A ESTRATÉGIA NO MODELO DE JOGO - DA OBSERVAÇÃO DO ADVERSÁRIO AO MICROCICLO DE TREINO
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A ESTRATÉGIA NO MODELO DE JOGO
DA OBSERVAÇÃO DO ADVERSÁRIO AO MICROCICLO DE TREINO
BASEADO NAS COLABORAÇÕES DE PROF.
JOSÉ GUILHERME OLIVEIRA, PROF. VITOR
FRADE, LUIS CASTRO, VITOR MAÇÃS,
EDUARDO LUIS, JOÃO EUSÉBIO, ROGÉRIO
RODRIGUES, ALBERTO SILVA, JORGE
AMARAL, PROF. NECA E DANIEL RAMOS.
RAÚL OLIVEIRA
TREINADOR DE FUTEBOL PORTUGUÊS, ACTUALMENTE A TRABALHAR NO AL MESAIMEER SPORTS CLUB
DE DOHA -QATAR (2014-15).
LICENCIADO EM EDUCAÇÃO FISICA E DESPORTO PELA UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO
DOURO.
MESTRE EM CIÊNCIAS DO DESPORTO - ESPECIALIZAÇÃO EM JOGOS DESPORTIVOS COLECTIVOS PELA
UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO.
LIVRO BASEADO NA TESE DE LICENCIATURA:
Alterações ao Modelo de Jogo (?): A observação e análise
do adversário (scouting) e a sua influência na planificação
de um jogo de futebol.
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 2006.
A ESTRATÉGIA NO MODELO DE JOGO - DA OBSERVAÇÃO DO ADVERSÁRIO AO MICROCICLO DE TREINO
Índice
1 – Introdução .................................................................................................................. 4
2.1 - Planificação conceptual do treino em futebol ......................................................... 8
2.2 - Organização do processo de treino em futebol ...................................................... 15
2.2.1 - Programação em Futebol.................................................................................... 15
2.2.2 - Periodização em Futebol .................................................................................... 17
2.3 - Planificação do microciclo em futebol .................................................................. 22
2.4 - Observação em futebol ........................................................................................... 36
2.5 – Análise de jogo em futebol .................................................................................... 53
2.5.1 - Objectivos da Análise de Jogo ............................................................................ 54
3 – Material e Métodos ................................................................................................... 65
IV – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS RECOLHIDOS ......................... 66
4.1 – Recolher dados relativos ao adversário: a primeira fase fundamental na
planificação táctico-estratégica... .................................................................................. 67
4.1.1 – O(s) observador(es) – o(s) homem(s) condicionado(s) pela realidade em que se
insere(m)... ...................................................................................................................... 67
4.1.2 – As diferentes formas de “olhar” para o jogo e desencaixar as peças do puzzle...
........................................................................................................................................ 71
4.1.3 – Para se observar é fundamental saber o que se quer ver..., então o que procurar?
........................................................................................................................................ 74
4.1.4 – Número e data – dois aspectos relevantes, ou talvez não... (?).......................... 79
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4.2 – Os dados relativos ao adversário: o tratamento, análise e transmissão de
informações... ................................................................................................................. 83
4.2.1 – Passar as informações para o papel, um princípio fundamental... .................... 83
4.2.2 – Fazer passar uma mensagem, um problema e uma necessidade de todos... que
formas de actuar? ........................................................................................................... 85
4.3 – Modelo de jogo: um conceito metodológico fundamental na construção e
operacionalização do processo de treino (?) ................................................................. 91
4.3.1 – O “modelo de jogo” um conceito tantas vezes utilizado, mas afinal o que é e que
importância tem “isso”?... ............................................................................................. 92
4.4 – A modelação da organização funcional da equipa perante as características
especificas e únicas do adversário ............................................................................... 100
4.5 – Planificação do processo de treino: uma etapa fundamental para o “sucesso”
desportivo ..................................................................................................................... 111
4.6 – O microciclo de treino: a base fundamental da planificação táctico-estratégica de
um jogo de futebol ........................................................................................................ 119
4.6.1 – Estruturar um microciclo – um trabalho infindável de “comos” e “quandos”...
...................................................................................................................................... 119
4.6.2 – A operacionalização do “plano táctico” semanal... ........................................ 126
4.6.3 – Intervir no jogo: a capacidade de reagir correctamente ás aleatoriedades do
jogo ou, talvez, um acto fundamental de proactividade... ............................................ 134
5 – Conclusões .............................................................................................................. 141
A ESTRATÉGIA NO MODELO DE JOGO - DA OBSERVAÇÃO DO ADVERSÁRIO AO MICROCICLO DE TREINO
I - INTRODUÇÃO AO TEMA
A ESTRATÉGIA NO MODELO DE JOGO - DA OBSERVAÇÃO DO ADVERSÁRIO AO MICROCICLO DE TREINO
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Introdução
1 – Introdução
“Eu faço um estudo detalhado do adversário, fundamentalmente para
ajudar os jogadores. Para mim, é imprescindível saber como o
treinador adversário reage, o tipo de substituições que faz, os
comportamentos padrão da equipa adversária...”
José Mourinho (s.d., cit. por Oliveira et al., 2006)
“Nós analisamos o adversário, procuramos prever como se pode
comportar contra nós e procuramos posicionar-nos nalgumas zonas mais
importantes do campo em função dos seus pontos fortes e fracos. Mas
isto são detalhes posicionais. Não mexem com os nossos princípios, nem
sequer com o nosso sistema. Acreditamos que o mais importante somos
nós, a forma como jogamos e automatizamos o nosso modelo”
José Mourinho (s.d., cit. por Oliveira et al., 2006)
O futebol enquanto desporto pode-se resumir muito sinteticamente como um jogo desportivo
colectivo que coloca em oposição duas equipas, com objectivos e regras similares, numa situação
de oposição em que de tal confronto poderá surgir um vencedor e um vencido ou, simplesmente,
um empate. Um jogo simples com regras muito próprias, mas que concentra em si os olhares, as
análises, os comentários e, acima de tudo, as emoções e paixões de milhões de pessoas
distribuídas ao longo dos quatro cantos do planeta.
O futebol é, cada vez menos, apenas um simples jogo... é, cada vez mais, uma manifestação
de cultura, de espectáculo, um fenómeno de alto rendimento desportivo que envolve milhões de
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Introdução
pessoas, interesses, “jogos de poder” e muitos, muitos milhões de euros.... Tendo em conta estes
pressupostos, é fácil compreender que no futebol actual a margem de erro e de “empirismo” para
os profissionais que nele trabalham é muito curta.
È tendo em conta este aspecto que considero pertinente a realização deste trabalho, pela sua
abrangência quanto ao fenómeno do treino em futebol e pela particularização do processo de
observação e análise dos adversários e a forma como este aspecto é utilizado, ou não, no
panorama dos campeonatos nacionais da Federação Portuguesa de Futebol e da Liga Portuguesa
de Futebol Profissional.
Pretendemos constatar se o processo de scouting é, efectivamente, utilizado e qual o seu
interesse e importância real ao nível da planificação do jogo e do processo de treino das equipas
em questão.
Na base do rendimento em futebol está a construção, ou seja, a conceptualização e
operacionalização de um Modelo de Jogo perfeitamente definido em todos os seus princípios,
sub-princípios, sub-princípios dos sub-princípios.... Este modelo deve estar em constante
construção e optimização podendo ser, sempre que necessário, alvo de modificações pontuais
que não impliquem a alteração dos grandes princípios que o norteiam mas sim com a alteração
ou evolução de pequenos princípios ou sub-princípios que possam desequilibrar a organização do
adversário ou favorecer o equilíbrio da nossa própria equipa. Respeitar a especificidade do jogo e
ser coerente com as ideias e princípios, por nós defendidos, em todos os momentos do treino, do
jogo e da vida foram os mais fortes “ensinamentos” e ideias retirados ao longo do meu percurso
no Futebol.
Nada acontece por magia, só a qualidade do treino e/ou exercícios do mesmo são garante de
uma maior probabilidade de sucesso competitivo, apenas probabilidade pois por mais e melhor
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Introdução
que se trabalhe o futebol continua a ser um jogo, onde existe um adversário com o seu próprio
valor e onde o aleatório tem o seu papel e influência.
Apesar de não haver muitas pessoas dispostas a escrever sobre o futebol, a partilhar ideias e
conhecimentos, já existem alguns autores de referência que nos elucidam acerca dos conceitos
subjacentes à observação e o seu alcance no treino. No entanto isto não nos parece suficiente,
pensamos que é fundamental a ida ao terreno investigar aquilo que os treinadores pensam e
fazem de acordo com as diferentes realidades em que se inserem. Descobrir e passar para o
papel as intenções e os objectivos dos treinadores é essencial para percebermos melhor este
mundo que é o futebol e que está sobre a alçada das competências do treinador.
Numa perspectiva global saber quais as técnicas de observação utilizadas, como são
recolhidas os dados, quem os recolhe, com que propósitos, de que forma são utilizados no treino
e que tipo de planificação e periodização utilizam os treinadores são as questões que tentaremos
ilustrar ao longo do texto.
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II - REVISÃO DE LITERATURA
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I - Planificação conceptual do treino em futebol
2.1 - Planificação conceptual do treino em futebol
“Ouvi falar de quebras físicas e logo dei por mim a pensar que a minha
cruzada vai ser mesmo difícil. É que não consigo mesmo que se perceba
que isso não existe. A forma não é física. A forma é muito mais que isso.
O físico é o menos importante na abrangência da forma desportiva. Sem
organização e talento na exploração de um modelo de jogo, as
deficiências são explícitas, mas pouco têm a ver com a forma física. E os
nossos comentadores/repórteres, como quase sempre, continuam a
influenciar negativamente a opinião daqueles que, em suas casas,
precisam de ser orientados na sua capacidade de absorção ou
entendimento do jogo.”
José Mourinho (2005)
“O futebol pressupõe a adopção de uma filosofia por parte de
quem tem responsabilidade maior na condução da equipa. Esta
filosofia de jogo, e consequentemente, de treino pressupõe um
encadeamento lógico da evolução de todo o processo, em que o
conceito de especificidade terá que estar presente. Há
necessidade que tudo esteja ligado, formando toda uma
realidade muito própria que já na sua essência é complexa –
Modelo de jogo”
Guilherme Oliveira (1991)
O futebol é um desporto com características muito especificas que o transformam num
desporto cujo treino deve ser cuidadosamente programado e analisado.
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I - Planificação conceptual do treino em futebol
O jogo de Futebol decorre da natureza do confronto entre dois sistemas complexos, as
equipas, e caracteriza-se pela sucessiva alternância de estados de ordem e desordem, estabilidade
e instabilidade, uniformidade e variedade (Garganta, 2001). Como tal, existem uma série de
etapas que um treinador deve percorrer para preparar a sua equipa para a competição da melhor
forma possível (Oliveira, 2005).
Quinta (2003) relativamente ao panorama desportivo nacional afirma que “treina-se pouco
futebol e, quando se treina, tal realiza-se de uma forma aleatória, sem objectivos, programações
ou planeamentos a curto, médio e longo prazos. O ensino/ treino do futebol, na maior parte dos
casos, é efectuado sem um programa e/ou métodos definidos, não se estipulando a concretização
de objectivos individuais e colectivos, ou seja, não se procurando que os jogadores e equipas
atinjam determinado nível ou saibam fazer da melhor forma esta ou aquela acção táctico-técnica
individual ou colectiva”.
Actualmente, o Futebol reclama a especialização de diferentes funções e tarefas – do jogador
ao treinador, do médico ao fisioterapeuta, do chefe de departamento ao presidente do clube –
pelo que exige, cada vez mais, dos seus intervenientes, competências e conhecimentos em
quantidade e qualidade adequadas (Garganta, 2001).
Acompanhando a necessidade de especialização dos intervenientes no futebol têm surgido
um crescente número de publicações e “ramos” do treino desportivo que visam uma
especialização e uma aproximação à especificidade do jogo de futebol. Segundo Garganta (2001)
sobretudo a partir dos anos oitenta, foram desenvolvidas iniciativas importantes com o intuito de
sistematizar o conhecimento em futebol, que se traduziram na realização de congressos, às
escalas europeia e mundial, e no aumento da produção bibliográfica.
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I - Planificação conceptual do treino em futebol
Ao longo das últimas épocas tem-se especulado muito acerca das metodologias de treino
vigentes nos campeonatos nacionais de futebol, muito por causa do aparecimento do “fenómeno
Mourinho” que consigo trouxe para além de metodologias, para muitos inovadoras, resultados de
qualidade nacional e internacional. Os modelos relativos à indivisibilidade dos factores de treino
e da necessidade de uma metodologia de treino integrado defendidos por autores como Queiroz
(1986), Guilherme Oliveira (1991), Garganta (1995) e Castelo (2000) voltaram assim a estar no
mais elevado patamar de discussão “futebolística”.
Os processos de planeamento, programação e periodização do treino são, agora, alvo de
frequentes discussões e publicações no meio cientifico e, inclusive ou mesmo principalmente, na
comunicação social por todo o tipo de “especialistas” apesar de nem sempre da forma mais
correcta e rigorosa. Aliás, este é um termo (treino integrado) que segundo Losa, et al. (2006) está
já quase desgastado de tanto uso, ainda que quase sempre, escassa, ambígua e superfluamente
abordado. Escasso porque a questão não é que tenha que incluir percepção, decisão, etc., mas sim
que os estímulos, podendo ser maiores ou menores, devem ser sempre específicos do jogo.
Ambíguo porque uma coisa é treinar com bola e outra absolutamente distinta é treinar futebol.
Por último, supérfluo porque a prática sempre surgiu e surgirá da teoria prévia e profundamente
organizada, e neste caso quase sempre a proposta foi directamente prática. Para Oliveira et al.
(2006) tal como é normalmente utilizado o treino integrado não rompe verdadeiramente com a
lógica da “norma de treinar”. O “treinar com bola” serve apenas como um meio de simular o
treino físico, e não como um imperativo para operacionalizar o modelo e os princípios de jogo
que se querem para a equipa.
Guilherme Oliveira (2003) afirma que antes de qualquer outra tarefa, o treinador deve fazer
uma introspecção acerca das suas ideias de futebol. Dessa auto-reflexão devem ficar claras as
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