar independentes de Deus. Ela só pode ser corretamente usada no espírito de dependência Daquele que a proveu.

O Senhor nos exorta a “orar sempre, e nunca desfalecer” (Lc 18:1); e Paulo exorta “que os homens orem em todo o lugar” (1 Tm 2:8). Aqui somos exortados a orar “em todo tempo”. A oração é a atitude constante da dependência de Deus. Em todas as circunstâncias, em todos os lugares, e sempre, devemos orar. A oração, contudo, pode se tornar uma mera expressão formal da necessidade; por isso, está ligada à “súplica”, que é o clamor sincero da alma consciente da sua necessidade. Deve estar, além disso, sob a orientação do Espírito, e ser acompanhado da fé que está atenta à resposta de Deus. Quando Pedro estava na prisão, “a igreja fazia contínua oração por ele a Deus”, mas aparentemente a igreja até certo ponto falhou em “vigiar”, visto que quando Deus respondeu a sua oração, foi só com dificuldade que creram que Pedro estava livre. Além disso, a oração no Espírito incluirá “todos os santos”, e ainda descerá até a necessidade de um servo especial. Por isso o apóstolo exorta os santos Efésios não apenas a orar “por todos santos”, mas também por ele.

Em todas as eras os santos precisaram da armadura do Deus, mas durante esses dias finais, quando “as trevas deste mundo” se tornam mais profunda, “a astúcia do diabo” aumenta, e a cristandade está voltando para o paganismo e a filosofia, quão profundamente importante é tomar toda a armadura de Deus “para que possais resistir no dia mau, e, havendo feito tudo, ficar firme”.

Vamos então ficar firmes:

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1 - Tendo os nossos lombos cingidos com a verdade, e assim sermos mantidos intimamente corretos no pensamento e na afeição.

2 - Tendo a couraça da justiça, para que sejamos consistentes em toda a nossa prática.

3 - Tendo os nossos pés calçados com a preparação do Evangelho da paz, para que andemos em paz no meio de um mundo de discórdia, luta e confusão.

4 - Tomando o escudo da fé, para que andemos na confiança diária em Deus.

5 - Tomando o capacete da salvação, e assim compreender que Deus está fazendo todas as coisas operarem para o nosso bem e salvação.

6 - Tomando a espada do Espírito, pela qual podemos enfrentar todo ataque sutil do inimigo.

7 - Finalmente, “orando sempre”, para que possamos usar a armadura no espírito de constante dependência de Deus.