Ministério da Agricultura e Florestas Gabinete de Segurança Alimentar

A ESCALA DE EXPERIÊNCIA EM

INSEGURANÇA ALIMENTAR (FIES)

COMO MEDIR A INSEGURANÇA ALIMENTAR NA ERA DOS ODS E AS PERSPECTIVAS DE USO DA FIES EM ANGOLA

CARLO CAFIERO, PHD

PROJECT MANAGER,

FAO STATISTICS DIVISION, ROME

29 DE AGOSTO 2019 INE, LUANDA

Do ODM-1 aos ODS-2: muito mais do que a continuação de uma campanha de advocacia

• ODM-1: Erradicar a pobreza extrema e a fome • Meta 1.C: Reduzir pela metade a proporção de pessoas que sofrem de fome no

período entre 1990 e 2015 • Indicador 1.8 Prevalência de crianças menores de 5 anos com baixo peso • Indicador 1.9 Proporção da população abaixo do nível mínimo de consumo de energia na

dieta

• ODS-2: Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhorar a nutrição e promover a agricultura sustentável • Meta 2.1: Até 2030, acabar com a fome e assegurar o acesso de todas as

pessoas, em particular dos pobres e as pessoas em situação vulnerável, incluindo as crianças, a alimentos seguros, nutritivos e suficientes durante todo o ano • Indicador 2.1.1 Prevalência da desnutrição • Indicador 2.1.2 Prevalência de insegurança alimentar moderada ou grave na população,

com base na Escala de Experiência de Insegurança Alimentar (FIES)

O quadro de monitoramento dos ODS

• Mais amplo, mais ambicioso e potencialmente mais eficaz • 242 indicadores, muitas metas visam "zero" ou "100%", sem deixar

ninguém para trás, com as autoridades nacionais no comando.

• Mais exigente em termos de métodos, padrões e ferramentas • Muitas novas áreas de interesse, que ainda não fazem parte dos sistemas

estatísticos nacionais

• A comparabilidade dos indicadores entre os países é essencial para garantir uma agregação significativa

• Os indicadores devem ser oportunos, relevantes, escaláveis e confiáveis

• Cada indicador tem um “guardião” da metodologia apropriada, para garantir a correta aplicação e comparabilidade entre países

Medir a insegurança alimentar de uma forma comparável, oportuna, fiável e comparável entre países • Os indicadores dos ODM não atendiam totalmente às novas demandas

• Malnutrição: • Crianças com baixo peso, em grande parte insuficiente, uma vez que confunde

desnutrição aguda e crônica

• Novos indicadores: baixa estatura, baixo peso (desnnutrição aguda)+ excesso de peso em crianças, anemia nas mulheres em idade reprodutiva, baixo peso ao nascer, aleitamento materno exclusivo, excesso de peso entre adolescentes e adultos

• Acesso a alimentos: • Prevalência da Malnutrição (PoU): apenas nível nacional, atraso de 2 a 3 anos,

insuficientemente preciso para capturar níveis muito baixos (<5%)

• Tínhamos alternativas? • FCS, HDDS: falta de uma base para garantir a comparabilidade entre países

• HFIAS, ELCSA: falta de comparabilidade entre países

• HHS: Relevante apenas para insegurança alimentar grave

Definir a insegurança alimentar como construção experiencial

• A pesquisa etnográfica iniciada no início dos anos 90 por Kathy L. Radimer e outros investigadores da Universidade Cornell, no estudo de famílias pobres nas áreas rurais dos EUA, demonstrou como a insegurança alimentar sempre envolve uma série de condições e experiências que, se não abordadas, tendem a evoluir em padrões de crescente gravidade.

• As experiências típicas vão desde a preocupação em conseguir comida, a comprometer a qualidade e a variedade do alimento ingerido, a reduzir o tamanho das porções ou a saltar refeições, até a possibilidade de sentir fome e não conseguir comer e / ou ir para dias inteiros sem comida.

Definir a insegurança alimentar como construção experiencial

• Enquanto a frequência com que tais condições podem ocorrer diferem entre países, culturas e condições socioeconômicas, seus domínios são verdadeiramente universais.

• Como diferentes condições e experiências podem variar em termos de sua “gravidade”, os dados obtidos por meio de entrevistas diretas sobre a ocorrência autorreferida de tais condições e experiências poderiam, em princípio, ser usados para formar uma escala de medição. Foi assim que as escalas de segurança alimentar baseadas em experiência foram definidas pela primeira vez

Definir a insegurança alimentar como construção experiencial

• Em 1995, o Módulo de Pesquisa de Segurança Alimentar Domiciliar (HFSSM) foi aplicado em uma amostra nacionalmente representativa da Pesquisa de População nos EUA na População Continuada e as respostas às 18 perguntas que ele compreendeu, analisadas através das lentes do modelo de medição de Rasch para obter, pela primeira vez, uma medida adequada da gravidade da condição de insegurança alimentar, definida como a incapacidade das famílias ou dos indivíduos para ter acesso a alimentos, devido à falta de dinheiro ou outros recursos comumente dedicados a ele.

A família das escalas de segurança alimentar baseadas na experiência

• Após a experiência bem-sucedida dos EUA, onde o HFSSM tem sido regularmente usado desde 1995 para produzir relatórios anuais sobre insegurança alimentar na população americana e avaliar o impacto do SNAP (Programa de Assistência Nutricional Complementar), escalas semelhantes foram usadas em muitos outros países nas Américas, na Ásia e na África

• Desde então, versões do HFSSM, do ELCSA ou do HFIAS foram testadas em quase todos os países do mundo por ONGs, instituições acadêmicas e instituições governamentais, muitas vezes em caráter piloto, mas também em grandes pesquisas (por exemplo, NNS em Filipinas, FSNSP em Bangladesh)

A Historia da FIES

Household Food Insecurity

Access Scale HFIAS

U.S. Household Food Security Survey Module

USA, 1995; Canada, 2004

ELCSA Guatemala, 2011

EMSA Mexico, 2008

EBIA Brazil, 2004

FIES Um padrão de referência

global

Colombia Venezuela

A família das escalas de segurança alimentar baseadas na experiência

• Quase invariavelmente, os dados coletados usando essas escalas passaram nos testes estatísticos de validade interna baseados no modelo Rasch e, portanto, mostraram-se adequados para criar escalas nacionais de medidas de segurança alimentar.

• Devido a um problema de identificação que caracteriza todos os modelos estatísticos baseados na regressão logística simples aplicada às variáveis latentes, o que restou a ser abordado até 2012, foi a possibilidade de comparar adequadamente as medidas obtidas em diversos contextos.

A família das escalas de segurança alimentar baseadas na experiência

• Em 2012, a FAO criou o projeto Voices of the Hungry para abordar essa questão

• Com o apoio do Reino Unido e da Bélgica (através do programa de apoio a múltiplos parceiros da FAO - FMM), a Gallup foi contratada para pilotar a FIES (Food Insecurity Experience Scale), um módulo de 8 itens de insegurança alimentar derivado diretamente do HFSSM e da ELCSA. em quatro países da África (também em Angola), usando a já existente Gallup World Poll como veículo em 2013.

• Os resultados positivos da teste de 2013 nos levaram a trazer a aplicaçao para o nível global em 2014, coletando dados do FIES em todos os países (cerca de 150) cobertos anualmente pelo GWP.

A Escala de Experiência em Insegurança Alimentar (FIES) Durante os últimos 12 meses, houve um tempo em que :

1.Esteve preocupado que ficaria sem comida por falta de dinheiro ou outros recursos?

2.Não conseguiu ingerir alimentos saudáveis e nutritivos devido à falta de dinheiro ou de outros recursos?

3.Teve de comer apenas alguns tipos de alimentos por falta de dinheiro ou outros recursos?

4.Teve que saltar alguma refeição porque não havia dinheiro suficiente ou outros recursos para obter comida?

5.Comeu menos do que achou que devia por falta de dinheiro ou outros recursos?

6.Sua casa ficou sem comida por falta de dinheiro ou outros recursos?

7.Estava com fome, mas não comeu porque não havia dinheiro suficiente ou outros recursos para alimentação?

8.Ficou sem comer por um dia inteiro por falta de dinheiro ou outros recursos?

A proposta para o indicador ODS 2.1.2

• Em maio de 2015, os resultados da análise dos dados FIES de 147 conjuntos de dados diferentes obtidos de amostras nacionalmente representativas da população adulta (15 anos ou mais) e os métodos desenvolvidos para definir uma escala de referência FIES global foram apresentados a um grupo de especialistas renomados nos campos de metrologia, testes de educação e medidas de segurança alimentar para revisão por pares.

• Os resultados bem-sucedidos da revisão por pares levaram à finalização do VoH Technical Report No. 1, ue foi compartilhado, em junho de 2015, com os responsáveis de todos os escritórios de estatística do mundo para revisão e comentários.

A proposta para o indicador ODS 2.1.2

• No relatório, descrevemos a análise dos dados coletados por meio do GWP em 147 países e territórios, levando à definição da escala de referência global e dos princípios que destacam a possibilidade de calibrar escalas nacionais em relação às metas internacionais

• Levou-se a proposta, feita em conjunto pela FAO, WFP (PAM) e FIDA ao IAEG-SDG da Comissão de Estatística da ONU, de que o FIES seja considerado como base para compilar um indicador para a Meta 2.1 dos ODS, com base em uma meta internacionalmente comparável que define níveis “moderados ou severos” de insegurança alimentar.

A proposta para o indicador ODS 2.1.2

• Com base nos resultados da consulta realizada pelo Grupo de Interagências e Especialistas sobre ODS, a “Prevalência de insegurança alimentar moderada e grave medida com a FIES” foi incluída na lista de indicadores de ODS para monitoramento global e recebeu classificação de Nível (Grado) 1.

• Posteriormente, a decisão de considerá-lo Nível 1 foi contestada, devido ao fato de que, embora a FAO relatasse dados de 147 países, a maioria dos conjuntos de dados era fornecida pela Gallup e apenas alguns (EUA, Canadá, México, Guatemala e Brasil) eram baseados sobre dados oficiais coletados por instituições nacionais.

A proposta para o indicador ODS 2.1.2

• Os resultados compilados pela FAO para o período de três anos 2014-16 y 2016-18, com base nos dados recolhidos através da pesquisa Gallup World Poll foram partilhados com os institutos nacionais de estatística para validação, solicitando autorização para publicá-los.

• 92 países explicitamente concederam sua aprovação e a prevalência estimada de insegurança alimentar, em níveis moderados ou graves combinados, foi publicada na edição de 2019 do Estado de Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo

Estado de adoption de FIES Países

Usando sua própria escala

nacional de segurança alimentar

baseada na experiência

Bolivia, Brazil, Canada, Colombia, Ecuador, El Salvador, Guatemala, Israel,

Malaysia, Mexico, Philippines, South Korea, USA

13

O FIES tem sido incluído em

pesquisas nacionais regularmente

Chile, Honduras, Indonesia, Jordan, Kenya, Namibia, Pakistan, Panama,

Portugal, Seychelles, Vietnam, Zambia, Sri Lanka, Greece

14

O FIES foi incluído em pesquisas

nacionais

Afghanistan, Armenia, Bahrain, Bangladesh, Belize, Benin,

Botswana, Burkina Faso, Cabo Verde, Chad, Cote d'Ivoire, Dominican

Republic, Eswatini, Ethiopia, Fiji, Ghana, Guinea, Guinea-Bissau, Grenada,

Kiribati, Lesotho, Malawi, Mali, Mauritius, Mozambique, Niger, Nigeria,

Palestine, Russia, Rwanda, Samoa, St. Lucia, Saudi Arabia, Senegal, Sierra

Leone, South Sudan, St Kitts and Nevis, St Vincent and the Grenadines,

Sudan, Togo, Uganda, Vanuatu

42

Os países têm planos para incluir

o FIES em pesquisas nacionais

Azerbaijan, British Virgin Islands, Burundi, Cook Islands, Costa Rica, Egypt,

Gabon, Iraq, Jamaica, Marshall Islands, Mauritania, Micronesia (Federal

State of), Mongolia, Morocco, Nauru, Nepal, Nicaragua, Palau, Paraguay,

Solomon Islands, South Africa, Switzerland, Tanzania, Tokelau, Tonga,

Tuvalu, Ukraine, United Kingdom, Zimbabwe, Maldives, Thailand

31

TOTAL 100

O Futuro do ODS 2.1.2

• A partir de hoje, as escalas de segurança alimentar baseadas na experiência já estão incorporadas em pesquisas nacionais de larga escala em 27 países • 13 fazem uso da sua propria escala

• 14 tem adoptado a FIES

• A FAO coletou dados por meio da pesquisa Gallup World em 150 países

• O FIES foi incluído em pesquisas nacionais em 42 países que decidirão se adotá-lo como um recurso regular

• O apoio técnico para explorar o potencial para a sua adopção foi solicitado por 31 32 países (incluindo Angola)

Desafios

• Estimar o modelo de Rasch, e entender o significado dos parâmetros e o papel da incerteza residual

• As medidas baseadas no FIES não são suficientemente precisas para serem usadas para seleção de grupos-alvo (target groups), mas fornecem estimativas confiáveis da prevalência da insegurança alimentar em uma população.

• Como calibrar medidas contra uma referência global

• Embora não seja necessário, se a análise é limitada a uma única aplicação em uma determinada população, torna-se crucial para comparações ao longo do tempo e do espaço.

Conclusões: algumas reflexões após um workshop de três dias em Luanda

• Há ampla evidência de que o FIES funciona bem em Angola

• FIES pode ser usado no país para diferentes finalidades • Monitoramento dos ODS

• Análise IPC

• Avaliação de impacto de programas e projetos

• Há uma necessidade urgente de definir a linha de base para monitorar o Indicador 2.1 dos ODS

• Entre o INE e o GSA parece haver a combinação certa de instituições para gerir adequadamente o processo • Coleção dos dados

• Análise e reporte

Obrigado!

Carlo.cafiero@fao.org