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7/23/2019 A evolução conceitual da Ética.doc http://slidepdf.com/reader/full/a-evolucao-conceitual-da-eticadoc 1/12 A evolução conceitual da Ética. Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 3, Vol. mar., Série 10/03, 2012, p.01-12. Desde a antiguidade, a ética percorreu um longo caminho, distinguindo-se da moral e se segmentando, adquirindo contemporaneamente um sentido amplo e outro mais estreito. Atualmente, existe uma ética da humanidade que pauta comportamentos pensando em pressupostos maiores; e outra que padroniza ações no interior de um grupo especifico. As duas vertentes nem sempre caminharam untas, gerando recomendações contradit!rias e paradoxais. "ara entender o que e como se configurou a chamada ética profissional, apenas um dos ramos da ética normativa, é necess#rio percorrer o desenvolvimento conceitual da ética ao longo da hist!ria. A ética na antiguidade. A ética nasceu na $récia, praticamente unto com a filosofia, em%ora seus preceitos fossem praticados entre outros povos desde os prim!rdios da humanidade, mesclados ao contexto m&tico e religioso, tentando pautar regras de comportamento para permitir o conv&vio entre indiv&duos agrupados no conunto da sociedade. A rigor, os gregos foram os primeiros a racionalizar as relações entre as pessoas, repensando posturas e sistematizando ações. 'omento em que surgiram discussões que até hoe fomentam reflexões éticas. Apesar dos pré-socr#ticos se inserirem neste contexto, a maioria dos autores atri%uem a tradiç(o socr#tica um olhar mais atento so%re pro%lem#ticas em torno da ética.

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A evolução conceitual da Ética.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 3, Vol. mar., Série 10/03, 2012, p.01-12.

Desde a antiguidade, a ética percorreu um longo caminho, distinguindo-se da moral e sesegmentando, adquirindo contemporaneamente um sentido amplo e outro mais estreito.

Atualmente, existe uma ética da humanidade que pauta comportamentos pensando em pressupostos maiores; e outra que padroniza ações no interior de um grupo especifico.

As duas vertentes nem sempre caminharam untas, gerando recomendaçõescontradit!rias e paradoxais.

"ara entender o que e como se configurou a chamada ética profissional, apenas um dosramos da ética normativa, é necess#rio percorrer o desenvolvimento conceitual da éticaao longo da hist!ria.

A ética na antiguidade.

A ética nasceu na $récia, praticamente unto com a filosofia, em%ora seus preceitosfossem praticados entre outros povos desde os prim!rdios da humanidade, mesclados aocontexto m&tico e religioso, tentando pautar regras de comportamento para permitir oconv&vio entre indiv&duos agrupados no con unto da sociedade.A rigor, os gregos foram os primeiros a racionalizar as relações entre as pessoas,repensando posturas e sistematizando ações.'omento em que surgiram discussões que até ho e fomentam reflexões éticas.Apesar dos pré-socr#ticos se inserirem neste contexto, a maioria dos autores atri%uem atradiç(o socr#tica um olhar mais atento so%re pro%lem#ticas em torno da ética.

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"ara )!crates, o verdadeiro o% eto do conhecimento seria a alma humana, onde reside averdade e a possi%ilidade de alcançar a felicidade.* grande pro%lema é que o individuo n(o est# preparado para encontrar a verdadedentro de seu esp&rito.

+entando eliminar os pr!prios erros, ocultos em sentimentos confundidos com afelicidade, o su eito aca%a %uscando somente o prazer puramente hedonista."or esta raz(o, seria miss(o do fil!sofo conduzir o su eito ao conhecimento,direcionando paraeudaimonia, a verdadeira felicidade.

m conceito importante para os gregos, tanto que a palavraeudeimontem a mesmaorigem etimol!gica, denotando riqueza e denominando um homem poderoso e com %oafortuna."ara a tradiç(o socr#tica, a felicidade s! pode ser alcançada pela conduta reta, a verdades! pode ser contemplada pelo conhecimento virtuoso do mundo, pelo comportamentoorientado pela %ondade.A virtude é o centro da ética socr#tica, podendo ser definida como uma disposiç(o para praticar o %em, suprimir os dese os despertados pelos sentimentos, racionalizando asações em %eneficio da coletividade.* individuo virtuoso, %om, é aquele que se preocupa em aperfeiçoar a conviv nciacomunit#ria, em tornar-se o cidad(o perfeito. este sentido, devemos notar que a ética é uma %usca pela felicidade coletiva, masenvolve apenas aeudaimoniaentre iguais.

A preocupaç(o ética a%arca a comunidade, a Pólis, onde estrangeiros e escravos est(oexclu&dos em meio / hierarquizaç(o da sociedade.*s sofistas, tendo um conceito relativizado de verdade, duvidaram da possi%ilidade davirtude poder ser ensinada, contudo, admitiram que poderia ser desenvolvida pelosu eito através do despertar da consci ncia.* conhecimento seria o meio do individuo se aperfeiçoar, tornando-se virtuoso peloamadurecimento intelectual; enquanto a ignor0ncia representa o vicio.Desta concepç(o decorreu a fundamentaç(o da ética em volta da li%erdade, virtude e %ondade.

"ar0metros que nortearam o pensamento ético aristotélico, onde a felicidade é definidacomo a pr!pria virtude, garantia da li%erdade.Antes de Arist!teles, herdeiro da tradiç(o socr#tica, "lat(o tratou a ética comocomponente indissoci#vel da vida pol&tica, da harmonia entre os ha%itantes da Pólis.)ua tarefa seria promover o nivelamento entre os indiv&duos, diluindo as diferenças em prol do %em comum.A ética deveria permitir que os indiv&duos partilhassem o poder, impedindo aconcentraç(o do governo da Pólis nas m(os de um segmento da sociedade ou de umindividuo.

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"ortanto, fornecendo limites / li%erdade, equalizando diferenças sociais e econ1micas, aética deveria fazer o su eito se preocupar com o outro, partilhando o poder.A quest(o é que a tentativa de organizar a distri%uiç(o do poder desvirtua o homem,corrompe a %usca da felicidade coletiva em favor da ilus(o hedonista individualizada.

"ara "lat(o, todas as formas de governo poderiam ser resumidas em quatro, todas produtoras de homens n(o éticos2

3. Timocracia. * regime dos amantes da riqueza, onde o poder é partilhado apenas entreos mem%ros das oligarquias, palavra que em grego significa 4governo de poucos5,restringindo-se ao controle exercido pelas fam&lias mais ricas e proeminentes queformam a no%reza.* poder é transmitido hereditariamente, sem possi%ilidade de altern0ncia ou decompartilhamento.

6. Oligarquia.* regime decidido pela transaç(o de fortunas, governado pelos ricos,independente de sua origem familiar, sem nenhuma participaç(o dos po%res.*nde o que é valorizado é a capacidade econ1mica e n(o a virtude.

7. Democracia.* governo da Pólis ao gosto de cada um, com representantes eleitos oucidad(os participando diretamente, esta%elecendo acordos para pautar leis, as quais osindiv&duos devem se adaptar.* pro%lema deste regime é que tende a anarquia, a desorganizaç(o em meio adiscussões intermin#veis que defendem interesses m8ltiplos, sem alcançar resultados pr#ticos.Além do fato que, o crescimento populacional, invia%iliza a sua efetivaç(o, conduzindoa uma das outras tr s formas de governo, disfarçadas em democracia.

9. Tirania.* sistema em que um homem, o tirano, assume o poder so% pretexto de %eneficiar o coletivo, mas que na verdade representa seu dese o por %a ulações,

demonstrando total aus ncia de virtude e po%reza de alma.

ma vez que todas as formas de governo conduzem ao vicio, invia%ilizando a exist nciaética do individuo e da Pólis; "lat(o prop1s a construç(o de um :stado deal, onde avirtude pudesse ser cultivada, garantindo a li%erdade efetivada no exerc&cio da ustiça, oque ficou conhecido como <ep8%lica "lat1nica = Res Pública> coisa p8%lica?.* :stado deveria ser governado pelos reis fil!sofos, sendo a racionalidade o que permitiria dirigir o destino coletivo com sa%edoria e virtude.*s guardiões deste sistema de governo seriam os soldados, selecionados entre os maiscora osos e o%edientes.

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Aos artes(os ca%eria via%ilizar economicamente o :stado, constituindo a %ase dasociedade, composta por indiv&duos governados pelas coisas sens&veis.*s fil!sofos possuiriam alma de ouro, cultivando a virtude da sa%edoria; os soldadosteriam alma de prata, possuindo a virtude da coragem; e os artes(os seriam dotados de

alma de %ronze, devendo cultivar a virtude da moderaç(o para conter seus dese os pelos %ens materiais.:sta concepç(o leva em consideraç(o que haveria escravos para cultivar alimentos parasuprir a populaç(o.:stes n(o est(o inclu&dos nas preocupações da ética plat1nica, pois n(o passam deanimais vocais, capazes de falar, mas n(o de interiorizar virtudes e a raz(o.Assim como tam%ém, neste mundo perfeito, n(o havia espaço para as mulheres,consideradas serem inferiores por se entregarem aos sentimentos.

m segmento indese ado seria composto pelos poetas, que deveriam ser expulsosda Pólis, # que despertam sentimentos, fazendo o su eito deixar a racionalidade de lado.'odernamente, poder&amos traça uma analogia dos poetas com os meios decomunicaç(o, que constroem verdades e desviam a atenç(o das massas das questõesrealmente importantes, iludindo os indiv&duos e manipulando suas ações.Arist!teles tam%ém considerava a ética como possi%ilidade de eliminar a desigualdade,harmonizando o conv&vio coletivo; mas envolve, antes, o equil&%rio interno doindividuo, externalizado pelaeudaimonia coletiva.Ao inverso de "lat(o, para ele n(o é o sistema pol&tico que corrompe o homem, este éque desvirtua o regime.@ por isto que Arist!teles foi um grande defensor da democracia, relacionando ali%erdade com a responsa%ilidade para compartilhar o poder de forma igualit#ria, atravésdo conceito de representatividade."ara tal, seria necess#rio preparar o individuo para o exerc&cio virtuoso da pol&tica,cultivando virtudes como prud ncia, sa%edoria e ustiça. (o sendo poss&vel determinar a ess ncia destes conceitos, sendo relativos no tempo eespaço; é dif&cil definir par0metros para um comportamento virtuoso."ro%lema contornado pela repetiç(o de ações consideradas %oas para a coletividade,

garantindo a ordem das coisas para atingir a felicidade.* papel da ética é ustamente convencionar o que deve ser repetido, racionalizandocomportamentos %enéficos ao individuo e / Pólis."ara racionalizar o conv&vio entre as pessoas, seria preciso assimilar tr s tipos deconhecimentos que compõem o que Arist!teles chamou de sa%edoria voltada para o %em, o %elo e o honesto2

3. Conhecimentos Teóricos.A averiguaç(o do que ocorre no mundo, transformado emconhecimento sistematizado, em i ncia e, portanto, naquilo que ho e chamamos deética.

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6. Conhecimentos Produzidos. ormas de orientaç(o técnica, necess#rias / efetivaç(oda pr#tica, correspondentes /s leis e ao Direito.

7. Conhecimentos Práticos.*rientações o%tidas pela viv ncia di#ria, conduzindo amaneira usta e saud#vel de viver em harmonia com a natureza e o outro, condizentecom a moral.

:m outras palavras, a ética aristotélica propõe o%servar as necessidades do homemcomo individuo e mem%ro da coletividade, o que é poss&vel esta%elecer como norma emdado contexto, teorizar e refletir para padronizar como correto.A ética se constitui como i ncia normativa da conduta individual e coletiva em sentido

amplo.Diferente da concepç(o plat1nica, onde a ética é inerente a um grupo e padronizada deforma segmentada, origem do que ho e chamamos ética profissional.Ainda na antiguidade, os romanos tiveram que lidar com a oposiç(o antag1nica proposta por "lat(o e Arist!teles, entre o padr(o de comportamento da sociedade e degrupos inseridos nela.* que originou a moral e sua distinç(o com relaç(o / ética, o Direito e a ustiça. A conclus(o foi que a exist ncia coletiva precisa de regras para efetivar-se, percorrendoesferas distintas que v(o do privado ao convencionado para o con unto, do individuo aogrupo e deste para o contexto mais amplo; comportando paradoxos, distinções esegmentações.

A ética medieval.

A dade 'édia foi dominada pelo catolicismo na :uropa *cidental, pautando uma éticavinculada com a religi(o e dogmas crist(os, dominando o panorama conceitual entre oséculo B e B B; a despeito de mudanças significativas com o renascimento e, depois, a

entrada na modernidade e o iluminismo.Dentre as concepções filos!ficas que influenciaram fortemente o conceito de éticamedieval, ca%e destacar as ideias de )anto Agostinho, )anto Anselmo e )(o +om#s deAquino."ara )anto Agostinho a verdade é uma quest(o de fé, é revelada por Deus, superando araz(o; su%ordinando o :stado e a pol&tica / autoridade da gre a.Couve tam%ém uma su%ordinaç(o da ética / moral; com a 8ltima so%repondo-se a primeira e invertendo a !tica a favor da heteronomia pautada pelo cristianismo.* catolicismo alterou profundamente a ética, introduzindo a ideia de que a %ondade,uma vida virtuosa, s! podia ser alcançada pela vontade de Deus, desvinculando afelicidade da racionalizaç(o do mundo.

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:m%ora a m#xima crist( - fazer ao outro o que queres para ti- se a perfeitamentecondizente com a concepç(o original de ética; o ascetismo e o mart&rio modificaram oconceito, operando uma releitura das ideias filos!ficas de "lat(o e Arist!teles.* ascetismo crist(o - do gregoascese> exercitar - consistia na ren8ncia ao prazer e

mesmo a satisfaç(o de qualquer espécie, aplicada a tudo que é terreno e material,fomentando pr#ticas como mutilaç(o genital, celi%ato e e um.m grande pro%lema para fundamentaç(o ética, visto que a mesma se caracteriza pela

%usca do prazer, representado pela felicidade, configurando um hedonismo relativo esatisfaç(o consigo mesmo e o pr!prio papel no coletivo.

ma concepç(o considerada pecado da vaidade pelo cristianismo, raz(o que tornava amoral mais importante que a ética na idade 'édia.* mart&rio implicava em valorizar a dor em nome da fé - do gregomart s > testemunha- implicando em agir de acordo com a vontade de Deus, mesmo quando contr#rio /

raz(o, guiando-se pelos dogmas esta%elecidos pela igre a, independente do que édeterminado pela ética.'ais um fator de fortalecimento da moral, aumentando a ignor0ncia da maior parte da populaç(o europeia quanto ao discernimento conceitual da ética. este contexto, o mundo sens&vel e intelig&vel plat1nico foram reinterpretados;identificados com a vida mundana em oposiç(o ao para&so nos céus, com a verdade s! podendo ser contemplada através da fé em Deus e a felicidade alcançada somente ap!s amorte.+udo, desde que os preceitos cat!licos tivessem sido seguidos / risca em vida.

A ética crist(, através do pensamento de )(o +om#s de Aquino, tam%ém fez umareleitura do pensamento aristotélico.* tomismo procurou conciliar a fé e a raz(o, condicionando os atos dos indiv&duos /natureza humana. o entanto, ao afirmar que a dita natureza humana estaria na ess ncia divina, inclinadaa %ondade, como pretendia Arist!teles; n(o fez mais que reafirmar a su%ordinaç(o daraz(o / fé."ara +om#s de Aquino, o caminho para a felicidade passaria pela 4grande ética5,caracterizada pelo usto equil&%rio divino, pro etado na ordenaç(o da sociedade."ortanto, em aceitar as contradições sociais e econ1micas, a desigualdade, comovontade de Deus, esperando rece%er a recompensa no além, quando finalmente acontemplaç(o do para&so permitiria atingir a felicidade plena, individual e coletiva, participando e retornando ao esp&rito divino.* que representou uma relativizaç(o da ética, fragmentada e aplicada apenas a umcontexto especifico de estamento e grupo social.)egundo ele, 4os princ&pios comuns da lei natural n(o podem ser aplicados do mesmomodo indiscriminadamente a todos os homens, devido / grande variedade de raças,costumes e assuntos humanos; por isto, existe a diversidade das leis positivas nosdiversos povos5.

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"ara harmonizar a sociedade, ao invés da ética, dada sua segmentaç(o, ca%eria a moralservir de referencial.)anto Anselmo, pai da escol#stica, tend ncia filos!fica que propunha a educaç(o comomeio de vencer o ceticismo e doutrinar o homem na fé crist(, mostrando sua

superioridade frente / raz(o; afirmou que os princ&pios morais seriam intuitivamenteauto-evidentes, condicionando as ações / vontade de Deus.<elegada ao segundo plano na efetivaç(o da ustiça, a ética passou a ser entendida comoaplicada a contextos espec&ficos; a%rindo caminho para a visualizaç(o conceitual dosaspectos éticos erroneamente apenas vinculados com a atuaç(o profissional, com regrasque valeriam somente entre iguais.Assim, a tend ncia de interpretaç(o conceitual da ética plat1nica prevaleceu so%re asdemais a%ordagens, sendo acentuada pela vis(o crist( que valorizou a moral emdetrimento da uma concepç(o ética universalizadora.

A ética moderna.

:ntre os séculos B e B , as discussões éticas estiveram centralizadas no em%ateentre racionalismo e empirismo.A dade 'oderna foi / época da formaç(o e consolidaç(o dos :stados acionaiseuropeus, precedendo a <evoluç(o Erancesa e ndustrial, quando a separaç(o entre:stado e igre a tornou-se definitiva, com a preponder0ncia do antropocentrismo e aaceleraç(o do avanço da i ncia.Eoi tam%ém um per&odo de transiç(o para a dade ontempor0nea, registrandocontradições de cunho ainda medieval e forte influencia da religi(o na vida das pessoas.Fualquer que se a a tend ncia te!rica, a ética passou a ser vista novamente enquantovoltada para a %usca da felicidade coletiva, retomando seu sentido original grego,vinculado com a pol&tica, compondo orientações para a realizaç(o plena do cidad(o.Diante de m8ltiplos caminhos para chegar aeudaimonia, a ética foi pensada comogarantia de condições para que o su eito se aprimore por meios leg&timos.*nde entraria o :stado como fomentador e garantidor de condições de condições

transformadoras, providenciando educaç(o, direitos individuais, ustiça e su%sist ncia. este sentido, os preceitos religiosos começaram a perder força, em uma tentativa daética se so%repor a moral, universalizando e discutindo princ&pios de conviv ncia emsociedade.* que tornou atri%uto da ética realizar uma reflex(o so%re a construç(o dos valores que %alizam a moral, instituindo uma critica so%re pr#ticas e ações humanas no 0m%ito daaxiologia e da teoria dos valores.:m%ora Descartes n(o tenha pensando especificamente a ética, sua concepç(o filos!ficaremete a uma transiç(o entre a dade 'édia e 'oderna, pois Deus é a garantia de

exist ncia do eu f&sico, fator significativo que comp1s a ética racionalista em meio /d8vida que origina o cogito.

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* caminho da d8vida cartesiana conduziu Descartes a esta%elecer uma moral provis!ria, %aseado em recomendações como o%edecer /s leis e costumes do pa&s, mantendo areligi(o e a fé em Deus, guiando-se pelas opiniões mais moderadas e aceitas pela pr#tica, evitando excessos e cultivando o %om senso.

:m primeiro lugar, existe uma defesa da ética vinculada com as necessidades do :stado,estando su%ordinada ao Direito.Depois, uma normatizaç(o ética atrelada / raz(o, o%rigando o individuo a refletir etomar decisões, so% pena de entregar-se ao azar.*utro racionalista, Garuch )pinoza, delineou com maior precis(o as questões éticas nao%ra !thica, pu%licada em 3HII.:le fixou como par0metro de definiç(o do que é %om ou mau as necessidades einteresses humanos, inserindo a raz(o como elemento capaz de frear as paixões, permitindo alcançar prazer e felicidade.

@ interessante notar que, tam%ém para )pinoza, o amor intelectual a Deus é garantia davirtude, esta definida como a pr!pria felicidade advinda da contemplaç(o da totalidadedo universo mental e f&sico, através da natureza divina, sendo ela inata.*s empiristas adotaram uma postura diferente, apesar de n(o totalmente desvinculadada metaf&sica, porém mais pr!xima da pol&tica e do contexto padronizador docomportamento coletivo.+homas Co%%es forneceu a %ase de sustentaç(o para o :stado A%solutista, ligando amonarquia com a vontade de Deus; mas defendeu a ideia de que a natureza humana édesonesta, solit#ria e violenta, expressa pela m#xima 4* homem é o lo%o do homem5.

omo consequ ncia seria necess#rio organizar a sociedade, esta%elecendo um contratosocial para eliminar a guerra de todos contra todos, fortalecendo o :stado para reprimira maldade humana.A implicaç(o ética estaria fixada na figura do cidad(o, o qual, para integrar-se asociedade, precisaria refletir so%re si mesmo e seu papel coletivo.

nfluenciado por esta concepç(o, John KocLe retomou o conceito de contrato socialcomo limitador do poder a%soluto da autoridade, promovendo a felicidade através dagarantia de li%erdade individual restrita.David Cume tam%ém complementou a concepç(o de Co%%es, afirmando que as ideiasinatas n(o existiam, sendo regras compostas pela experi ncia, exigindo a padronizaç(ode comportamentos éticos a partir daquilo que fosse 8til e prazeroso para a maioria."ortanto, a ética moderna, a despeito de ainda vinculada com a religi(o, começou atentar so%repu ar a moral, resgatando discussões presentes na antiguidade, avançandoalguns passos rumo / vinculaç(o com a li%erdade.:ntretanto, foi pensada como instrumento de sustentaç(o do poder do :stado perante avida coletiva e individual.

A ética contemporânea.

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Ao separar o conhecimento da religi(o, no século B , o iluminismo inaugurou umareleitura da ética, esta%elecendo criticas que voltaram a centralizar o foco na raz(o,apostando na autonomia humana e na crença otimista no progresso.Eoi esta%elecida uma vis(o ética por um viés mais amplo, n(o s! circunscrito ao grupo,

mas sim ao contexto do con unto da humanidade.@ por isto que a <evoluç(o Erancesa pregou o ideal de li%erdade, igualdade efraternidade; tendo como centro a quest(o da toler0ncia para com as diferenças e oesta%elecimento de um pacto social.* que deveria ser garantido pelo :stado para permitir uma igualdade efetivada pelarestriç(o parcial da li%erdade. este per&odo, pela primeira vez, iniciou-se um dialogo em torno dos direitos humanos,culminando com a 4Declaraç(o dos Direitos do Comem e do idad(o5 em 3IMN.<epresentando o iluminismo alem(o, mmanuel Oant exerceu forte influencia nauniversalizaç(o dos preceitos conceituais da ética humana.)egundo o qual, n(o é tarefa da ética normatizar, pois, sendo de car#ter puramenteracional, é guiada apenas pela %oa vontade.:sta é relativa e fixada pela lei moral, porém deve se isentar da vontade emotiva, dosgostos e dese os particulares.Assim, a ética segue os mesmos par0metros da moral, mas ao racionalizar os atos,seleciona como corretos apenas o que est# em concord0ncia com a raz(o.A ética passa a se distinguir da moral por ser aut1noma, enquanto os preceitos morais

s(o fixados pela heteronomia.* agir corretamente passa, n(o s! pelo conceito de li%erdade, mas tam%ém deresponsa%ilidade pelos pr!prios atos e intenções.* pro%lema é que o ato pode n(o corresponder / intenç(o, motivado pela inclinaç(omoral, onde a racionalizaç(o serve de par0metro.<eside neste ponto outro pro%lema, # que o homem encontra-se na menoridade, sendoincapaz de fazer uso do pr!prio entendimento.*s ideais iluministas aparecem como inicio da maioridade humana, ustamente por proporem o conhecimento como %ase da racionalidade. o entanto, pensando na natureza falha da raz(o humana, Oant propõe que imperativos passem a servir de refer ncia para o agir.* imperativo é uma regra o%rigat!ria que deve nortear a normatizaç(o da vida racional.* imperativo categ!rico, aquele que deveria ser dever de toda pessoa, estando tam%émvinculado com a moral, é definido como agir pela vontade, de tal forma que a aç(o possa ser tomada como uma lei universal da natureza."ortanto, tornar padr(o o comportamento que seria aprovado como correto em qualquercaso e por qualquer pessoa.

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Deste imperativo decorrem outros, todos %aseados na fraternidade para com o outro,expresso na m#xima de dese ar a todos o que se dese a para si mesmo, estreitando esteconceito com o de li%erdade, responsa%ilidade e igualdade.:ntretanto, mesclada a esta concepç(o de ética, a tend ncia utilitarista, inaugurada pelo

empirismo, tam%ém ganhou força a partir do século B , principalmente por contados avanços da i ncia.A partir das leis da f&sica de saac ePton, a sociedade passou a ser vista comom#quina, onde a ética atenderia e regularia seu funcionamento.:nquanto a teoria evolucionista de harles DarPin possi%ilitou conce%er a moral como produto da evoluç(o do comportamento humano.+end ncias que transformaram a ética em i ncia do ulgamento dos atos morais,alterando normas de comportamento, pensadas em %eneficio da utilidade para a vidacoletiva harmoniosa.

A rigor, o utilitarismo surgiu na $r(-Gretanha, representado por JeremQ Gentham e John)tuart 'ill, contrapondo-se a ética Lantiana ao relativizar o conceito deeudaimonia,afirmando que o correto é aquilo que traz felicidade para o maior n8mero de pessoas. (o é a intenç(o que importa, como no caso da ética Lantiana, mas sim o resultado;relativizando igualmente as regras, indo na contram(o dos imperativos, condicionandoos comportamentos a sua utilidade aparente, extremamente vinculada ao Direito.* que levou Eriedrich Cegel, no século B B, a discutir se os princ&pios éticoscondicionam a hist!ria, ou, ao contr#rio, esta modifica os par0metros.Algo que poderia conferir a ética uma grande semelhança com a moral.:m%ora Cegel nunca tenha escrito especificamente so%re a ética, até porque consideravaesta como mero sin1nimo de moral, sua concepç(o foi herdeira das discussões do séculoB , vinculando a viv ncia ética com a pol&tica, a sociedade e a hist!ria."ara ele, como tam%ém para a tradiç(o esta%elecida a partir do século B , o :stadodeveria garantir a viv ncia ética.Destarte, Eriedrich ietzsche, na segunda metade do século B B, tornou a éticadefinitivamente uma i ncia, totalmente desvinculada da religi(o."ara ele, a ética seria o centro, ustificativa e fundamentaç(o das ações humanas;

constituindo o elemento que torna poss&vel a conviv ncia, esta%elecendo padrões decomportamento que reprime a natureza.@ neste contexto que se insere o conceito de além-do-homem -"bermensch -,erroneamente traduzido como super-homem.+rata-se da defesa do su eito superar sua humanidade, sua natureza falha, para ir alémdo %em e do mal, da moral esta%elecida, racionalizando as ações para transformar-se deescravo em senhor, guiado pela autonomia de pensamento.

m processo ligado / ideia de 4eterno retorno5, envolvendo tentar superar-se cont&nua einfinitamente em %usca do prazer dionis&aco.

o entender de ietzsche, o 8nico imperativo ético existente.

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:sta con untura formou o conceito e ética como i ncia normativa, %aseado naconstruç(o interna do su eito e externalizada na preocupaç(o racional com o outro; adespeito de sua ramificaç(o circunscrita a contextos espec&ficos, como a ética profissional.

A crise da ética.

* século BB, centralizado na sociedade de consumo e no individualismo, desvirtuou ocaminho da preocupaç(o com a coletividade no mundo *cidental capitalista,inaugurando a crise da ética em sentido amplo.A preocupaç(o com o outro foi su%stitu&da pelo ego&smo focado apenas no eu emdetrimento do n!s, com um am%iente de permanente competiç(o.

A despeito de alguns pensadores terem tentado retomar a tradiç(o grega, agregandoelementos desenvolvidos posteriormente, a tend ncia plat1nica de normatizaç(o decomportamentos, diferenciada entre grupos, é que prevaleceu no século BB .A ética passou a ser um termo comum na %oca de todos, mas esvaziada de sentidoconcreto, conceitualmente interpretada pelo senso comum de forma torta e equivocada.)imultaneamente, a ética profissional passou a dominar o cen#rio glo%alizado,igualmente contextualizada em um sentido extremamente especifico, aplicada apenasentre supostamente equivalentes.* grande pro%lema é que a ética deveria ustamente repensar posturas que fazem de

alguns mais iguais que outros, refletindo so%re sua natureza generalizadora euniversalizante, racionalizando as ações humanas até o limite do poss&vel, diante danatureza emotiva e movida por sentimentos individualistas.

Para saber mais sobre o assunto.

A< )+R+:K:). # $tica% te&tos selecionados.)(o "aulo2 :dipro, 6SS7.G: +CA', JeremQ. 'ma introdu()o aos princ*pios da moral e da legisla()o. )(o

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7/23/2019 A evolução conceitual da Ética.doc

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Texto: Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.Doutor em ist!ria "ocial pela #"P.

$%A em &est'o de Pessoas.

%ac(arel e )icenciado em Filosofia pela #niversidade de "'o Paulo